quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"É preciso leiturizar"!!! - Seria verdade??? -- destruindo a educacao no Brasil

Que tal se as pedagogas brasileiras simplesmente recomendassem o aprendizado da leitura, ao velho estilo, tradicional?
Acho que a educação brasileira está nesse estado lastimável em que ela se encontra -- e tenham certeza de que a qualidade do ensino, no Brasil, é muito, mas muuuuito pior do que vocês possam sequer imaginar -- em grande medida devido a essas pedagogas de araque, que vivem teorizando sobre o nada, em lugar de se concentrar naquilo que é realmente essencial: ensinar Português básico, matemáticas elementares e ciências nos seus aspectos essenciais, apenas isso.
As pedagogas freireanas que "leiturizam" muito estão destruindo a educação brasileira.
Graças a elas, o ensino é essa porcaria que é.
Chego a ter dó de nossas crianças.
Cada vez que encontro um artigo desses que vai, lamentavelmente, transcrito abaixo, tenho absoluta certeza de que vamos passar por todas as (piores) fases da Lei de Murphy: o que já é ruim continuará piorando, da pior forma possível, pelo tempo mais longo imaginável.
Aguardem: teremos pela frente mais 20 anos de decadência educacional, pelo menos, com gente como essa nossa "leiturizadora".
Lamentem, chorem, resignem-se...
Paulo Roberto de Almeida

É preciso leiturizar
Araci Asinelli-Luz *
Gazeta do Povo (PR), 21/02/2011

É preciso buscar interpretar e descobrir o que está além do que aparece, o que está além do que está dito e feito.

O termo leiturização foi apresentado por Jean Foucambert, do Instituto de Pesquisas Pedagógicas da França, em entrevista à Revista Nova Escola (1993). Suas preocupações estavam centradas em como se dá o processo de alfabetização que, frequentemente, coloca a criança diante da transcrição oral da escrita e, quase nunca, ante o funcionamento real da escrita, reduzindo em muito as possibilidades de se formarem leitores, ou seja, pessoas capazes de aprender que a linguagem escrita não é a representação da realidade e sim um ponto de vista sobre essa realidade.

Seus escritos permitem identificar três comportamentos diante do texto ou realidade a ser lida: o ledor/a ledora, aquele e aquela que decifra linearmente os códigos e signos apresentados da linguagem escrita, sem qualquer sinal de proatividade e interação com a mensagem ali expressa. Um bom exemplo de ledor é o sujeito que faz a "leitura" da água em minha casa. Observa o relógio da água, digita alguma coisa em uma maquininha que traz consigo e em seguida me entrega um protocolo onde está impresso o quanto foi consumido de água no período e o quanto devo pagar na data que ali se encontra. Sua função não lhe permite ler, além disso. É incapaz de perceber que na casa de uma professora não pode ter um consumo de água nesse valor, alguma coisa deve estar errada. É também o personagem da televisão, o Zeca Diabo, que sabia ler de "carreirinha".

Há também o leitor/a leitora, a maioria das pessoas que teve acesso a um bom processo de alfabetização e letramento e, na escola formal, teve oportunidade de ler textos diferenciados e literatura interessante. A leitora e o leitor entendem perfeitamente a mensagem expressa no texto e são capazes de interpretar e resumir o que o autor quis expressar. Quando muito hábeis vão um pouco além e costumam posicionar-se sobre o texto, expressando sua crítica. Um bom exemplo são os universitários, os pós-graduandos e suas produções acadêmicas a partir das "revisões de literatura".

Foucambert, no entanto, propõe que sejamos leiturizadores. A leiturização exige uma leitura crítica de intenções, dos entremeios, das entrelinhas, sob suspeição. "Olhar um texto é forçosamente se perguntar o que pretende a pessoa que o escreveu". Exige mais do que interpretar, exige se perguntar o porquê daquela palavra, daquela forma de expressar a mensagem, o que pode advir dos significados ali expressos. "Não significa que todos os textos tenham más intenções", mas é preciso ir além da linearidade do que está dito ou escrito.

Paulo Freire falava em "leitura de mundo", para exercer a cidadania plena e postulava a educação como ato político. Em se tratando de política, com a interdependência entre os políticos que temos, o que dizem e fazem, as políticas públicas e a rede de múltiplos fatores que aí se encontram, é necessário leiturizar. Um bom exemplo é buscar interpretar e descobrir o que está além do que aparece, o que está além do que está dito e feito. Assim, compartilho um exercício para aprendizagem: o que pretende um político vaidoso autodenominar-se benemérito ao tentar transformar um fato imoral em ato formal de caridade? Que intenções estão por trás da anunciada "moralização da Assembleia" se quem a escreve até pouco tempo era contrário a ela?

Como gerar motivação para o trabalho nomeando líderes com histórias em que falta a ética no trabalho? Como acreditar em valorização da educação se a acolhida dos estudantes no seu primeiro dia de escola é cheia de vazios? Como entender a não criação da Defensoria Pública no Estado, em nome da contenção de gastos, e aprovar aumentos questionáveis em causa própria? Como interpretar a gratificação aos policiais que protegem deputados em detrimento aqueles que protegem toda uma população?

Se "ler o mundo", com seus desastres bioecológicos, seus sistemas de governo, suas alianças políticas e de poder, a generosidade dos povos frente às catástrofes, a beleza da natureza como dádiva de Seu Criador, a inteligência humana na ciência, nas tecnologias e nas inovações, ainda é muito complexo para grande parte da população, leiturizar o mundo vai exigir muito esforço, reflexões e intencionalidade. O resultado? Quem sabe um Brasil mais ético, mais criterioso e menos desigual.

*Araci Asinelli-Luz, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é doutora em Educação.

Os amigos se vao... e nao deixam saudades, por supuesto...

Meus amigos é que não são. Mas eles eram amigos, vocês sabem de quem...

O decadente tirano da Líbia
Larbi Sadiki
Conectando Leitores, 23/02/2011

A Líbia não vai se livrar da infecção dos ventos revolucionários democráticos soprando por todo o Oriente Médio e Norte da África. Se o duradouro líder Muamar Kadafi cair, será uma doce vitória para os herdeiros de Omar AL-Mkhtar, o lendário herói anti-fascista e anti-colonial. Mas muito sangue ainda irá jorrar antes que o coronel Líbio abandone o barco.

Depois de Saddam Hussein no Iraque e Ben Ali na Tunísia, Kadafi é o pior sobrevivente entre os governantes ilegítimos árabes. Ele agora está colhendo o que semeou: terror, nepotismo, política tribal e abuso de poder.

Na Líbia de Kadafi, o chamado Congresso do Povo, universidades e outras organizações afiliadas ao regime tiveram que seguir a linha oficial: culto ao “irmão líder”, leitura do seu Livro Verde, e o rótulo de Pan-Africanismo que nenhum líbio, exceto Kadafi e seus comparsas, acredita.

Ao visitar o país com um grupo de estudantes da Exeter University, os slogans vazios da “Grande Revolução” de Kadafi cobriam todos os espaços públicos. “Parceiros não remunerados”, disse alguém. Outro afirmou “Governo do povo” (sultat AL-shab’ab). Nada poderia estar mais longe da verdade.

Kadafi tem governado o país com a grandeza delirante de um homem que subiu ao poder em um golpe em 1969 com ideais políticos cativantes que se foram abandonando e corrompendo. O socialismo fanfarrão de Kadafi transformou-se em distribuição de favores entre o clã do coronel.

Círculo Íntimo

Um círculo íntimo de confidentes e parentes próximos de Kadafi decidiu e executou os enforcamentos de 1970, com ajuda dos temidos homicidas “comitês revolucionários”.

Nenhuma consulta foi feita ao povo sobre as decisões tomadas e executadas nas guerras, como as que ocorreram no Chade e em outros locais da África. O povo nunca pode reclamar abertamente sobre o dinheiro prodigamente pago na conquista das aventuras estrangeiras de Kadafi, incluindo financiamentos a organizações terroristas.

O regime de Kadafi esteve ligado aos assassinatos do Setembro Negro de 1972 de atletas israelenses na Alemanha, ao desaparecimento do Imã Xiita Musa Al-Sadr em 1978 na Líbia, ao assassinato da policial britânica Yvonne Fletcher em 1984, ao bombardeio da Discoteca La Belle em Berlin em 1986, aos barcos carregados de armas destinados ao Exército Republicano Irlandês em 1987, ao sequestro do voo 73 da Pan Am em 1986, e da explosão do voo 103 da Pan Am em 1988. Isso tudo não esgota a lista.

O bombardeio de Trípoli e Benghazi em 1986 pelos Estados Unidos, ou a grande soma de dinheiro pago por Kadafi para compensar todos os tipos de reclamações contra a Líbia foram alguns dos preços pagos pelos líbios pelos erros de cálculo de seu líder.

As sanções e o status de pária só foram atenuados nos últimos 10 anos. Carregar um passaporte verde líbio fez dos cidadãos líbios ‘persona non grata’ em muitas partes do mundo.

O narcisismo de Kadafi é tal que apenas uns poucos de seus camaradas de armas da tropa dos Oficiais Livres que deram o golpe de 1969 contra o Rei Idris sobreviveram a sua brutalidade.

Alguns morreram em circunstâncias misteriosas (Omar Limheshi; Imhammad al-Muqrif). Outros se retiraram da vida pública voluntariamente (Abd al-Salam Jelloud).

Ato de repúdio público

Como o Egito, o levante na Líbia se caracteriza como um ato de repúdio a um regime existente. Estes são países que passaram por revoluções militares e hoje estão enfrentando revoluções civis.

Tal como na Tunísia, mas de forma muito pior, a Líbia investiu muito pouco em capital social ou em capacitação cívica. Todas as organizações estão comprometidas ou afiliadas à Grande Revolução de Kadafi. Literalmente, estas são células para espionar o povo ou milícias subornadas para defender o regime. Quando os manifestantes abanam bandeiras, ou entoam slogans pró-Kadafi ou anti-Ocidentais, eles o fazem sob ordens do regime.

Apesar disso, os líbios não têm sido passivos. Por exemplo, a Liga Líbia dos Direitos Humanos, a Conferência Nacional da Oposição Líbia (NCLO em inglês), e os Islamitas banidos, todos usaram a internet para expressar sua raiva. Em alguns casos, os dissidentes líbios usaram a Internet como uma ferramenta política, muito antes dos ativistas, em outras partes do Oriente Médio. A NCLO se reuniu em Londres em 2006 e planeja exercer um papel fundamental nas reformas da Líbia pós-Kadafi.

As tentativas de remover Kadafi iniciaram em meados dos anos 80. A mais famosa ocorreu em maio de 1984, no golpe da Guarnição de Abal Al Aziziya quando a Frente Nacional para a Salvação da Líbia, composta de militares e civis dissidentes, teve um papel fundamental.

O confronto mais sério contra a autoridade de Kadafi veio da mais populosa e poderosa tribo líbia, a Warfallah, em outubro de 1993. A rebelião acabou nos julgamentos fraudados de 1995. Diversos homens das tribos foram executados em 1997.

A região oriental, Benghazi, sempre foi uma fonte de dissidência contra o regime. Dezenas morreram nos protestos de 2006. O mapa atual do motim é tanto tribal como regional. Duas tribos ajustaram contas antigas com o regime de Kadafi, retirando seu apoio. Kadafi está agora pagando o preço por ter humilhado a tribo Wirfallah, que ele excluiu de seus favores em meados dos anos 90. Similarmente, a tribo Tabu no sudeste do país tem sofrido estarrecedora discriminação.

Os cinturões de miséria da Líbia estão agora liderando a rebelião. Cidades como Al-Baida, Derna, Ijdadia, todas marginalizadas, não têm dívida de gratidão para com Kadafi, pois nada ganharam do seu governo. Os subúrbios mais pobres de Trípoli, Zintan e Awiya, que têm estado sob fogo intenso, estão liderando a rebelião na capital.

Por que a revolução que depôs Ben Ali na Tunísia demonstra ser infecciosa? As razões podem ser resumidas pelos seguintes fatores: a presença de um tipo de hegemonia à Ben Ali; podridão dinástica e nepotista; republicanismo monárquico; corrupção desenfreada; marginalização dos jovens; violações dos direitos humanos; controle da informação e estado policial.

Todas estas condições se aplicam à Líbia. A única coisa boa na Líbia de Kadafi é a ausência de eleições, que poupou os comitês revolucionários de Kadafi a má conduta complementar de fraudá-las.

Além desses fatores, a região leste, ou seja, Benghazi, tem sido privada dos dividendos do petróleo. Em um país com uma das maiores faixas costeiras de alta produção de petróleo, receitas e oportunidades devem estar disponíveis aos cidadãos. Mas este não tem sido o caso. Agora, Kadafi está colhendo o que semeou.

Dr Larbi Sadiki é professor titular de Política do Oriente Médio na Universidade de Exeter, e autor de Arab Democratisation: Elections without Democracy (Oxford University Press, 2009) e The Search for Arab Democracy: Discourses and Counter-Discourses (Columbia University Press, 2004).

Razões para ser otimista - livro de Matt Ridley

Sempre é bom ser otimista, sem ser ingênuo, claro. Eu particularmente gosto de ser cético, mas reconheço que os otimistas sempre levam vantagens ao ver o lado bom das coisas invariavelmente.
Um livro interessante, ideias inteligentes (ou seja, como "fitted to this blog").
Paulo Roberto de Almeida

RESENHA
Razões para ser otimista
Por Renato Lima
Opinião e Notícia, 22/02/201
Originalmente publicado em Ordem Livre, 21/02/2011
Convido o leitor a apreciar a narrativa feita por Matt Ridley no livro 'The rational optimistic'.

Aquecimento global, miséria nos países em desenvolvimento, terrorismo, fim do petróleo... É quase certo que o jornal de hoje tenha falado de algum assunto como esses, sempre com teor catastrófico e previsões negativas. São tantas notícias ruins que é fácil achar que a humanidade está entrando numa rota de colapso e que as coisas vão piorar. Não faltam livros nem artigos que preveem o fim do mundo ou de boa parte dele. Mas será que essa é a narrativa que faz mais sentido? Não teríamos razão para sermos otimistas, de forma crítica e racional, mas ainda assim otimistas?

Convido o leitor a deixar o lado hiena Hardy de lado (aquela que dizia “Oh vida, oh céus, eu sei que não vai dar certo”) e apreciar a narrativa feita por Matt Ridley no livro “The rational optimistic” (2010), que será lançado no Brasil pela Editora Record no segundo semestre deste ano. O leitor pode já ter lido outros livros de Ridley, como o “O que nos faz humanos: genes, natureza e experiência” (2004). Ele é um escritor de ciência, que em sua mais recente obra aplica conceitos econômicos para explicar o desenvolvimento humano (desde os nossos ancestrais evolutivos) até os dias de hoje. Uma obra ambiciosa no escopo e instigante na análise.

Talvez porque notícia que vende é notícia ruim, o lado positivo da experiência humana é menos falado. Quando se adiciona a experiência humana pós-revolução industrial, menos ainda (ah que saudade dos tempos da caverna, parecem suspirar alguns!). Mas, como observado por Adam Smith, a divisão do trabalho permitiu ganhos de produtividade. Cooperamos com milhares de pessoas que não nos conhecem, mas que mesmo assim se beneficiam (um milionésimo que seja) do nosso trabalho, e o mesmo acontece conosco, que recebemos uma minúscula fração do trabalho alheio, na forma de todos os produtos que consumimos diariamente. E fazemos isso às vezes mesmo sem pagar, como é o caso dos softwares livres ou da Wikipedia.

Essas trocas de conhecimento na economia podem ser comparadas com o sexo para a biologia. Como diz Ridley, ideias fazem sexo, se reproduzem e geram empreendimentos novos. Dessa forma o conhecimento de cada indivíduo pode encontrar outro pedaço de conhecimento de outro indivíduo e gerar coisas impensadas. Junte a ideia do meio de transporte por charrete, coloque um motor e temos os primeiros carros. A ideia de troca de informações pela internet e sua rede de amigos e temos o Facebook. E esse sexo de ideias não enfrenta as limitações físicas ou biológicas do praticado pelos animais. Não existe perigo de super população de ideias, ou exaustão de criatividade. Nem toda nova ideia é boa – a junção de terroristas e aviões, por exemplo, era melhor ter sido evitada – mas por qual razão devemos achar que as ideias ruins vão prevalecer sobre as boas, sempre e em todo lugar?

A autossuficiência, seja uma família rural que produz tudo o que consome ou um país fechado com um mínimo de trocas com o exterior, como a Coreia do Norte, é ruim. Não apenas dificulta a troca de produtos com o exterior, mas impede a participação nesse empreendimento coletivo de troca de ideias, o que permite a inovação. O Brasil, quando teve a sua reserva de mercado para informática e leis de similares nacionais, é outro exemplo do atraso provocado pelas políticas autárquicas. Problema não totalmente sanado, veja a dificuldade que foi levar o iPad para o País.

A narrativa de Ridley pode também ser lida pela inspiração de Alexis de Tocqueville (lá vou eu propor um sexo das ideias desses dois autores). Tocqueville escreveu um belo livro a partir de observações de viagem aos Estados Unidos (“Democracia na América”) e a obra vale por um tratado da vida em sociedade democrática. Via o francês na terra americana uma sociedade que brotava de baixo para cima, sem o peso da aristocracia europeia e outras tradições que poderiam retardar as mudanças que aconteciam nos Estados Unidos do século XIX. Tocqueville analisava a experiência americana dentro de uma narrativa da conquista da igualdade de condições entre os povos. A origem do indivíduo e a profissão dos seus pais foram perdendo a importância ao longo dos anos. A cooperação voluntária, que ele via como traço da sociedade democrática americana, é hoje global na internet. Qualquer software de código aberto se beneficia de sugestões e correções feitas por usuários, a Wikipedia é feita por usuários, o Facebook deve tudo a sua enorme rede de usuários.

Não chegamos até aqui de forma consensual, claro. Muitos – principalmente intelectuais – não gostam desse tipo de sociedade. Sociedade de consumo, do espetáculo, da falsa consciência... são vários os nomes para dizer que tudo está ruim e vai piorar, que a classe média é alienada e os ricos não se preocupam com a alta cultura. Essa nostalgia de supostos tempos de ouro é também respondida por Tocqueville. Lembrava ele de que na sociedade democrática e de cooperação voluntária é possível não ter o esplendor da aristocracia, mas existiria menos miséria. A nação como um todo pode ser menos brilhante, menos gloriosa, mas a maioria dos seus cidadãos vai poder gozar de maior prosperidade.

E essa prosperidade pode ter efeitos inicialmente imprevistos, como o fim de catástrofes anunciadas. Desde o reverendo Malthus que a “bomba populacional” é pregada como um problema global. Várias gerações defenderam limites à procriação ou esterilização forçada – que em alguns casos foram adotados por governos tão diferentes como Índia, China, Suécia ou Dinamarca, seja por medo de aumento da população seja por crenças eugênicas. Mas o que se observa atualmente? Que quanto mais próspero um país fica, menor é a taxa de crescimento populacional. Em quase todos os continentes e culturas as pessoas estão vivendo mais e tendo menos filhos. E uma coisa está associada à outra. Com uma menor mortalidade infantil, as famílias podem planejar terem menos filhos. Criar filhos, mesmo para populações pobres, deixa de ser uma loteria em que não se sabe quantos vão sobreviver para uma escolha pensada de de ter menos filhos e investir mais em educação e saúde para cada um. Como lembra Ridley citando Ron Bailey, a liberdade econômica cria uma mão invisível de controle populacional. “Quanto mais prósperas e livres as pessoas se tornam, mais a taxa de natalidade se estabiliza em duas crianças por mulher sem nenhuma necessidade de coerção. Agora, isso é ou não é uma boa notícia?”, pergunta-se Ridley.

A solução pela via da liberdade não é só eficaz como igualitária. E se aplica para vários outros problemas. Afinal, de ideias diferentes surgem novas soluções.

Renato Lima é jornalista e apresentador do “Café Colombo – o seu programa de livros e idéias”, da Universitária FM, Recife (www.cafecolombo.com.br).

Direitos Humanos: varios pesos e muitas medidas (as vezes, nenhuma...)

Pois é, sempre é assim: o Império, que tem seus próprios "SOBs", que eles protegem quando lhes servem, ou quando servem a seus interesses de segurança -- aqui incluídas algumas ditaduras detestáveis -- e que só introduzem moções políticas no Conselho de Direitos Humanos da ONU, se permite criticar este país que andava lendo tendo seus rompantes de hipocrisia -- maiores do que de costume -- nessa questão de direitos humanos.
O Brasil poderia dizer que os EUA não olham o seu próprio rabo, mas sempre se pode dizer, também, que fazemos ou deixamos de fazer coisas, no plano das relações internacionais, não para contentar ou desagradar alguém, ou outro país, mas em função de nossos próprios valores e princípios.
Parece que os valores e princípios, até pouco tempo atrás, eram, infelizmente, os de ser amigo e até aliado desses ditadorezinhos de opereta, apenas porque eles são -- alguns já eram -- supostamente não-hegemônicos e anti-imperialistas. Não há maneira mais cínica de fazer política externa...
Paulo Roberto de Almeida

WikiLeaks: EUA criticam hipocrisia do Brasil sobre direitos humanos
Yahoo notícias, 23/02/2011

BRASÍLIA - As relações comerciais e a perspectiva de conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas levam o Brasil a adotar uma postura ambígua, que chega a ser hipócrita, nas discussões multilaterais sobre a promoção dos direitos humanos. Essa avaliação pontua os relatos a Washington da diplomacia americana em Brasília, segundo telegramas divulgados pelo site WikiLeaks. Para os EUA, o Brasil tem um retrospecto de violações, especialmente no que diz respeito ao trabalho escravo e às condições precárias dos presídios.

Em mensagem confidencial, enviada em 11 de julho de 2008, a conselheira Lisa Kubiske resume a visão americana sobre os votos do Brasil nos fóruns internacionais de direitos humanos:

”Moralidade é uma faca de dois gumes para a política brasileira em razão da clara hipocrisia quando esta firmemente rejeita a condenação de estados que violam os direitos humanos, se estes países podem prover um apoio tangível aos interesses do Brasil”.

Os americanos destacam que o Brasil não encontrou problemas em condenar violações no Turcomenistão, mas é reticente a condenar no Irã ou na China, parceiros durante o governo Lula.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Existem deputados marcianos (ao que parece...)

Não é bem assim: se trata simplesmente de um deputado que faz, no mandato, aquilo que disse que iria fazer em sua campanha. Apenas isto.
Parece que nem tudo está perdido.
Cá entre nós: esse deputado corre o risco de ser assassinado por um colega despeitado...
Paulo Roberto de Almeida

Reguffe estreia com exemplo de austeridade
Redação Jornal da Comunidade, 22/02/2011

O deputado federal José Antonio Reguffe (PDT-DF), que foi proporcionalmente o mais bem votado do país com 266.465 votos, com 18,95% dos votos válidos do DF, estreou na Câmara dos Deputados fazendo barulho. De uma tacada só, protocolou vários ofícios na Diretoria-Geral da Casa.
Abriu mão dos salários extras que os parlamentares recebem (14° e 15° salários), reduziu sua verba de gabinete e o número de assessores a que teria direito, de 25 para apenas 9. E tudo em caráter irrevogável, nem se ele quiser poderá voltar atrás. Além disso, reduziu em mais de 80% a cota interna do gabinete, o chamado “cotão”. Dos R$ 23.030 a que teria direito por mês, reduziu para apenas R$ 4.600.
Segundo os ofícios, abriu mão também de toda verba indenizatória, de toda cota de passagens aéreas e do auxílio-moradia, tudo também em caráter irrevogável. Sozinho, vai economizar aos cofres públicos mais de R$ 2,3 milhões nos quatro anos de mandato. Se os outros 512 deputados seguissem o seu exemplo, a economia aos cofres públicos seria superior a R$ 1,2 bilhão.
“A tese que defendo e que pratico é a de que um mandato parlamentar pode ser de qualidade custando bem menos para o contribuinte do que custa hoje. Esses gastos excessivos são um desrespeito ao contribuinte. Estou fazendo a minha parte e honrando o compromisso que assumi com meus eleitores”, afirmou Reguffe em discurso no plenário.

Várias fontes:
http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/104706_UM+HOMEM+FICHA+LIMPA
http://comunidade.maiscomunidade.com/conteudo/2011-02-05/politica/1848/ESTREIA-COM-EXEMPLO-DE-AUSTERIDADE.pnhtml

Não se improvisam diplomatas, nem se improvisa a diplomacia...

Não, não estou falando do Brasil, ainda que poderia, pois aqui também um bando de amadores, a começar pelo mais alto escalão pretendeu essa condição, não muito tempo atrás, com enormes dissabores para a diplomacia profissional.
Se trata da França, país de velha diplomacia...

Point de vue
"On ne s’improvise pas diplomate"
Le Monde, 23.02.2011

Un groupe de diplomates français de générations différentes, certains actifs, d'autres à la retraite, et d'obédiences politiques variées, a décidé de livrer son analyse critique de la politique extérieure de la France sous Nicolas Sarkozy. En choisissant l'anonymat, ils ont imité le groupe Surcouf émanant des milieux militaires, dénonçant lui aussi certains choix du chef de l'Etat. Le pseudonyme collectif qu'ils ont choisi est "Marly" – du nom du café où ils se sont réunis la première fois. Ceci est leur premier texte public.

La manœuvre ne trompe plus personne : quand les événements sont contrariants pour les mises en scène présidentielles, les corps d'Etat sont alors désignés comme responsables.

Or, en matière diplomatique, que de contrariétés pour les autorités politiques ! A l'encontre des annonces claironnées depuis trois ans, l'Europe est impuissante, l'Afrique nous échappe, la Méditerranée nous boude, la Chine nous a domptés et Washington nous ignore ! Dans le même temps, nos avions Rafale et notre industrie nucléaire, loin des triomphes annoncés, restent sur l'étagère. Plus grave, la voix de la France a disparu dans le monde. Notre suivisme à l'égard des Etats-Unis déroute beaucoup de nos partenaires.

Pendant la guerre froide, nous étions dans le camp occidental, mais nous pesions sur la position des deux camps par une attitude originale. Aujourd'hui, ralliés aux Etats-Unis comme l'a manifesté notre retour dans l'OTAN, nous n'intéressons plus grand monde car nous avons perdu notre visibilité et notre capacité de manœuvre diplomatique. Cette perte d'influence n'est pas imputable aux diplomates mais aux options choisies par les politiques.

Il est clair que le président n'apprécie guère les administrations de l'Etat qu'il accable d'un mépris ostensible et qu'il cherche à rendre responsables des déboires de sa politique. C'est ainsi que les diplomates sont désignés comme responsables des déconvenues de notre politique extérieure. Ils récusent le procès qui leur est fait. La politique suivie à l'égard de la Tunisie ou de l'Egypte a été définie à la présidence de la République sans tenir compte des analyses de nos ambassades. C'est elle qui a choisi MM. Ben Ali et Moubarak comme "piliers sud" de la Méditerranée.

Un WikiLeaks à la française permettrait de vérifier que les diplomates français ont rédigé, comme leurs collègues américains, des textes aussi critiques que sans concessions. Or, à l'écoute des diplomates, bien des erreurs auraient pu être évitées, imputables à l'amateurisme, à l'impulsivité et aux préoccupations médiatiques à court terme.

Impulsivité ? L'Union pour la Méditerranée, lancée sans préparation malgré les mises en garde du Quai d'Orsay qui souhaitait modifier l'objectif et la méthode, est sinistrée.

Amateurisme ? En confiant au ministère de l'écologie la préparation de la conférence de Copenhague sur le changement climatique, nous avons abouti à l'impuissance de la France et de l'Europe et à un échec cuisant.

Préoccupations médiatiques ? La tension actuelle avec le Mexique résulte de l'exposition publique d'un dossier qui, par sa nature, devait être traité dans la discrétion.

Manque de cohérence ? Notre politique au Moyen-Orient est devenue illisible, s'enferre dans des impasses et renforce les cartes de la Syrie. Dans le même temps, nos priorités évidentes sont délaissées. Il en est ainsi de l'Afrique francophone, négligée politiquement et désormais sevrée de toute aide bilatérale.

Notre politique étrangère est placée sous le signe de l'improvisation et d'impulsions successives, qui s'expliquent souvent par des considérations de politique intérieure. Qu'on ne s'étonne pas de nos échecs. Nous sommes à l'heure où des préfets se piquent de diplomatie, où les "plumes" conçoivent de grands desseins, où les réseaux représentant des intérêts privés et les visiteurs du soir sont omniprésents et écoutés.

Il n'est que temps de réagir. Nous devons retrouver une politique étrangère fondée sur la cohérence, l'efficacité et la discrétion.

Les diplomates français n'ont qu'un souhait : être au service d'une politique réfléchie et stable. Au-delà des grandes enceintes du G8 et du G20 où se brouillent les messages, il y a lieu de préciser nos objectifs sur des questions essentielles telles que le contenu et les frontières de l'Europe de demain, la politique à l'égard d'un monde arabe en révolte, nos objectifs en Afghanistan, notre politique africaine, notre type de partenariat avec la Russie.

Les diplomates appellent de leurs vœux une telle réflexion de fond à laquelle ils sauront apporter en toute loyauté leur expertise. Ils souhaitent aussi que notre diplomatie puisse à nouveau s'appuyer sur certaines valeurs (solidarité, démocratie, respect des cultures) bien souvent délaissées au profit d'un coup par coup sans vision.

Enfin, pour reprendre l'avertissement d'Alain Juppé et d'Hubert Védrine publié le 7 juillet 2010 dans Le Monde "l'instrument [diplomatique] est sur le point d'être cassé". Il est clair que sa sauvegarde est essentielle à l'efficacité de notre politique étrangère.

Le groupe "Marly", un collectif qui réunit des diplomates français critiques
Article paru dans l'édition du 23.02.11

Brasil Macunaimico: roubando dos pobres (e menos pobres) para dar aos ricos (e espertos)

Macunaíma, como muitas vezes repetido, era o "herói sem nenhum caráter", representativo, segundo o autor da "novela", Mário de Andrade, do espírito do brasileiro, o que sempre achei uma tremenda injustiça. Os brasileiros são em geral trabalhadores, no tempo dele vítimas das saúvas, hoje vítimas de outro tipo de saúvas: políticos vagabundos que se ocupam de roubar o seu dinheiro.
Infelizmente vou precisar retomar a minha "teoria da jabuticaba", para explicar como, no Brasil, ONGs não apenas vivem de dinheiro público, como se organizam expressamente para isso, para sugar o dinheiro público. Quem mais faz, deliberadamente para isso, são políticos vagabundos.
Paulo Roberto de Almeida

As coisas que mais crescem em número no Brasil: ONGs e vagabundos
Reinaldo Azevedo, 21/02/11

Os dois grupos que mais se expandem no Brasil são “ongueiros” e “vagabundos”, sendo que raramente os primeiros se distinguem dos segundos. Existem os honestos? Claro que sim! Por isso mesmo estes não devem se ofender e até devem se orgulhar de sua condição de minoria.
Há muitos anos criei a sigla ONGG, uma jabuticaba inventada no Brasil. A ONGG é a “Organização Não-Governamental Governamental”. Em que consiste o truque? Partidos, geralmente no poder, criam eles próprios as ONGs que vão receber dinheiro do Estado para fazer “trabalho social”, pervertendo, a um só tempo, o sentido do governo e da ONG.
Todos vocês estão acompanhando a lambança da ONG do PC do B. Os comunistas do Brasil estão reclamando; eles se sentem perseguidos. É verdade, camaradas vermelhos! Fossem só vocês, seria menos grave, né? Mas o PC do B, vamos ser justos, nada mais faz do que copiar o modelo inaugurado entre nós pelo PT, que domina boa parte das entidades que recebem verba do governo — assim como domina os sindicatos. Isso não quer dizer que os comunistas estejam fazendo bonito, né?
Qual é o sentido de uma ONG? Originalmente, ela deveria fazer aquilo que o Estado não consegue, não pode ou não quer. E seu trabalho deveria, necessariamente, ser financiado com recursos próprios, não-estatais. Os fundos que manipula têm de vir do que consegue arrecadar na sociedade. Ora, o que aconteceu com as ONGs e suas parentes, as Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público)? Transformaram-se numa forma de terceirização do governo. Não! É pior do que isso: viraram intermediários entre a população e o governo; colocam-se, hoje, como uma camada burocrática a mais entre o estado e o cidadão.
É rigorosamente isso o que acontece com o Programa Segundo Tempo, do Ministério dos Esportes. Em vez de as cidades cuidarem do convênio com a pasta, isso fica a cargo de uma ONG, comandada por pessoas do mesmo partido do ministro Orlando Silva: o PC do B. E o que faz a dita-cuja? Cobra um pedágio. Para quem vai esse dinheiro? Raios me partam se não acabar, na melhor das hipóteses, no caixa do PC do B; na pior, acaba no bolso de membros do PC do B.
O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), disse que vai protocolar uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo investigação sobre todos os convênios denunciados. Ele também quer uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). “Não podemos dar um cheque em branco para essas ONGs. Vamos exigir do Ministério (dos Esportes) explicações em relação à prestação de contas. Estas justificativas apresentadas até agora são superficiais e inconsistentes”, afirmou o líder do DEM.
Convenham: por que cargas d’água as prefeituras têm de fazer convênio com a ONG e não com o Ministério? Tenham paciência! O Congresso já tentou fazer uma CPI das ONGs. Não chegou a lugar nenhum. Hoje, elas são uma das principais fontes de escoamento irregular de dinheiro público e de financiamento ilegal de partidos — isso quando não se presta ao enriquecimento puro e simples de larápios.
Orlando Silva, desta vez, está custando bem mais caro do que uma tapioca paga com cartão corporativo. Aquilo era só um indício do que viria. E veio!

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