segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Diplô: involuntariamente hilariante (nao pude evitar de rir...)

Certos jornais são feitos para serem sérios, para lutar contra a "mídia golpista", para veicular posições alternativas, ou seja, para combater "pensamento único" (obviamente neoliberal até a medula), para defender as ideias do socialismo redivivo num mundo que, torce e retorce, acaba virando irremediavelmente capitalista. E se não bastasse, ainda vêm esses deserdados árabes do Terceiro Mundo, que só precisavam ser antissionistas e anti-imperialistas e resolvem também ser anti-autocracias e a favor da democracia burguesa e dos direitos humanos, tout court.

Vai daí que de vez em quando alguns desses veículos da esquerda dinossáurica, que deveriam ser sérios, se tornam involuntariamente hilariantes. Sinto muito, com perdão dos redatores do Diplô -- nome simpático esse, até eu me encantei -- mas não pude evitar um acesso de riso ao ler não mais do que as manchetes do número em curso.
Estou absolutamente certo que quando abrir para ler as matérias, vou rir às bandeiras despregadas, como se dizia antigamente...
Vejam as manchetes; eu acrescento os comentários maldosos, entre colchetes: [xxx]

bibliotecadiplô e OUTRASPALAVRAS
Boletim de atualização de Outras Palavras e Biblioteca Diplô - Nº 30 - 28/2/2011

Cuba revê sua relação com a internet
Chegada de cabos óticos (foto) permitirá oferecer, em teoria, banda larga para todos. Mas qual será a política para o uso da rede? Por Leonardo Padura Fuentes

[PRA: Como assim? Cuba vai sentar com Madame internet e ver como será daqui prá frente? Vai distribuir banda larga no boleto de racionamento? Se for como na cartelita, deve dar para 12 dias por mês, no máximo, depois cada um deve comprar o resto no mercado negro...]

Retrocesso econômico: o ministro que se deve ouvir
Entrevista com Guido Mantega não esclarece motivo para aumento dos juros e cortes no Orçamento. Recomenda-se, para tanto, ouvir um ministro mais poderoso

[PRA: Que incompetente esse ministro da Fazenda; melhor falar com o seu antecessor, muito mais poderosos, para ver se ele tem alguma ideia mais palatável, do que ficar sempre aumentando juros e cortando o orçamento. Isso não é coisa que se faça. Aposto como o anterior, que justamente ordenou todas essas despesas orçamentárias, era incapaz de cometer esses gestos crueis com a economia popular...]

Previdência: as duas primeiras contribuições
Leitores atendem a chamado e apresentam alternativas à contra-reforma que a mídia julga necessária

[PRA: Essa mídia golpista! Sempre inventando um déficit da Previdência... Malhor falar com os futuros aposentados, ou aposentandos, diria alguém: eles não têm nenhum interesse em fazer uma contra-reforma, e sim em ter uma Previdência saudável, cheia de recursos, assim como ela é hoje. Outra Previdência é possível...]

Ainda estou rindo, desculpem. Agora vou abrir o meu "Diplô"...

Paulo Roberto de Almeida

Serviço de utilidade publica: nova forma de roubo

Recebido, como sempre ocorre, pela internet, e suficientemente importante para merecer postagem aqui, como informação de interesse relevante para nossa vida diária, num Brasil cada vez mais entrega à violência e à delinquência.
Só tem um problema de Português, que é o de misturar o tratamento "você" com "tu", mas esses pequenos atentados cometidos contra a língua não correm o risco de matar ninguém...
Paulo Roberto de Almeida

UM ALERTA PARA TODOS - NOVA FORMA DE ROUBO

A imaginação dos marginais não tem limites...
Esperam num estacionamento, e depois de você sair do carro, eles mudam a placa e ficam à espera.
Depois, te seguem, te ultrapassam e mostram a placa pela janela, como se ela se tivesse desprendido do teu carro.
Talvez você fique um pouco espantado por ver a tua placa ali mas, sem desconfiar e porque acha que ela caiu, resolve parar para recuperá-la e agradecer a quem tão "generosamente" deseja devolver a placa que você nem reparou que tinha caído...
Parar é tudo o que eles querem que você faça e aí já é tarde demais e terá sorte se não for violentamente tratado, raptado, ferido ou morto (que ironia: será ótimo se for apenas um assalto).
Não pare, seja por que motivo for. Uma placa não é nada, comparada com a tua integridade física.
Pense no que poderá acontecer, antes de agir.

Os criminosos são espertos e podem ser extremamente violentos quando querem conseguir alguma coisa.

Este e-mail é para defesa de todos.

Minitratados sobre as grandes questoes da humanidade: apenas deixando de ser serio, por uma vez

Recebo, de vez em quando, algum comentário sobre meus posts menos sérios, digamos assim.
Por posts menos sérios eu quero indicar aqueles que não têm nenhum outro objetivo senão o de me distrair um pouco, saindo daqueles textos prolixos -- e por vezes chatos -- que costumo escrever, para adentrar no terreno do "divertissement".
Isso acontece quando deparo com alguma palavra, ou situação -- pode ser um simples ponto de exclamação, bem ou mal colocado (não importa agora) -- que me faz refletir sobre os imponderáveis da existência humana e sobre os mais graves problemas que assolam a humanidade.
Enfim, coisas como os desencontros, os subterfúgios, as "dérobades" -- preciso encontrar o equivalente exato, em Português, dessa palavra francesa; alguém me ajude, por favor -- mas também podem ser simples regras ou normas gramaticais, como as reticências e as entrelinhas.
A vida já é bastante complicada como ela é: os meus minitratados têm, precisamente, a intenção de fazê-la ainda mais complicada, ao discorrer de maneira pedante sobre problemas simples.
Mas, pelo menos, eu me divirto assim...
Abaixo, uma relação dos minitratados produzidos até agora, sem transcrição completa, mas com os links para sua leitura integral.
Ainda tenho outros no pipeline, mas aceito sugestões para novos minitratados.
Só uma condição: eles não podem ser sobre nenhum problema realmente importante para a humanidade.
Para isso já temos revistas, jornais e livros em número suficiente.
Apenas divertissement, lembrem-se...
Paulo Roberto de Almeida

Série dos minitratados (so far...)

1) Minitratado das reticências:
Pouca gente dotada de uma certa familiaridade com a palavra escrita consegue atribuir real importância às reticências, inclusive este cidadão que aqui escreve. Quero falar das reticências stricto sensu, isto é, os famosos três pontinhos ao final de alguma frase ou expressão...
Ler a suite deste minitratado neste link.

2) Minitratado das interrogações:
Interrogantes são inerentes à espécie humana, e talvez mesmo a certos primatas. Determinadas escolhas, ou caminhos, nos levam a uma situação de melhor conforto material ou de maior segurança pessoal, sem que, no entanto, saibamos, ou tenhamos certeza, ao início, que aquela opção selecionada é, de fato, a de melhor retorno ou benefício possível. Dúvidas, questionamentos, angústias, em face das possibilidades abertas em nossa existência, são inevitáveis em todas as etapas e circunstâncias da vida. Daí a interrogação, normalmente simbolizada pelo sinal sinuoso que colocamos ao final de certas frases: ?
Ler a suite deste minitratado neste link.

3) Minitratado das entrelinhas:
Tratados, em geral, costumam ser solenes, como convém aos grandes textos declaratórios, escritos em tom impessoal e devendo refletir alguma realidade objetiva, uma relação entre Estados...
Minitratados, por suposição, deveriam ser versões reduzidas de seus irmãos maiores...
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4) Minitratado da imaginação:
A imaginação não é um simples sentido natural, e sim um ato da vontade, embora não possamos impedir nossa própria consciência de imaginar “coisas”. Mas essas coisas imaginadas são instruídas, orientadas, criadas e administradas por nós, como se fossemos um diretor de cinema ou de teatro, quando eles dizem aos atores como o script deve ser realmente lido e interpretado.
Ler a suite deste minitratado neste link.

5) Minitratado da reencarnação:
Não, não quero falar da reencarnação "real", aquela na qual acreditam piamente hindus e tibetanos, pelo menos os religiosos, nisso seguindo, ao que parece, os antigos egípcios, que já não estão mais entre nós para contar como a sua, supostamente rica, experiência nessa matéria. Os primeiros são radicais, capazes até de interromper a construção de um templo por uma minhoca que apareceu no canteiro de obras; afinal, nunca se sabe: pode ser a mãe de alguém. Enfim, se os egípcios ainda nos assustam com múmias de Hollywood, os outros nunca provaram o que afirmam.
Ler a suite deste minitratado neste link.


OK, OK, já tem vários na fila, cada um mais desimportante que o outro; os mais estranhos passam na frente...
Paulo Roberto de Almeida

Minitratado da Reencarnação - Paulo Roberto de Almeida


Minitratado da Reencarnação

Paulo Roberto de Almeida

Não, não quero falar da reencarnação “real”, aquela na qual acreditam piamente hindus e tibetanos, pelo menos os religiosos, nisso seguindo, ao que parece, os antigos egípcios, que já não estão mais entre nós para contar como era a sua experiência nessa matéria, supostamente rica. Os primeiros são radicais, capazes até de interromper a construção de um templo por uma minhoca que apareceu no canteiro de obras; afinal, nunca se sabe: pode ser a mãe de alguém. Enfim, se os egípcios ainda nos assustam com múmias de Hollywood, os outros nunca provaram o que afirmam.
Quero falar de outra reencarnação, de tipo virtual; uma que mobilizaria, ao que parece, os simples escritores, ou escrevinhadores, como eu, que ficam imaginando vidas alternativas com base no famoso what if?, isto é, o que eu faria se me fosse dado retomar o curso (que dizem retilíneo) da história, se eu pudesse inverter a flecha irrecorrível do tempo? O que eu faria se pudesse reescrever meu itinerário, se me fosse dado viver a mesma vida, mas escolhendo, com o benefício do hindsight, o melhor caminho para algumas das velhas (ou novas, diferentes) situações, se eu pudesse prever as consequências e fazer, assim, as escolhas mais convenientes?
Em outros termos, o que eu faria se me fosse dado configurar o “ótimo paretiano” de minha existência em nada extraordinária, mas bastante diferente da de muitos outros de minha geração? O que eu teria feito de diferente para, digamos, ficar rico, famoso e admirado? Bem, estou apenas usando uma figura de estilo. Nunca pensei em ficar rico, de verdade; embora, algumas vezes, as loterias, que eu não joguei, bem que poderiam ter ajudado a trocar algum carro velho. Mas todo mundo, pelos menos normal, sempre quer ser admirado pelos outros, o que implica ser famoso primeiro. Minhas vantagens comparativas nunca estiveram, hélas, nos esportes ou na música – sou o maior desafinado que jamais encontrei na vida e no mundo –, as duas áreas que mais rendem fama e dinheiro para os sortudos ou talentosos.
Minhas (poucas) vantagens comparativas sempre estiveram naquele setor infelizmente tão depreciado e desvalorizado no Brasil: a educação e a cultura. Fui um rato de biblioteca desde o início, e não poderia ser de outro modo, ao residir perto de uma biblioteca pública infantil. Enfim, poderia, sim, ter sido diferente, se eu tivesse preferido ficar mais tempo jogando pelada na rua, com a molecada do bairro, em lugar de me enterrar na biblioteca todos os dias depois da escola, e ainda retirar livros para ler em casa, no exato momento em que ela fechava, às 6 horas da tarde. Quase todo dia, eu levava um ou dois livros para casa, tentando devolvê-los já no dia seguinte; não era fácil, pois ler na cama, à contraluz, não era uma das coisas mais confortáveis que se pode imaginar para o devorador de livros que eu era (ainda sou).
Mas então o quê: como seria com alguma reencarnação de encomenda? Será que eu poderia ter ficado famoso como jogador de futebol? Não acredito! Eu só era um pouco menos ruim jogando que cantando; não creio que teria feito uma brilhante carreira do lado dos esportes e certamente nenhuma no campo das artes. Melhor, assim, ter ficado com os livros, que pelo menos me deram prazer intelectual, sem que eu me arriscasse a desafinar ou a desmantelar a armação do time a cada página virada.
Agora, retomando minhas opções preferenciais, como teria sido então? Com exceção de alguns poucos intelectuais de peso, quem, alguma vez, ficou famoso, no Brasil, por gostar de livros, ou por pretender ter uma carreira na educação, ou seja, no magistério e na redação de livros? Deveria eu trocar de reencarnação? Em qual tipo de personagem eu deveria reencarnar, exatamente? Teria de ser o contrário de tudo o que sempre gostei de fazer? Ler, refletir, escrever, eventualmente publicar o que resultar de tudo isso? Sei que jamais ficarei rico, muito menos famoso; mas quem sabe eu seria, enfim, admirado por todos aqueles que gostam dessas mesmas coisas?
OK, OK, então por onde começamos essa reencarnação dirigida para o que eu sempre gostei de fazer? Bem, eu recomeçaria exatamente pelo mesmo cenário infantil: uma biblioteca pública. O que mudaria, talvez, para aumentar minhas chances de sucesso no futuro projetado, seria a condição social de minha família: em lugar de pai e mãe que saíram da escola primária para trabalhar, pessoas de classe média. Não que eu tenha vergonha da pouca educação de meus pais, pois isso faz parte da vida, mas o fato é que eu cresci em uma casa sem livros e sem revistas ou jornais; seria preciso, pelo menos um pouco, dispor de dinheiro para comprar livros (e também aqueles sundays e banana-splits que eu cobiçava sem poder comprar).
Será que tudo é uma questão de dinheiro? Uma reencarnação com mais livros e mais dinheiro mudaria, de fato, a minha vida? Talvez ajudasse um pouco. Não creio que eu chegaria a ser, de verdade, muito diferente do que sou hoje: um amante dos livros, um obcecado por livros, um maluco que passa o seu tempo a ler, a refletir a partir dessas leituras e a escrever, colocando no papel as impressões de tudo isso. Um pouco mais de livros, não teria mudado essa “fatalidade”; afinal de contas, lendo o tempo todo, seria fisicamente impossível, talvez, ler mais ainda.
Enfim, se eu tivesse crescido em outro meio social, talvez eu pudesse ter comprado os livros que não estavam à minha disposição, nas várias bibliotecas que frequentava intensamente, e talvez tivesse publicado mais cedo, tendo alcançado aquela fama – não exatamente narcisista – que permite ter livros resenhados na grande imprensa e comentados pela chamada intelligentsia. Isso eu confesso que não consegui fazer, e talvez o meu projeto de reencarnação poderia ter ajudado em algo nesse departamento. Quem sabe eu poderia reencarnar como editor de mim mesmo? (Não! Isso seria uma fraude contra as boas práticas da difícil profissão de editor; os honestos, quero dizer, pois também existem os que fazem ação entre amigos.)

OK, reconheço agora que não estou escrevendo o que disse que iria fazer, ou seja, um minitratado da reencarnação; para restar fiel aos exemplos precedentes desta minha série, esta deveria ser uma peça sistemática, expondo rigorosamente, isto é, “cientificamente”, as bases da reencarnação, para depois retomar literariamente meu “outro” destino neste mundo tão imprevisível. O que na verdade flui do meu teclado é uma espécie de minibiografia saudosista falando apenas da minha obsessão por livros e pela palavra escrita. O que posso fazer se não sou perito nessa coisa de reencarnação, e sequer acredito nesse tipo de baboseira? Bem, peço o perdão dos crentes sinceros nesse tipo de coisa, ou seja, as “almas puras”. Acredito, também sinceramente, que os reencarnados verdadeiros, quando inteligentes, sempre têm coisas boas para contar.
Aqui entre nós, existem, de fato, reencarnados verdadeiros? Vocês também, como eu, não desconfiam dessas pessoas que pretendem ser a reencarnação de Cleópatra, de Júlio Cesar, de Napoleão? Nunca encontrei alguém que dissesse ter sido a reencarnação de algum escravo egípcio que construiu as pirâmides dos grandes faraós, que foi um dos assassinos do mesmo Cesar, ou um simples soldado de Napoleão, que morreu nas planícies geladas da Ucrânia, na inútil tentativa de voltar para casa. Alguém admite ter sido uma simples minhoca, como aquelas mães de tibetanos? Todos pretendem ter vivido algum personagem famoso. Blefe, tudo isso!

Bem, voltando ao meu projeto de reencarnação, ou melhor, ao espírito deste meu minitratado, quero dizer simplesmente isto: o que todo mundo procura, afinal, numa eventual volta ao mundo em condições melhores do que as anteriores – sim, também não conheço ninguém que pretenda voltar pior – é que, salvo um acidente ocasional, uma surpresa do acaso, é a virtude de pelo menos ser feliz no amor. Como teria sido se, em lugar daquela timidez incontrolável, eu tivesse tido a coragem de falar com aquela loirinha da terceira fila, tê-la convidado para o cinema de domingo, supondo-se que eu também teria dinheiro para o sorvete na saída? Como teria sido se eu tivesse tido a coragem de dar-lhe um beijo, e declarar o meu amor eterno? OK, mudando agora de assunto: suponhamos que eu tivesse tido a chance de ter ajudado no trabalho escolar da filha daquele editor famoso, que ele tivesse em seguida me convidado para escrever meu primeiro livro para jovens do ensino médio? Eu já teria sido famoso antes de entrar na Faculdade, onde eu evidentemente assombraria os professores com a minha erudição fenomenal e precoce. Talvez fosse convidado para ser assistente daquele famoso sociólogo que depois virou presidente por acaso...

Mas que coisa: estou sonhando. Reencarnação não existe, e o melhor que podemos fazer por nós mesmos é levar esta vida terrena – a única de que dispomos – de forma responsável, tentando ser bons para nós mesmos, para todos os que nos cercam, sem esquecer a humanidade em seu conjunto (estou sendo exagerado e pretensiosamente generoso, claro). Creio que a essência e o princípio de tudo para merecer uma boa reencarnação – para os que acreditam nessas coisas, claro – é fazer isso mesmo o que acabo de escrever: deixar o mundo melhor, pelo menos um pouco melhor, do que aqueles que encontramos quando aqui chegamos. Afinal de contas, somos todos responsáveis pela administração deste pequeno planeta perdido na imensidão da galáxia. Boa sorte aos que reencarnarem. É melhor ser ativo aqui mesmo, sem perda de tempo e sem esperar um ponto de partida melhor.
Ser responsável com o mundo e a espécie humana é difícil, mas isso se faz pelo trabalho honesto, pela participação cidadã nos negócios da comunidade, pela elevação material e espiritual – isto é, pela educação e cultura – de todos os que nos cercam e de todos aqueles que podem se beneficiar de nossas boas ações. Em resumo, devemos sempre visar bastante alto em nossos objetivos de vida, para que consigamos realizar pelo menos uma parte de tudo aquilo que almejamos. Isso, supostamente, nos traria um vale-brinde para a reencarnação, a ser descontado em algum momento de nossas vidas (inclusive, e de preferência, nesta aqui mesmo, na terrena). Pode também valer um ingresso em algum livro de recordações.
Em todo caso, boa sorte a todos os que miram na reencarnação. A minha, virtual, já está feita: ela se expressa naquilo que escrevo e publico. Vale!

Brasília, 28 de fevereiro de 2011 [Revisão: 05/11/2011]

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Livros: extorsivos no Brasil, baratissimos na Abebooks...

Meus caros companheiros de leitura,
Ainda não me recuperei do choque, raiva, frustração, por ter pago 89 reais (53 dólares) por uma tradução vagabunda e um Português horroroso de um livro de um historiador inglês, publicado por uma Editora brasileira inqualificável de criminosa (pela edição, talvez não pelo preço), quando eu poderia ter pago 5 dólares um usado na Abebooks, ou downloadado por 11 dólares no Kindle.

Pois hoje eu tinha de citar um livro que já possuo (comprei o meu em Hong Kong, por algo como 16 dólares, mas ainda não me chegou da China), e verifiquei rapidamente no site da Cultura. Deu isto:

Donos Do Dinheiro, Os (em Portugues) (2010)
AHAMED, LIAQUAT
CAMPUS
Preço R$ 109,90
ou
Lords Of Finance - The Bankers Who Broke The World (em Ingles) (2009)
AHAMED, LIAQUAT
PENGUIN USA
Preço R$ 41,22

Ou seja, no caso da edição brasileira CUSTA APENAS US# 64,50 e na edição original US$ 24,40.

Vejo agora na Amazon, edição Kindle: US$ 11,99 (como sempre)
E na Abebooks:
Lords of Finance: The Bankers Who Broke the World (ISBN: 0143116800 / 0-14-311680-0)
Liaquat Ahamed
Bookseller: MissionBasedBooks LLC
(Ann Arbor, MI, U.S.A.)
Bookseller Rating:
Quantity Available: 1
Book Description: Penguin (Non-Classics). Book Condition: Used - Good. Used - Good. Bookseller
Price: US$ 3.58
Frete para o Brasil: US$ 15,-

Ou seja, por menos de 19 reais (se você possuir um Kindle, você pode recebé-lo imediatamente, embora nem todos gostem de ler na pequena tela, sem poder folhear o livro, consultar index, notas bibliografia, etc).
Mas, por menos de 32 reais, você pode ter o livro em casa, se esperar 3 semanas, aproximadamente.

Por que pagar, então R$ 109 ???
Só maluco...
Com 70 reais dá para comer muito bem num bom restaurante, tomar um café e ler o seu livro deitado na rede...

Extorsivo Brasil...

Faraos, mullahs, mandarins, etc. - Ricardo Velez Rodriguez

Um interessante artigo de um colega acadêmico liberal, sobre as revoltas em curso em países muçulmanos (e se a sorte ajudar, na China). Partilho amplamente da visão do professor.
Tanto é assim que, seis dias antes da publicação desse artigo, abaixo transcrito, eu escrevia (e postava neste blog dois dias depois), este meu artigo:

Reflexões ao léu, 2: sobre as revoltas nos países islâmicos
QUINTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2011

A conferir nossos pontos de vista, portanto.
Paulo Roberto de Almeida

Faraós, califas, mulás, sovietes e mandarins
RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ
O Estado de S.Paulo, 26 de fevereiro de 2011

A revolta que assombra os países islâmicos coloca uma questão: as respectivas sociedades, em que pese a diversidade delas, na Tunísia, no Egito, na Argélia, no Iêmen, no Irã, na Líbia, no Marrocos, no Bahrein, etc., buscam uma coisa: melhores condições de vida, liberdade e participação. Tudo isso comunicado, em rede, pelas pessoas, driblando controles policiais e censuras. Um primeiro capítulo dessa onda libertária ocorreu no final do século passado, quando desabaram as ditaduras da União Soviética e do Leste Europeu e quando os cubanos fugiram em massa para Miami, no episódio conhecido como os "Marielitos", na época do governo Reagan. Terremoto semelhante ocorreu na China, com a ocupação da Praza da Paz Celestial pelos estudantes, primeiro, e, depois, pelos tanques.

Uma conclusão salta à vista: o que os revoltosos de ontem e de hoje procuram é o que sempre foi apregoado pelas democracias liberais: liberdade de ir e vir, liberdade para empreender negócios, liberdade de pensamento e expressão, liberdade para as mulheres e para as minorias, controle da sociedade civil sobre o aparelho do Estado, conquista do conforto como expressão do desenvolvimento econômico, tolerância, pluralismo, enfim, tudo aquilo que as elites corruptas dos países sacudidos pela onda de insatisfação negam aos seus cidadãos.

Palmas para o liberalismo que consegue, em pleno século 21, seduzir com os seus ideais as grandes massas dos países que ficaram por fora das reformas ensejadas no Ocidente pelos seguidores de Locke, Tocqueville e Adam Smith. Os ideais liberais superaram a prova da História, não ocorrendo assim com os ideais totalitários de Marx e quejandos.

No final da primeira década do século 21 encontramos, consolidada pela opinião pública mundial, a modalidade de Estado contratualista estudado pelos liberais doutrinários e por Max Weber. Segundo o pensador alemão e os seus precursores franceses (Benjamin Constant, Guizot, Tocqueville, etc.), ali onde houve uma experiência feudal completa, as respectivas sociedades se diversificaram em ordens diferentes de interesses, que ensejaram o surgimento das classes sociais, sendo o jogo político uma luta entre elas. Esse processo ensejou o moderno parlamentarismo, civilizada arena onde se realiza o confronto entre interesses diversos, abandonando o campo da guerra civil. A alternativa a esse modelo liberal ficou por conta do pensamento de Rousseau, ao longo dos três últimos séculos, que consolidou o ideal da democracia totalitária, alicerçada na unanimidade construída mediante a eliminação da dissidência.

Ora, a luta que observamos presentemente é uma reação de sociedades dominadas por ditaduras, que se constituíram em herdeiras do velho despotismo oriental. O que egípcios, tunisianos, iemenitas, iranianos, chineses dissidentes, etc. buscam é a substituição do modelo do patrimonialismo hidráulico por arquétipos inspirados na prática da representação política e de respeito aos direitos individuais. Ora, isso é possível, inclusive no seio de sociedades diferentes das ocidentais. A Turquia encarna hoje, por exemplo, um regime que se aproxima das modernas democracias.

As ditaduras somente são aceitáveis para aqueles que dominam, jamais para os dominados. Como dizia Talleyrand, a raposa aristocrática, a Napoleão: "Sire, as baionetas servem para muitas coisas, menos para se sentar encima delas." Ou seja: você, governante, quer estabilidade? Construa a livre participação dos seus cidadãos! Essa, aliás, foi a genial lição que o nosso precursor liberal Silvestre Pinheiro Ferreira passou ao seu chefe, Dom João VI, no final da primeira década do século 19, nas suas famosas Cartas sobre a Revolução Brasileira.

Faraós, califas, sovietes, mulás e mandarins jamais conseguiram - nem conseguirão - satisfazer às suas respectivas sociedades, porque está viciado, ab origine, o modelo de patrimonialismo oriental em que se inspiram e que se define como a organização do Estado como se fosse propriedade familiar de uma casta, de um czar ou de uma oligarquia.

Chamou-me a atenção uma reportagem que li num jornal canadense no ano passado: o maior grupo étnico de milionários que busca residência no Canadá é constituído pelas famílias de altos dirigentes chineses. O repórter indagava acerca das razões dessa preferência. O motivo alegado por eles era bem curioso: a China, sim, é uma grande potência econômica e política. Mas ninguém tem certeza de que as conquistas de bem-estar atingidas pela elite - calculada em 400 milhões de pessoas - serão garantidas para as próximas gerações. Assim sendo, os mandarins cuidam para que as suas famílias passem a gozar das benesses do desenvolvimento, não na terrinha (pátria do despotismo hidráulico), mas ali onde estão garantidas, por uma longa tradição liberal, as conquistas dos indivíduos. Ou seja: a China pode ser uma grande potência, mas não é o paraíso, mesmo para as famílias dos seus dirigentes, que preferem um país desenvolvido do Ocidente para ali gozarem as benesses do progresso e do conforto, com a certeza de que esses direitos serão garantidos num clima de liberdade.

A América Latina, na trilha do populismo da última década, abjura justamente o liberalismo e fica presa à manutenção de odiosos privilégios oligárquicos (vide os pactos realistas do partido governante no Brasil com ícones da oligarquia nordestina, que ainda conseguem manter sob censura o mais importante diário do País, justamente por ter sido denunciada nas suas páginas a prática de arcaico patrimonialismo). Nesse ponto, o Brasil consegue ser ainda mais retardatário que o Egito, onde caiu o faraó de plantão, enquanto nós mantemos, felás pagadores de impostos, os privilégios de odiosa nomenclatura em que se converteu a nossa classe política.

COORDENADOR DO CENTRO DE PESQUISAS ESTRATÉGICAS DA UFJF E-MAIL: RIVE2001@GMAIL.COM

Europa maior que os EUA?: deve ser a sede do FMI?

A despeito de interessante, este artigo tem uma falha: a Europa tem, realmente, no conjunto dos 27 membros, um PIB maior do que o dos EUA, e um comércio global superior ao comércio exterior dos EUA.
Mas ela não tem uma moeda única a 27: são apenas 17 (com certo esforço) os membros da Eurolândia e não se imagina que a força do euro se torne superior à do dólar antes de algum tempo.
Assim, os EUA ainda são a economia mais importante -- mesmo quando a China ultrapassar o PIB americano, em mais alguns anos -- e a mais influente no mundo.
Paulo Roberto de Almeida

Iran defeats Russia, Europe overtakes USA
Author: Dr. Greg Austin
New Europe, 27 February 2011 - Issue : 924

International competition has many levels. In Brussels this past week, Prime Minister Putin felt the need to disparage the leadership of Iran as a negative outcome of European foreign policy. After railing against alleged “European” support of Ayatollah Khomeini before 1979, Putin took on Palestine.

"Not long ago at all, our partners came out actively for honest democratic elections in the Palestinian territories," Putin said. "Wonderful! Well done, lads! And it turns out Hamas wins, the same people you are calling a terrorist organization and have started to fight against." (Moscow Times).

At one level of politics, Putin’s analysis of Iran and Palestine is rational. On another level, there is a deep neuralgia in Russia about the Muslim world. Putin said that Russia was concerned about the consequences of the recent uprisings in Arab countries for Russian security. He also warned (correctly) that the events could have negative consequences for Europe. The underlying anxiety here is not unique to Mr Putin. He is showing a discomfort here many Western leaders share and that will only grow.

The anxiety comes about because of shifting power relationships in many fields of national endeavor. On a much lower level, this was symbolized in a tantalizing way in the shock defeat of Russia by Iran (1-0) in a football friendly in Dubai on 9 February. Perhaps the patriotic, sports-loving Mr Putin was smarting from the defeat. The Dubai game, a warm-up for the Euro 2012 qualifiers, was only held in Dubai so that the Russian football federation could get the money from the TV rights involved in playing a team from the region.

More seriously though, the Putin visit to Brussels and the concerns he expressed reflect fundamental shifts in world power at a time when, with the uprisings, revolts and wars in the Muslim world, there is an historic shift under way in world politics. Russia’s relations with the European Union (EU) now look very different from three years ago. Russia has overtaken China as an economic partner of the EU and Putin is determined to make Russia and the EU partners in international security affairs as well.

At exactly the time when the world press was trumpeting the statistic that the Chinese economy had overtaken the Japanese economy, and would eventually surpass the American economy, a different data set from the IMF revealed another shift. The US economy was correctly reassigned to number two spot behind the European Union in GDP on a Purchasing Power Parity basis. And Indian GDP is within a whisker of Japan’s. The bargaining power relationships within the G20 and IMF are shifting and on the global stage have shifted in Europe’s favor.
So, the EU is not a country, some might say. Yes, but it is an “economy”, a single economy, in a world where, as a good Marxists might tell you, economics is in command. The Articles of Agreement of the IMF (Section XIII) dictate that “The principal office of the Fund shall be located in the territory of the member having the largest quota”. Well the European Union now has almost double the quota of the United States, around 30 per cent of the total for the EU compared with just over 17 per cent for the United States, and China’s un-naturally low 3.72 per cent. So the IMF headquarters really should move to Europe.

Journalistic flourishes aside, what does this growing list of re-alignments of politics and power mean? At the very least, in economic and social terms, it means that the initiative for change, the impulse for reform and the power for transformation are slipping even faster from American hands. Russia knows it and is looking for European partnership, especially to secure the southern flanks not just of Russia but of Europe as a whole.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...