sábado, 26 de julho de 2025

Rubrns Barbosa: “ EUA: não há mais liberalismo, mas lei da selva! - Cristiano Romero (Vero Noticias)

 Cristiano Romero entrevista Rubens Barbosa: não é apenas chumbo grosso que vem dos EUA de Trump contra o Brasil: são diversas bombas de muitos megatons:


EUA: não há mais liberalismo, mas lei da selva - Rubens Barbosa

Por Cristiano Romero

Vero Notícias, 25/07/2025


Com a acidez e o pragmatismo que lhe são peculiares, o embaixador Rubens Barbosa não poupa palavras para descrever o cenário atual das relações entre o Brasil e os Estados Unidos, especialmente diante do controverso governo de Donald Trump. Em entrevista exclusiva ao portal Vero Notícias, Barbosa desvenda as camadas desse embate, que classifica sem rodeios como a “lei da selva” nas relações internacionais.

É importante ressaltar que a visão de Rubens Barbosa sobre as relações bilaterais não é a de um mero observador, mas de um diplomata com profunda experiência. Tendo atuado como embaixador do Brasil nos Estados Unidos entre 1999 e 2004, período particularmente turbulento da vida americana — marcada pelo questionamento da eleição de George W. Bush, pelos ataques de 11 de setembro e pela invasão do Iraque pelos EUA a partir de informações falsas —, Barbosa demonstrou ser um hábil negociador de questões complexas envolvendo os dois países. Trabalhou intensamente na preparação do governo americano para a posse de um presidente brasileiro de esquerda (Lula, em seu primeiro mandato). Sua compreensão da dinâmica de Washington, forjada em momentos de alta tensão, confere ainda mais peso às suas análises.

A crítica inicial vem ao classificar a gestão de Trump. Para Barbosa, o que se vê é um unilateralismo sem freios, um abandono do multilateralismo que pavimentou a ordem global pós-Segunda Guerra. Em outras palavras, a diplomacia deu lugar à imposição, e o Brasil, como outros países, se vê enredado nessa teia de decisões tomadas à revelia dos acordos coletivos. A verdade nua e crua é que Washington agora dita as regras, e quem não se ajusta, arca com as consequências.

E não se deve ter ilusões: o legado de Trump, por mais errático que pareça, não é efêmero. Barbosa, com a sua habitual perspicácia, adverte que muitas das bandeiras levantadas pelo presidente americano tendem a permanecer, independentemente de quem ocupe a Casa Branca. A razão é simples e brutal: os EUA estão rachados ao meio, com 50% da população chancelando as ações de Trump. Isso significa que as tarifas, as pressões comerciais e a postura isolacionista não são meros caprichos, mas reflexos da visão de uma parcela significativa do eleitorado americano.

Diante desse quadro, o embaixador é categórico: o Brasil precisa acordar para a nova realidade. Deixar a ideologia de lado e abrir canais de comunicação efetivos com Washington é mais do que uma necessidade, é uma questão de sobrevivência econômica. Enquanto os americanos jogam duro, explica Barbosa, o Brasil, infelizmente, parece ainda patinar, perdendo tempo precioso e a chance de negociar em um ambiente que, querendo ou não, se tornou mais hostil do que nunca. A bola está com Brasília, e o tempo, como sempre, não perdoa.

Leia a entrevista completa:

Vero Notícias: O Brasil é aliado histórico dos EUA. Apesar disso, neste momento é o país mais castigado pelas tarifas aplicadas às importações pelo governo norte-americano. Estamos vivendo o pior momento da relação bilateral?  

Embaixador Rubens Barbosa: O que está acontecendo nos Estados Unidos também é único. Não existiu nenhum presidente antes de (Donald) Trump que tenha feito o que ele está fazendo. Todas essas ideias de anexar o Canadá, a Groenlândia, ninguém jamais falou nisso. A primeira coisa, então, é saber que a gente está lidando com uma situação nova e sobre a qual não se tem controle. Não é uma relação tradicional, política, diplomática. Do lado brasileiro tem um problema.

Qual?

Barbosa: Um lado ideológico muito forte. Do lado americano, o Trump é ideológico, da extrema-direita, enquanto, aqui, tem o Lula e o PT da esquerda. Então, eles não se falam. O governo não estabeleceu, desde a eleição, um canal de comunicação. Veio em abril o tarifaço e o governo estabeleceu um canal de comunicação comercial, entre o vice-presidente Geraldo Alckmin, o secretário de comércio dos EUA e o USTR (sigla de representante comercial dos EUA).

Isso não é suficiente?

Ora, é preciso ter um canal político, diplomático. “O Globo” fez editorial dizendo que Lula tem que mandar o chanceler Mauro Vieira aos EUA antes do dia 1º de agosto, quando as novas tarifas entram em vigor. Não adianta nada.

Por quê?

Porque eles não têm um canal aberto, de diálogo. O que interessa é a tarifa, não é a relação diplomática.

O senhor acha que Trump está fazendo em todas as áreas é um desvio na história americana ou é uma tendência, afinal, ele foi eleito pela segunda vez?

Vai ter eleição ano que vem [para o Congresso americano]. Acho que ele vai perder a maioria de uma das casas, a Câmara ou o Senado.

Quando o senhor olha tudo o que está acontecendo lá, o que considera de caráter permanente?

O país está dividido, 50% de cada lado. Ele (Trump) tem 50% do eleitorado que aprova tudo o que está fazendo. Na visão dele, o que está fazendo é para defender os interesses americanos. É uma posição nacionalista, radical, ideológica, cristã. O que ele está fazendo com as universidades, com os imigrantes, é tudo novo na política americana. Na área internacional e no comércio, houve uma revolução. Quer dizer, todo aquele cenário criado depois da Segunda Guerra Mundial, sob a liderança dos EUA, nas áreas comercial, econômica e política desapareceu.

O que efetivamente acabou?

Não há mais liberalismo. Hoje, o que prevalece é o protecionismo, é a lei da selva, a vontade pessoal de cada dirigente dos países. Acabou a OMC (Organização Mundial do Comércio). No caso das tarifas, não há mais a quem recorrer. Então, tem que negociar diretamente com os EUA. E o Brasil, apesar das diferenças ideológicas, não criou canais de negociação. O Vietnã, que é um país comunista, já negociou um acordo. As Filipinas, o Japão, a Indonésia, também negociaram. Como a gente não manda ninguém para conversar no alto nível, não há negociação.

O desrespeito dos EUA ao multilateralismo não teve impulso durante o governo de George W. Bush (2001-2009)?

Sim, com as mentiras contadas para justificar a invasão ilegal do Iraque. Bush começou a destruir a imagem americana ali, e isso foi se agudizando desde então.

O problema todo dos Estados Unidos é que, a partir de 2001, quando a China entrou para a OMC, a tensão que havia entre EUA e Rússia foi substituída pela tensão entre EUA e China. Gradualmente, os americanos começaram a defender o interesse deles em primeiro lugar. Isso chegou ao paroxismo com a ascensão de Trump, com o MAGA, etc. A visão de Trump é nacionalista, de extrema-direita, e vale para tudo. Agora, por exemplo, eles saíram da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), acusando-a de antissemitismo. Disseram que a instituição promovia temas que não são do interesse americano. Trump disse que a União Europeia foi criada para prejudicar os Estados Unidos! Agora, pior é o que ele está fazendo na área internacional.

O que, exatamente?

Uma coisa é o comércio, a economia. A outra é a ordem internacional. Na ordem internacional, Trump está dando apoio à Rússia e se colocando contra a União Europeia. O establishment americano tinha essa questão da Guerra Fria desde o fim da Segunda Guerra. Isso acabou com o fim da União Soviética. Agora, os EUA estabeleceram uma Guerra Fria contra a China. Quem não entender isso fica tratando o Trump como o Brasil está fazendo. A União Europeia, por exemplo, está negociando as tarifas com Trump.

Na entrevista do presidente Lula à CNN Internacional, ele disse que o Brasil está negociando com os EUA desde abril.

O que eles estão negociando é o tarifaço anunciado em abril. Alckmin esteve lá duas ou três vezes. O pessoal técnico esteve lá, Brasil mandou uma proposta em relação à tarifa de 10% aplicada a todos os países. Os americanos não responderam. Agora, quando apareceu a carta de Trump a Lula, no dia 9 de julho, sobre o tarifaço de 50%, Alckmin mandou uma carta pedindo resposta à carta enviada pelo Brasil em maio. Já em relação à tarifa de 50% não fizemos nada, simplesmente devolvemos a carta.

Ao devolver, o governo brasileiro quis dizer que não reconhece a carta de Trump recebida em 9 de julho?

É isso. Agora, o Lula respondeu do mesmo jeito. Em pronunciamento à nação e pela mídia, disse que vai taxar as “big techs” e retaliar. Ora, se isso acontecer, os americanos vão retaliar de novo. O Brasil precisa ter um canal de comunicação com o governo Trump para negociar o que interessa ao Brasil, que é o tarifaço sobre nossas exportações.

O Itamaraty não está cumprindo seu papel?

Não! Isso se deve ao esvaziamento do Itamaraty. Não adianta mandar o Mauro Vieira, tem que ir o vice-presidente. Mas já é tarde porque as tarifas entram em vigor no dia 1º de agosto. A crítica que eu faço é que, oito meses desde a vitória eleitoral de Trump, não houve nenhum contato oficial do governo brasileiro com a Casa Branca e o Departamento de Estado. Houve apenas com a área comercial. Celso Amorim, assessor de Lula, chamou o encarregado de negócios da embaixada americana [já há alguns anos, os EUA não designam um embaixador para sua representação no Brasil]. Porém, não houve contato oficial entre o Palácio do Planalto e a Casa Branca.

E por que o governo Lula não o fez? Nos dois mandatos anteriores, ele desenvolveu boa relação com os presidentes Bush e Obama.

Por questões ideológicas. Durante a campanha eleitoral americana, Lula disse que Trump é o “nazismo com outra cara”. Disse também que seria melhor a vitória de Kamala Harris.

O que o senhor acha dos termos da última carta de Trump a Lula, em que ele condiciona a negociação ao fim do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro?

O que está por trás dessa carta não é o Bolsonaro, mas, sim, os interesses das big techs. Se você olhar a carta, verá que o primeiro parágrafo é sobre a questão de Bolsonaro, mas não tem nada a ver com o restante da carta. O segundo parágrafo é sobre as big techs e o Supremo Tribunal Federal (STF). O Brasil reagiu bem. Chamou o encarregado de negócios para fazer esclarecimentos, devolveu a carta ao governo americano e criticou a ingerência externa no Brasil, deveria ter parado aí.

Por quê?

Porque já tinha respondido a parte política e, aí, a parte comercial, que é a que mais interessa ao Brasil, eles não fizeram nada.

Ao impor condição que exigiria interferência do presidente Lula em outro poder da República, Trump não inviabiliza qualquer possibilidade de negociação?

Não há essa condição. Isso é uma interpretação que está sendo dada, mas não tem. Uma coisa é a parte política da carta de Trump, que já foi respondida. Outra é a parte técnica da big tech e do tarifaço. A gente tem que mandar alguém lá para negociar essas duas coisas.

Foi uma bravata, então?

Não. A carta tinha um lado político e foi respondida adequadamente. O Brasil não vai discutir essa parte. Os americanos sabem disso. Na minha visão, é uma narrativa para fins de política interna nos Estados Unidos. O que interessa nisso tudo é o tratamento do Brasil para as big techs e as tarifas. Mas não dá mais tempo para negociar antes de 1º de agosto.

O que o Brasil deve fazer, então?

Tem que preparar uma missão governamental de alto nível para ir aos Estados Unidos, com o objetivo de discutir com a Casa Branca. No caso das Filipinas, quem negociou e fechou um acordo foi o primeiro-ministro. A questão envolvendo Bolsonaro não é impedimento para a negociação técnica. Esta é a minha posição.

Quem deve integrar essa missão de alto nível?

Deveria ser o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, para falar com o vice-presidente americano J. D. Vance.

Mesmo que a questão política não seja a mais importante, já que o Brasil nada pode fazer em relação ao governo Trump, não há o risco de os americanos rejeitarem uma negociação?

Se eles não quiserem receber o vice-presidente do Brasil, aí, não sei o que poderia acontecer. O chanceler pode ir junto, integrar a missão, mas a liderança tem de ser do vice-presidente. Veja, o chanceler não está negociando com o setor privado. Quem está fazendo isso é o vice-presidente, que é também o ministro da Indústria e Comércio. O chanceler pode fazer uma visita ao Departamento de Estado para estabelecer uma comunicação que foi não feita até agora. Isso é outra história.

O que lhe faz pensar assim?

O último parágrafo da carta que diz que o governo americano está disposto a negociar os 50%. Está escrito lá. E eu te falei que o Secretário de Comércio declarou algo na mesma direção. Mas, antes de 1º de agosto não vai ter suspensão do tarifaço, adiamento, nada.

Este é o pior momento da relação do Brasil com os Estados Unidos?

Não. Já houve momentos tão sérios quanto este de agora. No Império, o Brasil suspendeu as relações duas vezes com os EUA. Agora, não se está suspendendo a relação. Durante o governo Geisel, por causa da tentativa de ingerência dos EUA na questão dos direitos humanos, o Brasil suspendeu o acordo que tinha com Washington. A presidente Dilma Rousseff, quando foi espionada, cancelou viagem que faria aos Estados Unidos, uma visita de Estado. Isso é forte. Tinha que dar uma resposta e ela deu.

Quem mais deve participar do esforço para reduzir o tarifaço?

Os empresários têm que ajudar. Têm que ir a Washington conversar com o lado empresarial americano e pedir que eles pressionem Trump a reduzir as tarifas.

Alguém está fazendo isso?

Sim. Alckmin está falando com os empresários aqui, agora. E os empresários aqui têm que ir aos Estados Unidos para falar com seus pares. Eles já começaram a fazer isso. Alckmin se reuniu também com empresas americanas que atuam no Brasil. Estão fazendo o trabalho certo. A Embraer, por exemplo, fabrica aviões com partes feitas nos EUA e vende muitas unidades ao mercado americano. Já está conversando com empresas americanas. O setor de agronegócio contratou um grande escritório de advocacia. A decisão será da Casa Branca e não do Departamento de Comércio ou do USTR. Por isso, é necessário ter um canal com a Casa Branca.


sexta-feira, 25 de julho de 2025

Azerbaijão – Existe Seda em Rota Futura? - Paulo Pinto, embaixador

Existe Seda em Rota futura

Causa surpresa a notícia de que conferência entre Azerbaijão e Armênia tenha acontecido, durante o mês em curso nos Emirados Árabes, ao invés de na Rússia, conforme vinha ocorrendo tradicionalmente, em virtude da disputa territorial, entre Baku e Ierevan, que, nas últimas décadas tem levado estas capitais a recorrer à arbitragem de Moscou.
A maioria do noticiário disponível sobre o Azerbaijão, a propósito, o reduz cartograficamente ao grupo de três pequenos estados emancipados da extinta União Soviética, em 1991, na região do Cáucaso, junto com a Georgia e a Armênia.
Os dois textos iniciais abaixo, escritos durante o período em que fui Embaixador em Baku, entre 2009 e 2012, recuperam observações, sobre o término da Guerra Fria, o esfacelamento da URSS e a emergência de nações, sempre antagônicas, ao Sul da cadeia de montanhas do Cáucaso, cujas culturas foram sufocadas, durante 70 anos de ocupação soviética. Estas são, ademais, algumas condicionantes da disputa territorial entre os vizinhos azeris e armênios.
O Azerbaijão vive, hoje, momento de crescente inserção econômica e política internacional, em virtude da importância estratégica de seus recursos energéticos. Este esforço, no entanto, não é descolado do exercício de resgate de sua identidade cultural. O texto abaixo inspira-se no fato de que, após muito tempo esquecidos e na obscuridade, a Ásia Central e o Cáucaso voltam às atenções mundiais, em novo “Great Game”.

Azerbaijão – Existe Seda em Rota Futura?


24 de julho de 2025

A região ao Sul da Cordilheira do Cáucaso, onde se situa o Azerbaijão, era mais bem conhecida, na Antiguidade Greco-Romana e no auge da Rota das Sedas, do que no mundo atual. Segundo a mitologia grega, foi no alto daquelas montanhas que Zeus mandou acorrentar Prometeu, para que seu fígado fosse comido por abutres, como punição por ter entregado o fogo prometido aos humanos.

Até hoje – e visitei o local – há uma chama eterna que brota do chão, perto de Baku, que seria aquela fogueira inicial. Ao escurecer, adquire um tom azulado. É um prazer observar o fenômeno – entendido pela óbvia presença de gás subterrâneo – sorvendo chá com iguarias locais. Imagine-se, no entanto, a popularidade daquele fogaréu todo, inexplicado através de séculos, favorecendo o surgimento de crenças e credos como os seguidores de Zaratustra, que adoram o fogo (os seguidores do Zoroastrismo, hoje, vivem principalmente na área de Mumbai, Índia).

No auge da Rota das Sedas, que ligava a Europa à Ásia e foi popularizada por Marco Polo, a área hoje ocupada pelo Azerbaijão era grande tema de conversas – segundo consta – nos dois continentes. A parte antiga de Baku preserva muralhas do Século XIV que defendiam os comerciantes que por lá transitavam, naquela época, com suas caravanas de camelos.

Há restaurantes, sempre subterrâneos para proteger dos ventos – se o Azerbaijão é conhecido como a “Terra do Fogo”, Baku o é como a “Cidade do Vento” – onde se pode degustar cozinha local, lembrando aqueles tempos idos. Parece que o assunto preferido era os já então famosos tapetes azeris, objetos de troca, no comércio das sedas, entre europeus e asiáticos. Os bazares continuam vendendo este produto, perto de onde se situava a Residência da Embaixada.

Hoje, o Azerbaijão, quando reconhecido, é identificado por situar-se na “esquina do mundo”.

Especialistas e simpatizantes o situam geograficamente como fronteira entre a Europa e a Ásia, entre o Ocidente e o Oriente, entre o Mundo Cristão e o Muçulmano e entre áreas de influências atuais da Rússia, Irã e Turquia.

A maioria das avaliações disponíveis sobre o papel deste país no cenário mundial, no entanto, o reduzem, cartograficamente, ao grupo de três pequenos estados emancipados na região do Cáucaso, junto com a Geórgia e a Armênia.

A seguir, são feitas observações, sobre o término da Guerra Fria, o esfacelamento da União Soviética e a emergência de nações, sempre antagônicas, ao Sul daquela cadeia de montanhas, cujas diferentes culturas foram sufocadas, durante os 70 anos de opressão socialista.

O interesse pela inserção internacional do Azerbaijão pode ser maior, contudo, quando se verifica a crescente importância estratégica das margens do Mar Cáspio. Compartilham da mesma situação geopolítica a Rússia, o Irã, o Cazaquistão e o Turcomenistão.

Verifica-se, a propósito, que o Azerbaijão tem merecido atenção diferenciada do exterior, pelas conhecidas riquezas energéticas que compartilha, na área ribeirinha ao Cáspio.

O maior mar interior do mundo situa-se, é sabido, na confluência de conflitos étnicos, religiosos, nacionais e extrarregionais históricos. Durante o Século XIX, travou-se disputa, nesta parte da Ásia Central, por conquistas territoriais e acesso a mercados e recursos naturais, entre o Império Russo e a Grã-Bretanha, também conhecida como “The Great Game”[1].

Com o término da Guerra Fria, a vizinhança do Cáspio ressurge como espaço a ser cobiçado em novo “Grande Jogo” (ou “new deals”, segundo a linguagem trumpista), em virtude agora, principalmente, de suas reservas de petróleo e gás, por Estados Unidos, Europa Ocidental e Rússia, além de potências menores.

Trata-se, no entanto, de área situada no percurso da antiga “Rota das Sedas”. Esta era o longo e inóspito caminho a ser percorrido, entre a Europa e a Ásia. Apesar de conter, no nome, a ideia de intercâmbio comercial, as principais trocas foram de caráter cultural, sobrepondo diferentes religiões, hábitos e costumes.

Coloca-se, portanto, o desafio do mapeamento de tendências e estruturas regionais em construção e identificação de principais atores regionais.

Assim, é possível utilizar, a título de reflexão da evolução política e econômica da área, o enfoque de sucessivos círculos concêntricos, a partir da vizinhança mais próxima do Azerbaijão, ao redor do Mar Cáspio, até a esfera mais ampla onde se situam influências dos atores do “Grande Jogo” do momento.

Isto é, o círculo inicial situar-se-ia a nível micro, onde se encontra mosaico de comunidades heterogêneas, que convivem no espaço geográfico ocupado por aqueles cinco países, ao redor do Mar Cáspio, divididas por rivalidades tribais, diferenças linguísticas, hostilidades religiosas e disputas territoriais de longa data.

O segundo círculo é o composto pela interação entre os cinco estados ribeirinhos citados acima: Azerbaijão, Rússia, Irã, Cazaquistão e Turcomenistão. Com exceção do Irã, os demais foram membros da União Soviética e encontram-se, ainda, em processo de construção nacional, em virtude de transição de sistema econômico centralmente planificado. Por consequência, estes países sofrem de incertezas políticas que podem afetar suas respectivas posições quanto à exploração dos recursos energéticos regionais.

O terceiro abrange estados periféricos ao Mar Cáspio, a saber, Turquia, Geórgia, Uzbequistão, Afeganistão e Armênia. A vizinhança lhes concede importância crucial para as exportações dos recursos energéticos dos estados ribeirinho caspianos, isolados dos mercados europeus, norte-americanos e asiáticos. Os acontecimentos políticos neste “inner circle”, ademais, afetam a situação interna daqueles incluídos, para fins desta análise, no círculo inicial, pela dependência do acesso de seus produtos ao exterior.

A seguir, em quarto patamar, formando um “outer circle”, encontram-se potências da magnitude de China e Índia, bem como atores regionais de peso, como Paquistão, Arábia Saudita e Estados do Golfo, Israel, Grécia, Bulgária, Romênia e Ucrânia. Há fatores em comum, que os relacionam com a área do Cáspio. Alguns são grandes importadores de petróleo, outros exportam o mesmo produto e, portanto, receiam a competição dos ribeirinhos caspianos, enquanto o território de alguns serve de via de trânsito para exportações.

O quinto círculo abrange as potências extra-regionais, como Estados Unidos, União Europeia, Japão e países da Ásia Oriental, cujos interesses, no que diz respeito à área do Mar Cáspio são complementares e competitivos.

Compartilham, por um lado, da preocupação quanto à estabilidade desta região, que lhes fornece recursos energéticos e tem crescente poder aquisitivo para seus produtos industrializados. Por outro, disputam condições mais favoráveis para garantir o fornecimento de petróleo e gás, bem como o acesso a seus mercados para seus bens e máquinas.

Verifica-se, portanto, que os países às margens do Mar Cáspio não podem escapar, como na época do “Great Game”, a condicionantes externas. No século XIX, eram vítimas ou protagonistas de disputas por territórios e consumidores, conforme mencionado acima. Hoje, o Azerbaijão e seus vizinhos são influenciados por forças mais abrangentes de um mercado globalizado não apenas por fontes e consumo de energia, mas também de ideias, instituições e tendências socioeconômicas.

Nesse processo, segundo a perspectiva estratégica que se pode adotar, análises da evolução política e econômica do Azerbaijão não se devem esgotar na condição cartográfica do país, situado ao Sul da Cordilheira do Cáucaso.

Caberia, então, realizar o esforço de identificação de tendências e estruturas regionais em construção que afetem os principais atores ao redor do Mar Cáspio. Estas são determinadas por realidades locais e forças regionais, situadas em patamares distintos e descritos acima como sucessivas áreas concêntricas, que interagem e se condicionam mutuamente.

O observador em Baku defronta-se, portanto, com cenário de crescente inserção econômica internacional do Azerbaijão, em virtude da importância estratégica de seus recursos energéticos. Este desafio, contudo, não pode ser descolado do exercício de interpretação de como, nesta região ribeirinha do Cáspio, pretende-se preservar hábitos, práticas e valores locais, diante das condicionantes do atual “Great Game”, em disputa por influência sobre a antiga Rota das Sedas.

Já ia me esquecendo: após o Dilúvio, foi no alto da Cordilheira do Cáucaso que “Noé aportou com sua arca”. Este foi, mesmo, antigamente um destino de viagens bem mais popular, do que no mundo atual.

Azerbaijão: a esquina de Dede Korkut na Rota das Sedas

Quem são, no Azerbaijão, os azeris: turcos iranianos ou iranianos turcos? Consta que, no início de formação desta nacionalidade, lá pelo Século XIV, o ancião Dede Korkut ficava, em área hoje ocupada pelo país, na esquina da Rota das Sedas, e “narrando, espalhava por toda a parte” a epopeia deste povo tão antigo.

A questão não tem apenas o interesse literário sobre a principal narrativa oral dos “povos turcos” – entre eles os azeris, que reverenciam a imagem de Dede Korkut.

Isto porque, o Azerbaijão, como outros novos estados que se emanciparam da União Soviética, a partir da década de 1990, enfrentam, entre muitos, problemas do estabelecimento de identidades nacionais viáveis e da reconstrução de suas instituições culturais e educacionais.

O Azerbaijão é palco de história rica e antiga e, da mesma forma que seus vizinhos no Cáucaso, tem sido cenário de batalhas há mais de um milênio. Há evidência de ocupação humana em seu território, desde a Idade da Pedra.

Localizada na convergência de diferentes civilizações, a região foi invadida e disputada por grandes impérios e personagens famosos, como Alexandre o Grande, o General Romano Pompeu, o conquistador mongol Genghis Khan, e o Tsar Pedro o Grande.

Cartograficamente, o Azerbaijão estende-se do Noroeste do Irã, ao Mar Cáspio, a Leste. Faz fronteira, a Oeste, com a Armênia e Turquia. Ao Norte, situam-se a Geórgia e a Rússia. A nação azeri encontra-se, hoje, dividida em duas partes. A que ocupa o território do país hoje independente, a partir de 1991. E ao Sul, a que habita na parte meridional iraniana. Esta divisão ocorreu em 1828, a partir de tratado entre os Impérios da Pérsia e o da Rússia.

Apenas cerca de oito milhões dos nacionais azeris vivem no Azerbaijão. Entre 20 e 30 milhões habitam, ao Sul, no Irã. Estima-se, ainda, que quase dois milhões se encontrem na Turquia e número idêntico na Rússia. Grupos significativos residem na Geórgia, Iraque e Ucrânia.

Há versões distintas sobre a origem étnica desta população, cuja língua é conhecida como azeri e, hoje, segue, majoritariamente o Islã Xiita.

Daí, para o observador em Baku, ser importante encontrar algo que defina a identidade cultural azeri. Este esforço leva, inevitavelmente, ao estudo do personagem Dede Korkut.

Trata-se da figura maior da história épica dos oguzes, que  formaram um dos principais ramos dos povos túrquicos, entre os séculos VIII e XI, e são considerados  ancestrais dos turcos modernos. Estes incluem, entre outros: azeris, turcos da Turquia, turcomenos, turcos qashqais do Irã, turcos do Khorassan e gagaúzes, que, em conjunto, representam mais de 100 milhões de pessoas.

As narrativas místicas fazem parte da herança cultural dos “Estados turcos”, que incluem, hoje, a Turquia, o Azerbaijão e o Turcomenistão, e, em menor grau, o Casaquistão e o Kyrgystão. Para os povos que se consideram turcos, especialmente os que se identificam como oguzes, o livro Dede Korkut é o principal registro de sua identidade étnica, história, costumes e de seus sistemas de valores, através da História.

Nos contos, lugares, batalhas, armas, intrigas, cavalos, palácios, fontes e jardins saltam à imaginação. O leitor, então, passa a sonhar como se estivesse assistindo a um filme. Trata-se, como já foi dito, de uma película épica, a definir a consciência coletiva de um povo. Segundo especialistas no assunto, Dede Korkut teria, para o mundo turco e, nesse contexto, para a nacionalidade azeri, o mesmo papel de definição de uma identidade unificadora, que, no Ocidente teriam tido epopeias como a Ilíada e a Odisseia.

Várias datas são sugeridas para o desenrolar das narrativas de Dede Korkut. A maioria dos estudiosos concordaria que o período mais provável seria o do século XV, na medida em que as tradições mencionadas registrariam conflitos entre os oguzes e seus rivais turcos na Ásia Central. Outros autores, no entanto, situam os acontecimentos como ocorridos ainda nos século VIII. A grande dificuldade para o estabelecimento mais preciso das datas deve-se ao fato de que os povos em questão eram nômades, sem deixarem registros por escrito, prevalecendo as narrativas orais.

Os contos épicos de Dede Korkut encontram-se entre os melhores, registrados oralmente, na língua turca. Para especialistas, não há dúvida de que os fatos ocorridos teriam acontecido no território, hoje ocupado pelo Azerbaijão. Na esquina da Rota das Sedas, conforme já foi dito, por ser Baku, então, centro comercial da maior importância, no intercâmbio de bens e convergência de culturas, entre a Europa e a Ásia Central.

Tratam de lutas pela liberdade em época durante a qual os oguzes eram um povo pastoril, em fase de transição para o conceito de uma etnia turca mais ampla. Ocorria, mais uma vez, de um ponto de inflexão na história da região – enquanto o Islã começava a predominar na região, coincidindo com a adoção de um estilo de vida mais sedentário, possivelmente no século XIV.

Hoje publicado em diferentes idiomas, o Dede Korkut registra, como já mencionado, narrativas orais, seja com escritos em prosa, seja em versos. Conclui-se, hoje, que a epopeia é composta por dezesseis histórias. As doze principais compreendem período posterior à adoção do Islã, pelos turcos. Os heróis, portanto, são retratados como “bons muçulmanos”, enquanto há referências aos infiéis, como vilões. Mas há referências, também a mitologia prevalecente no período anterior à introdução do Islã.

O personagem Dede Korkut é entendido como o “Vovô Korkut”, uma mistura de curandeiro, profeta e narrador de estórias. É desenhado como um respeitável idoso, de cabelos e barbas brancos. O décimo segundo capítulo faz a compilação de dizeres atribuídos a ele. Representa, portanto, um líder mais velho – conselheiro ou sábio – resolvendo as dificuldades com as quais se confrontam os membros da tribo.

No Brasil, foi publicado um primeiro livro de autor azeri, “O Manuscrito Inacabado”, escrito pelo Prof. Kamal Abdullayev[2], tendo, como pano de fundo, tramas da referida epopeia. Segundo o Prof. Claude Allibert, a obra relata parte desta tradição oral “neste momento em que, a nação azerbaijana reencontra sua identidade, resgata o passado épico e o articula com o presente de um povo que recupera suas raízes”.

Sempre de acordo com o já citado Prof. Claude Allibert, a epopeia Dede Korkut é recitada desde o século IX “atualizada através de técnicas narrativas modernas: micronarrativas, pluralidade de narradores, mudanças de épocas repentinas, retomada de uma mesma passagem que se completa em seguida, adoção de diferentes pontos de vista em torno de uma mesma situação, o que deixa um importante trabalho de compreensão ao leitor, que deve construir sua própria interpretação. A astúcia, a crueldade, e a beleza de certa violência guerreira, nem sempre contida, podendo explodir de modo brutal nos confrontos e nos castigos demoníacos, recobrem a atmosfera oriental arcaica que remete o leitor europeu à história mongol.”

Retorna-se, neste ponto, ao argumento citado acima sobre a problemática atual dos estados emancipados da URSS, no que diz respeito à recuperação de suas identidades nacionais e reconstrução de mecanismos institucionais.

Cabe recordar, a propósito, que, na década de 1960, quando se tornaram independentes a maioria das ex-colônias europeias, na Ásia e África, havia um mundo bipolarizado com escolhas de sistemas de governança mais simples e bem definidos: o socialista ou o capitalista. Era, então, possível a um país recém-independente escolher, como modelo, um ou outro. Como consequência, um poderoso aliado e grupo significativo de simpatizantes era imediatamente adquirido.

Quando emergiram da União Soviética, no entanto, as novas repúblicas tiveram que inserir-se, a partir de 1991, em emaranhado de “geometrias político-econômicas variáveis”, que não lhes garantia aliados automáticos.

Além disso, com a globalização já em vigor, receberam prontas cobranças sobre como adotar modernas legislações para formas de governança que respeitassem direitos humanos, meio ambiente, propriedades industriais e intelectuais e outras maneiras de comportamento internacional aceitável.

Conforme já foi dito, o Azerbaijão vive momento de crescente inserção econômica internacional, em virtude da importância estratégica de seus recursos energéticos. Este esforço, no entanto, não é descolado do exercício de resgate de sua identidade cultural.  Daí, a reflexão sobre suas tradições, como narrativas orais, não desperta apenas curiosidade literária.

Há historiadores que afirmam ter Dede Korkut vivido, no século XIV, ao Sul do Cáucaso, por 295 anos. Chego a acreditar, pois, visitei a região de montanhas de Lerik, na parte meridional do Azerbaijão, onde existe uma povoação conhecida pela longevidade de seus habitantes, vários com mais de 100 anos de idade. Isto seria explicado por um microclima que combinaria umidade, tipo de alimentação, um determinado chá, mel de abelhas raras, muitas caminhadas e qualidade de água.

Lá encontrei um cidadão que alegava ter 137 anos. Entre as perguntas rotineiras que lhe formulei, ficou a relativa à melhor época de sua vida. Criticou, a propósito, a parte final do Império Russo, no início do século passado, que abraçava então o Sul do Cáucaso, sem oferecer boas condições materiais à população azeri.

Bom mesmo, para sua vizinhança, alegou politicamente correto, tem sido o período iniciado com a liderança atual da família Aliyev, no poder em Baku, a partir de 1993.

Em suma, os atuais governantes, segundo o referido ancião, seriam capazes de “make Azerbaijan great again”.


[1] “The Great Game”, por Peter Hopkirk.

[2]  O Manuscrito Inacabado. Por Kamal Abdullayev. Ideia. João Pessoa. 2009.

Paulo Antônio Pereira Pinto, embaixador aposentado.


Duas almas gêmeas, sombrias… - Paulo Roberto de Almeida

Duas almas gêmeas, sombrias…
Paulo Roberto de Almeida 

Em 2016, alegando fraude, roubo, interferências eleitorais, Donald Trump ganhou as eleições, ele mesmo fraudando extensivamente contra as regras, ofendendo jornalistas, mentindo descaradamente.
Continuou falando em fraude eleitoral nos quatro anos seguintes.
Bolsonaro seguiu inescrupulosamente esse roteiro, alegando fraude antes mesmo de ganhar as eleições de 2018 e continuou mentindo vergonhosa e descaradamente, antes, durante e depois, ou seja, imitando servil e acintosamente o seu modelo americano.
Trump fez todo o possível para roubar as eleições de 2020, mas perdeu e não se conformou: incitou uma turba de bárbaros (muitos o eram, de fato, supremacistas e terroristas eleitorais)  e tentou derrubar a certificação de modo violento em 6 de janeiro de 2021 (com mortes entre o pessoal da segurança do Capitólio). Nunca reconheceu a sua derrota e continuou alegando fraude nas eleições.
Bolsonaro fez de tudo no seu mandato de 2019 a 2022 para desacreditar as eleições, alegando fraude na tentativa de reeleição, perdeu e montou um golpe canhestro, como é da sua natureza doentiamente mentirosa e incompetente. Achou que as FFAA daria um golpe para ele, incitou uma turba de desordeiros d designou outros incompetentes para dar o golpe em seu lugar. Fugiu antes do término do mandato para a Flórida, terra dos seu modelo “I love you, Trump”. A tentativa de golpe trapalhão ocorreu em 8 de janeiro de 2023, mas o covarde escafedeu-se naquele dia.
Trump ganhou as eleições de 2024, e anistiou, perdoou e liberou todos os criminosos golpistas do 6 de janeiro. Mas já está alegando as próximas fraudes, nas mid-term elections de 2026, e vai preparar a maior confusão para o término de seu mandato: certamente vai querer fraudar para continuar ilegalmente com um terceiro mandato em 2029.
O patético Bolsonaro, se não estiver preso vai querer disputar em 2030, e ainda tem muito idiota a seu favor.
Que desgraça é essa que se abateu sobre os dois maiores países do hemisfério americano? Que pecado cometemos para merecer tão sinistros personagens, loucos e autoritários?
Virão outros desequilibrados imitando o mesmo modelo tresloucado? 
Acho que está na hora de se exigir um exame psicológico, neurológico, psiquiátrico, e de conhecimentos mínimos de História, Matemática, Economia, Geografia, Direito e Língua pátria de qualquer candidato a cargos eletivos: não é possivel continuar elegendo idiotas, imbecis, ignorantes, depravados e criminosos ao mais alto cargo de qualquer nação, e também a todos os demais cargos públicos.

Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 25/07/2025

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