quarta-feira, 1 de outubro de 2025

A ideia do interesse nacional e da ferramenta diplomática - Paulo Roberto de Almeida Revista (Interesse Nacional)

 A ideia do interesse nacional e da ferramenta diplomática

Paulo Roberto de Almeida
Revista Interesse Nacional, n. 71, outubro-dezembro de 2025

The Idea of National Interest foi o título que o grande historiador americano Charles Beard deu a um livro que publicou em 1934, em plena crise econômica e no início do New Deal, o programa de recuperação impulsionado por Franklin Roosevelt. O livro oferecia uma reflexão histórica de longo prazo sobre a construção do projeto nacional americano pela vertente das relações exteriores, tanto assim que o seu subtítulo era An Analytical Study in American Foreign Policy. Ele abre a obra citando um dos secretários de Estado dos anos 1920, Charles Hughes, que havia se pronunciado sobre o interesse nacional na política externa nestes termos:

“As políticas externas não são elaboradas sobre a base de abstrações. Elas são o resultado de concepções práticas do interesse nacional que emergem a partir de alguns requerimentos imediatos ou de fundamentos essenciais, em perspectiva histórica. Quando mantidas por bastante tempo, essas concepções expressam as esperanças e os temores, os objetivos de segurança e de engrandecimento, que se tornaram dominantes na consciência nacional, transcendendo, assim, divisões partidárias e fazendo com que se atenuem as oposições que poderiam advir de certos grupos”.

É possível que essas ideias tenham inspirado o célebre cientista político Hans Morgenthau – autor do clássico Politics Among Nations, publicado em 1948, o mesmo ano da morte de Charles Beard – a elaborar um outro livro, chamado justamente In Defense of the National Interest (1951), seguido, no ano seguinte, de um artigo sobre o mesmo tema: “What Is the National Interest of the United States?” (The Annals of the American Academy of Political and Social Science, julho de 1952). O livro de Morgenthau sobre o interesse nacional americano foi republicado em 1982, e talvez tenha animado o famoso jornalista Irving Kristol a dar início, em 1985, à revista The National Interest, apoiada nos mesmos princípios da escola realista, identificada com a expressão política, econômica e militar do poder americano em escala global, mas cujos fundamentos devem sempre ser construídos internamente.

Pode ser também que essa mesma publicação e sua ideia central tenham inspirado o embaixador Rubens Barbosa a lançar, em 2008, a Revista Interesse Nacional, fundada em concepções similares sobre as bases internas da expressão internacional do Brasil. Qual seria, então, o interesse nacional brasileiro, e que tipo de políticas e orientações econômicas melhor serviriam à sua defesa e consolidação? Difícil dizer, já que existem concepções muito diversas do que seja o interesse nacional, como já dizia o próprio Beard em 1934. O editor da nova Revista brasileira se encarregou, aliás, de expressar tal dificuldade em sua nota de apresentação:

Sendo necessariamente genérica, a noção de interesse nacional não tem uma definição precisa. De um lado, porque, sobre o que seja concreta e especificamente o interesse nacional, haverá sempre visões não coincidentes, apoiadas em valores e/ou interesses diferentes. De outro, porque a definição do interesse nacional requer um juízo informado, mas sempre político e não estritamente técnico, sobre riscos e oportunidades que se apresentam à realização dos valores e interesses de um país em cenários estratégicos de longo prazo. E estes serão, sempre, objeto de incerteza e controvérsia. (Revista Interesse Nacional, número inaugural: https://interessenacional.com.br/edicoes/edicao-1/)

Mas o editorial acrescentava logo em seguida: “O interesse nacional é, pois, uma construção política”, o que pode ser uma constatação óbvia, mas que não nos ajuda muito na busca por uma definição mais precisa sobre qual seria o interesse nacional brasileiro. Conceda-se, pois, que diferentes grupos políticos, e diferentes agregações de poder, representados pelas forças políticas temporariamente predominantes no sistema de governança, manifestem concepções diversas do chamado interesse nacional, e que eles defendam, portanto, suas orientações particulares, ou partidárias, com base numa legitimidade supostamente construída nas urnas, a cada escrutínio eleitoral.

O interesse nacional é uma construção política

Na impossibilidade de se chegar a uma definição consensual de quais seriam as expressões efetivas do interesse nacional, talvez seja melhor trabalhar com exemplos concretos do que com definições abstratas, como afirmou em 1923 o secretário de Estado Charles Hughes. Quais seriam, no caso brasileiro, as balizas mínimas sobre o que o país pretende ser como nação e como sociedade. É preciso saber o que se quer, para rejeitar o que não serve a tal fim. O editorial da revista Interesse Nacional nos fornece, mais uma vez, alguns dos parâmetros que podem ser aplicados ao caso: “A democracia e a inserção internacional são parte do interesse nacional brasileiro, aquela como valor, está como objetivo. Se a democracia é um valor que queremos preservar, e se a inserção internacional é hoje, mais do que nunca, uma condição do desenvolvimento, resta perguntar como se inserir no mundo para fortalecer a democracia e promover o desenvolvimento”.

Se concordarmos com essa “plataforma”, democracia e inserção internacional passam a ser as palavras-chaves do interesse nacional brasileiro. Então, qualquer ação nacional que vise diminuir as bases da democracia representativa, que constitui a forma atual da governança política no Brasil, seria contrária e prejudicial ao interesse nacional brasileiro, como, por exemplo, quaisquer tentativas de golpes continuístas.

Da mesma forma, qualquer política ou medida que obstaculize a integração da economia nacional aos circuitos internacionais da interdependência econômica pode ser considerada como contrária ao interesse nacional, na medida em que diminui nossa capacidade de absorção de know-how e de tecnologias de ponta que são essenciais ao processo de desenvolvimento do país. O protecionismo comercial representa, nesse sentido, uma postura irracional do ponto de vista econômico, uma espécie de “stalinismo para os ricos”, ou um projeto de “capitalismo num só país” que talvez ainda encante os arautos da burguesia industrial introvertida e alguns acadêmicos ingênuos.

A democracia brasileira e a inserção internacional da nação vêm sendo, por exemplo, afastados de nosso horizonte de realizações históricas, quando o objetivo estratégico do Mercosul, alimentado pela diplomacia brasileira nos anos 1990, assim como o projeto de incorporação do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), inicialmente formulado na mesma época, permanecem em um indefinido compasso de espera, sem qualquer atuação diplomática efetiva em favor desses dois grandes objetivos, talvez não coincidentes, no momento, com concepções partidárias determinadas.

Charles Beard, no capítulo de seu livro dedicado à “interpretation, advancement, and enforcement of national interest”, dizia que “By far the most important means used to advance and enforce national interest is the ‘system’, or institution, of diplomacy”. Ele se referia, exatamente, à administração e ao funcionamento das atividades diplomáticas, bem como à “multitude of services performed by diplomatic agents in behalf of the citizens”, ou seja, a cobertura que um país é capaz de dar aos seus cidadãos e às empresas nacionais presentes nos mais diversos cantos do mundo.

Nesse particular, a ferramenta da política externa brasileira tem custado muito pouco à nação (menos de 1% do orçamento da União na maior parte de sua história), e tem prestado grandes serviços ao desenvolvimento da nação. Não obstante, o Itamaraty tem sido muito pouco requisitado a conceber e a empreender iniciativas para integrar o Brasil ao mundo, segundo um objetivo estratégico de interdependência econômica com as grandes democracias de mercado.

O embaixador Rubens Barbosa tem alertado, em seus muitos artigos no jornal O Estado de S. Paulo, e no próprio portal da Revista Interesse Nacional, sobre a marginalização da diplomacia profissional de alguns dos temas mais relevantes da política econômica externa do país, e até mesmo de algumas das grandes definições estratégicas relativas ao conflagrado ambiente atual de desmantelamento do multilateralismo político e econômico, sem solução imediata.

Ver a vocação tradicional da diplomacia brasileira para o exercício de uma plena autonomia decisória e imparcialidade diplomática em face de conflitos entre as grandes potências diminuída, em função de escolhas predeterminadas por interesses partidários de restrito alcance nacional, só pode atuar em detrimento da boa qualidade, do regular funcionamento e, sobretudo, da credibilidade e da respeitabilidade internacionais dessa ferramenta. Não parece, assim, ser a forma mais adequada de promover o interesse nacional.

Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional

Emmanuel Todd strikes again (j’en ferai ma critique, PRA)

 Un nouveau texte  séminal si je puis en dire, qui mérite toute notre attention et commentaires, à venir. PRA

Dislocation de l’Occident : les menaces

La perversité de Trump se déploie au Moyen-Orient, le bellicisme de l’OTAN en Europe.

Je viens d’écrire à la demande de mon éditeur slovène une nouvelle préface à La Défaite de l’Occident, qu’il m’apparaît nécessaire de publier sur Substack immédiatement. La menace d’une aggravation de tous les conflits se précise. On trouvera dans ce texte une interprétation schématique et provisoire, mais actualisée du développement de la crise que nous vivons. Ce texte est de fait la conclusion de mon dernier entretien avec Diane Lagrange sur Fréquence Populaire : « Victoire de la Russie, enfermement et fracturation de la France et de l’Occident ».

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Préface à l’édition slovène

De la défaite à la dislocation

Moins de deux ans après la publication en français de La Défaite de l’Occident, en janvier 2024, les principales prédictions du livre sont vérifiées. La Russie a militairement et économiquement tenu le choc. L’industrie militaire américaine est épuisée. Les économies et les sociétés européennes sont au bord de l’implosion. Avant même que s’effondre l’armée ukrainienne, le stade suivant de la dislocation de l’Occident est atteint.

Je suis depuis toujours hostile à la politique russophobe des États-Unis et de l’Europe mais, en tant qu’occidental attaché à la démocratie libérale, Français formé à la recherche en Angleterre, enfant d’une mère réfugiée aux États-Unis pendant la deuxième guerre mondiale, je suis catastrophé par les conséquences pour nous, Occidentaux, de la guerre menée sans intelligence contre la Russie.

Nous ne sommes qu’au début de la catastrophe. Un point de bascule approche au-delà duquel se développeront les conséquences ultimes de la défaite.

Le « Reste du monde » (ou Sud global, ou Majorité globale), qui s’était contenté de soutenir la Russie en refusant de boycotter son économie, affiche désormais ouvertement son soutien à Vladimir Poutine. Les BRICS s’élargissent en acceptant de nouveaux adhérents, ils accroissent leur cohésion. Sommée par les États-Unis de choisir son camp, l’Inde a choisi l’indépendance : les photos de Poutine, Xi et Modi réunis à l’occasion de la réunion d’aout 2025 de l’Organisation de Coopération de Shanghai resteront comme le symbole de ce moment clef. Les médias occidentaux ne cessent pourtant de nous représenter Poutine comme un monstre et les Russes comme des serfs. Ces médias avaient déjà été incapables d’imaginer que le Reste du monde les voit comme un dirigeant et des êtres humains ordinaires, porteurs d’une culture russe spécifique et d’une volonté de souveraineté. J’ai peur désormais que nos médias n’aggravent notre aveuglement en étant incapables d’imaginer le regain de prestige de la Russie dans ce Reste du monde, exploité économiquement et traité avec arrogance par l’Occident durant des siècles. Les Russes ont osé. Ils ont défié l’Empire et ils ont gagné.

L’ironie de l’histoire, c’est que les Russes, peuple européen et blanc, de langue slave, sont devenus le bouclier militaire du Reste du monde parce que l’Occident a refusé de les intégrer après la chute du communisme. J’imagine les Slovènes particulièrement bien placés culturellement pour apprécier cette ironie même si ce que je sais bien, en tant qu’anthropologue de la famille et de la religion, que, malgré sa langue slave, la Slovénie est beaucoup plus proche socialement et idéologiquement de la Suisse que de la Russie.

Je peux ébaucher ici un modèle de la dislocation de l’Occident, malgré les incohérences de la politique de Donald Trump, président américain de la défaite. Ces incohérences ne résultent pas, je pense, d’une personnalité instable, et sans doute perverse, mais d’un dilemme insoluble pour les États-Unis. D’une part, leurs dirigeants, au Pentagone comme à la Maison blanche, savent que la guerre est perdue et que l’Ukraine devra être abandonnée. Le bon sens les conduit donc à vouloir sortir de la guerre. Mais d’autre part, le même bon sens leur fait pressentir que le retrait d’Ukraine aura pour l’Empire des conséquences dramatiques que n’avaient pas eu ceux du Vietnam, d’Irak ou d’Afghanistan. Il s’agit en effet de la première défaite stratégique américaine d’échelle planétaire, dans un contexte de désindustrialisation massive des États-Unis et de réindustrialisation difficile. La Chine est devenue l’atelier du monde ; sa très faible fécondité, certes, lui interdira de remplacer les Etats-Unis, mais il est déjà trop tard pour la concurrencer industriellement.

La dédollarisation de l’économie mondiale a commencé. Trump et ses conseillers n’arrivent pas à l’accepter car ce serait la fin de l’Empire. Un âge post-impérial pourtant devrait être le but du projet MAGA, Make America Great Again, qui cherche un retour de l’état-nation américain. Mais pour une Amérique dont la capacité productive en biens réels est aujourd’hui très faible (voir chapitre 9 sur la vraie nature de l’économie américaine), il est impossible de renoncer à vivre à crédit comme elle le fait en produisant des dollars. Un tel retrait impérial-monétaire impliquerait une chute brutale de son niveau de vie, y compris pour les électeurs populaires de Trump. Le premier budget de la deuxième présidence Trump, le « One Big Beautiful Bill Act », reste donc impérial malgré les protections tarifaires qui incarnent le projet ou rêve protectionniste. L’ OBBBA relance les dépenses militaires et le déficit. Qui dit déficit budgétaire aux États-Unis dit, inévitablement, production de dollars et déficit commercial. La dynamique impériale, l’inertie impériale plutôt, n’en finit pas de miner le rêve d’un retour à l’état-nation productif.

En Europe, la défaite militaire reste mal comprise des dirigeants. Ils n’ont pas dirigé les opérations. C’est le Pentagone qui avait mis au point les plans de la contre-offensive ukrainienne de l’été 2023 (durant laquelle j’avais écrit La Défaite de l’Occident). Les militaires américains, même s’ils ont fait mener la guerre par leur proxy ukrainien, savent qu’ils se sont brisés sur la défense russe - parce qu’ils ne pouvaient produire assez d’armes et parce que les militaires russes ont été plus intelligents qu’eux. Les dirigeants européens n’ont fourni que des systèmes d’armes et pas les plus importants. Inconscients de l’ampleur de la défaite militaire, ils savent en revanche que leurs propres économies ont été paralysées par la politique de sanctions, tout spécialement par la rupture de leur approvisionnement en énergie russe bon marché. Couper en deux économiquement le continent européen fut un acte de folie suicidaire. L’économie allemande stagne. Partout à l’ouest, la pauvreté et les inégalités augmentent. Le Royaume-Uni est au bord du gouffre. La France le suit de près. Sociétés et systèmes politiques sont bloquées.

Une dynamique économique et sociale négative préexistait à la guerre et mettait déjà l’Occident sous tension. Elle était visible, à des degrés divers, dans toute l’Europe de l’Ouest. Le libre-échange y mine la base industrielle. L’immigration y développe un syndrome identitaire, particulièrement dans les classes populaires privées d’emplois sûrs et correctement payés.

Plus en profondeur, la dynamique négative de fragmentation est culturelle : l’éducation supérieure de masse crée des sociétés stratifiées dans lesquelles les éduqués supérieurs – 20%, 30%, 40% de la population - se mettent à vivre entre eux, à se penser supérieurs, à mépriser les milieux populaires, à rejeter le travail manuel et l’industrie. L’éducation primaire pour tous (l’alphabétisation universelle) avait nourri la démocratie, créant une société homogène dont le subconscient était égalitaire. L’éducation supérieure a engendré des oligarchies, et parfois des ploutocraties, sociétés stratifiées envahies par un subconscient inégalitaire. Paradoxe ultime : le développement de l’éducation supérieure a fini par produire dans ces oligarchies ou ploutocraties une baisse du niveau intellectuel ! J’avais décrit cette séquence il y a plus d’un quart de siècle dans L’Illusion économique, publiée en 1997. L’industrie occidentale s’en est allée dans le Reste du monde et aussi, bien sûr, dans les anciennes démocraties populaires d’Europe de l’Est qui, libérées de leur sujétion à la Russie soviétique, ont désormais retrouvé leur statut pluriséculaire de périphérie dominée par l’Europe de l’Ouest. Je parle en détail au chapitre 3 de cette espèce de Chine intérieure où les ouvriers d’industrie restent nombreux. Partout cependant en Europe l’élitisme des éduqués supérieurs a engendré le « populisme ».

La guerre a fait monter d’un cran la tension européenne. Elle appauvrit le continent. Mais surtout, échec stratégique majeur, elle délégitime des dirigeants incapables de mener leurs pays à la victoire. Le développement de mouvements populaires conservateurs (habituellement désigné par les élites journalistiques par des termes comme « populistes » ou « d’extrême droite » ou « nationalistes ») s’accélère. Reform UK au Royaume-Uni. AfD en Allemagne, Rassemblement national en France… Ironie toujours : les sanctions économiques dont l’OTAN attendait un « regime change » en Russie sont sur le point d’apporter à l’Europe occidentale une cascade de « regime changes ». Les classes dirigeantes occidentales sont délégitimées par la défaite au moment même où la démocratie autoritaire russe est relégitimée par la victoire, ou plutôt, surlégitimée puisque le retour de la Russie à la stabilité sous Poutine lui assurait au départ une légitimité incontestée.

Tel est notre monde à l’approche de 2026.

La dislocation de l’Occident prend la forme d’une « fracturation hiérarchique ».

Les États-Unis renoncent au contrôle de la Russie, et je le pense de plus en plus, de la Chine. Mis sous blocus chinois pour leurs importations de samarium, cette terre rare indispensable à l’aéronautique militaire, les États-Unis ne peuvent plus rêver d’affronter la Chine militairement. Le Reste du monde – Inde, Brésil, monde arabe, Afrique - en profite et leur échappe. Mais les États-Unis se retournent vigoureusement contre leurs « alliés » européens et est-asiatiques, dans un effort ultime de surexploitation, et aussi, il faut l’admettre, par pur et simple dépit. Pour échapper à leur humiliation, pour cacher au monde et à eux-mêmes leur faiblesse, ils punissent l’Europe. L’Empire se dévore lui-même. C’est le sens des tariffs et investissements forcés imposés par Trump aux Européens, devenus sujets coloniaux dans un empire rétréci plutôt que partenaires. Le temps des démocraties libérales solidaires est fini.

Le trumpisme est un « conservatisme populaire blanc ». Ce qui émerge en Occident n’est pas une solidarité des conservatismes populaires mais une rupture des solidarités internes. La rage qui résulte de la défaite conduit chaque pays, pour éponger son ressentiment, à se retourner contre plus faible que lui. Les États-Unis se retournent contre l’Europe ou le Japon. La France réactive son conflit avec l’Algérie, ancienne colonie. Nul doute que l’Allemagne, qui, de Scholz à Merz, a accepté d’obéir aux Etats-Unis, ne retourne son humiliation contre ses partenaires européens plus faibles. Mon propre pays, la France, me semble le plus menacé.

L’un des concepts fondamentaux de la défaite de l’Occident est le nihilisme. J’explique comment « l’état zéro » de la religion protestante - la sécularisation arrivée à son terme - n’explique pas seulement l’effondrement éducatif et industriel américain. L’état zéro ouvre aussi un vide métaphysique. Je ne suis pas personnellement croyant et je ne milite pour aucun retour du religieux (je ne le crois pas possible) mais je dois, en tant qu’historien, constater que la disparition des valeurs sociales d’origine religieuse mène à une crise morale, à une pulsion de destruction des choses et des hommes (la guerre) et ultimement à une tentative d’abolition de la réalité (le phénomène transgenre pour les démocrates américains et la négation du réchauffement climatique pour les républicains par exemple). La crise existe pour tous les pays complètement sécularisés mais elle est pire dans ceux dont la religion était le protestantisme ou le judaïsme, religions absolutistes dans leur recherche du transcendant, plutôt que le catholicisme, plus ouvert à la beauté du monde et de la vie terrestre. C’est bien en aux États-Unis et en Israël que l’on voit se développer des formes parodiques des religions traditionnelles, parodies d’essence selon moi nihiliste.

Cette dimension irrationnelle est au cœur de la défaite. Celle-ci n’est donc pas seulement une perte « technique » de puissance mais aussi un épuisement moral, une absence de but existentiel positif qui mène au nihilisme.

Ce nihilisme est derrière la volonté des dirigeants européens, particulièrement sur les bords protestants de la Baltique, d’élargir la guerre contre la Russie par des provocations incessantes. Ce nihilisme est aussi derrière la déstabilisation américaine du Proche-Orient, lieu par excellence d’expression de la rage qui résulte de la défaite américaine face à la Russie. Surtout, ne cédons pas à l’évidence trop facile d’une autonomie guerrière du régime Netanyahu en Israël dans le génocide de Gaza ou dans l’attaque contre l’Iran. Protestantisme-zéro et judaïsme-zéro mêlent certes tragiquement leurs effets nihilistes dans ces accès de violence. Mais partout au Moyen-Orient ce sont bien les États-Unis qui, en fournissant les armes et parfois en attaquant eux-mêmes, sont en dernière instance les décideurs du chaos. Ils poussent Israël à l’action comme ils ont poussé les Ukrainiens. La première présidence Trump avait établi l’ambassade des États-Unis à Jérusalem et c’est bien Trump qui le premier a imaginé Gaza transformé en station balnéaire. Je suis conscient qu’il faudrait un livre pour démontrer cette thèse, un livre qui démonterait une à une les interactions entre les acteurs. Mais, historien de métier, et faisant de la géopolitique depuis un-demi-siècle, je sens que, comme l’Europe otanienne, Israël a cessé d’être un état indépendant. Le problème de l’Occident est bien la mort programmée de l’état-nation.

L’Empire est vaste et il se décompose dans le bruit et la fureur. Cet Empire est déjà polycentrique, divisé sur ses buts, schizophrène. Mais aucune de ses parties n’est indépendante du tout. Trump est son « centre » actuel ; il est aussi sa meilleure expression idéologico-pratique en ce qu’il mêle une volonté rationnelle de repliement sur sa sphère de domination immédiate (l’Europe et Israël) à des impulsions nihilistes de préférence pour la guerre. Ces tendances – repliement et violence - s’expriment aussi à l’intérieur du cœur américain de l’Empire où le principe de fracturation hiérarchique fonctionne en interne. Des auteurs anglo-américains de plus en plus nombreux évoquent la venue d’une guerre civile.

La ploutocratie américaine est pluraliste. Il y a celle des financiers, celle des pétroliers, celle de la Silicon Valley. Les ploutocrates trumpistes, pétroliers texans ou ralliés récent de la Silicon Valley, méprisent les élites éduquées démocrates de la côte Est, qui méprisent elles-mêmes les petits-blancs trumpistes du heartland, qui méprisent eux-mêmes les Noirs démocrates, etc…

L’une des particularités intéressantes de l’Amérique actuelle est que ses dirigeants ont de plus en plus de mal à distinguer l’interne de l’externe, malgré la tentative MAGA d’arrêter par un mur l’immigration venue du sud. L’armée tire sur des bateaux qui sortent du Vénézuéla, elle bombarde l’Iran, elle entre dans le centre des villes démocrates des États-Unis, elle commandite l’aviation israélienne pour une attaque sur le Qatar où se trouve une immense base américaine. Tout lecteur de science-fiction reconnaîtra dans cette énumération inquiétante l’amorce d’une entrée en dystopie, c’est-à-dire dans un monde négatif où se mêlent puissance, fragmentation, hiérarchie, violence, pauvreté et perversité.

Restons donc nous-mêmes, hors de l’Amérique. Gardons notre perception de l’intérieur et de l’extérieur, notre sens de la mesure, notre contact avec la réalité, notre conception de ce qui est juste et beau. Ne nous laissons pas non plus entraîner dans une fuite en avant guerrière par nos propres dirigeants européens, ces privilégiés égarés dans l’histoire, désespérés d’avoir été vaincus, terrorisés à l’idée d’être un jour jugés par leurs peuples. Et surtout, surtout, continuons de réfléchir au sens des choses.

Paris, le 28 septembre 2025

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Vamos falar de não interferência nos assuntos internos de outros países? - Paulo Roberto de Almeida

Vamos falar de não interferência nos assuntos internos de outros países?

        Esse é um velho, velhíssimo, princípio de relações internacionais entre Estados soberanos, já parcialmente consagrado em Westfália, revisto tangencialmente em Viena, incorporado parcialmente ao Direito Internacional em Paris, seguido defeituosamente na Liga das Nações, consolidado finalmente na Carta das Nações Unidas de 1945 e reafirmado formalmente na Convenção de Viena de 1961. Acho que todo mundo sabe dos detalhes, não é mesmo?
        Ah, sim, faz parte dos padrões usuais da diplomacia brasileira desde José Bonifácio (em seu Manifesto às Nações Amigas de agosto de 1822) e foi finalmente incorporado como uma das principais cláusulas de relações internacionais do Artigo 4 da CF-1988 e como tal é “princípios sagrado” de nossa política externa (ou pelo menos deveria ser). 
        Ora, como todos sabem, Lula apoiou clara e publicamente a candidata democrata nas eleições americanas de 2024. Não só isso: desde 2003 ele passou a apoiar TODOS os candidatos de sua simpatia nas eleições de TODOS os países latino-americanos (e bem mais, até um candidato socialista numa das eleições presidenciais da França, mais passons).
        Ou seja, Lula contrariou não apenas uma (talvez outras) das cláusulas de relações internacionais de nossa Constituição, mas também os preceitos e acordos formais do Direito Internacional da diplomacia multilateral.
        Acho que não preciso me estender muito mais sobre convergências e dissonâncias na política externa e na diplomacia brasileira, ou melhor, entre uma e outra. Tenho um artigo sobre isso e pretendo falar mais um pouco sobre o assunto, numa “charla” que devo proferir proximamente.
        Para bom entendedor… (e tenho certeza de que todos os meus colegas diplomatas o são, e até alguns “paisanos”).

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1/10/2025

A Rússia de Kerensky e a Rússia de Putin - Paulo Roberto de Almeida

A Rússia de Kerensky e a Rússia de Putin.

Nada a ver, mas… (a História não se repete, 2)

Em 1917, Max Weber escreveu uma de suas poucas notas sobre a Rússia revolucionária, entre fevereiro e outubro: ele falava de uma “democracia de fachada” durante o período de Kerensky. A Rússia já está vivendo há longos anos uma democracia de fachada, de fato uma ditadura plena, com um tirano que achou que poderia começar uma guerra de agressão impunemente.

Estou seguro de que Lula não tem a menor ideia do que isto significa.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasilia, 1/10/2025

A História não se repete, mas… - Paulo Roberto de Almeida

A História não se repete, mas… 

Paulo Roberto de Almeida

A Rússia está chegando perto do seu “momento 1917”.

Estou seguro de que vcs sabem o que eu quero dizer.

Em 1917, soldados e cidadãos russos estavam cansados das pesadas perdas depois de três anos de guerra contra a Alemanha imperial, iniciada em 1914.

Os alemães então enviaram Lênin, no famoso “trem blindado” para Petrogrado (antiga S. Petersburgo, depois Leningrado, hoje novamente S. Petersburgo). Lenin ajudou a acabar com a guerra: soldados e cidadãos russos se revoltaram contra o czarismo, em fevereiro de 1917.

Não existe mais um Lênin. Os drones e os mísseis ucranianos são o novo Lênin.

Soldados e cidadãos russos vão se revoltar contra o novo czar, o neoczar Putin!

Pode ser que a História não se repita, mas soldados e cidadãos russos estão cansados da guerra iniciada pelo seu neoczar.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 1/10/2025


History does not repeat itself, but… - Paulo Roberto de Almeida

History does not repeat itself, but…

Russia is approaching its 1917 moment. 

I’m sure you know what I mean: it was the moment Russia’s military, and its people could not support anymore the heavy losses of the war against Imperial Germany, three years after its beginning, in 1914. 

Germany sent Lenin, to help Russian defeat. And it helped. Soldiers and people revolted against Czarism.

Well, there is no a new Lenin, but there are Ukrainian drones and missiles: they are a “new Lenin” against a neo or new Czar: Putin! 

Russians will be revolting against themselves, and perhaps their new neoczar!

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, October 1st, 2025


terça-feira, 30 de setembro de 2025

Por que o Brasil sempre abre a Assembleia Geral da ONU - Giulia Granchi Role (BBC News Brasil)

 BBC Brasil, 22/09/2025

Por que o Brasil sempre abre a Assembleia Geral da ONU

A cena se repete ano após ano: o presidente do Brasil sobe à tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas e dá início ao mais importante debate diplomático global. Mas, afinal, por que cabe sempre ao Brasil o papel de iniciar o evento?

A resposta está menos em regras escritas e mais em tradição diplomática.

Segundo o livro O Brasil nas Nações Unidas, 1946-2011, publicado pela Fundação Alexandre de Gusmão no aniversário de 50 anos da ONU, a prática teria começado em 1949, em meio ao clima de confronto da Guerra Fria, justamente para evitar dar primazia aos Estados Unidos ou à União Soviética.

Desde então, tornou-se praxe: antes de abrir a lista de oradores, o secretário-geral envia uma nota à missão brasileira perguntando se o país deseja manter a tradição.

A resposta invariavelmente positiva mantém viva uma prática que "honra e distingue o Brasil", nas palavras da publicação.Pule Mais lidas e continue lend

Fim do Mais lidas


Ainda conforme o livro, essa circunstância consolidou na diplomacia brasileira a percepção de que o discurso de abertura possui peso estratégico.

Segundo a publicação, o contrário da maioria das delegações, que costumam centrar-se em questões tópicas, o Brasil passou a usar esse espaço para fazer análises mais amplas da conjuntura internacional, projetando sua visão de mundo e defendendo temas estruturais, como o combate à fome, o desenvolvimento e a reforma de instituições multilaterais.

Mas o professor de relações internacionais Matias Spektor avalia que, neste ano, Lula deve direcionar suas palavras ao público doméstico.

"Eu antevejo que o Lula fará um discurso centrado na soberania, na importância do livre comércio, das instituições internacionais, ou seja, toda agenda que é uma agenda multilateralista, típica de país do sul global, com um tom que é crítico daquilo que o Trump vem fazendo", diz ele, que leciona na FGV (Fundação Getulio Vargas).

Tradição com 'raízes formais'

Segundo Lucas Leite, professor da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), essa tradição também tem raízes formais: "O Brasil foi muito importante na constituição da Carta da ONU e nas discussões para a criação da organização. O diplomata Oswaldo Aranha teve papel essencial na primeira Assembleia Geral, inclusive conduzindo o processo que levou à criação do Estado de Israel. Além disso, a diplomacia brasileira sempre foi respeitada como capaz de mediar conflitos e criar consensos, o que ajuda a explicar a continuidade dessa tradição".

O gesto também dialogava com o papel que o país buscava exercer no pós-guerra: uma voz ativa no multilateralismo, mesmo sem figurar entre as grandes potências vencedoras do conflito.

"Existe um argumento de que isso funcionou como uma espécie de prêmio de consolação, já que o Brasil não entrou como membro permanente do Conselho de Segurança, principalmente por resistência da União Soviética e de países europeus. Mas, mais do que isso, mostra a confiança que os países depositavam na diplomacia brasileira", complementa Leite.

Desde 1955, o Brasil passou a abrir de maneira constante o Debate Geral, seguido pelo país anfitrião, os Estados Unidos. O arranjo deu estabilidade ao protocolo: depois desses dois, a ordem dos discursos é definida por critérios como o nível da autoridade presente, equilíbrio geográfico e ordem de inscrição.

A tradição atravessou décadas, com raríssimas exceções motivadas por atrasos ou ajustes de agenda. Em 1983 e 1984, por exemplo, os EUA falaram antes do Brasil; em 2016, o segundo lugar coube ao Chade, porque o presidente americano não chegou a tempo.

Vitrine brasileira

Mais do que uma curiosidade protocolar, a abertura dos discursos na ONU dá ao Brasil uma visibilidade singular. É uma vitrine para projetar sua política externa, expor prioridades nacionais e marcar posição em temas globais diante de chefes de Estado, diplomatas e da imprensa internacional. "Essa tradição pode ser entendida como simbólica, sim, mas também como um elemento concreto de poder do Brasil", observa Leite.

O professor aponta que o país sempre defendeu a solução pacífica de controvérsias, o papel das instituições e o multilateralismo. "Nesse sentido, o simbolismo se traduz em prática: ser o primeiro a falar garante que o Brasil seja ouvido."

"Brinco às vezes dizendo que muitos não estão ali para ouvir o representante brasileiro, mas sim o americano, que fala logo depois. Mas como já estão sentados, o Brasil acaba tendo mais repercussão do que outros países, que falam em dias seguintes, em momentos de menor atenção", complementa Paulo Velasco.

É, portanto, segundo os especialistas, uma tradição que beneficia o país coloca o Brasil sob os holofotes. "Podemos dar recados, às vezes com maior contundência, às vezes menos, mas sempre em um espaço privilegiado", diz Velasco.

Ao longo das décadas, a diplomacia brasileira oscilou entre diferentes linhas: de uma lógica americanista, alinhada aos Estados Unidos, até uma postura mais globalista, promovendo autonomia e desenvolvimento dos países do Sul Global.

Segundo Leite, "essa 'pendulação' é visível nos discursos do Brasil na Assembleia Geral. Mesmo governos não alinhados à esquerda, como Temer, Fernando Henrique ou Sarney, repetiam linhas mestras: desenvolvimento, combate à pobreza, meio ambiente e democracia. Já a exceção foi o governo Bolsonaro, que adotou discurso populista e subserviente aos EUA, negando o multilateralismo".

Historicamente, defende Leite, os discursos brasileiros ajudam a definir o tom do debate, chamando atenção para fome, pobreza, reforma de instituições globais e missões de paz. "Simbolicamente e na prática, o Brasil representa uma ponte entre mundos: Ocidente e Oriente, Norte e Sul, autonomia e desenvolvimento".

O discurso deste ano

O Brasil já abriu a Assembleia Geral da ONU em momentos de pressão internacional, mas nunca enfrentou uma situação de confronto direto tão evidente como agora, com os Estados Unidos.

"Na época do Bolsonaro, por exemplo, houve atritos sérios com a França de Emmanuel Macron em torno das queimadas na Amazônia. Mas, evidentemente, não se compara com a tensão que temos hoje com os Estados Unidos", observa Paulo Velasco, professor de política internacional da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

A escalada começou ainda em julho: primeiro, Donald Trump classificou as acusações contra Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal como uma "caça às bruxas". Poucos dias depois, anunciou a sobretaxa de 50% sobre importações brasileiras. Lula, por sua vez, tem respondido com a defesa da soberania nacional.

Além disso, os EUA também anunciaram sanções ao ministro do STF Alexandre de Moraes e sua mulher no âmbito da Lei Global Magnitsky.

Antes do discurso do presidente nesta terça-feira (23/9), Velasco afirmou que o presidente deve aproveitar o púlpito em Nova York para reiterar "como tem feito" a defesa da democracia e da autodeterminação dos povos.

"Ao longo de sua vida política, Lula tem repetido os mesmos pontos na ONU: combate à fome e à pobreza, defesa do desenvolvimento sustentável, crítica aos gastos excessivos com armas, e a busca por uma ordem internacional mais justa e menos assimétrica. Foi assim nos anos 2000, foi em 2023, e deve ser agora também", afirmou.

"Deve dizer algo no sentido de que é inadmissível, em pleno século XXI, vermos ingerência externa sobre a soberania e o judiciário de países independentes. Seria um recado bastante indireto, mas direto ao mesmo tempo, a Donald Trump."

Lula abriu seu discurso falando sobre "sanções arbitrárias" e "intervenções unilaterais", sem citar o governo Trump, disse que a condenação de Jair Bolsonaro (PL) por golpe de Estado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é um "recado aos candidatos a autocratas do mundo e àqueles que os apoiam".

Ainda que classifique o tom como "previsível", Velasco reforça que a mensagem é importante. Ele aponta, por exemplo, a necessidade de insistir no financiamento climático — pauta central para a COP30 — e de associar esse debate aos gastos militares em alta. "Se o mundo destina 5% do PIB em defesa, como alguns países da OTAN querem, sobra menos para combater a fome, enfrentar o aquecimento global e acelerar a transição energética."

Nesse cenário, conclui o professor, o Brasil chega a Nova York em posição firme. "Não vejo o país com o 'rabo entre as pernas'. Mesmo que alguns ministros não viajem, a delegação será relevante e o Brasil estará confortável para dar seu recado — como tantas vezes fez na Assembleia Geral da ONU."

Dois novos livros interessando ao público de Relações Internacionais do Brasil: Intelectuais na Diplomacia Brasileira e Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas Relações Internacionais do Brasil

 Tenho o prazer de informar aos colegas pesquisadores, estudantes e público em geral interessado na política externa e história da diplomacia do Brasil que dois novos livros que produzi e organizei nos últimos anos, encontram-se disponíveis para aquição nos canais das editoras ou nas lojas virtuais.

Paulo Roberto de Almeida, professor e diplomata

Intelectuais na Diplomacia Brasileira: a cultura a serviço da nação

Também disponível na Amazon.

Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas Relações Internacionais do Brasil

Também disponível na Amazon.



segunda-feira, 29 de setembro de 2025

“Você é um diplomata propenso aos acidentes!”: Minha trajetória diferenciada na diplomacia do Brasil (e, talvez, uma história sincera do Itamaraty) - Paulo Roberto de Almeida

 “Você é um diplomata propenso aos acidentes!”

Minha trajetória diferenciada na diplomacia do Brasil (e, talvez, uma história sincera do Itamaraty)

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Nota sobre o início de um processo de recomposição de memória de vida

    “Você é um diplomata propenso aos acidentes!” (ou dito em inglês: “You are an accident-prone diplomat!”, o que me deixou sorrindo, pois que concordei inteiramente com o “diagnóstico”)
        Preparando-me atentamente para um depoimento pessoal e formal no quadro do projeto “Memória Diplomática”, patrocinado pela Associação dos Diplomatas Brasileiros, e implementado em cooperação com o Museu da Pessoa (SP), resolvi traçar um roteiro de parte de minha trajetória funcional no Itamaraty (1977-2021), que ocupou a maior parte de meu itinerário pessoal na maturidade, mas não a totalidade de minhas atividades intelectuais ao longo de sete décadas bem vividas, no Brasil e no exterior, dois terços delas na companhia de Carmen Lícia Palazzo, uma mulher excepcional, leitora ainda mais “excessiva” do que eu, muito mais inteligente e sensata do que eu nunca consegui ser, e que me corrigiu e orientou no decorrer de três quartos de século, entre a segunda metade do XX e a terceira década do atual.
        Esse roteiro, seguindo meu hábito iniciado nos primeiros anos da carreira diplomática de numerar cada trabalho considerado concluído, numa longa trajetória de materiais escritos e registrados, recebeu o número 5.072, como tal divulgado no meu blog Diplomatizzando em 29/09/2025, recebe agora um título entre aspas que resume, talvez, o sentido de uma vida questionadora e sempre orientada por um método que eu passei a chamar de “contrarianismo bem comportado”, ou seja, certo ceticismo sadio com respeito às crenças arraigadas, às verdades estabelecidas, àquilo que, ao estilo de Bouvard e Pecuchet, de Gustave Flaubert, se poderia chamar de “idées reçues”, segundo um “Dicionário” mais do que centenário.
        Uma pergunta, talvez mais importante do que o simples relato factual de minha carreira no Itamaraty, poderia ser feita ao início deste relato: “Você, agora aposentado, se considera, a si mesmo, ter sido um bom diplomata?”
        Sem hesitação, eu poderia responder, pelo mesmo princípio pessoal de comportamento acima sinteticamente descrito, “Isso depende!”. “Depende do quê?”, questionaria o questionador.
        E eu responderia: “Sim, no estrito limite do cumprimento de meus deveres funcionais, eu fui um bom diplomata: segui instruções (nem sempre) das chefias, desempenhei a contento as missões de informar, representar e negociar (que constitui a “santíssima trindade” da atividade burocrática na diplomacia) e creio ter tido um desempenho mais do que satisfatório durante minha vida ativa no Itamaraty.”
        Mas eu poderia também responder: “Não exatamente, pois que, além de seguir exatamente os cânones da carreira naquela santíssima trindade, eu nunca deixei de exercer uma característica própria mantida contra ventos e marés ao longo de todos os 44 anos de exercício funcional de minhas obrigações burocráticas: eu jamais renunciei a pensar com minha própria cabeça a respeito de cada instrução recebida, acerca dos fundamentos empiricos das orientações expedidas e de sua adequação aos interesses nacionais, tal como eu deduzia de meus longos estudos sobre o Brasil e seus principais problemas.”
        E por que essa atitude de relativa rebeldia em face das instruções recebidas, poderia questionar novamente o condutor do depoimento?
        Eu simplesmente responderia: “Porque confesso que eu nunca aceitei, e jamais me resignei, aos “dogmas sagrados” que, a partir da ditadura militar (talvez até antes), resolveram nos impingir: os da Hierarquia e Disciplina (assim, com letras maiúsculas).
        Daí decorreram os incidentes e percalços da metade da carreira ao seu final, que vou relatar com toda a acuidade e sinceridade possíveis.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29/09/2025

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