Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Flanando em Paris, com Janer Cristaldo: sugestoes epicurianas
Como eu também estava me preparando para passar seis meses dando aulas em Paris (não foram exatamente seis meses, pois como as minhas aulas só ocupava dois dias na semana, o resto do tempo eu estava viajando pela Europa), anotei as recomendações, mas acho que não segui nenhuma. Em Paris existem tantas boas opções que a gente nunca tem tempo de seguir todas as que nos fazem...
E não deixem de frequentar o seu blog, enquanto não acabar.
Recomendação: copiem ele inteiro, coloquem num arquivo de texto, e depois vocês poderão passar semanas e semanas só lendo Janer Cristaldo: desde outubro de 2003 até setembro de 2014, vocês terão milhares de postagens do maior cronista da internet: http://cristaldo.blogspot.com/
Paulo Roberto de Almeida
Janer Cristaldo sobre Paris
Segunda-feira, Setembro 26, 2011
Alexandre Breveglieri está com o pé no estribo e me pede dicas sobre Paris. Como não houve jeito de responder (seu email parece estar errado), segue aqui o mapa da mina.
Atenho-me principalmente à geografia etilogastronômica, informação que nem sempre encontramos nos guias de turismo. Cabe lembrar que esta oferta é imensa em Paris, e cada viajante sempre encontrará seus rumos. Cito aqueles que encontrei e gostei. São quase todos centenários e podem ser facilmente encontrados no Google ou no Google Earth.
Fora o Chartier e o Polydor, não são restaurantes baratinhos. Mas tampouco são caros. Praticam os preços médios de Paris. Normalmente, entre duas pessoas, janto por algo entre 60 e 90 euros, vinho incluído. Mas pode-se comer por dez euros naqueles restaurantes do Quartier Latin e Mouffetard. Há menus executivos que constam de entrada, prato principal, sobremesa e eventualmente um demi pichet de vin. Nem sempre se come bem. Mas também se pode comer bem por esse preço, é questão de ter olho clínico. Evite os que ficam em ruas com alto tráfego de turistas.
Bares
• Os grandes bares de esquina ou de bocas de metrô são sempre mais caros que os botecos mais discretos. Lá, se paga pela paisagem. Num botequinho modesto de meio de rua, pode-se tomar a mesma cerveja dos bares mais imponentes, quase pela metade de preço. Vale o mesmo para cafezinho ou refeições
• Mesmo assim, estacionar em pelo menos um dos dois cafés frente ao metrô Odéon: o Danton e o Relais Odéon, um quase em frente ao outro. Apanhar um jornal, pedir algo e olhar a fauna. Vale a consumação. Por outro lado, sentar numa terrasse numa tarde de inverno, mesmo que o cafezinho custe um pouco mais, é uma boa hipótese para observar as gentes
• Se você quiser uma taça de vinho, deve pedir um ballon, rouge ou blanc, conforme seu gosto
• Dar um giro pela rue Mouffetard, perto do Panteon. Há uma feira deliciosa nas manhãs de domingo. Almoços ótimos e abordáveis. Gosto em particular de um deles, o Tire Bouchon, na rua Descartes, ao lado da Mouff. É daqueles onde se come bem por dez euros, ao meio-dia. O patron se chama Antoine e sempre me recebe de braços abertos. A Mouff merece uma visita, é uma rua para onde os parisienses tentaram fugir, para escapar ao Quartier Latin. Se bem que o turismo já chegou lá. Saindo da Sorbonne, dá uns 10 ou 15 minutos a pé
• Um restaurante interessante a visitar é o Polydor, na rue Monsieur Le Prince, a uns cinco minutos da Sorbonne. Almoços relativamente baratos. Gosto muito, particularmente quando tem boudin no cardápio, o que não acontece todos os dias. Modesto, honesto e tradicional. Bom para um almoço sem maiores pretensões.
• Bem no início da Rue du Faubourg Montmartre, há um restaurante peculiar, o Chartier, bem no início, à esquerda, no fundo de uma “cour”. Simpático, folclórico e muito barato. Foi construído no final do século XIX, hoje está classificado como monumento histórico e gaba-se de servir o mesmo cardápio desde a inauguração. À noite, fecha às nove. Só pelo ambiente, vale a visita. Lembrar que em Paris as mesas, mesmo pequenas, são coletivas. Não se importe de sentar junto a estranhos ou que eles sentem em sua mesa. É normal
• Na Gare de Lyon há um restaurante suntuoso, um teto de cair o queixo, o Train Bleu. Vale a pena a visita, que mais não seja para tomar um cerveja no bar e contemplar o ambiente. Não aconselho comer nele. Muito caro. Rapport prix/qualité nada conveniente
• Na Rue de l’Ancienne Comédie, quase ao lado do Relais Odéon, há o Procope, fundado em 1686. Lá almoçaram desde Racine, Voltaire, Rousseau, D’Alembert até os revolucionários de 89 e Napoleão. Este deixou lá um chapéu a título de pindura. Está lá também a mesa em que Voltaire escrevia. Preços normais de Paris
• Há um belíssimo restaurante, o Julien, na rue du Faubourg Saint-Denis. Pratos excelentes, nada caros em termos de Paris. A rua é de prostituição, está um pouco deteriorada, mas é freqüentável sem problema algum
• Na rue Mabillon, procurar o Charpentier, excelente cozinha, preços humanos. Recomendo vivamente. Cuisine du terroir. O restaurante, simpaticíssimo, é ligado ao movimento de Compagnonage, uma confraria meio paralela à maçonaria. Recomendo vivamente as andouilletes AAAAA. Isto é, as andouilletes aprovadas pela Association Amicale des Amateurs d'Andouillettes Authentiques. O boudin aux pommes é superbe
• Na Île St. Louis, ilha ao lado da ilha da Notre Dame, na rue St. Louis en l’Île, procurar Le Sergeant Recruteur ou, ao lado, Nos Ancêtres, les Gaulois. São dois restaurantes com menu a preço fixo. Entradas, queijos e vinhos à vontade. Quanto aos pratos propriamente ditos, você escolhe um entre três opções. Não esquecer que o vinho é “à la volontê”. Não é lugar para se ir sozinho. Como é ambiente de alegria coletiva, o solitário fica um tanto deslocado. Se o garçom demora e você está sedento, estenda sua taça a seu vizinho de mesa e peça um pouco de seu vinho. Ele não vai negar. Nem estranhar
• Algo mais sofisticado e, evidentemente, mais caro: o Bofinger, numa pequena travessa da Place de la Bastille. É só chegar na Place e perguntar pelo restaurante. Sem falar na cozinha, só o interior vale uma tarde e alguns euros a mais. Quando sento lá, não tenho mais vontade de sair. Em frente, o Petit Bofinger, caso o Bofinger esteja lotado. Mas a arquitetura do Petit não se compara à do primeiro
• Um excelente restaurante, o preferido do Mitterrand, é a Brasserie Lipp, no boulevard Saint Germain. Abrigou várias gerações de intelectuais franceses. As esquerdas sempre sabem onde se come bem. Recomendo fortemente. O plat de resistance é o cassoulet, uma espécie de protofeijoada. Mas o jarret de porc tampouco é de se jogar fora
• Frutos do mar há por toda parte. Mas um dos locais mais reputados é o Au Pied de Cochon, no Les Halles. Em matéria de ostras, minhas diletas são as fines de Claire
• Em quase todos os restaurantes que arrolo, se você quiser vinho, em vez da bouteille pode pedir um pichet, ou, para amadores, un demi pichet ou un quart pichet. Ou seja, uma jarra de vinho, uma meia jarra ou um quarto de jarra. Em geral, o vinho é potável. Em restaurante bom, o vinho sempre é bom
• Tivesse eu de visitar apenas cinco restaurantes, pela ordem, eu começaria pelo Julien e Charpentier, continuaria pelo Procope e Bofinger, e terminaria com a Brasserie Lipp
• Não esquecer as virtudes da comida de rua. Há um sanduíche árabe em Paris que adoro, é o merguez au chili. Merguez é uma lingüicinha picante. Compra-se em quiosques de esquina. Atenção: munir-se de água. Pega fogo na garganta
• A gorjeta vem sempre incluída na conta. Lei do Mitterrand
• Fora isso, deve existir mais uns cinco mil restaurantes e cafés por lá, à sua espera
Outra dicas
• comer ou beber sentado custa uns 20 % a mais do que no balcão. Para um café da manhã, nada melhor que uma tartine au beurre, que é uma baguetinha com manteiga
• em compensação, se você pede um cafezinho ou chope numa mesa, pode a rigor passar uma hora sem que o garçom o incomode
• jamais pedir “une bière”, isto o denuncia como marinheiro de primeira viagem. Se o garçom for sacana, lhe empurra um litro de cerveja. Pede-se “un demi”, ou seja, un demi-verre.
• em boa parte dos bares há uma cerveja belga que gosto muito, é a Abbaye de Leffe. Esta geralmente não é servida em demi, mas em um copo um pouco maior. É mais cara que as triviais, mas vale a pena. Tem três versões: blonde, brune e radieuse. Qualquer uma é boa aposta
• se você vai ficar coisa de uma semana, tratar da carte orange (une semaine, deux zones). A semanal vale de segunda a domingo. Levar fotos 3 x 4. Ou tirá-las nas dezenas de máquinas automáticas, encontradiças em todas as ruas do centro. No metrô, se enfia o tiquete na catraca, no ônibus basta mostrar a carta ao motorista. Outra opção, carnê de dez bilhetes, mais conveniente se você chega no meio da semana e vai ficar pouco tempo
• Comprar a revista Pariscope, ou L’Officiel des Spectacles, em qualquer banca. Saem às quartas e dão toda a programação cultural da cidade. Lembrar que em Paris gastronomia também é cultura
• Usar ônibus tem a vantagem de lhe mostrar Paris. Neste sentido, o 69 é ótimo. Se você fizer o percurso de início a fim de linha, terá o melhor da cidade
Visitas a meu ver obrigatórias
No “centrão”, se é que se pode falar de centro em Paris:
As tradicionais: Notre Dame (tem concertos de órgão, domingo, às 17 hs, maravilhoso e grátis) Louvre, Sorbonne. (Na Sorbonne, depois do 11/9, não dá pra entrar mais. Só sendo estudante ou professor). Frente à Sorbonne há uns botecos agradáveis, para um lanche rápido ou leituras.
• Além do Louvre, há o Musée d’ Orsay, às margens do Sena, belíssimo. (E mais umas duas ou três centenas de museus, é claro). Conforme seu tempo, terá de passar rapidinho por museus, ou não verá nada da cidade
• Saint Chapelle, no Palais de Justice, no Boul'Mich. Belíssima
• Les catacombes, metrô Denfert-Rochereaux. Antes abriam apenas um domingo por mês. Agora estão abertas durante a semana toda. Imperdível
• Centro Beaubourg, conjunto com biblioteca, exposições, etc. Se você subir ao último andar, terá uma bela vista de Paris, sem ter de enfrentar as filas nem os preços da torre Eiffel. Deambular pelas adjacências
• Um passeio pelo parque Luxembourg, a cinco minutos da Sorbonne é algo imperativo. Diria que são quatro parques em um só: a cada estação do ano, uma beleza diferente
• Le Forum des Halles. Arquitetura subterrânea criada no espaço do antigo mercado, Les Halles. Hoje é um imenso centro comercial. A bem da verdade, passei por lá em minha última viagem a Paris e não gostei. Me pareceu muito deteriorado. Mas a arquitetura em seus entornos é interessante
• Dedicar pelo menos uma hora percorrendo as gôndolas da FNAC, a mais poderosa livraria do país. Acho que há três FNACs em Paris. Nas FNAC há muita oferta em matéria de som e eletrônicos. Música que você jamais encontrará aqui. Neste sentido, a FNAC de Montparnasse é mais diversificada
• Tudo isto pode ser feito a pé e a arquitetura, por si só, já é uma festa. Se você se perde em algum pedaço, vai descobrindo novas geografias
• Perambular pelo Marais (bairro onde está o centro Beaubourg), Palais Royal, Place des Vosges, principalmente esta última, último reduto da aristocracia parisiense. (Mas já vi mendigos dormindo por lá)
• Dar uma olhadela no café Deux Magots (metrô Saint Germain), pelo menos em homenagem aos existencialistas dos anos 60. Fica em frente ao Chez Lipp.
• Dar uma passada no Boulevard Montparnasse, à noite. Há uma livraria interessante, L’ Oeil qui écoute. Mais cafés dos existencialistas, La Coupole, Le Dôme, também caros e turísticos. Eu gostava particularmente do Select Latin, onde curti centenas de horas de leitura
• Pode-se subir a Montmartre de barco. É só pegar no Sena, às 9 da manhã, um barquinho chamado La Patache, que ancora ao lado da piscina Deligny. Vai subindo por canais subterrâneos e eclusas, até o Canal Saint Martin. Chega-se ao pé do morro lá pelas 11. (Não sei se este barco existe ainda. Conferir no Pariscope)
Saindo do “centrão”:
• Perambular pela Champs Elysées, Trocadero, Eiffel, Arco do Triunfo, etc
• Pegar um metrô expresso, o R.E.R., e ir até La Défense. Ver a Arche, que os jornalistas brasileiros insistem em chamar de Arco. É o lado modernoso de Paris, frio e imponente. Acho que deve ser visto, para não se ficar com uma idéia apenas da Paris que imaginávamos. Estando lá, dar uma olhadela no Omnimax, o cinema de 360 graus. Vale
• Cité de la Science et de l’Industrie, em La Villette, ao norte, no XXe. Tem de tudo. Cabe uma visita ao Geode, outra sala de cinema com uma tela de 360°. Sessões de hora em hora. Melhor escolher um só setor da Cité, senão perde-se um dia todo
• Se der tempo, mas só se der tempo, visitar La Grande Bibliothèque, último monumento faraônico do Mitterrand. Aqueles quilômetros e quilômetros de mogno que forram paredes e pisos foram surripiados do Brasil, via o cacique Paulinho Paiakan.
• Père Lachaise, é claro. Em Asnières, ao sul de Paris, há um cemitério de cães que vale a pena como folclore. Há um outro em Villepinte. Visitá-los em dia de Finados é um espetáculo à parte
• Procurar a Promenade Plantée. É um passeio belíssimo. Apanhá-la de manhã, por exemplo, de modo a chegar pela 1h ou 2h da tarde na Bastille e aproveitar para um almoço no Bofinger.
Et bon voyage!
- Enviado por Janer @ 2:26 PM
Janer Cristaldo, uma homenagem critica - Carlos U. Pozzobon
http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/uma-lagrima-para-janer-cristaldo-uma.html
esta bela apreciação crítica ao Janer Cristaldo, a quem nunca conheci pessoalmente (talvez tenhamos trocado algumas mensagens lacunares, mas sinceramente eu não me lembro), mas de quem eu admirava a verve sempre ferina (para quem merecia) e tambem irônica (até para quem não merecia).
Ele era tão antireligioso, impiedoso, que não chegava a ser ateu, era até um estudioso das religiões, e provavelmente complacente com os ingênuos, mas implacável contra os que faziam da religião ofício e meio de vida, sempre fraudulentamente.
Provavelmente foi o mais articulado dos jornalistas anti-sistema, qualquer sistema, mas sobretudo os dos néscios, ignorantes e falastrões, o que certamente o colocava na linha de tiro dos petralhas. Mas ele estava acima de tudo isso, pois seu mundo das ideias não tinha nada a ver com o mundo das ideias toscas daqueles que ele criticava sem dó nem piedade.
Vai fazer falta, pois pessoas inteligentes, mordazes e sinceras sempre fazem falta.
Uma homenagem que recolho do rodapé para enquadrá-la devidamente.
Paulo Roberto de Almeida
Carlos U Pozzobon
55 minutos atrás - Compartilhada publicamentePT decepcionado com desembargadora, pretende processa-la por atacar o metodo petista de ganhar eleicoes
Presidenta do TRE-AL acusa PT de coagir “miseráveis” do Bolsa Família
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Eleicoes 2014: O Dia Seguinte - Rubens Barbosa
O dia seguinte
O País terá de enfrentar a partir de agora a dura realidade da economia em recessão e das contradições e dos desafios na política nacional.
O governo vai ter de cumprir os principais compromissos assumidos pela presidente reeleita, tais como medidas para estabilizar a economia, ajustes na política econômica para reduzir a inflação, volta do crescimento para manter o nível de emprego e reforma política para permitir o avanço das mudanças de que tanto o País necessita. Por outro lado, esperam-se o prometido combate à corrupção e o restabelecimento dos princípios éticos com a punição dos culpados pelo assalto aos cofres públicos e que tanto prejuízo causaram à maior e mais prestigiosa empresa brasileira.
As oposições, que saem derrotadas, têm de se reinventar e atuar de forma diferente da dos últimos 12 anos para melhor defenderem o modelo e as políticas que expuseram na campanha eleitoral e cobrar resultados do governo nas áreas política, econômica e social.
Os ataques pessoais e a exacerbação das críticas fizeram crescer as paixões partidárias e a animosidade entre os simpatizantes do PSDB e do PT. O ardor da disputa em diversos momentos, não só nos debates na televisão, mas também nas ruas, acirrou os espíritos e fez com que o País emergisse, depois da eleição, dividido eleitoralmente entre Norte-Nordeste e Sul-Sudeste, e socialmente entre pobres e ricos, povo e elite, entre "nós e eles".
Olhando para os interesses permanentes do Brasil, esse elemento novo é preocupante. A insistência na divisão, tão explorada pelo PT para se manter no poder, é uma receita bastante perigosa para a preservação da democracia e da tranquilidade em nosso país.
O novo mandato não se prenuncia fácil para o governo do PT. Se a tática de divisão entre "nós e eles" continuar, a radicalização política e o enfrentamento derivado das opções que serão adotadas vão provocar uma situação de conflito que não deveria interessar a ninguém.
Temos de encontrar formas de restabelecer a harmonia interna para podermos avançar nas agendas que interessam ao Brasil. Desde o início do novo governo petista teremos de estabelecer pontes e canais de comunicação para evitar que a radicalização e a polarização dos últimos meses da campanha eleitoral se mantenham, fracionando a nossa sociedade. Isso vai exigir um esforço de moderação dos dois lados. Temos de demonstrar maturidade para poder dialogar de forma democrática e pacífica.
A legitimidade consagrada pela vitória eleitoral impõe a responsabilidade de que as propostas apresentadas durante a campanha sejam discutidas e aprovadas pelo Congresso Nacional, que, passando a contar com representantes de 28 partidos, normalmente verá seu processo decisório tornar-se mais difícil e complexo.
O próximo ano prenuncia-se difícil não só, como tudo indica, pela gradual deterioração da economia - o que exigirá a tomada de medidas fortes para equilibrar as contas públicas, conter a escalada da inflação e tentar aumentar o crescimento econômico -, mas também porque, do ponto de vista político, os detalhes divulgados nas delações premiadas no caso de corrupção na Petrobrás começarão a ser expostos com provas ao grande público e os acusados deverão começar a ser julgados.
Algumas das políticas e medidas prometidas pela então candidata, agora presidente reeleita, têm grande potencial de levar ao aprofundamento das divisões internas. O plebiscito para a reforma política, o controle social da mídia, o controle econômico das empresas de comunicação, a revisão da Lei de Anistia, a criação da política nacional de representação social e a modificação da lei que torna privativas funções de chefia no Itamaraty - para mencionar apenas algumas - não contam com o apoio da maioria da sociedade brasileira. Caso o governo reconduzido queira aplicá-las, haverá, sem dúvida, o aprofundamento da divisão interna e um novo inevitável choque de consequências imprevisíveis para a democracia e a estabilidade do nosso país.
Embora o discurso da presidente Dilma Rousseff após o anúncio oficial dos resultados, no domingo, tenha conclamado "todos os brasileiros e todas as brasileiras sem exceção" à "união" e ao "diálogo", não houve um gesto em relação à oposição, nem sequer uma menção, como é de praxe, a seu opositor, que a havia cumprimentado pouco antes.
O grande desafio que o Brasil vai enfrentar nos próximos meses será como estabelecer as referidas pontes para evitar a radicalização e procurar deixar as diferenças de lado. Não será fácil.
Governo e oposição têm responsabilidade compartilhada para evitar que a divisão se agrave, se aprofunde e leve a uma crise institucional.
*Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
Uma lagrima para... Janer Cristaldo, uma inteligencia que se vai...
Janer Cristaldo sempre tinha uma palavra inteligente, em defesa da... inteligência, contra a incultura que nos cerca impunemente, que tenta idiotizar todo mundo, e contra a qual ele protestava com sua verve irônica a cada vez.
Aprendi muito lendo seu blog (http://cristaldo.blogspot.com/) e também me diverti bastante.
Deixa saudades.
Transcrevo aqui uma de suas últimas postagens que, já no contexto de sua doença, reproduzia material de 3 ou 4 anos atrás, mas ainda atualíssimo.
O post abaixo se refere às eleições de 2010.
Você será lembrado, caro Janer, e chorado, não só pelos seus queridos, mas todos aqueles que o liam.
Meus respeitos e minha homenagem.
Paulo Roberto de Almeida
BRASIL NÃO MERECE
SEQUER UMA LÁGRIMA *
sexta-feira, agosto 29, 2014
[Publicado originalmente: 27/09/2010]
Domingo que vem é meu dia de protesto cívico. Como faço há já vinte anos, não vou votar. Há quem defenda a idéia de votar no candidato menos pior. Discordo. Menos pior também é pior. Sem falar que me parece absurdo, em regime democrático, ser obrigado a votar. Em todo o Primeiro Mundo, o voto é facultativo. Só nesta América Latina, que vai a reboque da História, é obrigatório.
Obrigatório em termos. Você sempre pode anular seu voto. Mas tem de comparecer às urnas. É o que tenho feito de 1990 para cá. Meu título continua em Florianópolis. No domingo, perto de meio-dia, vou justificar a ausência de meu domicílio eleitoral. E depois vou para meu boteco, aperitivar. Hoje, em São Paulo, pode-se beber em dia de eleições. Quando não se podia, meu garçom me servia um uísque e punha ao lado do copo uma garrafa de guaraná.
Não quero ser radical. Mas diria que qualquer pessoa de bom senso não pode votar nestas eleições. De um lado, a candidata preferencial é uma ex-guerrilheira que participou de um grupo terrorista e até hoje se orgulha disto. O segundo colocado não pode sequer acusá-la de terrorista, pois militou em outro grupo terrorista. Os três candidatos mais cotados são todos de extração marxista. Vinte anos após a queda do Muro de Berlim e do desmoronamento da União Soviética, no Brasil o fundo do ar ainda é vermelho.
O mais patético – para não dizer pateta – dos candidatos é sem dúvida José Serra. Não ousa dizer uma palavrinha contra seu adversário, o patrocinador de Dilma Rousseff. Pelo contrário, o colocou em sua campanha eleitoral. Ao dar-se conta que isto era um tiro no pé, retirou-o de sua publicidade. Mas acabou fazendo pior. Mais adiante, alertou o eleitorado: se vocês querem Lula em 2014, têm de eleger-me agora. Se Dilma vencer, Lula não emplaca. Traduzindo em bom português, o que disse Serra? Disse que sem ele seu adversário não será eleito. Com oposição assim, o PT não precisa de base aliada.
Os políticos viraram bonecos de ventríloquo. Quem fala é o marqueteiro. O candidato repete. Mais ainda: para cúmulo do ridículo, o PSDB contratou para fazer sua campanha um guru indiano sediado nos Estados Unidos. A dez mil dólares por dia. Pode? Recorrer aos serviços de um vigarista estrangeiro para conduzir uma campanha eleitoral? Edir Macedo faria melhor. Ao constatar a mancada, os tucanos mandaram o guru de volta aos States. Teria sido mais barato enviar o Serra para fazer meditação transcendental em um ashram em Poona.
Os tucanos têm em mãos farto material para desmoralizar o PT. Desde o mensalão, dólares na cueca, o assassinato de Celso Daniel, os escândalos da Casa Civil, desde Zé Dirceu a Erenice, os cinco milhões de reais dados de mão beijada a Lulinha, e por aí vai. Não usaram esta munição. Serra, já que vai perder, podia ao menos perder com dignidade. Vai morrer humilhado.
Marina da Silva, sem comentários. Lanterninha, insiste no discurso surrado de meio-ambiente, cultua também Lula e põe-se em cima do muro ante qualquer questão polêmica. É boa alternativa para os petistas que admitem existir corrupção no governo do PT. Votam na morena Marina no primeiro turno e no segundo voltam ao redil.
Almas ingênuas ainda acreditam numa virada. Recebo não poucos e-mails de coronéis de pijama que ainda acreditam em milagre. Coronel, quando veste pijama, vira valente. Quando na ativa, é cachorro que enfia o rabo entre as pernas com medo da voz do dono. Outro que alimenta esperanças é o recórter chapa-branca tucanopapista hidrófobo da Veja. Que tenha suas preferências políticas, vá lá. Que acredite que o PSDB possa levar é ingenuidade atroz. Ou subserviência de jornalista vil. A última chance de Serra seria uma recidiva de linfoma. Mas estamos a uma semana das eleições e a recidiva não ocorreu. Se ocorrer mais tarde, será tarde demais.
Dona Dilma está com todas as chances de ganhar no primeiro turno. Serra que se dê por feliz se não levar capote. Quando um candidato deposita suas esperanças em chegar ao segundo turno, como faz o tucano, é porque já deu as eleições por perdidas. Pior ainda: antes mesmo do primeiro turno, Serra está lançando sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Como pode um eleitor votar em um candidato que já pensa em receber um docinho pela derrota? Pelo jeito, Serra ainda não percebeu que estas eleições significam seu enterro político.
Dias piores esperam o Brasil. Nada de melhor se pode esperar de uma terrorista – que eu saiba, a candidata ainda não se penitenciou de seu passado – dominada pela atrabilis e mandonismo. E que consegue falar um pior português que o Supremo Apedeuta. País inacreditável, este nosso: pelo jeito ainda sentiremos saudades de Lula.
De minha parte, tanto faz como tanto fez. Desde há muito não deposito esperança nenhuma neste Brasil. Quando um presidente que acoberta crimes durante dois mandatos tem ainda 80% de aprovação do eleitorado, nada mais se pode fazer. Lasciate ogni speranza voi che entrate!
Vou cuidar de meu jardim. Tratar de bem viver os dias que me restam. O Brasil que se lixe. Povinho que elege Lula ou Dilma não merece sequer uma lágrima.
* 27/09/2010
Economia brasileira: a agenda de reformas, pelo Financial Times
Nós, brasileiros, é que temos de nos perguntar como foi obtida essa vitória, uma das mais sujas, certamente, da história política brasileira, feita de mentiras, difamações e manipulação criminosa dos sentimentos da população mais humildade, atemorizada pelo terrorismo deliberado dos mafiosos do PT, ao ameaçar com a interrupção do Bolsa Família para assegurar votos dessa camada de dependentes (praticamente um quarto do país).
Mas, agora a tarefa é a de reconstrução da economia, que foi colocada em frangalhos. Tudo o que o FT aponta em sua agenda de reformas é fruto da incompetência, do desleixo, da incapacidade administrativa dos companheiros, a começar pela chefe de Estado.
Como não vai haver impeachment -- embora a roubalheira na Petrobras pudesse levar a isto -- o jeito é colaborar para que estas reformas se façam. Ninguém, na oposição, está apostando no quanto pior melhor, mas sim na vigilância crítica das medidas que se impõem.
Minha opinião sobre a tal de reforma política, que não acredito que possa ser feita de forma consensual. Existirão, provavelmente, muitas propostas de reformas politicas -- e já aviso que não a considero prioritária, nem desejável, nem factível, mas depois digo porque -- e várias dessas propostas serão contraditórias e incompatíveis entre si. Talvez seja possível começar por um critério simples de adequação aos interesses dos brasileiros, e eu chamaria isso de "critério Falcão": tudo o que o presidente do PT quiser, temos de ser contra, pois certamente é para beneficiar o seu partido, não o Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
5 steps to kick-start Brazil
Financial Times, October 28, 2014
On October 26, 108m Brazilians voted in the second and final round of the country’s presidential election. Incumbent Dilma Rousseff defeated challenger Aécio Neves by a slim but definitive margin (52 per cent to 48 per cent) and she will now remain in office until 2018. The results suggest that this election was not about change but rather the continuation of helping Brazil’s new middle class pursue upward mobility.
Over the last 20 years, Brazil has taken crucial strides towards achieving its weighty, if elusive, economic potential. Finance minister (later President) Fernando Henrique Cardoso’s Real Plan established a stable macroeconomic foundation in the 1990s, which allowed his successor, President Luiz Inácio Lula da Silva, to implement social programmes that lifted upwards of 40m people out of poverty in the 2000s. Strong growth gave Brasília fiscal leeway during the global financial crisis; an aggressive stimulus package in 2009 led to claims that Brazil was the last country in and first country out of the Great Recession. Investment poured in and many wondered if a new day had finally dawned for the perennial “country of tomorrow”.
Since 2011, however, Brazil’s burgeoning middle class has faced growing pains. For tens of millions of nouveau stable, simply participating in the country’s economy is no longer enough. They seek continued access to opportunity and they fear a return to poverty. A stagnating economy spurs disquiet. Growth, which averaged 4.5 per cent annually from 2004 through 2010, has averaged 1.6 per cent since. When hundreds of thousands took to the streets to protest in 2013, and when 108m visited the voting booths on Sunday, they demanded improved efficiency, transparency and, above all, a return to growth. Here are five ways to accomplish that:
1. Fiscal Rebalancing – Fiscal policy is at the heart of the current Brazilian malaise. Sustainability is key to an environment conducive to growth and investment, yet Brazil’s fiscal balances have eroded over several years. Rebuilding them will likely require a similar amount of time. The country’s public spending (close to 40 per cent of GDP) far exceeds that of other upper-middle income countries. This spending includes world standards in terms of efficiency such as theBolsa Família, but also plenty of pork worth cutting.
The new administration must set a direction early, ideally with a multi-year plan of fiscal consolidation that begins with a focus on transparency. Since 2011, Brasilia has leaned on various accounting measures to manipulate headline fiscal results, making the reported numbers increasingly irrelevant. A significant tax reform — as debated since the 1990s — would be a crucial second step. Such reform could lower growth-dampening compliance costs while remaining revenue neutral. In the long term, pension reform could defuse a fiscal time bomb while encouraging saving, which remains chronically low.
2. Stabilize the Macroeconomic Foundations – Brazil fought hard for macroeconomic stability. That effort must not go to waste. At 6.75 per cent, inflation is currently above the country’s upper target-rate limit and has been near it for several years, creating environment of tolerance and de-anchoring inflation expectations. Perhaps most perniciously, this approach has reduced the perception of central-bank autonomy. While above-target inflation may be unavoidable in the near term, the central bank should be guaranteed the operational autonomy to restore the targeted 4.5 per cent in the medium term, even if this requires further interest rate hikes. Over the long term, lower inflation and enhanced central-bank credibility should allow for lower interest rates — especially if fiscal conditions improve.
3. Closing the Infrastructure Gap – From unpaved streets in the northeast to the overburdened ports of Santos, Brazil’s infrastructure deficit is ubiquitous and costly. Brazilian fields produce grain twice as fast as those elsewhere but getting that grain to port can cost
almost half its value. Meanwhile, vast mineral deposits remain buried deep within the earth (and vast numbers of people remain buried deep in São Paulo’s traffic) for want of better transportation. At roughly 2.45 per cent of GDP, investment in Brazilian infrastructure is below the emerging market average and barely enough to keep up with depreciation.
The good news is that addressing infrastructure can provide large gains. Given fiscal constraints, most of this investment must come from the private sector. Fortunately, investors worldwide have shown keen interest in Brazil, as demonstrated by continued FDI inflows. Securing this investment will require an improved framework for public-private partnerships and the removal of procedural burdens that slow projects (the infamous custo Brasil).
4. Educating a 21st-Century Workforce – Brazil’s Lula-era momentum can partially be attributed to a series of one-off events: the rapid rise of China, the commodity super-cycle and the lifting of millions out of poverty. To sustain this momentum, the country must develop a workforce with expanding skill sets and productivity potential.
Brazil has made impressive progress in universalizing access to primary education, yet the quality of education and achievement remains poor by international standards. Moreover, the quality of education students receive depends greatly on where they live and their racial and socio-economic backgrounds. The country must improve the quality of education not just by investing more but also by systematically evaluating the effectiveness of government programmes from pre-school to university.
5. Trade and competition – Under President Rousseff, Brazil has adopted an increasingly defensive trade policy. Through tariff and non-tariff barriers, the country has protected domestic industry, reflecting policymakers’ belief that the domestic market is large enough to sustain growth. Just as in the 1970s, this approach has created inefficiencies and economic distortions: the quality of the Brazilian product may not be up to snuff, while the imported product may be too expensive.
Elements of the Brazilian private sector have good reason to advocate for the more liberal approach of the Pacific Pumas. Opening to world markets would provide Brazilian firms with an incentive to expand and offer access to technology and inputs. Successful Brazilian firms could compete on quality rather than hide behind sectoral benefits and trade protection.
Moving Forward
These recommendations are not easy to implement and do not translate into growth overnight. They may not appeal to Latin American policy-makers who all too often pursue short-term growth at the expense of long-term reform. Their approach, however, has resulted in cycles of boom followed by the inevitable busts, and centuries of unfulfilled promise. Brazil’s impressive progress means it can no longer stimulate growth by helping families afford a refrigerator—they have one now and do not need another. Brazil’s new middle class needs better jobs, more skills and a dependable economy. By implementing these recommendations the second Rousseff administration could kick-start the process.
Educacao no Brasil: como vai essa coisa? - um texto de 2007, Paulo Roberto de Almeida
Alertado disso, fui buscar o texto em questão para saber se o aluno em questão teria mesmo motivos para se mostrar tão horrorizado.
Confesso que não sei, pois não reli ainda esse texto, que transcrevo abaixo. Vou reler em seguida, mas alerto que ele já SETE anos, e suponho que a situação, desde então, só fez piorar.
Duvidam? Basta conferir notas de ENEM, ENAD, provas do PISA e outros referenciais sobre a qualiadade (ou falta de) da educação brasileira.
A situação é muito pior, mas muito mais pior, como diria alguém, do que sequer poderíamos imaginar.
Paulo Roberto de Almeida
O afundamento da educação no Brasil
(observações angustiadas do ponto de vista dos estudantes)
Paulo Roberto de Almeida
É uma obviedade, quase uma tautologia, aos olhos de qualquer pessoa medianamente bem educada, afirmar-se que a educação constitui um elemento essencial na qualificação produtiva e na prosperidade de qualquer país, avançado ou em desenvolvimento. Ela constitui, também, o principal fator de inserção nos mercados de trabalho, no plano individual, e um elemento chave do perfil distributivo nacional, quando se considera a repartição social da renda.
Parece haver um acordo tácito na sociedade quanto a isso. Mas esse consenso é falso. Não existe terreno comum entre duas abordagens opostas quanto ao papel da educação no processo de desenvolvimento. O Brasil constitui uma prova viva disso. O desentendimento começa no próprio enunciado das finalidades da educação, tal como expresso acima. De um lado, um grupo, mais identificado com os próprios educadores, considera que a educação tem um papel “libertador”, no plano pessoal, e que os indivíduos têm de ser educados numa visão humanista, acima e além das exigências “do mercado”, que no mundo capitalista pretenderia apenas, segundo representantes desse grupo, que a escola seja “produtora” de trabalhadores treinados para as empresas. De outro lado, pesquisadores identificados com o desempenho adequado do processo produtivo pretendem, justamente, que a mão-de-obra seja a mais qualificada possível, não apenas para atender às necessidades das empresas, mas também para melhorar os níveis de produtividade da economia como um todo, pois isto se traduziria em riqueza social e prosperidade para o país e para a sua população, com reflexos na distribuição de renda. Posso estar simplificando a dicotomia, mas ela representa, grosso modo, duas visões do mundo que parecem contrapor-se na atualidade.
Parece evidente, aos olhos de quem observa a realidade presente no Brasil, que os rumos da educação no país vêm sendo determinados pelo primeiro grupo, uma grande comunidade de trabalhadores dos setores público e privado, formada por burocratas do MEC, por pedagogos de várias afiliações, por professores, administradores, sindicalistas, pesquisadores ou por simples curiosos, sem contar os políticos e outros líderes comunitários que “vivem” da educação. Não é tampouco novidade para ninguém que a qualidade da educação no Brasil vem se deteriorando a olhos vistos nos últimos tempos. Pode ser que não exista nenhuma relação de causa a efeito entre essas duas realidades, mas o tema é suficientemente grave para merecer uma reflexão.
Tendo estas realidades em mente, pretendo tratar, neste texto, de alguns problemas atuais da educação no Brasil, com um enfoque ligeiramente negativo, ou razoavelmente pessimista como o próprio título deixa sugerir. Isto não deve causar espanto, uma vez que fazer elogios por algum sucesso não contribui em nada para a melhoria daquilo que está indo bem, apenas fazem com que os seus responsáveis se acomodem nas situações estabelecidas, deixando de introduzir as mudanças necessárias para que um desempenho determinado se dê de maneira ainda mais efetiva (pelo menos, até que alguma surpresa desagradável desponte no horizonte à frente). Apenas aprendemos com erros e fracassos, que nos ajudam a corrigir nossas insuficiências mais gritantes. O que me parece ocorrer atualmente, no caso da educação brasileira, é justamente um quadro de resignação e de acomodação com os péssimos resultados do setor, em vários níveis, evidentes em quaisquer tipos de medidas objetivas que possam ser feitas.
Não pretendo ocupar-me da educação superior, um setor bem conhecido dos leitores, pois todos eles são pessoas bem informadas, aliás, formadas e graduadas, razoavelmente conhecedoras da triste realidade pedagógica e da lamentável situação material que atinge, hoje em dia, a maior parte das IFES, em grande parte por sua própria incapacidade de reformar-se e de justificar repasses de recursos adicionais por parte dos poderes públicos. Tenho apenas uma palavra sobre elas, independentemente de que sejam públicas ou privadas: salvo poucas conhecidas exceções de praxe, a maior parte dessas instituições caminha rapidamente para uma decadência substantiva, digna de nota, visível, por exemplo, na disseminação de cursos de pós-graduação e de extensão, que tentam cobrir a posteriori as lacunas de uma graduação cada vez mais medíocre.
Pretendo tratar de três aspectos, apenas, que atingem os ciclos fundamental e médio do ensino básico no Brasil. Três exemplos de desperdício de recursos, de desorientação quanto aos objetivos fundamentais da escola, de desvio de finalidades educativas, de equívocos cruciais que podem comprometer ainda mais a qualidade do ensino e o funcionamento das instituições do ciclo fundamental, por anos e anos à frente. Esses três aspectos, que poderiam facilmente ser enquadrados naquilo que eu chamo de “teoria da jabuticaba” – para uma versão resumida deste “mal brasileiro”, ver este link: http://institutomillenium.org/2006/07/05/teoria-da-jabuticaba-ii-estudos-de-casos/ –, estão consubstanciados, respectivamente, na obrigatoriedade de ensino de temas afrobrasileiros e de espanhol, no ciclo fundamental, e de filosofia e de sociologia, no médio. Elas foram introduzidas a partir de 2003 e expressam de maneira fiel a “visão do mundo” a que me referi ao início deste ensaio. Esclareço que o meu ponto de vista é o dos estudantes.
1) Estudos afrobrasileiros
Considerando-se que a sociedade brasileira é extremamente diversa em sua composição étnica e em suas manifestações culturais, com intensa osmose entre suas comunidades imigrantes e um processo crescente de “cross-fertilization” – termo que se poderia aproximar de “fundição recíproca” –, qualquer tentativa de separar e apresentar como mais relevante, no plano histórico ou populacional, qualquer um desses componentes sociais equivale, à falta de melhor conceito, a uma tentativa de construção de um “apartheid” cultural e social, quando não diretamente racial.
Não encontro outro equivalente funcional para designar essa tentativa mal concebida, mal inspirada e, sobretudo, terrivelmente mal implementada no sentido de destacar nossas supostas raízes “africanas” no cadinho multicultural e multirracial brasileiro. Tendo já tratado em outro ensaio dos problemas acarretados pelo novo apartheid representado pela ideologia afrobrasileira (ver: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm), não vou aprofundar a discussão de um problema que ultrapassa de muito a dimensão estrita de sua aplicação nas salas de aula do primeiro grau. Gostaria apenas de confirmar que vejo essa iniciativa funesta como uma semente de racismo e de intolerância, gerando possíveis distorções nos conteúdos curriculares, em função da manipulação anti-histórica que esse infeliz conceito é suscetível de receber por parte de seus promotores. Sem entrar em suas especificidades substantivas, é presumível que o conteúdo de tal “disciplina”, num país dotado de raras pesquisas de boa qualidade sobre a história da África ou seu possível legado transatlântico, sofra deformações de tal ordem por parte dos encarregados da matéria que o conteúdo será um arremedo de protesto social, eivado de ideologia antiescravista, com fortes colorações políticas e tênue embasamento histórico. Imagino que toda uma mitologia da resistência negra será igualmente servida a descendentes de colonos europeus, nas escolas do sul do país, sem que estes recebam sequer alguma informação sobre sua cultura “eurobrasileira”.
Os resultados, obviamente, não poderiam ser mais perniciosos do ponto de vista da boa formação escolar de crianças que teriam o direito de se considerar apenas brasileiras, sem outro prefixo falsamente identificador de alguma origem étnica ou geográfica. Não hesito em afirmar que tal iniciativa contribui poderosamente para a construção do racismo em nosso país.
2) Ensino de espanhol
Outro resultado de um equívoco fundamental – o de que o processo de integração será necessariamente beneficiado com o estudo obrigatório da língua espanhola para as crianças do primeiro grau –, essa medida unilateral, sem reciprocidade nos demais países da região (o português é ignorado nos currículos nacionais), vem acarretar apenas despesas adicionais sem que se antevejam resultados práticos, ou sequer “lingüísticos”, para o processo de integração. Este já padece de conhecida tendência à introversão e ao enclausuramento recíproco – quando o correto seria a abertura ao exterior e a utilização das complementaridades existentes para maior inserção no processo de globalização – e esse tipo de medida apenas reforça suas características “hacia adentro”. Como no caso dos estudos brasileiros, ela demandará a formação improvisada de centenas, ou mais provavelmente milhares, de mestres supostamente capacitados em “portunhol”, carregando ainda mais um currículo já penetrado por várias outras inutilidades “disciplinares”.
Supõe-se que um bom ciclo fundamental seja constituído de estudos de boa qualidade na língua pátria, na matemática elementar, nas ciências naturais fundamentais e nos estudos sociais básicos (história e geografia), apenas isto. Se alguma outra língua tiver de ser aprendida, nos primeiros anos de estudo, supõe-se que a escolhida seja a língua franca da ciência moderna e da globalização, isto é, a que mais usualmente é utilizada para pesquisa na internet, ou seja, inglês. A obrigatoriedade do espanhol servirá apenas para desviar recursos humanos e materiais voltados para a formação de primeiro grau, num país tão carente de ambos. Trata-se de um falso espírito integracionista e um equívoco educacional de conseqüências potencialmente danosas para seus supostos beneficiários. A integração regional, aliás, nunca padeceu de “déficit lingüístico”.
3) Sociologia e filosofia no ciclo médio
A aprovação dessa outra obrigatoriedade pelo Conselho Nacional de Educação, em 2006, foi saudada pelos sindicatos de professores e pelas associações profissionais da área como uma indiscutível vitória para a categoria. Pode até ser. O fato é que se trata de uma indiscutível derrota para os estudantes do ciclo médio, desde que se adote o ponto de vista dos próprios estudantes, é claro. Como isso nunca esteve em causa no tratamento da matéria, eles, que obviamente nunca foram ouvidos, verão reduzidos os horários alocados a outras disciplinas fundamentais para a sua formação, para acomodar as duas novas obrigatoriedades oficiais, que já eram facultativas numa infinidade de estabelecimentos escolares em todo o Brasil, segundo suas próprias conveniências.
O Brasil, como é sabido, adora criar obrigatoriedades no papel. O mesmo se dá, por exemplo, no caso da contratação obrigatória de “jornalistas” para qualquer empreendimento que se possa conceber que trate de “comunicação social”, ademais da absurda reserva de mercado, sancionada em lei, para toda e qualquer empresa classificada como de comunicação de massa. O resultado é uma multiplicação de faculdades medíocres dedicadas à fabricação de canudos para pessoas medianamente alfabetizadas que encontram um mercado garantido apenas em virtude do reconhecimento profissional. Não será surpresa, assim, se novos cursos de “sociologia” e de “filosofia” passarem a ser oferecidos pelas conhecidas “indústrias universitárias” apenas como resultado do novo mercado cativo introduzido por uma legislação irracional e dispensável.
Cria-se, assim, uma verdadeira reserva de mercado para sociólogos desempregados e para filósofos em disponibilidade, a um custo inimaginável para as secretarias estaduais de educação e para as escolas privadas. Como as carências já detectadas para professores secundários em física, biologia, matemáticas ou mesmo português são propriamente astronômicas, imagine-se o que tal medida vai acarretar em termos de desorganização ainda maior do ciclo médio de ensino. Isso obviamente não importa para o sindicato dos ideólogos, perdão, sociólogos, que visa apenas garantir a já referida reserva de mercado para a formação dos jovens secundaristas na perspectiva da “escola crítica”. Como já imaginamos o que possa haver de “crítico” nessa escola, o único resultado possível será a extensão do marxismo vulgar que já é ensinado em outras matérias – como geografia e história, quando não em literatura – para as duas novas debutantes do ensino médio. Quando digo marxismo vulgar, o sentido é o mais vulgar possível, pois não conheço mais marxistas universitários ou secundaristas que verdadeiramente tenham lido Marx-Engels, apenas a vulgata que se transmite em nome dos dois profetas e seus epígonos. (Parênteses para os que me pretendem acusar de direitista ou reacionário: como bom marxista, não religioso, eu li Marx e sei exatamente do que estou falando, e lamento que muitos dos que se pretendem hoje seguidores dessa ideologia estejam servindo de correias (inúteis?) de transmissão para novas formas de fascismo educacional, baseado numa visão do mundo ultrapassada, justificando autoritarismos e incentivando confrontos classistas e raciais que já deveriam estar na lata de lixo da história.)
Numa apreciação geral, surpreende-me que os “planejadores educacionais” – supondo-se que eles existam neste país e não só trabalhem como tenham voz no MEC – não tenham avaliado os custos e as dificuldades vinculados às obrigatoriedades para os ciclos de ensino pertinentes. Pergunto-me se as avaliações catastróficas efetuadas a cada ano quanto à qualidade do ensino no Brasil – inclusive e principalmente em escala internacional – não ajudaram ainda os pedagogos oficiais a refletir sobre o que anda errado no ensino brasileiro e o que poderia ser feito para remediar (já não digo melhorar radicalmente) esse estado de coisas. É propriamente estarrecedor constatar que, com tantos problemas já detectados nos módulos mais elementares de educação – vinculados ao ensino correto da língua, ao domínio da matemática simples e das noções mais corriqueiras das ciências físicas e naturais –, os responsáveis pelo setor se permitam ainda fazer novos experimentos com as crianças e os jovens, sobrecarregando os currículos com excrescências tão terríveis como as mencionadas aqui.
É óbvio que os adeptos dessas “inovações curriculares” julgarão o que estou dizendo uma demonstração inequívoca de tradicionalismo, de rejeição à integração ou de aversão ao “espírito multidisciplinar” envolvido nas novas ideologias servidas como menu obrigatório nas escolas de todo o país. Pode ser. Mas apenas porque eles não se colocaram do ponto de vista das crianças e jovens, ou do simples ponto de vista do reforço da qualidade educacional nas disciplinas básicas. Quando pretendem fazê-lo, se equivocam novamente de objetivos e de métodos, como as duas soluções “milagre” que vêm sendo aventadas ultimamente: a “inclusão digital”, via laptop de cem dólares, e o aumento das verbas para educação no orçamento, de 5% para 7% do PIB.
Duas pequenas palavras sobre essas propostas. Computador portátil a cem dólares – que não será conectado e não custará cem dólares – não é garantia de qualidade de ensino, cuja base é, como nunca deixou de ser, a boa formação do próprio corpo docente, algo hoje dificultado pela mentalidade sindical-corporativa da categoria. A ferramenta – ou seja, o hard do computador – jamais poderá substituir o soft do conteúdo ministrado em classe. Quanto à maior participação dos gastos com educação no PIB, ela não é tampouco garantia de melhoria: o Brasil já gasta na média da OCDE, mas gasta mal e administra de forma errada sua distribuição entre os ciclos.
Com essas três “inovações” nos currículos, apenas posso prever novos retrocessos na qualidade do ensino oficial (público e privado) do Brasil. Em outros termos, teremos com elas a garantia segura de que o país continuará andando para trás nos anos à nossa frente. Lamentável que isto ocorra, mas trata-se de uma escolha consciente dos atuais dirigentes dessa área, na mais completa indiferença da sociedade. O preço a pagar será certamente alto, em termos de atrasos e novos desvios na formação de base, na capacitação para o mercado de trabalho e nos ganhos de produtividade para o sistema econômico do país. De certa forma, esse preço já começou a ser descontado, sob a forma de desempenhos cada vez mais desastrosos nos exercícios de avaliação. Infelizmente, não há nada que salve nossas crianças das opções desavisadas dos adultos...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18 fevereiro 2007
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Eleicoes 2014: A Grande Fratura criada pelo lulo-petismo, a divisao do pais
Eleições 2014
Mapa do IDHM expõe divisão entre Dilma e Aécio
Presidente reeleita tem vantagem no interior do Norte e Nordeste e em cidades mais violentas do país. Tucano vai melhor em centros urbanos ricos
Eleição apertada expõe divisões no mapa eleitoral do Brasil a favor de Dilma e de Aécio (Antônio Milena )
VEJA.com, 27/10/2014
A divisão do eleitorado brasileiro entre PT e PSDB, reforçada nas urnas neste domingo, fica ainda mais evidente no mapa do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). A presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) saiu vitoriosa nas dez cidades com pior desenvolvimento humano do Brasil, enquanto o tucano Aécio Neves a superou nas dez cidades mais desenvolvidas do país.
Os mapas elaborados pelo site de VEJA permitem, a partir do cruzamento dos resultados das urnas e dos IDHMs, mapear onde Dilma e Aécio obtiveram os melhores (e piores) desempenhos. Eleitores de cidades como São Caetano do Sul (SP), Niterói (RJ) e Florianópolis (SC), localizadas em zonas urbanas de Estados das regiões Sul e Sudeste, além do Distrito Federal, preferiram o tucano. Aécio venceu nas cidades cujo IDHM é considerado "muito alto", próximo ao de países ricos europeus. Dilma tem hegemonia interioranas do Norte e Nordestes como Melgaço (PA), Fernando Falcão (MA) e Marajá do Sena (MA).
Também é possível checar nos mapas de apuração interativos como votaram os moradores das cidades mais violentas do Brasil e aqueles que moram nos municípios que participam do programa Mais Médicos. Nos municípios com maior índice de criminalidade, com taxa de homicídios acima de 120 pessoas por 100.000 habitantes, Aécio só venceu em Campo de Julio (MT), enquanto Dilma liderou a votação em Diorama (GO), Doverlândia (GO), Ibirapitanga (BA), Simões Filho (BA), Mata de São João (BA), Pilar (AL), Terezinha (PE), Frutuoso Gomes (RN), Ananindeua (PA) e Caracaraí (RR).
Entre os beneficiários do Bolsa Família, fica clara a preferência por Dilma nas cidades em que metade ou mais das famílias recebe dinheiro do programa. Aécio só obteve mais de 50% dos votos em treze municípios, oito deles na região de Flexeiras, Alagoas. Em todos as demais cidades do Norte e Nordeste com tal índice de participação no Bolsa Família Dilma foi vitoriosa.
Leia também: Com 7 Estados e comando do Congresso, PMDB sai fortalecido
Minas impõe derrota a Aécio
Eleicoes 2014: o Brasil que emerge das urnas - Paulo Roberto de Almeida
Nos dias 5 e 26 de outubro de 2014, o Brasil foi às urnas, e a população escolheu os seus dirigentes estaduais, os seus representantes no Congresso e, mais importante, o novo chefe de Estado, que, de acordo com suas atribuições constitucionais, possui mais poderes do que em outros regimes republicanos presidencialistas. O novo chefe de Estado é o mesmo que já vinha exercendo suas funções desde 1o. de janeiro de 2011, e deverá permanecer no cargo, salvo acidente de percurso, até 31 de dezembro de 2018.
Pela primeira vez em nossa história política, um mesmo partido exercerá o comando do país durante quatro gestões sucessivas, ainda que em coalizão com outros partidos. Mas, as eleições também denotaram, por um lado, uma grande divisão no eleitorado – dada a pequena margem de diferença entre os resultados dos dois concorrentes no segundo turno – e, por outro lado, o grande número de abstenções ou de votos nulos e brancos. Com efeito, sobre um eleitorado total de quase 143 milhões de eleitores, a atual presidente foi reeleita com 54,5 milhões de votos, ao passo que os abstencionistas somaram mais de 30 milhões; se somarmos aos ausentes os que votaram nulo ou branco (mais de 3 milhões), o número dos que se abstiveram de escolher um ou outro dos dois candidatos parece extremamente elevado, 26%, sendo que a votação efetiva na vencedora alcança apenas 38% do eleitorado.
Trata-se, portanto, de uma eleição que parece revelar uma fratura no país, como já indicaram vários analistas políticos, com efeitos sobre a composição do futuro gabinete ministerial e sobre a formulação e a implementação de políticas públicas. Cabe, nesse sentido, registrar a nítida regionalização do mapa eleitoral, com a predominância do voto na candidata da continuidade no Norte e Nordeste, em estados claramente dependentes do programa Bolsa Família.
O exercício da democracia consiste exatamente na expressão da vontade popular quanto às políticas que a população espera ver implementadas pelos seus representantes e dirigentes. O Brasil parece encaminhar-se para um mapa eleitoral que indica claramente a divisão entre estados contribuintes líquidos para a riqueza nacional (em proporção superior a 65% do PIB) e estados recebedores de transferências federais, a diversos títulos. A correlação entre o voto na candidatura oficial e a dependência em proporção superior a 25% das famílias está nitidamente expressa no resultado das urnas.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 27 de outubro de 2014