Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Politica Externa brasileira: pro e contra o "acordo" com o Irã
Primeiro um artigo a favor, do ex-presidente da Câmara e ex-líder do PT, deputado federal por SP. Depois o editorial do Globo.
Um acerto para a paz
Arlindo Chinaglia
O Globo, 24 de maio de 2010
O memorando de entendimento sobre enriquecimento de urânio assinado pelo Irã com Brasil e Turquia é uma realização extraordinária da diplomacia brasileira e do presidente Lula. Os especialistas concordam com isso. A imediata consequência é que agora não há argumentos defensáveis para insistir na escalada de sanções.
O acordo dissipa um foco de tensão e pavimenta o caminho para uma solução do impasse que envolve o Irã, as superpotências e a Agência Internacional de Energia Atômica.
O processo aberto exigirá maior empenho de negociação, como o documento trilateral prevê, e garantias de segurança complementares, mas é inegável que o esforço diplomático do Brasil e da Turquia abriu a possibilidade de diminuir as preocupações da comunidade internacional. O principal entrave às negociações, o envio do estoque de urânio levemente enriquecido do Irã ao exterior, foi superado.
A diplomacia brasileira agiu à altura do novo papel do Brasil no mundo e contribuiu para o Irã firmar um compromisso que até então resistia a fazer. Não é tarefa fácil definir quem vai enriquecer o urânio, acertar as garantias formais e outros ajustes. Mas o que parecia impossível era firmar o acordo, e isto foi conquistado.
Evidentemente, tudo deverá ser submetido à análise da AIEA e do Conselho de Segurança da ONU.
Não há mais uma justificativa técnica e racional para não entabular negociações sérias com o Irã. A entrega dos 1,2 mil quilos de urânio iraniano e a não condicionalidade sobre o recebimento prévio do combustível geraram uma situação absolutamente nova. A questão agora é fundamentalmente política. Os EUA e seus aliados estão dispostos a adentrar pela porta aberta pelo Brasil e negociar com o Irã, ou o interesse maior é no isolamento e desestabilização do regime iraniano? O curioso é que, em nosso país, parte da oposição e da mídia fica na torcida contrária à diplomacia brasileira. Diziam que o Brasil não tinha influência e que as gestões não dariam em nada; agora dizem que o acordo é inútil, embora quase todo o mundo tenha dado destaque ao êxito da operação diplomática. Até o comandante em chefe da Otan na Europa, general James Stavridis, afirmou que o acordo é um “exemplo do que todos buscamos, um sistema diplomático que vise a um bom comportamento por parte do regime iraniano”. Houve elogios também de França, China, Rússia e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
A atuação do Brasil junto ao Irã abre novas portas para a distensão. Exemplo é a libertação da professora francesa Clotilde Reiss, depois de uma retenção de dez meses no Irã. Temos muito a ganhar. O Irã é um país-chave para o equilíbrio geopolítico do Oriente Médio, que interessa a nós e ao mundo.
As relações econômicas e comerciais também são importantes: o Irã, com uma das maiores reservas de petróleo e gás do mundo e um PIB de US$ 336 bilhões, desponta como potência emergente.
Diante disso, o presidente Lula, em sua viagem ao Irã, anunciou que disponibilizará, ao longo de cinco anos, uma linha de crédito de US$ 1 bilhão para o país persa importar alimentos brasileiros. O comércio bilateral pode quintuplicar em cinco anos, dos atuais US$ 2 bilhões para cerca de US$ 10 bilhões.
O mundo e o Oriente Médio não precisam de mais uma guerra. O Brasil abriu as portas para o diálogo e para a paz
O curioso é que parte da oposição e da mídia fica na torcida contrária ao país.
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Agora o editorial do Globo, que não acha a aventura tão extraordinária assim:
Suicídio diplomático
Editorial, 24/05/2010
A temerária operação diplomática empreendida pelo governo Lula para salvar o mundo no Irã terminou como cena de contos em que tapetes persas voam e magos saídos de garrafas curam todos os males: esfumaçou-se no ar.
Infelizmente, ao contrário das fábulas, há previsíveis desdobramentos objetivos contra os interesses do Estado brasileiro — instituição perene, ao contrário de governos.
Ao menos a descuidada operação feita em aliança com a Turquia, levada à frente apesar dos alertas sobre a baixa ou nenhuma confiabilidade do regime iraniano em conversações sobre o programa nuclear do país, ajudou a se concluir de vez que, na diplomacia brasileira, tudo vale para atingir um alvo estratégico: contrapor-se a interesses dos Estados Unidos e aliados do Primeiro Mundo, o “Norte”.
No mesmo balaio, encontra-se a preocupação quase obsessiva — embora legítima — de aumento da influência mundial do Brasil, alvo também perseguido pela sócia Turquia, desde o pósguerra candidata frustrada a entrar no bloco europeu.
Apenas muita convicção ideológica podia levar o governo a ir adiante numa empreitada com todas as condições de dar errado. E deu, no melhor estilo das frases cômicas do Barão de Itararé. Recolocar sobre a mesa, em Teerã, os mesmos termos do acordo proposto aos iranianos, em outubro do ano passado, pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), era infrutífero.
Naquela época, considerando-se os estoques de urânio do Irã, as quantidades de material a ser enriquecido fora do país representavam cerca de 2/3 do total. Agora, pouco mais da metade. Ou seja, se levado a sério pela comunidade internacional, o acerto seria muito menos eficaz como instrumento para reduzir a margem de manobra de Ahmadinejad e aiatolás no seu pouco disfarçável projeto de dotar a ditadura teocrática de armamentos nucleares.
Em 2009, o Irã aceitou as condições encaminhadas pela AIEA — com os Estados Unidos, é claro, por trás, apoiados por Rússia e China —, para logo depois recuar. Na semana passada, a cúpula de Ahmadinejad patrocinou uma festa em Teerã, com direito a braços erguidos de Lula e Erdogan (Turquia), em comemoração ao fechamento do acordo de outubro do ano passado.
A indiscutível manobra para adiar a decisão do Conselho de Segurança da ONU — em que Brasil e Turquia têm assentos não permanentes — sobre novas sanções durou apenas horas. Os Estados Unidos aceleraram as conversas com a reticente China e, logo na manhã seguinte àquela festa — pelos fusos de Brasília e Nova York —, a secretária Hillary Clinton anunciava o consenso com chineses e russos para apertar torniquetes das sanções para obrigar Teerã a negociar a sério.
Nas declarações oficiais na ONU, a tentativa de Brasil e Turquia foi considerada positiva.
Nas conversas francas, off the record, entre auxiliares de Barack Obama na Casa Branca e repórteres, não se escondeu a irritação com Brasília e Ancara. Com razão, pois postergar os trabalhos no CS é dar tempo para Ahmadinejad obter mais urânio das suas centrífugas, cujo número tem sido ampliado para elevar a taxa de enriquecimento do urânio.
Ao ter ajudado, na prática, o Irã a buscar a bomba nuclear, Brasília perdeu parte da credibilidade nos principais centros da diplomacia mundial. Ficou mais longe do assento de titular no CS — entre outros prejuízos, inclusive para a pessoa de Lula, visto agora com menos daquele glamour de simpático metalúrgico que venceu na vida.
Neoliberalismo e crescimento: quem disse que ele só produz miséria, pobreza e desigualdade?
A prova é muito simples: basta examinar os dados, como provam os números transcritos aqui abaixo.
Aliás, se keynesianismo e intervenção estatal fossem garantias de crescimento e riqueza, os países da América Latina, que praticaram ambos ininterruptamente durante mais de cinco décadas (alguns ainda praticam, ou voltam a essas políticas) seriam superpotências econômicas, e não o desastre que efetivamente foram e ainda são.
Paulo Roberto de Almeida
Britain enjoyed higher GDP growth post Thatcher
Tino Sanandaji
Blog Super-Economy
Kurdish-Swedish perspectives on the American Economy
Friday, May 7, 2010
In 1979, when Margaret Thatcher became prime minister, out of the 4 major European countries, the United Kingdom was the poorest. It had a lower gdp per capita than Germany, France and Italy.
But the U.K subsequently grew faster than the other European countries. By 2008, the latest available year, the U.K was the richest out of the 4.
White the U.K in per capita terms was 7% poorer than France in 1979, it was 10% richer than France in 2008.
This graph shows real per capita GDP (from OECD) for the U.K, and a population weighted average of the other 3 major west European nations: Germany, France and Italy. As you see they start of richer than the U.K in 1979, but by the end of the period the U.K is richer than the average (and richer than any individual country).
It will be interesting to see if this advantage is maintained after the crisis.
There is a strong case to be made that Thatcher's pro-market reforms had a lot to do with this remarkable recovery.
* Tino Sanandaji is a 29 year old PhD student in Public Policy at the University of Chicago, and the Chief Economist of the free-market think tank Captus.
Mercosul: um debate esquizofrenico
Por enquanto vai um artigo que demonstra que certos "defensores" do Mercosul não conhecem o mínimo de sua estrutura e mecanismos.
Paulo Roberto de Almeida
Pé torto que dói
Claudio Salm
O Globo, Sexta-feira, 21 de maio de 2010
O senador Aloizio Mercadante tem compulsão a falar, sempre de forma afobada e aparentemente irrevogável, sobre o que não fez e o que não sabe, e este é o caso, entre outros, do Mercosul. Ao se precipitar em um artigo no GLOBO (“Tiro no pé”, em 2/5) sobre esse tema, mostrou que tem pé torto e chutou para fora.
Para começar, o senador petista não tem noção sobre a diferença entre uma Zona de Livre Comércio e uma União Aduaneira, o que resulta em grande confusão.
Livre Comércio supõe a plena isenção de tarifas e taxas entre os países integrantes, além da eliminação de barreiras não alfandegárias e de subsídios que afetem o comércio entre eles. É um processo que toma tempo. No Nafta (Canadá, Estados Unidos e México) essa transição se estendeu do início dos anos 90 e ainda não está consolidada.
O Mercado Comum Europeu, que começou a engatinhar depois da Segunda Guerra, pelo aço e pelo carvão, e tornou-se Comunidade Europeia nos anos 60, só virou União Europeia em 1992, em Maastricht, 30 anos depois.
A União Aduaneira incorpora a Zona de Livre Comércio e vai mais longe: implica tarifa externa comum para todo o fluxo de comércio dos países-membros com terceiros países, bem como a impossibilidade de que um deles firme, isoladamente, acordos de livre comércio com países de fora do bloco. Acordos, só com a aval de todos. Uma União Aduaneira implica renúncia da soberania comercial de cada um dos seus integrantes. No caso do Mercosul, qualquer membro pode implodir um acordo que o Brasil deseje negociar com a Rússia, a Índia ou a China, por exemplo.
Foi por inércia, mas também por causa disso, que durante os oito anos do governo Lula o Brasil assinou apenas um acordo de livre comércio, com Israel, ainda pendente de ratificação, e o fez no âmbito do Mercosul, enquanto no mundo foram firmados cem acordos dessa natureza. O comércio exterior brasileiro cresceu muito nos últimos anos, é verdade, mas até um vestibulando sabe, ao contrário de Mercadante, que esse crescimento não foi fruto de nenhuma política de comércio exterior, mas simplesmente da subida dos preços de nossas commodities e do crescimento da demanda internacional: no governo FH, entre 1994 e 2002, o preço médio das exportações caiu 12%, enquanto no governo petista, entre 2002 e 2008, aumentou 60%! Sem informações e conhecimento mínimos sobre o assunto, o senador Mercadante considerou que a tese de que o Mercosul deveria rever e flexibilizar o acordo em relação à União Aduaneira — para concentrarse no livre comércio e fortalecerse — equivaleria a extingui-lo! Ele nem mesmo sabe que o Brasil, 15 anos depois do Tratado, ainda não pode vender açúcar livremente para a Argentina; ignora que ainda não há livre comércio para automóveis; nunca ouviu falar nem sabe o que são as “perfurações” em matéria de Tarifa Externa Comum: trata-se de mudanças unilaterais de tarifas que ultrapassam o teto comum da TEC, como fez a Argentina durante sua última crise, nunca mais corrigiu, e continua fazendo. Aliás, a participação dos países do Mercosul no comércio brasileiro vem decaindo nos últimos anos, enquanto países como a China — apesar de tão distante — ou como o Chile (que acabou não ingressando no Mercosul por recusar a Tarifa Externa Comum) têm conosco um comércio mais dinâmico.
O ponto máximo da erudição do senador dos “aloprados” é exibido quando ele faz, sem saber, sociologia do conhecimento: segundo ele, os que defendem a extinção (sic) do Mercosul são “conservadores”.
Mal sabe que, antes da criação do Mercosul, os primeiros a defender que suas primeiras etapas se desenvolvessem como Zona de Livre Comércio, além de José Serra, provinham de horizontes ideológicos opostos, como o embaixador Roberto Campos, ícone da direita, e Paulo Nogueira Batista, outro diplomata competente e, na sua época, mais à esquerda do que quase todo o Itamaraty. Já os governos Itamar Franco, FHC e Lula, aos quais não se pode acusar de serem mais conservadores do que Sarney e Collor, endossaram a União Aduaneira total.
Esse fino raciocínio do senador atinge seu ponto mais sofisticado quando identifica, por trás da preferência pela Zona de Livre Comércio, um viés pela natimorta Alca.
Como e por quê, ele não revela. E ignora, como nenhum economista sério deveria ignorar, que o primeiro artigo crítico sobre a Alca, abrangente e de corte acadêmico, foi publicado pelo então senador Serra na revista “Política Externa” (1997).
Muito mais grave do que cometer um erro, o que é humano, é sem dúvida persistir nele, o que chega a ser desumano. Pé que nasce torto fica torto a vida inteira. E dói.
Anarquistas: uma espécie ameaçada de extinção...
Para quem não sabe, a Cites é a convenção que visa defender as espécies ameaçadas de extinção.
Com perdão dos próprios, acho que os anarquistas se inserem totalmente no espírito e na letra da convenção.
Senão vejamos.
Acabo de receber, da Federação Anarquista do Rio de Janeiro, um convite para a seguinte discussão:
On May 24, 2010, at 11:31 PM, FARJ wrote:
Neste próximo Sábado temos uma atividade libertária de formação e estudo coletivo!
O Círculo de Estudos Libertários Ideal Peres (CELIP), espaço público de estudos e discussão da Federação Anarquista do Rio de Janeiro tem o prazer de lhe convidar para a atividade:
"GEOGRAFIA E ANARQUISMO".
Com textos dos geógrafos anarquistas Piotr Kropotkin e Elisée Réclus.
29/05 - 14h!
Endereço: Rua Torres Homem 790 - Vila Isabel
Referência: Próximo a Escola de Samba Vila Isabel e ao final do Boulevard 28 de Setembro.
Os textos de discussão e estudo podem ser baixados em:
http://www.alquimidia.org/farj/arquivosSGC/2010051907Reclus_Origem_da_familia.pdf
http://www.alquimidia.org/farj/arquivosSGC/2010051757O_Que_a_Geografia_Deve_Ser_KROPOTKIN.pdf
Materiais, Histórico, Conteúdo do CELIP podem ser encontrados no site da FARJ.
www.farj.org
O cartaz vai em anexo!
Haverá banquinha de livros libertários, debate e anarquismo!
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Federação Anarquista do Rio de Janeiro - FARJ
www.farj.org
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Pois bem, eu pergunto, out of curiosity:
Não tinha nada de mais recente para apresentar?
Coisas de mais de cem anos atrás?
O anarquismo nao fez nenhum progresso intelectual desde então?
Elisée Réclus escreveu sua monumental obra geográfica, La Nouvelle Géographie universelle, la terre et les hommes, num período de quase 20 anos (de 1875 a 1894).
A obra geográfica de Kropotkin é ainda mais antiga que a de Reclus, de quem foi amigo, tendo ele dedicado-se mais ao trabalho político do que geográfico nas últimas décadas do século 19.
Será que os anarquistas não fizeram nenhum progresso desde então?
Existem sérios motivos para nos preocuparmos com sua sobrevivência, por isso lanço este apelo desesperado: inscrevam-nos no Cites, por favor, rapidamente...
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Paulo Roberto Almeida
Delfim Neto está ficando gaga: demorou, mas ficou...
Reparem bem: ele não se preocupa com a educação das crianças, nem com a produção de patentes pelas indústrias brasileiras.
Ele só quer defender matéria-prima: "O minério é nosso!", poderia ele gritar.
Que coisa mais triste: poderia encerrar a carreira defendendo a inteligência brasileira, e resolve apoiar a burrice.
Ele é um dos muitos que acha que o futuro brasileiro está na defesa do nosso minério, contra os cúpidos chineses.
Que barbaridade, os chineses quererem comprar nosso minério...
Ele é mais um dos que se enrolam na bandeira e sobem numa pilha de minério para proclamar: ele é nosso, ninguém toca.
Não pensei que além de cínico, ele fosse ficar gagá, e lutar contra a racionalidade econômica...
Paulo Roberto de Almeida
Compras da China e soberania brasileira
Antônio Delfim Netto
DCI, 24.05.2010
As exportações brasileiras para os países da África estão perdendo terreno, e atribui-se essa queda principalmente à concorrência de produtos chineses.
No geral, as vendas brasileiras em 2009 foram 15% mais fracas que em 2008, e isso apesar do esforço oficial para ampliar as relações com os países do Continente.
Não é novidade o fato de que as exportações chinesas vêm ocupando espaços de produtos brasileiros no mercado mundial, e isso não se limita aos países africanos.
A China tem uma política de exportações e câmbio favorecido, e o Brasil, por outro lado, mantém um câmbio perverso, sem uma política agressiva de exportações há 25 anos.
Basta lembrar: no período 1980/84, as vendas chinesas representaram 1,2% das exportações mundiais, o Brasil, 1,2%, e a Coreia do Sul, idem.
No ano passado, o Brasil tinha praticamente a mesma participação, com 1,3% das exportações mundiais, enquanto a China passava de 10% e a pequenina Coreia representava quase 3%.
A realidade é que nós deixamos o caminho livre aos nossos concorrentes no mercado mundial.
A agressividade chinesa não se resume, atualmente, à conquista de mercados para suas exportações.
A China é um país que vive uma expansão econômica enorme. O país acumulou, por exemplo, reservas da ordem de 2,4 trilhões de dólares.
Neste montante estão 800 milhões de dólares investidos em papéis dos Estados Unidos.
Os chineses estão claramente procurando uma diversificação deste portfólio, saindo de aplicações financeiras em busca de coisas físicas.
A China tem hoje uma presença externa semelhante à dos europeus nos bons tempos coloniais: ela invadiu praticamente o continente africano.
Seus empreendimentos na África adquiriram tal dimensão que eu suspeito que daqui a 20 anos haverá problemas de ordem política nesses investimentos.
Mas ela vai prosseguir com a política colonial porque precisa resolver o seu problema interno.
É um país altamente produtivo, com uma população gigantesca de 1,3 bilhões de habitantes (oito vezes a do Brasil), um território imenso, mas de terras degradadas em 5.000 anos de exploração, com uma falta de água muito importante (é por isso que não pode abrir mão do Tibete), com dificuldades e carências de abastecimento muito sérias.
Portanto, para manter a sua sociedade funcionando, a China precisa suprir-se de minerais, de alimentos e de energia, onde puder buscá-los.
No Brasil, operadoras chinesas têm procurado entrar no etanol e participar da exploração de petróleo.
Em princípio não teria maior problema, nestes ou em outros ramos, se se tratasse de negócios entre entes privados e sem as exigências (compra de equipamento chinês etc.) como habitualmente se apresentam.
Recentemente, porém, essa presença chinesa vem suscitando questões que precisam ser observadas com muito cuidado.
O Brasil não deve admitir, por exemplo, (e eu creio mesmo que existe impedimento constitucional a que isso aconteça) que empresas estatais da China comprem nossas jazidas de ferro, manganês, ou o que seja, e passem a abastecer de minério as suas siderúrgicas.
Da mesma forma o Brasil deve proceder em relação à aquisição de enormes porções de terra por empresas do Estado chinês para a produção de alimentos, com a construção de ferrovia até os portos de exportação para a China !
É o mesmo que está acontecendo em diversos países africanos.
Essa situação envolve questões de cessão de território a um poder estatal estrangeiro e não tenho dúvida de que se for permitido vamos ter problemas de soberania entre os dois países nos próximos anos.
O Brasil não deve admitir que empresas estatais da China comprem nossas jazidas de minério.
Argentina: um pais de opereta, no pior sentido da palavra
Começa pela farsa de comemorar agora 200 anos, para uma independência que de fato só foi obtida em 1816, ou seja, seis anos mais à frente. Em 1810, o Cabildo de Buenos Aires estrilou, bem deu um grito, quando Napoleão chutou para fora do trono espanhol Fernando VII, que ficou confinado alguns anos perto de Marselha, até ser restabelecido no trono espanhol (e reverter a Constituição de Cádiz, liberal, que ele nunca aceitou), depois que Napoleão foi por sua vez chutado para fora do trono francês...
Um século atrás, a Argentina era um país sério, desenvolvido. Offenbach, um francês (alsaciano) compunha operetas cômicas, e para representar o típico latino-americano ridículo, ele compos a figura do "Brésilien d'operette".
Bem, acho que se ele fosse vivo, hoje, comporia suas obras cômicas com o "Argentin d'operette", aliás não só um, mas vários, como nos demonstra esta reportagem de Ariel Palacios.
Divirtam-se...
Paulo Roberto de Almeida
‘Todos contra todos’: um bicentenário em ritmo de opereta (com bônus track de lunfardo e a russa diva)
por Ariel Palacios
Blog Os Hermanos, 22.05.2010
Resumo da opereta
O Teatro Colón, a maior sala de ópera da América Latina (que segundo especialistas da lírica, conta com a melhor acústica para o gênero), será reinaugurado nesta segunda-feira à noite. Ainda não abriu suas portas e já é o foco de uma disputa digna de uma opereta de Franz Léhar ambientada em um inventado país dos Bálcãs.
Cristina Kirchner, irritada com o prefeito Maurício Macri, não irá à principal festividade das celebrações do dia 25 de maio, a data nacional, no Teatro Colón, símbolo da cultura argentina.
Por outro lado, a presidente não convidou ao banquete da terça-feira o vice-presidente Julio Cobos, com quem está brigada desde que ele, que também ocupa a presidência do Senado, votou contra o governo em 2008. O banquete será na Casa Rosada, o palácio presidencial.
De quebra, a presidente Cristina tampouco convidou os ex-presidentes argentinos ainda vivos desde a volta da democracia, em 1983.
O país contará com celebrações paralelas para o Bicentenário: a presidente Cristina, com o banquete na Casa Rosada e um Te Deum em Luján, o prefeito Macri com sua gala no teatro Colón; o cardeal Bergoglio com um Te Deum na catedral portenha, e até o governador de San Luis, Alberto Rodríguez Saá, que construiu uma réplica do Cabildo de Buenos Aires (edifício que foi o foco da Revolução de Maio) para fazer seus próprios festejos.
O Bicentenário argentino, longe de mostrar unidade política, exibe um país profundamente dividido, sem fatores externos que causem as divergências.
O colunista político Adrián Ventura, ironizou com amargura: “talvez no Tricentenário não estaremos pior do que agora…”
Personagens
- Cristina Kirchner, presidente, que chegou à Casa Rosada em 2007 como sucessora do próprio marido. Seus críticos afirmam que comporta-se como fosse uma diva de ópera.
- Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires, opositor dos Kirchners, ex-presidente do Boca Juniors e filho do empresário Franco Macri (o pai de Macri, por seu lado, é enfático simpatizante dos Kirchners desde 2004).
- Néstor Kirchner, ex-presidente (2003-2007), marido da presidente, secretário-geral da Unasul, presidente do partido Peronista e considerado o verdadeiro poder dentro do governo da esposa.
- Julio Cobos, vice-presidente que rachou com a presidente Cristina em julho de 2008. Considerado “mosquinha morta” quando foi escolhido para o posto de vice (Kirchner o escolheu para ser vice da esposa), agora é “presidenciável” da oposição. Macri não gosta dele, pois o prefeito portenho também ambiciona ser candidato da oposição nas eleições presidenciais de 2011.
Cenários: Teatro Colón, Casa Rosada, residência oficial de Olivos, prefeitura portenha.
Época: Os dias prévios ao 25 de maio de 2010. O 25 de maio é a data nacional, o dia da Revolução de Maio de 1810, quando iniciou o processo de rebeliões e guerras que levaria à independência do país em 1816. Na terça-feira que vem a Argentina celebrará o Bicentenário da Revolução de Maio. A data está gerando uma série de debates na sociedade sobre os acertos e os erros do país ao longo dos últimos 100 anos. O quiproquó político dos últimos dias deu um toque amargo às reflexões sobre o futuro da Argentina.
Libreto
Ato 1 – Macri fala demais
Mauricio Macri, na quinta-feira, a poucos dias da reinauguração do Teatro Colón, comenta com a imprensa como será quando a presidente Cristina for à sessão de gala na ópera na segunda-feira à noite: “se ela for com seu consorte (o ex-presidente Kirchner) terei que sentar ao lado dele. Mas isso não me deixa contente…”.
Macri, nos dias prévios, havia criticado o governo Kirchner pela investigação sobre o envolvimento do prefeito em uma serie de grampos telefônicos. Macri está sendo investigado pelo juiz Norberto Oyarbide, que nos últimos meses teria favorecido os Kirchners em diversos casos, segundo acusa a oposição.
Dentro da administração Macri alguns assessores admitem que o uso da palavra “consorte” não foi exatamente “conveniente”.
Ato 2 – Cristina perde a pose e se irrita
Cristina Kirchner coloca tom de drama na trama e afirma que não comparecerá ao Teatro Colón. Irritada – ou simulando estar irritada – a presidente envia uma carta ao prefeito Macri na qual indica que “a incrível catarata de ofensas que proferiu durante a última semana, chegando neste dia a manifestações públicas que desqualificam de forma pessoal, marcam um limite que não estou disposta a atravessar”.
No final, com ironia, disparou: “desfrute o senhor tranquilo e sem as presenças incômodas na noite do 24 de maio”.
Analistas políticos afirmam que, se bem a presidente Cristina costuma ter ataques de raiva pelos motivos da mais variada magnitude, neste caso a observação de Macri (sobre sentar ao lado de Kirchner) teria sido útil como argumento para não ir ao Colón.
Motivo: a festa do Colón é organizada por Macri, integrante da oposição. E, comparecer ao Teatro, onde Macri é o anfitrião, seria conceder-lhe alguns dividendos políticos que Cristina não pretendia dar.
Ato 3 – Imbroglio cresce e Cristina não atende o telefone
Macri tenta impedir a ausência da presidente do principal evento das celebrações do Bicentenário argentino para evitar um fiasco da imagem do país e afirma a Cristina Kirchner que lamenta sua decisão. Macri pede a Cristina Kirchner que “deixe de lado das diferenças e esteja à altura da História, que nos transcende”.
O chefe do gabinete de ministros da presidente Cristina, Aníbal Fernández, que nas últimas duas semanas manteve discussões ‘políticas’ em público com uma vedette do teatro de revista, uma modelo de passarelas – entre outras – afirma que a presidente não irá de forma alguma ao Colón. Nem ela nem outros integrantes do governo. Desta forma, ao redor de 200 entradas ficam sem dono para a noite de gala.
Na sequência, Macri telefonou à presidente Cristina na Casa Rosada. Mas, os assessores da presidente explicaram que não estava ai.
Depois, telefonou à residência oficial de Olivos. Mas, os assessores que ali estavam sustentaram que a presidente estava em uma “reunião”.
O chefe do gabinete do prefeito Macri, Horacio Rodríguez Larreta, fez um apelo na noite da sexta-feira à presidente: “por favor pense nisso..ainda existe tempo (para mudar de ideia)”. Depois, com ironia Larreta arrematou, afirmando que se Cristina for ao Colón, poderá passar “a imagem de unidade (nacional) pelo menos por um dia”.
Intermezzo com mais imbroglios e peculiaridades
No meio deste imbróglio operístico, o vice-presidente da República, Julio Cobos, recorda que não foi convidado para o banquete de gala da terça-feira na Casa Rosada o palácio presidencial, onde a presidente Cristina receberá 200 convidados especiais, entres eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Cobos, como vice-presidente, deveria ser convidado (independente do conflito entre ele e o casal Kirchner). Mas, os Kirchners não querem o detestado vice-presidente por perto.
Cobos irá ao Colón, onde não irá Cristina por vontade própria.
Macri disse que embora Cristina não compareça ao Colón, ele irá ao banquete da Casa Rosada apesar da indisposição da presidente de tê-lo por perto.
Mas, além de Cobos, a presidente Cristina Kirchner .- embora seja uma festa nacional que possui maior relevância pelos 200 anos celebrados – não convidou nenhum dos ex-presidentes civis argentinos ainda vivos (Carlos Menem, Fernando De la Rúa, Adolfo Rodríguez Saá, Eduardo Duhalde), com os quais não possui boas relações. A única exceção é o próprio marido, o ex-presidente Kirchner.
E, no meio de todo este quiproquó e comédia de enredos, o presidente do Uruguai, José Mujica, ex-guerrilheiro tupamaro, confirmou que estará presente na noite de gala do Colón, sem se importar com o conflito entre a presidente Cristina e o prefeito Macri.
Mujica, amante do teatro e da música clássica (além do tango), estará no Colón, e concidentemente, sentará ao lado do vice-presidente argentino, Julio Cobos.
No dia seguinte, no 25, Mujica sentará à mesa de Cristina Kirchner, na Casa Rosada, no banquete do bicentenário.
Ato 4 – Deus seria peronista
Na sexta-feira à noite, a presidente Cristina foi à avenida 9 de Julio inaugurar a exposição sobre o bicentenário organizada pelo governo federal. Ali, sem vacilar, afirmou de forma mística: “Deus quis que eu fosse presidente neste bicentenário!”
Ato 5 – Grand Finale, Todos contra todos
Ainda está para acontecer. Na segunda-feira à noite o prefeito Macri receberá 2.400 convidados para a gala do Colón.
No dia seguinte, a presidente Cristina celebra o 25 de maio em si.
Ela irá a um Te Deum, na catedral de Luján, na província de Buenos Aires, onde o bispo local é um dos integrantes do clero com os quais ainda não brigou.
Cristina descartou a cerimônia religiosa na catedral de Buenos Aires (que albergou a maior parte dos Te Deums dos últimos dois séculos), pois mantém uma relação tensa com o cardeal e primaz da Argentina, Jorge Bergoglio. Este, por seu lado, irritado com o descaso da presidente Cristina Kirchner, fará seu próprio Te Deum.
ANÁLISE DA OPERETA: Os analistas políticos criticam a decisão da presidente Cristina. E tampouco poupam Macri de críticas. A socióloga Beatriz Sarlo, no artigo “Brigas que carecem de grandeza” publicado neste sábado no jornal “La Nación”, indica que “não era previsível que ao chegar ao balanço do bicentenário estivéssemos ocupados com brigas cujos motivos carecem de qualquer exemplo”.
Segundo Sarlo, a frase de Macri sobre Kirchner (sobre sentar ao lado dele) é uma demonstração de que o prefeito portenho “acredita que pode comportar-se como se fosse o pai de uma namorada cujos sogros não lhe agradam”.
Sarlo sustenta que ele, falando como chefe de governo de Buenos Aires, não deve declarar que não está contente em receber o marido da presidente no dia 25 de maio no Colón. “Ninguém lhe pede que diga que sentar ao lado de Néstor Kirchner seja seu sonho. Ninguém lhe pede que exagere um tom amistoso que não sente..simplesmente, um político em funções de governo cala a boca”.
Sarlo também critica a presidente Cristina e diz que ela só não vai ao Te Deum na catedral para não encontrar o cardeal Bergoglio ali.
Segundo Sarlo, os motivos destas atitudes “que seriam caricaturescos se não afetassem a vida pública, tem a ver com o pior lado do estilo político nacional”.
Big IF: there will be a double dip recession?
Em todo caso, a China ainda está crescendo, embora tenha um bocado de bolhas (imobiliária, de crédito, outras) acumulando aqui e ali...
Vamos ver se a economia mundial se ajeita, ou se mergulhamos outra vez no desespero.
Alguns países estão fazendo o seu homework, como o Reino Unido, cortando gastos e controlando déficit. Nem todo mundo pode dizer a mesma coisa...
Paulo Roberto de Almeida
Don't Rule Out a Double Dip Recession
By CHRISTOPHER WOOD
The Wall Street Journal, May 24, 2010
In addition to Europe's woes, we have slower growth in China and a decline in bank lending and the velocity of money in the U.S.
World financial markets reacted bearishly to Germany's surprise announcement last week banning "naked" short-selling of euro-zone government debt, derivatives and some financial stocks. Short selling is considered naked when it involves the sale of an asset that isn't owned by the seller and isn't borrowed to cover the position while it's held. The news disturbed investors because of the unilateral nature of Germany's action. It's also seen as a potential prelude to other antimarket actions from Germany, or for that matter the U.S. and other Western nations, where the political backlash against free markets continues.
Also causing anxiety is the ominous rise in recent weeks in the three-month London interbank offered rate (Libor), the rate the most creditworthy banks charge each other for loans. This could result in yet another European credit crisis with banks becoming increasingly unwilling to lend to each other because of the interconnected holdings of "junk" European government debt. Bank for International Settlements (BIS) data shows that European bank exposure to sovereign debt in Portugal, Italy, Ireland, Greece and Spain totalled $2.8 trillion at the end of last year, accounting for 89% of international banks' total exposure to those countries.
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Associated Press
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Moving beyond Europe, a further negative for investors to contend with has been China's current tightening cycle; most particularly a machine-gun burst of antispeculation measures in the past two months aimed at its booming residential property market. China's leadership, worried by growing social concerns about unaffordable apartment prices, will want to see official confirmation that both residential property transactions and residential property prices are falling, as indeed is now the case. Transaction volumes are down more than 50% from the levels reached in the first half of April. Prices will soon follow.
An easing in policy toward housing by Beijing is unlikely until the end of the third quarter, though an earlier U-turn on policy is plausible in the event of a complete blowup in Europe. For this would reactivate Beijing's concerns about its business abroad. When the green light is turned on again, whenever that may be, all the empirical evidence suggests that this will translate into renewed demand for residential properties—as was also the case at the beginning of 2009, which was the last time the policy was reversed.
China's woes have served to aggravate the concerns of investors who are already negatively focused on Europe, where the Greek crisis has revealed the critical fault line of the euro-zone—namely the difficulty of having monetary union without political union.
Meanwhile, the fundamental trend in the West remains profoundly deflationary. Last week the U.S. government reported that the country's core consumer price index (CPI) inflation rate slid in April to its lowest level in 44 years.
It is also the case that, if the U.S. headline CPI remains flat from May onwards, the year-on-year headline CPI inflation rate will then fall to 1.4% in June and zero by January from 2.2% in April. This trend will reawaken deflationary concerns prompting Federal Reserve Chairman Ben Bernanke to keep interest rates at zero.
Or consider Ireland, which has suffered an astonishing 16 consecutive months of price deflation. The Irish CPI fell by 2.1% year-on-year in April. This deflation action is beginning to make Japan's experience of the past 20 years look like a picnic because Ireland, unlike Japan in the 1990s, remains in fiscal contraction mode. Thus, the Irish government aims to reduce its deficit to 10% of GDP in 2011 and then to 2.9% in 2014 from 14.3% last year
Others in the euro-zone will surely follow. Spain has potentially a huge deflationary cycle to endure given its level of consumer leverage and the degree of anticipated fiscal tightening. Spain's household debt-to-GDP ratio was 83% at the end of 2009, and Spain has to refinance €165 billion of maturing government debt by the end of 2011.
For the moment Spain has only just sunk into outright price deflation. Spanish core CPI, which excludes unprocessed food and energy products, fell by 0.1% year on year in April. This is the first core CPI deflation in Spain since the data series began in August 1986. But the pattern looks set to endure, and this is in a country that already has 20% unemployment.
Meanwhile, in America bank lending continues to decline as does the velocity of money in circulation. If this persists, markets will face worryingly low GDP growth in the U.S. going into 2011. It's this prospect that's begun to be discounted in the recent stock-market correction, which has already seen the S&P 500 give up all its gains for the year. This will sooner or later pave the way for another round of fiscal easing in Washington when both the Obama administration and Congress give up on their current hopes of a normal U.S. recovery.
That political mood swing will again raise the protectionist risk in Washington, with the lightning rod being the Chinese exchange rate. Beijing has been signaling that it will resume incremental appreciation of the renminbi by the middle of this year. But with the renminbi having appreciated by 24% against the euro since late November, China's leaders may be having second thoughts. A trade row between China and the U.S. on top of the growing concerns about a "double dip" in the West is the last thing markets will want to contend with. But they may have to.
Mr. Wood, equity strategist for CLSA Ltd. in Hong Kong, is the author of "The Bubble Economy: Japan's Extraordinary Speculative Boom of the '80s and the Dramatic Bust of the '90s" (Solstice Publishing, 2005).
O debate sobre o racismo oficial (1) - Renato Janine Ribeiro
Sou contra o que escreve o autor, inclusive porque acredito que a politica racialista do governo conduz à criação de um Apartheid no Brasil, e considero ridícula sua assertiva de que as cotas tem prazo para acabar (segundo ele, dez anos).
Mas coloco seu artigo, para poder debater em seguida.
Sem preconceito nem ódio
Renato Janine Ribeiro
O Estado de S.Paulo, 24 de maio de 2010
Demétrio Magnoli, analisando um artigo inédito meu, pergunta o que penso do que ele chama "ensino do ódio", que consistiria em criar artificiosamente divisões raciais no Brasil, opondo, num país miscigenado, supostos descendentes puros de brancos a outros puros descendentes de escravos (13/5, A2).
Considero justo beneficiar grupos historicamente discriminados com uma ação afirmativa que reverta a tendência a continuar a discriminação. Isso vale para as mulheres, os negros, os indígenas, os pobres, para citar só algumas categorias. A ação afirmativa, nos EUA, é procedimento mais complexo do que a mera quantificação de beneficiários ? que chamamos de "cotas" ? e mudou profundamente aquele país. Vejam-se as séries de TV, sempre com negros em posição de destaque, mais que no Brasil. Veja-se o presidente dos EUA.
Apoio, por isso, a política compensatória. Se deixarmos as coisas meramente seguirem seu curso, o preconceito continuará. Mas há cuidados a tomar. Primeiro, uma política de cotas deve ter prazo de validade. Isso porque seu cerne é compensatório. É mais do que um paliativo, mas não muito. Se dermos aos afrodescendentes um bônus de dez pontos num vestibular, ajudaremos os que estão a um passo de passar na prova ? não aqueles, muito mais numerosos, que discriminados estão e assim continuarão. Tornaremos mais multicores as salas de aula, acostumaremos brancos e negros a conviver, teremos mais negros na direção da política e da economia. Isso é bom. Mas não resolveremos a discriminação como um todo.
Por isso sustentei, quando estava na Capes e participei de algumas reuniões no Ministério da Educação sobre a reforma universitária, em 2004, que as cotas não deviam durar mais que dez anos. E também que a nota de corte para os cotistas não fosse muito inferior à dos não-cotistas. Numa certa universidade, tinham entrado cotistas com um quarto da nota dos últimos não-cotistas. Esse caso é injusto, eticamente, e um desastre em termos educacionais.
Não concordo com Demétrio nem com nossa amiga comum Yvonne Maggie, autora com ele e outros do livro Divisões Perigosas, que a diferença entre brancos e negros no Brasil seja de todo artificiosa. Quem me convenceu disso foi Elio Gaspari, num artigo neste jornal há talvez dez anos, em que ele dizia que nunca, para discriminar negativamente os negros, houve grande dificuldade no País. Qualquer porteiro sabe quem ele deve mandar subir pelo elevador de serviço. A dificuldade de saber quem é negro, quem é branco começou quando se cogitou de discriminar a favor ? afirmava ele. É por isso que me parecem legítimas as ações afirmativas. Mas só com prazo máximo no tempo e distância justificada nas notas de corte, em torno de 10%, penso eu.
Por que as limitações? Por duas razões. A primeira é que, se é legítimo discriminar afirmativamente quem antes o foi negativamente, caso essa política se perpetue, forçará a criação de grupos ditos raciais, antagônicos entre si ? ou seja, se essas políticas forem radicais, Demétrio e Yvonne acabarão tendo razão e se construirão identidades artificiais, divisões, sim, "perigosas" num país que, afinal, é bastante miscigenado.
A segunda é que, curiosamente ao contrário do que Demétrio parece me atribuir, sou frontalmente contra qualquer exacerbação de identidades. O que acho mais positivo em nosso tempo é termos a liberdade, cada um de nós, de assumir identidades contraditórias e até mesmo provisórias. Antigamente, alguém da classe média paulista, com chance de educação superior, estudaria Direito, Medicina ou Engenharia, casar-se-ia e teria filhos, seria católico e apoiaria, digamos, o Partido Republicano Paulista. Hoje, uma pessoa nessa condição pode fazer cursos bem diferentes, ter filhos ou não, ser heterossexual ou homossexual, pertencer ao partido e à religião que quiser, até ser ateu... Isso é admirável. Nunca tivemos tanta liberdade. Ela traz riscos, porque deixa as pessoas inseguras. Viver na contradição é difícil, mas é mais verdadeiro do que se tornar, cada pessoa, um parque temático. Permite uma realização pessoal maior. Uma das iniciativas que tentei nessa direção foi um projeto de graduação interdisciplinar em Humanidades proposto na USP, que não foi aprovado na universidade, mas tem inspirado projetos de bacharelado interdisciplinar bem-sucedidos em outros Estados. Era um curso que contestava justamente a ideia de identidade.
Por isso mesmo, embora eu aprove o espírito e mesmo a letra de várias medidas preconizadas no Estatuto da Igualdade Racial ? na verdade, um projeto que em 70 artigos mencionava a palavra "negro" ou "negra" 79 vezes, subestimando assim outras etnias ?, não acho conveniente uma lei específica que repete o que já está em outras ou exige políticas direcionadas só para uma parte da população, preconizando, por exemplo, "a redução de mortes violentas entre jovens negros". Por que não a redução de mortes violentas entre todos os jovens? Perdemos todos quando se perde o sentido universal que devem ter, como regra, as políticas sociais. Por outras razões, sou um pouco cético quando o estatuto manda ensinar História Africana: nosso ensino básico é tão deficiente que seria melhor reforçar o conhecimento das duas linguagens básicas, o Português e a Matemática, como plataforma para estudar as demais ciências, antes de impor novos conteúdos a professores e alunos.
Finalmente: o meu texto que Demétrio Magnoli analisou não foi publicado. Apresentei-o num colóquio entre pesquisadores brasileiros e britânicos das ciências humanas, fruto de acordo que assinei, em nome da Capes, com a British Academy, que é a equivalente da Royal Society para as ciências humanas e sociais. Os papers deveriam ter sido editados em português e inglês, internacionalizando mais a pesquisa brasileira em humanas e abrindo uma rotina de encontros nossos com os britânicos. Infelizmente, o acordo não teve continuidade. Fico contente que pelo menos um dos artigos então apresentados tenha saído da gaveta, graças à crítica de Magnoli.
PROFESSOR TITULAR DE ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA DA USP
Europeus vivem melhor do que americanos, certo?
Os brasileiros, sempre tão prontos a copiarem idéias erradas, acham (principalmente os sindicalistas) que devemos adotar os métodos e estilos de vida europeus, e não os americanos, pois os primeiros seriam mais "humanos", ou mais "civilizados", e os segundos seriam mais "selvagens", mais capitalistas, enfim.
Como diriam alguns, no longer...
Os europeus começam a enfrentar as consequências de suas políticas generosas: mais desemprego, mais dívida pública, perspectivas sombrias pela frente.
Acho que eles precisariam trabalhar mais e se queixar menos.
Eu também acho que a Europa é mais "agradável" do que os EUA, mas se os europeus quiserem aguentar o seu estilo, vão precisar pensar rápido em como aumentar sua produtividade no trabalho, do contrário vão enfrentar problemas muito em breve (aliás, já estão enfrentando).
Abaixo, por especialistas, um artigo que evidencia que a legislação rígida de trabalho (justamente aquela que temos no Brasil e que ainda queremos ampliar) está contribuindo para maior desemprego e baixa produtividade.
Work and Leisure in the U. S. and Europe: Why so Different?
Alberto Alesina
Edward Glaeser
Bruce Sacerdote
IDEAS, Department of Economics, University of Connecticut
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Abstract:
Americans average 25. 1 working hours per person in working age per week, but the Germans average 18. 6 hours. The average American works 46. 2 weeks per year, while the French average 40 weeks per year. Why do western Europeans work so much less than Americans? Recent work argues that these differences result from higher European tax rates, but the vast empirical labor supply literature suggests that tax rates can explain only a small amount of the differences in hours between the U. S. and Europe. Another popular view is that these differences are explained by long-standing European “culture,” but Europeans worked more than Americans as late as the 1960s. In this paper, we argue that European labor market regulations, advocated by unions in declining European industries who argued “work less, work all” explain the bulk of the difference between the U. S. and Europe. These policies do not seem to have increased employment, but they may have had a more society-wide influence on leisure patterns because of a social multiplier where the returns to leisure increase as more people are taking longer vacations.
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Sindicatos e ecologistas sao a favor do desemprego
No Brasil, como em outros países -- nem preciso falar da França, especialista nesse tipo de bobagem sindical -- eles estão ativos tentando nos fazer acreditar que a redução das horas de trabalho vai criar mais emprego e tornar a vida de todos melhor. Estão errados, obviamente, e o que vai ocorrer é o contrário.
Mas, eles não estão sozinhos. Os verdes, esses românticos especialistas em salvar minhocas (deles mesmos), também partilham algumas das monumentais bobagens econômicas dos sindicalistas.
Nosso jovem economista de Chicago desmantela esses mitos, com a ajuda de algumas simples ilustrações...
Simple pictures against bad ideas
Tino Sanandaji *
Super-Economy
Kurdish-Swedish perspectives on the American Economy.
Monday, May 17, 2010
The Green Party is doing exceptionally well in Sweden right now. Educated voters, especially women, like their mix of environmentalism, social liberalism and perceived economic centrism.
Unfortunately and despite their rhetoric, the Green Party has a lot of bad economic ideas. One in particular is work sharing, a government regulation that forces everyone to work as standard no more than 35-hours per week. Their idea is that if you force people to work fewer hours, there will be more job for others.
The consensus belief among academic economists is that work sharing does not work.
Unemployment does not arise because there are too many people. It is because there is some imperfection in the market (either policy induces or due to market failure) that causes the market to generally not be able to match jobs to people.
We have to remember that normally in functioning economies, there are very strong forces that create jobs for everyone who wants to work. To illustrate this for non-economists, please allow me to put up a graph with a high "duh" factor (but which really is quite important).
This is the relationship between number of working age adults in 2007 and number of jobs in 2007, for the OECD countries. Source is as usual OECD.
The correlation between potential workers and jobs in the OECD is 0.99!
I have also done the same plot without the U.S and Japan so you can see the individual countries better.
To an economist this is trivial, and just says that there is no connection between employment rate and country size among the OECD countries. But savor the pictures for a moment. They have a profound implication. It means that there are extremely powerful forces in market economies that create jobs for ordinary people, no matter how many people we have, and regardless of if we can perfectly understand these forces.
It is not easy to describe this magic when people demand "where will jobs come from?". You may even sound naive if you say that "the market will take care of it", and refer to history or to the graph above. But in this case what sounds naive is in fact the most profound answer. Empirically, we can observe that the market does seem to take care of creating jobs.
The problems that cause unemployment is never the number of people, it is things like the skill composition combined with wage rigidity, cyclical demand conditions, search friction, taxes and regulations, and market imperfections. None of the core economic forces that create unemployment is affected by permanent work sharing for all workers.
Let me also look at this a little more directly. Here is average hours worked for workers and the unemployment rate, again for OECD, and again for 2007.
There is no statistically significant relationship between the typical workday and unemployment rate (p value 0.52). Countries that have reduces the average hours worked have not been able to achieve lower unemployment rate. Now, correlation is not always causation. Maybe the unemployment rate in France would have been even higher if they worked more hours. But I strongly doubt it.
Work sharing is guaranteed to harm the economy, by making everyone earn less and by dramatically lowering tax revenue for health care etc. Meanwhile there is no evidence that it reduces the unemployment rate, and strong suggestive evidence that indicates that it has no effect.
If people choice to work less, great! But legislation to shorten the workweek like the Greens in Sweden propose to do is very bad economic policy.
* Tino Sanandaji is a 29 year old PhD student in Public Policy at the University of Chicago, and the Chief Economist of the free-market think tank Captus.
Desconstruindo mitos economicos: Joseph Stigltiz e a luta contra o "neoliberalismo"
Bem, eles ficariam encantados com esse "velho" professor de economia que resolveu, justamente, desancar a globalização e o neoliberalismo imaginário, exercendo toda a sua cota política para falar bobagens.
No limite, não se trata apenas de bonagens econômicas, mas de desonestidade intelectual.
Vejamos este artigo atacando um de seus livros mais recentes...
Paulo Roberto de Almeida
The Invention of Pop Economics
Guy Sorman
The City Journal, 26 March 2010
Joseph Stiglitz should win a second Nobel Prize, this time for fiction.
Freefall: America, Free Markets, and the Sinking of the World Economy
by Joseph E. Stiglitz (Norton, 361 pp., $27.95)
Joseph Stiglitz, Nobel Prize winner in economics, has created a new literary genre—call it pop economics. In his new book, Freefall, he narrates the 2008 financial crisis as a struggle to the end between good and evil. The forces of evil are greedy Wall Street bankers who try to impose not just on the U.S. but on the world the satanic ideology of “market fundamentalism.” Their god is Milton Friedman and their chief propagandist is George W. Bush.
Scholars usually consider economics a complex field: not Stiglitz. Scorning details and nuance, he doesn’t hesitate to distort the facts to prove his point. On one page, he writes that the real-estate market crumbled because new owners could obtain 100 percent mortgage credit, putting nothing down; on the next page, he commiserates with the “millions of home owners who have lost the savings of their life” when they could not repay their loans. But they had no savings to start with, as Stiglitz has just explained!
Economists disagree among themselves, of course, but Stiglitz goes beyond mere disagreement. He raves against all free-market economists because they failed to predict the recession. But economists don’t tend to make predictions; prophets and media pundits do. Most economists consider making predictions an expression of the “fatal conceit” that Hayek warned against. Scholarly economists tend to express their disagreements by opposing one theory against another, using facts, figures, and statistics—reality, in other words. Stiglitz hovers above these vulgar debates. He is guided only by his own strong opinions and personal experiences, reminding the skeptical reader (if any will read him) that he has travelled everywhere, seen everything, and occupied very important positions at the World Bank.
Stiglitz makes bizarre recommendations: the U.S. should look to the example of Trinidad, which tends to the well-being of its people without becoming obsessed by the quantitative measure of its GDP. He praises Ethiopia, one of the poorest countries on earth, for its new freeways, which he hopes will inspire public infrastructure programs in the United States.
Stiglitz must be seeking popularity with a left-leaning audience. One can hardly find any other rationale for the book. Freefall is of no help in understanding the origins of the current crisis or in determining how to remedy it. When Stiglitz attacks market fundamentalism as the cause of all evil, he does not stop to consider how such a regime led the world into unprecedented economic growth from 1983 to 2008. He overlooks the 2007 oil and commodity price spikes, which may have started the recession. Most free-market economists today perceive the 2008 financial crisis as a consequence of the recession and not the cause of it. Inflated real-estate prices, and the financial derivatives based on them, made the crisis global and severe. But such complexity would not fit with Stiglitz’s black-and-white plot. To build his case, such as it is, he mixes up causes and consequences. When he lays responsibility for the 2008 crash on “deregulators,” he fails to explain why some heavily regulated banks had to be bailed out, while others were able to evaluate their financial risk responsibly and avoid bankruptcy. Perhaps some were better managed than others? Stiglitz shows no interest in such mundane considerations. Some regulated banks did not take excessive risks; others did and had to be bailed out
Markets are highly imperfect, free-market economists agree, and some regulation is necessary, but Stiglitz makes no distinction between good and bad regulation. All regulation, in his pop economics, is good by definition, while all deregulation is evil. No proofs are needed.
Lehman Brothers was undoubtedly a poorly managed, probably unethical, and possibly lawless company. None of that justifies Stiglitz’s outlandish contention that “the fall of Lehman Brothers on September 15, 2008, is the equivalent of the Fall of the Berlin Wall: the end of market fundamentalism after the end of communism.” How dare Stiglitz write that Eastern Europeans have been the victims of the Washington consensus imposed by market fundamentalists, when the free market has drawn Eastern Europe out of poverty? How does he explain Poland, the most free-market country in Europe and one not dramatically affected by the crisis?
Stiglitz feels compelled to remind the reader that he is not a socialist: he only advocates a better world. His utopia would replace the failed market fundamentalism by striking the right balance between market and state. What would such an arrangement look like? Stiglitz doesn’t elaborate, but he hints repeatedly that the world would be a better and more ethical place if he were in charge. For those who already fear the Obama administration’s anti-market bias, think how much worse it could be: Stiglitz could be working there! We better keep him writing fiction and basking in the cheers of Greek audiences, to whom he recommends that their country not repay its debt.
One receives the Nobel Prize in economics for research in a specific area, Milton Friedman used to say, but prize winners then tend to believe that they’ve been implicitly granted the right to express their personal, nonscientific opinions about everything. Stiglitz’s Nobel Prize on market asymmetry was well deserved. His opinions on everything else are just opinions and deserve to be treated as such.
Guy Sorman, a City Journal contributing editor, is the author of numerous books, including Economics Does Not Lie.
Desconstruindo mitos economicos: Paul Krugman e a falsa analogia do Japao com os EUA
O artigo abaixo critica as posições de Krugman e não se refere exatamente ao artigo transcrito no meu post imediatamente precedente. Mas os problemas são os mesmos.
Paulo Roberto de Almeida
Japan's problem is supply, not demand
Tino Sanandaji *
Blog Super-Economy
Kurdish-Swedish perspectives on the American Economy.
Sunday, May 23, 2010
Paul Krugman wrote in the NYT that we are talking too much about Greece: "Despite a chorus of voices claiming otherwise, we aren’t Greece. We are, however, looking more and more like Japan."
According to Krugman the U.S risks ending up like Japan, because of "policy makers... doing too little".
First the cheap shot. A year ago, Krugman wrote "Well, I’m sure I’m not the only person to notice this: Japan doesn’t look so bad these days."
Does the U.S risk becoming a new Japan if we don't pursue even more Keynesian spending and borrowing policies?
Let's first look at the lost decade, 1991-2000. When the rest of the world was having rapid, IT-fueled growth, Japan was stagnating. Here are the growth rates in real GDP between 1991-2000:
For all the nice years Japan had 9.6% growth compared to 38.7% for the U.S and 22.7% for the EU.15. The U.S grew by an average of 3.7% per year, Japan only 1.0% per year.
But as most of you know Japan is undergoing a rapid demographic transition. The country was and is aging. Because the old and children cannot work, when we want to compare countries with very different demographic characteristics instead of calculating GDP per capita, it makes sense to calculate GDP per working age adult (people aged 15-65).
Whereas the number of potential workers in the U.S increased by 13% during Japans "lost decade" (1991-2000), and by 3% in for example France, the Japanese potential workforce actually shrank during these years. Adjusting for this, the growth in Japan was 9.8%, compared to 16.9% in Germany, 17.3% in France, 16.3% in Italy and 23.2% in the United States. The U.S grew by twice, not four times of Japan (remember that these were the best years of the U.S and the worst years of Japan).
The importance of the demographic transformation in Japan is even more clear if we include the entire 1990-2007 period.
In non-population adjusted figures, Japan's real GDP grew by 26% in total these years, the lowest in the OECD. In comparison the figures are 63% for the U.S and 44% for the EU.15.
But during this period the U.S saw it's potential labor force (the number of people between 15-65) increase by 23% and the EU.15 by 11%, while Japan had a decrease of 4%.
Between 1990-2007, GDP per working age adult increased by 31.8% in the United States, by 29.6% in EU.15 and by 31.0% in Japan. The figures are nearly identical!
Japan has simply not been growing slower than other advanced countries once we adjust for demographic change.
Also notice Italy (who does better than we think) and Ireland (who does worse, much of the growth was due to their young population).
Nor did productivity grow any slower in Japan than Europe.
Someone could ask why Japan did not outgrow the U.S, since they started at a lower level, or why the old Japanese don't work more to keep up income. But there has really been no dramatic change in institutions during this period, and thus little reason to expect Japan to catch up with the U.S. Japan is already as rich as Europe, so there is no catching up there. And at any case, there is nothing Keynesian deficit policies can do about a shrinking workforce.
Next, to Krugman's point that the problem is "policy makers... doing too little" (by which he means spending too little). Japan has been running Krugman-Obama sized deficits averaging about 5% of GDP for a decade and a half.
Here is their national debt as a share of GDP. Europe 4 are Germany, U.K, France and Italy.
Clearly, it did not work. Krugman is simply dogmatic when he claims that Japan's policy of massive deficits failed because the deficits were not large enough(!). What if someone wrote that the deregulation of the American financial markets did not work just because they did not go far enough? Would Krugman accept this line of reasoning?
Krugman is obsessed with demand, and ignores the (usually) far more important factor, which is supply.
Does the U.S. risk being the next Japan? Probably not, since the American workforce is growing. And at any case adjusting for population Japan has simply not been doing that badly in growth terms. Their problem now is their debt, which they have thanks to Keynesian policies.
Capacity utilization is high in Japan, including a low unemployment rate. Stimulating Demand just won't do it when the problem is supply. If Japan wants growth they have to go for supply factors, including hours worked.
* Tino Sanandaji is a 29 year old PhD student in Public Policy at the University of Chicago, and the Chief Economist of the free-market think tank Captus.
Desconstruindo alguns mitos: Premios Nobel de economia tambem dizem bobagens
Isso acontece mais frequentemente com economistas e literatos, que, depois de ganharem um Prêmio Nobel, se acham no direito, e até no dever, de escreverem e falarem sobre qualquer coisa, mesmo as mais improváveis, e aquelas coisas que, segundo o Peter principle, se situam no limite ou além de sua capacidade.
Saramago é um exemplo típico: já falava bobagem antes, mas com o Prêmio Nobel passou a falar muito mais bobagens, em quantidades industriais.
Economistas são outra espécie: ganham o prêmio por suas pesquisas e inovações juvenis na ciência econômica, geralmente alguma nova "lei" ou equação complicada que "explica" (assim dizem) alguma relação complexa no mundo real: eles simplificam um pouco a coisa, metem tudo dentro de uma regressão linear, e zut, voilà, extraem uma fórmula mágica que parece explicar a realidade durante certo tempo (não importa se mais adiante ela deixa de funcionar, mas o ato os deixa famosos por alguns anos).
Eles passam então a agir como políticos, personalidades públicas que se permitem opinar sobre tudo, abandonando a pesquisa e até o bom senso econômico.
Paul Krugman é um desses, que levou seu militantismo "liberal" (no sentido americano, isto é, social-democrata, o que lá é considerado esquerdista, até um xingamento) aos limites da irracionalidade econômica (deveria talvez devolver o Prêmio Nobel.
Joseph Stiglitz é outro, que levou o seu combate contra o FMI aos limites das bobagens fiscais keynesianas.
Nos dois posts seguintes, com a ajuda de especialistas, vou tentar desmantelar essas duas vacas sagradas da economia.
Mas, antes vou postar um artigo de Krugman, justamente criticado no post seguinte.
Reparem que tudo o que ele diz não tem o mínimo apoio em demonstrações econômicas. É política pura. Seria reprovado num exame de primeiro semestre de Economics 101.
ANÁLISE
EUA não são a Grécia, mas podem virar um Japão
PAUL KRUGMAN - DO "NEW YORK TIMES"
Folha de S.Paulo, 22.05.2010
Deflação sugere que país pode estar a caminho de uma década perdida em estilo japonês, aprisionado em uma era longa de desemprego elevado e crescimento lento
A despeito do coral que alega o contrário, não somos a Grécia. Mas estamos cada vez mais parecidos com o Japão.
Nos últimos meses, boa parte dos comentários sobre a economia vem repetindo um tema central: as autoridades econômicas estão fazendo demais. Os governos precisam parar de gastar, é o que nos dizem.
A Grécia é usada como exemplo cautelar, e cada pequena alta nos juros que incidem sobre os títulos do Tesouro norte-americano é tratada como indicação de que os mercados estão se voltando contra os EUA devido aos nossos deficit.
Enquanto isso, há alertas contínuos de que a inflação está a caminho e que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) precisa recuar em seus esforços de apoiar a economia e dar início à chamada "estratégia de saída", apertando o crédito por meio da venda de ativos e elevação das taxas de juros.
E quanto ao desemprego quase recorde, com um dos piores índices de longa duração desde os anos 30? E quanto ao fato de que os avanços no emprego dos últimos meses, ainda que bem-vindos, até o momento recuperaram menos de 500 mil dos 8 milhões ou mais de empregos perdidos depois da crise financeira? Ah, preocupar-se com os desempregados é tão 2009...
Mas a verdade é que as autoridades econômicas não estão fazendo demais; estão fazendo menos do que deveriam.
Dados recentes não sugerem que os EUA estejam se encaminhando a um colapso da confiança dos investidores, em estilo grego. Em lugar disso, sugerem que podemos estar a caminho de uma década perdida em estilo japonês, aprisionados em uma era longa de desemprego elevado e crescimento lento.
Juros
Falemos primeiro sobre as taxas de juros. Em diversas ocasiões, ao longo dos 12 últimos meses, fomos informados, depois de alguma alta modesta nos juros, de que o mercado estava começando a reagir e que os EUA precisavam reduzir seu deficit imediatamente ou sofreriam as consequências.
Mais recentemente, muito se falou sobre a alta nos juros dos títulos de dez anos do Tesouro norte-americano, de 3,6% para quase 4%. "Medo quanto à dívida causa alta dos juros" foi a manchete do "Wall Street Journal", embora não existisse indício real de que o medo quanto à dívida fosse responsável pela alta.
Desde então, os juros recuaram para abaixo da marca que mantinham antes da alta mais recente. Na quinta-feira, os juros sobre os títulos de dez anos eram de 3,3%.
Eu gostaria de dizer que a queda nos juros reflete otimismo quanto às finanças federais americanas. Mas o que ela reflete é uma alta no pessimismo quanto às perspectivas de recuperação econômica, um pessimismo que fez os investidores fugirem de qualquer coisa que possa ser considerada arriscada -o que explica a queda no mercado de ações- e optassem pela segurança de uma aposta nos títulos de dívida pública norte-americana.
Europa
O que justifica esse novo pessimismo? Em parte ele reflete os problemas da Europa, que se relacionam menos do que temos ouvido às dívidas dos governos. Os líderes europeus impuseram uma moeda única a economias que não estavam preparadas para essa mudança.
Mas também houve sinais de alerta em casa, o mais recente dos quais no relatório da quarta-feira sobre os preços ao consumidor, que mostrava um indicador crucial de inflação em queda para menos de 1%, sua marca mais baixa em 44 anos.
Isso não deveria surpreender, na verdade: a expectativa é que a inflação caia diante de desemprego em massa e capacidade produtiva excedente. Mas é uma má notícia ainda assim.
Inflação baixa, ou pior, deflação, tende a perpetuar as crises econômicas, porque encoraja as pessoas a acumular dinheiro em lugar de gastar, o que mantém a economia deprimida e conduz a mais deflação.
O círculo vicioso que descrevi não é hipotético: pergunte aos japoneses, que entraram em uma armadilha deflacionária nos anos 90 da qual, a despeito de episódios ocasionais de crescimento, ainda não conseguiram sair. A mesma coisa poderia acontecer nos EUA.
Por isso, o que deveríamos estar realmente perguntando agora não é se vamos nos transformar na Grécia. Em lugar disso, deveríamos estar perguntando que medidas estão sendo tomadas para evitar que nos transformemos no Japão. E a resposta é: nenhuma.
Instinto de aperto
Não que é o risco não seja compreendido. Suspeito fortemente de que alguns dos dirigentes do Fed percebam com clareza o paralelo com o Japão e desejem fazer mais em apoio à economia.
Mas, na prática, tudo que podem fazer é conter o instinto de aperto monetário de seus colegas, os quais (como os dirigentes dos bancos centrais na década de 30) continuam a temer desesperadamente a inflação, a despeito da ausência de qualquer indício de alta de preço.
Suspeito, também, que os economistas do governo Obama gostariam muito de ver um novo plano de estímulo. Mas sabem que um plano como esse não teria chance de aprovação em um Congresso que foi levado ao medo pelas palavras da linha dura quanto ao deficit.
Em resumo, o medo de ameaças imaginárias impediu qualquer resposta efetiva ao verdadeiro perigo que nossa economia está correndo.
O pior vai acontecer? Não necessariamente. Talvez as medidas econômicas já adotadas bastem para realizar a tarefa e dar impulso a uma recuperação capaz de se sustentar sem ajuda. Com certeza é isso o que todos nós esperamos. Mas esperança não é plano.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Politica Fiscal: mexer na Previdencia e no gasto publico - Arminio Fraga
SAMANTHA LIMA - DO RIO
Folha de S. Paulo, 23/05/10
Armínio Fraga, entrevista: "Sem mexer na Previdência, país terá crise no futuro"
O ECONOMISTA, QUE PRESIDIU O BC ENTRE 1999 E 2002, DIZ QUE EDUCAÇÃO DEVE SER PRIORIZADA
Presidente do Banco Central entre 1999 e 2002, sócio da Gávea Investimentos, o economista Armínio Fraga, 52, afirma que, se o próximo governo não enfrentar uma reforma na Previdência, permitirá criar a base para uma nova crise no futuro. Fraga defende a imposição de limite ao endividamento do governo e diz que o Brasil, hoje, é obrigado a desacelerar o crescimento porque, além de investir pouco, deixou de cuidar da educação. Leia os principais trechos da entrevista.
Folha - O Brasil levou 40 anos para voltar a crescer ao ritmo do Milagre Econômico [de 1968 a 1973]. Agora, temos que desacelerar para não gerar inflação. O que faltou?
Armínio Fraga - Investir mais e educar melhor. Não há país bem-sucedido que não tenha feito esforço importante na educação ou que tenha se desenvolvido só com recursos naturais.
Está claro onde temos que trabalhar para que a economia sustente um ritmo maior de expansão, principalmente em infraestrutura. Há investimentos estrangeiros previstos no Brasil em energia, mineração, recursos naturais. A tendência é duradoura ou apenas moda?
AF - Os estrangeiros estão entusiasmados porque temos passado pelas crises melhor do que o nosso histórico. Tem oportunidade na China, na Índia, no Leste Europeu. Mas somos o mais ocidental dos emergentes, é mais fácil. Às vezes o entusiasmo é excessivo. Não sou pessimista, mas não podemos relaxar. Caminhamos para um deficit em conta-corrente maior, os juros são altos.
Quando fala de juros, o sr. vê como resultado da estrutura de dívida e gasto público, e não da atuação do BC, não é?
AF - Exatamente, o juro que o BC controla sobe por questões estruturais. No longo prazo, o trabalho do BC tem ajudado a reduzir a taxa porque reduz a incerteza sobre o país. Temos uma história ruim, pressões fiscais. Isso vai exigir um esforço de natureza estrutural.
Os dois candidatos à presidência mais bem colocados nas pesquisas criticam ou já criticaram a política monetária. O que podemos esperar?
AF - Não vejo nenhum político conectado com a realidade disposto a se arriscar deixando a inflação subir. As pessoas sabem que inflação corrói o dinheiro, e os pobres perdem mais.
O sr. vê ameaça à atuação do BC no futuro?
AF - Fala-se em aventura nessa área, em função de declarações dos candidatos. Mas se referem a circunstâncias extremas, e não ao dia a dia do BC. O BC não tem independência formal, mas temos autonomia operacional. Eu aposto que isso continuará.
Que pergunta o sr. faria ao futuro presidente?
AF - É uma pergunta antipática, que cabe a todas as lideranças do mundo: “Qual é sua visão de um futuro fiscal tranquilo para o país?”.
Qual é o problema mais urgente a ser resolvido, na área macroeconômica?
AF - O crescimento do gasto público.
E qual reforma institucional relativa à área econômica deve ser tocada no início do próximo governo?
AF - Reforçar a Lei de Responsabilidade Fiscal, impondo limite à dívida pública federal, e incorporar a discussão da previdência.
No caso da previdência, o sr. acha que algo mudou?
AF - Não, com tendência de piorar, se o fim do fator previdenciário não for vetado. É um tema difícil para um político, e não só no Brasil. O presidente Fernando Henrique avançou, mas pouco porque a oposição fez críticas agressivas. O envelhecimento da população dos principais países é uma questão gravíssima e não vem sendo discutida de forma razoável.
A previdência pode gerar crises no futuro?
AF - Pode, sim. Lá fora já se vê reação. Os governos da Alemanha e da França já discutem isso. A Europa levou uma sacudida de confiança nunca imaginada, mas vai reagir positivamente.
A crise da zona do euro pode ser debelada antes que extrapole para outras regiões?
AF - Há riscos para nossa economia porque a Europa é o maior mercado de nossas exportações. Temos deficit em conta-corrente, e isso pode dificultar o financiamento.
Com gastos do governo em alta, o BC está sobrecarregado no controle da inflação?
AF - O acompanhamento do BC é um trabalho minucioso. Chegou a hora de dar uma segurada, e por isso subiram os juros para 9,5%. O anúncio do corte de gastos pelo governo é positivo porque alivia a inflação.
SAIBA MAIS
Fraga administra R$ 10 bilhões em investimentos
Criada por Armínio Fraga em 2003, quando deixou o comando do Banco Central, a gestora de recursos Gávea Investimentos tem sido alvo de recentes rumores envolvendo uma possível venda de seu controle.
O comprador seria a gestora de recursos norte-americana Highbridge. Questionado, Fraga diz que não pode comentar o assunto.
A Gávea tem R$ 10 bilhões sob sua administração, em fundos de investimentos e de participações em empresas, como a cadeia brasileira do McDonald’s, a Aliansce (participações em shoppings) e a Azul Linhas Aéreas.
Na avaliação de Fraga, os setores mais promissores para investimentos no Brasil são o de petróleo, o agronegócio e o de infraestrutura. “Aqueles ligados ao consumo também têm boas oportunidades. Difícil imaginar uma área desinteressante”, afirma.
Apesar do histórico de sucesso, a Gávea traz pelo menos um mau investimento no currículo: a BRA, empresa aérea em recuperação judicial desde 2007.
Fraga afirma que não pensa em deixar a Gávea e que não foi sondado para integrar equipe econômica no próximo governo. Mas que, no futuro, gostaria de voltar. “Se acharem que posso.”
Festival de gastanca em Brasilia: um baile (da ilha) fiscal permanente
O Brasil vai pagar muito caro pela irresponsabilidade atual na condução da política fiscal (que de fiscal nãoo tem nada, e de política, menos ainda).
Um corte de mentirinha
Editorial O Estado de S.Paulo
23 de maio de 2010
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou um corte de mais R$ 10 bilhões nos gastos federais deste ano, a imprensa noticiou e muita gente acreditou. Antes dele, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, havia falado em redução de despesas para moderar o ritmo de crescimento e conter as pressões inflacionárias. Mas era uma brincadeira de 1.º de abril com mais de um mês de atraso. Não há corte nenhum. Há só um ajuste do gasto programado à nova estimativa de receita. É uma exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal, como explica o Ministério do Planejamento no Relatório de Avaliação do Segundo Bimestre.
Verificada a arrecadação até o fim de abril, os técnicos fizeram uma nova projeção de receita para o ano. O cálculo foi baseado numa estimativa de crescimento econômico de 5,5% e de inflação também de 5,5%. O resultado foi uma redução de R$ 9,39 bilhões na receita primária esperada para 2010, excetuada a contribuição para o Regime Geral da Previdência. Descontada a transferência obrigatória a Estados e municípios, sobram R$ 9,24 bilhões.
O passo seguinte foi o ajuste exigido por lei. Programou-se um corte de R$ 7,61 bilhões nas despesas discricionárias. Uma redução adicional (e meramente contábil) de R$ 2,43 bilhões foi obtida com a reestimativa dos gastos obrigatórios, excetuados os benefícios previdenciários. Está aí a diminuição de R$ 10 bilhões prometida pelo ministro Guido Mantega.
Não era séria a promessa de seriedade. Na semana passada, até os críticos do governo tomaram como boa a declaração dos ministros a respeito da contenção de gastos. Vários economistas julgaram insuficiente o congelamento de R$ 10 bilhões, mas ninguém pôs em dúvida a palavra das autoridades. Parte-se do pressuposto de que o governo não se arrisca a perder a própria confiabilidade.
Mas esse não é todo o problema. Por que o governo elevou sua estimativa de crescimento de 5,2% para 5,5%, apenas, quando a maioria das projeções do setor privado indica uma expansão na faixa entre 6% e 7%?
O ministro Guido Mantega deve ter-se esquecido de contar sua nova história ao secretário da Receita, Otacílio Cartaxo. O secretário anunciou há poucos dias que a arrecadação do mês passado foi de R$ 70,9 bilhões, 16,7% maior que a de um ano antes e a mais alta para um mês de abril. Além disso, ele prognosticou uma sequência de recordes.
A arrecadação de R$ 259,2 bilhões no quadrimestre - também um recorde - resultou, segundo Cartaxo, do aumento dos salários e do consumo, da elevação da lucratividade das empresas e também da inflação mais acelerada.
No cenário considerado pelo pessoal da Receita, disse Cartaxo, a economia crescerá 6% em 2010, impulsionando a arrecadação. Em sua fala otimista, ele chegou a propor um aumento da meta de superávit primário, fixada em 3,3% do PIB. Mas não compete à Receita, ressalvou, analisar a política fiscal.
Com a ressalva ele demonstrou disciplina funcional, mas não desmentiu sua visão otimista do crescimento econômico e da arrecadação. Essa visão coincide com boa parte das projeções de especialistas independentes e é compatível com a linguagem usada há poucos dias pelo ministro da Fazenda.
O governo, disse na semana passada o ministro, agiria para evitar um crescimento superior a 7%. Esse risco, segundo o novo relatório de avaliação bimestral, parece ter sido logo descartado pelas autoridades econômicas.
Ainda há poucos dias, o ministro Guido Mantega disse haver recebido do presidente Lula o aval necessário a uma contenção de gastos. A informação parecia fazer sentido: a economia ainda cresceria de forma satisfatória e o governo poderia mostrar ao público uma novidade - um ajuste fiscal para conter a inflação.
Mas essa história parece agora estranha. O ministro não precisaria de aprovação para um mero acerto periódico exigido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Outra versão é muito mais crível: a cúpula do governo decidiu continuar gastando - porque a receita continuará crescendo - e nada fazer para limitar a expansão da economia num ano de eleição.
O Banco Central continuará sozinho no combate à inflação.
domingo, 23 de maio de 2010
Republica Sindical do Brasil: avancando, sempre... (claro, com o seu, com o meu, com o nosso dinheiro)
A matéria abaixo é, digamos assim, apenas instrutiva, sobre a máquina de extração de dinheiro criada por uma legislação permissiva, a esperteza de muitos e a licensiosidade, se me permito dizer, de quem nos governa atualmente.
Sob risco de despertar a ira de alguns (o que pouco me importa, na verdade), vou ser bem claro no que vou dizer agora:
Sindicatos são máquinas de criar desemprego e de enterrar empresas produtivas.
Nas condições institucionais do Brasil, eles têm um papel essencialmente negativo na economia nacional, contribuindo, com todo o seu poder extrativo, para afundar as possibilidades de aumento da produtividade, crescimento econômico e prosperidade geral, pois que se dedicam apenas a redistribuir a riqueza criada por trabalhadores (em grande medida não sindicalizados) e empresários (muitas vezes sindicalizados em outros aparelhos cuja única função é arrancar dinheiro do Estado, ou seja, de todos nós).
As duas vertentes sindicais, patronais e de trabalhadores, têm muito a ver com a cultura da máfia, ou seja, uma entidade dedicada apenas a extrair dinheiro de clientes (que somos todos, como consumidores ou contribuintes compulsórios).
O Brasil se afunda lentamente na decadência.
Não foi outro o caminho escolhido pela Argentina para sua lenta (por vezes acelerada) e longa (já dura mais de 80 anos, e precede até mesmo a República Sindical peronista, criada naquele país) decadência, um caso dos mais extraordinários na história econômica mundial: um país, uma sociedade, que escolheu voluntariamente se subdesenvolver, de afundar na decadência, no atraso, na corrupção e na desesperança...
O Brasil talvez siga o mesmo caminho...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 24.05.2010)
Sindicato vira negócio lucrativo e País registra uma nova entidade por dia
O Estado de S.Paulo, 23 de maio de 2010
BRASÍLIA - O imposto sindical, um bolo tributário de quase R$ 2 bilhões formado por um dia de trabalho por ano de toda pessoa que tem carteira assinada, alimenta um território sem lei. Os 9.046 sindicatos que dividem esse dinheiro não são fiscalizados.
Resultado: abrir uma entidade sindical transformou-se em negócio lucrativo no País. Levantamento feito pela reportagem do Estado identificou sindicatos de todos os tipos: de fachada, dissidentes por causa de rachas internos e entidades atuando como empresas de terceirização de mão de obra.
Os dirigentes das centrais admitem que o imposto está por trás da proliferação sindical, o que transforma alguns sindicatos em verdadeiros cartórios. A reportagem constatou ainda que, só neste ano, o Ministério do Trabalho registrou um novo sindicato a cada dia, 126 no total, o que revela uma indústria debaixo da chamada liberdade sindical garantida pela Constituição.
A proliferação acirrou-se a partir de 2008, quando o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu formalizar as centrais - a fatia do bolo que elas recebem é proporcional ao número de entidades filiadas. E tudo ficou mais fácil quando Lula decidiu que as centrais não precisam prestar contas do dinheiro que recebem.
"Parte dos sindicatos é constituída sem representatividade, só com o objetivo de arrecadar os recursos dos trabalhadores através das taxas existentes", admitiu o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique da Silva Santos. "Está havendo desmembramento de sindicatos, muitos deles artificiais e piratas", concorda Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e do Sindicato dos Comerciários de São Paulo. "É o banditismo sindical."
Meio de vida. Estima-se que metade dos sindicatos em operação no País tem como função apenas o recebimento de tributos. Dirigir uma entidade passou a ser meio de vida de algumas pessoas, como no caso de Djalma Domingos Santos.
Ele dirige um sindicato que faz intermediação de mão de obra para empresas do agronegócio. Os abusos são tão flagrantes que a entidade está sob investigação do Ministério Público do Trabalho. Santos também preside sindicatos de trabalhadores da movimentação de mercadorias em pelo menos cinco cidades.
"Não é impossível, mas é pouco provável", disse o secretário-adjunto de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, André Luis Grandizoli, ao ser questionado sobre como uma pessoa pode presidir tantos sindicatos ao mesmo tempo - e todos devidamente registrados. "Não temos como avaliar."
Ainda segundo Grandizoli, o governo evita qualquer ação que possa parecer interferência na atividade sindical: "Temos de observar a Constituição, que garante a liberdade sindical."
Debaixo desse guarda-chuva constitucional, a criação de sindicatos galopa. O Ministério do Trabalho requer apenas "um mínimo de democracia" no processo de abertura, como disse Grandizoli. É preciso realizar uma assembleia, convocada em jornal de grande circulação e no Diário Oficial, para pedir a formalização. A candidatura da entidade a um registro formal, que lhe dará acesso ao imposto sindical, é submetida a uma audiência pública por 30 dias.
A checagem da documentação do futuro sindicato é apenas formal. Nenhum fiscal verifica, por exemplo, se o endereço informado existe. As investigações sobre irregularidades com o dinheiro do imposto sindical são feitas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, informou Luiz Antônio de Medeiros, ex-secretário de Relações do Trabalho.
Veto. A frouxidão com que os sindicatos são acompanhados pelo governo não é recente. O banco de dados do Ministério do Trabalho sobre entidades sindicais só foi criado em 2005. Segundo Grandizoli, houve um período, no final da década de 1990, em que os sindicatos nem eram registrados no ministério, pois a legislação é vaga a esse respeito.
A Constituição diz que "a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical." Não está claro se o órgão competente para registro é o Ministério do Trabalho.
Essa mesma passagem da Constituição foi a base do veto que Lula impôs ao artigo 6º da Lei 11.648, que regulamentou as centrais sindicais. O texto previa a prestação de contas do dinheiro da contribuição sindical ao Tribunal de Contas da União (TCU). Mas o Planalto considerou o artigo inconstitucional, por representar uma interferência do Poder Público nas centrais. Posteriormente, o Congresso confirmou o veto.
Ao serem formalizadas, as centrais passaram a disputar uma fatia de até 10% da contribuição sindical. De acordo com dados do Ministério do Trabalho, no ano passado elas receberam R$ 81 milhões. A maior fatia, de R$ 26,8 milhões, foi para a CUT.
As centrais sindicais tiveram papel fundamental no apoio a Lula durante o escândalo do mensalão. Prometeram tomar as ruas caso prosperasse a ameaça de impeachment do presidente.
Desconstruindo a educacao brasileira: a marteladas, ao que parece
domingo, 9 de maio de 2010
Descontruindo a educacao brasileira
O comentarista escreve, anonimamente, comme il faut (ou seja, quando se pretende apenas criticar, sem assumir os custos do comentário publicamente), mas é preciso que se dê o devido destaque ao que ele escreve. Ele começa, e isso eu preciso agradecer, por transcrever o que eu mesmo disse, ainda que de forma incompleta, como comentário à matéria transcrita no post original. Agradeço por dar destaque a uma humilde nota de rodapé, que deveria ser ampliada e desenvolvida (o que vou fazer in due time):
Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Descontruindo a educacao brasileira":
[PRA: aqui sou eu que estou escrevendo:] " [os países desenvolvidos] não esperaram por Piaget para construir um sistema educacional eficiente e democrático com base em alguns princípios muito simples: o mestre ensina, didaticamente, explicando direitinho para as crianças o que elas precisam saber em termos de língua pátria, matemáticas e ciências elementares, enfia tudo aquilo na cabeça delas, se preciso for um pouco na base da decoreba e da repetição, e depois cobra o que foi ensinado, distribuindo notas boas e más em função do resultado. Quem não aprendeu, é obrigado a refazer a lição até aprender.
Simples não é? Não precisa Piaget para fazer isso. Aliás, não precisa nem de quadro negro, ou quase: só precisa um professor competente e dedicado." [fim PRA]
[Aqui entra o Anônimo correspondente:] SALVAI-NOS ÓH DEUS, É DE FAZER ATEU REZAR!
QUANTO DISPARATE! RASGUEM O DIPLOMA DELE!
SÓ COMPROVA QUE, COMO ELE DISSE, O ENSINO VAI MAU DA GRADUAÇÃO AO PhD, PRINCIPALMENTE LÁ NA BÉLGICA ONDE FORMARAM ELE, POR QUE AQUI NO BRASIL NÃO DERAM O DIPLOMA NÃO...INTERROMPIDO NÉ?
Comento (PRA):
Não preciso acrescentar mais nada. Esse tipo de coisa apenas reforça minha convicção de que a situação da educação brasileira é muito, mas muuuuiiiito pior do que sequer podemos imaginar.
As pessoas sequer têm consciência de quanta "ruindade" se esconde atrás de tudo isso, atrás do que elas próprias pensam...
Paulo Roberto de Almeida