domingo, 11 de outubro de 2015

Politica brasileira: ninguem mais ama os companheiros? (1) - Paulo Roberto de Almeida

Parece que os companheiros andam reclamando da campanha de ódio contra eles, que seria provocado pela direita liberal, e pelos membros da elite. Eles estão se sentindo abandonados, coitadinhos, e acham que ninguém mais os tolera como antigamente. Enfim, eles eram até amados, por muita gente, e agora só sobrou mesmo o pessoalzinho da mortadela e do subsídio-manifestações a favor, cada vez mais minguadas.
Para não dizer que eles merecem o que recebem hoje pelo que fizeram ontem, vou transcrever aqui dois retratos do que eles representavam, e do que passaram a representar.
Eles andam de crista baixa, e todo mundo acha que eles estão mentindo, e com razão, pois se até o filho do chefe da quadrilha vive de propina institucionalizada.
O primeiro retrato se passa em salas de aulas, e eu apaguei os nomes e locais para não constranger ninguém. Foi recebido no momento das eleições e postado entre o primeiro e o segundo turno neste mesmo blog.
Se coloco novamente agora, é para sentir a mudança de humor e de postura que se passou na sociedade, um ano depois das eleições fraudadas de 2014.
Fica o registro.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 11/10/2015

Recebi hoje, e quase apago (pois entrou direto na minha caixa de Junk mail), a mensagem abaixo de um aluno, a propósito de um entrevero recente que mantive com alguns professores que não merecem esse nome:

On Oct 23, 2014, at xx:xx, Xxxx Xxxxx <xxxxx@hotmail.com> wrote:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Xxxx Xxxxx
Cidade: Xxxx
Estado: XX
Email: xxxxxx@hotmail.com
Assunto: Opiniao
Mensagem: Prezado Sr. Paulo Roberto,

Meu nome é Xxxxx e sou estudante de Xxxxxxxxx da Universidade Federal de XX. Eu gostaria de agradecê-lo por ter defendido, o que nós, poucos alunos de Xxxxxxx da UFXX não podemos expressar. O partidarismo político do meu curso tem sido extremamente abusivo e perverso. As aulas são praticamente somente para explicar os porquês que o governo da Dilma são benéficos à população. Os Professores Fulano e Beltrano que deveriam nos ensinar xxxxxxx, nos ensinam somente sobre o comunismo. Eu e mais três alunos do curso somos liberais e já sofremos com atos abusivos por tal. Nossos colegas e professores nos ridicularizam. Como estou no meu último semestre, infelizmente não posso defender as ideias que julgo como justas e honestas. E por tal motivo, senti a necessidade de agradecê-lo por ter apontado o abuso que nossos professores fizeram e têm feito diariamente através da publicação daquele "manifesto". Fica aqui o meu muito obrigada.
Respeitosamente,
Xxxxx Xxxxxx.

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Respondi o que segue:

    Xxxxx,
    Muito grato pela sua mensagem e pelas palavras sensatas que voce me escreveu.
    Toda a minha ação, como professor, todas as minhas atividades, como profissional da diplomacia, têm sido sempre no sentido da informação de boa qualidade, do questionamento crítico de qualquer argumento ou informação que lemos ou que recebemos, de reflexão ponderada sobre esses temas, e de tentativa de educar, didaticamente, os mais jovens, com base nas minhas leituras, na minha experiência de vida, no meu conhecimento do mundo, como o conheci, diverso e contraditório, todos os socialismos (reais e surreais) e todos os capitalismos, ideais, periféricos, miseráveis, e alguns fascismos também (o que temo para o Brasil).
    Infelizmente, atravessamos, no plano cultural, educacional, e até mental, uma fase muito difícil para o Brasil, com essa miséria da academia, com esse recuo da inteligência, com essa renúncia a pensar.
    Isso um dia passa, mas deixa marcas, e nos deixa para trás na simples escala da inteligência humana.
    Persistiremos, com alunos como você e seus colegas.
    Somos hoje, um quilombo de resistência intelectual, mas a verdade sempre acaba prevalecendo no final.
    É por isso que lutamos, se mais não fosse apenas para preservar nossa dignidade como cidadãos conscientes.
    Cordialmente,

PS.: Se você não se incomoda, vou apagar as referências reais e postar a sua bela mensagem para que outros a leiam. Quem sabe, alguém gostará, quem não sabe, se interessará, e talvez ajude a pensar...

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Paulo Roberto de Almeida

O Grande Desastre: um diagnóstico - Fernando Gabeira

As fontes da ira
FERNANDO GABEIRA

Por toda parte, queixas e lamúrias: arrasaram o Brasil, estamos quebrados, tudo fechando, alugando. É uma fase pela qual temos de passar. Quanta energia, troca de insultos, amizades desfeitas. Às vezes penso que a melhor forma de abordar o novo momento é apenas deixar que os fatos se imponham.
Muitas vezes afirmei que o dinheiro roubado da Petrobrás foi para os cofres do PT e usado na campanha de Dilma Rousseff. Caríssima campanha, R$ 50 mil por mês só para o blogueiro torná-la um pouco engraçada.

O primeiro fato importante foi a delação premiada do empresário Ricardo Pessoa. Ele afirmou que deu quase R$ 10 milhões à campanha para não perder seus negócios na Petrobrás. Logo depois surgiram suas anotações, estabelecendo um vínculo entre o dinheiro que destinou ao PT e os pagamentos que recebia da Petrobrás. Verdade que a empresa estava nomeada apenas como PB. Claro que ainda podem dizer que esse PB quer dizer Paraíba, ou pequena burguesia. É um jogo cansativo.

Nem é tão necessário que a investigação defina novos vínculos entre o escândalo, o PT e a campanha de Dilma. Basta assumir as consequências do que já se descobriu. Se o tema vai ser neutralizado no Supremo, se o governo compra um punhado suficiente de deputados, tudo isso não altera minha convicção de que o escândalo desnudou um projeto político criminoso.

Ainda na semana passada o Estadão publicou reportagem sobre a Medida Provisória (MP) 471. Ao que tudo indica, foi comprada. Ela garante a isenção de R$ 1,3 bilhão em impostos. E rendeu R$ 36 milhões em propina.

Não estranho que tenha sido aprovada pela maioria. Eram estímulos para três regiões do País e as respectivas bancadas estavam satisfeitas com isso.

Também não havia, da parte das outras regiões, questionamentos sobre estímulos localizados. O único nó nesse campo, se me lembro bem, era a divisão dos royalties do petróleo.

Muito possivelmente, a emenda foi vendida com o preço da aprovação parlamentar embutido. De qualquer forma, a maioria no Congresso foi enganada e, com ela, todos os seus eleitores.

A empresa que negociou a medida provisória destinou R$ 2,4 milhões ao filho de Lula. Segundo a notícia, ele diz que o dinheiro foi pago por assessoria de marketing esportivo. O pai assina a MP, o filho recebe R$ 2,4 milhões da empresa de lobby. Se você não estabelece uma conexão entre as duas coisas, vão chamá-lo de ingênuo; se estabelece, é acusado de lançar suspeita sobre a reputação alheia.

A maioria das pessoas consegue processar fatos e documentos já divulgados e talvez nem se escandalize mais com a venda de uma MP: é o modo de governar de um projeto. É todo um sistema de dominação. É preciso ser um Jack estripador ou um ministro do Supremo para dizer: vamos por partes.

As conexões estão feitas na cabeça da maioria e nada de novo acontece. Neste momento pós-moderno, em que as narrativas contam, mas não as evidências, o conceito de batom na cueca também se tornou mais elástico. Não é bem uma marca de batom, mas algo vermelho que esbarrou pelo caminho, uma tinta, um morango maduro.

Enquanto se vive este faz de conta nacional, a situação vai se agravar. É muito grande o número de brasileiros que se sentem governados por uma quadrilha. Apesar de não estarem organizados, ou talvez por isso, alguns vão se desesperar, ultrapassando os limites democráticos. O tom do protesto individual está subindo. Dirigentes do PT são vaiados, figuras identificadas até a medula com o partido, como o ministro Lewandowski, também não escapam mais da rejeição popular.

O PT e os intelectuais que o apoiam falam de ódio. De fato, o amor é lindo, mas como ser simpático a um partido que arrasa o País, devasta a Petrobrás e afirma que está sendo vítima de uma injustiça?

Não são apenas alguns intelectuais do PT que se recusam a ver a realidade. No passado, as denúncias de violência stalinista eram guardadas numa gaveta escura do cérebro. Era impossível aceitar que o modelo dos sonhos se apoiava numa carnificina. Agora também parece impossível admitir que o líder que os conduz tem como principal projeto tornar-se milionário. É como se admitissem ser humildes fiéis de uma religião cujo pastor acumula, secretamente, uma fortuna, enquanto teoriza sobre a futilidade dos bens materiais.

A sucessão de escândalos, demonstrando a delinquência do governo, não basta para convencer os mais letrados. E certamente não bastará para convencer os que ignoram a História e são pagos para torpedear o adversário nas redes.

Mas os fatos ainda têm grande força. Lutar contra eles, em certas circunstâncias, não é só um problema de estupidez, mas também de estreita margem de manobra.

Se o governo não pode aceitar que suas contas sejam recusadas por unanimidade no TCU, não resta outro caminho senão tentar melar o julgamento. Sabem que todos estão vendo sua jogada e talvez experimentem uma ligeira sensação de ridículo. Mas o que fazer?

A única saída decente seria renunciar. Mas, ao contrário, decidiram ficar e convencer os críticos de que estão cegos por causa de sua ideologia de direita, conservadora e elitista.

Isso radicaliza a tática de Paulo Maluf, que insiste em dizer que não tem conta na Suíça, que o dinheiro e a assinatura não são dele. Maluf apenas nega o que estamos vendo. O PT nos garante que há algo de errado com nossos olhos.

Pessoalmente, na cadeia e no Congresso, fui treinado a discordar, mas conviver com as pessoas, apesar de seus crimes. Nem todos os brasileiros pensam assim, na rua. Não é possível irritar as pessoas ao extremo e, quando reagem, classificá-las de intolerantes.

O momento é uma encruzilhada entre a ira popular e a enrolação institucional. Com todos os seus condenáveis excessos, a raiva nas ruas é que tem mais potencial transformador.

A esquerda sempre soube disso. Agora, com o traseiro na reta, o PT descobre o amor.

* FERNANDO GABEIRA É JORNALISTA

Revue L'Histoire: la destruction de Palmyre par l'Etat Islamique - Maurice Sartre

Palmyre, la dernière visite

image : Palmyre, la dernière visite
Daech à Palmyre fut un coup de tonnerre, les fanatiques du prétendu État islamique ayant traversé 250 km de désert sans subir la moindre frappe, ni du régime de Damas, ni de la coalition internationale. L'abandon du site par les troupes de Bachar el-Assad signifiait la destruction du site gréco-romain le plus emblématique de tout le Proche-Orient. Car l'obscurantisme des troupes s'accommode très bien d'une connaissance exacte, par leur état-major, de ce qui horrifie les Occidentaux et terrorise les populations : la destruction de Palmyre était inévitablement un objectif prioritaire.
Maurice Sartre est un des meilleurs spécialistes de la Syrie antique. Il livre sur le site de L'Histoire une visite guidée qui nous fait mesurer à quel point les disparitions du temple de Baalshamin, du sanctuaire de Bel et des tours funéraires sont des pertes archéologiques inestimables.
© photo : Maurice Sartre - droits réservés.

sábado, 10 de outubro de 2015

La historia de America latina, al alcance de todos - Coleccion Fundacion Mapfre - Carlos Malamud

Participei de um dos volumes, com um artigo sobre o reconhecimento da independência do Brasil pela Espanha:

Paulo Roberto de Almeida,
“Brasil”. In: Malamud, Carlos (coord.). Ruptura y Reconciliación: España y el
reconocimiento de las independencias latinoamericanas (Madrid: Ed. Taurus y
Fundación Mapfre, 2012, 402 p.; Serie Recorridos n. 1; América Latina en la Historia
Contemporánea; p. 199-212; ISBN: 978-84-306-0940-6 (Taurus); 978-84-9844-392-9
(Mapfre); links: http://www.editorialtaurus.com/es/libro/ruptura-y-reconciliacion/;
http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/MalamudEspana2012.html);
Academia.edu (link:
https://www.academia.edu/5794752/092_Brasil_reconocimiento_de_la_independencia_por_Espana_2012_). Relação de Publicados n. 1078. Relação de Originais n. 2112.

Coleccion America-Latina H.Contemporanea

Claves del Portal de Historia Fundación Mapfre

La historia de América latina, al alcance de todos

Infolatam
Madrid, 9 de marzo de 2014
Las claves
  • La web aspira a ser un foro, sobre todo a través del blog, que propicie la vinculación, un lugar de encuentro para los interesados en la historia latinoamericana.
Una historia de América latina escrita por latinoamericanos y puesta al alcance de todos. Ese es el gran objetivo que persigue el Portal de Historia Fundación Mapfre. La historia de Latinoamérica está ya en la web con contenidos frescos, novedosos y que se van a estar constantemente renovando.
El portal crea un espacio accesible a todos y abierto al debate histórico incluidos temas de actualidad. Un Portal que además es trilingüe (español, portugués e inglés) y que está estructurado en tres secciones: la Colección, que supone una sistematización online del proyecto editorial Colección América Latina en la Historia Contemporánea.
El Blog, un punto de encuentro de las opiniones e ideas de especialistas, que debaten sobre la relectura de los hechos históricos que vinculan entre sí a las naciones latinoamericanas.
Carlos Malamud, catedrático de la UNED y coordinador del portal, recuerda que “aquí se encuentran post de historiadores sobre temas concretos o post centrados en temas especiales y monográficos como el que acabamos de dedicar a los problemas limítrofes a raíz de la reciente sentencia de La Haya sobre al controversia entre Chile y Perú”.
La web cuenta con tres secciones: la Colección de Historia de América latina, el Blog y los Archivos. Pronto se añadirán la Biblioteca Digital y otra de Fotografía
La web aspira a ser sobre todo a través del blog un lugar de encuentro para los interesados en la historia latinoamericana. El blog busca ser un espacio desde donde trabajar la visión de conjunto de la región, un agente dinamizador de la divulgación sobre la historia,
“Asimismo está previsto que en este 2014 haya dossieres especiales dedicados, entre otras cosas, a “América latina y la I Guerra Mundial” con ocasión del primer centenario de comienzo del conflicto y otro a “América latina y el fútbol” con ocasión de la disputa del Campeonato del Mundial en Brasil”, comenta Malamud.
Y por último, en el portal se encuentra la sección Archivos, una base de datos que da acceso a más de 1.000 registros y enlaces que sirven para facilitar el acceso al conocimiento de los fondos archivísticos latinoamericanos.
Además en el futuro cercano está previsto que el portal se amplíe con una sección de la Biblioteca Digital y otra de Fotografía, donde se recopilan los volúmenes dedicados a la historia de la fotografía de cada uno de los países.
El Director del Área de Cultura de FUNDACIÓN MAPFRE, Pablo Jiménez Burillo, recuerda que la Fundación Mapfre lleva desde los años 80 impulsando el conocimiento de América latina desde múltiples puntos de vista, en especial cultural e histórico, apoyando, por ejemplo, la digitalización de fuentes. El objetivo del portal ha sido aprovechar todo el trabajo acumulado durante décadas adaptándolo a las nuevas tecnologías y al mundo actual de las nuevas tecnologías de la información y la comunicación.
La Colección América Latina en la Historia Contemporánea
La Colección América Latina en la Historia Contemporánea es sin duda el gran tesoro del portal donde se ha buscado “abordar una historia integral y global de América latina con una visión novedosa y moderna. Hacer una historia de Latinoamérica en que cada capítulo tenga sentido en sí mismo. Hemos reunido a 400 historiadores que abanrcan toda la diversidad geográfica, académica e ideológica con el objetivo de tener una visión muy plural y contrastada”, comenta Jiménez Burillo.
Coleccion America-Latina H.Contemporanea
Coleccion America-Latina H.Contemporanea
“Es una historia de América latina vista como una unidad, una visión continental sin perder la singularidad de cada país en donde -subraya Jiménez Burillo- se une lo particular con lo general. Eso es lo más novedoso. La obra tiene una perspectiva global que permite comparar la evolución por periodos y por materias”.
Esta Colección cuenta además las historias nacionales y de los países que han tenido una intensa relación con la región. Aborda temáticas comunes (política, relaciones internacionales, economía, demografía y sociedad y Cultura) y tiene volúmenes especiales monográficos que analizan aspectos importantes para comprender la historia latinoamericana.
Daniel Restrepo de FUNDACIÓN MAPFRE, recuerda que “la colección “América Latina en la Historia Contemporánea” ofrece una visión sintética y rigurosa de los principales acontecimientos y procesos históricos de cada uno de los países que fueron incluidos, desde su inicio como naciones independientes hasta la actualidad”.
Todos estos temas se abordan en cinco volúmenes con el siguiente corte cronológico: “1808-1830. Crisis imperial e independencia”, “1830-1880. La construcción nacional”, “1880-1930. La apertura al mundo”, “1930-1960. Mirando hacia adentro” y “1960-2000. En busca de la democracia”.
Además, sobre cada uno de estos países se publica un libro adicional que realiza un recorrido por su historia a través de una cuidada selección de fotografías.
“La gran revolución de Mapfre es impulsar una historia de la región escrita por latinoamericanos. No es una histaria de América latina al uso sino de una América latina insertada en el mundo por eso se estudian también cómo fiueron las relaciones entre España, Francia, Estados Unidos, Reino Unido con Latinoamérica”, añade Malamud.
Está dirigida al gran público, a profesionales de la historia estudiantes y público en general con un lenguaje cuidado. No es una obra de una determinada escuela historiográfica pues se ha buscado que haya una amplia diversidad y representación de tendencia. En cada país hay un coordinador nacional y unos coordinadores de cada volumen que han elegido, de forma autónoma, a los autores de los capítulos.
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Conhecendo o Sistema Politico Chines - Thais M.-S. Fernandes

Para quem desejar conhecer o sistema político chinês, recomendo este pequeno, mas altamente instrutivo trabalho:

Thais Moretz-Sohn Fernandes:
Conhecendo o Sistema Político Chinês
Brasília: Apex, 2014, 23 p,; ISBN: 978-85-66713-06-0
 

disponível: http://arq.apexbrasil.com.br/emails/institucional/2014/135/ConhecendoOSistemaPoliticoChines.pdf

O TransPacific Partnership e seu impacto sobre o Mercosul - Paulo Roberto de Almeida


O TransPacific Partnership e seu impacto sobre o Mercosul

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor de Economia no Uniceub (Brasília).

Doze países da orla do Pacífico – membros da APEC (Cooperação Econômica da Ásia Pacífico), alguns da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), os três do NAFTA (Canadá, Estados Unidos e México) e três dos quatro membros latino-americanos da Aliança do Pacífico (Chile, Peru e México, mas a Colômbia também cogita aderir) – assinaram em 5 de outubro de 2015 um grande acordo de liberalização do comércio nessa vasta região. As siglas já indicam que não se trata de algo surgido do nada, mas sim a evolução de um processo que ocorre paralelamente aos progressos da globalização nas últimas duas ou três décadas. Existem boas perspectivas de que a Coreia do Sul e outros países da região possam aderir em negociações ulteriores, embora vários observadores se apressaram em sublinhar o fato de a China ter sido mantida (por enquanto, pelo menos) à margem desse gigantesco acordo de liberalização comercial. Esse fato, do qual muitos extraem conclusões geopolíticas apressadas, pode não significar muito no plano prático: o gigante asiático, tanto quanto o Japão, um dos grandes signatários, estará de fato presente nos intercâmbios a serem realizados ao abrigo do acordo, pelos seus muitos vínculos de investimentos e de integração produtiva já consolidados ao longo da (e em toda a) imensa bacia do Pacífico.
A decisão de coroar um difícil processo negociador – que tinha sido iniciado em 2008 – por um acordo ambicioso de liberalização comercial e de facilitação de diversos outros tipos de negócios se insere na tendência acelerada nas duas últimas décadas que é conhecida como “regionalização”. Mas ela também poderia ser identificada ao chamado “minilateralismo”, por oposição ao formato básico do sistema multilateral de comércio, regido pelas normas do GATT – o Acordo Geral de Tarifas e Comércio, de 1947, revisto em 1994 – e administrado pela Organização Mundial de Comércio (OMC), ela mesma criada nesse último ano, mas que representa a última das três organizações da ordem econômica mundial, cujo desenho tinha sido feito pela primeira vez em Bretton Woods, em 1944. A regionalização constitui, justamente, uma das exceções ao regime geral do GATT, no sentido em que ela permite, contra os princípios gerais de nação-mais-favorecida, tratamento nacional e reciprocidade desse instrumento, que as nações partícipes de esquemas mais restritos de liberalização comercial não tenham de aplicar o mesmo tratamento a todos os membros do acordo, mas que possam manter, contrariamente ao artigo primeiro do GATT, certo grau de discriminação contra parceiros comerciais não membros desse acordo mais restrito.
No caso desse acordo do Pacífico, como também de outros blocos comerciais em vigor – em geral sob a forma de áreas preferenciais de comércio ou de zonas de livre comércio, com alguns poucos casos de uniões aduaneiras, como a UE e, tentativamente, o Mercosul –, a redução das tarifas aduaneiras aplicadas ao comércio recíproco nem constitui o aspecto mais importante do esquema: as tarifas comerciais já são, para todos os efeitos, muito baixas (com possíveis exceções na área agrícola, terreno, aliás, de muitas das exclusões pontuais à liberalização), ou inexistentes, inclusive por força de acordos já concluídos, como é o caso do famoso ITA, o acordo que zera as tarifas para uma imensa gama de bens tecnológicos (geralmente de informática, ou eletrônicos em geral). Com exceção do Mercosul, e de alguns outros blocos comerciais incipientes entre países em desenvolvimento, as tarifas industriais entre parceiros avançados e em vigor nos grandes acordos de comércio – como os de “associação” patrocinados pela UE – as barreiras tarifárias não costumam ter a função protecionista que elas assumem no âmbito do chamado “Sul Global”, embora as exceções pontuais e o tratamento especial dado a alguns setores (agricultura, em grande medida) possam ser relevantes. Mas, se as tarifas não são tão importantes nesse acordo do Pacífico, por que, então, as dificuldades negociadoras, e as relutâncias já expressas por legisladores (sobretudo nos Estados Unidos) aos seus termos?
Isto se deve a que o TransPacific Partnership não é um simples acordo de acesso a mercados, ou seja, tratando apenas de tarifas de bens, e sim um acordo abrangente que se estende às muitas áreas que, na linguagem da OMC, são introduzidas pela expressão “aspectos comerciais de...”, ou seja, temas regulatórios e normas. Aqui figuram, entre outros, investimentos, barreiras técnicas, propriedade intelectual, normas fitossanitárias, meio ambiente, regulações laborais, compras governamentais, aperfeiçoamento dos mecanismos de solução de controvérsias, sem mencionar o importante campo dos serviços (sobretudo os financeiros, onde atualmente se destacam gigantes como os próprios EUA, mas também cidades-Estados como Cingapura, ou “enclaves” como Hong Kong). O Vietnã, por exemplo, terá de atender a alguns dos critérios expressos no acordo que regulam normas laborais, permitindo a criação de sindicatos independentes, que possam lutar pelos interesses reais dos trabalhadores, sem a interferência do partido comunista, que mantêm a postura contrária a sindicatos livres dos marxistas no poder.
São esses os terrenos que passarão a ocupar um espaço significativamente maior do que o próprio comércio de bens nos intercâmbios entre essas economias, que a julgar por estimativas apresentadas recentemente já representariam 40% do PIB mundial (mas menos de 30% pelo critério da paridade de poder de compra). Na verdade, os membros do TPP são ainda mais relevantes do que a simples agregação dos PIBs nacionais, e os seus números desafiam qualquer comparação com o Mercosul, e ultrapassam até mesmo os indicadores mastodônticos vinculados à UE com seus 27 membros. O Mercosul, mesmo incorporando Venezuela e Bolívia (que não poderiam, a rigor, ser considerados membros plenos do bloco, sendo antes países associados a ele), empalidece em face dos dois grandes blocos comerciais da atualidade, como também da China, o novo gigante da economia mundial; o coeficiente de comércio exterior do Mercosul, por exemplo, representa apenas 19% do PIB, contra 24% da China, 25% da UE e mais de 31% para o TPP. A tabela abaixo, com estatísticas de PIB segundo o critério da paridade de poder de compra, apresenta os mais importantes indicadores vinculados a comércio.

Uma comparação entre esses blocos em seus respectivos indicadores permite verificar seu potencial impacto mundial em termos econômicos e comerciais. O TPP, por exemplo, com apenas um décimo da população mundial realiza mais de 22% das exportações globais, contra valores respectivos de 7% da população total para a UE com apenas 11% das exportações mundiais. A China, um gigante populacional, com mais de 18% dos habitantes do planeta, ultrapassa a UE em matéria de exportações, perfazendo sozinha 11,8% das vendas mundiais. O Mercosul a seis países, ainda que detendo mais de 4% da população do mundo, representa apenas 2,3% das exportações totais, mas apenas 1,8% do total quando reduzido aos seus quatro membros originais.
Em termos do PIB global, os contrastes são igualmente significativos: o TPP representa 27,12% do valor agregado mundial (ppp), contra números relativamente similares entre a China (16,47%) e a UE (16,45); o Mercosul a seis, em contraste, representa apenas 4,07% do PIB mundial, mas tão somente 3,5% no formato a quatro países. A importância do comércio exterior na economia de cada um dos blocos é bastante diferenciada, mostrando o dinamismo relativo de cada economia tal como refletido nas exportações respectivas: os países do TPP exportam, na média, US$ 6,41 per capita, ao passo que esse valor cai para US$ 4,27 no caso da UE e para apenas US$ 1,66 por cada chinês; em contraste, os valores das exportações por habitante no Mercosul a seis são de apenas US$ 1,44 e ainda inferior no caso do bloco reduzido a quatro países: US$ 1,16. Aqui se trata de valores brutos das exportações, sem considerar sua composição, o que certamente redundaria numa participação ainda mais irrelevante no caso do Mercosul em termos de bens de maior valor agregado, ou seja, de mais elevada elasticidade-preço (o Mercosul, na verdade, não vende muito ao mundo, apenas é requisitado em termos de oferta de commodities e matérias-primas energéticas).

Pois bem, independentemente de quais possam ser os desdobramentos regionais e internacionais do acordo TPP e de sua incidência nos grandes fluxos mundiais de comércio de bens e serviços, caberia registrar, ainda que brevemente, seus impactos para o Mercosul e do ponto de vista dos interesses brasileiros. Em primeiro lugar, é evidente que, no plano estrito das competitividades setoriais, as preferências intercambiadas entre os membros do TPP reduzem a – já bastante diminuída – penetração de produtos brasileiros e dos demais países do Mercosul na região coberta pelo novo acordo, com a possível exceção, ainda que parcial, das commodities (que possuem seus próprios canais e mecanismos de fixação de preços) e dos parceiros sul-americanos. Um outro aspecto de alta relevância é o de que, mesmo sendo um acordo “regional”, é evidente que o TPP vai influenciar o formato, o escopo e a abrangência de outros acordos do gênero, além dos próprios acordos multilaterais, seja um Doha redivivo, ou qualquer outro esquema substituto ou sucessor, não esquecendo as negociações em curso para um acordo bi-regional UE-Mercosul. Possivelmente, ou quase certamente, novas rodadas de negociações, no plano multilateral ou em escala mais limitada geograficamente, passarão a incorporar demandas por sua ampliação das tradicionais barganhas por acesso a mercados a aspectos regulatórios já mencionados.
Em terceiro, e talvez mais importante lugar, esse acordo, assim como os demais já existentes ou em negociação – como o “transatlântico”, entre EUA e UE – tendem a conformar o padrão das trocas internacionais no futuro previsível e já definem, desde muito, o processo em curso de integração mundial das cadeias produtivas, das quais o Brasil e seus “sócios” do Mercosul estão em grande medida excluídos. Depois das decisões tomadas na era Collor de abertura econômica e de liberalização comercial unilateral – ou seja, uma reforma tarifária feita essencialmente no interesse do próprio Brasil – e que influenciaram positivamente os ganhos de produtividade e o aumento da competitividade dos produtos brasileiros, o país nunca mais experimentou uma redução significativa de barreiras aduaneiras, tendo, ao contrário, aumentado o seu grau ainda elevado de protecionismo comercial (sem mencionar a Argentina, que se excedeu nesse tipo de restrição).
Não estranha, assim, que todas as avaliações feitas a propósito do TPP no Brasil foram num tom de lamento conformado com o nosso isolamento mundial (em grande medida atribuído à “bola de ferro” do Mercosul). Todos os observadores se perguntam se o Brasil vai continuar na mesma letargia registrada nos últimos anos, apostando todas as suas fichas num longínquo acordo multilateral ou no sucesso de um pouco plausível arranjo Mercosul-UE. O país paga o preço, atualmente, pelos muitos anos de retração comercial e introversão econômica, e quiçá por décadas de políticas setoriais excessivamente calcadas no mercado interno, sobre as quais vieram agregar-se a miopia inacreditável que consistiu na preferencia ideológica por uma tal de diplomacia Sul-Sul, além da tolerância para com os desmandos argentinos em relação ao livre comércio no Mercosul. Tudo tem um custo, e o Brasil conhece hoje os danos provocados pelas políticas equivocadas dos últimos doze ou treze anos.

Hartford, 9 de outubro de 2015, 5 p.

Funag lança "Bioética, governança e neocolonialismo" - Prata da Casa


FUNAG lança "Bioética, governança e neocolonialismo"

 A FUNAG publicou o livro “Bioética, governança e neocolonialismo”, tese de autoria do diplomata Alexandre Brasil da Silva aprovada em 2014 pelo Curso de Altos Estudos (CAE) do Instituto Rio Branco.

O livro acompanha o desenvolvimento lógico da bioética na segunda metade do século XX por meio dos principais acontecimentos verificados no campo da governança, chegando às duas Declarações internacionais de especial relevo para o objeto de estudo escolhido – a Declaração das Nações Unidas sobre a Clonagem Humana e a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos da Unesco. Aborda também um tema global controverso da agenda bioética contemporânea: as pesquisas clínicas transnacionais que envolvem sujeitos humanos na sua realização.

O autor parte do histórico da bioética e dos debates contemporâneos sobre o tema, passando pela análise do que denomina de “Governança da Bioética” no Brasil e no âmbito internacional, incluindo o sistema das Nações Unidas.

O livro já está disponível para download gratuito no site da FUNAG.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...