Um arquivo importante, para saber da vida e da obra dos grandes economistas:
McMaster University
Archive for the History of Economic Thought
http://socserv.mcmaster.ca/econ/ugcm/3ll3/
"This archive is an attempt to collect in one place a large number of significant texts in the history of economic thought. I have tried to cast my nets as wide as possible including representative texts of all of the major thinkers and schools of thought; and most of the sub-fields of economics. The archive is a work in progress that may never be completed. The field of economic thought is a very large one. The texts are posted primarily for the use of students who might not otherwise have access to these writings. They are to be used strictly for non-commercial educational purposes. There are mirror sites at the University of Bristol (maintained by Tony Brewer) and at the University of Melbourne (maintained by Robert Dixon). There are as well, many other sites that might be of interest." - Rod Hay
Rod Hay passed away suddenly on May 18, 2008 at the age of 60. The Department of Economics at McMaster will maintain this site in his memory. Here is a brief commemoration of his life.
List of Authors Included in this Archive
A
Abbott, Edith
Acton, John
Alison, William
Anderson, James
Andréadès, Andreas
Anonymous
Arbuthnot, John
Aristotle
Asgill, John
Ashley, William James
B
Babbage, Charles
Bacon, Francis
Baden-Powell, B. H.
Bagehot, Walter
Baldwin, Simeon
Ballard, Adolphus
Banfield, Thomas C.
Barber, William J.
Barbon, Nicholas
Barbour, W.T.
Barry, Patrick
Bastiat, Frédéric
Beard, Charles
Beccaria, Cesare
Bentham, Jeremy
Berglund, Abraham
Bisschop, W. R.
Blackie, John Stuart
Blake, William
Böhm-Bawerk, Eugen
Bonar, James
Bosanquet, Bernard
Bosanquet, Charles
Bluntschli, Johann
Boisguilbert
Bolingbroke, Henry St. John
Berkeley, George
Botero, Giovanni
Bradley, Harriett
Bray, John F.
Bryce, James
Bücher, Carl
Buckland, William
Burke, Edmund
Bury, John Bagwell
Byles, John Barnard
C
Cairnes, John E.
Cannan, Edwin
Cantillon, Richard
Carey, Henry
Carlyle, R. W.
Carlyle, Thomas
Cassel, Gustav
Chapman, Sydney
Child, Josiah
Clapham, John
Clarendon, Edward
Clark, Alice
Clark, John Bates
Cobbett, William
Coke, Edward
Coke, Roger
Comte, Auguste
Condillac, Étienne Bonnet de
Condorcet
Commons, John Rogers
Cook, William Wilson
Cooley, Charles Horton
Copeland, Melvin
Croce, Benedetto
Cunningham, William
D
Daggett, Stuart
Dalrymple, John
Davanzati, Bernardo
D'Avenant
Davenport, Frances G.
Davies, A. Emil
Davis, Joseph
Davis, John P.
Decker, Matthew
Defoe, Daniel
Dicey, Albert Venn
Digges, Dudley
Dill, Samuel
Dunbar, James
Durkheim, Emile
Dutt, R. C.
E
Edgeworth, Francis Ysidro
Edwards, George W.
Ellis, Thomas Peter
Elton, Charles
Ely, Richard
F
Ferguson, Adam
Ferguson, William Scott
Fetter, Frank Albert
Fichte, J. G.
Figgis, John
Fisher, Irving
Fiske, John
Fortescue, John
Fortrey, Samuel
Frank, Tenney
Freeman, Edward Augustus
Freund, Ernst
Fustel de Coulanges, Denis
G
Galiani, Ferdinando
Gentleman, Tobias
Gervaise, Isaac
Giblin, L.F.
Gierke, Otto
Gilbart, James William
Goddard, Thomas
Godwin, William
Gomme, George Laurence
Gras, Norman
Gray, Howard Levi
Greeley, Horace
Green, T.H.
Gross, Charles
Grotius, Hugo
Gumplowicz, Ludwig
H
Hale, Mathew
Halliday, William R.
Hammonds, J.L. and Barbara
Haney, Lewis H.
Harrington, James
Harrod, Roy
Hasbach, Wilhelm
Haskins, Charles Homer
Haverfield, Francis John
Hazard, Blanche
Hegel, G.W.F
Heitland, William E.
Hemmeon, Morley
Herbert, Claude-Jacques
Higgs, Henry
Hildreth, Richard
Hobbes, Thomas
Hobhouse, L.T.
Hobson, John Atkinson
Hodgskin, Thomas
Holbach
Hollander, Jacob
Hone, Nathaniel J.
Hornick, Philipp
Hourwich, Isaac
Hull, Charles
Hume, David
Hutcheson, Francis
I
Ihering, Rudolf
Ingram, John Kells
J
Jenks, Jeremiah
Jeudwine, J.W.
Jevons, William Stanley
Jocelyn, J.
Jones, Richard
Joplin, Thomas
K
Kant, Immanuel
Kellog, Edward
Kemble, John
Kennett, R. H.
Keynes, John Maynard
Keynes, John Neville
Klein, Julius
Knapp, Georg Friedrich
Knight, Frank
Knoop, Douglas
Korkunov, Nikolai
Kovalevsky, Maxim
Kropotkin, Petr Alekseevich
Kyrk, Hazel
L
Labriola, Antonio
Lapsley, G.T.
Laski, Harold
Laveleye, Emile
Lauderdale
Law, John
Le Bon, Gustave
Letourneau, Charles
Leslie, T.E. Cliffe
Levett, Elizabeth
Levy, Hermann
Lewis, George Randall
Lieber, Francis
Liefmann, Robert
Liesse, André
List, Fredrich
Lloyd, Henry Demarest
Lloyd, William Foster
Locke, John
Loeb, Isador
M
Macaulay, Catharine
Macgregor, D.H.
Macrosty, Henry
Majumdar, Ramesh Chandra
Maine, Henry Sumner
Maitland, Frederic
Malinowski, Bronislaw
Malthus, Thomas Robert
Malynes, Gerard de
Mandeville, Bernard
Marriott, J.A.R.
Marshall, Alfred
Martyn, Henry
Marx, Karl
Mavor, James
McCosh, James
McCulloch, John Ramsey
McDougall, William
McFadden, Daniel
Menger, Carl
Merriam, Charles
Michels, Robert
Mill, James
Mill, John Stuart
Millar, John
Mises, Ludwig
Misselden, Edward
Monroe, Arthur E.
Montague, Gilbert
Montesquieu, Charles de Secondat
Moore, Henry Ludwell
Moore, Margaret F.
Mun, Thomas
Murray, Alice Effie
Murray, James
N
Nasse, Erwin
Newcomb, Simon
Newton, Isaac
Nicholson, John Shield
Niebuhr, Bartold Georg
North, Dudley
North, Roger
O
O'Brien, George
Oman, Charles
Owen, Robert
P
Paine, Tom
Palmer, Neobard
Pantaleoni, Maffeo
Pareto, Vilfredo
Patten, Simon
Petty, William
Phear, John B.
Pigou, Arthur Cecil
Pirenne, Henri
Pollard, A. F.
Poole, Reginald Lane
Power, Eileen
Priestley, Joseph
Proudhon, Pierre-Joseph
Putnam, Bertha
Q
Quesnay, François
R
Rae, John
Ramsey, Frank P.
Ranke, Leopold
Ravenstone, Piercy
Rees, J. Morgan
Renard, Georges
Ricardo, David
Riesser, Jacob
Roberts, Lewes
Robertston, William
Rogers, Thorold
Roscher, William
Rostovtzeff, Mikhail Ivanovich
Round, Horace
Rousseau, Jean-Jacques
Rowntree, B. Seebohm
Ruskin, John
S
Sargent, Arthur John
Say, Jean-Baptiste
Scherer, James
Schmoller, Gustav
Schumpeter, Joseph
Scott, William Robert
Scrutton, Thomas
Sée, Henri
Seebohm, Frederic
Seebohm, Hugh
Selden, John
Seligman, Edwin
Senior, Nassau William
Sidgwick, Henry
Sigel, Feodor Feodorvich
Simmel, Georg
Sismondi, Jean-Charles-Léonard
Small, Albion
Smith, Adam
Smith, Peshine
Smith, J. Toulmin
Sombart, Werner
Spelman, Henry
Spencer, Herbert
Stephen, James
Stephen, Leslie
Steuart, James
Steward, Dugald
Streightoff, Frank
Stubbs, William
Sumner, William Graham
Swift, Jonathan
Syme, David
T
Tait, James
Tarde, Gabriel
Taylor, Frederick W.
Thomson, Robert Ellis
Tooke, Thomas
Torrens, Robert
Tout, Thomas Frederick
Townsend, Joseph
Toynbee, Arnold
Treitschke, Heinrich Gothard
Tucker, Josiah
Turgot, Anne-Robert-Jacques
U
Unwin, George
Ure, Andrew
V
Vanderlint, Jacob
Van Hise, Charles
Vaughan, Rice
Veblen, Thorstein
Vinogradoff, Paul
Von Halle, Ernst
W
Wakefield, Edward Gibbon
Walker, Amasa
Walker, Francis Amasa
Wallas, Graham
Walras, Léon
Ward, Lester
Weber, Max
Wells, David A.
West, Edward
Westerfield, Ray
Whale, P. Barrett
Whewell, William
Whitaker, Albert Conser
Wicksell, Johan Gustaf Knut
Wicksteed, Phillip Henry
Wieser, Fredrich
Williams, John H.
X
Xenophon
Y
Young, Allyn
Young, Arthur
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Acordos de investimento: que falta faz um na Bolívia
No início dos anos 1990, o Brasil assinou diversos acordos de promoção e proteção recíproca de investimentos (APPIs), alguns deles assinados pelo então chanceler de Itamar Franco, que seria também chanceler do presidente "nunca antes".
Pois bem: nunca antes na história deste país, acordos internacionais negociados pelo Executivo sofreram barragem tão explícita, e desonesta intelectualmente, como os APPIs enfrentaram no Congresso nacional, oposição articulada sobretudo pelo PT.
Essa oposição e recusa de acordos de investimento continuou durante todo o governo do "nunca antes", mesmo numa época em que o Brasil já se tinha tornado um grande investidor na América do Sul e esses acordos protegeriam, pelo menos um pouco, nossos ativos e interesses na região (como depois se viu no infeliz caso da nacionalização dos hidrocarburantes na Bolívia, aliás de forma ilegal, mas sem a proteção de um acordo bilateral de investimentos, o que acarretou prejuizos à Petrobras).
A mesma história se repete hoje, no mesmo país, como revela abaixo esta matéria da coluna diária de Cesar Maia.
Infelizes investidores brasileiros: reclamem deste governo que está aí.
Paulo Roberto de Almeida
INVESTIDORES BRASILEIROS NA BOLÍVIA E INSEGURANÇA JURÍDICA!
Cesar Maia, 21/01/2011
1. Empresários brasileiros na Bolívia -em Santa Cruz de La Sierra- têm três linhas de investimentos. Na soja, cujo capital investido (seus ativos) já alcança 1 bilhão de dólares. Exportam soja e óleo de soja. E é soja orgânica. Na pecuária, em gado nelore principalmente. E, finalmente, em mineração.
2. A complexa legislação boliviana termina criando um quadro de insegurança jurídica. Nos últimos meses, com o diesel (usado no refino de cocaína) sendo contingenciado, as compras para tratores, máquinas e caminhões passaram a servir de pretexto para constranger os produtores.
3. As mineradoras nas regiões próximas a fronteira com o Brasil tiveram suas atividades suspensas até nova ordem, acarretando desemprego e imobilização dos investimentos. Um investimento de 80 milhões de dólares em forno, do empresário Eike Batista, foi bloqueado por concorrente. Agora, o governo e o concorrente querem comprar por 5 milhões de dólares.
4. O regime de tributação do Brasil para empresários brasileiros no exterior não leva em conta a tributação já ocorrida na Bolívia. Com isso, as aplicações financeiras dos empresários brasileiros têm que ser feitas nos EUA e não no Brasil, como preferem.
5. Já está na hora das autoridades brasileiras se reunirem com os empresários brasileiros que vivem na Bolívia e depois com o governo boliviano, para dar segurança jurídica aos investidores. E a comissão de relações exteriores de senado se aproximar do problema. E o ministério da agricultura se aprofundar em questão tão delicada.
Pois bem: nunca antes na história deste país, acordos internacionais negociados pelo Executivo sofreram barragem tão explícita, e desonesta intelectualmente, como os APPIs enfrentaram no Congresso nacional, oposição articulada sobretudo pelo PT.
Essa oposição e recusa de acordos de investimento continuou durante todo o governo do "nunca antes", mesmo numa época em que o Brasil já se tinha tornado um grande investidor na América do Sul e esses acordos protegeriam, pelo menos um pouco, nossos ativos e interesses na região (como depois se viu no infeliz caso da nacionalização dos hidrocarburantes na Bolívia, aliás de forma ilegal, mas sem a proteção de um acordo bilateral de investimentos, o que acarretou prejuizos à Petrobras).
A mesma história se repete hoje, no mesmo país, como revela abaixo esta matéria da coluna diária de Cesar Maia.
Infelizes investidores brasileiros: reclamem deste governo que está aí.
Paulo Roberto de Almeida
INVESTIDORES BRASILEIROS NA BOLÍVIA E INSEGURANÇA JURÍDICA!
Cesar Maia, 21/01/2011
1. Empresários brasileiros na Bolívia -em Santa Cruz de La Sierra- têm três linhas de investimentos. Na soja, cujo capital investido (seus ativos) já alcança 1 bilhão de dólares. Exportam soja e óleo de soja. E é soja orgânica. Na pecuária, em gado nelore principalmente. E, finalmente, em mineração.
2. A complexa legislação boliviana termina criando um quadro de insegurança jurídica. Nos últimos meses, com o diesel (usado no refino de cocaína) sendo contingenciado, as compras para tratores, máquinas e caminhões passaram a servir de pretexto para constranger os produtores.
3. As mineradoras nas regiões próximas a fronteira com o Brasil tiveram suas atividades suspensas até nova ordem, acarretando desemprego e imobilização dos investimentos. Um investimento de 80 milhões de dólares em forno, do empresário Eike Batista, foi bloqueado por concorrente. Agora, o governo e o concorrente querem comprar por 5 milhões de dólares.
4. O regime de tributação do Brasil para empresários brasileiros no exterior não leva em conta a tributação já ocorrida na Bolívia. Com isso, as aplicações financeiras dos empresários brasileiros têm que ser feitas nos EUA e não no Brasil, como preferem.
5. Já está na hora das autoridades brasileiras se reunirem com os empresários brasileiros que vivem na Bolívia e depois com o governo boliviano, para dar segurança jurídica aos investidores. E a comissão de relações exteriores de senado se aproximar do problema. E o ministério da agricultura se aprofundar em questão tão delicada.
Da pouca nobre arte de matar pessoas pela incompetencia...
O título do post é meu, mas apenas o título. Todo o resto é matéria de imprensa.
Sem comentários. E precisa?
Paulo Roberto de Almeida
Sob Lula, governo vetou plano anti-desastres no PAC
Blog Josias de Souza, 21/01/2011
Ainda sob a presidência de Lula, o governo elaborou um plano de prevenção contra desastres naturais. Pronto há dois anos, ficou no papel.
Previa a instalação de radares capazes de antever fenômenos climáticos como o excesso de chuvas que produziu mais de 760 mortos na região serrana do Rio.
Orçado em R$ 115 milhões o projeto seria incluído no PAC. Não foi. Tentou-se injetá-lo no PAC2. Mas o ministro Paulo Bernardo, então no Planejamento, vetou.
As informações foram repassadas, nesta quinta (20), a uma comissão do Congresso. Revelou-as Luiz Antonio Barreto (na foto lá do alto).
Ele comanda a Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Demissionário, Luiz Barreto será substituído por Carlos Nobre, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
A saída iminente como que destravou a língua do expositor. Ele contou que, depois de refugado pelos gestores do PAC, o plano anti-desastres foi lipoaspirado.
Sérgio Rezende, então ministro da Ciência e Tecnologia, pediu que Luiz Barreto incluísse o novo sistema num programa do próprio ministério.
Chama-se PCTI (Plano de Ação da Ciência, Tecnologia e Inovação). Em agosto do ano passado, criou-se um grupo de trabalho.
Mexe daqui, revisa dali os técnicos reduziram o investimento de R$ 115 milhões para R$ 36 milhões. Ainda assim, o governo não liberou a verba.
Falando a congressistas que interromperam o recesso para tratar das cheias do Rio, Luiz Barreto declarou-se “indignado” com o ocorrido.
Em tom assertivo, disse que, mesmo com o gasto mais modesto, o sistema de radares terá potencial para evitar a repetição da usina de cadáveres do Rio.
“Se nós gastarmos adequadamente R$ 36 milhões ao longo deste ano, não morre ninguém no ano que vem”, disse.
Luiz Barreto elogiou o substituto Carlos Nobre, escolhido por Aloizio Mercadante, novo ministro da Ciência e Tecnologia.
De resto, disse acreditar que o plano será desengavetado: “A solução existe, não custa um rio de dinheiro e está em boas mãos”.
O mais curioso é que, acossado pelos desastres que pipocaram em vários Estados, o governo viu-se compelido a liberar R$ 780 milhões para socorrer as vítimas.
Mais do que os R$ 115 milhões que seriam sorvidos pelo plano de prevenção de desastres. Muito mais do que os R$ 36 milhões da versão lipoaspirada.
Sem comentários. E precisa?
Paulo Roberto de Almeida
Sob Lula, governo vetou plano anti-desastres no PAC
Blog Josias de Souza, 21/01/2011
Ainda sob a presidência de Lula, o governo elaborou um plano de prevenção contra desastres naturais. Pronto há dois anos, ficou no papel.
Previa a instalação de radares capazes de antever fenômenos climáticos como o excesso de chuvas que produziu mais de 760 mortos na região serrana do Rio.
Orçado em R$ 115 milhões o projeto seria incluído no PAC. Não foi. Tentou-se injetá-lo no PAC2. Mas o ministro Paulo Bernardo, então no Planejamento, vetou.
As informações foram repassadas, nesta quinta (20), a uma comissão do Congresso. Revelou-as Luiz Antonio Barreto (na foto lá do alto).
Ele comanda a Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Demissionário, Luiz Barreto será substituído por Carlos Nobre, pesquisador do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
A saída iminente como que destravou a língua do expositor. Ele contou que, depois de refugado pelos gestores do PAC, o plano anti-desastres foi lipoaspirado.
Sérgio Rezende, então ministro da Ciência e Tecnologia, pediu que Luiz Barreto incluísse o novo sistema num programa do próprio ministério.
Chama-se PCTI (Plano de Ação da Ciência, Tecnologia e Inovação). Em agosto do ano passado, criou-se um grupo de trabalho.
Mexe daqui, revisa dali os técnicos reduziram o investimento de R$ 115 milhões para R$ 36 milhões. Ainda assim, o governo não liberou a verba.
Falando a congressistas que interromperam o recesso para tratar das cheias do Rio, Luiz Barreto declarou-se “indignado” com o ocorrido.
Em tom assertivo, disse que, mesmo com o gasto mais modesto, o sistema de radares terá potencial para evitar a repetição da usina de cadáveres do Rio.
“Se nós gastarmos adequadamente R$ 36 milhões ao longo deste ano, não morre ninguém no ano que vem”, disse.
Luiz Barreto elogiou o substituto Carlos Nobre, escolhido por Aloizio Mercadante, novo ministro da Ciência e Tecnologia.
De resto, disse acreditar que o plano será desengavetado: “A solução existe, não custa um rio de dinheiro e está em boas mãos”.
O mais curioso é que, acossado pelos desastres que pipocaram em vários Estados, o governo viu-se compelido a liberar R$ 780 milhões para socorrer as vítimas.
Mais do que os R$ 115 milhões que seriam sorvidos pelo plano de prevenção de desastres. Muito mais do que os R$ 36 milhões da versão lipoaspirada.
A Grande Transformacao - Kemal Dervis
Kemal Dervis, économiste de la Brookings Institution, à Washington
"Comment redistribuer la nouvelle richesse ?"
Bilan du Monde, 20.01.2011
Dans un entretien accordé au Bilan du monde (en vente en kiosques depuis le 17 janvier), l'économiste Kemal Dervis explique que le rattrapage de l'Occident par les pays émergents est un fait acquis. Mais ce basculement de l'histoire laisse entier le problème des inégalités entre les nations, comme en leur sein.
Les économistes se disputent pour savoir si la bonne santé économique des pays du Sud est encore liée à celle des pays du Nord, ou s’ils ont acquis une dynamique propre qui signifierait, à terme, le déclin de la domination économique occidentale au profit des nouvelles nations émergentes. Quelle est votre opinion ?
Kemal Dervis : En termes de produit intérieur brut (PIB), il y a bien une convergence entre pays avancés et émergents depuis la fin des années 1980 : ces derniers croissent plus vite que les premiers. Mais cela ne devient globalement le cas, en PIB par tête, qu’à partir de 1999, une fois passée la crise asiatique de 1997.
Cette convergence s’accélère à partir de 2008, parce que la crise touche d’abord et plus fortement les pays avancés ; et elle devrait encore s’accélérer dans les cinq années à venir, si l’on en croit les prévisions du Fonds monétaire international, en PIB comme en PIB par tête.
C’est donc une tendance durable et inédite, et non une période intermédiaire, en attendant un rebond spectaculaire des pays avancés ou un ralentissement marqué de la croissance des pays émergents. Nous sommes bel et bien entrés dans une nouvelle ère historique.
Pourtant, les pays émergents aussi ont vu leurs performances érodées par la crise, tout comme les pays avancés.
Certes, mais le découplage concerne les tendances structurelles de la croissance, et non les cycles économiques de court terme. Si l’on élimine les effets de ces cycles des tendances longues, il s’avère que le découplage des taux de croissance intervient dès les années 1980 pour les pays d’Asie de l’Est et du Sud-Est, et à partir de 2000 pour l’ensemble des pays émergents comme pour les pays les moins avancés (PMA, les plus pauvres de la planète). Il y a aussi une plus forte corrélation entre les émergents et les PMA qu’entre les émergents et les pays riches.
A l’inverse, si l’on ne considère que les évolutions cycliques, alors, le couplage demeure, en raison de l’interdépendance croissante entre les économies de la planète, due à la progression des échanges et des flux financiers mais aussi aux facteurs psychologiques : la panique financière, tout comme l’exubérance, est contagieuse.
Comment expliquez-vous cette convergence ?
La technologie travaille désormais en faveur de la convergence, parce que les transferts de technologies sont de plus en plus rapides. La mondialisation a accéléré le rattrapage technologique de beaucoup de pays émergents.
De plus, surtout en Asie, le taux d’épargne y est beaucoup plus élevé que dans les vieilles économies du Nord. Cela leur permet d’investir beaucoup plus, d’importer les technologies à grande échelle et de réaliser des gains de productivité impressionnants. Au cours des dix dernières années, la part de PIB consacrée aux investissements par les pays de l’Asie émergente s’est élevée à 37% en moyenne, contre 20% à 22% dans les autres pays émergents et 18% seulement dans les pays avancés. Ces augmentations de productivité liée à l’investissement et à l’adaptation de technologies importées se développent aussi à l’intérieur d’un même pays, entre les régions, voire entre les entreprises.
Les réserves de productivité demeurent encore très importantes, même en Chine, parce qu’il reste beaucoup de régions et d’entreprises qui pourront suivre l’exemple des régions et des entreprises les plus avancées. Les facteurs démographiques sont aussi un avantage important. Sauf en Chine, la population est plus jeune que dans les pays avancés, et un pourcentage plus élevé de la population peut donc être économiquement actif.
Cela signifie-t-il un déclin des économies occidentales ?
Non, les pays avancés ne vont pas s’appauvrir, mais ils croîtront moins vite, et il sera difficile pour leurs populations, psychologiquement et politiquement, de voir le PIB par tête augmenter trois fois plus vite dans d’autres pays, même si leur niveau de vie moyen restera plus que trois fois supérieur.
Pour la première fois depuis des siècles, les plus grandes puissances économiques mondiales ne seront plus, dans dix ou vingt ans, celles qui auront le plus haut niveau de vie moyen. Cela ne manquera pas de créer des tensions majeures dans l’ordre économique international. Le mouvement du G7 vers le G20 reflète le début de ce rééquilibrage.
Existe-t-il un lien entre ce basculement de la création de richesses et l’accroissement du chômage et des inégalités dans les pays avancés ?
Oui, car l’accélération des échanges entraîne une compétition sur le travail par la baisse des coûts, ce qui engendre des délocalisations et restructurations qui contribuent souvent à une concentration des revenus au sein des économies nationales.
Les nouvelles économies d’échelle et la mondialisation sont plus favorables au capital et au travail qualifié, plus mobiles que le travail peu qualifié. La croissance des inégalités, non seulement au sein des pays avancés, mais aussi dans beaucoup des pays émergents, est le facteur le plus préoccupant de cette nouvelle donne.
Mais il existe des moyens politiques d’y remédier. Après tout, les mêmes forces de la mondialisation et de la diffusion technologique ont touché également l’Europe et les Etats-Unis ; pourtant, la distribution des revenus y est sensiblement différente, surtout avec les pays scandinaves, parce que d’autres aspects entrent en jeu : les institutions, les rapports de forces politiques et sociaux, la façon dont les politiques publiques sont capturées ou pas par des intérêts économiques privés.
Certains économistes "intégristes" du marché sous-estiment l’importance de la politique et de la négociation sociale dans la détermination de la distribution des revenus. Du côté des émergents, on peut également lutter pour une meilleure redistribution : regardez l’exemple du Brésil de Lula qui a réussi à faire baisser les inégalités, bien qu’elles y demeurent élevées !
Mais le rythme de croissance actuel des pays émergents est-il soutenable ?
Beaucoup de variables sont difficiles à prédire. Mais je pense qu’à moyen terme, sur les dix ou vingt prochaines années, les grandes tendances que j’ai évoquées plus haut sont assez claires, bien que, dans chaque pays, des circonstances particulières peuvent freiner ou accélérer le mouvement. La gestion politique de l’équilibre social va jouer un rôle important. Sur le plus long terme, je ne pense pas que, même à l’horizon de la seconde moitié du XXIe siècle, il y aura nécessairement une pénurie de ressources naturelles qui bloquerait la croissance.
Mais nous aurons besoin de technologies révolutionnaires pour protéger le climat et économiser certaines ressources limitées. Et ces technologies ne pourront se développer à temps que si les politiques économiques encouragent leur développement, ainsi que des comportements respectueux de l’écologie de notre planète.
La croissance économique est-elle le seul indicateur à considérer ?
Bien sûr que non, même s’il est important.
Les pays qui ont connu la plus forte croissance de leur revenu national sur la période 1970-2010, par exemple la Chine, ne sont pas forcément ceux qui ont connu la plus forte croissance de leur indicateur de développement humain (IDH, qui inclut des données sur l’espérance de vie, le niveau d’éducation…), comme Oman ou le Népal.
Par ailleurs, le PIB moyen par tête masque souvent une inégalité croissante des revenus à l’intérieur d’un même pays, voire un appauvrissement des groupes les plus vulnérables, souvent lié a l’insuffisance de ce que l’Organisation internationale du travail appelle le "travail décent". Ce qui pose une fois de plus la question de la répartition de cette nouvelle richesse et de la gestion de l’équilibre social. Et cette question n’est pas seulement économique, elle est aussi politique.
Propos recueillis par Antoine Reverchon
"Bilan du monde" 2011. La situation économique internationale. Le Monde, 188 pages, en vente en kiosques 9,95 euros.
Un théoricien et un praticien de l'économie globalisée
Kemal Dervis a rejoint, en mars 2009, la Brookings Institution, un think tank proche du Parti démocrate basé à Washington, où il est vice-président et directeur du "Global Economy and Development Program".
Né en 1949 à Istanbul, d’un père turc et d’une mère germano-néerlandaise, Kemal Dervis a étudié à la London School of Economics et à Princeton.
En 1977, il rejoint la Banque mondiale, où il occupe diverses fonctions jusqu’en 2001, et y gère, en particulier, les programmes de réduction de la pauvreté.
En mars 2001, il est nommé ministre de l’économie dans le gouvernement turc de Bülent Ecevit, où il devra affronter les effets locaux de la crise économique mondiale. Il démissionne en 2002.
En 2005, il prend la direction du Programme des Nations unies pour le développement (PNUD).
Kemal Dervis a notamment publié, avec Ceren Ozer, A Better Globalization : Legitimacy, Governance and Reform (Brookings Institution, 2008).
Le "Bilan du monde"
Le Bilan du monde 2011, édité par Le Monde, en vente en kiosques depuis le 17 janvier, dresse un panorama de la situation économique internationale au cours de l'année écoulée. Une partie thématique analyse les faits marquants de 2010 – la Chine superpuissance, l'euro en crise, le tournant de la rigueur, la peur du déclassement, la guerre des monnaies, etc. – rassemblés dans trois grands chapitres (International, France, Entreprises) et illustrés par une série de portraits (Zhou Xiaochuan, Xavier Musca, Marius Kloppers).
Les journalistes et correspondants du Monde ont été mis à contribution pour le traditionnel "Atlas" de 179 pays, de l'Afghanistan au Zimbabwe. Chaque fiche-pays est accompagnée d'une carte qu'accompagnent des données de base (chef de l'Etat, premier ministre, superficie, population, monnaie, etc.). Des encadrés traitent plus particulièrement des paradis fiscaux, du Kosovo (pas encore reconnu par les Nations unies) ou de la Palestine.
Ce Bilan du monde, enfin, contient un CD-Rom réalisé par Le Monde, en partenariat exclusif avec l'Insee, sur "Les revenus et le patrimoine des ménages".
Bilan du monde 2011, 188 pages, en vente en kiosques 9,95 euros.
"Comment redistribuer la nouvelle richesse ?"
Bilan du Monde, 20.01.2011
Dans un entretien accordé au Bilan du monde (en vente en kiosques depuis le 17 janvier), l'économiste Kemal Dervis explique que le rattrapage de l'Occident par les pays émergents est un fait acquis. Mais ce basculement de l'histoire laisse entier le problème des inégalités entre les nations, comme en leur sein.
Les économistes se disputent pour savoir si la bonne santé économique des pays du Sud est encore liée à celle des pays du Nord, ou s’ils ont acquis une dynamique propre qui signifierait, à terme, le déclin de la domination économique occidentale au profit des nouvelles nations émergentes. Quelle est votre opinion ?
Kemal Dervis : En termes de produit intérieur brut (PIB), il y a bien une convergence entre pays avancés et émergents depuis la fin des années 1980 : ces derniers croissent plus vite que les premiers. Mais cela ne devient globalement le cas, en PIB par tête, qu’à partir de 1999, une fois passée la crise asiatique de 1997.
Cette convergence s’accélère à partir de 2008, parce que la crise touche d’abord et plus fortement les pays avancés ; et elle devrait encore s’accélérer dans les cinq années à venir, si l’on en croit les prévisions du Fonds monétaire international, en PIB comme en PIB par tête.
C’est donc une tendance durable et inédite, et non une période intermédiaire, en attendant un rebond spectaculaire des pays avancés ou un ralentissement marqué de la croissance des pays émergents. Nous sommes bel et bien entrés dans une nouvelle ère historique.
Pourtant, les pays émergents aussi ont vu leurs performances érodées par la crise, tout comme les pays avancés.
Certes, mais le découplage concerne les tendances structurelles de la croissance, et non les cycles économiques de court terme. Si l’on élimine les effets de ces cycles des tendances longues, il s’avère que le découplage des taux de croissance intervient dès les années 1980 pour les pays d’Asie de l’Est et du Sud-Est, et à partir de 2000 pour l’ensemble des pays émergents comme pour les pays les moins avancés (PMA, les plus pauvres de la planète). Il y a aussi une plus forte corrélation entre les émergents et les PMA qu’entre les émergents et les pays riches.
A l’inverse, si l’on ne considère que les évolutions cycliques, alors, le couplage demeure, en raison de l’interdépendance croissante entre les économies de la planète, due à la progression des échanges et des flux financiers mais aussi aux facteurs psychologiques : la panique financière, tout comme l’exubérance, est contagieuse.
Comment expliquez-vous cette convergence ?
La technologie travaille désormais en faveur de la convergence, parce que les transferts de technologies sont de plus en plus rapides. La mondialisation a accéléré le rattrapage technologique de beaucoup de pays émergents.
De plus, surtout en Asie, le taux d’épargne y est beaucoup plus élevé que dans les vieilles économies du Nord. Cela leur permet d’investir beaucoup plus, d’importer les technologies à grande échelle et de réaliser des gains de productivité impressionnants. Au cours des dix dernières années, la part de PIB consacrée aux investissements par les pays de l’Asie émergente s’est élevée à 37% en moyenne, contre 20% à 22% dans les autres pays émergents et 18% seulement dans les pays avancés. Ces augmentations de productivité liée à l’investissement et à l’adaptation de technologies importées se développent aussi à l’intérieur d’un même pays, entre les régions, voire entre les entreprises.
Les réserves de productivité demeurent encore très importantes, même en Chine, parce qu’il reste beaucoup de régions et d’entreprises qui pourront suivre l’exemple des régions et des entreprises les plus avancées. Les facteurs démographiques sont aussi un avantage important. Sauf en Chine, la population est plus jeune que dans les pays avancés, et un pourcentage plus élevé de la population peut donc être économiquement actif.
Cela signifie-t-il un déclin des économies occidentales ?
Non, les pays avancés ne vont pas s’appauvrir, mais ils croîtront moins vite, et il sera difficile pour leurs populations, psychologiquement et politiquement, de voir le PIB par tête augmenter trois fois plus vite dans d’autres pays, même si leur niveau de vie moyen restera plus que trois fois supérieur.
Pour la première fois depuis des siècles, les plus grandes puissances économiques mondiales ne seront plus, dans dix ou vingt ans, celles qui auront le plus haut niveau de vie moyen. Cela ne manquera pas de créer des tensions majeures dans l’ordre économique international. Le mouvement du G7 vers le G20 reflète le début de ce rééquilibrage.
Existe-t-il un lien entre ce basculement de la création de richesses et l’accroissement du chômage et des inégalités dans les pays avancés ?
Oui, car l’accélération des échanges entraîne une compétition sur le travail par la baisse des coûts, ce qui engendre des délocalisations et restructurations qui contribuent souvent à une concentration des revenus au sein des économies nationales.
Les nouvelles économies d’échelle et la mondialisation sont plus favorables au capital et au travail qualifié, plus mobiles que le travail peu qualifié. La croissance des inégalités, non seulement au sein des pays avancés, mais aussi dans beaucoup des pays émergents, est le facteur le plus préoccupant de cette nouvelle donne.
Mais il existe des moyens politiques d’y remédier. Après tout, les mêmes forces de la mondialisation et de la diffusion technologique ont touché également l’Europe et les Etats-Unis ; pourtant, la distribution des revenus y est sensiblement différente, surtout avec les pays scandinaves, parce que d’autres aspects entrent en jeu : les institutions, les rapports de forces politiques et sociaux, la façon dont les politiques publiques sont capturées ou pas par des intérêts économiques privés.
Certains économistes "intégristes" du marché sous-estiment l’importance de la politique et de la négociation sociale dans la détermination de la distribution des revenus. Du côté des émergents, on peut également lutter pour une meilleure redistribution : regardez l’exemple du Brésil de Lula qui a réussi à faire baisser les inégalités, bien qu’elles y demeurent élevées !
Mais le rythme de croissance actuel des pays émergents est-il soutenable ?
Beaucoup de variables sont difficiles à prédire. Mais je pense qu’à moyen terme, sur les dix ou vingt prochaines années, les grandes tendances que j’ai évoquées plus haut sont assez claires, bien que, dans chaque pays, des circonstances particulières peuvent freiner ou accélérer le mouvement. La gestion politique de l’équilibre social va jouer un rôle important. Sur le plus long terme, je ne pense pas que, même à l’horizon de la seconde moitié du XXIe siècle, il y aura nécessairement une pénurie de ressources naturelles qui bloquerait la croissance.
Mais nous aurons besoin de technologies révolutionnaires pour protéger le climat et économiser certaines ressources limitées. Et ces technologies ne pourront se développer à temps que si les politiques économiques encouragent leur développement, ainsi que des comportements respectueux de l’écologie de notre planète.
La croissance économique est-elle le seul indicateur à considérer ?
Bien sûr que non, même s’il est important.
Les pays qui ont connu la plus forte croissance de leur revenu national sur la période 1970-2010, par exemple la Chine, ne sont pas forcément ceux qui ont connu la plus forte croissance de leur indicateur de développement humain (IDH, qui inclut des données sur l’espérance de vie, le niveau d’éducation…), comme Oman ou le Népal.
Par ailleurs, le PIB moyen par tête masque souvent une inégalité croissante des revenus à l’intérieur d’un même pays, voire un appauvrissement des groupes les plus vulnérables, souvent lié a l’insuffisance de ce que l’Organisation internationale du travail appelle le "travail décent". Ce qui pose une fois de plus la question de la répartition de cette nouvelle richesse et de la gestion de l’équilibre social. Et cette question n’est pas seulement économique, elle est aussi politique.
Propos recueillis par Antoine Reverchon
"Bilan du monde" 2011. La situation économique internationale. Le Monde, 188 pages, en vente en kiosques 9,95 euros.
Un théoricien et un praticien de l'économie globalisée
Kemal Dervis a rejoint, en mars 2009, la Brookings Institution, un think tank proche du Parti démocrate basé à Washington, où il est vice-président et directeur du "Global Economy and Development Program".
Né en 1949 à Istanbul, d’un père turc et d’une mère germano-néerlandaise, Kemal Dervis a étudié à la London School of Economics et à Princeton.
En 1977, il rejoint la Banque mondiale, où il occupe diverses fonctions jusqu’en 2001, et y gère, en particulier, les programmes de réduction de la pauvreté.
En mars 2001, il est nommé ministre de l’économie dans le gouvernement turc de Bülent Ecevit, où il devra affronter les effets locaux de la crise économique mondiale. Il démissionne en 2002.
En 2005, il prend la direction du Programme des Nations unies pour le développement (PNUD).
Kemal Dervis a notamment publié, avec Ceren Ozer, A Better Globalization : Legitimacy, Governance and Reform (Brookings Institution, 2008).
Le "Bilan du monde"
Le Bilan du monde 2011, édité par Le Monde, en vente en kiosques depuis le 17 janvier, dresse un panorama de la situation économique internationale au cours de l'année écoulée. Une partie thématique analyse les faits marquants de 2010 – la Chine superpuissance, l'euro en crise, le tournant de la rigueur, la peur du déclassement, la guerre des monnaies, etc. – rassemblés dans trois grands chapitres (International, France, Entreprises) et illustrés par une série de portraits (Zhou Xiaochuan, Xavier Musca, Marius Kloppers).
Les journalistes et correspondants du Monde ont été mis à contribution pour le traditionnel "Atlas" de 179 pays, de l'Afghanistan au Zimbabwe. Chaque fiche-pays est accompagnée d'une carte qu'accompagnent des données de base (chef de l'Etat, premier ministre, superficie, population, monnaie, etc.). Des encadrés traitent plus particulièrement des paradis fiscaux, du Kosovo (pas encore reconnu par les Nations unies) ou de la Palestine.
Ce Bilan du monde, enfin, contient un CD-Rom réalisé par Le Monde, en partenariat exclusif avec l'Insee, sur "Les revenus et le patrimoine des ménages".
Bilan du monde 2011, 188 pages, en vente en kiosques 9,95 euros.
Anjos da guarda: virtuais e reais - Paulo R de Almeida
Anjo da Guarda: consiga o seu (virtualmente é mais fácil)
Paulo Roberto de Almeida
Antigamente era aquela dificuldade: a gente precisava disputar o “nosso” anjo da guarda quase no muque, contra a concorrência de outros pretendentes, por vezes um próprio irmão. De fato, todas as nossas avós (enfim, duas, no máximo), tias idosas, até as nossas mães nos instruíam a observar um comportamento exemplar para ter direito a um anjo da guarda particular, algo como um seguro extra em caso de necessidades extremas. Era um problema cumprir esses requisitos estritos, com tanta oportunidade para se fazer bobagens na rua, na ida e na volta da escola, na corrida à padaria para comprar pão e leite, enfim, em qualquer momento e lugar: pular muro para roubar goiaba, esconder uma bola – qualquer bola – de algum menino rico que andasse correndo solta pelas esquinas, tentar praticar algum voyeurismo ocasional...
As promessas de se conseguir um, exclusivo, eram reforçadas em ocasiões especiais: Natal, Paixão de Cristo, Ascensão, até nos momentos de crisma, lava-pés ou qualquer outra festa religiosa. Sempre pairava a promessa e a ameaça: “comporte-se direito, menino, pois o seu anjo da guarda está de olho em você!”. Ops: então, mesmo sem merecer, a gente tinha um alcaguete olhando por cima do ombro da gente, penetrando em nossos cérebros maléficos, desvendando nossas mais soturnas intenções? Mas, se eu justamente não tinha sido comportado a ponto de merecer esse acompanhante gentil, bonzinho, sempre sorridente com seu ar angelical, como é que, assim de repente, ele aparece sem avisar?
Enfim, não me perguntem os detalhes, mas o anjo da guarda era um personagem importante antes das primeiras desilusões religiosas, aí por volta dos doze ou catorze anos, quando a gente recusava toda aquela mitologia cristã e, os menos “alienados”, passávamos a cultuar outros “santos”: Marx, Lênin, Guevara, alguns até o Stalin ou o Mao (tem gosto para tudo...). Os que continuavam aderindo, porém, à liturgia cristã, ainda “guardavam” os seus anjos da guarda particulares, mas estes eram em número cada vez mais escasso, uma raridade ao alcance exclusivo dos mais bem comportados e certinhos. Aparentemente tinha as suas vantagens, pois sempre se podia invocar o personagem com asinhas caso algum perigo rondasse o navegante mais distraído. Em época de exames, também podia ser providencial.
Depois, muito depois – e tem regime militar no meio, redemocratização, hiperinflação, corrupção, enfim problemas velhos e novos – os anjos da guarda saíram de moda, o que pode ser considerado realmente uma pena: eles nunca fizeram mal a ninguém, e estavam sempre disponíveis para ouvir uma súplica. Não se tem certeza de que eles “funcionassem” de fato, mas sempre dava aquela segurança psicológica que não era mais garantida pela família, doravante fragmentada e instável. Chato ter de enfrentar algum desafio qualquer, sem ter um confidente particular e um apoio de tipo espiritual em caso de necessidade. Estávamos irremediavelmente sós, em um mundo hostil...
Pena mesmo, inclusive porque não se tratava de requerer dos anjos da guarda mais do que eles podiam oferecer, num mundo definitivamente secularizado e quase ateu. Os anjos do final do século 20, já não tinham mais o mesmo papel que desempenharam no passado: anunciar grandes mudanças, aparições divinas, libertação dos oprimidos, expulsão do Paraíso ou mesmo, em alguns casos, algumas catástrofes anunciadas de antemão por profetas tidos por malucos. O anjo da anunciação ou, seu contraparte, o anjo vingador combinam com os quadros antigos, um pouco menos com os modernos. No século 20, sem que tal fato tenha a ver com o “Exército da Salvação”, ocorreu uma proliferação de anjos da guarda, protetores das crianças e dos desvalidos, eventualmente de alguns bêbados. Por vezes, como nos desenhos de Walt Disney, eles apareciam em dupla: um anjinho com lira e coroa, de um lado, um diabinho vermelho com sua cauda em ponta de flecha, do outro.
Aparentemente, nos tempos antigos, todo mundo podia aspirar a ter o seu anjo da guarda particular e mesmo, para os crentes de hoje, a promessa não arrefeceu. Enfim, sempre tem gente que não merece. Esse pessoal do “caixa 2” dos partidos políticos, por exemplo, eles certamente devem ter vários, pois nunca vão para a cadeia, mas sinceramente eles não mereciam essa distinção. Cegos e estropiados em geral poderiam ficar com uma quota extra, alocando-se a eles os que retiraríamos desses bandidos dos “recursos não contabilizados”.
De minha parte, deixei de acreditar em anjos muito cedo, mas confesso que uma volta atrás não seria de todo mau, pois que acreditar em sua existência não implicaria, necessariamente, a (re)adesão a uma religião em particular, pois os anjos, como qualquer fenômeno de marketing, prescindem de alguma mensagem espiritual mais elevada. A prova é dada pelo próprio Natal, cada vez menos um festa religiosa, cada vez mais uma festa tout court, com o lado dos presentes e das comilanças suplantando o espírito da natividade e dos valores cristãos.
O que eu esperaria de meu anjo, se ele se materializasse, assim de repente, na minha frente? Deixo de lado o gênero, para não ser acusado de qualquer perversão, e passo imediatamente às qualidades angelicais que imagino possam estar registradas em sua carteira de trabalho. Em primeiro lugar, ele deveria ter olhos vivos e brilhantes e sorriso sempre à mostra, o que significa um bom começo, para empatia recíproca. Depois, eu faria um pequeno teste de conhecimento histórico, para ver se o “meu” anjo conhece seus antecedentes bíblicos e suas várias encarnações ao longo dos tempos. Não sou nada religioso, mas tenho grande respeito pelas religiões e acho que a cultura religiosa é indispensável a qualquer cidadão que se pretenda humanista e iluminista (pode ser uma contradictio in adjecto, mas prefiro assim do que um anjo sem cultura religiosa, pois aí, sim, que seria uma contradição).
Em terceiro lugar, ele precisaria vir animado de uma forte disposição para aguentar discussões filosóficas, debates teóricos, conversas bizantinas (ma non troppo), tertúlias acadêmicas e outros embates intelectuais, com eventuais notas de rodapés e referências bibliográficas acompanhando as legendas ou os “balõenzinhos” de nossas conversas (sim, a cenografia é importante, pois anjos verdadeiros não vivem fora dos cenários adequados: ninguém imagina, por exemplo, um anjo numa mesa de botequim, embora isso não seja impossível). Finalmente, esse candidato a meu anjo particular não poderia ter reivindicações trabalhistas – como férias, décimo-terceiro, licença remunerada e outros direitos conquistados na luta de classes dos últimos dois séculos – ou sequer horário de oito horas e semana de cinco dias. Anjo tem de ser em tempo integral, como corresponde ao sentido de sua nobre missão.
A bem da verdade, acho que já conquistei um anjo particular, mas ele vive em um universo paralelo, numa dimensão própria, ou está protegido por alguma redoma virtual, e com ele falo – ou imagino falar – regularmente, na minha própria imaginação. Tive sorte, claro, e nem tive de procurar muito, já que o meu anjo simplesmente apareceu, numa dessas aparições de tipo bíblico, sem que eu saiba explicar como ou por quê. O “meu” anjo relê cuidadosamente todos os meus textos, esses que eu escrevo in tutta fretta madrugada adentro, ensaios que dão muitas voltas e acabam emergindo num estilo estropiado, vários atentados à gramática, à sintaxe, torturados e tortuosos como se estivessem saindo de um campo de batalha – o que não deixa de ser verdade, pois estou sempre em alguma batalha de ideias – enfim, trabalhos escritos que seriam muito piores do que quando publicados porque, justamente, o meu anjo da guarda particular passou por ali e salpicou o texto de anotações, dúvidas, correções, alertas e outros beliscões virtuais, para ver se eu aprendo, finalmente a conjugar e a combinar os transitivos indiretos.
Enfim, depois de alguns anos de existência virtual, espero que ele não me abandone, dada minha forte propensão ao debate, por vezes interminável, meu espírito altamente crítico e minhas exigências quanto a conteúdo e substância. Nunca aceito o argumento da autoridade – como os anjos devem gostar de invocar – mas apenas a autoridade do argumento, o que me garante, justamente, algumas diatribes com quem se julga autoridade (estrito senso). Meu anjo não pode simplesmente me proteger, ele tem de provar que a relação de custo-benefício indica ser essa a melhor solução em face de recursos escassos e de usos alternativos dos fatores de produção. Ele não pode ser simplesmente espiritual, mas tem de embasar essa espiritualidade num forte substrato de racionalidade, estilo grego, se é que percebem, ou então de acordo com a tradição empirista anglossaxã.
Com tudo isso, o meu anjo não pode ser um chato, como costumam ser alguns “intelectuais” (ou candidatos a tal). Ele também não precisa vir de camisolão – sinceramente ridículo – e dispenso as asas, pois hoje em dia o carro não é uma má opção. Estou pronto a compartilhar com ele a minha biblioteca, mas tenho de avisar que nunca aprendi aramaico, hebraico antigo ou grego, as supostas línguas bíblicas. Pode aposentar a lira, mas adoro saxofone e os ritmos de jazz em geral. Bandolim e chorinho também são aceitáveis, junto com uma boa disposição para ficar acordado madrugada adentro, noites à fio. Minha produção geralmente começa depois da meia noite e vai até onde o corpo e o espírito aguentarem. Algum anjo se habilita? Candidatos munidos de currículo Lattes, por favor...
Para terminar, também tenho anjo da guarda não virtual, ou seja, real, na verdade, não apenas um, mas dois. Dois simpáticos yorkshires que, invariavelmente, na batida das 22hs, vêm me arrancar de minha labuta de computador, para um incontornável passeio de quase uma hora em volta do quarteirão. Eles não respondem muito a minhas questões, e assim me deixam com as notícias do rádio ou as músicas do meu iPod. Independentemente dessas limitações no diálogo, eles correspondem inteiramente ao que se requer de um anjo da guarda: são fiéis, estão sempre ao alcance da mão (e também do chinelo e da barra da calça), mesmo sem exibir asas, que na verdade são substituídas pelo “trote” rápido.
Em face da concorrência, creio que são os melhores anjos da guarda não virtuais disponíveis no mercado. Não recomendo gatos, a despeito de sua limpeza proverbial: eles só pensam em si mesmos e são tão inescrutáveis quanto os caminhos do Senhor. Cachorros são mais compatíveis com nossas necessidades de solidariedade e de companhia. Claro, eles requerem algum investimento inicial no adestramento, sobretudo para não ficar limpando a casa todo dia. Mas, depois disso, eles parecem se comportar melhor do que os anjos da guarda verdadeiros: eles dividem tranquilamente a torta de creme, sem recorrer a esses avisos subliminares de que aquilo não é bom para o seu colesterol... Anjos da guarda verdadeiros estão sempre controlando o seu peso. Cachorros partilham de seus desejos mais secretos por alguma contravenção alimentar.
Salvem os anjos da guarda, virtuais e reais...
Brasília, 20 de janeiro de 2010.
Paulo Roberto de Almeida
Antigamente era aquela dificuldade: a gente precisava disputar o “nosso” anjo da guarda quase no muque, contra a concorrência de outros pretendentes, por vezes um próprio irmão. De fato, todas as nossas avós (enfim, duas, no máximo), tias idosas, até as nossas mães nos instruíam a observar um comportamento exemplar para ter direito a um anjo da guarda particular, algo como um seguro extra em caso de necessidades extremas. Era um problema cumprir esses requisitos estritos, com tanta oportunidade para se fazer bobagens na rua, na ida e na volta da escola, na corrida à padaria para comprar pão e leite, enfim, em qualquer momento e lugar: pular muro para roubar goiaba, esconder uma bola – qualquer bola – de algum menino rico que andasse correndo solta pelas esquinas, tentar praticar algum voyeurismo ocasional...
As promessas de se conseguir um, exclusivo, eram reforçadas em ocasiões especiais: Natal, Paixão de Cristo, Ascensão, até nos momentos de crisma, lava-pés ou qualquer outra festa religiosa. Sempre pairava a promessa e a ameaça: “comporte-se direito, menino, pois o seu anjo da guarda está de olho em você!”. Ops: então, mesmo sem merecer, a gente tinha um alcaguete olhando por cima do ombro da gente, penetrando em nossos cérebros maléficos, desvendando nossas mais soturnas intenções? Mas, se eu justamente não tinha sido comportado a ponto de merecer esse acompanhante gentil, bonzinho, sempre sorridente com seu ar angelical, como é que, assim de repente, ele aparece sem avisar?
Enfim, não me perguntem os detalhes, mas o anjo da guarda era um personagem importante antes das primeiras desilusões religiosas, aí por volta dos doze ou catorze anos, quando a gente recusava toda aquela mitologia cristã e, os menos “alienados”, passávamos a cultuar outros “santos”: Marx, Lênin, Guevara, alguns até o Stalin ou o Mao (tem gosto para tudo...). Os que continuavam aderindo, porém, à liturgia cristã, ainda “guardavam” os seus anjos da guarda particulares, mas estes eram em número cada vez mais escasso, uma raridade ao alcance exclusivo dos mais bem comportados e certinhos. Aparentemente tinha as suas vantagens, pois sempre se podia invocar o personagem com asinhas caso algum perigo rondasse o navegante mais distraído. Em época de exames, também podia ser providencial.
Depois, muito depois – e tem regime militar no meio, redemocratização, hiperinflação, corrupção, enfim problemas velhos e novos – os anjos da guarda saíram de moda, o que pode ser considerado realmente uma pena: eles nunca fizeram mal a ninguém, e estavam sempre disponíveis para ouvir uma súplica. Não se tem certeza de que eles “funcionassem” de fato, mas sempre dava aquela segurança psicológica que não era mais garantida pela família, doravante fragmentada e instável. Chato ter de enfrentar algum desafio qualquer, sem ter um confidente particular e um apoio de tipo espiritual em caso de necessidade. Estávamos irremediavelmente sós, em um mundo hostil...
Pena mesmo, inclusive porque não se tratava de requerer dos anjos da guarda mais do que eles podiam oferecer, num mundo definitivamente secularizado e quase ateu. Os anjos do final do século 20, já não tinham mais o mesmo papel que desempenharam no passado: anunciar grandes mudanças, aparições divinas, libertação dos oprimidos, expulsão do Paraíso ou mesmo, em alguns casos, algumas catástrofes anunciadas de antemão por profetas tidos por malucos. O anjo da anunciação ou, seu contraparte, o anjo vingador combinam com os quadros antigos, um pouco menos com os modernos. No século 20, sem que tal fato tenha a ver com o “Exército da Salvação”, ocorreu uma proliferação de anjos da guarda, protetores das crianças e dos desvalidos, eventualmente de alguns bêbados. Por vezes, como nos desenhos de Walt Disney, eles apareciam em dupla: um anjinho com lira e coroa, de um lado, um diabinho vermelho com sua cauda em ponta de flecha, do outro.
Aparentemente, nos tempos antigos, todo mundo podia aspirar a ter o seu anjo da guarda particular e mesmo, para os crentes de hoje, a promessa não arrefeceu. Enfim, sempre tem gente que não merece. Esse pessoal do “caixa 2” dos partidos políticos, por exemplo, eles certamente devem ter vários, pois nunca vão para a cadeia, mas sinceramente eles não mereciam essa distinção. Cegos e estropiados em geral poderiam ficar com uma quota extra, alocando-se a eles os que retiraríamos desses bandidos dos “recursos não contabilizados”.
De minha parte, deixei de acreditar em anjos muito cedo, mas confesso que uma volta atrás não seria de todo mau, pois que acreditar em sua existência não implicaria, necessariamente, a (re)adesão a uma religião em particular, pois os anjos, como qualquer fenômeno de marketing, prescindem de alguma mensagem espiritual mais elevada. A prova é dada pelo próprio Natal, cada vez menos um festa religiosa, cada vez mais uma festa tout court, com o lado dos presentes e das comilanças suplantando o espírito da natividade e dos valores cristãos.
O que eu esperaria de meu anjo, se ele se materializasse, assim de repente, na minha frente? Deixo de lado o gênero, para não ser acusado de qualquer perversão, e passo imediatamente às qualidades angelicais que imagino possam estar registradas em sua carteira de trabalho. Em primeiro lugar, ele deveria ter olhos vivos e brilhantes e sorriso sempre à mostra, o que significa um bom começo, para empatia recíproca. Depois, eu faria um pequeno teste de conhecimento histórico, para ver se o “meu” anjo conhece seus antecedentes bíblicos e suas várias encarnações ao longo dos tempos. Não sou nada religioso, mas tenho grande respeito pelas religiões e acho que a cultura religiosa é indispensável a qualquer cidadão que se pretenda humanista e iluminista (pode ser uma contradictio in adjecto, mas prefiro assim do que um anjo sem cultura religiosa, pois aí, sim, que seria uma contradição).
Em terceiro lugar, ele precisaria vir animado de uma forte disposição para aguentar discussões filosóficas, debates teóricos, conversas bizantinas (ma non troppo), tertúlias acadêmicas e outros embates intelectuais, com eventuais notas de rodapés e referências bibliográficas acompanhando as legendas ou os “balõenzinhos” de nossas conversas (sim, a cenografia é importante, pois anjos verdadeiros não vivem fora dos cenários adequados: ninguém imagina, por exemplo, um anjo numa mesa de botequim, embora isso não seja impossível). Finalmente, esse candidato a meu anjo particular não poderia ter reivindicações trabalhistas – como férias, décimo-terceiro, licença remunerada e outros direitos conquistados na luta de classes dos últimos dois séculos – ou sequer horário de oito horas e semana de cinco dias. Anjo tem de ser em tempo integral, como corresponde ao sentido de sua nobre missão.
A bem da verdade, acho que já conquistei um anjo particular, mas ele vive em um universo paralelo, numa dimensão própria, ou está protegido por alguma redoma virtual, e com ele falo – ou imagino falar – regularmente, na minha própria imaginação. Tive sorte, claro, e nem tive de procurar muito, já que o meu anjo simplesmente apareceu, numa dessas aparições de tipo bíblico, sem que eu saiba explicar como ou por quê. O “meu” anjo relê cuidadosamente todos os meus textos, esses que eu escrevo in tutta fretta madrugada adentro, ensaios que dão muitas voltas e acabam emergindo num estilo estropiado, vários atentados à gramática, à sintaxe, torturados e tortuosos como se estivessem saindo de um campo de batalha – o que não deixa de ser verdade, pois estou sempre em alguma batalha de ideias – enfim, trabalhos escritos que seriam muito piores do que quando publicados porque, justamente, o meu anjo da guarda particular passou por ali e salpicou o texto de anotações, dúvidas, correções, alertas e outros beliscões virtuais, para ver se eu aprendo, finalmente a conjugar e a combinar os transitivos indiretos.
Enfim, depois de alguns anos de existência virtual, espero que ele não me abandone, dada minha forte propensão ao debate, por vezes interminável, meu espírito altamente crítico e minhas exigências quanto a conteúdo e substância. Nunca aceito o argumento da autoridade – como os anjos devem gostar de invocar – mas apenas a autoridade do argumento, o que me garante, justamente, algumas diatribes com quem se julga autoridade (estrito senso). Meu anjo não pode simplesmente me proteger, ele tem de provar que a relação de custo-benefício indica ser essa a melhor solução em face de recursos escassos e de usos alternativos dos fatores de produção. Ele não pode ser simplesmente espiritual, mas tem de embasar essa espiritualidade num forte substrato de racionalidade, estilo grego, se é que percebem, ou então de acordo com a tradição empirista anglossaxã.
Com tudo isso, o meu anjo não pode ser um chato, como costumam ser alguns “intelectuais” (ou candidatos a tal). Ele também não precisa vir de camisolão – sinceramente ridículo – e dispenso as asas, pois hoje em dia o carro não é uma má opção. Estou pronto a compartilhar com ele a minha biblioteca, mas tenho de avisar que nunca aprendi aramaico, hebraico antigo ou grego, as supostas línguas bíblicas. Pode aposentar a lira, mas adoro saxofone e os ritmos de jazz em geral. Bandolim e chorinho também são aceitáveis, junto com uma boa disposição para ficar acordado madrugada adentro, noites à fio. Minha produção geralmente começa depois da meia noite e vai até onde o corpo e o espírito aguentarem. Algum anjo se habilita? Candidatos munidos de currículo Lattes, por favor...
Para terminar, também tenho anjo da guarda não virtual, ou seja, real, na verdade, não apenas um, mas dois. Dois simpáticos yorkshires que, invariavelmente, na batida das 22hs, vêm me arrancar de minha labuta de computador, para um incontornável passeio de quase uma hora em volta do quarteirão. Eles não respondem muito a minhas questões, e assim me deixam com as notícias do rádio ou as músicas do meu iPod. Independentemente dessas limitações no diálogo, eles correspondem inteiramente ao que se requer de um anjo da guarda: são fiéis, estão sempre ao alcance da mão (e também do chinelo e da barra da calça), mesmo sem exibir asas, que na verdade são substituídas pelo “trote” rápido.
Em face da concorrência, creio que são os melhores anjos da guarda não virtuais disponíveis no mercado. Não recomendo gatos, a despeito de sua limpeza proverbial: eles só pensam em si mesmos e são tão inescrutáveis quanto os caminhos do Senhor. Cachorros são mais compatíveis com nossas necessidades de solidariedade e de companhia. Claro, eles requerem algum investimento inicial no adestramento, sobretudo para não ficar limpando a casa todo dia. Mas, depois disso, eles parecem se comportar melhor do que os anjos da guarda verdadeiros: eles dividem tranquilamente a torta de creme, sem recorrer a esses avisos subliminares de que aquilo não é bom para o seu colesterol... Anjos da guarda verdadeiros estão sempre controlando o seu peso. Cachorros partilham de seus desejos mais secretos por alguma contravenção alimentar.
Salvem os anjos da guarda, virtuais e reais...
Brasília, 20 de janeiro de 2010.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Cultura util: para que serve um boi?
Sim, sim, aquela história: do boi só se perde o berro. Ora, nem isso.
Aprendam um pouco, e surpreendam amigos pouco "bovinos"...
Paulo Roberto de Almeida
Você Sabe Para Que Serve Um Boi?
Muitas pessoas à primeira vista podem achar que a resposta para essa pergunta é óbvia: para produzir carne. A resposta não é tão simples assim... ele serve para produzir carne também, mas são produzidos inúmeros outros produtos a partir de um boi. Muitos desses produtos, nem mesmo os próprios pecuaristas sabem que foram produzidos a partir do produto que ele criou e vendeu ao frigorífico.
Esse é um assunto muito interessante, e com certeza vai surpreender muita gente, pois a maioria das pessoas não tem idéia do que um boi pode originar... Não vamos nem comentar sobre a carne, pois acho que todas as pessoas sabem o destino desse componente.
Vamos então começar pelo componente mais externo do boi: o couro. Além da utilização óbvia para a confecção de sapatos, cintos e roupas, o couro dá origem à gelatina neutra que será usada na indústria alimentícia na fabricação de maria-mole, chiclete, suspiros, recheios, coberturas, iogurtes, sorvetes, cremes, etc. A gelatina neutra também é usada na clarificação de vinho, cerveja e suco de frutas e em produtos dietéticos.
Na indústria farmacêutica ela é utilizada em cápsulas duras ou moles, comprimidos, drágeas, emulsões, óleos, esponjas medicinais, etc. Além disso, ela produz a gelatina fotográfica que é usada em filmes de artes gráficas, papéis fotográficos e filmes radiológicos.
A gelatina hidrolisada é usada em cosméticos, dietéticos, bebidas, alimentos líquidos e em outros processos químicos. A gelatina industrial é usada na fabricação de adesivos, abrasivos, fósforos, capsulação de corantes, etc.
Depois podemos falar de crinas e pelos que serão usadas para produção de escovas de enceradeira, escovas para armas de fogo, escovas para lavagem de garrafas, vassoura de pelo e brocha de pintor. Também são usados em luvas de boxe, poétrix (jóias e próteses). Além disto, são usados nos filtros de ar e óleo combustível dos carros.
O sebo produzido tem utilização na indústria química, nos curtumes, nas industrias de sabão, de cosméticos, indústria alimentícia, de tintas, de explosivos, indústria farmacêutica, indústria de pneus, de lápis, fábrica de velas, etc.
Os cascos e chifres são usados em artesanatos, na formação de madrepérola e pérolas artificiais. O produto da moagem entra na composição do pó de extintor de incêndios, o óleo entra na composição dos óleos da indústria aeronáutica como aditivo no lubrificante dos aviões.
A bílis é usada na indústria química e de bebidas e na indústria farmacêutica, onde os sais biliares entram na composição de remédios digestivos, reagentes para pesquisas e pomadas para contusões.
A mucosa do estômago é usada na indústria de laticínios para a fabricação do coalho. Outras mucosas e glândulas são usadas na industria farmacêutica fornecendo diversas substâncias como insulina, hormônios da reprodução, enzimas digestivas, outros compostos enzimáticos, histamina, heparina, imunoestimulantes, glucagon, oxitocina, somatotrofina bovina (hormônio do crescimento), neurotransmissores, tiroxina (hormônio da tireóide), cerebrosídeos, etc, sendo estas substancias usadas na fabricação de remédios para uso humano.
Além disso tudo, há muitos outros subprodutos aproveitados como, por exemplo: conteúdo rumenal, usado como adubo orgânico e na produção de biogás, farinha de carne e ossos usada na fabricação de rações para cães e gatos, os intestinos são usados na fabricação de fios cirúrgicos, cordas para raquete de tênis, etc.
Dessa forma, não é exagero nenhum dizer que absolutamente tudo do boi é aproveitado, podemos dizer de forma simbólica que até o berro é aproveitado, pois pode ser gravado e utilizado em músicas e trilhas sonoras de filmes e novelas.
A pecuária e o abate de bovinos além de gerar riquezas e empregos diretamente, contribui sobremaneira para o funcionamento de diversos outros setores. Se o abate de bovinos parar haverá paralisação direta de 49 dos mais variados segmentos industriais. A pecuária é, portanto um dos principais geradores de riquezas para o país, e deve passar a ser tratada como tal. Para isso é necessária a mobilização de todo o setor para que todas essas informações cheguem à opinião pública. É para isso que trabalha o SIC, participe você também!
Fonte consultada: folheto elaborado pela APR-MT Associação dos Produtores Rurais do Mato Grosso
Autor: Leandro Bovo, médico veterinário pela UNESP Jaboticabal e Gerente Administrativo do SIC.
http://www.sic.org.br/praqueserve.asp
Aprendam um pouco, e surpreendam amigos pouco "bovinos"...
Paulo Roberto de Almeida
Você Sabe Para Que Serve Um Boi?
Muitas pessoas à primeira vista podem achar que a resposta para essa pergunta é óbvia: para produzir carne. A resposta não é tão simples assim... ele serve para produzir carne também, mas são produzidos inúmeros outros produtos a partir de um boi. Muitos desses produtos, nem mesmo os próprios pecuaristas sabem que foram produzidos a partir do produto que ele criou e vendeu ao frigorífico.
Esse é um assunto muito interessante, e com certeza vai surpreender muita gente, pois a maioria das pessoas não tem idéia do que um boi pode originar... Não vamos nem comentar sobre a carne, pois acho que todas as pessoas sabem o destino desse componente.
Vamos então começar pelo componente mais externo do boi: o couro. Além da utilização óbvia para a confecção de sapatos, cintos e roupas, o couro dá origem à gelatina neutra que será usada na indústria alimentícia na fabricação de maria-mole, chiclete, suspiros, recheios, coberturas, iogurtes, sorvetes, cremes, etc. A gelatina neutra também é usada na clarificação de vinho, cerveja e suco de frutas e em produtos dietéticos.
Na indústria farmacêutica ela é utilizada em cápsulas duras ou moles, comprimidos, drágeas, emulsões, óleos, esponjas medicinais, etc. Além disso, ela produz a gelatina fotográfica que é usada em filmes de artes gráficas, papéis fotográficos e filmes radiológicos.
A gelatina hidrolisada é usada em cosméticos, dietéticos, bebidas, alimentos líquidos e em outros processos químicos. A gelatina industrial é usada na fabricação de adesivos, abrasivos, fósforos, capsulação de corantes, etc.
Depois podemos falar de crinas e pelos que serão usadas para produção de escovas de enceradeira, escovas para armas de fogo, escovas para lavagem de garrafas, vassoura de pelo e brocha de pintor. Também são usados em luvas de boxe, poétrix (jóias e próteses). Além disto, são usados nos filtros de ar e óleo combustível dos carros.
O sebo produzido tem utilização na indústria química, nos curtumes, nas industrias de sabão, de cosméticos, indústria alimentícia, de tintas, de explosivos, indústria farmacêutica, indústria de pneus, de lápis, fábrica de velas, etc.
Os cascos e chifres são usados em artesanatos, na formação de madrepérola e pérolas artificiais. O produto da moagem entra na composição do pó de extintor de incêndios, o óleo entra na composição dos óleos da indústria aeronáutica como aditivo no lubrificante dos aviões.
A bílis é usada na indústria química e de bebidas e na indústria farmacêutica, onde os sais biliares entram na composição de remédios digestivos, reagentes para pesquisas e pomadas para contusões.
A mucosa do estômago é usada na indústria de laticínios para a fabricação do coalho. Outras mucosas e glândulas são usadas na industria farmacêutica fornecendo diversas substâncias como insulina, hormônios da reprodução, enzimas digestivas, outros compostos enzimáticos, histamina, heparina, imunoestimulantes, glucagon, oxitocina, somatotrofina bovina (hormônio do crescimento), neurotransmissores, tiroxina (hormônio da tireóide), cerebrosídeos, etc, sendo estas substancias usadas na fabricação de remédios para uso humano.
Além disso tudo, há muitos outros subprodutos aproveitados como, por exemplo: conteúdo rumenal, usado como adubo orgânico e na produção de biogás, farinha de carne e ossos usada na fabricação de rações para cães e gatos, os intestinos são usados na fabricação de fios cirúrgicos, cordas para raquete de tênis, etc.
Dessa forma, não é exagero nenhum dizer que absolutamente tudo do boi é aproveitado, podemos dizer de forma simbólica que até o berro é aproveitado, pois pode ser gravado e utilizado em músicas e trilhas sonoras de filmes e novelas.
A pecuária e o abate de bovinos além de gerar riquezas e empregos diretamente, contribui sobremaneira para o funcionamento de diversos outros setores. Se o abate de bovinos parar haverá paralisação direta de 49 dos mais variados segmentos industriais. A pecuária é, portanto um dos principais geradores de riquezas para o país, e deve passar a ser tratada como tal. Para isso é necessária a mobilização de todo o setor para que todas essas informações cheguem à opinião pública. É para isso que trabalha o SIC, participe você também!
Fonte consultada: folheto elaborado pela APR-MT Associação dos Produtores Rurais do Mato Grosso
Autor: Leandro Bovo, médico veterinário pela UNESP Jaboticabal e Gerente Administrativo do SIC.
http://www.sic.org.br/praqueserve.asp
Malthusianos: nao proliferam mas persistem...
Não existe tribo mais errada, e no entanto tão persistente, quanto a dos malthusianos, de todos os tipos. Os ecologistas atuais são, com raras exceções, os modernos representantes da espécie.
Abaixo um dos melhores artigos que já li sobre a questão nos últimos cem anos (bem, estou contando com folga para pegar os malthusianos do começo do século 20 também).
Paulo Roberto de Almeida
Cornucopianos vs. malthusianos
João Luiz Mauad
Diário do Comércio, 10 de janeiro de 2011 - Opinião - Economia
Paul Krugman publicou, no final do ano passado, um artigo no The New York Times, intitulado “O Mundo Finito”, o qual foi reproduzido por alguns jornais brasileiros, entre eles O Globo e O Estado de São Paulo. Baseado no recente aumento dos preços de algumas commodities no mercado internacional, Krugman vaticinou que, por vivermos num mundo cada vez mais escasso de recursos naturais, precisaremos “mudar gradualmente a maneira como vivemos, adaptando nossa economia e nossos estilos de vida à realidade”. Tal afirmativa resume, com clareza ímpar, o mantra preservacionista.
No início do Século XIX, quando a Terra era habitada por apenas 1 bilhão de pessoas, Thomas Malthus previu que a população mundial cresceria em proporções geométricas enquanto a produção de alimentos e outros recursos não coseguiria acompanhá-la. “A morte prematura visitará a humanidade em breve, que sucumbirá em face da escassez de alimentos, das epidemias, das pestes e de outras pragas”, dizia ele.
Atualmente, vivem no mundo quase 7 vezes mais seres humanos que na época do Reverendo Malthus. Depois da Revolução Industrial e do advento do capitalismo, a humanidade progrediu de maneira excepcional, aprendeu a explorar os recursos naturais de forma muito mais eficiente, a produzir alimentos e distribuí-los como nunca antes na História. E, ao contrário do que sustentam os “malthusianos”, mesmo com todo o progresso econômico havido nos últimos duzentos anos - e graças ao extraordinário avanço tecnológico -, as reservas provadas de petróleo, minério de ferro, carvão e muitos outros recursos só fizeram aumentar.
Apesar de todas as evidências em contrário, entretanto, os “malthusianos” não esmorecem. Em 1968, quando a população mundial era de 3,5 bilhões, o afamado ecologista Paul Ehrlich, um emérito colecionador de prêmios e comendas científicas, escreveu um livro (The Population Bomb) onde previu que, como resultado da superpopulação, centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nas próximas décadas. No primeiro Earth Day, em 1970, ele diagnosticou que "em dez anos, toda a vida animal marinha estará extinta. Grandes áreas coasteiras terão que ser evacuadas por causa do mau cheiro dos peixes mortos." Em um discurso de 1971, ele previu que "até o ano de 2000 o Reino Unido será simplesmente um pequeno grupo de ilhas empobrecidas, habitadas por cerca de 70 milhões de famintos."
De lá para cá, a população mundial quase dobrou, e, embora ainda haja problemas sociais graves a resolver, principalmente ligados à pobreza, as previsões alarmistas de Ehrlich jamais se concretizaram. Pelo contrário, a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza tem diminuído bastante, desde 1970. Mais: pelos dados recentes da FAO, o percentual de subnutridos nos países em desenvolvimento, em relação ao total da população, vem apresentando uma firme tendência declinante há quatro décadas, tendo baixado de 33% em 1970 para 16% em 2004.
Aliás, por falar em Paul Ehrlich, ficou famosa uma aposta feita entre este famoso ambientalista e o economista Julian Simon. Como Krugman, Ehrlich alardeava que, num mundo finito e de população crescente, os recursos seriam cada vez mais escassos e, consequentemente, seus preços cada vez maiores. Em 1980, Simon propôs a Ehrlich a seguinte aposta: Ehrlich escolheria cinco quaisquer produtos naturais para que tivessem seus preços acompanhados por 10 anos. Caso, no final deste período, os preços fossem maiores que em 1980 (corrigidos pela inflação), Ehrlich venceria, caso fossem menores, a vitória seria de Simon.
Ehrlich escolheu cinco metais: cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio. Apostaram então $200 em cada um dos metais, num total de $1.000, usando os preços de 29 de setembro de 1980 como referência. Durante a década de 80, o crescimento populacional do mundo foi de aproximadamente 800 milhões de pessoas - o maior aumento nominal em uma só década da História. Apesar disso, em setembro de 1990, os preços de todos os metais escolhidos por Ehrlich, sem exceção alguma, haviam caído, em alguns casos significativamente. O estanho, por exemplo, era cotado a $8,72 por onça em 1980, contra $3,70 em 1990.
No próximo dia primeiro de janeiro, mais um “malthusiano” terá perdido uma aposta. Cinco anos atrás, John Tierney leu um artigo de Matthew R. Simmons na The New York Times Magazine onde este vaticinava que o preço do barril de petróleo, então na casa dos $65, triplicaria nos cinco anos seguintes e passaria dos $200 durante o ano de 2010. Tierney apostou no contrário.
Em artigo publicado no The New York Times no último dia 27-12-2010, Tierney explica por que ganhou a aposta:
“Novos campos gigantes de petróleo foram descobertos nas costas da África e do Brasil. Novas reservas no Canadá fornecem agora mais petróleo para os Estados Unidos do que a Arábia Saudita. A produção doméstica americana também aumentou ano passado e o Departamento de Energia projeta mais aumentos para as próximas duas décadas.”
“Mas a verdadeira boa notícia é a descoberta de vastas quantidades de gás natural, cujo preço é hoje menos da metade do que era há cinco anos.”
“Pode ser que algo inesperado mude estas boas tendências, mas por enquanto eu diria que o conselho de Julian Simon permanece válido: é fácil fabricar notícias com vaticínios apocalípticos, mas você pode ganhar um bom dinheiro apostando contra elas” .
Artigo publicado pela versão digital folheável do Diário do Comércio em 10/01/2011
Abaixo um dos melhores artigos que já li sobre a questão nos últimos cem anos (bem, estou contando com folga para pegar os malthusianos do começo do século 20 também).
Paulo Roberto de Almeida
Cornucopianos vs. malthusianos
João Luiz Mauad
Diário do Comércio, 10 de janeiro de 2011 - Opinião - Economia
Paul Krugman publicou, no final do ano passado, um artigo no The New York Times, intitulado “O Mundo Finito”, o qual foi reproduzido por alguns jornais brasileiros, entre eles O Globo e O Estado de São Paulo. Baseado no recente aumento dos preços de algumas commodities no mercado internacional, Krugman vaticinou que, por vivermos num mundo cada vez mais escasso de recursos naturais, precisaremos “mudar gradualmente a maneira como vivemos, adaptando nossa economia e nossos estilos de vida à realidade”. Tal afirmativa resume, com clareza ímpar, o mantra preservacionista.
No início do Século XIX, quando a Terra era habitada por apenas 1 bilhão de pessoas, Thomas Malthus previu que a população mundial cresceria em proporções geométricas enquanto a produção de alimentos e outros recursos não coseguiria acompanhá-la. “A morte prematura visitará a humanidade em breve, que sucumbirá em face da escassez de alimentos, das epidemias, das pestes e de outras pragas”, dizia ele.
Atualmente, vivem no mundo quase 7 vezes mais seres humanos que na época do Reverendo Malthus. Depois da Revolução Industrial e do advento do capitalismo, a humanidade progrediu de maneira excepcional, aprendeu a explorar os recursos naturais de forma muito mais eficiente, a produzir alimentos e distribuí-los como nunca antes na História. E, ao contrário do que sustentam os “malthusianos”, mesmo com todo o progresso econômico havido nos últimos duzentos anos - e graças ao extraordinário avanço tecnológico -, as reservas provadas de petróleo, minério de ferro, carvão e muitos outros recursos só fizeram aumentar.
Apesar de todas as evidências em contrário, entretanto, os “malthusianos” não esmorecem. Em 1968, quando a população mundial era de 3,5 bilhões, o afamado ecologista Paul Ehrlich, um emérito colecionador de prêmios e comendas científicas, escreveu um livro (The Population Bomb) onde previu que, como resultado da superpopulação, centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nas próximas décadas. No primeiro Earth Day, em 1970, ele diagnosticou que "em dez anos, toda a vida animal marinha estará extinta. Grandes áreas coasteiras terão que ser evacuadas por causa do mau cheiro dos peixes mortos." Em um discurso de 1971, ele previu que "até o ano de 2000 o Reino Unido será simplesmente um pequeno grupo de ilhas empobrecidas, habitadas por cerca de 70 milhões de famintos."
De lá para cá, a população mundial quase dobrou, e, embora ainda haja problemas sociais graves a resolver, principalmente ligados à pobreza, as previsões alarmistas de Ehrlich jamais se concretizaram. Pelo contrário, a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza tem diminuído bastante, desde 1970. Mais: pelos dados recentes da FAO, o percentual de subnutridos nos países em desenvolvimento, em relação ao total da população, vem apresentando uma firme tendência declinante há quatro décadas, tendo baixado de 33% em 1970 para 16% em 2004.
Aliás, por falar em Paul Ehrlich, ficou famosa uma aposta feita entre este famoso ambientalista e o economista Julian Simon. Como Krugman, Ehrlich alardeava que, num mundo finito e de população crescente, os recursos seriam cada vez mais escassos e, consequentemente, seus preços cada vez maiores. Em 1980, Simon propôs a Ehrlich a seguinte aposta: Ehrlich escolheria cinco quaisquer produtos naturais para que tivessem seus preços acompanhados por 10 anos. Caso, no final deste período, os preços fossem maiores que em 1980 (corrigidos pela inflação), Ehrlich venceria, caso fossem menores, a vitória seria de Simon.
Ehrlich escolheu cinco metais: cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio. Apostaram então $200 em cada um dos metais, num total de $1.000, usando os preços de 29 de setembro de 1980 como referência. Durante a década de 80, o crescimento populacional do mundo foi de aproximadamente 800 milhões de pessoas - o maior aumento nominal em uma só década da História. Apesar disso, em setembro de 1990, os preços de todos os metais escolhidos por Ehrlich, sem exceção alguma, haviam caído, em alguns casos significativamente. O estanho, por exemplo, era cotado a $8,72 por onça em 1980, contra $3,70 em 1990.
No próximo dia primeiro de janeiro, mais um “malthusiano” terá perdido uma aposta. Cinco anos atrás, John Tierney leu um artigo de Matthew R. Simmons na The New York Times Magazine onde este vaticinava que o preço do barril de petróleo, então na casa dos $65, triplicaria nos cinco anos seguintes e passaria dos $200 durante o ano de 2010. Tierney apostou no contrário.
Em artigo publicado no The New York Times no último dia 27-12-2010, Tierney explica por que ganhou a aposta:
“Novos campos gigantes de petróleo foram descobertos nas costas da África e do Brasil. Novas reservas no Canadá fornecem agora mais petróleo para os Estados Unidos do que a Arábia Saudita. A produção doméstica americana também aumentou ano passado e o Departamento de Energia projeta mais aumentos para as próximas duas décadas.”
“Mas a verdadeira boa notícia é a descoberta de vastas quantidades de gás natural, cujo preço é hoje menos da metade do que era há cinco anos.”
“Pode ser que algo inesperado mude estas boas tendências, mas por enquanto eu diria que o conselho de Julian Simon permanece válido: é fácil fabricar notícias com vaticínios apocalípticos, mas você pode ganhar um bom dinheiro apostando contra elas” .
Artigo publicado pela versão digital folheável do Diário do Comércio em 10/01/2011
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