domingo, 1 de junho de 2014

Todo o poder aos companheiros? Nao vai dar certo - Janer Cristaldo

Faz tempo que eu não transcrevo uma das postagens sempre espirituosas de Janer Cristaldo.
Pois não sera sem tempo, e o motivo é o mais importante possível...
Paulo Roberto de Almeida 

sábado, maio 31, 2014

PNPS: TODO PODER AOS SOVIETES 

Blog do Janer Cristaldo


Soviete – dizem os dicionários – é a palavra russa que significa conselho, mas depois passou a ser mais especificamente usada em linguagem revolucionária para significar os comitês de trabalhadores na Revolução Russa de 1905 e depois na de Fevereiro de 1917. Foi quando conseguiram o controle do Soviete de Petersburgo que usaram para derrubar o Governo Provisório chefiado por Kerensky, que os bolchevistas conseguiram tomar o poder em Outubro de 1917 e quando o Soviete tornou-se a justificativa para a ditadura do proletariado. 


O resultado é que o termo foi usado para todos os órgãos primários do governo em níveis nacionais, estaduais e municipais, com um Soviete Supremo composto de delegados de todas as Repúblicas Soviéticas da União. Os sovietes voltaram a reaparecer nas malogradas Revolução Espanhola (1936-1939), na Revolução dos Cravos (Portugal, 1974) e na Revolução Polonesa de 1980. A estrutura dos sovietes consistia num sistema piramidal de conselhos. A base era formada pelos soviets de fábricas, nas cidades, ou de aldeias, no campo. Níveis sucessivos estabeleciam-se a partir de então. Nas cidades soviets de distrito e de província. O conjunto era coroado pelo Congresso de soviets de operários, soldados e camponeses, órgão supremo e soberano, que elegia um Comitê Executivo que, por sua vez, designava um Conselho dos Comissários do Povo (CCP), o governo efetivo do País.



Segundo Anton Pannekoek, teórico marxista holandês, os conselhos operários da Revolução de 1905, essencialmente, eram simples comitês de greve, tais quais aqueles que aparecem em greves selvagens. Como as greves na Rússia começaram em grandes fábricas, e rapidamente se espalharam pelas cidades menores e distritos, os trabalhadores precisaram manter contato permanente. Nas oficinas, os trabalhadores se juntavam e discutiam regularmente no final da jornada de trabalho, ou continuamente, o dia inteiro, em momentos de tensão. Eles enviavam seus delegados a outras fábricas e aos comitês centrais, onde a informação era trocada, dificuldades discutidas, decisões tomadas, e novas tarefas consideradas.



Eles tiveram que regular a vida pública, tiveram que cuidar da ordem e da segurança públicas e providenciar os serviços públicos essenciais. Eles tiveram que desempenhar funções de governo; o que eles decidiram era executado pelos trabalhadores, enquanto o governo e a polícia ficavam de lado, conscientes de sua impotência contra as massas rebeldes. Então os delegados de outros grupos, de intelectuais, camponeses, soldados, que vieram para se juntar aos sovietes centrais, tomaram parte nas discussões e decisões. Mas todo esse poder foi semelhante a um clarão de raio, como um meteoro passando. Quando finalmente o governo czarista reuniu sua força militar e golpeou o movimento, os sovietes desapareceram.



Ou seja, assumiram o governo do país sem serem eleitos. As pretensões ditatoriais do PT nunca foram segredo para ninguém. Filho de uma partouse ideológica entre comunistas, trostskistas, Igreja Católica, classe média deslumbrada e sindicatos, não tem paternidade precisa. Mas está em seu DNA o desejo de perpetuar-se eternamente no poder, algo assim como um Reich de mil anos, se possível for.



Dona Dilma, ao que parece, já desconfia que não vai levar estas eleições. Sob pretexto de querer modificar o sistema brasileiro de governo, está apelando à fórmula bolchevique encontrada há mais de século. Baixou decreto criando a Política Nacional de Participação Social (PNPS), com o objetivo de "consolidar a participação social como método de governo" e aprimorar "a relação do governo federal com a sociedade". 



O decreto determina que sejam criados conselhos, a realização de conferências nacionais, audiências, entre outras sete formas de diálogo com a sociedade, para fazer consultas públicas antes de tomar decisões sobre temas de interesse da "sociedade civil".



Os dez formatos de atuação da Política Nacional de Participação Social serão, além dos conselhos, conferências e audiências, por iniciativas próprias da sociedade civil, comissões de políticas, ouvidorias, mesas de diálogos, fóruns, ambientes virtuais de participação social e consultas públicas. 



Ou seja, a presidente deu um solene chute na bunda do Congresso, a quem cabia a função de legislar sem consultar conselho algum. Que deputados e senadores não legislam com muita propriedade, disto sabemos. Mas bem ou mal eram eleitos pelo povo. Os novos legisladores – pois obviamente não resistirão à tentação de legislar – serão obviamente eleitos pelo PT.



O decreto, obviamente, não é idéia da presidente. Não teria audácia nem bestunto para tanto. Terá sido achado de seu entourage petista. A ideia é desde há muito advogada por Tarso Genro. Que, em setembro de 2012, escreva na Folha de São Paulo:



“Na Europa, não somente foi feita uma moratória com a utopia socialista, cujo impulso foi responsável pelas grandes conquistas de proteção social e de coesão nacional no século passado, mas também foi congelada a utopia democrática. Os governos eleitos, sejam socialdemocratas ou conservadores, na primeira fala que fazem, quando chegam ao poder, é que “não há alternativa”.



Ao falar de impulso responsável pelas grandes conquistas de proteção social e de coesão nacional, Genro se referia à obra dos sovietes, seu antigo sonho. Dona Dilma parece ter aderido com gosto às esperanças do velho stalinista gaúcho. De uma penada, quer mudar por decreto o sistema democrático do país. O princípio um homem-um voto seria substituído por um apparatchik do PT-milhares de votos.



Teremos agora ongueiros, sem-terra, sem-teto, bugres e quem sabe até membros do PCC dando seu pitaco na hora de dar uma estrutura jurídica ao país. Só a CUT já dispõe de 400 comitês, espalhados pelas 27 unidades do país. O Congresso, pelo que leio, até agora nem notou ter sido diminuída sua função de legislar. 



O sonho não acabou. Todo poder aos sovietes!




Companheiros tentam fazer um golpe branco - Editorial O Globo

Os companheiros querem economizar uma revolução comunista. Que vergonha!
Deveriam passar à ação, em lugar de tentar implantar uma ditadura de mansinho, quase clandestinamente.
Já não se fazem mais revolucionários como antigamente.
Os de hoje são covardes, poltrões, têm vergonha de assumir suas verdadeiras intenções.
Em todo caso, cabe denunciá-los a cada vez...
Paulo Roberto de Almeida

Decreto agride democracia representativa
Editorial O Globo, 1/06/2014

É no Congresso que se criam mecanismos de participação da sociedade em decisões de governo. Criar esses instrumentos na base da canetada é golpe de gabinete

A democracia representativa, com a escolha dos representantes da sociedade pelo voto direto, bem como a independência entre os Poderes, é alvo prioritário do autoritarismo político. A desmontagem do regime representativo costuma começar pela criação de mecanismos de “democracia direta”, para reduzir o peso do Congresso na condução do país.

É por este ângulo que deve ser analisado o surpreendente decreto nº 8.243, baixado na sexta-feira da semana passada pela presidente Dilma, para criar a “Política Nacional de Participação Social — PNPS". O objetivo é subtrair espaço do Legislativo por meio de comissões, conselhos, ouvidorias, “mesas de diálogo”, conferências nacionais, várias novas instâncias a serem criadas junto à administração direta e até estatais, sempre em nome da participação social. Sintomático que a PNPS esteja subordinada ao ministro secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, representante dos ditos “movimentos sociais” no Planalto. Há várias surpresas no ousado ato. A primeira, rever o regime de democracia representativa por decreto.

Mecanismos de participação do cidadão em decisões de governo são um tema em debate no mundo, para se aperfeiçoar a democracia representativa. Plebiscitos e referendos têm sido usados com frequência em democracias maduras como a americana. Os próprios avanços tecnológicos no mundo digital são ferramenta importante para aproximar a sociedade do Estado. Mas não se avança nesta direção por decreto, algo como um golpe de Estado na base da canetada.

Outra surpresa, até pela ousadia, é que o decreto formaliza em lei a estratégia antiga de aparelhamento da máquina pública por aliados político-ideológicos do PT. Pois não é difícil imaginar os critérios pelos quais serão escolhidos os representantes da “sociedade civil” para participar de comissões, fóruns, mesas etc. Um dos resultados desta infiltração de partidos e grupos no Estado tem sido, cabe lembrar, casos de corrupção e desmandos, como os denunciados na Petrobras.

O sentido autoritário do decreto denuncia sua origem. Ele sai dos mesmos laboratórios petistas que engendraram a "assembleia constituinte exclusiva" a fim de fazer a reforma política — atalho para se mudar a Constituição ao bel-prazer de minorias militantes —, surge das mesmas cabeças que tentaram controlar o conteúdo da produção audiovisual do país via Ancinav, bem como patrulhar os jornalistas profissionais por meio de um conselho paraestatal. Tem a mesma origem dos idealizadores da “regulação da mídia”.

Além de tudo, a PNPS tornará ainda mais impenetrável a burocracia pública, já uma enorme barreira à retomada de investimentos. Ou seja, também na economia, o decreto vai na contramão de tudo o que o país necessita.

O assunto precisa ser discutido com urgência no Congresso e levado ao Supremo pelo Ministério Público e/ou instituições da sociedade.


O poeta come amendoim - Mario de Andrade (1924)


Alguém me pergunta o significado deste poema, colocado por mim faz algum tempo já (para ser mais exato em novembro de 2007).
Não tenho intenção de responder, pois acho que ninguém deve explicar o significado de um poema, basta apreciá-lo.
Por isso coloco novamente aqui:

804) Pausa para a poesia: Mario de Andrade
Sempre tive paixão por duas estrofes, tão somente, deste poema de Mario de Andrade:

"Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade..."

Da poesia: "O poeta come amendoim" (1924)

Noites pesadas de cheiros e calores amontoados...
Foi o sol que por todo o sítio do Brasil
Andou marcando de moreno os brasileiros.

Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer...

A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos...
Silêncio! O imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram à sombra das mangueiras ovais.
Só o murmurejo dos cre'm-deus-padre irmanava os homens de meu país...
Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos,
Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu...

Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta República temporã.
A gente inda não sabia se governar...
Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma fatalidade...
Será o que Nosso Senhor quiser!...

Estou com desejos de desastres...
Com desejo do Amazonas e dos ventos muriçocas
Se encostando na canjerana dos batentes...
Tenho desejos de violas e solidões sem sentido...
Tenho desejos de gemer e de morrer...

Brasil...
Mastigando na gostosura quente do amendoim...
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remelexo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons...
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois semitoam sem malícia as rezas bem nascidas...

Brasil amado não porque sejam minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo no meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,

Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...