quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Politica Externa: a Bolivia, ah, a Bolivia, e seu embaixador falador...

Maquiavel

Bolívia desistiu de processar VEJA, diz embaixador

Jerjes Justiniano, embaixador da Bolívia no Brasil, e Evo Morales, presidente da Bolívia
Jerjes Justiniano, embaixador da Bolívia no Brasil, e Evo Morales, presidente da Bolívia (Freddy Zarco/VEJA)
Em 2012, Jerjes Justiniano assumiu o posto de embaixador da Bolívia no Brasil trazendo um estranho item na pauta de exportação de seu governo: a intimidação dos meios de comunicação. VEJA havia acabado de revelar os vínculos do narcotráfico com integrantes do governo boliviano e com pessoas próximas ao presidente Evo Morales ("A república da cocaína", de 11 julho de 2012). Apesar de não ter formação de diplomata, Justiniano já desembarcou com pleno domínio da linguagem estudada e cheia de reticências que caracteriza as relações exteriores: disse que pretendia "meter a mão" em VEJA. Para isso, faria gestões junto ao Itamaraty para obrigá-la a se retratar — acreditando, ao que parece, que liberdade de imprensa não é um direito democrático, mas um favor concedido pelo poder. Ameaçava também processar a revista. Não se sabe se Justiniano continua importunando o Itamaraty. Nesta terça-feira, contudo, o embaixador anunciou ter renunciado ao propósito de levar VEJA à Justiça. A decisão, disse ele, foi respaldada pelo presidente Morales. Justiniano deu duas justificativas. Primeiro, os preços dos serviços legais no Brasil o deixaram estarrecido. Um escritório de advocacia teria querido cobrar 500 000 dólares. O mais barateiro, 200 000. Também lhe disseram que seria impossível ganhar a ação.

Politica Externa: mais do mesmo e muito menos do mais - Veja

Em 12 anos anos de poder, o PT se alinhou à escória internacional. Com Dilma, a situação se tornou ainda pior, já que ela não demonstra nenhum interesse - apenas acumula equívocos. Não há sinais de que dispensará o pseudo-diplomata Marco Aurélio Garcia, amigo das ditaduras latino-americanas:

Veja.com, 28/10/2014

Ao longo dos quase doze anos do PT no poder, a política externa brasileira priorizou relações com países que não fazem parte do eixo Estados Unidos – União Europeia. Essa diretriz, aliada à politização do discurso diplomático, levou as relações externas do país a acumular equívocos. A lista de episódios em que a diplomacia brasileira se apequenou é extensa. Inclui a condescendência e a passividade nas relações com governos autoritários; o empréstimo de dinheiro público para financiar obras em ditaduras; e a concordância em fazer do Mercosul mais um palanque do que uma união aduaneira.

Mais recentemente, também foram destaques negativos o silêncio sobre as atrocidades cometidas por Vladimir Putin na Ucrânia, a condenação de Israel pelo "uso desproporcional da força" na guerra com o Hamas, e adesastrada declaração da presidente na sede das Nações Unidas, em Nova York, quando disse “lamentar” os bombardeios americanos contra os terroristas do Estado Islâmico. Depois, Dilma disse que sua fala foi distorcida e que ela não defende o diálogo com terroristas, mas sim critica a ineficácia dos ataques aéreos. Seja por inépcia ou pela sintaxe canhestra do "dilmês", o estrago já estava feito.

Com menos apetite para a pauta externa do que seu antecessor, Dilma relegou um papel menor ao Itamaraty. E não há indícios de que esse cenário vá sofrer alterações no novo mandato. “Eu acho muito difícil ter uma mudança na política externa, pois a Dilma não tem nenhum interesse pela área. Não se trata apenas da diplomacia com letra maiúscula, mas ela nem sequer recebe embaixadores para que lhe entreguem suas credenciais diplomáticas. É uma atitude de absoluto descaso que ela dá a toda área diplomática”, lamentou Rubens Ricupero, ex-embaixador em Washington (1991-1993) e ex-ministro da Fazenda durante o período de implantação do Plano Real.

A entrega das credencias ao presidente em exercício é o procedimento diplomático habitual para tornar os embaixadores oficialmente representantes de seus respectivos países no Brasil. Pelo menos 28 esperam há meses serem recebidos pela presidente. “Eu nunca vi isso em nenhum país do mundo”, ressalta Ricupero.

O desagrado atingiu também o público interno, levando um grupo de diplomatas a romper até mesmo com sua tradição de absoluta disciplina e discrição e entregar uma carta de reivindicações – tendo como principal reclamação o represamento de promoções – ao chanceler Luiz Alberto Figueiredo. 

Relação com os EUA – No campo da diplomacia com letra maiúscula, uma viagem crucial do segundo mandato terá como destino a capital americana, Washington. A visita deveria ter ocorrido em outubro de 2013, mas foi cancelada depois da revelação de que o governo americano havia espionado o brasileiro. A questão da espionagem foi o ponto visível de um distanciamento entre Brasil e Estados Unidos, alimentado também pelo antiamericanismo que passou a dominar as relações exteriores desde o governo Lula. As relações estremecidas entre uma potência e um país emergente são muito mais prejudiciais para o lado mais fraco da parceria. Assim, o Brasil precisa retomar o diálogo para fazer avançar parcerias diplomáticas (que prevê o fim dos vistos) e comerciais (Brasília e Washington têm disputas em andamento na área agrícola), entre outras. 

O Wall Street Journal, de Nova York, fez uma previsão desanimadora para o segundo período em reportagem publicada sobre a vitória de Dilma: “Para os Estados Unidos, a reeleição da senhora Rousseff vai provavelmente prolongar um período de relações estagnadas com a maior economia da América Latina, um jogador proeminente em uma região onde líderes de esquerda com visões ambivalentes dos EUA venceram eleições nos anos recentes”.

No entanto, a visita do vice-presidente Joe Biden ao Brasil durante a Copa do Mundo e o acordo do contencioso sobre o algodão, firmado em outubro, são vistos por Ricupero como sinais positivos. “São fatos que indicam que o cenário está montado para retomar a visita aos EUA. É preciso voltar a tratar de temas comerciais. O acordo do algodão foi um indício sugestivo de boa vontade dos dois lados”.

Nesta terça, o presidente Barack Obama telefonou para Dilma para parabenizá-la pela reeleição. Na conversa, ele enfatizou o valor estratégico da parceria bilateral e “reforçou seu comprometimento em aprofundar a cooperação em áreas como comércio, energia, e outras questões bilaterais prioritárias”. Segundo a Casa Branca, Dilma afirmou que o “fortalecimento dos laços com os Estados Unidos são uma prioridade para o Brasil”. Os dois mandatários devem se encontrar em novembro, na reunião do G-20, na Austrália.

Outro ponto importante das relações exteriores é a agenda dos acordos comerciais, que andam em marcha lenta. Hoje, o país só tem três acordos plenos, com Egito, Israel e Autoridade Palestina, e está à mercê de intrincadas negociações multilaterais envolvendo órgãos como o Mercosul e a Organização Mundial do Comércio (OMC). A título de comparação, o Chile, com uma diplomacia muito mais ágil, não faz parte do Mercosul e tem um acordo de livre-comércio com a União Europeia. Em vigor desde 2003, o pacto possibilitou o fim de uma série de processos burocráticos para os exportadores, facilitou os investimentos estrangeiros e liberou o fluxo financeiro entre o país e o mercado europeu, entre outros benefícios. As discussões do Mercosul com a União Europeia estão travadas desde 2001.

É justamente na área comercial que o governo Dilma pode tentar a começar a trilhar um caminho mais pragmático para se redimir na condução da política externa. “Tem uma interessante aproximação do Mercosul com a Aliança do Pacífico, uma iniciativa chilena que foi muito bem recebida por todos os envolvidos. Aí temos campo para alguma coisa concreta”, apontou Ricupero. O Mercosul já tem acordos de interação comercial com o Chile, Bolívia e Peru, mas está atrasado em desburocratizar e desonerar o comércio com Colômbia e México.

Bolívia – Para além das questões comerciais, um importante assunto envolvendo o Ministério das Relações Exteriores ainda está por resolver: o caso do senador boliviano Roger Pinto Molina. Opositor perseguido pelo governo Evo Morales, ele estava refugiado na embaixada brasileira em La Paz desde maio de 2012. Em agosto do ano passado, fugiu de carro para o Brasil com a ajuda de dois diplomatas brasileiros. O episódio ainda não foi totalmente esclarecido e, segundo o ex-embaixador, ainda não está digerido no Itamaraty(Veja.com).



Política

Oito meses depois de comandar fuga de Molina, diplomata amarga o ostracismo

Eduardo Saboia protagonizou um dos mais marcantes episódios da diplomacia brasileira. E até agora o caso não teve desfecho

Marcela Mattos, de Brasília
O diplomata Eduardo Saboia foi afastado de suas funções por tempo indeterminado por ter conduzido a operação que trouxe ao Brasil o senador boliviano Roger Pinto Molina
O diplomata Eduardo Saboia foi afastado de suas funções por tempo indeterminado por ter conduzido a operação que trouxe ao Brasil o senador boliviano Roger Pinto Molina (Alan Marques/Folhapress/VEJA)
Protagonista de uma história com roteiro cinematográfico, com direito a fuga e ameaças, o diplomata Eduardo Saboia vive em um limbo desde que trouxe ao Brasil o senador bolivianoRoger Pinto Molina. O ex-parlamentar de oposição era perseguido pelo governo de Evo Morales e ficou asilado, com o aval do governo brasileiro, por 455 dias na Embaixada do Brasil na Bolívia. Servidor de carreira, Saboia é ministro-conselheiro do Ministério das Relações Exteriores. Após a epopeia com a fuga de Molina para o Brasil, ele se tornou alvo de processo disciplinar que se arrasta há oito meses na comissão de sindicância do Itamaraty – e não tem prazo para ser concluído. Na última quarta-feira, o colegiado voltou a empurrar a decisão se ele deve ou não ser punido pelo episódio: prorrogou os trabalhos por mais 30 dias, como vem ocorrendo sucessivamente desde outubro. Enquanto aguarda uma deliberação sobre o caso, Saboia foi deixado na geladeira e lotado em uma função administrativa. Constrangido, ele pediu licença do cargo no dia 8.
Ex-encarregado de Negócios na Embaixada brasileira, Saboia tem 46 anos, metade deles vividos no Itamaraty. A atuação do diplomata era considerada impecável pelo Ministério das Relações Exteriores e lhe rendeu, inclusive, uma condecoração pelo ex-presidente Lula com a medalha da Ordem do Rio Branco. No entanto, a carreira foi interrompida após, diante da inoperância do governo brasileiro, ajudar o senador a escapar das ameaças da tropa comandada por Morales. Molina denunciou o envolvimento de autoridades bolivianas com o tráfico de drogas. 
Logo ao chegar ao Brasil, no final de agosto, Saboia foi afastado de suas funções e tornou-se objeto de investigações de uma sindicância interna do órgão. Um relatório final, que deve ser elaborado por uma comissão, decidirá se o diplomata deve ou não ser punido. As medidas disciplinares aplicáveis vão desde uma advertência à demissão do cargo.  
Com o futuro incerto, o diplomata foi realocado no cargo secundário de assessor no departamento de Assuntos Financeiros e de Serviços do Itamaraty – uma função administrativa, sem status de chefia nem gratificações que tinha como ministro. “Isso é um assédio moral do ponto de vista de não conceder qualquer atividade na altura do que ele possa exercer. Hoje ele está sentado em uma cadeira sem fazer nada”, afirma a defesa de Saboia, o advogado Ophir Cavalcante.
Saboia, por outro lado, evita tecer comentários sobre o posto. Mas reclama da demora em ter o caso solucionado: “Hoje eu faço o trabalho que me passam. Lá dentro eu virei aquele cara que tem uma sindicância e que, por isso, é constantemente julgado. Eu já estou sendo punido”, disse, em entrevista ao site de VEJA concedida em uma confeitaria de Brasília. Antes de conversar com a reportagem, Saboia tomou um chá com o senador Molina. A defesa do boliviano o orienta a não dar entrevistas. 
Ao longo de conversa de uma hora, o diplomata explicou que decidiu pedir licença de suas funções por três meses, que pode ser prorrogada pelo mesmo período - benefício concedido por tempo de serviço a servidores públicos -, e planeja usar o tempo para avaliar “outras possibilidades” para a carreira. Na última segunda-feira, Saboia esteve no evento que selou a chapa de Eduardo Campos e Marina Silva para a disputa eleitoral deste ano. Ele nega, porém, ter pretensões políticas ou ser filiado a algum partido, mas não descarta participar da campanha: “Eu quero contar a minha história nessas eleições”.  
A fuga - Alegando ser perseguido politicamente, o senador boliviano Molina conseguiu asilo na embaixada brasileira, onde permaneceu por 15 meses em condições degradantes: viva em um pequeno quarto improvisado, sem direito a banho de sol e com permissão apenas para receber visitas esporádicas de familiares e do advogado. O governo brasileiro sabia da situação de Molina, mas não tomou providências ao longo de todo o período.
Depois de mais de um ano nessa condição, o senador entrou em depressão e teve a saúde debilitada. Em agosto de 2013, Saboia, que à época ocupava o cargo de embaixador interino, decidiu resolver o problema com as próprias mãos: em um carro oficial escoltado por fuzileiros navais brasileiros, ele e Molina viajaram por 22 horas entre La Paz e Corumbá, no Mato Grosso do Sul, e depois seguiram para Brasília em um avião obtido pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). A ação não foi previamente informada ao governo brasileiro.
A presidente Dilma Rousseff classificou o episódio como uma “quebra de hierarquia” e disse que a embaixada brasileira na Bolívia é “extremamente confortável”. Do outro lado, Saboia alegou que, por “questões humanitárias”, não poderia deixar uma pessoa viver daquela forma em uma dependência do Brasil. O diplomata ainda alegou que informou o Itamaraty somente após o episódio por motivos de segurança. Como consequência, o então ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, foi exonerado.
“O governo brasileiro deixou que o instituto do asilo se transformasse em uma situação de violação da dignidade de uma pessoa que estava sob os nossos cuidados. Isso é muito sério e é algo que deveria ser investigado: quem é o responsável ter deixado isso chegar até esse ponto?”, questiona Saboia. “Eu não tive outra opção além daquela para preservar a vida de uma pessoa e a imagem do meu país.”  
Assim como Saboia, o senador boliviano ainda não teve a situação definida. Molina espera aval do governo Dilma para morar legalmente no Brasil enquanto está abrigado, de favor, na casa do senador Sérgio Petecão (PSD-AC), em Brasília – hoje ele pode permanecer no país graças ao refúgio provisório concedido pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).   
Questionada pela reportagem sobre o motivo da demora para a conclusão dos trabalhos da sindicância e o cargo incompatível exercido por Saboia, a assessoria de imprensa do Itamaraty afirmou que não iria comentar o caso.

A lendária Terra Brasiliensis - Edmar Bacha

A lendária Terra Brasiliensis
Um conclave de sábios foi convocado para propor uma alternativa à situação desesperançada do país
POR RAMDE AHCAB
O GLOBO, 28/10/2014

Há cem anos, no início do século XXI, realizaram-se renhidas eleições presidenciais que deixaram o país irremediavelmente dividido e polarizado entre distintas crenças e preferências políticas. As regiões ricas reclamavam das transferências fiscais às regiões pobres. Essas, por sua vez, reclamavam dos preços surreais que pagavam pelos produtos que consumiam das regiões ricas. Constatava-se também que havia anos estava o país preso na armadilha da renda média, incapaz de seguir uma trajetória de crescimento que o levasse para o nível de renda dos países que eram então os mais avançados do mundo.
Um conclave de sábios foi então convocado para propor uma alternativa à situação desesperançada em que o país vivia. Os sábios propuseram, os políticos relutaram, mas em plebiscito a população acolheu a proposta de abandonar o caráter unitário da nação e constituir uma confederação de regiões independentes, unidas entre si por um tratado para garantir a paz e o livre trânsito de bens, serviços e pessoas entre elas. Manteve-se o Real como uma moeda comum, gerida por um banco central independente, e criou-se um regime fiscal simples e unificado.
Sete unidades independentes foram constituídas a partir do antigo país:
Ao sul, criou-se a República Gaúcha, formada pelos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A eles, em tempo, se associou o Uruguai, havendo concordância em fazer de Montevidéu a capital da nova unidade. Como as facções peronistas cada uma puxava para um lado, a Argentina acabou ficando de fora.
Subindo a costa, constituiu-se a Pauliceia Desvairada, ali onde se localizava o Estado de São Paulo. Em plebiscito, a população do Paraná optou por juntar-se à Pauliceia e não aos Gaúchos.
Na costa leste, formou-se o Reino do Samba, composto por Rio de Janeiro e Bahia, levando de roldão o Espírito Santo. Fiel à sua tradição imperial, essa região constituiu-se como uma monarquia constitucional, elegendo Fernando Gabeira para exercer o Poder Moderador.
Adentrando a região leste, formou-se a República do Grande Sertão Veredas, com capital em Belo Horizonte, e incorporando, além de Minas Gerais, os estados de Goiás e Tocantins.
Na direção da fronteira oeste, formou-se a república do Pantanal Brasiliense, compreendida por Mato Grosso do Sul e do Norte e Rondônia, e incluindo a antiga capital do país, onde ficaram confinados os políticos do ancien régime.
Retornando à costa leste, na fronteira norte do reino do samba e indo na direção noroeste até a fronteira com a floresta amazônica, foi criada a República do Engenho e Arte. Membros do Partido dos Tradicionalistas passaram a chamar essa região de Maquiladora Nordestina, pois ela foi a primeira a realizar tratados de livre comércio com os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Integrou-se, assim, às cadeias produtivas internacionais e se transformou numa verdadeira potência econômica, o que permitiu não só que dispensasse bolsas e transferências fiscais como se tornasse credora do regime fiscal compartilhado da confederação.
Finalmente, ao norte, foi constituído o Parque Ecossustentável do Amazonas, que recebeu uma grande doação dos países nórdicos. Com esses recursos, foi possível redirecionar a Zona Franca de Manaus para a exportação de produtos florestais ambientalmente corretos, tornando a região um exemplo de desenvolvimento sustentável e um símbolo da paz entre os povos.
Foi assim que há cem anos se constituiu a confederação Terra Brasiliensis, que logo passou a crescer harmonicamente, com equidade e sustentabilidade, para se tornar a região mais próspera e feliz do mundo neste início do século XXII.
Ramde Ahcab recebeu este artigo no ano de 2115 da Era Cristã, de um tataraneto de Edmar Bacha, autor da expressão “Belíndia”, para designar um país em que se misturam a Bélgica e a Índia

Read more: http://oglobo.globo.com/opiniao/a-lendaria-terra-brasiliensis-14379269#ixzz3HVRhKoeD

Quinto Congresso Latino-Americano de História Econômica (CLADHE V) - São Paulo, 19-21/07/2016

QUINTO CONGRESSO LATINOAMERICANO DE HISTÓRIA ECONÔMICA (CLADHE V)
Universidade de São Paulo, São Paulo (Brasil)
Julho 19 – 21 de 2016

Primeira Circular
O Quinto Congresso Latino-Americano de História Econômica (CLADHE V) se realizará na cidade de São Paulo, Brasil, entre os dias 19 e 21 de Julho de 2016. As instituições organizadoras são as associações de História Econômica da Argentina, do Brasil, do Chile, do Caribe, da Colômbia, do México, do Peru e do Uruguai, assim como da Espanha e de Portugal, como convidadas. A Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica – ABPHE – e a Faculdade de Economia, da Universidade de São Paulo – FEA/USP, com sede na cidade de São Paulo, são as instituições anfitriãs.
Seguindo a tradição dos congressos anteriores realizados desde 2007, o CLADHE V é um espaço acadêmico para debater as recentes pesquisas de história econômica da América Latina, assim como para abordar as perspectivas globais e comparativas com outras regiões. A organização do CLADHE busca incentivar a participação conjunta de pesquisadores dos países latino-americanos e de outras partes do mundo para difundir e discutir seus trabalhos bem como estabelecer agendas de pesquisa comuns. Pesquisadores de História Econômica e áreas afins são convidados a apresentar suas pesquisas.
Os idiomas oficiais do CLADHE V serão o espanhol e o português; entretanto, são bem-vindos também trabalhos em inglês. O congresso será organizado por meio de simpósios, mesas redondas e conferências.

CHAMADA PARA APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS DE SIMPÓSIOS
As propostas de simpósios temáticos serão recebidas entre 1 de Julho e 15 de agosto de 2015 no seguinte endereço eletrônico: cladhe5@gmail.com
Com a finalidade de promover a participação conjunta dos colegas de diversos países e regiões do mundo, cada simpósio deverá contar com ao menos (2) coordenadores de nacionalidades distintas (com no máximo três coordenadores).
A proposta de simpósio temático deverá ser encaminhada com os seguintes documentos:
 Um resumo com justificativa da proposta do simpósio;
 Um curriculum vitae breve dos coordenadores: devem demostrar uma trajetória acadêmica reconhecida relacionada ao tema proposto;
 Uma lista dos potenciais participantes e possíveis comentaristas, especificando em cada caso a filiação institucional.

As sessões devem contar com a participação de apresentadores de diversos países, com no máximo 50% procedente de um mesmo país e os simpósios deverão conter entre 10 e 18 apresentadores.
A aprovação dos simpósios ficará a cargo do Comitê Organizador Internacional (COI) e será comunicada por meio de email aos coordenadores conforme as datas especificadas. A aprovação deverá ser ratificada com a recepção dos trabalhos completos, atendendo ao número máximo e mínimo previsto. Os prazos devem ser cumpridos para que a publicação dos artigos possa ser realizada na página do evento.
Os coordenadores dos simpósios temáticos serão os responsáveis pela avaliação do conteúdo e da qualidade dos textos, bem como da organização dos simpósios. O Comitê Organizador Local deve receber a lista dos apresentadores e de seus artigos, assim como o cronograma de apresentação do Simpósio para publicação no site e no material do congresso.

A INSTITUIÇÃO PROMOTORA: ABPHE
A Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE), fundada em 10 de setembro de 1993, é uma sociedade civil que congrega economistas, historiadores, cientistas sociais e outros estudiosos da história econômica e disciplinas afins (história de empresas, história do pensamento, etc.). A ABPHE é a principal organização científica brasileira em sua área de atuação, promovendo estudos de história econômica por meio de revista especializada (História Econômica & História de Empresas, HE&HE ISSN 1519-3314), publicação de livros e realização de encontros regulares, nos quais a comunidade acadêmica debate artigos e paradigmas de interpretação, tem contato com pesquisas em andamento e dialoga com pesquisadores de outros países.
Entre os sócios honorários da ABPHE encontram-se pesquisadores e estudiosos que trouxeram significativas contribuições ao conhecimento da História Econômica do Brasil, como Alice Canabrava, Annibal Villanova Villela, Charles Ralph Boxer, Eulália Maria Lahmeyer Lobo, Frédéric Mauro, Nelson Werneck Sodré, Celso Furtado e Roberto Cortés Conde. Atualmente a ABPHE conta com cerca de 200 associados que representam profissionais com atuação em diferentes regiões e estados do Brasil.
A ABPHE comemorou no X Congresso Nacional de História Econômica e na XI Conferência Internacional de História de Empresas, em setembro de 2013 em Juiz de Fora/MG, os seus 20 anos de existência com eventos regulares – o Congresso de História Econômica e a Conferência Internacional de História de Empresas. Além disso, desde 2002 tem realizado regularmente o Encontro de Pós-Graduação em História Econômica que reúne mestrandos e doutorandos com pesquisas no campo da História Econômica.
Atualmente a ABPHE é integrante da Associação Latino-Americana de História Econômica (CLADHE) e da Associação Internacional de História Econômica (WEHC). A ABPHE filiou-se à Associação Internacional de História Econômica em 1996 e tem desenvolvido atividades com as associações latino-americanas. Em dezembro de 2007, participou da realização do I Congresso Latino-Americano de História Econômica – CLADHE I, que teve lugar em Montevidéu (Uruguai); em 2010 participou do CLADHE II organizado na Cidade do México (México); em 2012 participou do CLADHE III organizado em Bariloche (Argentina); e, em 2014, esteve no CLADHE IV, organizado na cidade de Bogotá (Colômbia).
A SEDE DO CONGRESSO A sede do congresso será a Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade da USP (FEA). Faculdade criada em 1946, atualmente oferece os cursos de graduação de Administração de Empresas, Ciências Econômicas, Ciências Contábeis e Atuária, e de pós-graduação em Economia, implantado em 1966, e de Administração e de Ciências Contábeis, ambos fundados em 1970. A FEA fica no campus da Universidade de São Paulo, na Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Cidade Universitária. Para outras informações: http://www.fea.usp.br/ Diretoria da ABPHE (2013-2015) Presidente: Angelo Alves Carrara (Universidade Federal de Juiz de Fora) Vice-Presidente: Alexandre Macchione Saes (Universidade de São Paulo) Primeiro Secretário: Thiago Fontelas Rosado Gambi (Universidade Federal de Alfenas) Segundo Secretário: Felipe Pereira Loureiro (Universidade de São Paulo) Primeiro Tesoureiro: Afonso Alencastro de Graça Filho (Univ.Federal de São João Del Rei) Segundo Tesoureira: Cláudia Tessari (Universidade Federal de São Paulo).

Comitê Organizador Internacional (COI)
Integrado pelos Presidentes e Vicepresidentes ou Secretários das Associações
Roberto Schmit (AAHE)
Guillermo Banzato (AAHE)
Angelo Alves Carrara (ABPHE)
Alexandre Macchione Saes (ABPHE)
Salomón Kalmanovitz (ACHE)
Edwin Rivera López (ACHE)
Fabián Almonacid (AChHE)
Cesar Yáñez (AChHE)
Carlos Contreras Carranza (APHE)
Bruno Seminario de Marzi (APHE)
Johanna Von Grafenstein (AHEC)
José Antonio Piqueras (AHEC)
Sandra Kuntz (AMHE)
Yovana Celaya (AMHE)
Reto Bertoni (AUDHE)
Javier Rodríguez (AUDHE)

Associações Convidadas
Pablo Martín Aceña (AEHE)
José Miguel Martínez Carrión (AEHE)
José Alvaro Ferreira da Silva (APHES)
Comitê Organizador Local
Alexandre Macchione Saes (Universidade de São Paulo)
Angelo Alves Carrara (Universidade Federal de Juiz de Fora)
Cláudia Tessari (Universidade Federal de São Paulo)
Daniel Feldman (Universidade Federal de São Paulo)
Fábio Alexandre dos Santos (Universidade Federal de São Paulo)
Felipe Pereira Loureiro (Universidade de São Paulo)
Guilherme Grandi (Universidade de São Paulo)
Leonardo Weller (Fundação Getúlio Vargas-SP)
Luciana Suarez Lopes (Universidade de São Paulo)

Rodrigo Ricupero (Universidade de São Paulo)
Thiago Fontelas Rosado Gambi (Universidade Federal de Alfenas)
Vera do Amaral Ferlini (Universidade de São Paulo)

Comitê Acadêmico Internacional (CAI)
Albert Broder (Université de Paris Est‐Créteil, França)
Albert Carreras (Universitat Pompeu Fabra, Espanha)
Andrés Regalsky (Universidad Nacional de Luján e Universidad Nacional de Tres de Febrero, Argentina)
Antonio Ibarra (Universidad Nacional Autónoma de México, México)
Armando Dalla Costa (Universidade Federal do Paraná, Brasil)
Benjamín Nahum (Universidad de la República, Uruguai)
Carlos Dávila (Universidad de los Andes, Colômbia)
Carlos Gabriel Guimaraes (Universidade Federal Fluminense, Brasil)
Carlos Marichal (El Colegio de México, México)
Carlos S. Assadourian (El Colegio de México, México)
César Yáñez (Universidad de Valparaíso, Chile y Universidad de Barcelona, Espanha)
Colin Lewis (London School of Economics, Grã-Bretanha)
Daniel Díaz Fuentes (Universidad de Cantabria, Espanha)
Eduardo Cavieres (Pontificia Universidad Católica de Valparaíso, Chile)
Eduardo Míguez (Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires e Universidad Nacional de Mar del Plata, Argentina)
Enrique Cárdenas (Centro de Estudios Espinosa Yglesias, México)
Enrique Semo (Universidad Nacional Autónoma de México, México)
Fernanda Olival (Universidade de Évora, Portugal)
Guy Pierre (Universidad Autónoma Ciudad de México e Universidad Quisqueya, Haiti)
Héctor Pérez Brignoli (Universidad de Costa Rica, Costa Rica)
Henry Willebald (Universidad de la República, Uruguai)
Jaime Reis (Universidade de Lisboa, Portugal)
John Coatsworth (Columbia University, Estados Unidos)
Jordi Maluquer (Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha)
Jorge Gelman (Universidad de Buenos Aires, Argentina)
José Antonio Ocampo (New York University, Colômbia)
José Luis Cardoso (Universidade de Lisboa, Portugal)
José Miguel Martínez Carrión (Universidad de Murcia, Espanha)
Josué Modesto dos Passos Subrinho (Universidade Federal de Sergipe, Brasil)
Leandro Prados de la Escosura (Universidad Carlos III de Madrid, Espanha)
Luis Bértola (Universidad de la República, Uruguai)
Luis Jáuregui (Instituto de Investigaciones Dr. José María Luis Mora, México)
Maria Lúcia Lamounier (Universidade de São Paulo, Brasil)
María Camou (Universidad de la República, Uruguai)
María Inés Moraes (Universidad de la República, Uruguai)
María Teresa Pérez Picazo (+) (Universidad de Murcia, Espanha)
Mario Cerruti (Universidad Autónoma de Nuevo León, México)
Nicolás Sánchez Albornoz (New York University, Espanha)
Noemí Girbal (Universidad Nacional de Quilmes, Argentina)

Óscar Zanetti (Universidad de La Habana, Cuba)
Pablo Martín Aceña (Universidad de Alcalá, Espanha)
Paola Azar (Universidad de la República, Uruguai)
Pedro Paulo Zahluth Bastos (Universidade Estadual de Campinas, Brasil)
Raúl Jacob (Universidad de la República, Uruguai)
Roberto Cortés Conde (Universidad de San Andrés, Argentina)
Rosemary Thorp (Oxford University, Grã-Bretanha)
Salomón Kalmanovitz (Universidad Jorge Tadeo Lozano, Colômbia)
Sandra Kuntz (El Colegio de México, México)
Stephen Haber (Stanford University, Estados Unidos)
Susana Bandieri (Universidad Nacional del Comahue, Argentina)
Tamás Szmrecsányi (+) (Universidade Estadual de Campinas, Brasil)
Victor Bulmer‐Thomas (Oxford University, Grã-Bretanha)
Wilson Suzigan (Universidade Estadual de Campinas, Brasil)

A frase da semana: com quem faremos a revolucao? - Roberto Arlt

Com quem faremos a revolução? — escreveu Roberto Arlt.
Com os jovens. São estúpidos e entusiastas.

via Janer Cristaldo, A Força dos Mitos
(crônicas escritas em 1975 e 1976, publicadas em ebook em 2013)
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/forcamitos.html

E já que estamos falando do Janer Cristaldo, aqui uma frase dele, que consta do livro
Crônicas da Guerra Fria
"...apesar sua experiência milenar, a Igreja romana ainda não aprendeu que todo index prohibitorum é contraproducente: só serve para vender o que pretendem proibir."
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/cronicasdaguerrafria.html

Flanando em Paris, com Janer Cristaldo: sugestoes epicurianas

E já que estamos falando e homenageando o Janer Cristaldo, posso postar aqui um guia saboroso do que fazer em Paris, que ele ofereceu em sugestão a um amigo que para lá viajava.
Como eu também estava me preparando para passar seis meses dando aulas em Paris (não foram exatamente seis meses, pois como as minhas aulas só ocupava dois dias na semana, o resto do tempo eu estava viajando pela Europa), anotei as recomendações, mas acho que não segui nenhuma. Em Paris existem tantas boas opções que a gente nunca tem tempo de seguir todas as que nos fazem...
E não deixem de frequentar o seu blog, enquanto não acabar.
Recomendação: copiem ele inteiro, coloquem num arquivo de texto, e depois vocês poderão passar semanas e semanas só lendo Janer Cristaldo: desde outubro de 2003 até setembro de 2014, vocês terão milhares de postagens do maior cronista da internet: http://cristaldo.blogspot.com/
Paulo Roberto de Almeida

 Janer Cristaldo sobre Paris
Segunda-feira, Setembro 26, 2011

Alexandre Breveglieri está com o pé no estribo e me pede dicas sobre Paris. Como não houve jeito de responder (seu email parece estar errado), segue aqui o mapa da mina.

Atenho-me principalmente à geografia etilogastronômica, informação que nem sempre encontramos nos guias de turismo. Cabe lembrar que esta oferta é imensa em Paris, e cada viajante sempre encontrará seus rumos. Cito aqueles que encontrei e gostei. São quase todos centenários e podem ser facilmente encontrados no Google ou no Google Earth.

Fora o Chartier e o Polydor, não são restaurantes baratinhos. Mas tampouco são caros. Praticam os preços médios de Paris. Normalmente, entre duas pessoas, janto por algo entre 60 e 90 euros, vinho incluído. Mas pode-se comer por dez euros naqueles restaurantes do Quartier Latin e Mouffetard. Há menus executivos que constam de entrada, prato principal, sobremesa e eventualmente um demi pichet de vin. Nem sempre se come bem. Mas também se pode comer bem por esse preço, é questão de ter olho clínico. Evite os que ficam em ruas com alto tráfego de turistas.

Bares

• Os grandes bares de esquina ou de bocas de metrô são sempre mais caros que os botecos mais discretos. Lá, se paga pela paisagem. Num botequinho modesto de meio de rua, pode-se tomar a mesma cerveja dos bares mais imponentes, quase pela metade de preço. Vale o mesmo para cafezinho ou refeições
• Mesmo assim, estacionar em pelo menos um dos dois cafés frente ao metrô Odéon: o Danton e o Relais Odéon, um quase em frente ao outro. Apanhar um jornal, pedir algo e olhar a fauna. Vale a consumação. Por outro lado, sentar numa terrasse numa tarde de inverno, mesmo que o cafezinho custe um pouco mais, é uma boa hipótese para observar as gentes
• Se você quiser uma taça de vinho, deve pedir um ballon, rouge ou blanc, conforme seu gosto
• Dar um giro pela rue Mouffetard, perto do Panteon. Há uma feira deliciosa nas manhãs de domingo. Almoços ótimos e abordáveis. Gosto em particular de um deles, o Tire Bouchon, na rua Descartes, ao lado da Mouff. É daqueles onde se come bem por dez euros, ao meio-dia. O patron se chama Antoine e sempre me recebe de braços abertos. A Mouff merece uma visita, é uma rua para onde os parisienses tentaram fugir, para escapar ao Quartier Latin. Se bem que o turismo já chegou lá. Saindo da Sorbonne, dá uns 10 ou 15 minutos a pé
• Um restaurante interessante a visitar é o Polydor, na rue Monsieur Le Prince, a uns cinco minutos da Sorbonne. Almoços relativamente baratos. Gosto muito, particularmente quando tem boudin no cardápio, o que não acontece todos os dias. Modesto, honesto e tradicional. Bom para um almoço sem maiores pretensões.
• Bem no início da Rue du Faubourg Montmartre, há um restaurante peculiar, o Chartier, bem no início, à esquerda, no fundo de uma “cour”. Simpático, folclórico e muito barato. Foi construído no final do século XIX, hoje está classificado como monumento histórico e gaba-se de servir o mesmo cardápio desde a inauguração. À noite, fecha às nove. Só pelo ambiente, vale a visita. Lembrar que em Paris as mesas, mesmo pequenas, são coletivas. Não se importe de sentar junto a estranhos ou que eles sentem em sua mesa. É normal
• Na Gare de Lyon há um restaurante suntuoso, um teto de cair o queixo, o Train Bleu. Vale a pena a visita, que mais não seja para tomar um cerveja no bar e contemplar o ambiente. Não aconselho comer nele. Muito caro. Rapport prix/qualité nada conveniente
• Na Rue de l’Ancienne Comédie, quase ao lado do Relais Odéon, há o Procope, fundado em 1686. Lá almoçaram desde Racine, Voltaire, Rousseau, D’Alembert até os revolucionários de 89 e Napoleão. Este deixou lá um chapéu a título de pindura. Está lá também a mesa em que Voltaire escrevia. Preços normais de Paris
• Há um belíssimo restaurante, o Julien, na rue du Faubourg Saint-Denis. Pratos excelentes, nada caros em termos de Paris. A rua é de prostituição, está um pouco deteriorada, mas é freqüentável sem problema algum
• Na rue Mabillon, procurar o Charpentier, excelente cozinha, preços humanos. Recomendo vivamente. Cuisine du terroir. O restaurante, simpaticíssimo, é ligado ao movimento de Compagnonage, uma confraria meio paralela à maçonaria. Recomendo vivamente as andouilletes AAAAA. Isto é, as andouilletes aprovadas pela Association Amicale des Amateurs d'Andouillettes Authentiques. O boudin aux pommes é superbe
• Na Île St. Louis, ilha ao lado da ilha da Notre Dame, na rue St. Louis en l’Île, procurar Le Sergeant Recruteur ou, ao lado, Nos Ancêtres, les Gaulois. São dois restaurantes com menu a preço fixo. Entradas, queijos e vinhos à vontade. Quanto aos pratos propriamente ditos, você escolhe um entre três opções. Não esquecer que o vinho é “à la volontê”. Não é lugar para se ir sozinho. Como é ambiente de alegria coletiva, o solitário fica um tanto deslocado. Se o garçom demora e você está sedento, estenda sua taça a seu vizinho de mesa e peça um pouco de seu vinho. Ele não vai negar. Nem estranhar
• Algo mais sofisticado e, evidentemente, mais caro: o Bofinger, numa pequena travessa da Place de la Bastille. É só chegar na Place e perguntar pelo restaurante. Sem falar na cozinha, só o interior vale uma tarde e alguns euros a mais. Quando sento lá, não tenho mais vontade de sair. Em frente, o Petit Bofinger, caso o Bofinger esteja lotado. Mas a arquitetura do Petit não se compara à do primeiro
• Um excelente restaurante, o preferido do Mitterrand, é a Brasserie Lipp, no boulevard Saint Germain. Abrigou várias gerações de intelectuais franceses. As esquerdas sempre sabem onde se come bem. Recomendo fortemente. O plat de resistance é o cassoulet, uma espécie de protofeijoada. Mas o jarret de porc tampouco é de se jogar fora
• Frutos do mar há por toda parte. Mas um dos locais mais reputados é o Au Pied de Cochon, no Les Halles. Em matéria de ostras, minhas diletas são as fines de Claire
• Em quase todos os restaurantes que arrolo, se você quiser vinho, em vez da bouteille pode pedir um pichet, ou, para amadores, un demi pichet ou un quart pichet. Ou seja, uma jarra de vinho, uma meia jarra ou um quarto de jarra. Em geral, o vinho é potável. Em restaurante bom, o vinho sempre é bom

• Tivesse eu de visitar apenas cinco restaurantes, pela ordem, eu começaria pelo Julien e Charpentier, continuaria pelo Procope e Bofinger, e terminaria com a Brasserie Lipp

• Não esquecer as virtudes da comida de rua. Há um sanduíche árabe em Paris que adoro, é o merguez au chili. Merguez é uma lingüicinha picante. Compra-se em quiosques de esquina. Atenção: munir-se de água. Pega fogo na garganta

• A gorjeta vem sempre incluída na conta. Lei do Mitterrand

• Fora isso, deve existir mais uns cinco mil restaurantes e cafés por lá, à sua espera


Outra dicas

• comer ou beber sentado custa uns 20 % a mais do que no balcão. Para um café da manhã, nada melhor que uma tartine au beurre, que é uma baguetinha com manteiga
• em compensação, se você pede um cafezinho ou chope numa mesa, pode a rigor passar uma hora sem que o garçom o incomode
• jamais pedir “une bière”, isto o denuncia como marinheiro de primeira viagem. Se o garçom for sacana, lhe empurra um litro de cerveja. Pede-se “un demi”, ou seja, un demi-verre.
• em boa parte dos bares há uma cerveja belga que gosto muito, é a Abbaye de Leffe. Esta geralmente não é servida em demi, mas em um copo um pouco maior. É mais cara que as triviais, mas vale a pena. Tem três versões: blonde, brune e radieuse. Qualquer uma é boa aposta
• se você vai ficar coisa de uma semana, tratar da carte orange (une semaine, deux zones). A semanal vale de segunda a domingo. Levar fotos 3 x 4. Ou tirá-las nas dezenas de máquinas automáticas, encontradiças em todas as ruas do centro. No metrô, se enfia o tiquete na catraca, no ônibus basta mostrar a carta ao motorista. Outra opção, carnê de dez bilhetes, mais conveniente se você chega no meio da semana e vai ficar pouco tempo
• Comprar a revista Pariscope, ou L’Officiel des Spectacles, em qualquer banca. Saem às quartas e dão toda a programação cultural da cidade. Lembrar que em Paris gastronomia também é cultura
• Usar ônibus tem a vantagem de lhe mostrar Paris. Neste sentido, o 69 é ótimo. Se você fizer o percurso de início a fim de linha, terá o melhor da cidade

Visitas a meu ver obrigatórias

No “centrão”, se é que se pode falar de centro em Paris:

As tradicionais: Notre Dame (tem concertos de órgão, domingo, às 17 hs, maravilhoso e grátis) Louvre, Sorbonne. (Na Sorbonne, depois do 11/9, não dá pra entrar mais. Só sendo estudante ou professor). Frente à Sorbonne há uns botecos agradáveis, para um lanche rápido ou leituras.
• Além do Louvre, há o Musée d’ Orsay, às margens do Sena, belíssimo. (E mais umas duas ou três centenas de museus, é claro). Conforme seu tempo, terá de passar rapidinho por museus, ou não verá nada da cidade
• Saint Chapelle, no Palais de Justice, no Boul'Mich. Belíssima
• Les catacombes, metrô Denfert-Rochereaux. Antes abriam apenas um domingo por mês. Agora estão abertas durante a semana toda. Imperdível
• Centro Beaubourg, conjunto com biblioteca, exposições, etc. Se você subir ao último andar, terá uma bela vista de Paris, sem ter de enfrentar as filas nem os preços da torre Eiffel. Deambular pelas adjacências
• Um passeio pelo parque Luxembourg, a cinco minutos da Sorbonne é algo imperativo. Diria que são quatro parques em um só: a cada estação do ano, uma beleza diferente
• Le Forum des Halles. Arquitetura subterrânea criada no espaço do antigo mercado, Les Halles. Hoje é um imenso centro comercial. A bem da verdade, passei por lá em minha última viagem a Paris e não gostei. Me pareceu muito deteriorado. Mas a arquitetura em seus entornos é interessante
• Dedicar pelo menos uma hora percorrendo as gôndolas da FNAC, a mais poderosa livraria do país. Acho que há três FNACs em Paris. Nas FNAC há muita oferta em matéria de som e eletrônicos. Música que você jamais encontrará aqui. Neste sentido, a FNAC de Montparnasse é mais diversificada
• Tudo isto pode ser feito a pé e a arquitetura, por si só, já é uma festa. Se você se perde em algum pedaço, vai descobrindo novas geografias
• Perambular pelo Marais (bairro onde está o centro Beaubourg), Palais Royal, Place des Vosges, principalmente esta última, último reduto da aristocracia parisiense. (Mas já vi mendigos dormindo por lá)
• Dar uma olhadela no café Deux Magots (metrô Saint Germain), pelo menos em homenagem aos existencialistas dos anos 60. Fica em frente ao Chez Lipp.
• Dar uma passada no Boulevard Montparnasse, à noite. Há uma livraria interessante, L’ Oeil qui écoute. Mais cafés dos existencialistas, La Coupole, Le Dôme, também caros e turísticos. Eu gostava particularmente do Select Latin, onde curti centenas de horas de leitura
• Pode-se subir a Montmartre de barco. É só pegar no Sena, às 9 da manhã, um barquinho chamado La Patache, que ancora ao lado da piscina Deligny. Vai subindo por canais subterrâneos e eclusas, até o Canal Saint Martin. Chega-se ao pé do morro lá pelas 11. (Não sei se este barco existe ainda. Conferir no Pariscope)

Saindo do “centrão”:

• Perambular pela Champs Elysées, Trocadero, Eiffel, Arco do Triunfo, etc
• Pegar um metrô expresso, o R.E.R., e ir até La Défense. Ver a Arche, que os jornalistas brasileiros insistem em chamar de Arco. É o lado modernoso de Paris, frio e imponente. Acho que deve ser visto, para não se ficar com uma idéia apenas da Paris que imaginávamos. Estando lá, dar uma olhadela no Omnimax, o cinema de 360 graus. Vale
• Cité de la Science et de l’Industrie, em La Villette, ao norte, no XXe. Tem de tudo. Cabe uma visita ao Geode, outra sala de cinema com uma tela de 360°. Sessões de hora em hora. Melhor escolher um só setor da Cité, senão perde-se um dia todo
• Se der tempo, mas só se der tempo, visitar La Grande Bibliothèque, último monumento faraônico do Mitterrand. Aqueles quilômetros e quilômetros de mogno que forram paredes e pisos foram surripiados do Brasil, via o cacique Paulinho Paiakan.
• Père Lachaise, é claro. Em Asnières, ao sul de Paris, há um cemitério de cães que vale a pena como folclore. Há um outro em Villepinte. Visitá-los em dia de Finados é um espetáculo à parte
• Procurar a Promenade Plantée. É um passeio belíssimo. Apanhá-la de manhã, por exemplo, de modo a chegar pela 1h ou 2h da tarde na Bastille e aproveitar para um almoço no Bofinger.
Et bon voyage!

- Enviado por Janer @ 2:26 PM

Janer Cristaldo, uma homenagem critica - Carlos U. Pozzobon

Recebo, a propósito de uma postagem anterior:

http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/uma-lagrima-para-janer-cristaldo-uma.html

esta bela apreciação crítica ao Janer Cristaldo, a quem nunca conheci pessoalmente (talvez tenhamos trocado algumas mensagens lacunares, mas sinceramente eu não me lembro), mas de quem eu admirava a verve sempre ferina (para quem merecia) e tambem irônica (até para quem não merecia).
Ele era tão antireligioso, impiedoso, que não chegava a ser ateu, era até um estudioso das religiões, e provavelmente complacente com os ingênuos, mas implacável contra os que faziam da religião ofício e meio de vida, sempre fraudulentamente.
Provavelmente foi o mais articulado dos jornalistas anti-sistema, qualquer sistema, mas sobretudo os dos néscios, ignorantes e falastrões, o que certamente o colocava na linha de tiro dos petralhas. Mas ele estava acima de tudo isso, pois seu mundo das ideias não tinha nada a ver com o mundo das ideias toscas daqueles que ele criticava sem dó nem piedade.
Vai fazer falta, pois pessoas inteligentes, mordazes e sinceras sempre fazem falta.
Uma homenagem que recolho do rodapé para enquadrá-la devidamente.
Paulo Roberto de Almeida

Carlos U Pozzobon

55 minutos atrás  -  Compartilhada publicamente
 
Acabo de saber do falecimento de Janer Cristaldo. 
Lamento muito a perda deste crítico lúcido e singular, polemista de primeira e erudito em ciências humanas. Conheci Janer nos anos 70, quando trabalhava como colunista de jornal em POA, recém chegado da Suécia. Questões estéticas da literatura nos separaram e algumas de suas ideias me pareciam ligeiras. Suas fontes não eram as minhas, e raramente nos cruzamos em algum autor comum. 
Cheguei a ler sua tese de doutorado na Sorbonne sobre as semelhanças e complementaridades entre as obras de Marcel Camus e Ernesto Sábato. Janer era um excelente crítico, e escreveu profusamente sobre temas cotidianos em seu blog. 
Mas foi um escritor frustrado. Seu livro O Ponche Verde não agradou e ele desistiu (creio eu que amargamente) de fazer ficção, e por fim da literatura, concentrando sua crítica nas ciências humanas e nas instituições, especialmente na Universidade brasileira (onde chegou a ser professor brevemente de literatura, e de onde foi expulso pela petralhagem). 
Foi ele que criou o termo Supremo Apedeuta, e após somente Apedeuta para Lula, que depois se tornou um lugar comum na imprensa. Na crítica nacional, a lucidez associada a profundidade é uma qualidade muito rara. No meio jornalístico, Janer chegava a ponto de nos parecer um estranho, um deslocado, uma avis rara em uma comunidade extraordinariamente vocacionada para a mediocridade. 
Neste nosso país em que o maior defeito dos intelectuais consiste em se voltar para o mundo anglo-saxônico e esquecer o resto do mundo, Janer tinha uma cultura ecumênica, iluminista, multifacetada, que sempre conseguia surpreender com seu conhecimento sobre aspectos totalmente negligenciados das culturas e do repertório intelectual dos países e povos. 
Ele pode ser usado como símbolo da superioridade dos brasileiros que deixaram sua presença na Internet, quando comparados com os brasileiros que compõem nossas instituições culturais e sobretudo, a nossa academia. 
Pessoas com 10% do seu valor são eleitas para ABL e detém cadeiras vitalícias em universidades. O que prova, cada vez mais, que a cultura brasileira é uma cultura fecunda somente por ser marginal ao establishment.

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