quinta-feira, 21 de maio de 2020

Conheça 10 bandeiras que o Brasil não teve - Fabio Marton (FSP)


Conheça 10 bandeiras que o Brasil não teve





Bandeira na madeira (Imagem: PxHere/CC)

Fábio MartonFSP, 21/05/2020
Ontem as redes estavam animadas com a proposta do influencer Felipe Neto de “ressignificar” a bandeira do Brasil, tomando-a de volta da extrema direita. Em meio a isso, surgiu um burburinho de gente que acredita que nossa pobre bandeira é um caso perdido e talvez precise de um redesign.
A atual bandeira do Brasil foi criada meio às pressas, em 4 dias, após a proclamação da República, e aprovada sem votação ou cerimônia, o que incomodou, como veremos, muita gente no começo do novo regime. É uma adaptação da bandeira do Império, na qual as cores representavam simplesmente a Casa de Bragança e a Casa de Habsburgo (de Dom Pedro e Maria Leopoldina), e o losango se estendia até a margem. O círculo celestial não parece, mas representa a velha esfera armilar, o símbolo mais antigo da nação. Era um objeto físico, que representa não a Terra, mas os astros na “esfera” do céu, dispostos em arcos móveis. Servia para guiar marinheiros no tempo das Grandes Navegações e daí se tornou o símbolo da maior posse colonial portuguesa.
Sem discutir o mérito da bandeira ou de seu uso político atual, não deixa de ser uma oportunidade para lembrar que poderíamos, de fato, ter uma bandeira muito diferente – e com significados diferentes. Veja a seguir.
1. BANDEIRA DO REINO DO BRASIL, 1816
Em 16 de dezembro de 1815, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves. Nessa condição, o Reino do Brasil era uma entidade política própria, não mais mera colônia. Assim, precisava de uma bandeira própria. Numa Carta de Lei de 13 de maio de 1816, Dom João 6º descreveu a bandeira do Reino do Brasil como uma esfera armilar dourada (já usada antes como símbolo da colônia) num fundo azul. A bandeira, aparentemente, nunca foi feita.

Bandeira do Reino do Brasil (Imagem: Wikimedia Commons)

2. BANDEIRA DE DEBRET, 1820
Em 1820, Dom João 6º pediu ao pintor francês Jean-Baptiste Debret, em missão para retratar o Brasil, que criasse uma nova bandeira brasileira, também contendo a esfera armilar. O que ele queria – talvez até prevendo a independência – nunca ficou claro, mas, com alterações no escudo, a bandeira de Debret seria a base da bandeira do Império e, por herança, da atual.

Bandeira do Brasil independente por Debret, 1820 (Imagem: Wikimedia Commons)

3. BANDEIRA DE JÚLIO RIBEIRO, 1888
Antes do fim do Império, o militante republicano Paulista fez uma bandeira inspirada na dos Estados Unidos, mas com cores diferentes. O branco, preto e vermelho representam as raças do Brasil e as estrelas são a constelação do  Cruzeiro do Sul. Não aceita, numa versão com 13 faixas no lugar das 15 de Júlio, ela se tornaria símbolo do lado paulista na Revolução Constitucionalista (ou Guerra Civil?) de 1932, e quase certamente seria a nova bandeira do Brasil se vencessem. Como memória do conflito, se tornaria a bandeira de São Paulo em 1946.

Bandeira de Júlio Ribeiro (Imagem: Wikimedia Commons)

4. BANDEIRA DO CLUBE REPUBLICANO, 1889
Outra cópia da bandeira americana foi criada pelo republicano carioca Júlio de Trovão e, numa versão com uma cor diferente (azul claro) no escudo, hasteada nos primeiros quatro dias da República.

Bandeira por José Lopes da Silva Trovão (Imagem: Wikimedia Commons)

5. BANDEIRA DE SILVA JARDIM, 1890
O jornalista republicano mineiro Antônio de Silva Jardim foi um dos que não gostaram da bandeira oficial da República, parecida demais com a do Império, nem queria copiar a bandeira dos EUA. Seguindo a mesma ideia das três raças do Paulista Júlio Ribeiro, criou uma bandeira republicana – a República é representada pelo barrete frígio em cima do escudo, um símbolo que data de Roma Antiga, representando os escravos libertos, e usado como símbolo republicano na Revolução Francesa. Também traz de volta a velha esfera armilar, com uma âncora, para deixar clara a ligação com navegações.

Bandeira de Antônio de Silva Jardim (Imagem: Wikimedia Commons)

6. BANDEIRA DO BARÃO DO RIO BRANCO, 1890
O patrono da diplomacia brasileira também apresentou um projeto tricolor que não parecia a bandeira do Império nem a dos EUA, reintroduzindo também a Cruz da Ordem de Cristo, símbolo de Portugal, um sol à moda argentina e uruguaia, e com estrelas representando os Estados.

Projeto do Barão do Rio Branco (Imagem: Wikimedia Commons)

7. BANDEIRA DE OLIVEIRA VALADÃO, 1892
Com a ascensão do ditadorial Floriano Peixoto, o senador militar Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão propôs militarizar a bandeira, colocando o brasão no meio.

Projeto de Oliveira Valadão (Imagem: Wikimedia Commons)

8. BANDEIRA DE EURICO DE GÓIS, 1908
Em seu livro Os Símbolos Nacionais, o advogado baiano criticou a adoção do lema positivista (“o slogan de uma pequena seita”) na bandeira brasileira, dizendo que uma bandeira devia fazer jus à tradição e à história de um povo. Também criticava o erro da configuração das estrelas no céu. Em seu lugar, propôs uma bandeira retomando as proporções da do Império (o losango até o canto), e um brasão lembrando quatro períodos da história do Brasil: a estrela branca é a República, o anel azul é o Império, a esfera armilar é o breve Reino sob Dom João, e a cruz é o Brasil-colônia.

Bandeira de Eurico de Góis, 1908 (Imagem: Wikimedia Commons)

9. BANDEIRA DE EURICO DE GÓIS, 1933
O agora político baiano voltou à carga novamente na Constituinte de 1933, desta vez concedendo aos positivistas da República o direito de figurarem com o círculo do Cruzeiro do Sul.

Bandeira de Eurico Góis, 1933 (Imagem: Wikimedia Commons)

10. BANDEIRA DE VENCESLAU ESCOBAR, 1908
Outro que não era fã do slogan positivista, o parlamentar gaúcho propôs, no mesmo 1908 em que Góis lançava seu livro, uma solução minimalista: arrancar a faixa. Foi um projeto de lei que ficaria engavetado por 20 anos, até ser reprovado.

Bandeira de Wenceslau Escobar, 1908 (Imagem: Wikimedia Commons)


Artista faz intervenção na embaixada do Brasil em Paris em protesto contra Bolsonaro - Daigo Oliva (FSP)


Artista faz intervenção na embaixada do Brasil em Paris em protesto contra Bolsonaro
Julio Villani pendurou panos pretos com mensagens como 'e daí?' na representação diplomática

Daigo Oliva
SÃO PAULOFSP, 21/05/2020
Na fachada da embaixada brasileira em Paris, panos pretos. O primeiro deles levava o " Junto à frase do presidente, dezenas de cruzes.
Ao lado da primeira mensagem, uma bandeira nacional às avessas. Em vez do fundo verde, preto. Em vez do círculo azul, vermelho. Em vez de "ordem e progresso", "caos e obscurantismo".
Assim Julio Villani protestou contra Bolsonaro nesta quinta (21). Num dos portões da representação diplomática, localizada próxima ao rio Sena, numa das regiões mais sofisticadas da capital francesa, o artista realizou a intervenção "Pano Preto na Janela", com manifestações contrárias ao mandatário.
Intervenção 'Pano Preto na Janela', do artista Julio Villani, no prédio da embaixada brasileira em Paris
Intervenção 'Pano Preto na Janela', do artista Julio Villani, no prédio da embaixada brasileira em Paris - Sandra Hegedus/Divulgação
Além do "e daí?" e da bandeira, colocou em outras quatro faixas nomes de povos indígenas em meio a chamas, uma série de advérbios de modo —arrogantemente, execravelmente, ignobilmente—, um chamativo #ForaBolsonaro e uma arma que atira contra a dignidade, a justiça, o respeito, a memória, a integridade e, por fim, o Brasil.
"O governo brasileiro fornece dia e noite material para alimentar esse e vários outros tipos de intervenção", afirma Villani, questionado sobre a escolha das palavras no ato. Em respostas curtas, o artista sustenta que as imagens falam por si e "não carecem de um discurso outro".
Manter as mensagens em português num protesto realizado na França pode soar contraditório, mas ele argumenta que foi a maneira de fazer um ato de presença no Brasil —e por isso a escolha da embaixada como local da manifestação—, "com os e como brasileiros que somos".
Foi elaborada, porém, uma breve explicação em francês do conteúdo de cada peça, além do contexto sobre o movimento que incentiva, no Brasil, pessoas insatisfeitas com as políticas de Bolsonaro a pendurar panos pretos nas janelas de suas casas.
Diferentemente de atos que jogaram tinta vermelha contra os prédios de representações diplomáticas do Brasil em Zurique e Londres, o artista ressalta que, por respeito ao patrimônio histórico e arquitetônico, o protesto foi desenhado para não causar danos ao edifício da embaixada, tanto que, relataram amigos a ele, os panos foram retirados horas depois de serem pendurados sem deixar vestígios.
Paulista de Marília, Villani vive entre Paris e São Paulo desde 1982. Tem sólida carreira internacional, com mostras em diversos países, como Itália, Espanha, Canadá e, claro, França. Segue a herança construtivista, modernista, e sempre foi atento à vanguarda cinética.
Além das seis faixas pretas, o artista também deixou uma sétima, mas com fundo branco, dimensões mais modestas e tipologia diferente. Com a estética das placas populares de vende-se, aluga-se ou trago seu amor de volta, o cartaz anuncia que "um outro Brasil é possível".
"Trata-se de um cartaz sobretudo caseiro, daquele tipo de coisa ao alcance de todos. É so fazer", afirma.
Procurado, o ministério das Relações Exteriores não respondeu, até o momento da publicação deste texto, à mensagem enviada pela reportagem a respeito da intervenção.

Trump surfa no puxa-saquismo de Bolsonaro para tirar sarro do Brasil - Andrei Meireles (Os Divergentes)

Trump surfa no puxa-saquismo de Bolsonaro para tirar sarro do Brasil

Nem em seus momentos mais sombrios, a diplomacia brasileira foi tão capacho e recebeu tanto desprezo de um governo dos Estados Unidos.
Trump e Bolsonaro nos Estados Unidos
O que nessa pandemia do novo coronavírus rendeu a incondicional submissão do governo brasileiro a uma suposta parceria com a gestão de Donald Trump? O de mais concreto foi a pirataria com compras de respiradores e outros insumos básicos por estados brasileiros  tomados pela mão grande dos supostos aliados americanos. Em suas performances nas entrevistas coletivas, quando em dificuldade, Trump sempre apelou para ameaças ao Brasil, como o reiterado anúncio de que pode suspender os voos entre os dois países. Isso virou um descarado recurso em seus embates com a imprensa, mesmo consciente de que a epidemia nos Estados Unidos é maior do que a brasileira, por saber que o governo Bolsonaro vergonhosamente o agasalha.
Em nova entrevista nessa terça-feira (19), Donald Trump primeiro repetiu, com mais gravame, a mesma ladainha sobre os voos do Brasil para os Estados Unidos. “Não quero que esse povo venha para cá infectar americanos”. Depois seguiu em seu roteiro de mentiras. Disse que estava ajudando o Brasil com muitos respiradores. Insinuou inclusive que seriam milhares. Se fosse verdade, seriam bem-vindos. Estão fazendo muita falta. Pelo o que até agora se sabe, é mais uma cascata. A mentira torna mesquinho até o saudável hábito dos americanos de valorizar cada dólar que doam, afinal é dinheiro do seu contribuinte.
O embaixador americano Todd Chapman e o presidente Jair Bolsonaro – Foto Divulgação/PR
Nessa terça-feira, foi anunciado que o governo americano doou mais US$ 3 milhões (na maluquice do nosso câmbio diário, chegou a R$ 17 milhões). É uma ajuda com a pretensão de atender a Fiocruz e a 99 municípios brasileiros em todas as fronteiras do país nessa guerra bilionária contra a pandemia. Com até mais pompa, o novo embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, anunciou no começo do mês uma ajuda para o combate ao novo coronavírus de exatos US$ 950 mil. Vendeu essa grana como uma grande ajuda.
Em qualquer conta nas várias frentes de combate a ascendente epidemia no país, não passam de merrecas. O governo americano melhor ajudaria se impedisse a pirataria contra a desesperada tentativa brasileira de comprar equipamentos essenciais ao combate do novo coronavírus.
O ex ministro das Relações Exteriores do Brasil, Azeredo da Silveira, discursa na ONU
Nem quando, logo após o golpe militar de 1964, o embaixador Juraci Magalhães pronunciou a célebre frase “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”, a diplomacia brasileira se submeteu tanto à americana. Sequer agora tendo a justificativa da Guerra Fria. Atropela inclusive toda a doutrina militar de soberania nacional. Um dos pilares do sucesso internacional da diplomacia brasileira foi seu profissionalismo, que virou política de Estado na gestão do chanceler Azeredo da Silveira, no governo do general Ernesto Geisel.
Agrava esse problema o fato de Bolsonaro tratar a tragédia como uma pilhéria. Ele diz que não está nem aí. E insiste na mesma aposta sem base científica: “Quem for de direita toma cloroquina, de esquerda toma Tubaína”. E a vida que siga ou não nessa roleta presidencial.
O fãs de Bolsonaro levam a propaganda da Cloroquina às ruas – Foto Orlando Brito
Bolsonaro continua dando seu show de insensibilidade, com o aparente propósito de exibir nesse suposto machismo uma coragem que não demonstra quando enfrenta paradas reais. Sua paranoia diante  investigações, supostas ou reais, mostra uma covardia diante de qualquer ameaça a seu clã familiar.
Por causa desse receio, ele mete os pés pelas mãos e transforma seu governo em um pandemônio. Ninguém ali com alguma competência se sente seguro. Todos se sentem cada vez mais à deriva pelo piloto inseguro que perdeu o rumo. Que não sabe mais, apesar de cercado por uma penca de militares, como navegar nesse nevoeiro.  Sequer consegue enxergar que o Brasil só perde com a idolatria cega e de mão única do seu clã e de seus gurus a Donald Trump.
O que ainda piora todo esse quadro é a sensação de falta de altivez dos chefes militares.
É triste assim.

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