sábado, 3 de maio de 2025

Gilberto Freyre, um escritor; Paulo Roberto de Almeida, um escrevinhador

Gilberto Freyre, sobre ele mesmo: um escritor, certamente, mas extremamente vaidoso; sou apenas um escrevinhador

Paulo Roberto de Almeida

Gilberto Freyre era um polimata, interessado em matérias e assuntos diversos, da antropologia à história, da sociologia à literatura, mas ele mesmo respondeu à questão de saber o que ele era, no seu livro Como e por que sou e não sou sociólogo (Brasília: Editora da UnB, 1968).

Já escrevi sobre isso num prefácio a um dos meus livros (do qual reproduzo um trecho mais abaixo).

Mas o que escreveu Gilberto Freyre? Isto: 

O que principalmente sou? Creio que escritor. Escritor literário. O sociólogo, o antropólogo, o historiador, o cientista social, o possível pensador são em mim ancilares de escritor. Se bom ou mau escritor é outra coisa.

Como sempre, Gilberto Freyre falava muito de si próprio, com legítimo orgulho por sinal, pois sua obra é realmente admirável. 

Mas, ao contrário dele, eu não me considero um escritor, apenas um escrevinhador, como explico abaixo.


Prefácio ao meu livro:

A Grande Mudança: Consequências econômicas da transição política no Brasil
(São Paulo: Editora Códex, 2003)

PREFÁCIO
Como e por que sou e não sou diplomata (à maneira de Gilberto Freyre) (p. 11-15)

        Não sou nem pretendo ser diplomata puro. Mais do que diplomata, creio ser cientista social. Também me considero um tanto historiador e, até, um pouco, pensador.
        Mas o que principalmente sou creio que é escrevinhador. Escrevinhador – que me perdoem os demais cientistas sociais a pretensão e os políticos profissionais a audácia – político. E, ao lado do diplomata, reconheço haver em mim um antidiplomata.
        Se aqui destaco minha condição de diplomata – diplomata, é certo, impuro e nada ortodoxo –, é que essa condição é, em mim, irredutível. Só sendo um tanto diplomata eu me poderia dar o luxo de ser também antidiplomata em várias das minhas tendências.
        São essas contradições que sempre procurei expor e, por vezes, comentar em meus trabalhos de diplomacia e de sociologia política. Quase despretensioso e nada apologético – o que seria uma apologia pro "diplomacia sua" –, quase sempre chego à autocrítica, contra minha profissão de sociólogo e por vezes contra minha própria condição profissional.
        Reúnem-se aqui trabalhos que, aliás, podem ser considerados como pouco conectados à minha incerta condição de diplomata: tão incerta, para uns tantos diplomatas, como, para outros, críticos da vida cotidiana, a de escrevinhador político – condição que também procuro considerar. Mais do que diplomata ou sociólogo, sou antes de tudo cidadão brasileiro, que foi o que de fato me motivou a escrever os ensaios coletados neste volume.
        Ao tentar explicar-me como possível diplomata, não poderei deixar de referir-me ao que, ao lado dessa minha discutida condição, há em mim, bem ou mal, de cientista social, de historiador e, talvez, de pensador, tornando ainda mais difícil a classificação que se pretenda fazer de homem tão desajeitadamente multidisciplinar, tão diverso sem que tal multiplicidade de interesses signifique mérito ou virtude superior.
        O possível diplomata – como o cientista social, o historiador, o pensador também possíveis – só existe, no meu caso, ligado ao escrevinhador político. Quase nunca como didata, quase sempre como autodidata. Nem como pesquisador profissional, pois que não tenho meu ganha-pão nessas demais orientações e sim na condição primeira de diplomata. Nem efetivamente burocratizado nisto ou naquilo: consultor, assessor, perito, acadêmico, funcionário, sem pertencer a qualquer instituto ou agremiação política ou social. Sou um ser livre, tanto quanto me permite o pertencimento a uma instituição bissecular, altamente burocratizada, hierarquizada e disciplinada a ponto de enquadrar seus membros numa teia de comprometimentos diretos e indiretos com o chamado esprit de corps, que possuo no grau mais tênue possível.

        Os parágrafos acima foram inteiramente calcados em peça similar elaborada pela pluma do escritor Gilberto Freyre – extraída do prefácio de seu livro Como e por que sou e não sou sociólogo (Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1968) –, que detém, portanto, todos os direitos autorais, intelectuais e morais sobre a forma, o conteúdo e a disposição desse texto precedente, que pretende justamente homenageá-lo enquanto pensador brasileiro, original e iconoclasta. Da mesma forma, os ensaios que seguem são devidos inteiramente à minha própria pluma (no caso, computador), também iconoclasta, e respondo integralmente pela forma, conteúdo e disposição, bem como pela paternidade moral das poucas ideias originais que eles possam conter.


(...)


Paulo Roberto de Almeida
Washington, 2 de novembro de 2002

Ficha e links para o livro:

A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Editora Códex, 2003, 200 p.; ISBN: 85-7594-005-8).

Nova disponibilidade de livro fora do comércio. Divulgado, com o arquivo original em pdf da editora, e as orelhas, o prefácio e o índice, transcritos, no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/um-livro-contrarianista-grande-mudanca.html) e na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42309421/A_Grande_Mudanca_consequências_econômicas_da_transição_politica_no_Brasil_2003_ e https://www.academia.edu/42309422/Capa_e_Contra_Capa_A_Grande_Mudanca_2003_) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/342094857_A_GRANDE_MUDANCA_CONSEQUENCIAS_ECONOMICAS_DA_TRANSICAO_POLITICA_NO_BRASIL).





Uma dúvida que não é só diplomática: como apertar a mão de um CRIMINOSO DE GUERRa?!? - Paulo Roberto de Almeida

 Nota preliminar: a nota abaixo foi escrita em outubro de 2024, e nela eu já me espantava com o fato de que um chefe de Estado de um país cuja diplomacia se pauta pelo estrito respeito à Carta da ONU e às normais elementares do Direito Internacional, se dispussese a apertar a mão de um CRIMINOSO DE GUERRA.

Reproduzo-a novamente, pois parece que a intenção permanece a mesma. (PRA, 3/05/2025)

Uma dúvida que não é só diplomática
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre a convivência do governo brasileiro com governos e movimentos pretendem a eliminação de outros Estados.

        A política, desde Platão e Aristóteles, se destina, entre outras coisas, a facilitar a convivência pacífica entre pessoas, súditos ou cidadãos de uma mesma comunidade, de cidades-Estados, de nações organizadas em monarquias, repúblicas, fazendo com que partidos, movimentos, governos, Estados possam interagir entre si da melhor maneira possível, isto é, pacificamente, civilmente, construtivamente, para o bem de todos.
        Já é estranho, portanto, que existam partidos, movimentos, governos e Estados que desejem a eliminação completa, o desaparecimento de seus contrapartes, outros partidos, movimentos, governos ou Estados, como objetivo prioritário.
Este é o caso, por exemplo, de movimentos como o Hamas, de partidos como o Hezbollah, de governos e Estados como a teocracia fundamentalista do Irã, cujos objetivos principais, senão exclusivos, são a eliminação de todo um Estado, no caso Israel.
        Mais estranho ainda é que um governo supostamente democrático, de um Estado dotado de tradições, princípios e valores comprometidos com a ordem democrática, a convivência pacífica entre as nações (como está em nossa Constituição), que se pauta, em suas diretrizes diplomáticas, pelo estrito respeito do Direito Internacional, consubstanciada na Carta das Nações Unidas, é estranho, portanto, que um governo representando o Brasil da CF-1988 e de toda a história diplomática de convivência pacífica com todos os demais Estados da comunidade internacional, desde mais de 200 anos, aceite conviver, no mesmo grupo, bloco, foro ou movimento convergente de interesses com outros partidos, movimentos ou Estados que tenham, entre seus objetivos constitutivos, suas diretrizes nacionais a ELIMINAÇÃO de outros Estados, partidos, governos, movimentos, etnias ou povos, como é o caso do Brics, que abriga o Irã, e como é o caso do atual governo brasileiro, que aceita conviver normalmente com partidos e movimentos terroristas como são o Hamas, o Hezbollah e outros do mesmo grupo, sendo que alguns desses terroristas são Estados perfeitamente constituídos.

Anexo:
        Como diplomata, estou perfeitamente horrorizado - e suponho que meus colegas também estejam- de ver Lula apertando alegremente a mão de um violador da Carta da ONU, saudando um assassino de civis, conversando simpaticamente com um sequestrador de crianças, um criminoso de guerra confirmado. Acredito que cada um dos meus colegas diplomatas profissionais deva se sentir terrivelmente enojado ao contemplar os efluvios de amizade do presidente brasileiro com um terrorista em escala global. Triste para a diplomacia!
Como sempre, assino embaixo do que escrevo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19/10/2024


Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/uma-duvida-que-nao-e-so-diplomatica.html).

Contra os fanatismos: os equívocos da esquerda ingênua ou ignorante - Paulo Roberto de Almeida

 Contra os fanatismos: os equívocos da esquerda ingênua ou ignorante

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre o atraso no desenvolvimento a que nos conduz certo pensamento de esquerda

        Minha primeira “orientação política”, se ouso dizer, foi conservadora, o que poderia ser vagamente aparentado à direita, ou o seu equivalente no Brasil do início dos anos 1960. Depois do grande otimismo do governo JK – do qual me lembro basicamente em função da primeira copa do mundo brasileira, em 1958 – e da construção de Brasília, um projeto que me parecia futurista pelas primeiras fotos, o Brasil entrou numa zona de turbulência, basicamente pela inflação e pelo grevismo que se expandiu, causando preocupações em meus pais, modestos trabalhadores sem formação, na verdade, sem educação primária completa. O “perigo comunista” trazido pela crise dos mísseis soviéticos em Cuba – meu primeiro “batismo político” em matéria internacional – atuou no mesmo sentido, num dos pontos altos da Guerra Fria, com intensa propaganda anticomunista vinda dos Estados Unidos.
        O golpe de Estado militar veio confortar tais concepções num primeiro momento, que não era de direita explícita; mas ele acarretou, paradoxalmente, a inauguração, pouco tempo depois, de minha segunda “orientação política”, já de inclinação antiamericana e claramente anticapitalista, ou seja, de esquerda. A abundante literatura militante e acadêmica, de vezo marxista, consolidou a adesão a todas as teses correntes no universo da esquerda. Assim continuou pelo resto da formação colegial e, sobretudo, ao início dos estudos em Ciências Sociais, notoriamente enviesados para o marxismo teórico e a militância política.
        O curso teve de ser reiniciado no exílio, durante os anos de chumbo da ditadura, o que também constituiu uma oportunidade para conhecer, diretamente, a experiência histórica e concreta dos vários socialismos realmente existentes na Europa oriental, uma excelente lição para a inauguração de uma terceira “orientação política”, a socialdemocracia, tendente, pelo estudo aprofundado da economia, ao liberalismo de mercados. Foi um período de revisão completa das teses econômicas e políticas vinculadas ao meu “universo intelectual” dos 14 aos 24 anos. Registre-se que durante todo esse tempo, ao percorrer quase toda a literatura marxista, eu nunca deixei de ler os “filósofos burgueses” e os “pensadores liberais”, o que constituiu uma excelente barreira contra todos os sectarismos e quaisquer dogmas rígidos.
        Adentrando numa corporação conservadora como é a diplomacia profissional, aliás extremamente adepta dos princípios militares da hierarquia e da disciplina, não deixei de defender as ideias compatíveis com o universo progressista da justiça social, especialmente aquelas atribuindo primordial responsabilidade ao Estado pela redução das desigualdades. De resto, o mandarinato do Itamaraty é fortemente aderente às soluções estatais e centralizadoras como a via principal de definição de políticas públicas setoriais. Em outros termos, há uma propensão quase natural em aceitar uma política externa “de esquerda” e uma diplomacia “progressista”, o que também é reforçado pela ideologia produzida e veiculada pela academia no tocante às relações internacionais, universo povoado por conceitos como dominação, dependência, hegemonia, imperialismo e todos os demais vinculados aos países periféricos.
        Justamente, a combinação de rigoroso estudo histórico e teórico com o conhecimento direto das experiências de desenvolvimento econômico e social de muitas nações ao redor do mundo concedeu-me a oportunidade de avaliar, em termos realistas e críticos, as políticas econômicas e sociais preconizadas no âmbito da esquerda, com um foco especial em questões vinculadas ao espectro das relações internacionais do Brasil. Nessa área, contemplei desde os anos 1980 ao presente, uma certa identidade entre os interesses das classes dominantes e as preferências de políticas esposadas pela tecnocracia estatal, entre elas a casta diplomática, progressista em sua ampla maioria.
        Uma observação de mais de quatro décadas no ambiente da diplomacia e no da academia registrou um quadro de poucos avanços consistentes nos terrenos do crescimento e do desenvolvimento econômico e social do Brasil, e da América Latina, em confronto com os notáveis progressos alcançados em outras partes do mundo, notadamente na franja da Ásia Pacífico e de alguns poucos países engajados na integração ao mundo, menos propensos, talvez, em defender o “capitalismo nacional” e a não dependência de “nações hegemônicas”. Essa foi exatamente a ideologia do desenvolvimento nacional, praticado pelo nacionalismo da era militar e inteiramente esposado pela diplomacia de esquerda que dominou o Itamaraty desde o início do presente século. A política externa partidária praticada majoritariamente nas últimas duas décadas tem muito a ver com as dificuldades do Brasil em se inserir nas cadeias de valor e na globalização dos mercados intensamente praticados por países mais avançados e por aqueles que têm como objetivo primordial vincular-se estreitamente à economia mundial.
        Os equívocos nos quais o Brasil perseverou ao longo do período têm a ver com certa ingenuidade na formulação de políticas econômicas por parte das elites dominantes, mas também em virtude da ignorância básica nessas áreas por parte das esquerdas acadêmicas e partidárias que definiram as principais opções em matéria de política econômica externa. Se ouso apontar apenas dois exemplos desses equívocos eu me limitaria em indicar uma recusa sistemática em aderir aos sólidos padrões de políticas públicas básicas, tal como propostas por um clube de “boas práticas” como a OCDE, e a opção irrefletida – jamais objeto de uma reflexão ponderada por parte da diplomacia profissional – pelo Brics como foro privilegiado de coordenação externa nas grandes alianças internacionais. Ambas resultam de ignorância econômica e de preconceitos políticos por parte da diplomacia partidária proposta pelo atual partido no poder, aliás desde 2003 aos nossos dias, com pequenos interrupções no período, mas com a preservação dessas opções introvertidas ou vinculadas a um espectro identificado com o antiamericanismo anacrônico da esquerda e o estatismo renitente, e tradicional, em nossas elites econômicas.
        Como diria um ideólogo que se converteu ao liberalismo depois de ter sido um defensor de soluções estatais ao início da carreira diplomática, mas sempre detestado pelas esquerdas e geralmente desprezado pelos diplomatas, “o Brasil é um país que não perde oportunidade de perder oportunidades”. Ao que parece, na presente fase de emergência de uma nova Guerra Fria, o Brasil vai perder mais uma oportunidade de manter a costumeira imparcialidade e neutralidade de sua diplomacia, ao aderir ao campo dos que pretendem propor uma “nova ordem global multipolar”, de nítidos contornos antiocidentais. Esse é um programa inteiramente definido e implementado pela esquerda ingênua e ignorante que domina atualmente a diplomacia brasileira.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4914, 3 maio 2025, 3 p.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

A Guerra na Ucrânia - Capítulo 2: Demografia e Economia da Ucrânia - MARCELO GUTERMAN


A comemoração pela vitória na Segunda Grande Guerra e o Brasil - Rubens Barbosa (Interesse Nacional)

 A comemoração pela vitória na Segunda Grande Guerra e o Brasil

Rubens Barbosa

Interesse Nacional, 2/04/2025

Apesar de sua contribuição na Segunda Guerra, o Brasil raramente é lembrado nas celebrações da vitória. Agora, 30 anos após sua última participação, Lula vai a Moscou para a cerimônia a convite de Putin — em meio a uma guerra e a uma possível reconfiguração das alianças globais que pode redefinir o papel geopolítico do país

Soldados da Força Expedicionária Brasileira na Itália durante a II Guerra Mundial (Foto: Arquivo Nacional)

O Brasil, depois de alguma hesitação na década de 1940, finalmente decidiu corretamente se colocar ao lado dos aliados e combater o nazismo e o fascismo na Segunda Grande Guerra.

A Força Expedicionária Brasileira combateu junto com o Exército norte-americano na Itália e teve participação na Batalha de Monte Cassino.

Mais de 1.000 soldados tombaram na luta contra o nazismo, e sua memória está preservada no cemitério de Pistoia, mas poucos se lembram disso.

‘As comemorações do Dia da Vitória ocorrem todos os anos, mas nunca o Brasil é convidado para delas participar’

As comemorações do Dia da Vitória ocorrem todos os anos, e manifestações públicas são realizadas em muitos países europeu, mas nunca o Brasil é convidado para delas participar.

Desde o fim da guerra, na celebração dos 50 anos da vitória, em maio de 1995, pela primeira vez, o Brasil foi convidado pelo governo britânico a participar em Londres dessas comemorações.

Como embaixador em Londres, pude acompanhar o presidente Fernando Henrique Cardoso, que esteve presente em todos os atos comemorativos. Foi um momento histórico em que foi lembrada e reconhecida a contribuição brasileira para a vitória aliada.

‘Trinta anos depois, o Brasil voltou a ser convidado a participar das comemorações da vitória’

Trinta anos depois, o Brasil voltou a ser convidado a participar das comemorações da vitória.

Desta vez, a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, como FHC, vai representar o Brasil nas solenidades. Não vai ser em Londres, mas em Moscou.

Atendendo ao convite do presidente russo, Vladimir Putin, no meio de outra guerra envolvendo Moscou, desta vez na Ucrânia, Lula vai à Rússia no dia 9 para a celebração da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Grande Guerra Patriótica, como a Segunda Grande Guerra é chamada na Rússia.

‘A visita ocorre em meio a grande transformação econômica e na ordem internacional e quando, a exemplo do que ocorreu no século 18, o mundo vê atônito uma reversão de alianças’ 

A visita ocorre em meio a grande transformação econômica e na ordem internacional e quando, a exemplo do que ocorreu no século 18, o mundo vê atônito uma reversão de alianças. 

Em 1756, as alianças de longa data na Europa entre a Guerra da Sucessão Austríaca e a Guerra dos Sete Anos foi revertida.  A Áustria passou de aliada da Grã-Bretanha a aliada da França; a República Holandesa, uma aliada britânica de longa data, tornou-se mais anti-britânica e assumiu uma posição neutra, enquanto a Prússia se tornou aliada da Grã-Bretanha. Algo tão revolucionário está acontecendo agora, quando a Rússia passa ser próxima dos EUA e a Europa pode deixar de ser aliada estratégica de Washington. 

‘A participação de Lula não é uma reversão de alianças, mas se coloca ao lado de um dos vencedores da guerra, uma das potências aliadas, que, nos últimos 80 anos, ficou do lado oposto do Ocidente’

A participação de Lula não é uma reversão de alianças, mas se coloca ao lado de um dos vencedores da guerra, uma das potências aliadas, que, nos últimos 80 anos, ficou do lado oposto do Ocidente. Segundo se noticiou, o embaixador da Ucrânia teria sugerido a ida de Lula a Kiev, antes da visita à Rússia. Lula teria tentado falar por telefone com Zelensky, mas o presidente da Ucrânia teria recusado o pedido de Lula de falar à distância e criticou a ida do presidente brasileiro à Rússia.

Nos próximos anos, a história pode se repetir com EUA, China e Rússia (no lugar da Europa) se entendendo de maneira geopolítica, e darem início a uma nova era nas relações internacionais, em que os três países decidirão o rumo da economia e da política global, passando a estabelecer “esferas de influência” globais. 

‘A presença de Lula em Moscou poderá ser vista como uma antecipação da posição de independência e de equidistância nas tensões políticas e econômicas globais. Ou como uma decisão precipitada’

A presença de Lula em Moscou poderá ser vista como uma antecipação da posição de independência e de equidistância nas tensões políticas e econômicas globais. Ou como uma decisão precipitada, se a Rússia não colocar um fim na guerra com a Ucrânia e os EUA se retirarem da tentativa de mediação

É de interesse do Brasil manter a tradicional postura na política externa de equidistância e independência de países ou grupo de países, sem alinhamentos automáticos, acima de ideologia ou partidarismo.

Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional



https://interessenacional.com.br/portal/a-comemoracao-pela-vitoria-na-segunda-grande-guerra-e-o-brasil/


Revista Brasileira: as várias séries - Academia Brasileira de Letras (site da ABL)

Revista Brasileira 

Academia Brasileira de Letras

A primeira publicação conhecida por usar o nome de Revista Brasileira apareceu aos 14 de julho de 1855, com o título de Revista BrasileiraJornal de Literatura, Teatros e Indústria, fundada e dirigida pelo Dr. Francisco de Paula Meneses. Anunciava-se como quinzenal, mas só apareceu o n.º 1. A segunda surgiu em 1857, com a denominação de Revista Brasileira, Jornal de Ciências, Letras e Artes. Durou até 1861, perfazendo quatro volumes. Seu diretor, Cândido Batista de Oliveira (1801-1865), formado em Matemáticas pela Universidade de Coimbra e aluno da Escola Politécnica de Paris, era um cientista e publicava sobretudo artigos científicos. Afrânio Peixoto, ao fazer o histórico das fases da revista, silenciou sobre Paula Meneses e apresentou os volumes de Batista de Oliveira como a Fase I.

A Fase II da Revista Brasileira, a chamada “fase Midosi”, editada por Nicolau Midosi, publicou regular e mensalmente, de junho de 1879 a dezembro de 1881, 30 números, reunidos em 10 volumes. Em suas páginas tiveram primeira publicação as Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, os poemas de Fagundes Varela que constituem O diário de Lázaro, a “Introdução à história da literatura brasileira”, de Sílvio Romero, aproveitada mais tarde na sua História da literatura brasileira, entre tantas e importantes colaborações.

A Fase III, a chamada “fase José Veríssimo”, circulou de janeiro de 1895 a setembro de 1899. Foram publicados 19 tomos, com 93 fascículos. Sem dar destaque à sua condição de diretor, José Veríssimo apenas solicitava, na contracapa, que as colaborações fossem enviadas ao “Sr. José Veríssimo, director da Revista Brazileira, Ouvidor 66”. Nesse endereço reuniam-se os escritores que fundaram a Academia Brasileira de Letras. E nas páginas da revista foram publicados os discursos proferidos na sessão inaugural pelo Presidente Machado de Assis e pelo Secretário-Geral Joaquim Nabuco, assim como a “Memória histórica” do 1.º Secretário Rodrigo Otávio.

A Fase IV da Revista Brasileira, dirigida por Batista Pereira, genro de Rui Barbosa, durou apenas de junho de 1934 a novembro de 1935. Na folha de rosto anunciava “Publica-se mensalmente”, mas não foi regular, publicando durante 18 meses apenas 10 números.

A Fase V da Revista Brasileira, a partir da qual passou a ser publicada pela Academia Brasileira de Letras, nasceu de uma proposta de Levi Carneiro, então Presidente da Casa de Machado de Assis, e teve início em julho de 1941. Embora tivesse encontrado forte oposição por parte de alguns acadêmicos, insatisfeitos com a decisão, posteriormente revogada, de membros da Academia não poderem publicar na revista, a iniciativa teve relativo êxito. Em 1948, saiu o vigésimo número. Após uma interrupção de 10 anos, voltou a circular em 1958, ainda sob a direção de Levi Carneiro, e chegou ao n.º 29, publicado em novembro de 1966.

A Fase VI, sob a direção de Josué Montello, compreende apenas seis volumes, aparecidos de 1975 a 1980.

A Fase VII, sob a direção de João de Scantimburgo, abrangeu 69 números, pautando-se pelo critério da trimestralidade, e circulou do último trimestre de 1994, quando voltou a ser publicada, até dezembro de 2011.

A Fase VIII iniciou-se no primeiro trimestre de 2012, sob a direção de Marco Lucchesi.

A Fase IX, sob a direção de Cicero Sandroni, inicia-se em 2018.

Uma coleção completa da Revista Brasileira encontra-se no Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa, que organizou e publicou o Índice da Revista Brasileira das seis primeiras fases, e uma coleção microfilmada está disponível na Divisão de Informação e Documentação da Biblioteca Nacional.  


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...