El chavismo pone en la mira a Capriles
Por Daniel Lozano
La Nación (Argentina), 11/02/2013
Busca cercar al líder opositor con una estrategia amplia, que incluye la asfixia económica de su partido
"No tengo miedo al gobierno ni a los funcionarios que mandan a atacarnos. Que no crean que con amenazas y declaraciones malintencionadas van a desviarnos de nuestro camino." Henrique Capriles, gobernador del estado de Miranda y principal líder opositor en Venezuela , soporta desde hace semanas el cerco del chavismo, que se estrecha en torno al único dirigente que fue capaz de ganarles electoralmente a dos pesos pesados del oficialismo.
Diosdado Cabello, presidente de la Asamblea Nacional, y Elías Jaua, ex vicepresidente y actual canciller, cayeron en las urnas frente a Capriles, que también arrancó un 45% de votos al todopoderoso Hugo Chávez , que convalece en Cuba desde hace dos meses.
En las encuestas del año pasado, Capriles también superaba al sucesor del líder, Nicolás Maduro. Hoy la situación es distinta. Los primeros sondeos muestran números muy parecidos entre ambos posibles candidatos ante un eventual llamado a elecciones anticipadas si el presidente no pudiera retomar sus funciones.
Se trata de un cerco programado, en el que interviene todo el Estado. Y que supera los límites de la lucha política. En pleno Carnaval, con las playas de Miranda atestadas de gente, el estado impidió anteayer que los tres helicópteros de la gobernación protegieran desde el aire a los turistas o que los trasladaran en caso de accidente.
Capriles lo tiene muy claro: "Vienen a por mí". LA NACION reunió seis estrategias que el oficialismo puso en marcha para maniatar al dirigente que más temen.
1) Golpe a Primero Justicia. El gobierno utilizó el Parlamento para atacar con saña a dos diputados del partido opositor, acusándolos de supuesta corrupción, y solicitó su apresamiento. La elección no es casual: Primero Justicia es el partido en el que milita Capriles y su mayor apoyo dentro de la alianza antichavista. Se los acusa de recibir donativos particulares, que es la única forma de financiación que permite la Constitución. La Asamblea involucró en la caza y captura a inteligencia militar, policía, Hacienda, el Tribunal Supremo, la Contraloría General, el supervisor bancario, la Oficina Nacional Antidrogas y al Consejo Nacional Electoral. Todos contra dos.
2) Asfixia económica. La denuncia por corrupción tiene un motivo oculto: asustar a todos aquellos que quieran financiar a Capriles. Cabello utilizó copias gigantes de los cheques para que se vieran nítidamente los nombres de las empresas y sus firmas. Poco importa que se trate de montos pequeños en un país en el que el oficialista PSUV se nutre con multimillonarios fondos del petróleo. La oposición ni siquiera pudo pagar las deudas de 2012. "Lo que quieren es desmoralizarlos", resumió Capriles.
3) Invisibilidad exterior. La campaña contra Felipe González, ex presidente español, tras su reunión con Capriles en Bogotá es un adelanto de lo que le espera a todo aquel que se atreva a recibir al líder opositor más allá de sus fronteras. A González lo vincularon con paramilitares, incluso con la foto falsa de Chávez publicada en El País. "Debería darle vergüenza ir a Colombia para conspirar contra la patria", disparó Maduro.
4) Persecución personal. El oficialismo busca "intimidar" en su vida personal a Capriles. "Hasta en los interiores" le registraron en el aeropuerto de Caracas. Su padre tampoco estuvo exento de la presión gubernamental: le grabaron conversaciones privadas, que luego fueron emitidas en la TV pública.
5) Campaña. Jaua recuperó una vieja campaña oficialista, en la que participó el propio Maduro cuando llamó "mariconsón" al gobernador. El canciller deslizó que el diputado Richard Mardo, acusado de corrupción, es el "amiguito" de Capriles.
6) Y la gorra tricolor. Lo que se da no se quita, dice el refrán. Menos en Venezuela. Durante la campaña, Capriles se encontró con un regalo inesperado del oficialismo convertido en símbolo de libertad: la gorra tricolor. La sorpresa llegó durante los actos del 4 de febrero (en conmemoración del alzamiento de Chávez contra el gobierno de Carlos Andrés Pérez, en 1992), cuando Maduro presentó la gorra de los chavistas, también tricolor. Rápidamente aparecieron miles de copias en Caracas. Incluso el gobierno dedicó una cadena obligatoria de radio y televisión a su nuevo capricho..
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Politica comercial hiperativa - Pedro Motta Veiga, Sandra Rios
Síndrome de hiperatividade infantil?
Hardly...
Parece mais um surto de passadismo incontido, de volta aos anos 1970 de grata memória para os companheiros.
A despeito da ditadura no plano político, eles adoravam aquele estatismo vicejante, rastejante, grimpante, todo aquele stalinismo industrial, todo aquele frenesi de medidas estatais, aparentemente benéficas para o país.
Outros tempos, outros costumes. Parece que já não se fazem mais protecionistas como antigamente.
Paulo Roberto de Almeida
Hardly...
Parece mais um surto de passadismo incontido, de volta aos anos 1970 de grata memória para os companheiros.
A despeito da ditadura no plano político, eles adoravam aquele estatismo vicejante, rastejante, grimpante, todo aquele stalinismo industrial, todo aquele frenesi de medidas estatais, aparentemente benéficas para o país.
Outros tempos, outros costumes. Parece que já não se fazem mais protecionistas como antigamente.
Paulo Roberto de Almeida
A política comercial hiperativa de Dilma
PEDRO DA MOTTA VEIGA E SANDRA POLÓNIA RIOS
O Estado de S.Paulo, 09 de fevereiro de 2013
O governo Dilma Rousseff chega à metade do seu mandato
dando mostras de permanente ativismo na área de política comercial e de
política de investimentos e produção. Nosso balanço "de meio de caminho"
dessas políticas do governo ressalta cinco características.
A prioridade permanente. A preocupação central dessas políticas foi, em todo o período, o desempenho da indústria. Essa prioridade já havia emergido ao final do governo Lula, mas foi reforçada com Dilma. A estratégia defensiva explicitada pela política de proteção tarifária e não tarifária, o uso das compras do governo como instrumento de política e o ativismo do BNDES no apoio aos investimentos e à produção são manifestações desta clara prioridade.
O diagnóstico mutante. O diagnóstico governamental dos fatores responsáveis pelo fraco desempenho da indústria brasileira evoluiu significativamente. No início, o governo Dilma atribuía ao câmbio a origem dos problemas de competitividade do setor. Desvalorizado o câmbio e não tendo a indústria reagido no plano doméstico, ou nas exportações, o diagnóstico voltou-se para fatores relacionados aos custos de produção da indústria, às deficiências e aos custos de utilização da infraestrutura de transportes e energia, enfim, ao que em outra época se denominava "custo Brasil". A evolução no diagnóstico é muito positiva, mas seus resultados estão muito aquém do desejável, em razão de uma terceira característica da gestão Dilma nesta área de política.
A discriminação como método. Essa terceira característica diz respeito ao fato de que os problemas de competitividade da indústria têm sido atacados por meio de mecanismos e instrumentos cujos traços mais nítidos são o foco setorial e o decorrente caráter discriminatório dos incentivos e da proteção que materializam as políticas. Os exemplos mais notáveis são os incentivos ao setor automotivo e a proteção adicional que beneficiou produtos e setores intermediários, partes e peças e bens de capital, pela elevação da tarifa de importação.
A despreocupação com os custos. A aparente desatenção em relação aos custos das políticas adotadas é a quarta característica do governo Dilma nesta área. As seguidas injeções de recursos do Tesouro no BNDES para que este reduza taxas de juros - em muitos casos já hoje negativas, em termos reais - parecem ser uma sequência de decisões cujos custos para a sociedade seriam irrelevantes. Além disso, políticas de proteção a setores específicos geram custos elevados para setores usuários dos produtos protegidos e comprometem sua competitividade. Tais custos são ignorados pelo governo.
A desimportância do mundo. A quinta característica do governo Dilma nesta área é a irrelevância da dimensão externa das políticas. Aqui, a novidade é o crescente distanciamento do País das regras comerciais da OMC, cujo melhor exemplo é o novo regime automotivo. Menos nova é a irrelevância atribuída às negociações comerciais no menu de políticas do Brasil. Trata-se aí de herança dos governos Lula: esvaziamento das agendas de negociação comercial, como resultado da submissão destas a objetivos e visões políticas que valorizam as relações Sul-Sul (sem por isso gerar nenhum resultado na esfera das negociações comerciais) e evitam tratativas com os países desenvolvidos.
O que veremos nos dois anos restantes do mandato de Dilma, nesta área de política? Provavelmente, mais do mesmo, se tomarmos como base o quadro atual e a ele agregarmos o fato de que o calendário eleitoral atiçará a criatividade dos formuladores de política.
No atacado, assistiremos muito provavelmente ao encurtamento do horizonte temporal que serve de referência à formulação de políticas: a busca de resultados imediatos se sobreporá mais e mais a preocupações com os efeitos e impactos não imediatos - entre os quais os custos - das políticas adotadas. No varejo, esforços adicionais focados em setores específicos e pautados pelo diagnóstico de que a competitividade da indústria depende de avanços na agenda do custo Brasil, mas dificuldades de implementação desta agenda em função dos compromissos e da visão de política do PT e seus aliados.
* DIRETORES DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO (CINDES), PEDRO DA MOTTA VEIGA, SANDRA POLÓNIA RIOS, DIRETORES DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO (CINDES)
A prioridade permanente. A preocupação central dessas políticas foi, em todo o período, o desempenho da indústria. Essa prioridade já havia emergido ao final do governo Lula, mas foi reforçada com Dilma. A estratégia defensiva explicitada pela política de proteção tarifária e não tarifária, o uso das compras do governo como instrumento de política e o ativismo do BNDES no apoio aos investimentos e à produção são manifestações desta clara prioridade.
O diagnóstico mutante. O diagnóstico governamental dos fatores responsáveis pelo fraco desempenho da indústria brasileira evoluiu significativamente. No início, o governo Dilma atribuía ao câmbio a origem dos problemas de competitividade do setor. Desvalorizado o câmbio e não tendo a indústria reagido no plano doméstico, ou nas exportações, o diagnóstico voltou-se para fatores relacionados aos custos de produção da indústria, às deficiências e aos custos de utilização da infraestrutura de transportes e energia, enfim, ao que em outra época se denominava "custo Brasil". A evolução no diagnóstico é muito positiva, mas seus resultados estão muito aquém do desejável, em razão de uma terceira característica da gestão Dilma nesta área de política.
A discriminação como método. Essa terceira característica diz respeito ao fato de que os problemas de competitividade da indústria têm sido atacados por meio de mecanismos e instrumentos cujos traços mais nítidos são o foco setorial e o decorrente caráter discriminatório dos incentivos e da proteção que materializam as políticas. Os exemplos mais notáveis são os incentivos ao setor automotivo e a proteção adicional que beneficiou produtos e setores intermediários, partes e peças e bens de capital, pela elevação da tarifa de importação.
A despreocupação com os custos. A aparente desatenção em relação aos custos das políticas adotadas é a quarta característica do governo Dilma nesta área. As seguidas injeções de recursos do Tesouro no BNDES para que este reduza taxas de juros - em muitos casos já hoje negativas, em termos reais - parecem ser uma sequência de decisões cujos custos para a sociedade seriam irrelevantes. Além disso, políticas de proteção a setores específicos geram custos elevados para setores usuários dos produtos protegidos e comprometem sua competitividade. Tais custos são ignorados pelo governo.
A desimportância do mundo. A quinta característica do governo Dilma nesta área é a irrelevância da dimensão externa das políticas. Aqui, a novidade é o crescente distanciamento do País das regras comerciais da OMC, cujo melhor exemplo é o novo regime automotivo. Menos nova é a irrelevância atribuída às negociações comerciais no menu de políticas do Brasil. Trata-se aí de herança dos governos Lula: esvaziamento das agendas de negociação comercial, como resultado da submissão destas a objetivos e visões políticas que valorizam as relações Sul-Sul (sem por isso gerar nenhum resultado na esfera das negociações comerciais) e evitam tratativas com os países desenvolvidos.
O que veremos nos dois anos restantes do mandato de Dilma, nesta área de política? Provavelmente, mais do mesmo, se tomarmos como base o quadro atual e a ele agregarmos o fato de que o calendário eleitoral atiçará a criatividade dos formuladores de política.
No atacado, assistiremos muito provavelmente ao encurtamento do horizonte temporal que serve de referência à formulação de políticas: a busca de resultados imediatos se sobreporá mais e mais a preocupações com os efeitos e impactos não imediatos - entre os quais os custos - das políticas adotadas. No varejo, esforços adicionais focados em setores específicos e pautados pelo diagnóstico de que a competitividade da indústria depende de avanços na agenda do custo Brasil, mas dificuldades de implementação desta agenda em função dos compromissos e da visão de política do PT e seus aliados.
* DIRETORES DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO (CINDES), PEDRO DA MOTTA VEIGA, SANDRA POLÓNIA RIOS, DIRETORES DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO (CINDES)
Integracao latino-americana anacronica - Mauro Laviola
As coisas não são o que aparecem nos discursos oficiais, segundo esse crítico do oba-oba integracionista.
Paulo Roberto de Almeida
CELAC: O que será o amanhã?
Mauro Laviola
O Globo, 1002/2013
Paulo Roberto de Almeida
CELAC: O que será o amanhã?
Mauro Laviola
O Globo, 1002/2013
A reunião de
suposto congraçamento entre a Comunidade dos Estados Latino-americanos e
Caribenhos (Celac, versão latina da Organização dos Estados Americanos sem os
EUA e o Canadá) e a União Europeia, ocorrida em Santiago do Chile no fim de
janeiro, revelou o velho anacronismo existente em boa parte dos países da
região dirigidos sob uma visão terceiromundista.
Inútil encontro
porque restou apenas a constatação de que a "estratégica associação
transatlântica" pretendida jamais se solidificará frente à existência da
brecha político-ideológica que separa países latino-americanos com visões
planetárias da outra metade que ainda cultuam gestões político-econômicas do
passado.
O pior da
história é que o Brasil parece situar-se no lado errado, ainda preso à
"Doutrina Garcia" (esplendidamente destrinchada em magistral artigo
do sociólogo Demétrio Magnoli). Como principal conselheiro presidencial para
assuntos externos, suas opiniões conduziram a política externa brasileira nos
últimos dez anos a um estrondoso fracasso. Logrou destronar o Ministério das
Relações Exteriores de seu encargo constitucional ao induzir os dirigentes do
país a seguir os ditames "lulopetistas", "chavistas" e
"kirchneristas" de integração regional e aversão aos países
capitalistas. Não é por outra razão que o Brasil, supostamente o líder
econômico continental, aceita e até apoia toda sorte de subversões comerciais
praticadas pela Argentina no último decênio. Outro feito importante da dita
"doutrina" foi orientar o governo a participar do conhecido plano
para ingressar a Venezuela no Mercosul pela janela.
Em matéria de
relacionamento extrarregional, o bloco dispõe apenas de dois insípidos acordos
vigentes com a Índia e Israel e três outros com a União Aduaneira da África
Austral (Sacu, na sigla em inglês), Egito e Palestina à espera de aprovações
parlamentares.
Os
(des)entendimentos com a União Europeia estão próximos de completar vinte anos
e, a julgar pela Argentina, jamais serão finalizados enquanto perdurar a atual
postura Kirchner, enquanto o Brasil, preso às amarras da Decisão do Conselho do
Mercado Comum do Mercosul 32/00, não tem outro papel a não ser ir dourando a
pílula.
Enquanto isso, os
países da Aliança Atlântica (Colômbia, Chile, Peru e México) - contando com
crescentes observadores (Panamá, Costa Rica, Uruguai e mais recentemente o
Paraguai) - estão voando à velocidade do som para recuperar décadas perdidas de
atrasos e demagogias.
E nós? Como estamos
no período de carnaval, só nos resta cantar o conhecido samba-enredo da União
da Ilha:
"O que será
o amanhã?
Descubra quem
puder
O que irá me
acontecer?
O meu destino
será o que Deus quiser..."
Mauro Laviola é
vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil.
E por falar na Venezuela... esqueceram a Constituicao bolivariana... - Joaquim Falcão
É proibido interpretar a Constituição
Joaquim Falcão
Professor de direito da Fundação Getulio Vargas (FGV)
Correio Braziliense, 10/02/2013
Recentemente, o governo da Venezuela, atrás da Comissão Nacional de Telecomunicação (Conatel), proibiu a rede de televisão Globovisión de veicular notícias sobre a interpretação do art. 231 da Constituição bolivariana. Dependendo da interpretação dada a esse artigo, Chávez teria que, pessoalmente, comparecer à Venezuela para assumir o novo mandato.
A Globovisión era contrária à posição do governo, que dispensava a presença de Chávez e acabou prevalecendo na prática. Difundiu então vídeos com entrevistas de representantes do chavismo, que defendiam o adiamento da posse e confrontava essa posição com os artigos da Constituição. A Globovisión mostrava que o adiamento era impossível. E que se deveria caminhar para novas eleições. Exibia Chávez dizendo “dentro da Constituição, tudo. Fora dela, nada”, expondo a contradição entre a interpretação do governo e o texto da Constituição.
O governo entendeu que esses vídeos incitavam o ódio, a intolerância e alterações da ordem pública. Proibiu-os. Censurou-os. Proibiu de se interpretar a Constituição.
Dificilmente se viu, de um país que se propõe a ser democrático e à obedecer a Constituição, uma censura tão explícita, direta e específica ao acesso dos cidadãos ao conhecimento jurídico. Tentativa de fazer com que a opinião pública aceite, como única, a interpretação constitucional oficial: Chávez não precisaria estar presente para assumir o novo mandato. Tentativa de evitar o contraditório da interpretação constitucional no julgamento da opinião pública.
Esse ato de força revela mais fraqueza do que força. Revela que o debate sobre interpretação constitucional não é de interesse restrito de profissionais jurídicos, magistrados, políticos ou da elite econômica de um país. Tem imensas consequências para a legitimidade do poder. Revela também a força mobilizatória que a convicção no desrespeito à Constituição pode produzir. Interpretação constitucional é mobilizatória das consciências, na política, nas ruas, nos votos futuros.
O fato é que toda Constituição é autolimitação que o país se impõe, e a seus governos. Os partidários de Chávez teriam também que respeitar essa autolimitação. Do contrário, crescerá a desconfiança do eleitor. Daí porque o próprio presidente diz: “Dentro da Constituição, tudo; fora, nada”. Constituição incapaz de impor limites aos governantes é Constituição menor, ou como se diz, Constituição apenas semântica.
Constituição nenhuma é texto tranquilo. Ao contrário. Quase sempre é intranquilo. Mas quando se chega ao ponto de se proibir o debate livre, o contraditório constitucional, é intranquilo demais. Significa que a relação entre política e Constituição está com febre. Tensões. Organismo contra organismo. Inflamações. Células contra células. O regime político vai mal.
A comparação com o Brasil é inevitável. Durante mais de quatro meses, no mensalão, o Brasil constatou pela televisão, jornal, rádio e mídias sociais nossa Constituição transformada em intranquila arena de interpretações, na qual discutiam ministros entre si, advogados e procuradores, defesa e acusação, blogs, editoriais, associações. Esse debate é o caminho da cura. Indispensável na democracia. A censura, não.
Mesmo em direções opostas, o decreto venezuelano e a TV Justiça no Brasil demonstram que a interpretação nunca se limita aos autos e ao plenário do Supremo. Inclui a opinião pública. Seja para estimular sua presença, como no Brasil, seja para forçar sua ausência, como na Venezuela.
Nesse caso, controlar a mídia é evitar o contraditório, retirar o direito de defesa constitucional de pelo menos parte da opinião pública que não detém o poder da força. Mas detém o poder da influência. A influência que, em seu conjunto, faz o voto. Voto que em sua maioria faz a liberdade. Liberdade que, assegurada, faz a democracia.
Joaquim Falcão
Professor de direito da Fundação Getulio Vargas (FGV)
Correio Braziliense, 10/02/2013
Recentemente, o governo da Venezuela, atrás da Comissão Nacional de Telecomunicação (Conatel), proibiu a rede de televisão Globovisión de veicular notícias sobre a interpretação do art. 231 da Constituição bolivariana. Dependendo da interpretação dada a esse artigo, Chávez teria que, pessoalmente, comparecer à Venezuela para assumir o novo mandato.
A Globovisión era contrária à posição do governo, que dispensava a presença de Chávez e acabou prevalecendo na prática. Difundiu então vídeos com entrevistas de representantes do chavismo, que defendiam o adiamento da posse e confrontava essa posição com os artigos da Constituição. A Globovisión mostrava que o adiamento era impossível. E que se deveria caminhar para novas eleições. Exibia Chávez dizendo “dentro da Constituição, tudo. Fora dela, nada”, expondo a contradição entre a interpretação do governo e o texto da Constituição.
O governo entendeu que esses vídeos incitavam o ódio, a intolerância e alterações da ordem pública. Proibiu-os. Censurou-os. Proibiu de se interpretar a Constituição.
Dificilmente se viu, de um país que se propõe a ser democrático e à obedecer a Constituição, uma censura tão explícita, direta e específica ao acesso dos cidadãos ao conhecimento jurídico. Tentativa de fazer com que a opinião pública aceite, como única, a interpretação constitucional oficial: Chávez não precisaria estar presente para assumir o novo mandato. Tentativa de evitar o contraditório da interpretação constitucional no julgamento da opinião pública.
Esse ato de força revela mais fraqueza do que força. Revela que o debate sobre interpretação constitucional não é de interesse restrito de profissionais jurídicos, magistrados, políticos ou da elite econômica de um país. Tem imensas consequências para a legitimidade do poder. Revela também a força mobilizatória que a convicção no desrespeito à Constituição pode produzir. Interpretação constitucional é mobilizatória das consciências, na política, nas ruas, nos votos futuros.
O fato é que toda Constituição é autolimitação que o país se impõe, e a seus governos. Os partidários de Chávez teriam também que respeitar essa autolimitação. Do contrário, crescerá a desconfiança do eleitor. Daí porque o próprio presidente diz: “Dentro da Constituição, tudo; fora, nada”. Constituição incapaz de impor limites aos governantes é Constituição menor, ou como se diz, Constituição apenas semântica.
Constituição nenhuma é texto tranquilo. Ao contrário. Quase sempre é intranquilo. Mas quando se chega ao ponto de se proibir o debate livre, o contraditório constitucional, é intranquilo demais. Significa que a relação entre política e Constituição está com febre. Tensões. Organismo contra organismo. Inflamações. Células contra células. O regime político vai mal.
A comparação com o Brasil é inevitável. Durante mais de quatro meses, no mensalão, o Brasil constatou pela televisão, jornal, rádio e mídias sociais nossa Constituição transformada em intranquila arena de interpretações, na qual discutiam ministros entre si, advogados e procuradores, defesa e acusação, blogs, editoriais, associações. Esse debate é o caminho da cura. Indispensável na democracia. A censura, não.
Mesmo em direções opostas, o decreto venezuelano e a TV Justiça no Brasil demonstram que a interpretação nunca se limita aos autos e ao plenário do Supremo. Inclui a opinião pública. Seja para estimular sua presença, como no Brasil, seja para forçar sua ausência, como na Venezuela.
Nesse caso, controlar a mídia é evitar o contraditório, retirar o direito de defesa constitucional de pelo menos parte da opinião pública que não detém o poder da força. Mas detém o poder da influência. A influência que, em seu conjunto, faz o voto. Voto que em sua maioria faz a liberdade. Liberdade que, assegurada, faz a democracia.
E por falar em milionarios... (na verdade, bilionarios)
Ex-presidente do Google vende 42% das ações
Blog Econômico do Estadão, 10 de fevereiro de 2013 | 13h02
Yolanda Fordelone
Decisão de Eric Schmidt, hoje presidente do conselho, foi anunciada no mesmo dia em que papel da empresa bateu recorde de cotação. Foto: Brendan McDermid/ Reuters
Reuters, San Francisco - O presidente do conselho de administração do gigante de buscas Google, Eric Schmidt, anunciou que vai vender 42% de suas ações na companhia. A medida deverá significar a arrecadação de US$ 2,51 bilhões ao aproveitar o “pico” das ações da companhia, que bateram recorde no pregão de sexta-feira.
Schmidt, de 57 anos, venderá 3,2 milhões de ações comuns “classe A” mediante um plano de troca de títulos, afirmou o Google em um comunicado enviado na tarde de sexta-feira à Securities and Exchange Comission (SEC), órgão equivalente à Comissão de Valores Mobiliários brasileira nos Estados Unidos.
Porta-vozes do Google não quiseram fazer comentários sobre as razões que levaram Schmidt a vender suas ações neste momento.A venda, segundo o Google, serviria para Schmidt diversificar seus ativos individuais e ganhar liquidez nas aplicações. A montagem da operação daria a Schmidt o direito de dosar a operação por um período de um ano, evitando reduzir o impacto da transação no mercado financeiro americano.
As ações do Google caíram o equivalente a US$ 4,11, para US$ 781,26, após o fechamento do mercado, na sexta-feira, quando o anúncio foi feito. Durante o pregão normal, as ações haviam subido a US$ 11,32.
No intraday, os papéis da companhia haviam batido o recorde desde seu lançamento, a US$ 85, em agosto de 2004. As ações do gigante de tecnologia atingiram o valor de US$ 786,87, ou 9,26 vezes o seu valor inicial.
Impacto. James Dix, analista da Wedbush Securities, afirma que a venda de ações não deve ser um sinal de preocupação para investidores, nem seria motivo para iniciar uma onda de desconfiança relacionada à companhia. “Estaria mais preocupado se o atual presidente executivo ou se o diretor financeiro estivessem vendendo uma boa parte de suas ações”, diz Dix.
Schmidt, que foi presidente executivo do Google até dois anos atrás, atualmente tem 7,6 milhões de ações de classes A e B. Esses papéis representam cerca de 2,3% das unidades atualmente em circulação do Google e aproximadamente 8,2% do poder de voto da companhia.
Schmidt ainda permanecerá com uma quantidade importante de ações do Google depois da venda, segundo Kerry Rice, analista da Needham & Co. No entanto, isso pode significar que o papel do executivo dentro da companhia poderá mudar.
“Eu assumiria que, à medida que se afastar do Google – tanto em termos de carreira quanto no portfólio financeiro –, Schmidt tem projetos sobre o que fazer com os fundos que arrecadar”, afirma Rice.
O executivo, que ajudou a tornar o Google a ferramenta de buscas número um no mundo, passou o cargo de presidente ao cofundador Larry Page em 2011. Como presidente do conselho, ele se envolveu mais em relações governamentais, em particular com órgãos reguladores nos Estados Unidos e da União Europeia, que vêm questionando a legalidade de certas práticas de negócios da companhia.
Karaoke bolivariano: nao fala, mas presta uma atencao...
Parece cruel fazer piada com doentes, no caso o grande cantor e o maior discursador da história do continente (estava quase ultrapassando a marca de Fidel Castro, em menos tempo), mas essa história de cantar parece se encaixar na personalidade do presidente: ele adorava cantar nos seus programas de televisão, que costumavam durar horas e horas...
Como mostra a matéria seguinte, ele monopolizou os meios de comunicação por mais de dez anos seguidos. Vai fazer falta...
Paulo Roberto de Almeida
Patriota é informado de que Chávez até canta
Eliane Oliveira
O Globo, 10/02/2013
Mas o 'ABC' diz que presidente perdeu a voz e dificilmente reassumirá suas funções
BRASÍLIA - No mesmo dia em que o jornal espanhol "ABC" anunciou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não estaria mais em condições de retornar ao comando de seu país e que ele teria perdido a voz completamente, como consequência do tratamento de combate ao câncer, o governo venezuelano passou ontem outra versão ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Durante uma reunião com o chanceler da Venezuela, Elias Jaua, Patriota foi informado de que, na última quinta-feira, Chávez participou de um sarau em Havana, onde está internado em um hospital, e até cantou.
- A mensagem que nos foi passada é que há um esforço de restabelecimento do presidente Hugo Chávez, o que muito nos alegra - disse ao GLOBO o embaixador Tovar Nunes, que acompanhou o ministro brasileiro em sua visita a Caracas.
Já o jornal "ABC" publicou em sua edição de ontem que a família de Chávez teria sido avisada pelos médicos de que o presidente venezuelano não se recuperará.
O jornal cita fontes em contato com a equipe médica que atende Chávez em Havana, que teriam afirmado que o presidente sofreu danos permanentes em suas cordas vocais e que dificilmente vai recuperar a voz. Sem poder falar e sair da cama, em uma condição que persiste há dois meses, o presidente estaria "muito deprimido".
Segundo o diário espanhol, o governo venezuelano fará um pronunciamento nos próximos dias para anunciar a incapacidade de Chávez reassumir suas funções. O Tribunal Supremo, que em janeiro autorizou o adiamento da posse do presidente e sua ausência da Venezuela durante o tratamento em Cuba, já teria sido informado sobre a situação.
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Dois meses sem a onipresença midiática de Hugo Chávez
Ariel Palácios
O Estado de S. Paulo, 10/02/2013
Neste sábado dia 9 completaram-se dois meses desde o desembarque do presidente Hugo Chávez em Havana, Cuba, para preparar-se para sua 4ª. cirurgia para extirpar o câncer que o assolava. Nesta segunda-feira dia 11 completam-se dois meses de sua operação. De lá para cá nunca mais os venezuelanos e o resto do planeta puderam ver uma imagem nova de Chávez, sequer ouvir sua voz em um áudio recente. Neste período, o vice-presidente Nicolás Maduro somente mostrou documentos que estavam, segundo sustentou, assinados por seu chefe.
Na semana passada, para demonstrar que o documento havia sido realmente assinado por Chávez, mostrou a pasta de cartolina onde estava o papel, com o escudo presidencial. “Vejam só, é a pasta presidencial”, ilustrou Maduro, indicando que exibia uma prova irrefutável da permanência de Chávez com vida. “E tem o escudo presidencial”, ressaltou.
O cenário dos últimos dois meses foi radicalmente diferente do panorama anterior, já que durante os anteriores 13 anos a presença midiática de Chávez foi praticamente onipresente na Venezuela.
“Mejor que decir es hacer” (Melhor do que dizer é fazer). A frase é um dos top ten dos epigramas do general e presidente argentino Juan Domingo Perón. No entanto, o laconismo que Perón pregava não foi seguido por seus admiradores (se bem que o próprio fundador do peronismo tampouco seguia o que dizia). Um deles, declarado peronista em versão caribenha é o presidente venezuelano Hugo Chávez, fez da atividade midiática permanente sua marca de governo.
A verborragia do líder bolivariano foi pesquisada detalhadamente por seu compatriota, o sociólogo Andrés Cañizales. No livro “A presidência midiática” o acadêmico cita como exemplo o discurso de 10 horas que Chávez fez no dia 13 de janeiro de 2012 perante o Parlamento venezuelano. Nesse monólogo – o mais longo de um presidente na História desse país perante os deputados – Chávez pronunciou a palavra “eu” um total de 586 vezes.
Do total de vezes em que Chávez fez referências sobre políticas pública, falou sobre si próprio em terceira pessoa 75% das vezes
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) fez uma medição dos discursos que Chávez proferiu nos primeiros dez anos de seu governo, entre 1999 e 2009. Ao longo dessa década os canais de TV e estações de rádio venezuelanos transmitiram 1.992 redes nacionais de TV e rádio protagonizadas por Chávez.
O total equivale a 1.252 horas e 41 minutos.
Se por acaso Chávez pudesse ter concentrado todos seus discursos em rede nacional, para falar de forma corrida, essas horas equivaleriam a 52 dias seguidos. Isto é: seria como ter alguém em casa sem parar de falar durante quase dois meses de forma ininterrrupta.
Os líderes da oposição venezuelana não poupavam críticas sobre a presença ostensiva de Chávez e acusavam o presidente de tentar uma virtual onipresença midiática. Enquanto Chávez estava presente dicursando de forma constante não faltaram irônicas alusões ao “Grande Irmão”, o personagem do livro “1984”, do britânico George Orwell, que estava de forma quase permanente nas telas dos habitantes de Oceania, um país ditatorial.
Segundo Cañizales, Chávez aplicou durante seu governo (e possivelmente continuaria aplicando, em um virtual e hipotético retorno) o “decisionismo midiático”, já que muitas decisões governamentais – estatizações, acordos internacionais, entre outros – eram tomadas na hora, ao vivo para toda a nação, para surpresa dos próprios ministros, ocasionalmente.
POEMAS & HIGIENE. E MARTE - O presidente Chávez dissertava sobre os mais variados assuntos em seus speeches.
O líder bolivariano dedicava tempo para intercalar piadas durante sua fala e conversa com o público (quase um monólogo, pois dificilmente dá para ouvir as breves respostas das pessoas na audiência).
Chávez também cantava e declamava poesias durante suas falas em rede nacional de TV. Além disso, dava ordens sobre o modus operandi no qual seus compatriotas devem proceder com a higiene em 2009 quando a Venezuela estava em crise energética: “há pessoas que cantam no banheiro meia hora. Ora, mas que comunismo é esse? Eu contei o tempo: três minutos é mais do que suficiente, não fiquei fedendo. Um minuto para se molhar, outro para ensaboar. E um terceuro para enxaguar. O resto do tempo é um desperdício”.
Polifacético, o tenente-coronel das brigadas para-quedistas que chegou à presidência venezuelana, também fazia peculiares alusões político-astronômicas, tal como na ocasião em que avaliou que existiu vida no planeta Marte, mas que esta teria acabado pela ação do capitalismo marciano.
Mas apesar da verborragia, existem assuntos que Chávez esquiva. No discurso em janeiro do ano passado no Parlamento – que conteve 60 mil palavras – ele citou a expressão “falta de segurança” somente duas vezes, enquanto que “desemprego” foi dita apenas uma vez.
A ausência dos discursos de Chávez nos últimos dois meses está sendo parcialmente coberta pela presença constante do vice-presidente Nicolas Maduro na mídia, bem como o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, além do genro de Chávez, o ministro do Poder Popular para a Ciência, Jorge Arreaza, e o ministro do Poder Popular da Informação, Ernesto Villegas.
Nenhum deles conta com o carisma e a verbe de Chávez, embora Maduro, nos últimos discursos, tenha se esforçado em copiar seu líder convalecente, emitindo frases com tom exaltado e declarações nacionalistas.
O mise-em-scène não eximiu o vice de recorrer a alguns momentos de efeito, como o de, no 10 de janeiro, dia da virtual posse de Chávez sem Chávez, após anunciar a permanência das medidas revolucionárias, Maduro recorreu a outras medidas, impactantes, de 90-63-90 centímetros de busto, cintura e quadril da curvilínea miss Mundo de 2011, a venezuelana Ivian Lunasol Sarcos, estudante de Relações Internacionais e ativa militante chavista, que subiu no palanque para declarar seu respaldo ao governo em meio a aplausos e “fiu-fius”.
Como mostra a matéria seguinte, ele monopolizou os meios de comunicação por mais de dez anos seguidos. Vai fazer falta...
Paulo Roberto de Almeida
Patriota é informado de que Chávez até canta
Eliane Oliveira
O Globo, 10/02/2013
Mas o 'ABC' diz que presidente perdeu a voz e dificilmente reassumirá suas funções
BRASÍLIA - No mesmo dia em que o jornal espanhol "ABC" anunciou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não estaria mais em condições de retornar ao comando de seu país e que ele teria perdido a voz completamente, como consequência do tratamento de combate ao câncer, o governo venezuelano passou ontem outra versão ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Durante uma reunião com o chanceler da Venezuela, Elias Jaua, Patriota foi informado de que, na última quinta-feira, Chávez participou de um sarau em Havana, onde está internado em um hospital, e até cantou.
- A mensagem que nos foi passada é que há um esforço de restabelecimento do presidente Hugo Chávez, o que muito nos alegra - disse ao GLOBO o embaixador Tovar Nunes, que acompanhou o ministro brasileiro em sua visita a Caracas.
Já o jornal "ABC" publicou em sua edição de ontem que a família de Chávez teria sido avisada pelos médicos de que o presidente venezuelano não se recuperará.
O jornal cita fontes em contato com a equipe médica que atende Chávez em Havana, que teriam afirmado que o presidente sofreu danos permanentes em suas cordas vocais e que dificilmente vai recuperar a voz. Sem poder falar e sair da cama, em uma condição que persiste há dois meses, o presidente estaria "muito deprimido".
Segundo o diário espanhol, o governo venezuelano fará um pronunciamento nos próximos dias para anunciar a incapacidade de Chávez reassumir suas funções. O Tribunal Supremo, que em janeiro autorizou o adiamento da posse do presidente e sua ausência da Venezuela durante o tratamento em Cuba, já teria sido informado sobre a situação.
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Dois meses sem a onipresença midiática de Hugo Chávez
Ariel Palácios
O Estado de S. Paulo, 10/02/2013
Neste sábado dia 9 completaram-se dois meses desde o desembarque do presidente Hugo Chávez em Havana, Cuba, para preparar-se para sua 4ª. cirurgia para extirpar o câncer que o assolava. Nesta segunda-feira dia 11 completam-se dois meses de sua operação. De lá para cá nunca mais os venezuelanos e o resto do planeta puderam ver uma imagem nova de Chávez, sequer ouvir sua voz em um áudio recente. Neste período, o vice-presidente Nicolás Maduro somente mostrou documentos que estavam, segundo sustentou, assinados por seu chefe.
Na semana passada, para demonstrar que o documento havia sido realmente assinado por Chávez, mostrou a pasta de cartolina onde estava o papel, com o escudo presidencial. “Vejam só, é a pasta presidencial”, ilustrou Maduro, indicando que exibia uma prova irrefutável da permanência de Chávez com vida. “E tem o escudo presidencial”, ressaltou.
O cenário dos últimos dois meses foi radicalmente diferente do panorama anterior, já que durante os anteriores 13 anos a presença midiática de Chávez foi praticamente onipresente na Venezuela.
“Mejor que decir es hacer” (Melhor do que dizer é fazer). A frase é um dos top ten dos epigramas do general e presidente argentino Juan Domingo Perón. No entanto, o laconismo que Perón pregava não foi seguido por seus admiradores (se bem que o próprio fundador do peronismo tampouco seguia o que dizia). Um deles, declarado peronista em versão caribenha é o presidente venezuelano Hugo Chávez, fez da atividade midiática permanente sua marca de governo.
A verborragia do líder bolivariano foi pesquisada detalhadamente por seu compatriota, o sociólogo Andrés Cañizales. No livro “A presidência midiática” o acadêmico cita como exemplo o discurso de 10 horas que Chávez fez no dia 13 de janeiro de 2012 perante o Parlamento venezuelano. Nesse monólogo – o mais longo de um presidente na História desse país perante os deputados – Chávez pronunciou a palavra “eu” um total de 586 vezes.
Do total de vezes em que Chávez fez referências sobre políticas pública, falou sobre si próprio em terceira pessoa 75% das vezes
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) fez uma medição dos discursos que Chávez proferiu nos primeiros dez anos de seu governo, entre 1999 e 2009. Ao longo dessa década os canais de TV e estações de rádio venezuelanos transmitiram 1.992 redes nacionais de TV e rádio protagonizadas por Chávez.
O total equivale a 1.252 horas e 41 minutos.
Se por acaso Chávez pudesse ter concentrado todos seus discursos em rede nacional, para falar de forma corrida, essas horas equivaleriam a 52 dias seguidos. Isto é: seria como ter alguém em casa sem parar de falar durante quase dois meses de forma ininterrrupta.
Os líderes da oposição venezuelana não poupavam críticas sobre a presença ostensiva de Chávez e acusavam o presidente de tentar uma virtual onipresença midiática. Enquanto Chávez estava presente dicursando de forma constante não faltaram irônicas alusões ao “Grande Irmão”, o personagem do livro “1984”, do britânico George Orwell, que estava de forma quase permanente nas telas dos habitantes de Oceania, um país ditatorial.
Segundo Cañizales, Chávez aplicou durante seu governo (e possivelmente continuaria aplicando, em um virtual e hipotético retorno) o “decisionismo midiático”, já que muitas decisões governamentais – estatizações, acordos internacionais, entre outros – eram tomadas na hora, ao vivo para toda a nação, para surpresa dos próprios ministros, ocasionalmente.
POEMAS & HIGIENE. E MARTE - O presidente Chávez dissertava sobre os mais variados assuntos em seus speeches.
O líder bolivariano dedicava tempo para intercalar piadas durante sua fala e conversa com o público (quase um monólogo, pois dificilmente dá para ouvir as breves respostas das pessoas na audiência).
Chávez também cantava e declamava poesias durante suas falas em rede nacional de TV. Além disso, dava ordens sobre o modus operandi no qual seus compatriotas devem proceder com a higiene em 2009 quando a Venezuela estava em crise energética: “há pessoas que cantam no banheiro meia hora. Ora, mas que comunismo é esse? Eu contei o tempo: três minutos é mais do que suficiente, não fiquei fedendo. Um minuto para se molhar, outro para ensaboar. E um terceuro para enxaguar. O resto do tempo é um desperdício”.
Polifacético, o tenente-coronel das brigadas para-quedistas que chegou à presidência venezuelana, também fazia peculiares alusões político-astronômicas, tal como na ocasião em que avaliou que existiu vida no planeta Marte, mas que esta teria acabado pela ação do capitalismo marciano.
Mas apesar da verborragia, existem assuntos que Chávez esquiva. No discurso em janeiro do ano passado no Parlamento – que conteve 60 mil palavras – ele citou a expressão “falta de segurança” somente duas vezes, enquanto que “desemprego” foi dita apenas uma vez.
A ausência dos discursos de Chávez nos últimos dois meses está sendo parcialmente coberta pela presença constante do vice-presidente Nicolas Maduro na mídia, bem como o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, além do genro de Chávez, o ministro do Poder Popular para a Ciência, Jorge Arreaza, e o ministro do Poder Popular da Informação, Ernesto Villegas.
Nenhum deles conta com o carisma e a verbe de Chávez, embora Maduro, nos últimos discursos, tenha se esforçado em copiar seu líder convalecente, emitindo frases com tom exaltado e declarações nacionalistas.
O mise-em-scène não eximiu o vice de recorrer a alguns momentos de efeito, como o de, no 10 de janeiro, dia da virtual posse de Chávez sem Chávez, após anunciar a permanência das medidas revolucionárias, Maduro recorreu a outras medidas, impactantes, de 90-63-90 centímetros de busto, cintura e quadril da curvilínea miss Mundo de 2011, a venezuelana Ivian Lunasol Sarcos, estudante de Relações Internacionais e ativa militante chavista, que subiu no palanque para declarar seu respaldo ao governo em meio a aplausos e “fiu-fius”.
Quem quer ser um milionario? E quanto tempo leva para ser um? (The Economist)
Depende, claro. No Brasil, por exemplo (não coberto nessa tabela da Economist), se você for um trabalhador do setor privado, pode demorar três séculos, como para os mexicanos (cuja renda per capita é muito semelhante à nossa, e talvez tão mal distribuída quanto).
Mas se você for um político, pode ser mais rápido, talvez apenas um mandato, para os mais espertos (é preciso certa habilidade para o uso de laranjas e outras frutas típicas do nosso país jabuticabal).
Para os capitalistas privados, também depende: quem tem acesso à corte, aos empréstimos facilitados do rei, às concorrências públicas e outras mamatas oficiais, também pode ser relativamente rápido.
Em todo caso, eu apreciaria saber quanto leva no Brasil, não sendo um Eike Batista, ou qualquer tipo de capitalista promíscuo.
Paulo Roberto de Almeida
Mas se você for um político, pode ser mais rápido, talvez apenas um mandato, para os mais espertos (é preciso certa habilidade para o uso de laranjas e outras frutas típicas do nosso país jabuticabal).
Para os capitalistas privados, também depende: quem tem acesso à corte, aos empréstimos facilitados do rei, às concorrências públicas e outras mamatas oficiais, também pode ser relativamente rápido.
Em todo caso, eu apreciaria saber quanto leva no Brasil, não sendo um Eike Batista, ou qualquer tipo de capitalista promíscuo.
Paulo Roberto de Almeida
Daily chart
How long to be a millionaire
How long does it take to earn $1m in different countries?
INFLATION may have ruined "How to marry a millionaire" as a good film title, but there is still something magical about $1m. How long would it take for an average person to earn that special sum? To find out The Economist looked at how much the main breadwinner in an average household makes each year (before tax). On this measure, America creates the swiftest millionaires, and also the most (around 5m households, or 4% of the total). South of the border, Mexicans can expect to toil for three centuries to earn the same. For those struggling to imagine $1m, consider this: stacked up and denominated in $100 notes, it would reach over a metre high and weigh ten kilograms (22 lb).
INFLATION may have ruined "How to marry a millionaire" as a good film title, but there is still something magical about $1m. How long would it take for an average person to earn that special sum? To find out The Economist looked at how much the main breadwinner in an average household makes each year (before tax). On this measure, America creates the swiftest millionaires, and also the most (around 5m households, or 4% of the total). South of the border, Mexicans can expect to toil for three centuries to earn the same. For those struggling to imagine $1m, consider this: stacked up and denominated in $100 notes, it would reach over a metre high and weigh ten kilograms (22 lb).
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