Já que estamos falando de decadência, baixo crescimento, declínio e outros temas pessimistas, vamos recuperar um outro trabalho antigo que tenta oferecer algumas respostas aos problemas do Brasil.
Não que eu pense que vamos conseguir fazer essas reformas. Isso não vamos mesmo, e podem tirar o cavalinho da chuva, como se diz.
Mas, sempre é bom refletir sobre o que deveríamos fazer, se tivéssemos coragem de empreender reformas verdadeiras...
Paulo Roberto de Almeida
Uma proposta modesta: a reforma do Brasil
Monteiro Lobato, num de seus livros da série do Sítio do Pica-Pau Amarelo, atribuiu à Emília a tarefa de fazer uma "reforma da Natureza": coisa de corrigir alguns mal-feitos do Criador, e consertar o que parecia errado aos olhos de retrós de uma boneca de pano. Mas ele também tentou "consertar o Brasil" várias vezes, chegando até a enfrentar prisão devido algumas de suas sugestões.
Não creio que eu corra o mesmo risco agora; provavelmente vou receber apenas sorrisos condescendentes.
Em todo caso, dou primeiro o meu diagnóstico (muito rápido), depois um pequeno receituário, também rápido e rasteiro, já que nenhuma dessas tarefas será empreendida any time soon...
Uma proposta modesta: a reforma do Brasil
Paulo Roberto de Almeida
Prolegômenos:
Não creio que o Brasil necessite, tão simplesmente, de uma mera reforma econômica. Ele precisa, sobretudo, de várias reformas estruturais, a começar pelo terreno político, onde se encontra a chave para a resolução dos muitos problemas que explicam o nosso baixo desempenho econômico.
Primeira parte - O Diagnóstico
1. Constituição intrusiva demais, codificando aspectos de detalhe que deveriam estar sendo regulados por legislação ordinária.
2. Estado intrusivo, despoupador, perdulário, disforme e pouco funcional para as tarefas do crescimento econômico.
3. Legislação microeconômica (para o ambiente de negócios e para a regulação das relações trabalhistas) excessivamente intrusiva na vida dos cidadãos e das empresas, deixando pouco espaço para as negociações diretas no mercado de bens, serviços e de trabalho.
4. Preservação de monopólios, cartéis e outras reservas de mercado, com pouca competição e inúmeras barreiras à entrada de novos ofertantes.
5. Reduzida abertura externa, seja no comércio, seja nos investimentos, seja ainda nos fluxos de capitais, gerando ineficiências, preços altos, ausência de competição e de inovação.
6. Sistemas legal e jurídico atrasado e disfuncional, permitindo manobras processualísticas que atrasam a solução de controvérsias e criam custos excessivos para as transações entre indivíduos.
Segunda parte - A Reforma
1. Reforma política, a começar pela Constituição: seria útil uma “limpeza” nas excrescências indevidas da CF, deixando-a apenas com os princípios gerais, remetendo todo o resto para legislação complementar e regulatória. Operar diminuição drástica de todo o corpo legislativo em todos os níveis (federal, estadual e municipal), retirando um custo enorme que é pago pelos cidadãos; Proporcionalidade mista, com voto distrital em nível local e alguma representação por lista no plano nacional, preservando o caráter nacional dos partidos.
2. Reforma administrativa com diminuição radical do número de ministérios, e atribuições de diversas funções a agências reguladoras. Privatização dos grandes monstrengos públicos que ainda existem e são fontes de ineficiências e corrupção, no setor financeiro, energético, e outros; fim da estabilidade no serviço público.
3. Reforma econômica ampla, com diminuição da carga tributária e redução das despesas do Estado; aperto fiscal nos “criadores de despesas” irresponsáveis que são os legislativos e o judiciário; reforma microeconômica para criar um ambiente favorável ao investimento produtivo, ao lucro e para diminuir a sonegação e a evasão fiscal.
4. Reforma trabalhista radical, no sentido da flexibilização da legislação laboral, dando maior espaço às negociações diretas entre as partes; extinção da Justiça do Trabalho, que é uma fonte de criação e sustentação de conflitos; Retirada do imposto sindical, que alimenta sindicalistas profissionais, em geral corruptos.
5. Reforma educacional completa, com retirada do terceiro ciclo da responsabilidade do Estado e concessão de completa autonomia às universidades “públicas” (com transferência de recursos para pesquisa e projetos específicos, e os salários do pessoal remanescente, mas de outro modo fim do regime de dedicação exclusiva, que nada mais é do que um mito); concentração de recursos públicos nos dois primeiros níveis e no ensino técnico-profissional.
6. Abertura econômica e liberalização comercial, acolhimento do investimento estrangeiro e adesão a regimes proprietários mais avançados.
Brasília, 15 de dezembro de 2005.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sábado, 28 de maio de 2011
A decadencia economica brasileira: um trabalho perdido
Já que estamos falando de problemas brasileiros para crescer, vamos dramatizar o quadro.
Não que eu queira ser pessimista, mas por puro acaso.
Eu estava compondo uma lista de livros sobre relações internacionais e de política externa do Brasil, e dentro dela os livros escritos por diplomatas (em qualquer gênero, aliás), quando deparei com este registro, de um trabalho que já não me lembrava mais ter escrito:
1557. “A decadência econômica brasileira: uma inevitável tendência pelos próximos vinte anos?”
Brasília, 7 de março de 2006, 5 p.
Publicado no blog do Instituto Millenium em 8.03.06 (link). Reproduzido no site do Instituto Internacional de Planejamento Educacional (link).
Desparecidos nestes links nos dois sites.
Relação de publicados nº 630.
Procurei nos links, e eles obviamente já não funcionavam mais. Por isso vai aqui postado gentilmente.
Não, não sou pessimista, apenas realista...
Paulo Roberto de Almeida
A decadência econômica brasileira: uma inevitável tendência pelos próximos vinte anos?
Paulo Roberto de Almeida
Peço desculpas aos meus leitores pelo tom passavelmente pessimista, quando não francamente niilista, do título deste artigo, mas é que não pude evitar certa sensação de desalento (e talvez também de inveja) ao ler sobre o recente e espetacular recorde na captação de investimentos estrangeiros diretos pela Grã-Bretanha no decorrer de 2005. Nada menos do que US$ 209 bilhões, ultrapassando em muito o segundo colocado, os EUA, que figuram há muitos anos no primeiro lugar, tanto como receptor quanto como principal investidor, seguido, nos últimos dez anos, pela China, como segundo colocado do lado da captação (com cerca de US$ 60 bilhões) e primeiro dos países emergentes. Comparados aos pouco mais de US$ 15 bilhões obtidos pelo Brasil em 2005, a cifra é realmente impressionante para qualquer país engajado no processo de globalização. Mesmo descontando-se, da cifra britânica, US$ 100 bilhões relativos a operações da Shell, que concentrou suas operações a partir da Holanda, remetendo então recursos aos sócios ingleses, ainda assim a Grã-Bretanha ultrapassa os EUA, que “só” atraíram 106 bilhões de dólares em 2005.
Trata-se de um notável feito da economia britânica, hoje, inquestionavelmente, o melhor lugar europeu – e provavelmente mundial, pelo lado financeiro – para se fazer negócios e desenvolver novos projetos, nas diversas áreas da nova e da velha economia, quer seja a indústria manufatureira, quer sejam os “novos serviços”, um conglomerado de atividades que junta tecnologias da informação e pesquisa de ponta em nano ou em biotecnologia. Ele é tanto mais notável em vista do fato de que, duas décadas atrás, a Grã-Bretanha era um dos piores lugares do mundo para se começar novos negócios ou mesmo para manter os existentes. Como isso foi possível?
Lembro-me de que quando eu estava terminando minha tese de doutoramento, em 1984, uma digressão aborrecidamente sociológica sobre os desempenhos capitalistas em escala comparada, a Grã-Bretanha era o protótipo mesmo da decadência econômica, o exemplo acabado de declínio industrial, um modelo notório do atraso tecnológico, da desesperança científica – com sua exportação contínua de cérebros para os EUA – e do desalento político, de que eram testemunhos os freqüentes movimentos grevistas, que conseguiam paralisar até mesmo o enterro dos mortos (um serviço obviamente estatal). Em escala e em estilo talvez diferentes de um outro notável exemplo de decadência, o da Argentina, mas numa dimensão provavelmente comparável à da nação “peronista”, pela amplitude e profundidade do declínio econômico auto-infligido, a Grã-Bretanha, promotora e pioneira da primeira revolução industrial e centro indisputável das finanças internacionais nos 150 anos que seguem aos conflitos napoleônicos, tinha sido vítima, durante todo o século XX, mas mais especialmente no decorrer dos anos 60 e 70 desse século, de um dos mais acabados processos de decadência econômica a que nos foi dado assistir na história econômica mundial.
Lembro-me também que minha bibliografia sobre o “caso” inglês vinha marcada pelos conceitos de “decline”, “fall”, “end” e vários outros do gênero. Naqueles tempos – final dos anos 1970 e início da década seguinte – não parecia haver nenhum limite para a extensão da decadência britânica. Ela era feita de baixo crescimento, inflação, déficits orçamentários e de transações correntes, desvalorização da libra, “sucateamento” da indústria e dos transportes, deterioração dos serviços públicos – notadamente nas áreas da saúde e da educação –, aumento da violência nas metrópoles, enrijecimento dos conflitos sociais, empobrecimento dos equipamentos urbanos, desemprego mais do que residual ou setorial e desesperança geral na sociedade, em especial na juventude. O cenário estava mais para “Laranja Mecânica” do que para “A Wonderful World”, mais para George Orwell do que para Winston Churchill e seu otimismo inveterado quanto ao futuro do império, que aliás já não existia mais, tendo sido irremediavelmente deixado num passado distante de glórias irrecuperáveis.
E, no entanto, vinte anos depois, o que ocorreu? Um notável “renascimento” da indústria e dos negócios na Grã-Bretanha – mais notavelmente ainda na Irlanda vizinha, não esquecer –, um surto de progresso e de modernização que não deixa nada a invejar nos melhores centros da tecnologia mundial, uma recuperação econômica segura, que fez do país o mais dinâmico membro – com a Irlanda – da União Européia, exibindo, ao mesmo tempo, as maiores taxas de crescimento e as menores de desemprego e inflação. Trata-se, como já dito, do melhor lugar para se fazer negócios no continente – mas a Grã-Bretanha sempre brincou com a idéia de que o continente é que vivia “isolado” –, o que vem apoiado no fato de que os investimentos estrangeiros, inclusive dos emergentes da Ásia, têm-se concentrado na ilha. Como foi isso possível, volto a perguntar?
Não pretendo retomar aqui a história da “batalha ideológica” do século XX, já enfaticamente tratada no livro – e vídeo – conjunto de Daniel Yergin e Joseph Stanislaw sobre a luta pelo controle e administração dos commanding heights da economia. Essa batalha política entre os modelos de comando centralizado e de administração pelo mercado se encerrou e não é preciso dizer quem venceu. A Inglaterra lutou o bom combate e conseguiu reverter sua terrível decadência econômica e política. Antes disso, porém, a batalha foi dura: ela teve, primeiro, de ser levada nos “corações e mentes” dos cidadãos britânicos, nos súditos da rainha, para convencê-los de que a decadência não era inevitável ou uma fatalidade do destino, de que era possível, sim, colocar um ponto final na descida para o declínio social e começar lentamente a obra de recuperação. Depois foi preciso se desfazer de velhos mitos – e não apenas mitos, já que respondendo a construções históricas de seu passado mais ou menos “fabiano” – ligados aos papéis respectivos do Estado e do mercado no provimento de emprego e bem-estar social, de modo geral. Foi uma tremenda “reversão de expectativas”, como diria, em relação ao Brasil, o economista Roberto Campos:
Margareth Tatcher teve de sustentar lutas políticas e batalhas literais contra os interesses corporativos consolidados no antigo modelo de “welfare state”, que de “welfare” já não tinha nada e cujo “estado” era um corpo disforme, esgarçado entre as tendências protecionistas da velha indústria, os protestos enraivecidos (mas puramente de retaguarda) dos sindicatos dos setores estatizados e o desalento geral da maioria da população. Foi uma luta terrível para livrar a Grã-Bretanha do “pacto perverso” entre o Labour e a TUC – Trade Union Congress, a confederação sindical – que, durante a maior parte do pós-Segunda Guerra, tinha conduzido o país direto para a decadência, ao garantir aumentos reais de salários para os setores assim protegidos e ao repassar os custos para o conjunto da sociedade. Foi como se, no Brasil, a CUT e a FIESP, por hipótese no exercício do poder central, tivessem “complotado”, durante anos a fio, para se concederem e assim garantirem, reciprocamente, aumentos generosos de preços e de salários, repassando em seguida a conta para os contribuintes e consumidores, o que aliás não deixou de existir, de certo modo, durante as fases de alta inflação no Brasil. Trata-se da mais segura receita para inviabilizar qualquer processo de crescimento com estabilidade que se possa conhecer e ela foi seguida, conscientemente ou não, por vários governos britânicos durante boa parte da segunda metade do século XX na Inglaterra.
Pois bem, isso agora acabou, e a Grã-Bretanha renasce de sua antiga decadência, renovação tanto mais segura de continuar que o “novo Labour” aderiu ao processo e ao modelo iniciados por Lady Tatcher e deles não pretende se desvencilhar. Um pouco, aliás, como vêm fazendo os socialistas e democratas chilenos, que herdaram do período militar uma gestão mais ou menos em ordem e uma economia em franco crescimento nos quadros da globalização e da liberalização comercial. Alguma lição a tirar?
Claro que sim, e a primeira lição a tirar seria, além da inveja, desejar sorte e sucesso continuado a britânicos e chilenos, que podem desfrutar de baixo desemprego, estabilidade de preços, aumento razoável das expectativas de bem-estar, diminuição das “deseconomias” e das externalidades negativas associadas à má gestão da economia, melhora, ainda que gradual, nos padrões gerais dos serviços públicos – ou privados, não importa muito a forma de provimento – relativos à saúde, educação, facilidades urbanas em transporte, segurança etc. Enfim, sem ser preciso nenhuma revolução ou mudança dramática na situação corrente, deve ser melhor viver numa sociedade que conhece progressos incrementais nas condições de vida do que numa outra que, por hipótese, afunde progressivamente na delinqüência, no desemprego, na inflação, na deterioração dos equipamentos sociais, na compressão do poder de compra, na desesperança trazida pela sensação de aumento na corrupção política, enfim, que se debata com vários males de que padecem hoje muitos países ao redor do mundo.
E o que tem nosso país a ver com isso tudo? O Brasil conhece alguns desses males e, felizmente, está ao abrigo de outros, como poderia ser a inflação galopante que ameaça, mais uma vez, a vizinha Argentina, ou a instabilidade política, que já arrastou mais de um presidente para fora dos palácios presidenciais em outros países da região. Mas, nós acabamos de nos converter, junto com o infeliz Haiti, em campeões do baixo crescimento e da carga fiscal, aqui exclusivamente. Mais ainda, conhecendo a trajetória das contas públicas nos próximos anos, não hesito em dizer que teremos anos negros pela frente e, conhecendo também as atuais condições para a atividade empresarial e o ambiente geral dos negócios, tampouco hesito em dizer que o Brasil reúne, sem sombra de dúvida, todos os requisitos para NÃO CRESCER no futuro previsível.
Se essa trajetória não for revertida, a conclusão inevitável me parece ser apenas esta: caminhamos inevitavelmente para a decadência econômica, o baixo crescimento continuado, o desemprego mantido em altas taxas, a desesperança social convertida em humor nacional e o desalento generalizado quanto à capacidade dos nossos políticos em mudar esse quadro de declínio. O Brasil, por certo, não é um país decadente, em espírito ou disposição para a luta, mas ele parece hoje paralisado por um modelo de organização “estatal” da economia que nos garante, apenas e tão somente, isso que vemos: baixo crescimento, incapacidade de investimentos, “despoupança” líquida dos recursos do setor privado por uma máquina estatal prebendalística e perdulária, comportamentos rentistas das corporações que “assaltaram”, literalmente, o Estado, enfim, um quadro negativo de “deseconomias” de escala que nos garante apenas o que já foi mencionado, ou seja, baixo crescimento e perspectivas sombrias para o futuro.
A julgar pela história exemplar de decadência continuada – em certas épocas, mais do que agravada – dos dois casos mais notórios de baixo desempenho econômico no século XX, a Grã-Bretanha e a Argentina, estamos ainda longe de termos atingido o “auge” do declínio. Em outros termos, ainda teremos muitos problemas pela frente, com um espaço ainda aberto para um desempenho ainda mais medíocre da economia e uma deterioração ainda mais sensível dos costumes políticos. Talvez tenhamos de passar, realmente, por vinte anos de decadência, como no exemplo britânico, antes de sequer pensar no caminho da recuperação. Pelo menos é isso que eu concluo, ao constatar, em pesquisas de opinião, que o brasileiro médio ainda confia no Estado como um provedor de “soluções” a seus problemas cotidianos. Pode até ser, mas certamente não será esse Estado que aí se encontra. Reverter esse quadro vai ser difícil, mas não impossível, uma vez que já começamos a reconhecer o problema.
O próprio fato de se poder apontar para a decadência econômica inevitável do Brasil, como acabo de fazer, talvez já seja o primeiro passo para a necessária tomada de consciência e de posição, num sentido contrário à tendência declinista hoje detectada. Esperemos que não tenhamos de esperar por vinte anos, ou mais, de decadência, antes de conhecer uma reversão de tendência. Estou sendo muito pessimista? Talvez, mas não vejo motivos para muito otimismo no momento e nas condições presentes...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de março de 2006.
Não que eu queira ser pessimista, mas por puro acaso.
Eu estava compondo uma lista de livros sobre relações internacionais e de política externa do Brasil, e dentro dela os livros escritos por diplomatas (em qualquer gênero, aliás), quando deparei com este registro, de um trabalho que já não me lembrava mais ter escrito:
1557. “A decadência econômica brasileira: uma inevitável tendência pelos próximos vinte anos?”
Brasília, 7 de março de 2006, 5 p.
Publicado no blog do Instituto Millenium em 8.03.06 (link). Reproduzido no site do Instituto Internacional de Planejamento Educacional (link).
Desparecidos nestes links nos dois sites.
Relação de publicados nº 630.
Procurei nos links, e eles obviamente já não funcionavam mais. Por isso vai aqui postado gentilmente.
Não, não sou pessimista, apenas realista...
Paulo Roberto de Almeida
A decadência econômica brasileira: uma inevitável tendência pelos próximos vinte anos?
Paulo Roberto de Almeida
Peço desculpas aos meus leitores pelo tom passavelmente pessimista, quando não francamente niilista, do título deste artigo, mas é que não pude evitar certa sensação de desalento (e talvez também de inveja) ao ler sobre o recente e espetacular recorde na captação de investimentos estrangeiros diretos pela Grã-Bretanha no decorrer de 2005. Nada menos do que US$ 209 bilhões, ultrapassando em muito o segundo colocado, os EUA, que figuram há muitos anos no primeiro lugar, tanto como receptor quanto como principal investidor, seguido, nos últimos dez anos, pela China, como segundo colocado do lado da captação (com cerca de US$ 60 bilhões) e primeiro dos países emergentes. Comparados aos pouco mais de US$ 15 bilhões obtidos pelo Brasil em 2005, a cifra é realmente impressionante para qualquer país engajado no processo de globalização. Mesmo descontando-se, da cifra britânica, US$ 100 bilhões relativos a operações da Shell, que concentrou suas operações a partir da Holanda, remetendo então recursos aos sócios ingleses, ainda assim a Grã-Bretanha ultrapassa os EUA, que “só” atraíram 106 bilhões de dólares em 2005.
Trata-se de um notável feito da economia britânica, hoje, inquestionavelmente, o melhor lugar europeu – e provavelmente mundial, pelo lado financeiro – para se fazer negócios e desenvolver novos projetos, nas diversas áreas da nova e da velha economia, quer seja a indústria manufatureira, quer sejam os “novos serviços”, um conglomerado de atividades que junta tecnologias da informação e pesquisa de ponta em nano ou em biotecnologia. Ele é tanto mais notável em vista do fato de que, duas décadas atrás, a Grã-Bretanha era um dos piores lugares do mundo para se começar novos negócios ou mesmo para manter os existentes. Como isso foi possível?
Lembro-me de que quando eu estava terminando minha tese de doutoramento, em 1984, uma digressão aborrecidamente sociológica sobre os desempenhos capitalistas em escala comparada, a Grã-Bretanha era o protótipo mesmo da decadência econômica, o exemplo acabado de declínio industrial, um modelo notório do atraso tecnológico, da desesperança científica – com sua exportação contínua de cérebros para os EUA – e do desalento político, de que eram testemunhos os freqüentes movimentos grevistas, que conseguiam paralisar até mesmo o enterro dos mortos (um serviço obviamente estatal). Em escala e em estilo talvez diferentes de um outro notável exemplo de decadência, o da Argentina, mas numa dimensão provavelmente comparável à da nação “peronista”, pela amplitude e profundidade do declínio econômico auto-infligido, a Grã-Bretanha, promotora e pioneira da primeira revolução industrial e centro indisputável das finanças internacionais nos 150 anos que seguem aos conflitos napoleônicos, tinha sido vítima, durante todo o século XX, mas mais especialmente no decorrer dos anos 60 e 70 desse século, de um dos mais acabados processos de decadência econômica a que nos foi dado assistir na história econômica mundial.
Lembro-me também que minha bibliografia sobre o “caso” inglês vinha marcada pelos conceitos de “decline”, “fall”, “end” e vários outros do gênero. Naqueles tempos – final dos anos 1970 e início da década seguinte – não parecia haver nenhum limite para a extensão da decadência britânica. Ela era feita de baixo crescimento, inflação, déficits orçamentários e de transações correntes, desvalorização da libra, “sucateamento” da indústria e dos transportes, deterioração dos serviços públicos – notadamente nas áreas da saúde e da educação –, aumento da violência nas metrópoles, enrijecimento dos conflitos sociais, empobrecimento dos equipamentos urbanos, desemprego mais do que residual ou setorial e desesperança geral na sociedade, em especial na juventude. O cenário estava mais para “Laranja Mecânica” do que para “A Wonderful World”, mais para George Orwell do que para Winston Churchill e seu otimismo inveterado quanto ao futuro do império, que aliás já não existia mais, tendo sido irremediavelmente deixado num passado distante de glórias irrecuperáveis.
E, no entanto, vinte anos depois, o que ocorreu? Um notável “renascimento” da indústria e dos negócios na Grã-Bretanha – mais notavelmente ainda na Irlanda vizinha, não esquecer –, um surto de progresso e de modernização que não deixa nada a invejar nos melhores centros da tecnologia mundial, uma recuperação econômica segura, que fez do país o mais dinâmico membro – com a Irlanda – da União Européia, exibindo, ao mesmo tempo, as maiores taxas de crescimento e as menores de desemprego e inflação. Trata-se, como já dito, do melhor lugar para se fazer negócios no continente – mas a Grã-Bretanha sempre brincou com a idéia de que o continente é que vivia “isolado” –, o que vem apoiado no fato de que os investimentos estrangeiros, inclusive dos emergentes da Ásia, têm-se concentrado na ilha. Como foi isso possível, volto a perguntar?
Não pretendo retomar aqui a história da “batalha ideológica” do século XX, já enfaticamente tratada no livro – e vídeo – conjunto de Daniel Yergin e Joseph Stanislaw sobre a luta pelo controle e administração dos commanding heights da economia. Essa batalha política entre os modelos de comando centralizado e de administração pelo mercado se encerrou e não é preciso dizer quem venceu. A Inglaterra lutou o bom combate e conseguiu reverter sua terrível decadência econômica e política. Antes disso, porém, a batalha foi dura: ela teve, primeiro, de ser levada nos “corações e mentes” dos cidadãos britânicos, nos súditos da rainha, para convencê-los de que a decadência não era inevitável ou uma fatalidade do destino, de que era possível, sim, colocar um ponto final na descida para o declínio social e começar lentamente a obra de recuperação. Depois foi preciso se desfazer de velhos mitos – e não apenas mitos, já que respondendo a construções históricas de seu passado mais ou menos “fabiano” – ligados aos papéis respectivos do Estado e do mercado no provimento de emprego e bem-estar social, de modo geral. Foi uma tremenda “reversão de expectativas”, como diria, em relação ao Brasil, o economista Roberto Campos:
Margareth Tatcher teve de sustentar lutas políticas e batalhas literais contra os interesses corporativos consolidados no antigo modelo de “welfare state”, que de “welfare” já não tinha nada e cujo “estado” era um corpo disforme, esgarçado entre as tendências protecionistas da velha indústria, os protestos enraivecidos (mas puramente de retaguarda) dos sindicatos dos setores estatizados e o desalento geral da maioria da população. Foi uma luta terrível para livrar a Grã-Bretanha do “pacto perverso” entre o Labour e a TUC – Trade Union Congress, a confederação sindical – que, durante a maior parte do pós-Segunda Guerra, tinha conduzido o país direto para a decadência, ao garantir aumentos reais de salários para os setores assim protegidos e ao repassar os custos para o conjunto da sociedade. Foi como se, no Brasil, a CUT e a FIESP, por hipótese no exercício do poder central, tivessem “complotado”, durante anos a fio, para se concederem e assim garantirem, reciprocamente, aumentos generosos de preços e de salários, repassando em seguida a conta para os contribuintes e consumidores, o que aliás não deixou de existir, de certo modo, durante as fases de alta inflação no Brasil. Trata-se da mais segura receita para inviabilizar qualquer processo de crescimento com estabilidade que se possa conhecer e ela foi seguida, conscientemente ou não, por vários governos britânicos durante boa parte da segunda metade do século XX na Inglaterra.
Pois bem, isso agora acabou, e a Grã-Bretanha renasce de sua antiga decadência, renovação tanto mais segura de continuar que o “novo Labour” aderiu ao processo e ao modelo iniciados por Lady Tatcher e deles não pretende se desvencilhar. Um pouco, aliás, como vêm fazendo os socialistas e democratas chilenos, que herdaram do período militar uma gestão mais ou menos em ordem e uma economia em franco crescimento nos quadros da globalização e da liberalização comercial. Alguma lição a tirar?
Claro que sim, e a primeira lição a tirar seria, além da inveja, desejar sorte e sucesso continuado a britânicos e chilenos, que podem desfrutar de baixo desemprego, estabilidade de preços, aumento razoável das expectativas de bem-estar, diminuição das “deseconomias” e das externalidades negativas associadas à má gestão da economia, melhora, ainda que gradual, nos padrões gerais dos serviços públicos – ou privados, não importa muito a forma de provimento – relativos à saúde, educação, facilidades urbanas em transporte, segurança etc. Enfim, sem ser preciso nenhuma revolução ou mudança dramática na situação corrente, deve ser melhor viver numa sociedade que conhece progressos incrementais nas condições de vida do que numa outra que, por hipótese, afunde progressivamente na delinqüência, no desemprego, na inflação, na deterioração dos equipamentos sociais, na compressão do poder de compra, na desesperança trazida pela sensação de aumento na corrupção política, enfim, que se debata com vários males de que padecem hoje muitos países ao redor do mundo.
E o que tem nosso país a ver com isso tudo? O Brasil conhece alguns desses males e, felizmente, está ao abrigo de outros, como poderia ser a inflação galopante que ameaça, mais uma vez, a vizinha Argentina, ou a instabilidade política, que já arrastou mais de um presidente para fora dos palácios presidenciais em outros países da região. Mas, nós acabamos de nos converter, junto com o infeliz Haiti, em campeões do baixo crescimento e da carga fiscal, aqui exclusivamente. Mais ainda, conhecendo a trajetória das contas públicas nos próximos anos, não hesito em dizer que teremos anos negros pela frente e, conhecendo também as atuais condições para a atividade empresarial e o ambiente geral dos negócios, tampouco hesito em dizer que o Brasil reúne, sem sombra de dúvida, todos os requisitos para NÃO CRESCER no futuro previsível.
Se essa trajetória não for revertida, a conclusão inevitável me parece ser apenas esta: caminhamos inevitavelmente para a decadência econômica, o baixo crescimento continuado, o desemprego mantido em altas taxas, a desesperança social convertida em humor nacional e o desalento generalizado quanto à capacidade dos nossos políticos em mudar esse quadro de declínio. O Brasil, por certo, não é um país decadente, em espírito ou disposição para a luta, mas ele parece hoje paralisado por um modelo de organização “estatal” da economia que nos garante, apenas e tão somente, isso que vemos: baixo crescimento, incapacidade de investimentos, “despoupança” líquida dos recursos do setor privado por uma máquina estatal prebendalística e perdulária, comportamentos rentistas das corporações que “assaltaram”, literalmente, o Estado, enfim, um quadro negativo de “deseconomias” de escala que nos garante apenas o que já foi mencionado, ou seja, baixo crescimento e perspectivas sombrias para o futuro.
A julgar pela história exemplar de decadência continuada – em certas épocas, mais do que agravada – dos dois casos mais notórios de baixo desempenho econômico no século XX, a Grã-Bretanha e a Argentina, estamos ainda longe de termos atingido o “auge” do declínio. Em outros termos, ainda teremos muitos problemas pela frente, com um espaço ainda aberto para um desempenho ainda mais medíocre da economia e uma deterioração ainda mais sensível dos costumes políticos. Talvez tenhamos de passar, realmente, por vinte anos de decadência, como no exemplo britânico, antes de sequer pensar no caminho da recuperação. Pelo menos é isso que eu concluo, ao constatar, em pesquisas de opinião, que o brasileiro médio ainda confia no Estado como um provedor de “soluções” a seus problemas cotidianos. Pode até ser, mas certamente não será esse Estado que aí se encontra. Reverter esse quadro vai ser difícil, mas não impossível, uma vez que já começamos a reconhecer o problema.
O próprio fato de se poder apontar para a decadência econômica inevitável do Brasil, como acabo de fazer, talvez já seja o primeiro passo para a necessária tomada de consciência e de posição, num sentido contrário à tendência declinista hoje detectada. Esperemos que não tenhamos de esperar por vinte anos, ou mais, de decadência, antes de conhecer uma reversão de tendência. Estou sendo muito pessimista? Talvez, mas não vejo motivos para muito otimismo no momento e nas condições presentes...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de março de 2006.
O Brasil pode crescer acima de 5 por cento? - duvidas
Escrevi alguns anos atrás que o Brasil não conseguia crescer acima de 5%, como pretendiam alguns.
Espíritos contrariados escreveram para reclamar, mas não conseguiram contestar meus argumentos, baseados em simples relações econômicas elementares: taxa de investimento, despoupança estatal, carga fiscal, etc.
Aqui o meu artigo:
“Uma verdade inconveniente (será que o Brasil consegue crescer 5% ao ano?)”
Via Política (Porto Alegre, 12 nov. 2006). (Versão completa neste link)
Relação de Trabalhos n. 1684.
Agora é o ministro da Fazenda que diz a mesma coisa:
Para controlar taxa de inflação, país precisa reduzir seu crescimento
O Globo - Patrícia Duarte e Eliane Oliveira
Fazenda e Banco Central querem expansão do PIB abaixo de 4%... (leia mais)
Essa coisa de PIB potencial é um pouco bobagem, pois não há um número fixo: tudo depende da capacidade produtiva do país: ela pode estar situado em 4, 5 ou 10%. Basta conferir as possibilidades de expansão sem provocar inflação.
Abaixo a matéria de imprensa.
Para controlar taxa de inflação, país precisa reduzir seu crescimento
Patrícia Duarte e Eliane Oliveira
O Globo, 28/05/2011
Para fazer com que a inflação volte ao centro da meta, de 4,5% pelo IPCA, o país terá de crescer abaixo do seu potencial por três ou quatro trimestres seguidos. Isso tudo para reduzir a demanda e, consequentemente, a pressão sobre os preços. E é exatamente nesse sentido que trabalha a equipe econômica do governo, capitaneada por Ministério da Fazenda e Banco Central (BC), com políticas fiscais e monetárias contracionistas.
— A economia tem de passar uma boa temporada girando abaixo do PIB potencial. São uns três ou quatro trimestres (nesse ritmo) — afirmou ao GLOBO um importante integrante da equipe econômica, lembrando que o consenso do mercado aponta como crescimento potencial algo em torno de 4,5% anuais.
Hoje, a atividade avança acima de 6% anualizados. O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) de março, último divulgado, mostra que, em 12 meses, a economia cresceu 6,25%. Ou seja, precisa recuar muito para ficar abaixo de 4%.
Segundo a fonte, no segundo trimestre a economia responderá “de forma mais clara às iniciativas para conter os excessos (de inflação)”, referindo-se à alta da Selic, hoje em 12% ao ano, e à redução dos gastos públicos.
O PIB do primeiro trimestre será divulgado pelo IBGE em junho, e a tendência é que os números venham bastante fortes. A brecada na economia, disse a fonte, será sentida na virada do semestre.
Diante do cenário de preços ainda em alta, a equipe econômica também já decidiu que não discutirá tão cedo a redução da meta de inflação em 2013, ficando em 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Apesar da preocupação com a inflação, a diretriz da presidente Dilma é continuar travando uma “disputa de agenda” com o mercado e a oposição. Assim foi batizada a estratégia de defender que o controle dos preços e a convergência do IPCA à meta não podem ser feitos às custas do crescimento econômico, com medidas como uma elevação de grande magnitude nos juros e um arrocho fiscal muito severo.
Espíritos contrariados escreveram para reclamar, mas não conseguiram contestar meus argumentos, baseados em simples relações econômicas elementares: taxa de investimento, despoupança estatal, carga fiscal, etc.
Aqui o meu artigo:
“Uma verdade inconveniente (será que o Brasil consegue crescer 5% ao ano?)”
Via Política (Porto Alegre, 12 nov. 2006). (Versão completa neste link)
Relação de Trabalhos n. 1684.
Agora é o ministro da Fazenda que diz a mesma coisa:
Para controlar taxa de inflação, país precisa reduzir seu crescimento
O Globo - Patrícia Duarte e Eliane Oliveira
Fazenda e Banco Central querem expansão do PIB abaixo de 4%... (leia mais)
Essa coisa de PIB potencial é um pouco bobagem, pois não há um número fixo: tudo depende da capacidade produtiva do país: ela pode estar situado em 4, 5 ou 10%. Basta conferir as possibilidades de expansão sem provocar inflação.
Abaixo a matéria de imprensa.
Para controlar taxa de inflação, país precisa reduzir seu crescimento
Patrícia Duarte e Eliane Oliveira
O Globo, 28/05/2011
Para fazer com que a inflação volte ao centro da meta, de 4,5% pelo IPCA, o país terá de crescer abaixo do seu potencial por três ou quatro trimestres seguidos. Isso tudo para reduzir a demanda e, consequentemente, a pressão sobre os preços. E é exatamente nesse sentido que trabalha a equipe econômica do governo, capitaneada por Ministério da Fazenda e Banco Central (BC), com políticas fiscais e monetárias contracionistas.
— A economia tem de passar uma boa temporada girando abaixo do PIB potencial. São uns três ou quatro trimestres (nesse ritmo) — afirmou ao GLOBO um importante integrante da equipe econômica, lembrando que o consenso do mercado aponta como crescimento potencial algo em torno de 4,5% anuais.
Hoje, a atividade avança acima de 6% anualizados. O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) de março, último divulgado, mostra que, em 12 meses, a economia cresceu 6,25%. Ou seja, precisa recuar muito para ficar abaixo de 4%.
Segundo a fonte, no segundo trimestre a economia responderá “de forma mais clara às iniciativas para conter os excessos (de inflação)”, referindo-se à alta da Selic, hoje em 12% ao ano, e à redução dos gastos públicos.
O PIB do primeiro trimestre será divulgado pelo IBGE em junho, e a tendência é que os números venham bastante fortes. A brecada na economia, disse a fonte, será sentida na virada do semestre.
Diante do cenário de preços ainda em alta, a equipe econômica também já decidiu que não discutirá tão cedo a redução da meta de inflação em 2013, ficando em 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Apesar da preocupação com a inflação, a diretriz da presidente Dilma é continuar travando uma “disputa de agenda” com o mercado e a oposição. Assim foi batizada a estratégia de defender que o controle dos preços e a convergência do IPCA à meta não podem ser feitos às custas do crescimento econômico, com medidas como uma elevação de grande magnitude nos juros e um arrocho fiscal muito severo.
Gulag cibernetico: acredite, isso existe...
No antigo Gulag soviético, os prisioneiros -- políticos, comuns, bêbados, contra-revolucionários (trotsquistas, por exemplo), preguiçosos, whoever... -- se matavam (ou eram praticamente condenados à morte) construindo estradas, erigindo barragens, cavando canais, explorando minas, cortando árvores, enfim, o escravismo puro e simples, que era capaz de consumir uma pessoa normalmente constituída no espaço de poucos meses, os mais fortes em alguns anos, morrendo eles de pneumonia, bronquite, fome, maus tratos, whatever...
No moderno Gulag chinês, os prisioneiros são obrigados a jogar online pelos seus carcereiros, de preferência ganhando, do contrário podem ir para um Gulag de verdade...
Não deixa de ser uma habilidade...
Paulo Roberto de Almeida
China, prisioneiros são forçados a jogar games on-line para acumular dinheiro virtual
O Globo, 26/05/2011
RIO - Prisioneiros de campos de trabalho forçado na China estão sendo obrigados a varar a noite jogando games on-line como "World of Warcraft" para acumular moedas virtuais, que rendem dinheiro de verdade aos carcereiros.
- Os diretores das prisões fazem mais dinheiro obrigando os prisioneiros a jogar do que os forçando a fazer trabalhos manuais. Éramos 300 prisioneiros forçados a jogar em turnos de 12 horas. Os computadores jamais eram desligados - disse ao jornal "Guardian" o ex-prisioneiro Liu Dali, que esteve no campo Jixi, na província de Heilongjiang. - Se eu não completasse minha cota diária, eu era punido fisicamente.
A OUTRA FACE: Casais se conhecem, se apaixonam e casam por meio de 'World of Warcraft'
A prática de exploração dos créditos virtuais para fazer dinheiro real é conhecida como "gold farming" e é viabilizada pela horda de gamers dispostos a pagar pelas moedas on-line que permitem sua evolução nos jogos. Cerca de 80% das "gold farms" do mundo estão na China e elas exploram 100 mil pessoas, segundo números levantados pelo jornal britânico.
Como não há regulamentação sobre a prática no país, a exploração de prisioneiros na acumulação de créditos virtuais não é considerada ilegal.
No moderno Gulag chinês, os prisioneiros são obrigados a jogar online pelos seus carcereiros, de preferência ganhando, do contrário podem ir para um Gulag de verdade...
Não deixa de ser uma habilidade...
Paulo Roberto de Almeida
China, prisioneiros são forçados a jogar games on-line para acumular dinheiro virtual
O Globo, 26/05/2011
RIO - Prisioneiros de campos de trabalho forçado na China estão sendo obrigados a varar a noite jogando games on-line como "World of Warcraft" para acumular moedas virtuais, que rendem dinheiro de verdade aos carcereiros.
- Os diretores das prisões fazem mais dinheiro obrigando os prisioneiros a jogar do que os forçando a fazer trabalhos manuais. Éramos 300 prisioneiros forçados a jogar em turnos de 12 horas. Os computadores jamais eram desligados - disse ao jornal "Guardian" o ex-prisioneiro Liu Dali, que esteve no campo Jixi, na província de Heilongjiang. - Se eu não completasse minha cota diária, eu era punido fisicamente.
A OUTRA FACE: Casais se conhecem, se apaixonam e casam por meio de 'World of Warcraft'
A prática de exploração dos créditos virtuais para fazer dinheiro real é conhecida como "gold farming" e é viabilizada pela horda de gamers dispostos a pagar pelas moedas on-line que permitem sua evolução nos jogos. Cerca de 80% das "gold farms" do mundo estão na China e elas exploram 100 mil pessoas, segundo números levantados pelo jornal britânico.
Como não há regulamentação sobre a prática no país, a exploração de prisioneiros na acumulação de créditos virtuais não é considerada ilegal.
Ironias profissionais: nao deixe seu filho ser banqueiro...
Surpreendente anúncio, que só pode ser self-derision, da revista da Associação dos Banqueiros Americanos, a Febraban deles:
From the Editors of American Banker:
BankThink: Do You Want Your Child to Be a Banker?
Don't do it. That is the advice more moms, dads and other adults — including participants in a recent American Banker Analyst Roundtable — are giving young people who consider banking as a career path.
Would you recommend banking as a career for your child? Head over to BankThink.com to join the conversation and vote in our online poll.
Eu já tinha ouvido falar que era perigoso mães deixarem seus filhos crescerem para ser advogados, por todos os preconceitos subjacentes.
De minha parte eu sempre achei que pessoas úteis à sociedade são, por exemplo, os engenheiros, que inovam, produzem patentes, etc.
Advogados, o máximo que eu posso pensar é que eles roubam dinheiro de clientes, com filigranas processuais que prolongam indevidamente seus "taxímetros" de trabalho e que, no plano dos assuntos coletivos, eles produzem déficits públicos...
Seja lá o que for: melhor não ter filhos advogados, nem banqueiros: a despeito do fato que eles podem ficar ricos, devem acumular outras desgraças públicas e privadas...
Em todo caso, seguem abaixo as recomendações das mães queridas contra esses nefastos banqueiros.
Paulo Roberto de Almeida
She's Your Daughter. Do You Want Her to Become a Banker?
By Sara Lepro
American Banker-Bankthink, May 27, 2011
Don't do it.
That is the advice more moms, dads and other adults — including participants in a recent American Banker Analyst Roundtable — are giving young people who consider banking as a career path.
The three panelists, veterans of the financial services industry with varied backgrounds, recommended that the current generation entering the work force should put their talents to use in areas outside finance.
"That level of intellect is a lot better off creating some product and getting some patents rather than building exotic derivatives that will come back in time," said Anton Schutz, president of Mendon Capital Advisors Corp., whose daughter is finishing up her freshman year at the Massachusetts Institute of Technology.
It's not an argument that meets with much resistance these days.
"She would never dream of going in to finance," Schutz said, speaking of his daughter. "Astrophysics? Yes. Building models for Wall Street? No."
Peter Kovalski, managing director at Alpine Woods Capital Investors LLC, says the reputation of the industry has been destroyed for at least a generation.
"I've heard from more than one banker with children in college who said the last thing their kids want to admit is that their father is a banker. And the last thing they or their friends want to be is a banker," he said. "The pool of candidates is going to shrink for a period of time."
And that's not necessarily a bad thing, said Paul Miller, an analyst at FBR Capital Markets.
"There are too many bankers to begin with," he said. "It's a good thing, because there were a lot of people on Wall Street that really weren't doing anything but trading bonds back and forth."
"Slicing and dicing," Schutz interjected.
Miller nodded. "What economic value was really being created?" he said.
Would you recommend banking as a career to your child, or any young person? Vote in our poll in the upper right, and leave a comment using the form below.
From the Editors of American Banker:
BankThink: Do You Want Your Child to Be a Banker?
Don't do it. That is the advice more moms, dads and other adults — including participants in a recent American Banker Analyst Roundtable — are giving young people who consider banking as a career path.
Would you recommend banking as a career for your child? Head over to BankThink.com to join the conversation and vote in our online poll.
Eu já tinha ouvido falar que era perigoso mães deixarem seus filhos crescerem para ser advogados, por todos os preconceitos subjacentes.
De minha parte eu sempre achei que pessoas úteis à sociedade são, por exemplo, os engenheiros, que inovam, produzem patentes, etc.
Advogados, o máximo que eu posso pensar é que eles roubam dinheiro de clientes, com filigranas processuais que prolongam indevidamente seus "taxímetros" de trabalho e que, no plano dos assuntos coletivos, eles produzem déficits públicos...
Seja lá o que for: melhor não ter filhos advogados, nem banqueiros: a despeito do fato que eles podem ficar ricos, devem acumular outras desgraças públicas e privadas...
Em todo caso, seguem abaixo as recomendações das mães queridas contra esses nefastos banqueiros.
Paulo Roberto de Almeida
She's Your Daughter. Do You Want Her to Become a Banker?
By Sara Lepro
American Banker-Bankthink, May 27, 2011
Don't do it.
That is the advice more moms, dads and other adults — including participants in a recent American Banker Analyst Roundtable — are giving young people who consider banking as a career path.
The three panelists, veterans of the financial services industry with varied backgrounds, recommended that the current generation entering the work force should put their talents to use in areas outside finance.
"That level of intellect is a lot better off creating some product and getting some patents rather than building exotic derivatives that will come back in time," said Anton Schutz, president of Mendon Capital Advisors Corp., whose daughter is finishing up her freshman year at the Massachusetts Institute of Technology.
It's not an argument that meets with much resistance these days.
"She would never dream of going in to finance," Schutz said, speaking of his daughter. "Astrophysics? Yes. Building models for Wall Street? No."
Peter Kovalski, managing director at Alpine Woods Capital Investors LLC, says the reputation of the industry has been destroyed for at least a generation.
"I've heard from more than one banker with children in college who said the last thing their kids want to admit is that their father is a banker. And the last thing they or their friends want to be is a banker," he said. "The pool of candidates is going to shrink for a period of time."
And that's not necessarily a bad thing, said Paul Miller, an analyst at FBR Capital Markets.
"There are too many bankers to begin with," he said. "It's a good thing, because there were a lot of people on Wall Street that really weren't doing anything but trading bonds back and forth."
"Slicing and dicing," Schutz interjected.
Miller nodded. "What economic value was really being created?" he said.
Would you recommend banking as a career to your child, or any young person? Vote in our poll in the upper right, and leave a comment using the form below.
Iran: ficando parecido com a Coreia do Norte...
Iran Vows to Unplug Internet
BY CHRISTOPHER RHOADS AND FARNAZ FASSIHI
The Wall Street Journal, 28/05/2011
Iran is taking steps toward an aggressive new form of censorship: a so-called national Internet that could, in effect, disconnect Iranian cyberspace from the rest of the world.
The leadership in Iran sees the project as a way to end the fight for control of the Internet, according to observers of Iranian policy inside and outside the country. Iran, already among the most sophisticated nations in online censoring, also promotes its national Internet as a cost-saving measure for consumers and as a way to uphold Islamic moral codes.
É o que se chama de autosuficiência. Resta saber o que vão achar disso os jovens plugados no mundo...
BY CHRISTOPHER RHOADS AND FARNAZ FASSIHI
The Wall Street Journal, 28/05/2011
Iran is taking steps toward an aggressive new form of censorship: a so-called national Internet that could, in effect, disconnect Iranian cyberspace from the rest of the world.
The leadership in Iran sees the project as a way to end the fight for control of the Internet, according to observers of Iranian policy inside and outside the country. Iran, already among the most sophisticated nations in online censoring, also promotes its national Internet as a cost-saving measure for consumers and as a way to uphold Islamic moral codes.
É o que se chama de autosuficiência. Resta saber o que vão achar disso os jovens plugados no mundo...
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Incrivel: economistas do PT esqueceram o estrago da inflacao...
Pois é, eu saudava, dois posts abaixo, a notável evolução de certos economistas do PT da antiga esquizofrênia econômica -- que a bem da verdade ainda caracteriza muitos deles -- para um saudável neoliberalismo -- palavra que eles detestam, mas por isso deve ser empregada num blog provocador como este -- e agora é preciso retomar o tema, para mais uma vez baixar o cacete nesses filistinos desmemoriados.
Eu já tinha previsto a evolução neoliberal do PT neste livro meu, escrito antes das eleições de 2002:
A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil
(São Paulo: Codex, 2003)
Mas não devemos esquecer que algumas pessoas têm cabeça dura, demoram a aprender e, além de tudo, têm tendência a cometer as mesmas bobagens do passado, como nuestros hermanos argentinos, que estão sempre cometendo besteiras e não se dão conta disso.
O livro da jornalista Miriam Leitão pode ser um alerta e um antídoto contra essas bobagens que o governo atual arrisca cometer.
Paulo Roberto de Almeida
Não esquecer
Rogério L.F. Werneck
O Estado de S. Paulo, 27/05/2011
São fatos assustadoramente recentes. Afinal, foi há apenas 16 anos que o País se livrou do devastador regime de alta inflação com que penou por uma década e meia. E, no entanto, a memória das enormes dificuldades que tiveram de ser enfrentadas nesse período tão longo vem sendo rapidamente perdida. Fascinado com o futuro, o País parece propenso a se esquecer do passado recente e das inestimáveis lições que dele pode extrair. O novo livro de Miriam Leitão, Saga Brasileira, lançado pela Editora Record, é um esforço notável de resgate dessa memória.
Ano após ano, tenho notado que meus alunos se mostram cada vez menos informados sobre a real extensão das dificuldades que o descalabro macroeconômico dos anos 80 trouxe ao País. Quando faço menções a esse período - manancial inesgotável de patologias que merecem atenção -, logo se interessam em saber mais detalhes e tentar compreender como as coisas puderam chegar ao ponto a que chegaram. Mas o interesse que demonstram deixa transparecer surpreendente distanciamento. É o mesmo interesse que poderiam ter demonstrado pela hiperinflação de 1923 na Alemanha. Sem o mínimo de comoção que se poderia esperar de quem se dá conta de que eventos tão graves ocorreram, de fato, no Brasil, e há muito pouco tempo. Eventos dramáticos que tantos transtornos trouxeram à geração de seus pais, mas sobre os quais não se haviam inteirado. É como se - em casa, no colégio e na mídia - tivessem sido poupados dessa memória incômoda.
O livro de Miriam Leitão é um antídoto contra tal esquecimento. Quem puder deve lê-lo de capa a capa. Quem não tiver tempo para enfrentar as quase 500 páginas pode ler capítulos isolados. Um bom ponto de partida são as 34 páginas do capítulo 8, que trata da fase mais virulenta do regime de alta inflação, no final do governo Sarney. Ou as 60 páginas do capítulo 9, sobre o Plano Collor. É bem provável que quem começar por aí fique tentado a ler muitos outros capítulos.
Por sorte, trata-se de um livro bem diferente do que teria sido escrito por um economista. Longe de se ater ao exame frio dos dados, a análise vem entremeada com rico mosaico de relatos de dificuldades concretas que o longo convívio com o regime de alta inflação impunha a pessoas de carne e osso. E o clima de incerteza e sobressalto que então se vivia reaflora com nitidez, quando rememorado por uma jornalista que recorrentemente se viu obrigada a tornar inteligível para seus leitores, da noite para o dia, a interminável sequência de medidas arbitrárias envolvidas em planos de estabilização com efeitos cada vez mais efêmeros.
Mas o livro não se resume à análise da deprimente situação a que o País chegou nos anos 80. Em paralelo, Miriam Leitão relata também uma história profundamente edificante: a do sucesso da mobilização da sociedade brasileira com a ideia de extinguir de vez o regime de alta inflação. Um caso exemplar de ação coletiva eficaz, em torno de um esforço de construção institucional que desemboca no Plano Real e ganha força com o círculo virtuoso que se instala no processo político a partir de 1994. Sem memória nítida da real extensão do descalabro macroeconômico dos anos 80, o País estará fadado a se esquecer também desse notável esforço de ação coletiva, do qual deveria se orgulhar.
Em que medida esse esquecimento precoce vem sendo estimulado pelo discurso oficial que se consolidou em Brasília nos últimos oito anos e meio? Tendo desempenhado um papel lamentável, de permanente obstrução, no intrincado esforço que culminou na estabilização da economia, o PT jamais teve interesse em rememorar as terríveis dificuldades impostas pelo regime de alta inflação e, muito menos, em ressaltar os méritos desse esforço. Em Brasília, a história econômica do Brasil foi reinicializada. 2003 passou a ser o ano zero. É hora de deixar para trás as mesquinharias partidárias e aguçar a memória do País sobre os 25 anos anteriores, que encerram lições para a política econômica que jamais podem ser esquecidas.
Eu já tinha previsto a evolução neoliberal do PT neste livro meu, escrito antes das eleições de 2002:
A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil
(São Paulo: Codex, 2003)
Mas não devemos esquecer que algumas pessoas têm cabeça dura, demoram a aprender e, além de tudo, têm tendência a cometer as mesmas bobagens do passado, como nuestros hermanos argentinos, que estão sempre cometendo besteiras e não se dão conta disso.
O livro da jornalista Miriam Leitão pode ser um alerta e um antídoto contra essas bobagens que o governo atual arrisca cometer.
Paulo Roberto de Almeida
Não esquecer
Rogério L.F. Werneck
O Estado de S. Paulo, 27/05/2011
São fatos assustadoramente recentes. Afinal, foi há apenas 16 anos que o País se livrou do devastador regime de alta inflação com que penou por uma década e meia. E, no entanto, a memória das enormes dificuldades que tiveram de ser enfrentadas nesse período tão longo vem sendo rapidamente perdida. Fascinado com o futuro, o País parece propenso a se esquecer do passado recente e das inestimáveis lições que dele pode extrair. O novo livro de Miriam Leitão, Saga Brasileira, lançado pela Editora Record, é um esforço notável de resgate dessa memória.
Ano após ano, tenho notado que meus alunos se mostram cada vez menos informados sobre a real extensão das dificuldades que o descalabro macroeconômico dos anos 80 trouxe ao País. Quando faço menções a esse período - manancial inesgotável de patologias que merecem atenção -, logo se interessam em saber mais detalhes e tentar compreender como as coisas puderam chegar ao ponto a que chegaram. Mas o interesse que demonstram deixa transparecer surpreendente distanciamento. É o mesmo interesse que poderiam ter demonstrado pela hiperinflação de 1923 na Alemanha. Sem o mínimo de comoção que se poderia esperar de quem se dá conta de que eventos tão graves ocorreram, de fato, no Brasil, e há muito pouco tempo. Eventos dramáticos que tantos transtornos trouxeram à geração de seus pais, mas sobre os quais não se haviam inteirado. É como se - em casa, no colégio e na mídia - tivessem sido poupados dessa memória incômoda.
O livro de Miriam Leitão é um antídoto contra tal esquecimento. Quem puder deve lê-lo de capa a capa. Quem não tiver tempo para enfrentar as quase 500 páginas pode ler capítulos isolados. Um bom ponto de partida são as 34 páginas do capítulo 8, que trata da fase mais virulenta do regime de alta inflação, no final do governo Sarney. Ou as 60 páginas do capítulo 9, sobre o Plano Collor. É bem provável que quem começar por aí fique tentado a ler muitos outros capítulos.
Por sorte, trata-se de um livro bem diferente do que teria sido escrito por um economista. Longe de se ater ao exame frio dos dados, a análise vem entremeada com rico mosaico de relatos de dificuldades concretas que o longo convívio com o regime de alta inflação impunha a pessoas de carne e osso. E o clima de incerteza e sobressalto que então se vivia reaflora com nitidez, quando rememorado por uma jornalista que recorrentemente se viu obrigada a tornar inteligível para seus leitores, da noite para o dia, a interminável sequência de medidas arbitrárias envolvidas em planos de estabilização com efeitos cada vez mais efêmeros.
Mas o livro não se resume à análise da deprimente situação a que o País chegou nos anos 80. Em paralelo, Miriam Leitão relata também uma história profundamente edificante: a do sucesso da mobilização da sociedade brasileira com a ideia de extinguir de vez o regime de alta inflação. Um caso exemplar de ação coletiva eficaz, em torno de um esforço de construção institucional que desemboca no Plano Real e ganha força com o círculo virtuoso que se instala no processo político a partir de 1994. Sem memória nítida da real extensão do descalabro macroeconômico dos anos 80, o País estará fadado a se esquecer também desse notável esforço de ação coletiva, do qual deveria se orgulhar.
Em que medida esse esquecimento precoce vem sendo estimulado pelo discurso oficial que se consolidou em Brasília nos últimos oito anos e meio? Tendo desempenhado um papel lamentável, de permanente obstrução, no intrincado esforço que culminou na estabilização da economia, o PT jamais teve interesse em rememorar as terríveis dificuldades impostas pelo regime de alta inflação e, muito menos, em ressaltar os méritos desse esforço. Em Brasília, a história econômica do Brasil foi reinicializada. 2003 passou a ser o ano zero. É hora de deixar para trás as mesquinharias partidárias e aguçar a memória do País sobre os 25 anos anteriores, que encerram lições para a política econômica que jamais podem ser esquecidas.
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