quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

1780) Enquanto isso, no outro Forum, o capitalista...

Primeiro a nota:

Lula vai criticar ricos em Davos
Coluna diária de Luis Nassif, 28.01.2010

O Fórum Econômico Mundial será o palco em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá “jogar na cara dos países mais ricos" a crise financeira e o "abandono" do Haiti. “Se o mundo desenvolvido tivesse feito a lição de casa na economia, não teríamos tido crise”, disse, durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre. No fórum, Lula vai receber a primeira edição do prêmio de Estadista Global.

Agora dois pequenos comentários:
Paulo Roberto de Almeida
1) Se o mundo desenvolvido tivesse feito o seu "dever de casa", ou seja, equilibrar contas e diminuir os déficits, o mundo provavelmente não teria conhecido o extraordinário surto de crescimento que experimentou de 2002 a 2008, e o Brasil não teria sido beneficiado tremendamente com o aumento significativo de suas exportações (aliás, bem mais em valor do que em volume, e bem mais em commodities do que em manufaturados).
2) Não foi o mundo que abandonou o Haiti, foi o Haiti que "abandonou" o mundo, ou seja, se descolou em relação à evolução democrática e inserção na globalização da maior parte dos países. A culpa está com as elites haitianas, não com o mundo...

Addendum em 28.01.2010, 12hs: O PR Lula não foi a Davos, por razões médicas, mas isso não retira ou diminui nada do que foi dito ou escrito acima. Ou seja: ele pretendia dizer aquilo que foi resumido pelo Luis Nassif, e embalado como estava, provavelmente teria se excedido mais um pouco, dando lições de crescimento aos países desenvolvidos, criticando-os por não se entenderem, condenando banqueiros pela crise e, sobretudo, promovendo aquilo que já foi chamado de"Plano Lula para o Haiti". Pode-se, portanto, manter os comentários exatamente como foram escritos. E acrescento:
1. A despeito de seu baixo crescimento, os mercados dos países desenvolvidos, pelo seu tamanho, abertura e diversificação, constituem ainda oportunidades importantes para o comércio exterior brasileiro, posto que a China e outros emergentes tendem a importar bem mais produtos de baixo valor agregado.
2. O Haiti, com "Plano Lula" ou sem ele, continuará subdesenvolvido por décadas, até que suas elites possam fazer aquilo que normalmente elites dirigentes fazem: construir um Estado minimamente eficaz, inserir o país no mundo e viver de seus próprios recursos, sem tutela ou assistência internacional. O resto é conversa humanitária que pode até confortar as boas consciências mas que certamente não resolve o problema do Haiti, estruturalmente.

1779) FSM imaginario: nunca antes neste País...

Acho que nunca antes neste País alguém abusou tanto da tergiversação e da arte de iludir o próximo, no caso muitos "próximos" que adoram ser enganados, estão pedindo para serem mantidos na ilusão, querem continuar acreditando que esse mundo imaginário é possível.
Tudo é possível, sobretudo e principalmente a auto-ilusão...

O salvo-conduto de Lula
Editorial O Estado de S. Paulo, 28.01.2010

Se o mote do Fórum Social Mundial (FSM) é Outro mundo é possível, o do presidente Lula bem que poderia ser Todos os mundos são possíveis. Os políticos convencionais de qualquer latitude, como se sabe, estão sempre prontos para dar o dito pelo não dito ou para dizer uma coisa e fazer outra, tendo sempre pronta também uma alegação, ou enrolação, que justifique as suas guinadas. Às vezes, pega, às vezes, não - e, nesse caso, o zigue-zague será punido nas urnas. Com Lula é diferente. Decerto ele é o único líder democraticamente eleito da atualidade a desfrutar de uma espécie de salvo-conduto que lhe permite, diante dos mais diversos públicos, trafegar sem restrições pelos mundos da retórica, dizendo uma coisa e o seu contrário, construindo verdades de ocasião e exercendo, como já se apontou, o seu notável talento para a quase-lógica.

No devido tempo, os historiadores, sociólogos e cientistas do comportamento tratarão de dissecar as origens dessa imunidade adquirida pelo singular dirigente brasileiro e a sua consolidação nos anos recentes. Ao observador do cotidiano cabe registrar a desenvoltura com que Lula se entrega à sua arte e o deslumbramento das plateias que, a julgar por sua reação, devem se considerar privilegiadas pela oportunidade de assistir ao espetáculo. É o caso do show de 50 minutos que ele protagonizou anteontem para cerca de 7 mil embevecidos participantes da 10ª edição do Fórum Social Mundial, reunidos no Ginásio do Gigantinho, em Porto Alegre. Com exceção dos puros e duros do PSOL e de ajuntamentos como o PSTU, a esquerda superou com galhardia o desconforto que levou parte dela a vaiar o presidente no fórum de 2005 - quando rebentou o escândalo do mensalão.

A grande maioria comprou com indisfarçado alívio a teoria lulista de que tudo não passou de uma conspirata da mídia e da oposição para derrubá-lo do Planalto. Além disso, cada vez mais compreensiva com o seu ídolo, e tendo se despojado dos escrúpulos de consciência de outrora, não será agora que a esquerda irá cobrá-lo pelas profanas alianças que celebrou com figuras como o senador José Sarney e o ex-presidente Fernando Collor, de quem disse no fórum de 2003 ter perdido o mandato por roubalheira. Afinal, para tornar possível o outro mundo de suas aspirações, eis o raciocínio reconfortante, não raro é necessário compactuar com o que este tem de pior. Não se dizia que os fins justificam os meios- E não foi o próprio Lula quem disse que, se estivesse no Brasil, Cristo teria de se aliar a Judas?

Um dos mais formidáveis atributos do presidente é a sua sensibilidade para os públicos a que se dirige. Ele navega por eles de olhos fechados e chega onde quer - a intuição dispensando a bússola. Em Porto Alegre, como quem pede desculpas, mas fazendo jus astutamente à indulgência plena recebida, observou: Sabemos que há diferenças fundamentais entre o que um governante sonhou a vida inteira e o que conseguiu realizar. Deliciou ainda a audiência comparando o FSM com a sua abominada antítese, o Fórum Econômico de Davos. O fórum social, louvou, continua intacto depois de 10 anos. Já o outro não tem mais o glamour que eles achavam que tinha.

Com isso passou batido por um detalhe: amanhã, nesse santuário onde se cultua a exploração do homem pelo homem, Lula será contemplado com o prêmio Estadista Global de 2009. Nada que deva deixar estomagado o pessoal do outro mundo. O presidente aproveitará o momento para tornar a dizer algumas verdades aos loiros de olhos azuis que o homenagearão. Como antecipou o Planalto, defenderá a reforma do sistema financeiro, a conclusão da Rodada Doha de liberalização do comércio e uma reforma abrangente da ONU - codinome para a ambição por um assento permanente em um Conselho de Segurança ampliado. Assim como nenhum radical o censurou em Porto Alegre, nenhum adorador do mercado deixará de aplaudi-lo em Davos, quanto mais não seja por polidez.

O salvo-conduto com que Lula circula tem uma página que ele não cessa de abrir: a que o autoriza a fazer descarada campanha antes da hora para a sua candidata Dilma Rousseff, a Dilminha, como falou dela no FSM. Em 2011, palanqueou, no seu lugar estará uma pessoa com o mesmo compromisso e talvez com mais capacidade para anunciar ao País as coisas que têm que ser feitas daqui para a frente.

1778) Meu proximo "livro": um iPad...

Bem, ainda não assisti nenhuma apresentação específica, por falta de tempo, mas acho que "já comprei" este pequeno device que vai revolucionar minha maneira de trabalhar e de me comunicar (parece que falta apenas uma câmera, para fazer chat visual).
Em todo caso, vejamos por enquanto apenas esta matéria do NYTimes.

iPad Blurs Line Between Devices
By BRAD STONE
The New York Times, January 27, 2010

SAN FRANCISCO — After months of feverish speculation, Steven P. Jobs introduced Wednesday what Apple hopes will be the coolest device on the planet: a slender tablet computer called the iPad.
For all the hoopla surrounding it, however, the question is whether the iPad can achieve anything close to the success of the iPhone, which transformed the cellphone and forced the industry to race to catch up.

Apple is positioning the device, some versions of which will be available in March, as a pioneer in a new genre of computing, somewhere between a laptop and a smartphone. “The bar is pretty high,” Mr. Jobs acknowledged. “It has to be far better at doing some key things.”

Half an inch thick and weighing 1 1/2 pounds, the device will vividly display books, newspapers, Web sites and videos on a 9.7-inch glass touch screen. Giving media companies another way to sell content, it may herald a new era for publishing.

But the iPad, costing $499 to $829, also lacks some features common in laptops and phones, as technology enthusiasts were quick to point out. To its instant critics, it was little more than an oversize iPod Touch. A camera is notably absent, and Flash, the ubiquitous software that handles video and animation on the Web, does not work on the device.

Another thing missing is an alternative to the AT&T data network, which is already buckling under the strain of traffic to and from iPhones. Some versions of the iPad can, for a monthly fee, use a 3G data connection like cellphones, but the only carrier mentioned was AT&T.

The event, in typical Apple style, was tightly scripted and heavy on theatrics and hyperbole. But the success of the iPhone, and the hive of rumors and leaks surrounding the iPad, raised expectations and made this perhaps Mr. Jobs’s most highly anticipated product unveiling yet.

It was one that he clearly cared deeply about. Mr. Jobs, a consummate showman, presented the iPad to an enthusiastic crowd of around 800 employees, business partners and journalists, some of whom shoved their way in when the doors opened to grab the best seats. It was only his second public appearance since a leave of absence for health reasons last year.

Mr. Jobs posited that the iPad was the best device for certain kinds of computing, like browsing the Web, reading e-books and playing video.

The iPad “is so much more intimate than a laptop, and it’s so much more capable than a smartphone with its gorgeous screen,” he said in presenting the device to a crowd of journalists and Apple employees here. “It’s phenomenal to hold the Internet in your hands.”

One question Apple faces is whether there is enough room for another device in the cluttered lives of consumers.

“I think this will appeal to the Apple acolytes, but this is essentially just a really big iPod Touch,” said Charles Golvin, an analyst at Forrester Research, adding that he expected the iPad to mostly cannibalize the sales of other Apple products.

Mr. Golvin said book lovers would continue to opt for lighter, cheaper e-readers like the Amazon Kindle, while people looking for a small Web-ready computer would gravitate toward the budget laptops known as netbooks.

But other analysts say they have heard similar criticism before — once aimed at the iPhone, which has now been bought by more than 42 million people around the world. These believers say Apple’s judgment on the market is nearly infallible.

“The target audience is everyone,” said Michael Gartenberg, vice president for strategy and analysis at Interpret, a market research firm. “Apple does not build products for just the enthusiasts. It doesn’t build for the tens of thousands; it builds for the tens of millions.”

Apple says the iPad will run the 140,000 applications developed for the iPhone and the iPod Touch, but the company expects a new wave of programs tailored to the iPad.

One of the most significant applications for the iPad may be Apple’s own creation, called iBooks, an e-reading program that will connect to Apple’s new online e-bookstore.

Mr. Jobs said Apple so far had relationships with five major publishers — Hachette, Penguin, HarperCollins, Simon & Schuster and Macmillan — and was eager to make deals with others. Publishers will be able to charge $12.99 to $14.99 for most general fiction and nonfiction books.

Apple’s announcement that it was diving into the growing e-book business put the company on a collision course with Amazon. Mr. Jobs credited Amazon with pioneering e-readers with the Kindle but said “we are going to stand on their shoulders and go a little bit farther.”

John Doerr, a Silicon Valley venture capitalist who serves on Amazon’s board and is also an adviser to Apple, said there could be room for both companies, noting that Amazon sells many books to iPhone owners who use its Kindle application, which will also work on the iPad.

“I don’t think Jeff Bezos is going to leave the e-book business,” he said, referring to Amazon’s chief executive, “and I don’t think it will be confined to the Kindle.”

Three models of the iPad, $499 to $699, will connect to the Internet only via a local Wi-Fi connection. Three other versions will include 3G wireless access and will be available later in the spring, costing an additional $130 and requiring a data plan from AT&T. Owners of the iPhone who already pay at least $70 a month to AT&T will not be getting any breaks.

Other companies have sold tablet computers for years, but they never caught on with consumers. In 2001, Bill Gates predicted at an industry trade show that tablets would be the most popular form of PC sold in America within five years.

“The fact that he and Microsoft didn’t deliver is surprising,” said Tim Bajarin, a longtime industry analyst. “It has taken Apple to bring this to consumers and make it work.”

Apple has been working on a tablet computer for more than a decade, according to several former employees. Improved technology has helped the company to finally bring a model to market, as has the ubiquity of wireless networks.

The success of the iPhone and its cousin, the iPod Touch, have shown a path for tablets. People have been willing to pay to customize those devices with applications, turning them into video game machines, compasses, city guides and e-book readers.

The iPad will be a big opportunity for software developers, said Raven Zachary, president of Small Society, an iPhone development company based in Portland, Ore. “Although I think some of us were a bit surprised we only have 60 days until it launches to develop for it.”

Jenna Wortham contributed reporting from New York.

Slide show

1777) A piada do ano de 2009 (demorou mas saiu...)

Bem, eu estava com dificuldades para selecionar a piada do ano de 2009, para encerrar o ano com um toque de humor (ou talvez de desespero). Passei semanas tentando selecionar algum evento, processo, discurso que simbolizasse, da melhor forma possível, a coisa mais engraçada que possa ter acontecido em 2009. Foi realmente duro, não porque faltassem exemplos, mas porque, consoante o espírito deste blog, eu precisava encontrar algo que se situasse no âmbito de minhas preocupações cidadãs e intelectuais. Então, tinha de ser uma piada política e relativa às relações internacionais.

Ok, todo mundo sabe, que comemoramos, em 2009, os 20 anos da queda do muro de Berlim. Eu aliás escrevi um trabalho (neste link), no qual recuso o substantivo queda, preferindo em seu lugar o de derrubada. Pois bem, encontrei a minha piada do ano de 2009. Está aqui"

Queda do Muro de Berlim: a piada de 2009 por um jornalista brasileiro (órfão do socialismo, viuvo do marxismo, por sinal)


"Nunca houve socialismo na Alemanha, nem na URSS", diz jornalista que cobriu a queda do muro
Guilherme Balza
Do UOL Notícias
Em São Paulo, 05/11/2009 - 07h00

Transcrevo o início e alguns trechos selecionados desta matéria, onde estão os trechos que considero uma piada (do contrário eu seria obrigado a gozar da cara desse jornalista, o que ainda posso fazer). Quem desejar ler a matéria completa, clique no link acima indicado, na data.
Aliás, o jornalista saudoso do socialismo, e que continua marxista, hoje é professor, contribuindo, portanto, para deformar um pouco mais seus jovens alunos.

"O jornalista José Arbex Jr, 52, era o único brasileiro dentre os mais de 300 correspondentes internacionais que acompanhavam a entrevista coletiva dada por Günter Schabowski, porta-voz do Partido Comunista Alemão, no dia 9 de novembro de 1989, após um congresso que reuniu PCs de toda a Europa."

"Vinte anos após o evento, na avaliação do jornalista, hoje docente no departamento de jornalismo da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), a queda do muro representou o fim do stalinismo, e não do socialismo. Aliás, para Arbex, nunca houve socialismo na Alemanha Oriental, nem na URSS."

"Sempre houve um investimento em transformar Berlim Ocidental em uma vitrine. De um lado [o oriental] havia os Trabant, um carro minúsculo, feio. Do outro lado, várias Mercedes, centros culturais, entre outros. O capitalismo transformou o lado ocidental em uma vitrine, o que despertou uma ilusão na juventude. Vou fazer uma analogia: quando estava em Moscou, em janeiro de 1990, foi inaugurada uma loja do McDonald's em plena praça Vermelha. Milhares de pessoas ficaram uma hora e meia na fila, sob uma temperatura de -20ºC, para comer um lanche. Aquilo era um símbolo."

"A pior contribuição da queda do muro foi desmoralizar uma ideia, uma proposta, que é o socialismo. As pessoas, em geral, ficaram com a ideia que o socialismo fracassou, mas o que elas não sabem é que nunca houve socialismo na Alemanha, nem na URSS. O que havia era um regime autoritário, controlado pelo Estado, com um retórica marxista, socialista, mas sustentado por ditaduras corruptas, partidos únicos, algo que talvez pudéssemos chamar de "capitalismo de Estado"."

"As pessoas acreditaram no capitalismo, mas hoje são um bilhão de famintos. Existe um desejo de o mundo ser transformado, mas a queda do muro e a frustração posterior com os rumos do capitalismo deixaram um legado de desilusão. E isso é a pior coisa que poderia ter acontecido."

"Eu não acho que a esquerda deveria ter defendido o regime da Alemanha Oriental, corrupto, truculento... Eu jamais defenderia um regime desses, mas, por outro lado, querendo ou não, a derrota desse regime acabou sendo a derrota da perspectiva socialista. A imensa maioria da população mundial acha que o socialismo é uma grande porcaria, e isso é uma derrota. Por outro lado, 20 anos depois, está provado que o capitalismo não oferece mais saída. É um sistema que não é capaz de alimentar os seres humanos, que está falido. Nesse sentido a tarefa hoje está mais fácil. O capitalismo conduz à miséria, fome, degradação ambiental, desemprego, recessão... Uma série de dados nos mostram que o capitalismo está num impasse."

PRA: Bem, ao ler estes dois trechos finais da matéria com esse jornalista detrator do capitalismo e saudoso, ou desejoso de um socialismo "verdadeiro", eu só tenho duas atitudes possíveis:
1) Considerá-lo um energúnemo completo, um exemplo de cidadão que, mesmo tendo tido uma experiência direta e conhecido os socialismos reais, não aprendeu absolutamente nada, ou melhor pretende ignorar o mundo real, e continuar a viver de fantasias; nesse sentido, ele pode ser considerado um energúnemo, pois nem ignorante ele é;
2) Considerar que suas colocações constituem a piada do ano de 2009.

Como não pretendo ofender um colega hoje acadêmico -- mas acho que já ofendi -- prefiro a segunda hipótese.

Esta é a minha piada do ano de 2009.

Paulo Roberto de Almeida (28.02.2010)

1776) FSM, dia 2: piada ou falta de alternativas?

Bem, sinceramente não sei como classificar esta entrevista (abaixo) de um dos gurus -- eu nunca o chamaria de intelequitual -- do Forum Social Mundial. Quero dizer, classificar eu sei: na classe das embromações continuadas, of course.
Mas quero dizer que não sei exatamente qual a categoria de embromação: piada ou confissão? Provavelmente nas duas categorias. Vejamos:

1) There is No Alternative
Ele, por um lado confessou que o FSM não tem alternativas e não sabe bem como, qual, enfim, que tipo de "outro mundo possível" oferecer; os altermundialistas sequer conseguem desenhar o contorno. Eis o que esse guru disse, exatamente:
"Agora o Fórum tem de mostrar alternativas", afirma. "A denúncia vale, mas é para mostrar um diagnóstico. A denúncia da crise não foi acompanhada no FSM de Belém por alternativas, quem esteve lá não saiu armado. não quero que tenha uma, quero que tenham várias alternativas.
Inclusive há uma coisa catastrofista: o neoliberalismo acabou. Não é verdade. A crise é oportunidade, mas oportunidade pra eles também. Estamos dando tempo e espaço pra eles se recomporem. Então eu acho que pra ser coerente com esse diagnóstico, que se revelou correto, o Fórum não deve ser apenas diagnóstico e intercâmbio. O fórum tem que ter alternativa. Qual é o Estado que queremos?
"

Portanto, não sou eu que estou dizendo que eles não tem NENHUMA alternativa possível, é o próprio guru do movimento. Dixit!

2) Eis finalmente, a grande alternativa: a Bolívia
Eis o que disse o guru:
O sociólogo cita a Bolívia como exemplo de "outro mundo possível". "Isso o FSM não toma conhecimento. Se não for o que está acontecendo na Bolívia, eu não sei que outro mundo é possível".

OK, OK, então já temos alternativa, mas por outro lado o FSM não consegue definir alternativas, entenderam?
Eu não...
Paulo Roberto de Almeida (27.01.2010)
Bem, fiquem agora com esse horror de entrevista...

Idealizador do Fórum defende papel secundário para ONGs
Jair Stangler, do estadao.com.br, 27.01.2010

Sociólogo Emir Sader acha que organizações deveriam deixar protagonismo para os movimentos sociais
Para Sader, são os movimentos, e não as ONGs, que levam as pessoas para as manifestações

PORTO ALEGRE - O sociólogo Emir Sader, professor aposentado da USP e um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, expôs uma divisão entre os movimentos sociais e as organizações não-governamentais (ONGs). Ele conversou com jornalistas após participar de uma das mesas de discussões na manhã desta terça-feira, 26, em Porto Alegre.

"A particularidade do Fórum é ter movimentos sociais. As ONGs têm papel secundário, que é de ajudar os movimentos sociais a se organizar. Tem que abrir caminho. Mas não. O comitê organizador do FSM, essas pessoas que estão aí desde o início, são de oito
organizações, e seis são ONGs! É tão sem representatividade que tem uma lá que é Abong, Associação Brasileira de ONGs. Usurpam o espaço não havia espaço para os movimentos sociais. Mas agora eu acho que eles deveriam se retirar do primeiro plano e ajudar os movimentos sociais a protagonizarem", afirmou.

Sader disse apreciar a atitude de solidariedade das ONGs, mas criticou a limitação delas ao intercâmbio: "Então acabou o evento e vamos todos pra casa, enriquecidos ou não. Mas a realidade está pedindo outras propostas. Nós podemos estabelecer propostas consensuais, como a regulamentação do capital financeiro, a água como bem público. A vida das ONGs não está ruim, tem financiamento. Mas quantas pessoas as ONGs
levam na marcha?", questiona.
Para ele, essa postura das ONGs acaba limitando a ação do Fórum.
"Agora o Fórum tem de mostrar alternativas", afirma. "A denúncia vale, mas é para mostrar um diagnóstico. A denúncia da crise não foi acompanhada no FSM de Belém por alternativas, quem esteve lá não saiu armado. não quero que tenha uma, quero que tenham várias alternativas.
Inclusive há uma coisa catastrofista: o neoliberalismo acabou. Não é verdade. A crise é oportunidade, mas oportunidade pra eles também. Estamos dando tempo e espaço pra eles se recomporem. Então eu acho que pra ser coerente com esse diagnóstico, que se revelou correto, o Fórum não deve ser apenas diagnóstico e intercâmbio. O fórum tem que ter alternativa. Qual é o Estado que queremos?"

O sociólogo cita a Bolívia como exemplo de "outro mundo possível". "Isso o FSM não toma conhecimento. Se não for o que está acontecendo na Bolívia, eu não sei que outro mundo é possível".

Sader criticou também que o Fórum ainda não tenha criado um canal de comunicação mais eficiente. "Nós não temos uma cadeia de televisão! Pela internet, que seja."

Governo Lula
"Eu preferia que Lula não fosse a Davos", diz Sader. Mas ele vem ao Fórum como o primeiro presidente que está levando a cabo uma política externa independente, um presidente que pela primeira vez reduziu a desigualdade no Brasil. O FHC esteve oito anos lá, com toda a imprensa a favor dele, o queridinho da mídia... Quebrou o País três vezes e tinha uma política externa subalterna aos EUA. O governo Lula em tudo é melhor. Por isso que a oposição não gosta da comparação. Não gostam do filme Lula, façam um filme do FHC..."
Ele classificou ainda como "simplistas" algumas afirmações sobre a preservação do meio ambiente. "Isto deveria estar no centro do Fórum: um modelo de desenvolvimento com sustentabilidade ecológica e social. O governo Lula não é nenhuma maravilha, mas diminui a desigualdade social. A discussão das políticas sociais deveria estar no centro do debate".

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

1775) Von Mises (1938) - A Planned Economy

What Price a Planned Economy?
by Friedrich A. Hayek
Contemporary Review of London, April 1938

I

The link between classical liberalism and present-day Socialism — often still misnamed liberalism — is undoubtedly the belief that the consummation of individual freedom requires relief from the most pressing economic cares. If this seems attainable only at the price of restricting freedom in economic activity, then that price must be paid; and it may be conceded that most of those who want to restrict private initiative in economic life do so in the hope of creating more freedom in spheres which they value higher.

So successfully has the socialist ideal of freedom — social, economic and political been preached that the old cry of the opponents that socialism means slavery has been completely silenced. Probably the great majority of the socialist intellectuals regard themselves as the true upholders of the great tradition of intellectual and cultural liberty against that threatening monster — the authoritarian Leviathan.

Yet here and there, in the writings of some of the more independent minds of our time who have generally welcomed the universal trend toward collectivism, a note of disquiet can be discerned. The question has forced itself upon them whether some of the shocking developments of the past decades may not be the necessary outcome of the tendencies which they had themselves favored.

There are some elements in the present situation which strongly suggest that this may be so, such as the intellectual past of the authoritarian leaders, and the fact that many of the more advanced socialists openly admit that the attainment of their ends is not possible without a thorough curtailment of individual liberty.

We see that the similarity between many of the most characteristic features of the "fascist" and the "communist" regimes becomes steadily more obvious. Nor is it an accident that in the fascist states a socialist is often regarded as a potential recruit, while the liberal of the old school is recognized as the arch-enemy.

(See the complete text in this link)

1774) FSM, dia 2: piadas involuntarias...

Eu já estava mesmo sentindo falta de alguma piada no Forum Social Mundial. Talvez seus participantes estivessem mais contidos, sei lá, com tantas tragédias, aqui e ali.
Mas alguns desses piadistas involuntários do FSM não se esquecem também da necessidade de rir um pouco e não nos deixam sem uma oportunidade para tal.
Vejamos o que eu coletei na imprensa diária:

A esquerda e a crise do capitalismo
Na avaliação de ativistas do movimento altermundista, nem governos nem movimentos populares apresentaram alternativas concretas à ultima crise sistêmica do capital, perdendo uma oportunidade histórica para, de fato, superá-lo. Buscar essas respostas é mais um desafio colocado para o Fórum Social Mundial. Para o venezuelano Edgardo Lander, "o capitalismo, como sistema global, é incompatível com a preservação da vida". Quem quiser discutir superação do capitalismo sem discutir o Estado que queremos estará girando em falso. A resistência eterna é o caminho da derrota", diz Emir Sader.

David Harvey defende transição anti-capitalista
Após a derrocada da União Soviética e dos regimes socialistas do Leste Europeu, e a queda do Muro de Berlim, falar em anti-capitalismo tornou-se proibido. O comunismo fracassou, o capitalismo triunfou e não se fala mais no assunto: essa mensagem cruzou o planeta adquirindo ares de senso comum. Mas os muros do capitalismo seguiram em pé e crescendo. E excluindo, produzindo crises, pobreza, fome, destruição ambiental e guerra. Para David Harvey, o capitalismo entrou em uma fase destrutiva que recoloca a necessidade de se voltar a falar de anti-capitalismo, socialismo e comunismo.

Boletim Carta Maior, 27 de Janeiro de 2010

Retomo (PRA):
1) O venezuelano, por exemplo, acha que "o capitalismo, como sistema global, é incompatível com a preservação da vida".
Puxa vida, tem tanta gente que vive sob o capitalismo e não sabe disso.
A população sob o jugo do capitalismo aumentou muito, inclusive, com a implosão dos socialismos reais, um sistema totalmente compativel com a preservacao da vida, como se pode constatar em Cuba, na Coréia do Norte, e quem sabe até na propria Venezuela...

2) O inglês (ele também pode ser americano, mas é mais fácil achar true believers na Inglaterra) acredita que o capitalismo destruidor precisa novamente ser substituido por sistemas anti-capitalistas, aqueles velhos conhecidos: socialismo, comunismo....
Que gracinha... Ele deve ter hibernado nos últimos 40 ou 50 anos...
Nao o acordem, por favor...

Minha dose de riso diário está completa, por hoje.
Vamos ver o que nos reserva como piada o FSM amanhã...
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Paulo Roberto de Almeida
(27.01.2010)

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...