Talvez não queira, mas se reclamar das prisões da Polícia Federal ela pode dizer que preferiria que elas não ocorressem. Além de não lhe caber adotar tal atitude, pois seria claramente ilegal e imoral, ela pode pagar um alto preço político, talvez não junto a um congresso já contaminado pela corrupção política e pela roubalheira generalizada, mas junto à população, à cidadania, às pessoas simples que somos todos nós, e que achamos perfeitamente normal que lugar de bandidos é na cadeia, não no parlamento.
Paulo Roberto de Almeida
No limiar do descontrole
Editorial - O Estado de S.Paulo
12 de agosto de 2011
A sucessão de escândalos de corrupção no governo federal parece estar levando a presidente Dilma Rousseff ao limiar do descontrole. Segundo o noticiário de ontem, ao tomar conhecimento da prisão, pela Polícia Federal (PF), dos envolvidos na Operação Voucher, que apura irregularidades no Ministério do Turismo, Dilma demonstrou "grande irritação". De acordo com fontes palacianas, classificou de "acinte" o fato de os detidos terem sido algemados, reclamou "furiosa" por estar sendo a toda hora surpreendida por operações da PF que lhe criam problemas políticos e cobrou satisfações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem a PF é subordinada.
É fácil entender que a chefe de governo perca a paciência ao se dar conta das proporções em que o aparelho estatal que herdou está contaminado pelo fisiologismo que seu antecessor institucionalizou. É igualmente compreensível sua aflição diante da grave ameaça que a denúncia e a repressão dos arrastões nos ministérios representam para a estabilidade da base de sustentação de seu governo. Afinal, hoje está mais do que evidente que o que manteve em pé essa construção, meticulosamente edificada ao longo de oito anos, foi a tolerância com os gambás introduzidos nos galinheiros.
Mas a ênfase com que a presidente passou a manifestar sua contrariedade com esses espetáculos pode dar margem à interpretação de que está tomando as dores dos denunciados, em vez de manter a atitude de isenção e respeito ao funcionamento das instituições que sua alta investidura exige. À chefe do governo não cabe "enquadrar" a PF, como têm sugerido, ou mesmo exigido, colaboradores e aliados. A polícia existe para investigar delitos e reprimir a ação de criminosos, colocando-os à disposição da Justiça. E deve agir de acordo com normas de procedimento que, se infringidas, sujeitam os responsáveis pelas infringências, por sua vez, a investigação, julgamento e, se for o caso, punições cabíveis. Não cabe, portanto, a altas autoridades palacianas, classificar de "exageradas" ou "atabalhoadas" as ações da PF que lhes criam problemas políticos. Nem ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, declarar que "houve abuso de poder do Judiciário e do Ministério Público".
Até agora a presidente Dilma Rousseff vinha se comportando publicamente com exemplar sobriedade diante das repetidas denúncias de corrupção, apoiando a necessária "faxina" nos setores da administração comprometidos com a bandalheira. E essa atitude tem sido respaldada pela opinião pública, como demonstram as pesquisas. Mas a sua reação diante do mais recente capítulo de uma sucessão de escândalos como nunca se viu antes na história deste país, parece revelar que se está tornando irresistível a pressão daqueles que, tanto no governo como na base aliada, não admitem senão a maneira lulopetista de governar.
Pressionada por todos os lados e preocupada, principalmente, com o tensionamento das relações entre governo e PT, de um lado, e PMDB, do outro, Dilma recorreu a quem entende do assunto para se aconselhar. Em reunião com Lula em São Paulo, na terça-feira, foi orientada a "repactuar" a aliança com o maior partido da base aliada, cujos interesses estão sendo afetados pelos escândalos nos Ministérios da Agricultura e do Turismo. Resta saber o que Lula entende por "repactuar".
Depois da porteira arrombada, parece impossível conter a catadupa de denúncias na mídia e as ações policiais contra o arrastão na administração pública, em especial na federal. É uma simples questão de se colher o que foi plantado durante oito anos. Trata-se, é claro, de uma lavoura que não foi inventada por Lula e pelo PT, que na verdade criaram fama denunciando pragas. O lulopetismo apenas aperfeiçoou métodos de semeadura e colheita. E o PMDB é o segundo maior beneficiário de toda essa criatividade. Na hora em que esses benefícios se transformam em constrangimento, "repactuar" a aliança parece significar a promessa do impossível ao parceiro: acabar com as denúncias e com as operações policiais e com a repercussão de tudo isso na mídia.
Dá para entender, portanto, a irritação da presidente. E lamentar que ela esteja dirigida na direção errada.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sábado, 13 de agosto de 2011
Biblioteca digital mundial - Unesco
A NOTÍCIA DO LANÇAMENTO NA INTERNET DA WDL, A BIBLIOTECA DIGITAL MUNDIAL.
Já está disponível na Internet, através do site www.wdl.org
Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta.
Já está disponível na Internet, através do site www.wdl.org
Reúne mapas, textos, fotos, gravações e filmes de todos os tempos e explica em sete idiomas as jóias e relíquias culturais de todas as bibliotecas do planeta.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Crise internacional na CREDN do Senado Federal: debate com senadores
Debate talvez seja uma palavra exagerada, mas em todo caso a sessão especial da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado Federal organizou uma audiência especial, segunda-feira dia 8 de agosto, sobre o tema da crise financeira e seu impacto no Brasil.
Minha apresentação não foi objeto de texto escrito e sim de apresentação oral, com suporte em PP (disponível neste link:
Sistema financeiro internacional desde Bretton Woods ( pptx Senado).
Abaixo, segue um relato extraído de um boletim do Senado.
Brazil is ready to face the crisis, says Central Bank director
A few hours after thTe announcement of the biggest falls in the stock markets for the last months – more than 8% in Brazil and 5% in the United States – two representatives of the Brazilian government tried to show on Monday (8), at the Senate, that the country is aware of the international crisis risks. Both representatives pointed out the rising in exports and in international reserves during a debate about the health of the world economic system, at the Committee on External Relations and National Defense.
“Our country is ready to face the world crisis. We have big international reserves, capacity to inject liquidity into the economy, if necessary, and a floating exchange rate.
"We have been following the international risks carefully and we are looking for the best possible solutions,” said the Central Bank's International Affairs director, Luiz Awazu Pereira da Silva, at the public hearing called “The International Financial System: from Post-War to current days”, in the cycle of debates called “Trends of the Brazilian Foreign Policy”.
Whereas, the secretary of Foreign Trade from the Ministry of Development, Industry and Foreign Trade, Tatiana Prazeres, said that the Brazilian exports have been rising more than the world trade average. She also mentioned the “accelerated growth” in Brazilian exports and imports from January to July this year, in comparison to last year.
“In seven months we have exported as much as in 2006,” she said.
The current crisis dimension, however, was highlighted by diplomat Paulo Roberto de Almeida, professor of the master and doctorate program of Political Economy at Uniceub, in Brasília. He predicted that the developed countries' economic growth will remain slow and will take around four or five years to recover.
“The debt has grown a lot. The American one will be a problem that will affect two generations. There will be a slow reserve diversification, but the United States are still the most flexible economy in the world and they will keep attracting capital in the predictable future. However, the dollar value will decrease, as the scenario is changing and the North Atlantic loses ground to North Pacific,” he compared.
Those movements, according to the World Bank Brazil director, Makhtar Diop, will also be related to the increasing political importance of countries considered medium income. In his opinion, the next years will still be very uncertain.
“Nowadays, there is a big uncertainty and the world will need the medium income countries to play a more important role,” he said.
After listening to the speech of the attendants of the debate, senator Roberto Requião (PMDB-PR) said that the guests had been talking about “another country”. He highlighted the fall of 40% in Brazilian industry exports over the past 30 years and complained that our economy is focused on the exports of ore and agricultural goods. He warned about the risk of fall in the commodities price, if the United States come into a new recession and consequently affect China, which is a great buyer of Brazilian primary products.
Senator Cristovam Buarque (PDT-DF), who was the debate's chairman, also highlighted the need of bigger investments in technology and said that Brazil “has no future if it remains exporting only ore”.
Minha apresentação não foi objeto de texto escrito e sim de apresentação oral, com suporte em PP (disponível neste link:
Sistema financeiro internacional desde Bretton Woods ( pptx Senado).
Abaixo, segue um relato extraído de um boletim do Senado.
Brazil is ready to face the crisis, says Central Bank director
A few hours after thTe announcement of the biggest falls in the stock markets for the last months – more than 8% in Brazil and 5% in the United States – two representatives of the Brazilian government tried to show on Monday (8), at the Senate, that the country is aware of the international crisis risks. Both representatives pointed out the rising in exports and in international reserves during a debate about the health of the world economic system, at the Committee on External Relations and National Defense.
“Our country is ready to face the world crisis. We have big international reserves, capacity to inject liquidity into the economy, if necessary, and a floating exchange rate.
"We have been following the international risks carefully and we are looking for the best possible solutions,” said the Central Bank's International Affairs director, Luiz Awazu Pereira da Silva, at the public hearing called “The International Financial System: from Post-War to current days”, in the cycle of debates called “Trends of the Brazilian Foreign Policy”.
Whereas, the secretary of Foreign Trade from the Ministry of Development, Industry and Foreign Trade, Tatiana Prazeres, said that the Brazilian exports have been rising more than the world trade average. She also mentioned the “accelerated growth” in Brazilian exports and imports from January to July this year, in comparison to last year.
“In seven months we have exported as much as in 2006,” she said.
The current crisis dimension, however, was highlighted by diplomat Paulo Roberto de Almeida, professor of the master and doctorate program of Political Economy at Uniceub, in Brasília. He predicted that the developed countries' economic growth will remain slow and will take around four or five years to recover.
“The debt has grown a lot. The American one will be a problem that will affect two generations. There will be a slow reserve diversification, but the United States are still the most flexible economy in the world and they will keep attracting capital in the predictable future. However, the dollar value will decrease, as the scenario is changing and the North Atlantic loses ground to North Pacific,” he compared.
Those movements, according to the World Bank Brazil director, Makhtar Diop, will also be related to the increasing political importance of countries considered medium income. In his opinion, the next years will still be very uncertain.
“Nowadays, there is a big uncertainty and the world will need the medium income countries to play a more important role,” he said.
After listening to the speech of the attendants of the debate, senator Roberto Requião (PMDB-PR) said that the guests had been talking about “another country”. He highlighted the fall of 40% in Brazilian industry exports over the past 30 years and complained that our economy is focused on the exports of ore and agricultural goods. He warned about the risk of fall in the commodities price, if the United States come into a new recession and consequently affect China, which is a great buyer of Brazilian primary products.
Senator Cristovam Buarque (PDT-DF), who was the debate's chairman, also highlighted the need of bigger investments in technology and said that Brazil “has no future if it remains exporting only ore”.
Dando a palavra a um idiota, literalmente (e idiotamente...)
Não precisaria, claro, bastaria excluir e esquecer.
Mas de vez em quando vale postar, não um comentário, mas elevar à dignidade de um post inteiro certas idiotices que de vez em quando pingam por aqui, como esta que vai abaixo:
O verdadeiro povo brasileiro apóia é solidario ao grande líder libertador Muammar Kadafi na luta e soberania do povo líbio ao contrario da mídia e a elite dominante capitasta fascista sionista brasileira e mundial que apóia e torce por Hordas imperialistas piratas Rebeldhiena$ predadores assassinos dos EUAkiller e OTANazista/A$$a$$iNATO+FMI$$ querendo saquear o petróleo da Líbia os minérios da Africa do Sul a Amazonas o PAC do Brasil o petróleo da Venezuela as Malvinas da Argentina e recolonizar o mundo todo Mandela & Mummar Ghadafi Freedom Freends Forever Viva! Muammar Kadafi.
Retirei a propaganda final, e deixo à disposição dos interessados, e para maior gáudio do idiota que me mandou, esse ajuntamento de palavras sem sentido.
O mundo tem disso...
Paulo Roberto de Almeida
Mas de vez em quando vale postar, não um comentário, mas elevar à dignidade de um post inteiro certas idiotices que de vez em quando pingam por aqui, como esta que vai abaixo:
O verdadeiro povo brasileiro apóia é solidario ao grande líder libertador Muammar Kadafi na luta e soberania do povo líbio ao contrario da mídia e a elite dominante capitasta fascista sionista brasileira e mundial que apóia e torce por Hordas imperialistas piratas Rebeldhiena$ predadores assassinos dos EUAkiller e OTANazista/A$$a$$iNATO+FMI$$ querendo saquear o petróleo da Líbia os minérios da Africa do Sul a Amazonas o PAC do Brasil o petróleo da Venezuela as Malvinas da Argentina e recolonizar o mundo todo Mandela & Mummar Ghadafi Freedom Freends Forever Viva! Muammar Kadafi.
Retirei a propaganda final, e deixo à disposição dos interessados, e para maior gáudio do idiota que me mandou, esse ajuntamento de palavras sem sentido.
O mundo tem disso...
Paulo Roberto de Almeida
O governo tem diagnostico errado sobre a competitividade industrial - Carlos Alberto Sardenberg
Todos pagam, alguns recebem
Carlos Alberto Sardenberg
O Globo, 4/08/2011
Há uma visão nacionalista estreita confortável para os governantes
Nos classificados do jornal chileno “El Mercurio”, encontrei um Gol 1.6, modelo mais avançado, oferecido pelo equivalente a R$30 mil, já incluídos os impostos. É cerca de R$10 mil inferior ao preço no Brasil, onde o carro é fabricado. Vamos reparar: o produto brasileiro é mais barato lá fora, de modo que as causas dominantes do preço maior estão aqui, não no exterior.
Não é só com automóveis. Nas farmácias de Buenos Aires, por exemplo, encontram-se cosméticos e remédios made in Brasil mais baratos lá. Logo, como se pode dizer que o problema maior da indústria brasileira é a competição predatória dos importados?
Esse é o desvio da política industrial lançada pelo governo. Parte de um erro de diagnóstico, o de achar que indústria nacional perde competitividade por causa do dólar desvalorizado e da competição desleal dos estrangeiros. Esses problemas existem, mas não são os mais importantes.
Esse equívoco completa outro, o de achar que o dólar está desvalorizado por causa da ação de especuladores no mercado futuro (de derivativos), alvo do pacote lançado na semana passada.
São erros gêmeos. Nos dois casos, há uma visão nacionalista estreita, essa que localiza sempre um estrangeiro predador atrás de cada esquina. É confortável para os governantes, que posam de patriotas, acaba ajudando alguns setores empresariais, mas cobrando um preço de todos os outros.
Reconhecendo que há excesso de carga tributária, toda vez que resolve ajudar algum setor o governo vai pelo caminho da redução de impostos. Mas compensa a queda de receita com aumento em outros setores, de modo que a carga tributária não diminui. É por isso que a arrecadação de impostos aumenta fortemente, mesmo depois de vários pacotes.
Conclusão: todos pagam impostos elevados, alguns ganham o benefício de pagar menos. O governo calcula que a renúncia fiscal do atual pacote será de R$25 bilhões em dois anos. É pouco. Só no primeiro semestre deste ano, o Tesouro arrecadou R$480 bilhões, um salto de 20% sobre o mesmo período de 2010.
A mesma lógica vale para os juros. Reconhecendo que o custo do dinheiro é proibitivo, toda vez que monta pacotes o governo oferece, via BNDES, juros especiais, subsidiados, para este ou aquele setor. Para isso, o governo precisa colocar mais dinheiro no BNDES. E como arruma esses recursos? Ou com mais impostos ou tomando dinheiro emprestado na praça, pelo qual paga juros mais altos do que o BNDES cobra.
Com esses dois movimentos, o governo puxa a carga tributária e eleva a dívida pública bruta, fator que pressiona a taxa de juros — não a especial, mas a de todo mundo.
De novo, para oferecer juros menores a alguns, precisa cobrar mais juros de todos os outros.
Resumo da ópera: esses pacotes podem até melhorar a vida de algumas empresas e setores, mas pioram a vida de todos os outros. Como não há dinheiro para subsidiar todos, a injustiça é generalizada e tudo termina com o consumidor brasileiro pagando mais caro.
A competitividade geral da economia continua limitada não pelo dólar baratinho, nem pelos estrangeiros maldosos, mas pelos três fatores estruturais que conhecemos: carga tributária muito elevada (para custear os cada vez mais elevados gastos públicos, inclusive com subsídios), juros na lua e infraestrutura precária. Juros e gastos públicos, aliás, também explicam boa parte da valorização do real (e mais a entrada de dólares via exportação de commodities e para investimentos).
O pacote tem ainda um viés não propriamente nacionalista, mas antiestrangeiro. Pelo jeitão, vêm aí medidas para impedir e/ou atrapalhar a importação. Segundo explicitou o ministro Mantega, o mercado brasileiro pertence à indústria brasileira, não aos “aventureiros” de fora.
Nos primeiros sete meses deste ano, o Brasil importou mercadorias e serviços no valor de US$124,5 bilhões. É dinheiro. Nesse ritmo, as compras externas chegariam ao final do ano representando mais de 10% do Produto Interno Bruto. Ação de aventureiros?
A importação inclui insumos para agricultura e indústria, bens intermediários, máquinas, equipamentos, tratores, plataformas, tecnologias e, ninguém é de ferro, itens de consumo. Mas, no essencial, são produtos que melhoram e barateiam a produção local. E a vida do consumidor.
Não há como substituir toda essa importação. Mas há como impedir alguns itens, entregando determinados mercados para o produtor local, a preços, digamos, legitimamente brasileiros. Já tivemos isso — a reserva de mercado — no passado. Lembram-se? Deu em produtos caros e ruins — e alguns empresários ricos.
Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.
Carlos Alberto Sardenberg
O Globo, 4/08/2011
Há uma visão nacionalista estreita confortável para os governantes
Nos classificados do jornal chileno “El Mercurio”, encontrei um Gol 1.6, modelo mais avançado, oferecido pelo equivalente a R$30 mil, já incluídos os impostos. É cerca de R$10 mil inferior ao preço no Brasil, onde o carro é fabricado. Vamos reparar: o produto brasileiro é mais barato lá fora, de modo que as causas dominantes do preço maior estão aqui, não no exterior.
Não é só com automóveis. Nas farmácias de Buenos Aires, por exemplo, encontram-se cosméticos e remédios made in Brasil mais baratos lá. Logo, como se pode dizer que o problema maior da indústria brasileira é a competição predatória dos importados?
Esse é o desvio da política industrial lançada pelo governo. Parte de um erro de diagnóstico, o de achar que indústria nacional perde competitividade por causa do dólar desvalorizado e da competição desleal dos estrangeiros. Esses problemas existem, mas não são os mais importantes.
Esse equívoco completa outro, o de achar que o dólar está desvalorizado por causa da ação de especuladores no mercado futuro (de derivativos), alvo do pacote lançado na semana passada.
São erros gêmeos. Nos dois casos, há uma visão nacionalista estreita, essa que localiza sempre um estrangeiro predador atrás de cada esquina. É confortável para os governantes, que posam de patriotas, acaba ajudando alguns setores empresariais, mas cobrando um preço de todos os outros.
Reconhecendo que há excesso de carga tributária, toda vez que resolve ajudar algum setor o governo vai pelo caminho da redução de impostos. Mas compensa a queda de receita com aumento em outros setores, de modo que a carga tributária não diminui. É por isso que a arrecadação de impostos aumenta fortemente, mesmo depois de vários pacotes.
Conclusão: todos pagam impostos elevados, alguns ganham o benefício de pagar menos. O governo calcula que a renúncia fiscal do atual pacote será de R$25 bilhões em dois anos. É pouco. Só no primeiro semestre deste ano, o Tesouro arrecadou R$480 bilhões, um salto de 20% sobre o mesmo período de 2010.
A mesma lógica vale para os juros. Reconhecendo que o custo do dinheiro é proibitivo, toda vez que monta pacotes o governo oferece, via BNDES, juros especiais, subsidiados, para este ou aquele setor. Para isso, o governo precisa colocar mais dinheiro no BNDES. E como arruma esses recursos? Ou com mais impostos ou tomando dinheiro emprestado na praça, pelo qual paga juros mais altos do que o BNDES cobra.
Com esses dois movimentos, o governo puxa a carga tributária e eleva a dívida pública bruta, fator que pressiona a taxa de juros — não a especial, mas a de todo mundo.
De novo, para oferecer juros menores a alguns, precisa cobrar mais juros de todos os outros.
Resumo da ópera: esses pacotes podem até melhorar a vida de algumas empresas e setores, mas pioram a vida de todos os outros. Como não há dinheiro para subsidiar todos, a injustiça é generalizada e tudo termina com o consumidor brasileiro pagando mais caro.
A competitividade geral da economia continua limitada não pelo dólar baratinho, nem pelos estrangeiros maldosos, mas pelos três fatores estruturais que conhecemos: carga tributária muito elevada (para custear os cada vez mais elevados gastos públicos, inclusive com subsídios), juros na lua e infraestrutura precária. Juros e gastos públicos, aliás, também explicam boa parte da valorização do real (e mais a entrada de dólares via exportação de commodities e para investimentos).
O pacote tem ainda um viés não propriamente nacionalista, mas antiestrangeiro. Pelo jeitão, vêm aí medidas para impedir e/ou atrapalhar a importação. Segundo explicitou o ministro Mantega, o mercado brasileiro pertence à indústria brasileira, não aos “aventureiros” de fora.
Nos primeiros sete meses deste ano, o Brasil importou mercadorias e serviços no valor de US$124,5 bilhões. É dinheiro. Nesse ritmo, as compras externas chegariam ao final do ano representando mais de 10% do Produto Interno Bruto. Ação de aventureiros?
A importação inclui insumos para agricultura e indústria, bens intermediários, máquinas, equipamentos, tratores, plataformas, tecnologias e, ninguém é de ferro, itens de consumo. Mas, no essencial, são produtos que melhoram e barateiam a produção local. E a vida do consumidor.
Não há como substituir toda essa importação. Mas há como impedir alguns itens, entregando determinados mercados para o produtor local, a preços, digamos, legitimamente brasileiros. Já tivemos isso — a reserva de mercado — no passado. Lembram-se? Deu em produtos caros e ruins — e alguns empresários ricos.
Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Reflexao do dia: partidos querem o direito de roubar em paz...
Esta é a impressão que tenho ao ler os comentários de líderes partidários, que acham que a Polícia Federal está contrariando suas atividades...
E ficam de braços cruzados: não votam nada, até parar essa onda de prisões.
De fato: os partidos querem ter o direito de roubar em paz.
Se todo mundo rouba, por que não eles?
Paulo Roberto de Almeida
Addendum em 12/08/2011:
Lido numa comunicação de internet:
TODO PARLAMENTAR É CULPADO PERANTE A LEI, ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO.
E ficam de braços cruzados: não votam nada, até parar essa onda de prisões.
De fato: os partidos querem ter o direito de roubar em paz.
Se todo mundo rouba, por que não eles?
Paulo Roberto de Almeida
Addendum em 12/08/2011:
Lido numa comunicação de internet:
TODO PARLAMENTAR É CULPADO PERANTE A LEI, ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO.
Economia Politica dos Sistemas-Mundo: perguntas nao respondidas.
Participei, no dia 9 de agosto, de um dos painéis deste colóquio:
Economia Politica dos Sistemas-Mundo
Unicamp, 8 e 9 de agosto
O texto que serviu de base a minha apresentação (resumida em PowerPoint, neste link) é este aqui:
O Brasil na economia-mundo do último século (1910 a 2010)
(disponível neste link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2232BrEconMundo1910a2010.pdf)
Como sempre acontece em todo seminário, o tempo urge, e não sobre espaço para responder a todas as perguntas. Tive várias, que não consegui responder, e remeti alguns dos "perguntadores" a textos do meu site, ou blog, para os temas mais comuns que venho tratando ao longo do tempo.
Gostaria, contudo, de registrar algumas perguntas e deixar espaço aberto para tentar responder por meio de alguns trabalhos posteriores, talvez notas neste blog, ou artigos divulgados em meu site.
O debatedor, professor Helton Ricardo Ouriques, formulou questões interessantes, que registro resumidamente aqui:
1) Por que eu limitei-me a informar sobre a proteção tarifária antes de 1940 apenas, e não depois disso?
Respondi que antes de 1940 os países possuiam suas próprias políticas nacionais, de proteção à indústria nacional, etc; depois disso, surge o GATT e as condições para a formulação de políticas comerciais e a definição de tarifas mudam bastante, não sendo mais decididas unicamente no plano nacional.
2) Qual o papel do Estado e do sistema mundial no curso do processo brasileiro de modernização?
Muito complexo para ser exposto aqui, mas resslatei o papel das políticas nacionais no que somos hoje, com menor impacto das condições externas. O Estado certamente foi relevante, para o bem e para o mal, agora geralmente para o mal...
3) Modelo asiático de desenvolvimento, em especial papel do Estado na China?
Também complexo, mas inverti a relação, aliás expressa no título de Giovanni Arrighi: Adam Smith vai a Pequim. Disse que estava totalmente errado: era a China que foi a Escócia, e que o capitalismo está se desenvolvendo na China a despeito do Estado, não por causa do Estado... As pessoas fazem uma análise totalmente equivocada do processo chinês.
Muitas outras perguntas foram feitas: Prebisch, neoliberalismo, Ha-Joon Chang nosso modelo de desenvolvimento, etc.
Não pude responder a todas e me desculpo por isto.
Mas convido os interessados a me formular novamente as perguntas que vou tentar responder...
Paulo Roberto de Almeida
Economia Politica dos Sistemas-Mundo
Unicamp, 8 e 9 de agosto
O texto que serviu de base a minha apresentação (resumida em PowerPoint, neste link) é este aqui:
O Brasil na economia-mundo do último século (1910 a 2010)
(disponível neste link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/2232BrEconMundo1910a2010.pdf)
Como sempre acontece em todo seminário, o tempo urge, e não sobre espaço para responder a todas as perguntas. Tive várias, que não consegui responder, e remeti alguns dos "perguntadores" a textos do meu site, ou blog, para os temas mais comuns que venho tratando ao longo do tempo.
Gostaria, contudo, de registrar algumas perguntas e deixar espaço aberto para tentar responder por meio de alguns trabalhos posteriores, talvez notas neste blog, ou artigos divulgados em meu site.
O debatedor, professor Helton Ricardo Ouriques, formulou questões interessantes, que registro resumidamente aqui:
1) Por que eu limitei-me a informar sobre a proteção tarifária antes de 1940 apenas, e não depois disso?
Respondi que antes de 1940 os países possuiam suas próprias políticas nacionais, de proteção à indústria nacional, etc; depois disso, surge o GATT e as condições para a formulação de políticas comerciais e a definição de tarifas mudam bastante, não sendo mais decididas unicamente no plano nacional.
2) Qual o papel do Estado e do sistema mundial no curso do processo brasileiro de modernização?
Muito complexo para ser exposto aqui, mas resslatei o papel das políticas nacionais no que somos hoje, com menor impacto das condições externas. O Estado certamente foi relevante, para o bem e para o mal, agora geralmente para o mal...
3) Modelo asiático de desenvolvimento, em especial papel do Estado na China?
Também complexo, mas inverti a relação, aliás expressa no título de Giovanni Arrighi: Adam Smith vai a Pequim. Disse que estava totalmente errado: era a China que foi a Escócia, e que o capitalismo está se desenvolvendo na China a despeito do Estado, não por causa do Estado... As pessoas fazem uma análise totalmente equivocada do processo chinês.
Muitas outras perguntas foram feitas: Prebisch, neoliberalismo, Ha-Joon Chang nosso modelo de desenvolvimento, etc.
Não pude responder a todas e me desculpo por isto.
Mas convido os interessados a me formular novamente as perguntas que vou tentar responder...
Paulo Roberto de Almeida
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