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terça-feira, 4 de junho de 2013

O fim do "modelo economico" brasileiro (The Telegraph): mas houve algum modelo, alguma vez?

Acho que este articulista, do respeitável jornal inglês The Telegraph, se engana conceitualmente.
Desde 2003 o Brasil não tem qualquer modelo, nenhum, necas de pitibiribas, zero...
Os companheiros primeiro adotaram, sem dizer, todos os grandes mecanismos e ferramentas da política econômica anterior, desavergonhadamente (mas acertadamente, graças ao Palocci, é preciso reconhecer). Roubaram o software dos tucanos, como já disse José Carlos Mendonça de Barros, sem pagar royalties, nenhum direito autoral, e isso mesmo acusando uma "herança maldita" que eles mesmos tinham criado com suas receitas esquizofrênicas de política econômica aprovadas no congresso de Olinda (dezembro de 2001) do seu partido companheiro (e felizmente nunca aplicadas inteiramente).
Depois que o companheiro neoliberal se foi, por outras patifarias que tem mais a ver com seus costumes e vícios degradados do que com a política econômica, esta começou a se deteriorar lentamente, sob as mãos e as patas dos novos responsáveis econômicos, keynesianos de botequim e provavelmente nem isso, pois nunca tiveram uma educação econômica razoável, se contentando com o software alheio e o temor de fazer errado.
Como o Brasil surfou na bonança mundial, e chinesa, tudo andou bem durante algum tempo.
Agora os maus tempos chegaram, e junto a consequência de sua inação irracional em preparar o Brasil para esse fim de bonança: os companheiros não sabem o que fazer e ficam improvisando no puxadinho setorial, sem qualquer ação coerente sobre o conjunto ou no contexto adequado. Uma redução de impostos para os amigos da corte aqui, uma proteção tarifária ali, este crédito subsidiado para os nossos amigos, aquela concessão enviesada acolá, enfim, uma panóplia de medidas desconectadas que só poderiam dar no que deu: em nada.
No final de tudo, as empresas ficam onde estavam: sem horizonte seguro para investir, e com a mesma alta carga tributária de sempre, pois os companheiros são incapazes de fazer uma verdadeira reforma fiscal que desonere a produção e estimule o investimento.
Eles simplesmente não conseguem se libertar de seu vício fundamental que é amar o Estado sobre todas as coisas. Vão ficar com um Estado moribundo e nós, trabalhadores e consumidores, no pior dos mundos possíveis.
Paulo Roberto de Almeida

Brazil faces 1970s stagflation as resource boom wilts
The Telegraph,  30 May 2013

Brazil has been forced to tighten monetary policy to curb inflation despite a slump in growth and a manufacturing crisis, raising fears that the country’s economic model is breaking down.

The central bank raised interest rates a half point to 8pc, bucking the worldwide trend towards looser money. The surprise move came hours after the release of data showing growth remained stuck at 1.9pc in the first quarter.
This was far short of expectations for the fifth quarter in a row and dashes hopes of a quick return to pre-crisis growth rates. The country grew just 0.9pc last year, a recession in emerging market terms.
“Brazil is stuck in a 1970s 'stagflation’ trap,” said Lars Christensen from Danske Bank. “It has rising inflation and falling long-term growth. There is obviously a structural problem and it is getting worse.
“The country is a very good illustration of why emerging markets have been doing so badly lately. They are trying to manage their problems by fiddling around with wage and price controls and other half-baked measures to treat the symptoms. There is a whiff of Argentina to this."
The Bovespa index of stocks in Sao Paulo is down by more than a third in dollar terms since early 2010, and has entirely missed the roaring global equity rally over the past year. The real has fallen 8pc since March and has broken out of its trading band.

Finance minister Guido Mantega gave a green light on Thursday to a further slide in the currency, saying the authorities were no longer relying on the exchange rate to check inflation, now almost 7pc.
“The sell-off in the real has been particularly violent,” said Benoit Anne from Societe Generale, calling it a symptom of a broader flight from the developing world as the US Federal Reserve prepares to tighten policy. “We think that there is a powerful shift in the thematic drivers of global emerging markets. This is the end of the bull market. It is an absolute bloodbath for rates [fixed income],” he said.
Aloisio Teles from Nomura said Brazil’s apparent abandonment of the strong real policy risks spinning out of control. “The real is having a very bad hair day,” he said.
Brazil has a war chest of €379bn (£325bn) in foreign reserves, and its public debt is no longer in dollars. It is at little risk of an old-fashioned currency crisis, but faces other deep problems.
The economic boom for much of the past decade was driven by exports of iron ore, grains and other raw materials, mostly to China. The commodity bonanza caused a surge in the real and an erosion of the country’s industrial base, a textbook case of the “resource curse”. Brazil’s car exports have been in freefall. Overall manufacturing output is still 3pc below the pre-Lehman peak, a pattern closer to southern Europe than Asia’s tigers.
A 30pc crash in iron prices this year and the broader commodity slide have choked recovery and left the country with a current account deficit of 3pc of GDP. “This should raise a red flag,” said Marcio Garcia from EconoMonitor, predicting a “melancholic ending” to Brazil’s flagging catch-up drive.
“They enjoyed the party while it lasted but they didn’t do their homework on clearing infrastructure bottlenecks,” said David Rees from Capital Economics.
Brazil languishes at 130 in the World Bank’s rankings for ease of doing business, below Bangladesh and Ethiopia. It is at 116 for enforcing contracts, 121 for starting a business and 156 for paying taxes.
The World Economic Forum ranks Brazil 107 for infrastructure, falling to 123 for roads and 135 for ports. It is 118 for wage flexibility, 123 for tariffs, 129 for customs red-tape and 132 for maths and science education. The overall picture falls far short of what is needed for a country hoping to break out of the “middle income trap”.
The Left-leaning government of Dilma Rousseff has resorted to industrial subsidies and trade barriers to protect jobs, a return to practices that have blighted Latin America for decades. The contrast with Mexico is becoming stark.

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fundamentalismo religioso: uma doenca mental? - Kathleen Taylor

Graças a meu amigo de bons combates e colega de blog de resistência, Orlando Tambosi, tomei conhecimento desse trabalho: também acho que certas crenças fundamentalistas religiosas podem ser assemelhadas a doenças mentais. Quem acha, por exemplo, que se explodir com uma bomba no meio de um mercado, no atrio de uma igreja, no pátio de uma escola representa uma forma qualquer de luta política, e que isso lhe garante de imediato um lugar no paraíso (eventualmente cercado de sete virgens), só pode ser um grande idiota, um débil mental, enfim, um doente profundo, necessitando tratamento imediato.
Os que os instruiram nessa conduta devem partilhar a mesma condição, mas são covardes demais, ou desonestos bastante, para não se explodirem eles mesmos.
Paulo Roberto de Almeida


Orlando Tambosi
É o que sugere uma neurocientista inglesa. Bene, que certas crenças levem à loucura, não parece haver dúvida - a história é farta em exemplos de crimes praticados por fanáticos.

Kathleen Taylor, neurocientista e pesquisadora da Universidade de Oxford, afirma que o fundamentalismo religioso poderá, futuramente, ser tratado como doença mental curável. A declaração foi feita durante uma apresentação sobre a pesquisa do cérebro no Festival literário do País de Gales, na última semana.

Em resposta a uma pergunta sobre o futuro da neurociência, a cientista disse que “uma das surpresas pode ser a de que pessoas com certas crenças podem ser tratadas“. Assim, alguém que se tornou radical em função de alguma ideologia religiosa poderá ser visto como portador de algum distúrbio mental, ao invés de ser encarado como uma pessoa que chegou a isto puramente por livre-arbítrio. 
Ela se refere não só ao islamismo radical, mas àqueles que, por exemplo, acreditam ser aceitável espancar crianças. (Na íntegra, em inglês - danke, Cristiano).

O futuro da industria no Brasil - Edmar Bacha (entrevista) - IstoÉ Dinheiro


"Desvalorizar o real e abrir mais o País dariam um rumo à indústria"
Entrevista: Edmar Bacha
Economista e ex-presidente do BNDES
Por Carla Jimenez
Revista IstoÉ Dinheiro, 2/06/2013

O economista Edmar Bacha, que integrou a equipe criadora do Plano Real em 1994, dirige hoje a Casa das Garças, uma espécie de think tank dedicado ao debate sobre a economia brasileira

O espaço está mais identificado com economistas tucanos, adeptos do neoliberalismo. Mesmo assim, Bacha tem fomentado uma discussão que, segundo ele próprio, deixou alguns amigos neoliberais “de cabelo em pé”. Preocupado com a perda da importância do setor industrial no País, Bacha propõe um projeto ousado, de longo prazo, de trabalhar com um câmbio desvalorizado por um determinado período, para fomentar exportações, ao mesmo tempo que se derrubam as tarifas de importação para ampliar a abertura comercial brasileira. “Mudar a lógica de proteção vai alterar tudo”, afirma Bacha. “A indústria toparia jogar.” Em outras palavras, aumentaria a taxa de investimento e de inovação, necessária para aumentar a produtividade.

DINHEIRO – O sr. tem defendido uma espécie de Plano Real para a indústria a fim de retomar a importância do setor no País. Por onde essa reindustrialização começaria?
EDMAR BACHA – Talvez a palavra mais correta seja reestruturação. Não tenho nenhuma concepção fechada, ou antevisão, de como vamos sair do lado de lá, ou seja, quais serão os setores que encabeçariam essa reindustrialização. A ideia é induzir investimentos a partir do que a indústria já faz hoje, trabalhando com o padrão atual. Trabalhar mudando a lógica de proteção, que vai alterar tudo. O que vai aparecer, não sei exatamente. Mas acredito que serão indústrias com características novas. Primeiro, porque terão de operar com muito mais utilização da tecnologia, pois serão capazes de acessar insumos e bens de capital de última geração mais baratos. Serão empresas que terão escala muito maior, não vão produzir só para 3% do PIB mundial, ou seja, para o mercado brasileiro, mas para 100% do PIB global. Trabalharão com tecnologia, escala e especialização. Não dá para ter só supermercado no Brasil.

DINHEIRO – Um dos pilares da sua proposta é a desvalorização do câmbio, em paralelo à redução do custo das tarifas de importação. Como essa equação funcionaria a favor da indústria?
BACHA – É preciso trabalhar uma proposta integrada. Seria a troca de uma tarifa de importação mais baixa pelo câmbio mais desvalorizado. Dessa forma, a proteção pela tarifa desaparece e, por outro lado, uma tarifa cambial, que é uma medida vertical e serve a todos os setores, beneficiaria as exportações. E aí estou disposto a encarar os meus amigos mais neoliberais que ficam com o cabelo em pé com a minha proposta. O Banco Central teria, nessa transição, uma taxa de referência para compensar essa queda das tarifas e as mudanças nas importações e exportações. Ele trabalharia com uma banda, para modular a maior ou menor oferta de dólares. E, eventualmente, aplicar medidas macroprudenciais. Nesse processo, imagino uma transformação estrutural, de grande monta. Ali na frente, haverá outra indústria.

DINHEIRO – Um câmbio a R$ 2,40, R$ 2,70?
BACHA – Não há um parâmetro específico. Já falei em R$ 2,40, hipoteticamente, mas haveria um valor como referência. O mercado teria de aprender (a encontrar a taxa ideal) a partir da forma com que o governo viesse a intervir. E o BC teria de aprender a trabalhar também dentro desse novo modelo, com o parâmetro das bandas. Ao longo da transição, na medida em que se conclui o processo de eliminar a parafernália do protecionismo, vou alargando os limites até o câmbio flutuar. Outra ponta dessa nova lógica seria investir em novos acordos comerciais. Pois, se vamos abrir o País, é preciso mudar de postura. Vamos voltar à Alca, à Aliança do Pacífico. De modo a assegurarmos uma contrapartida em termos de acesso a novos mercados.

DINHEIRO – Um real desvalorizado não corre o risco de viciar as empresas?
BACHA – Negociações são necessárias, barganhas, para acomodar situações específicas. Durante a implantação do Plano Real, nós fizemos isso. Pedimos aos empresários, em diversas reuniões: “Não aumentem os preços de forma alguma.” É possível fazer as coisas com suavidade. Uma taxa mais vantajosa com a abertura comercial daria um rumo à indústria.
DINHEIRO – Esse modelo ajudaria a aumentar o investimento produtivo da indústria, que anda muito baixo?
BACHA – Suponha que a carga tributária caia de 60% para 40%. Suponha que, em vez de bens de capital, as indústrias possam também importar componentes. Vamos abrir a economia e o câmbio vai se desvalorizar, indo para algo como R$ 2,40. Esse seria o mundo. Eu, que já tenho mercado interno, tenho a oferta de me integrar com o resto. Supondo que a infraestrutura vai finalmente ser resolvida, a indústria toparia jogar. Onde investir? Deixo para o empresário escolher. Claro que é preciso tomar alguns cuidados, olhar com cautela setores mais sensíveis, dar mais prazos para esta ou aquela cadeia.

DINHEIRO – O País tem diversos fatores que desestimulam o investimento, atualmente, como o próprio custo Brasil. Mas a indústria não tem responsabilidade, também, por não fortalecer a oferta, diante de um mercado consumidor aquecido?
BACHA – Com esse câmbio atual e essa tarifa de importação, ouço empresários que dizem preferir não fazer investimentos. Outro ponto: quem entrou atuando dentro dessas regras do jogo, que é para produzir para o mercado interno, deixa as coisas como estão. Por isso, o Brasil vive, hoje, um déficit na balança comercial, a economia não tem produtividade, não vai para lado nenhum. Para exportar produto primário, não precisa inovar. Para o mercado interno, também não. Tudo é protegido. O ambiente econômico não é propício. Numa economia sem rumo, quem vai querer inovar?

DINHEIRO – Pela sua proposta, mudaria a configuração atual do parque industrial?
BACHA – Deixaríamos de importar alguns produtos ou de produzir outros. A indústria poderia se beneficiar da importação de insumos e bens de capital de última geração. Ao contrário da tendência atual de investir na densificação da cadeia. E haveria muito mais concorrência. O mesmo que acontece com a Embraer, um dos poucos exemplos de indústria bem-sucedida, capaz de competir em igualdade de condições com o Exterior.

DINHEIRO – Seria a hora de fazer escolhas?
BACHA – Hoje, o mundo é muito mais globalizado que antes. Muito mais integrado. E tem um personagem chamado China no meio do caminho, que desequilibra o mercado. Mas vai tirar a China do jogo? Não, tem de compatibilizar. Tem um bilhão de pessoas lá e agora temos a Índia, com outro bilhão! Nas décadas de 1970 e 1980, falava-se em substituir importações. Cabia naquela fase, mas não cabe agora. E não se pode repetir a história, já dizia Karl Marx...
DINHEIRO – O sr. tem se posicionado contrário à política de conteúdo nacional do atual governo. Durante o leilão de concessões da Petrobras, no entanto, os lances ofertados superaram o conteúdo mínimo exigido. Os empresários não estão endossando a proposta?
BACHA – Embora tenham ofertado mais que o mínimo, foi menos que a rodada anterior. Antes, as empresas queriam pagar para ver. Conferir se, de fato, a Agência Nacional de Petróleo ia multá-las por não seguir a obrigação. Agora, já estão saindo notícias apontando que a Petrobras vai construir uma sonda no Exterior. Há um ponto cego na questão do conteúdo nacional. Quando o produtor nacional precisa pagar sobrepreço sobre importado e tem uma tarifa estabelecida, de 35%, por exemplo, ele já sabe exatamente quanto tem que pagar a mais para importar: sairão 35% a mais do seu bolso. Quando se trata de conteúdo nacional, não sei quanto estou pagando. Qual grau de ineficiência admito para ter indústria nova? É algo muito restritivo, uma política que força a barra. E torna os custos da Petrobras mais elevados, fazendo com que ela perca valor. Isso é nacionalismo?

DINHEIRO – Mas economistas defendem que há uma curva de aprendizado que fica para o Brasil. O sr. não concorda?
BACHA – Curva de aprendizado era a mesma tese utilizada para a Lei de Informática (de 1984 a 1992, que encarecia os computadores estrangeiros). Nossa experiência não indica nada nesse sentido.

DINHEIRO – O Plano Real só foi possível quando houve consenso nacional, de alto a baixo, de que era necessário debelar a inflação. Uma proposta para a indústria já encontra apoio na sociedade?
BACHA – Deveremos ter consenso sobre um plano para a indústria em menos tempo do que foi necessário na época do Plano Real. Estou surpreso com a repercussão deste debate. A Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores têm citado minhas ideias. A Firjan está fazendo contato, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento In­dus­trial também está interessado. Chegou a hora, a evidência está muito forte de que a economia não vai para lugar nenhum com essa política atual. Ninguém chegou lá sem se integrar com o mundo.

DINHEIRO – Os economistas da Fiesp e da CNI disseram que esse clima de campanha eleitoral antecipada que se instalou no País retarda debates importantes do setor industrial. O sr. concorda?
BACHA - Partilho dessa opinião, é preciso separar uma coisa de outra. Não quero dar contexto partidário ao debate. Se a presidenta Dilma abraçar a ideia, maravilha. Isso é bom para o Brasil. Quem fizer isso vai ficar na história, como ficou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com o Plano Real. Se será ela, eu não sei. O importante é que se dê conta de que proteger o mercado é legítimo no curto prazo, mas não no longo prazo. Hoje há neoliberais e desenvolvimentistas prestando atenção nesse debate. Não interessa quem, o que importa é o que é bom para o País.

Tem o Samba do Perdao, e a Diplomacia do Perdao; o primeira era da dupla Baden Powell-Paulo Cesar Pinheiro; a segunda deve ser dos companheiros


Perdoados
Otávio Cabral
Veja, 2/06/2013

Para atender a potenciais financiadores de campanha, o governo brasileiro perdoa dívida de países chefiados por nababos que enriqueceram à custa do povo


Na comemoração dos cinquenta anos da fundação da União Africana, realizada na semana passada na Etiópia, a presidente Dilma Rousseff deu aos anfitriões um presentão de 840 milhões de dólares. O valor equivale ao total da dívida que doze países do continente haviam contraído com o Brasil e que a partir de agora não terão  mais de se preocupar em pagar. O governo brasileiro os perdoou. Na foto oficial do evento, em que os chefes das nações beneficiadas aparecem sorridentes ao lado da brasileira, estão Teodoro Obiang e Omar al-Bashir. O primeiro é o mais longevo ditador africano. Sua biografia inclui o assassinato de inimigos, entre eles um tio. Ao longo dos 34 anos em que comanda com mão de ferro a miserável Guiné Equatorial, acumulou uma fortuna que inclui uma frota de 32 carros de luxo, entre eles sete Ferrari, cinco Bentley, quatro Rolls-Royce, dois Maserati, dois Lamborghini, dois Maybach, dois Mercedes, dois Porsche, um Aston Martin e um Bugatti. Jamais, porém, seu governo pagou os 12 milhões de dólares que deve ao Brasil. Seu colega Omar al-Bashir — 24 anos de poder, dois mandados internacionais de prisão e 9 bilhões de dólares em paraísos fiscais, segundo um promotor do Tribunal Penal Internacional — acaba de ter perdoada a dívida de 43 milhões de dólares que seu país tinha para com o Brasil. Habituados a enriquecer à custa de suas populações, Obiang e Al-Bashir agora darão prejuízo também ao contribuinte brasileiro.

Foi o pragmatismo eleitoral, mais do que a solidariedade aos povos sofredores, que orientou a decisão da presidente Dilma de perdoar a dívida dos países africanos. A questão é que empreiteiras, mineradoras e produtoras agrícolas brasileiras querem atuar nesses países com financiamento do BNDES (o órgão acaba de aprovar a criação de um escritório de representação na África do Sul). Ocorre que a legislação nacional impede a concessão de benefícios a nações com dívidas atrasadas junto ao Brasil. Ao abrir mão da cobrança dos débitos, medida que ainda precisa ser aprovada pelo Senado, o governo pretende remover essa barreira — e deixar o caminho livre para as empresas amigas.

A empreiteira Camargo Corrêa foi convidada por Obiang a construir uma rede de estradas ligando o litoral ao centro da Guiné Equatorial, obra orçada em 2 bilhões de dólares. Empresas agrícolas como a Amaggi, do senador Blairo Maggi (PR-MT), foram chamadas por Al-Bashir para plantar soja no Sudão, que tem relevo e clima semelhantes aos do cerrado brasileiro. A Camargo Corrêa foi a segunda maior financiadora da campanha de Dilma em 2010, com 7,6 milhões de reais. Entre as empresas de soja, só a Amaggi pingou no cofre da campanha 620 000 reais. A presidente conta com a continuação dessa generosidade no ano que vem, quando disputará a reeleição. A expectativa se justifica pelo tamanho do favor prestado. "O perdão da dívida atendeu a um pedido dos financiadores de campanha", confirma um assessor da presidente. "Como troco, a medida dá prestígio político e diplomático ao Brasil na região." Países africanos estão entre os principais eleitores de candidatos brasileiros que chegaram ao comando de organismos internacionais, como José Graziano na FAO (agência de alimentação da ONU)l e Roberto Azevêdo na Organização Mundial do Comércio.

As dívidas perdoadas foram constituídas nos anos 1970 e 1980, quando diversos países africanos deixaram de honrar negócios com estatais e empresas privadas brasileiras. As transações eram garantidas pelo Instituto de Resseguros Brasil, que foi extinto. Os valores, então, passaram a ser devidos ao Tesouro Nacional. O Brasil, alegando ter pouca chance de receber aquilo a que tinha direito, aderiu há dois anos a um projeto da ONU, FMI e Banco Mundial destinado a beneficiar países insolventes. "O valor do qual o Brasil abriu mão não é alto, mas o gesto manterá aberto todo o mercado africano, onde a balança comercial pende para nós", defende o ex-embaixador do Brasil em Washington Roberto Abdenur.

Se são bons para o governo, o PT e seus financiadores de campanha, negócios como esses já se revelaram péssimos para os contribuintes brasileiros. Em 1981, a empreiteira Mendes Júnior foi contratada pelo governo do Iraque para construir uma estrada de seis pistas e 128 quilômetros, por 333 milhões de dólares. Assim como faz agora na África, o governo brasileiro foi o fiador do negócio para manter abertos o mercado iraquiano e o acesso a seu petróleo — o Banco do Brasil abriu linhas de crédito de 209 milhões de dólares à Mendes Júnior. Com o início da guerra entre Irã e Iraque, a inflação no país disparou, os custos com logística aumentaram e a empreiteira tomou um calote do governo que foi de Saddam Hussein. Para receber o dinheiro, acionou, claro, o governo brasileiro. O processo se arrasta há anos e já está avaliado em mais de 10 bilhões de reais.

A aproximação do Brasil com os países africanos foi iniciada no governo Lula com o objetivo de melhorar a balança comercial e aumentar a relevância do país no exterior. Para Lula, o totalitarismo de governantes nunca foi um problema — o ex-presidente chegou a dizer que queria aprender com o ditador do Gabão "como ficar 37 anos no poder". Até a semana passada, a estratégia tinha produzido mais ganhos para o governo e o PT do que para o país. Agora, o rol dos beneficiados inclui também alguns tiranos. A frota de Obiang em breve deverá crescer. (com reportagem de Julia Carvalho e Adriano Ceolin)

Aos que acreditam na divisao centro-periferia e na perversidade do centro contra a periferia: coloquio economia-mundo...

Tem crenças para todos os os gostos. Tem gente, por exemplo, que acha que os movimentos de protesto na Europa, o Occupy Wall Street nos EUA e a tal de primavera árabe (que já fenesceu faz muito tempo) fazem parte de um grande processo de desconcentração mundial, capaz de abalar os alicerces da hegemonia dos países centrais na economia-mundo, assim designada por um fiat de Wallerstein e outros, que se encantam ao descobrir a pólvora do academismo ingênuo.
Enfim, sempre é uma oportunidade para gente inteligente oferecer suas contribuições idem...
Paulo Roberto de Almeida


CHAMADA DE TRABALHOS
VII COLÓQUIO BRASILEIRO EM ECONOMIA POLÍTICA DOS SISTEMAS-MUNDO
Florianópolis, 26 e 27 de Agosto de 2013
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.
DESIGUALDADES INTERNACIONAIS NA ATUAL CRISE SISTÊMICA

A crise do capitalismo mundial deflagrada em 2008 intensificou o debate sobre as desigualdades (econômicas, políticas, científico-tecnológicas, etc.) entre os estados nacionais que formam o sistema interestatal. A persistência da recessão nos países do Norte e do crescimento nos países emergentes nos leva a vislumbrar um cenário de maior equidade entre países. A presente revolução mundial - representada na consolidação dos governos de centro-esquerda na América Latina, no movimento Occupy Wall Street, na Primavera Árabe, dentre outros eventos - reforça as possibilidades de um sistema-mundo socialmente mais inclusivo. Por outro lado, atores governamentais e empresariais de países centrais reagem no sentido de conservar as hierarquias globais de riqueza e poder prevalecentes até então. União Européia, Estados Unidos e Japão são acusados de alimentar uma “guerra cambial” em detrimento dos países emergentes, de bloquear reformas na governança das instituições multilaterais, e de promover novos tratados internacionais - como a Trans-Pacific Partnership - que privilegiam seus interesses.

Em sua sétima edição, o Colóquio Brasileiro em Economia Política dos Sistemas-Mundo (EPSM) convida pesquisadores que utilizam a EPSM a investigar e discutir as forças atualmente em operação que reproduzem ou desafiam a estratificação do sistema-mundo capitalista em centro-periferia.

Como sempre, também são bem-vindos trabalhos sobre outros temas e épocas do moderno sistema mundial, que utilizem a EPSM como principal orientação teórico-metodológica.
Sub-temas sugeridos:
- A obsolescência das organizações internacionais construídas sob a hegemonia norteamericana;
- As relações sul-sul: sua trajetória, possibilidades, limites e contradições;
- O neo-desenvolvimentismo latino-americano;
- Os movimentos anti-sistêmicos no pós-crise;
- BRICS;
- A ascensão da China e os países em desenvolvimento: competição ou cooperação?
- A relação entre as desigualdades intra-nacionais e as desigualdades internacionais.
Instruções para submissão de trabalhos:
Nesta edição do colóquio, apenas trabalhos completos poderão ser submetidos.
Especificação da formatação: arquivo MS Word ou PDF, máximo de 30 páginas, espaço 1,5 e
tipo Times New Roman 12
Data limite para envio: 16/06/2013
E-mail para submissão: hpgpepsm@cse.ufsc.br
Mais informações: Chamada de Trabalhos VII Coloquio EPSM.PDF
Divulgação dos trabalhos aceitos na página do GPEPSM (www.gpepsm.ufsc.br): até
01/07/2013.
Comissão científica:
Pedro Antonio Vieira
Felipe Amin Filomeno
Marcelo Arend
Antronio Brussi
Comissão organizadora:
Pedro Antonio Vieira (coordenador)
Felipe Amin Filomeno
Helton Ricardo Ouriques
Luiz Mateus da Silva Ferreira

Ops: crise de transacoes correntes arrisca vir antes da crise fiscal: deficit comercial aumenta...

Os companheiros devem andar preocupados: já não bastasse o baixo crescimento, já não bastasse a alta inflação, já não bastasse a deterioração das contas públicas, que ameaça virar crise fiscal, vem essa agora: aumento do déficit comercial, o que pode precipitar uma crise de transações correntes antes do tempo.
Sorte deles que o neoliberalismo do ancien régime tucanês adotou a tal de flutuação cambial, em lugar das desvalorizações constantes, que os companheiros achavam o ideal (certamente para deixar mais pobres os simples companheiros trabalhadores, e contentar os burgueses da proteção, que são os que lhes pagam as prebendas e extorsões livremente consentidas). Sorte deles, pois dá para acomodar quedas na cotação sem ameaça grave, pois havendo desvalorização (como houve no começo do regime), as contas tendem a se ajustar.
Mas eles ainda vão passar à História por três feitos gloriosos na economia nacional: inflação sem crescimento (o que contraria os preceitos do keynesianismo de botequim que eles praticam), e perda de competitividade com desvalorização cambial, por excesso de gastos públicos e tributação impiedosa.
Eles são mesmo campeões da incompetência econômica esses companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

Comércio Exterior

Déficit comercial é o maior da história: US$ 5,4 bi até maio

Apesar do superávit de 760 milhões de dólares em maio, de janeiro até agora o país registrou déficit de 5,392 bilhões de dólares

Veja.com, 3/06/2013
Contêineres armazenados nos terminais da Santos Brasil, no Porto De Santos
Contêineres armazenados nos terminais da Santos Brasil, no Porto De Santos (Ivan Pacheco)
A balança comercial brasileira registrou superávit de 760 milhões de dólares em maio, valor 74,3% ante igual mês do ano passado, quando atingiu 2,962 bilhões de dólares. Esse é o menor valor para o mês desde 2002. Em abril, o país registrou um déficit de 994 milhões de dólares, o pior resultado para o mês. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Apesar do resultado positivo de maio, o país acumula um déficit de 5,392 bilhões de dólares de janeiro a maio deste ano, o pior déficit para os cinco primeiros meses do ano desde o início da série histórica do Banco Central, em 1959. 
Até o momento, o maior déficit comercial registrado no acumulado dos primeiros cinco meses do ano havia sido de 3,339 bilhões de dólares, em 1995. Em igual período de 2012, por exemplo, o Brasil registrou um superávit comercial de 6,261 bilhões de dólares. “O saldo acelerará e alcançará os 6 bilhões de dólares de superávit ao fim de 2013”, diz Ilan Goldfajn, economista-chefe Itaú Unibanco, em seu relatório sobre o assunto.
De acordo com Raul Velloso, economista especializado em finanças públicas, é comum que ocorram déficits tanto na conta corrente como na balança comercial para países com um baixo nível de poupança. “Países com situação econômica melhor que a do Brasil têm déficit, e isso não os preocupa”, afirma Velloso. No entanto, a fragilidade com que o governo tem tratado a economia nos últimos meses prejudica a divulgação dos dados oficiais – ainda mais quando são negativos. “O governo tem feito muitas intervenções pontuais por meio de uma política econômica errática. O problema é que a gestão da política econômica está sendo mal feita", explica Velloso.
Mês - Em maio, as exportações alcançaram 21,824 bilhões de dólares, com média diária de 1,039 bilhão de dólares, crescimento de 10,8% em relação a abril de 2013. As importações totalizaram 21,064 bilhões de dólares e média diária de 1,003 bilhão de dólares, números recordes para meses de maio. Já no acumulado do ano, as exportações somam 93,291 bilhões de dólares, com média diária de 905 milhões de dólares e queda de 2,8% em relação ao mesmo período de 2012. Em contrapartida, as importações são recordes para o período. Somam 98,683 bilhões dólares e média diária de 958,1 milhões de dólares, alta de 9,8% na comparação com janeiro a maio do ano passado.
Combustíveis — No resultado anual, um dos fatores que mais pesou no déficit foi o aumento das importações de combustíveis e lubrificantes, que teve alta de 25,5% na comparação com igual período de 2012. As importações da Petrobras pesam nesse resultado. A estatal está aumentando suas importações de petróleo porque suas refinarias estão processando um volume maior da commodity do que a empresa consegue produzir.
“As exportações de petróleo devem se acelerar com o fim da manutenção de várias plataformas e consequente alta na produção; o passivo de combustíveis importados em 2012 e registrados este ano finalmente chegou ao fim”, afirma Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco
Nos cinco primeiros meses deste ano, ante igual período do ano passado, as importações em matérias-primas e intermediários tiveram alta de 8,9%; os bens de capital, de 6,5%; e houve ainda aumento de 1,7% de bens de consumo.
(com agência Reuters e Estadão Conteúdo)
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Países da América Latina reduzem compras do Brasil

De 2008 para 2011, País perdeu US$ 5,4 bilhões em vendas a países vizinhos, que deram preferência a China, EUA, UE e México

03 de junho de 2013 | 20h 49
Cleide Silva, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Além de importar muito, o Brasil perde exportações para seus tradicionais compradores da América Latina, que nos últimos cinco anos fizeram acordos com diversos blocos econômicos, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia (UE).
De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), desde o início da crise internacional, em 2008, até 2011, o País perdeu US$ 5,4 bilhões em vendas para a Argentina, México, Peru, Colômbia, Chile, Equador, Venezuela, Paraguai e Bolívia. As compras foram direcionadas para China, Estados Unidos, União Europeia e México.
Os acordos que o Chile tem envolvem 62 países, incluindo os 27 da UE. Os da Colômbia envolvem 60 países, os do Peru 52, os do México 50 e os do Brasil, apenas 22, a maioria de pouca expressão comercial, como Israel, Egito, Palestina e a União Aduaneira do Sul da África (Sacu). Os três últimos ainda nem entraram em vigor.
Soraya Rosar, gerente executiva da Unidade de Negociações Internacionais da CNI, afirma que, tradicionalmente, a postura do empresariado brasileiro era mais defensiva, de resguardo ao mercado doméstico para a indústria local. Isso mudou com a perda da competitividade local e com a onda de acordos deflagrados pelos demais países, que colocam o Brasil no isolamento.
"A CNI entende que a perda de competitividade da indústria brasileira e a queda nas exportações de semi e manufaturados sinalizam que o Brasil precisa dar mais atenção às negociações internacionais", diz Soraya. "O País corre o risco de perder mais espaço em seus mercados exportadores se não entrar no jogo mundial e buscar novas parcerias no comércio internacional."
Soraya reconhece, contudo, que acordos comerciais, em si, não resolvem o problema se o País não melhorar sua competitividade.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, também favorável aos acordos internacionais, ressalta que a falta de competitividade e a baixa produtividade da indústria brasileira em geral vão exigir um período de transição para adequação dos setores.
A entidade tem o desafio de exportar 1 milhão de veículos até 2017. Há sete anos, o setor exportou 900 mil veículos, mas, desde então, os números despencaram. Em 2012, foram 442 mil unidades e, neste ano, não devem passar de 420 mil. Segundo Moan, a Anfavea já entregou ao governo suas propostas para a negociação do acordo do Mercosul com a UE e pede que o setor seja tratado como "sensível".
Sem consenso. Apesar do apoio de grandes entidades, a defesa dos acordos comerciais não é consenso em toda a indústria. Uma parte teme a abertura comercial desenfreada, como ocorreu no passado.
"A tarefa é difícil, vai exigir determinação e visão de longo prazo, mas não podemos mais perder tempo, pois nosso atraso é federal", diz Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Ele lembra que as cadeias globais de setores como eletrônico, farmacêutico e tecnologia da informação "nem passaram perto do Brasil".
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ressalta que o momento é bastante complicado para as negociações. "O mundo passa por um momento de crise e todos os países querem aumentar suas exportações e diminuir as importações, ou seja, a conta não fecha."
Para o Brasil, que ficou afastado dos grandes acordos, a situação é ainda mais difícil. Segundo Castro, em 2007 o Brasil tinha 20.889 empresas exportadoras. Hoje, são 18.630, ou 2.259 a menos.
Já o número de empresas importadoras aumentou de 28.911 para 42.458, ou 13.547 a mais. Só de janeiro a abril deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, 59 empresas deixaram a lista de exportadoras e 776 entraram na lista de importadoras, informa a AEB.

Brasilianismo americano: livros fundamentais de autores americanos sobre o Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Abaixo a tabela que acompanhava uma matéria importante sobre o Brasilianismo americano, que eu ajudei a compor, publicada na revista Veja, mais de dez anos atrás (em 2002), quando eu tinha acabado de compor o livro O Brasil dos Brasilianistas, em fase de publicação no Brasil.
A tabela termina, por sinal, nesse livro:
Barbosa, Rubens A.; Eakin, M. C., Almeida, P. R. (orgs). O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000 (São Paulo: Paz e Terra, 2002)
A tabela, que por acaso apareceu em algum link de busca que estava fazendo hoje, pode ser encontrada neste link: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/010502/brasilianismo.html
Acredito que ainda seja válida para as obras mais importantes do brasilianismo acadêmico.
Paulo Roberto de Almeida

Livros fundamentais do brasilianismo
Ano
Autor e Livro
Observações pessoais
1957
Stein, Stanley J. The Brazilian Cotton Manufacture: Textile Enterprise in a Underdeveloped Area, 1850-1950. Cambridge: Harvard University Press, 1957 (ed. bras.: Origens e Evolução da Indústria Têxtil no Brasil, 1850-1950. Rio de Janeiro: Campus, 1979 )
Um dos papas do brasilianismo acadêmico, certamente um dos mais competentes estudiosos da emergência do Brasil moderno; tem um estudo, do mesmo ano, sobre a comunidade cafeeira de Vassouras
1958
Morse, Richard M. From Community to Metropolis: A Biography of São Paulo, Brazil. Gainesville: University of Florida Press, 1958; New and enl. ed.: New York: Octagon Books, 1974; (ed. bras.: Formação Histórica de São Paulo: da comunidade à metrópole. São Paulo: Difel, 1970)
Uma das primeiras (e raras) tentativas de examinar SP como uma estrutura histórica, dotada de sua lógica e dinâmica próprias; Richard Morse foi o mais original dos brasilianistas, o único talvez a transceder sua condição original e a tentar fazer uma análise do desenvolvimento comparado dos EUA e dos países latino-americanos a partir de um ponto de vista ibérico, e não anglo-saxão (em O Espelho de Próspero)
1962
Boxer, Charles R. The Golden Age of Brazil, 1695-1750: growing pains of a colonial society. Berkeley: Published in cooperation with the Sociedade de Estudos Históricos Dom Pedro Segundo, Rio de Janeiro, by the University of California Press, 1962 (ed.: bras.:A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. 2ª ed. rev., São Paulo: Companhia Editôra Nacional, 1969)
Por um historiador ingês, livro publicado originalmente nos EUA, o que justifica sua inclusão nesta lista: um olhar novo sobre nosso período colonial, a expansão portuguesa em terras castelhanas, as invasões estrangeiras e a especificidade da sociedade do ouro nas minas gerais, com base num primoroso trabalho de arquivo e na documentação da época
1963
Wagley, Charles. An Introduction to Brazil. New York: Columbia University Press, 1963; rev. ed.: 1971
Durante muito tempo, "o" livro de introdução ao Brasil estudado nas universidades americanas, por um autor que fez trabalho de campo e publicou obras importantes desde os anos 40 e 50, e que participou da famosa pesquisa da Unesco sobre raças e classes sociais no Brasil
1964
Manchester, Alan K. British Preëminence in Brazil: Its Rise and Decline; a study in european expansion. Chapel Hill: University of North Caroline Press, 1933; 2nded., New York: Octagon Books, 1964 (ed. bras.: Preeminência inglesa no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1973)
A primeira edição era de 1933 e esta, de 1964, deu origem à edição brasileira da Brasiliense, bastante estudada no Brasil: o trabalho clássico, a mais de um título, sobre a hegemonia britânica no Brasil, entre a era colonial e os anos 20 do século XX.
1965
Werner Baer. Industrialization and Economic Development in Brazil. Homewood, Ill.: Richard D; Irwin, 1965
O livro tem sido permanentemente atualizado desde então e possui edições brasileiras sucessivas, como prova de sua abordagem bastante completa e isenta sobre aspectos essenciais do processo brasileiro de industrialização
1966
Burns, E. Bradford. The Unwritten Alliance: Rio Branco and Brazilian-American Relations. New York: Columbia University Press, 1966
Um dos primeiros trabalhos de história diplomática a enfocar a questão da aliança entre o Brasil e os EUA: excessivaente otimista, mas bem pesquisado
1967
Skidmore, Thomas E. Politics in Brazil, 1930-1964: An Experiment in Democracy. New York: Oxford University Press, 1967 (ed. bras.:Brasil: de Getúlio Vargas a Castelo Branco, 1930-1964. Rio de Janeiro: Saga, 1969; 10ª ed.: São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1996)
Tornou-se a história "standard" (padrão) do Brasil contemporâneo pela inexistência de obras brasileiras capazes de apresentar uma síntese equilibrada sobre as relações civis-militares na era Vargas; fraco nas questões internacionais, passável na análise econômica, mas bastante honesto na parte política; algo pessimista em relação às chances de po Brasil constituir uma sociedade verdadeiramente democrática, esta vista como um intervalo entre duas ditaduras
1968
Graham, Richard. Britain and the Onset of Modernization in Brazil, 1850-1914. Cambridge: Cambridge University Press, 1968 (ed. bras.: Grã-Bretanha e a modernização do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1973)
Outro "clássico" da pesquisa histórica sobre o processo de transformação econômica do Brasil do Império à República, com muita pesquisa de arquivo e uma interpretação honesta, sem parti pris, das principais questões envolvidas
1968
Leff, Nathaniel H. Economic Policy-Making and Development in Brazil, 1947-1964. New York: John Wiley, 1968; Leff, N. The Brazilian Capital Goods Industry, 1929-1964.Cambridge: Harvard University Press, 1968
Dois estudos em profundidade sobre nosso processo de desenvolvimento econômico, revisando "meias verdades" por parte de historiadores como Caio Prado Jr. e Celso Furtado e colocando nosso "atraso" em uma nova perspectiva estrutural
1969
Dean, Warren. The Industrialization of São Paulo, 1880-1945. Austin: University of Texas Press, 1969 (ed. bras.: A industrialização de São Paulo, 1880-1945. São Paulo: Difel, 1971)
Um estudo ainda válido, apesar de já superado pelas novas pesquisas e interpretações do processo industrializador, por um autor que continuou a produzir obras primorosas sobre o Brasil, como seus estudos ecológicos sobre a economia da borracha na Amazônia e sua história da destruição da mata atlântica
1970
Robert M. Levine. The Vargas Regime: the critical years, 1934-1938. New York: Columbia University Press, 1970. (ed. bras.:O Regime Vargas: os anos críticos, 1934-1938. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1970)
O Brasil, entre a constituinte e o Estado Novo, examina o caminho da ditadura Vargas com enorme pesquisa em arquivos e muita sobriedade analítica, por um autor que especializou-se na era Vargas, sendo um dos seus maiores conhecedores
1970
Dulles, John W. F. Unrest in Brazil: Political-Military Crises, 1955-1964.Austin: Texas A & M Press, 1970
A segunda e um ds melhores livros do historiador "improvisado" que tem uma das melhores obras de reconstituição do nosso itinerário político no século XX (sem ser reconhecido pelos demais brasilianistas e pouco apreciado no Brasil); infelizmente nunca traduzido
1971
Love, Joseph. Rio Grande do Sul and Brazilian regionalism, 1882-1930. Stanford: Stanford University Press, 1971 (ed. bras.:O Regionalismo Gaúcho e as Origens da Revolução de 1930. São Paulo: Perspectiva, 1975)
Um dos maiores historiadores da economia e da política brasileira, em pesquisa coordenada outros autores em outros estados, num projeto de história regional do Brasil (Levine para Pernambuco, John Wirth para Minas Gerais e o mesmo Love para São Paulo (São Paulo and the Brazilian Federation, 1889-1937. Stanford: Stanford University Press, 1980 (ed. bras.: A Locomotiva: São Paulo na Federação Brasileira, 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982)
1971
Stepan, Alfred. The Military in Politics: changing patterns in Brazil. Princeton: Princeton University Press, 1971 (ed. bras.:O Militares na Política: as mudanças de padrões na vida brasileira. Rio de Janeiro: Artenova, 1975)
O livro que re(i)novou os estudos sobre os militares enquanto corporação atuante na política brasileira; teve sucesso por abordar os próprios "algozes" da academia brasileira, numa época em que não se ousava analisar os militares por temor de represália; combinava rigor analítico e abertur de opiniões, bastante lido entre os próprios militares, provavelmente pela inexistência de estudos sociográficos do gênero
1972
Toplin, Robert Brent. The Abolition of Slavery in Brazil. New York: Atheneum, 1972; Conrad, Robert E. The Destruction of Brazilian Slavery, 1850-1888. Berkeley: University of California Press, 1972 (ed. bras. Os últimos anos da escravatura no Brasil, 1850-1888. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1975)
Dois livros que examinam criticamente a tradição herdade de Freyre e de outros historiadores oficiais antes dele no sentido de minimizar a bárbarie da escravidão no Brasil; constatam o quão difícil foi romper com a nefanda instituição e como a classe dominante se aferrou ao princípio escravista contra ventos e marés, até o final…
1973
Dulles, John W. F. Anarchists and Communists in Brazil, 1900-1935. Austin: Texas A & M Press, 1973. (ed. bras.: Anarquistas e Comunistas no Brasil, 1900-1935. Trad. Cesar Parreiras Horta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977)
A despeito de muita "pesquisa" por nossos sociólogos e historiadores "operários", não há nada de semelhante no Brasil, e não obstante todo o seu fatualismo sem interpretação, uma história essencial da formação de nosso movimento sindical enquanto fator na política, ostentando uma relação ambígua com a a classe operária; contrasta justamente com o parti pris da maior parte dos trabalhos brasileiros no gênero
1973
Schwartz, Stuart B. Sovereignty and Society in Colonial Brazil: the High Court of Bahia and its judges, 1609-1751. Berkeley, University of California Press, 1973 (ed. bras.:Burocracia e Sociedade no Brasil Colonial: a Suprema Corte da Bahia e seus juízes. São Paulo: Perspectiva, 1979)
Um dos maiores estudiosos da sociedade colonial brasileira, com ênfase na Bahia
1973
Kenneth Maxwell. Conflicts and Conspiracies: Brazil and Portugal, 1750-1808. Cambridge University Press, 1973 (3ª ed. bras.: A devassa da devassa: a Inconfidência Mineira, Brasil-Portugal, 1750-1808. São Paulo: Paz e Terra, 1985)
Por um historiador inglês que depois ficou americano, uma visão nova da "conspiração das elites" mineiras contra a dominação colonial; ele coninuou a estudar o período pombalino, tendo produzido obras sobre seu impacto no Brasil
1974
Skidmore, Thomas E. Black Into White: Race and Nationality in Brazilian Thought. New York: Oxford University Press, 1974 (ed. bras.: Preto no Branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976)
"Apenas" uma história das "idéias", mas fortemente embasada na literatura e documentação da época, para mostrar a ideologia do branqueamento que frequentou nossas elites políticas, a despeito da origem mestiça de muitas delas
1974
Macaulay, Neill. The Prestes Column: revolution in Brazil. New York, New Viewpoints, 1974 (ed. bras.: A Coluna Prestes: revolução no Brasil. São Paulo: Difel, 1977)
O começo da desmi(s)tificação da Coluna Prestes
1974
Chilcote, Ronald. H. The Brazilian Communist Party: conflict and integration, 1922-1972. New York: Oxford University Press, 1974 (ed. bras.: O Partido Comunista Brasileiro: conflito e integração, 1922-1972. Rio de Janeiro: Graal, 1982)
Nossos historiadores "comunistas", ou simplesmente historiadores, foram incapazes, até agora, de produzir algo similar ou equivalente (só pode ser por bloqueio mental). Uma história honesta, relativamente completa, dos meandros do aparato do Partidão, em seu primeiro meio século: Prestes é colocado em seu lugar, sem concessões ao mito
1975
Hilton, Stanley E. Brazil and the great powers, 1930-1939: the politics of trade rivalry. Foreword by José Honório Rodrigues. Austin: University of Texas Press, 1975 (ed. Bras.:brasileira: O Brasil e as Grandes Potências: Os aspectos políticos da rivalidade comercial, 1930-1939. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977); Hilton, Stanley. Brazil and the Internacional Crisis: 1930-1945. Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1975 (ed. Bras.:brasileira: O Brasil e a crise internacional (1930-1945). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977).
Um historiador importante, que já foi referência nos estudos sobre a era Vargas, e que provou sua capacidade de trazer novos problemas ao conhecimento dos contemporâneos, graças a uma leitura exaustiva da documentação e um conhecimento impecável das personagens da época. Dois livros de peso na literatura sobre os anos críticos da nossa transição para o Brasil moderno
1979
Evans, Peter. Dependent Development: The Alliance of Multinational, State and Local Capital in Brazil. New Jersey: Princeton University Press, 1979 (ed. bras.: A tríplice aliança: as multinacionais, as estatais e o capital nacional no desenvolvimento dependente brasileiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1980)
A materialização americana da teoria da dependência; um grande estudo sociológico, por um pesquisador honesto e preocupado com os rumos do desenvolvimento brasileiro
1982
Hallewell, Laurence. Books in Brazil: a history of the publishing trade. New Jersey-London: The Scaricrow Press-Metuchen, 1982 (ed. bras.: O Livro no Brasil: sua história. São Paulo: T. A. Queiroz-Edusp, 1985)
A despeito dos trabalhos (já antigos) de Wilson Martins, e das pesquisas mais recente de Marisa Lajolo, não possui equivalente no Brasil; Revela uma enorme pesquisa nas mais diversas fontes, com grande perspicácia quanto ao papel social e político do livro na sociedade brasileira
1987
Topik, Steve. The Political Economy of the Brazilian State, 1889-1930. Austin: University of Texas Press, 1987
Um estudo exemplar por um dos maiores conhecedores da economia cafeeira no Brasil e no mundo
1988
Skidmore, Thomas. The Politics of Military Rule in Brazil, 1964-85. New York: Oxford University Press, 1988 (3ª ed. bras.: Brasil: de Castelo Branco a Tancredo Neves. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989)
Continuidade de seu trabalho de levantamento histórico da era Vargas, faz um levantamento honesto do período ditatorial e que se distingue na literatura da área por falta de equivalentes ou desafiantes brasileiros
1991
Smith, Joseph. Smith, Joseph.Unequal Giants: diplomatic relations between the United States and Brazil, 1889-1930. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1991
Uma tese de doutoramento que se converteu em livro importante e pouco conhecido no Brasil: levantamento completo das relações bilaterais durante a República Velha
1991
Andrews, George Reid. Blacks and Whites in São Paulo, 1888-1988. Madison: University of Wisconsin Press, 1991
Revisa a análise "clássica" (mas de certa forma criticável) de Florestan Fernandes em "A Integração do Negro na Sociedade de Classes"
1994
Hanchard, Michael. Orpheus and Power: the Movimento Negro of Rio de Janeiro and São Paulo, Brazil, 1945-1988. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1994
Dá início à fase menos "globalizante" (e mais detalhista) do brasilianismo; enfocando não grandes problemas gerais da sociedade, mas questões mais específicas e "menores", que correspondem a uma certa visão politicamente correta do Brasil
1995
Lesser, Jeffrey. Welcoming the Undesirables: Brazil and the Jewish Question. Berkeley: University of California Press, 1995 (ed. bras.:(Ed. Bras.: O Brasil e a Questão Judaica: imigração, diplomacia e preconceito. Rio de Janeiro: Imago, 1995)
Outro representante do brasilianismo jovem, que reproduz menos a "nova" agenda acadêmica americana sobre o Brasil e que enfoca questões relevantes da formação da nacionalidade, com muita pesquisa primária e uma visão ampla do processo de inserção do Brasil nas grandes correntes migratórias mundiais
1999
Skidmore, Thomas E. Brazil: five centuries of change. New York: Oxford University Press, 1999; Levine, Robert M. Brazil: A History.Westport, CT: Greenwood, 1999;
Dois "velhos" brasilianistas fazem obras de síntese, o primeiro interpretativa, o segundo documental, em formato de "reader"; constituem as referências atuais de introdução aos estudos brasileiros nos EUA
2001
Gordon, Lincoln. Brazil’s Second Chance: en route toward the First World. Washington, D.C.: Brookings Institution Press, 2001; livro sendo publicado no Brasil pela Senac (com introdução de Paulo Roberto de Almeida; 2002)
Uma análise honesta sobre o processo de desenvolvimento brasileiro no século XX, em escala comparada com outros países emergentes, por um "velho" estudioso do nosso processo de industrialização, por acaso também o "embaixador do golpe";
2002
Barbosa, Rubens A.; Eakin, M. C., Almeida, P. R. (orgs). O Brasil dos Brasilianistas: um guia dos estudos sobre o Brasil nos Estados Unidos, 1945-2000 (São Paulo: Paz e Terra, 2002)
Uma seleção de análises por brasilianistas da produção relevante em seus respectivos campos de atuação no último meio século: deve permanecer uma referência para o estudo do brasilianismo americano por algum tempo
Elaboração: Paulo Roberto de Almeida; com base em bibliografia e cronologia constantes de O Brasil dos Brasilianistas; comentários em 16.04.2002

Proliferacao nuclear: relatorio do SIPRI - Le Monde

Chine, Inde et Pakistan continuent de renforcer leur arsenal nucléaire

Le Monde.fr avec AFP |  • Mis à jour le 
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Le Pakistan disposerait de 100 à 120 têtes nucléaires en 2013, contre 90 à 110 en 2012.

Alors que cinq pays disposant de l'arme atomique s'efforce de réduire ou demaintenir leur arsenal nucléaire, trois autres ne cessent d'accroître leur panoplie. La Chine dispose ainsi aujourd'hui de 250 têtes nucléaires contre 240 en 2012, le Pakistan de 100 à 120 contre 90 à 110, et l'Inde de 90 et 110 contre 80 à 100, estime  l'Institut international de recherche sur la paix de Stockholm (Sipri) dans un rapport lundi 3 juin.

Cette course aux armements est d'autant plus inquiétante que le Sipri juge"fragile" la paix en Asie, vu les "tensions croissantes depuis 2008" qui persistent entre Inde et Pakistan, les deux Corées, ou encore la Chine et le Japon. Signataires du traité de désarmement nucléaire START, la Russie (8 500 têtes aujourd'hui) et les Etats-Unis (7 700) ont réduit leurs arsenaux. La France (300 têtes), le Royaume-Uni (225) et Israël (80) le gardent, eux, au même niveau.
Ces chiffres sont des estimations dont le Sipri reconnaît qu'elles sont plus ou moins fiables selon les pays, la Chine maintenant par exemple une opacité totale et la Russie se montrant de moins en moins transparente. L'institut suppose par ailleurs que la Corée du Nord et l'Iran n'ont pas encore réussi à sedoter de l'arme nucléaire.
Pour le centre de recherche, la baisse quantitative de l'armement n'est pas synonyme de réduction de la menace nucléaire. "Les programmes de modernisation à long terme en cours dans ces Etats montrent que les armes nucléaires sont toujours une marque du statut international et de la puissance", observe le coordinateur de la recherche sur le nucléaire au Sipri, Shannon Kile, cité dans un communiqué.
DAVANTAGE DE CONFLITS INTRA-ÉTATIQUES
Dans le domaine des armes chimiques et biologiques, la réduction des stocks pour laquelle milite le Sipri n'a progressé que lentement.  Les Etats-Unis et la Russie n'ont pas détruit toutes leurs armes chimiques en 2012 contrairement à ce qu'ils avaient promis, et la Syrie s'est dite prête à les employer en cas d'attaque étrangère.
Les chiffres du Sipri montrent par ailleurs que "le nombre des soldats de la paix déployés dans le monde a baissé de plus de 10% en 2012, le retrait des forces internationales ayant commencé en Afghanistan". Toutefois, "le nombre des combattants déployés en dehors de (ce pays) a en fait des chances de croître", notamment "au Mali, plus largement au Sahel, et potentiellement en Syrie".
"Ces dernières années, il y a eu une hausse du nombre des conflits intra-étatiques qui se sont internationalisés, à savoir qu'un autre Etat soutient un camp ou l'autre. Une telle implication a souvent eu pour effet d'accroître la mortalité et de prolonger les conflits", a constaté le Sipri, dont le rapport annuel reprend des données déjà publiées.
Les dépenses mondiales en armement ont reculé en 2012 pour la première fois depuis 1998, de 0,5 % en tenant compte de l'inflation. Et la Chine a détrôné la Grande-Bretagne en tant que cinquième exportateur mondial d'armes, derrière les Etats-Unis, la Russie, l'Allemagne et la France.