IEDI publica um paper sobre o Brasil na transição energética:
O Brasil na transição energética: oportunidades a serem aproveitadas
https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1324.html
Sumário
O desafio climático e ambiental pelo qual o mundo passa tem produzido no Brasil um relativo consenso de que muitas oportunidades podem ser abrir para o desenvolvimento do país. Seja pelas nossas riquezas naturais, seja porque já temos expertise em áreas importantes para a transição energética, como em biocombustíveis.
O IEDI vem apontando estas oportunidades há algum tempo, como na Carta n. 1075 “Transição Verde: oportunidades e desafios para o Brasil”, de 2021; Carta n. 1209 “A necessidade de uma estratégia “net zero” para o Brasil, segundo o Banco Mundial”, de 2023; e nas Cartas n. 1247 “Oportunidades da Sustentabilidade Ambiental” e n. 1291 “Descarbonização e oportunidades para o Brasil”, de 2024, para citarmos alguns exemplos.
O impacto destas oportunidades, se bem aproveitadas, foi recentemente estimado por estudo realizado pela UFRJ e PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) que estima que o PIB brasileiro poderia ser acrescido em 0,28 ponto percentual ao ano entre 2025 e 2040 (de 2,1% para 2,38% a.a.) se o Plano de Transformação Ecológica (PTE), coordenado pelo Ministério da Fazenda e que faz parte das NDCs do país, fosse integralmente implementado.
Os desafios para a realização deste potencial sabemos que não são poucos. Internamente, por exemplo, exige um ambiente de negócios com menos distorções e custos sistêmicos e um arranjo macroeconômico que viabilize taxas de juros mais baixas, destravando os investimentos necessários para impulsionar a inovação e a produtividade do nosso sistema produtivo.
A Carta IEDI de hoje aborda um outro estudo sobre o tema, realizado por pesquisadores do Laboratório de Política Industrial NET Zero da Johns Hopkins University, intitulado “New industrial policy for a new world: Seizing Brazil’s opportunities in the energy transition”, que identifica mais especificamente as principais oportunidades para o Brasil, mas também avalia as iniciativas recentes do programa Nova Indústria Brasil (NIB).
Para os autores, além de contar com uma base industrial produtora de bens complexos e com uma agricultura mecanizada, o país possui vantagens competitivas em minerais essenciais, recursos energéticos renováveis e biocapacidade que, se bem exploradas, podem tornar o Brasil um grande produtor e exportador de energia, materiais e tecnologias verdes.
Ao combinar significativa dotação de recursos naturais com forte potencial em manufatura avançada, o Brasil está bem posicionado para se tornar uma potência de primeira ordem no novo sistema energético mundial, segundo o estudo.
Sete cadeias são identificadas como as mais promissoras para ensejar o fortalecimento industrial e tecnológico do Brasil neste contexto de um novo “sistema energético mundial”: minareis críticos para a transição energética; baterias e seus componentes; veículos elétricos e híbridos; biocombustíveis para aviação; aço de baixo carbono; produção de geradores de energia eólica; e fertilizantes verdes.
Para chegar em cada uma dessas cadeias, os autores levaram em consideração: a posição brasileira no cenário competitivo do mercado global; a base produtiva doméstica existente e as iniciativas de políticas e as respostas empresariais já identificadas. Ou seja, são cadeias ancoradas em competências e vantagens que já possuímos e com sinais positivos de aderência das estratégias empresariais.
O estudo também alerta para importantes gargalos existentes no país, em geral já bastante conhecidos. É o caso da deficiência de nossa educação e do desafio de capacitar mão de obra para atender a demanda dos clusters tecnológicos que serão criados com o objetivo de explorar o potencial do país na transição energética. É igualmente o caso da integração da ciência com a inovação e das empresas com as universidades nas cadeias produtivas promissoras.
Na avaliação dos autores, o programa Nova Indústria Brasil (NIB), lançado em janeiro de 2024, demostra uma compreensão do potencial que o Brasil pode explorar na transição energética, mas apontam algumas fragilidades importantes:
• A orientação por missão da NIB é ampla demais para fornecer o foco necessário.
• Os recursos alocados à NIB provavelmente serão distribuídos de forma pulverizada entre muitas prioridades, o que não garante ao Brasil alcançar uma posição de destaque mundial em setores altamente competitivos.
• Não está claro quais serão os mecanismos de colaboração entre governo, empresas, sindicatos, sociedade civil e especialistas independentes ao longo da sua implementação.
• Não há na NIB um plano para criar clusters baseados em conhecimento e elaborar combinações de políticas específicas para cada uma das cadeias prioritárias.
Para que o país aproveite as oportunidades que estão se abrindo, os autores recomendam que a política industrial brasileira tenha três características principais:
• Foco: estabelecimento de metas claras em poucos setores, priorizando oportunidades específicas e quantitativas.
• Coordenação forte: melhoria dos fluxos de informação entre governo, indústria, especialistas e diferentes níveis de governo.
• Investimentos estruturais em educação e inovação: construção de uma base de conhecimento focada em áreas estratégicas para competir globalmente.
Na avaliação dos autores, além de apoiar projetos e fornecer capital, também deve estar na agenda da política pública a criação de condições para mudanças estruturais por meio de investimentos em infraestrutura, capital humano e energia acessível.
Os autores reconhecem, ainda, as restrições fiscais enfrentadas pelo Brasil, por isso, inclusive, a ênfase na necessidade de evitar políticas fragmentadas. Além disso, argumentam que investimentos estratégicos podem ser viabilizados pela ação do BNDES, desde que a política industrial esteja integrada, reduzindo a necessidade de recursos orçamentários.



