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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Governo: "O mundo esta contra nos, mas vamos persistir nas nossas escolhas..." - Editorial Estadao

Bem, se o mundo está contra nós, e se as coisas não dão certo, só porque o mundo está contra nós, vamos insistir, não é mesmo? Pode ser que o mundo um dia mude, e aí as coisas estarão perfeitas para nós.
Até lá, aguentem duro, companheiros, que essa turma da direita mundial é terrível. Eles fazem de tudo para nos atrapalhar.
Mas, nós vamos mostrar a eles com quantos paus se faz um leilão para o setor privado, mesmo que este não goste...

Pela interferência na mente dos companheiros:
Paulo Roberto de Almeida

O mundo adversativo de Dilma

Editorial O Estado de S.Paulo, 22/09/2013

Crise internacional, guerra cambial, sobe e desce do dólar, pressões da Fifa e espionagem americana são apenas alguns dos grandes problemas enfrentados pelo governo brasileiro e, portanto, pelo Brasil, segundo a interpretação oficial. A presidente Dilma Rousseff identificou e nomeou mais um sério desafio, até agora ignorado ou mal percebido pela maioria das pessoas. "Não vou dizer que nós somos absolutamente perfeitos, que está tudo andando, mas acho que tem um pessimismo adversativo", disse ela na quinta-feira, em Mato Grosso, depois de inaugurar um trecho de 260 quilômetros da Ferronorte, entre Rondonópolis e Itiquira. A primeira indicação foi dada. A revelação ficará completa quando o público souber o significado de "pessimismo adversativo" e, portanto, a diferença entre esse e outros tipos de pessimismo. Qual será mais nocivo?
O aparente surto de humildade ou de realismo - o reconhecimento de uma perfeição menos que absoluta - durou pouco. Logo recomeçou a busca habitual de culpados, sempre do lado dos outros, pelos fracassos colecionados em quase três anos, sob sua liderança, pela atual equipe governante.
A coleção havia sido ampliada, na semana anterior, com o fiasco na licitação da Rodovia BR-262. Não foi um tropeço qualquer. O governo demorou um ano, depois de anunciar seu plano de investimentos em logística, para iniciar os leilões. Tão longo tempo foi insuficiente, no entanto, para a preparação de um esquema atraente para o setor privado.
Resultado aparentemente melhor foi alcançado, em seguida, na licitação da BR-050. O consórcio vencedor, formado por nove construtoras de médio porte, ofereceu um deságio de 42,38% para o pedágio. Analistas do setor privado reagiram com desconfiança quanto à viabilidade do empreendimento, mas o governo festejou. Se tiver acertado dessa vez, uma grande obra poderá deslanchar. Mas a alegria foi contrabalançada, em seguida, por uma nova frustração: só se inscreveram 11 das 40 operadoras esperadas para o primeiro leilão do pré-sal, marcado para outubro.
Em vez de iniciar uma reavaliação de seus procedimentos, de seu esquema administrativo e de seus critérios, o governo insiste em atribuir a responsabilidade, ou pelo menos a maior parte dela, a outros agentes. Segundo a presidente Dilma Rousseff, os governadores estaduais preferem rodovias sem pedágio, enquanto as empresas procuram apenas concessões valorizadas e atrasam a entrega dos trechos licitados. De acordo com a presidente, o Ministério Público também atrapalha, provocando interrupções nas obras.
Poderia ter alongado a lista de queixas e de acusações, mencionando as interferências do Tribunal de Contas da União (TCU), com sua insistência em cobrar certos critérios na elaboração de projetos, na fixação de preços e na execução das obras.
Há algo intrigante na repetição dessa história. Seria aparentemente mais fácil o Executivo levar em conta os critérios do TCU, na elaboração e na execução de projetos. Poderia, ao mesmo tempo, iniciar uma discussão racional sobre a possível mudança de alguns desses critérios, mas insistir nas queixas e acusações deve ser muito mais simples para um governo pouco afeito à busca de eficiência.
De toda forma, a tarefa de projetar investimentos e contratar prestadores de serviços ficou bem mais fácil, nos últimos anos, com várias mudanças no regime de licitações. Apesar disso, o investimento conduzido pelo governo permaneceu muito abaixo do necessário para o fortalecimento da economia.
E assim continuará, enquanto a administração federal insistir na mistura de preconceitos ideológicos com o intervencionismo e o voluntarismo desastrados. Os dois conjuntos de vícios foram amplamente exibidos no tratamento das concessões no setor de transportes, na formulação do modelo de exploração do pré-sal e na renovação dos contratos do setor elétrico.
A poucos meses de completar seu terceiro ano de mandato, a presidente Rousseff parece ter aprendido pouco ou nada com os fiascos acumulados. Talvez devesse dar mais atenção às críticas e refletir sobre os perigos da teimosia adversativa.

Brasil persiste no erro da ajuda ao desenvolvimento do ultimo meio seculo

Ajuda ao desenvolvimento raramente traz desenvolvimento. Só ajuda elites corruptas a manterem estruturas espoliativas dos mais pobres. Leiam William Easterly para comprovar o que digo: paises "ajudados" nunca se desenvolveram, só se tornam dependentes da ajuda externa.
Brasil persiste no erro. 
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil eleva ajuda a países da América Latina e África


Lígia Formenti / BRASÍLIA
O Estado de S.Paulo, 23/09/2013

Relatório do Development Initiatives que será lançado nesta segunda-feira, 23, na Assembleia-Geral das Nações Unidas mostra que o Brasil é o quarto maior financiador de projetos de cooperação fora do Comitê de Ajuda ao Desenvolvimento, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - atrás de Japão, Noruega e Alemanha. Em 2010, o Brasil destinou US$ 1 bilhão para 124 países. A maior parte (69%) para América Latina e Caribe. A África Subsaariana recebeu 23% dos recursos.
Os números refletem o esforço do País para ampliar sua participação no cenário internacional. Entre 2005 e 2010, os recursos destinados à cooperação mais que dobraram. O crescimento foi direcionado sobretudo para operações de paz e ações de assistência humanitária. E com endereço certo: o Haiti. Em 2010, 80% dos financiamentos para operações de paz foram feitos para aquele país - US$ 301 milhões do total de US$ 377 milhões.
Depois de operações de paz e assistência humanitárias, o Brasil financiou projetos de cooperação técnica, científica e de cunho educacional. Apenas parte dos projetos de cooperação técnica teve como alvo países pobres - o principal foco nesta área foi buscar parceiros dentro da América Latina.
Saldo. Embora tenha ampliado sua participação nos financiamentos, o Brasil continua a figurar como receptor de recursos. O País recebe a mesma quantia que destina aos financiamentos: US$ 1 bilhão.
O relatório indica que os projetos de assistência ao Brasil cresceram, em números absolutos, 70% entre 2000 e 2001. No entanto, quando comparado à renda nacional, os investimentos caíram. O levantamento destaca a redução significativa do número de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia. De 1999 a 2009, caiu de 20 milhões para 12 milhões.

A Franca contra o trabalho, contra o turismo...

Quem perde sao os franceses, todos os franceses, ou quase todos, e todos os turistas. Quem "ganha" são poucos mafiosos dos sindicatos, essas máquinas de produzir desemprego.
PRA

Travail de nuit : la justice ordonne à Sephora de fermer à 21 h

France Info, 23/09/2013

Le parfumeur Sephora va devoir fermer à 21 heures son magasin situé sur les Champs-Elysées, a décidé lundi la cour d'appel de Paris. L'entreprise a 8 jours pour se mettre en conformité avec la décision. Une astreinte de 80.000 euros par infraction sera appliquée en cas de non-respect. L'enseigne a aussitôt annoncé qu'elle allait se pourvoir en cassation.


Avec cette décision de justice, les syndicats estiment avoir gagné. 

A dolarizacao desesperada da populacao venezuelana - El Pais

La caza del dólar en Venezuela
Mientras el desabastecimiento y el malestar entre los venezolanos por la recurrente falta de alimentos básicos se acrecienta, el Gobierno de Nicolás Maduro intenta aliviar las causas que originaron esta situación, derivadas del sistema de controles a la economía impuesto por su antecesor Hugo Chávez hace una década. Pero el Gobierno se enfrenta a un problema. No tiene dólares oficiales para satisfacer la demanda de productores y comerciantes.
Esta semana el alza del dólar en el mercado negro, con la que se reponen muchos de los bienes no esenciales que se consumen en el país, multiplica por siete el valor referencial de la tasa oficial, de 6,30 bolívares por dólar. Cada día que pasa el salario se deteriora, se acentúa la escasez —que entre enero y agosto exhibe un promedio de 19.9% según las cifras del Banco Central de Venezuela— y aumenta la inflación, la más alta de América Latina, que entre enero y agosto de 2013 trepó al 45% interanual, triplicando el registro del mismo período de 2012.
Se espera que en los próximos días se anuncie un nuevo mecanismo para aliviar la presión sobre la cotización de la moneda estadounidense en el mercado negro, que en el último mes subió un 20%. El Gobierno, sin embargo, esta vez tiene un menor margen para maniobrar. Venezuela, que prácticamente sólo exporta petróleo (representa el 96,23% de sus ingresos al término del segundo semestre del año), depende mucho del oxígeno de una mermada Petróleos de Venezuela (PdVsa) para abastecer ese mercado cambiario.
Cálculos de la firma Ecoanalítica indican que PdVsa solo dispone de 1,7 millones de barriles diarios de petróleo para generar caja. Si eso se compara con la cantidad disponible para vender en 2012 (2,15 millones) se constata una reducción de 400.000 barriles diarios de crudo que no podrá colocar. El Gobierno de Nicolás Maduro dejará de cobrar unos 14.600 millones de dólares. Además de lo que consume el mercado interno, PdVsa entrega 250.000 barriles diarios a China para honrar el pago de préstamos y otros 200.000 a los países que forman parte de PetroCaribe a cambio de alimentos, ropa, cemento y profesores de inglés. Otra empresa local, Econométrica, es aún más pesimista en sus proyecciones. Su director, Ángel García Banchs, estima que la estatal petrolera sólo tiene para vender 1,4 millones de barriles, de los cuales habría que deducir unos 200.000 que corresponden al intercambio de crudo venezolano por médicos y entrenadores deportivos cubanos firmados en 2000 por Hugo Chávez y Fidel Castro.
En uno u otro caso está claro que la razón del desabastecimiento son los compromisos asumidos por la política internacional del chavismo y la incapacidad de incrementar la producción petrolera al mismo ritmo que la demanda. Venezuela produce unos 2,9 millones de barriles diarios, pero cada día hay menos petrodólares que vender. Para compensar la falta de flujo de caja el Gobierno ha diseñado un plan. Maduro iniciará el sábado una gira de doce días a China en aras “de reforzar la multipolaridad o la política internacional de respeto y cooperación con los países que se oponen al intervencionismo de Estados Unidos”, según el presidente de la Comisión de Política Exterior de la Asamblea Nacional, Yul Yabour, que el martes aprobó el permiso para que se ausentara. El propósito no es tan nebuloso como parece: Caracas espera que en ese viaje se amplíe la ayuda financiera que ya recibe de Pekín. En su cuenta de Twitter el ministro de Energía y Petróleo, Rafael Ramírez, ya anunció un nuevo préstamo de 5.000 millones de dólares a través del Fondo Chino-Venezolano.
Aunque ese dinero no podrá ser ofertado directamente al mercado cambiario en ciernes, sí alivia la presión del Gobierno. En años pasados el Sitme, el mecanismo alternativo diseñado para otorgar los dólares que no entregaba la Comisión de Administración de Divisas (Cadivi), liquidaba unos 40 millones de dólares diarios, pero el Gobierno decidió eliminarlo en febrero debido a que descubrió importaciones ficticias. El ministro de Planificación, Jorge Giordani, reveló entonces que se habían defraudado al Estado unos 5.000 millones de dólares. “El sector privado sólo exporta 3.000 millones de dólares, pero demanda 30.000. ¿Qué clase de burguesía es esa? Son parásitos”.
En realidad todo el mundo en Venezuela entiende que la única manera de proteger el patrimonio y generar rápida riqueza es hacerse de dólares subsidiados para luego revenderlos en el mercado negro. Un oscuro objeto de deseo no siempre disponible. Ese es un dolor de cabeza que el Gobierno no ha logrado aliviar con ninguna estrategia. Ningún negocio puede dar una rentabilidad mayor y el Estado tampoco logra el objetivo de lograr que se mantengan en el país las reservas internacionales. Valga un dato para ilustrarlo. El economista García Banchs dice que Venezuela sólo tiene 800 millones de dólares en sus reservas líquidas que equivalen según sus cálculos a cuatro días de importaciones. Cuando Carlos Andrés Pérez asumió la presidencia de Venezuela el 2 de febrero de 1989 tenía 300 millones de dólares en las arcas. Tres semanas después de aplicar un duro ajuste macroenonómico se produjo el estallido social conocido como el Caracazo.
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Um trabalho sobre meu livro Os Primeiros Anos do Seculo XXI

Só agora tomei conhecimento, por esses acasos do Santo Google, do trabalho abaixo transcrito, que não sei exatamente quando foi publicado.
Quem souber me diga, pf.
Paulo Roberto de Almeida

revista CADE-FMJ
Diplomacia Econômica Brasileira  no Século XX:
Grandes Linhas Evolutivas
Beatriz Silva Gonçalves
O governo brasileiro tem-se destacado pela atuação da política externa, que busca alcançar novos parceiros comerciais e fortalecer a posição do país em disputas internacionais. Um dos principais analistas da ação externa da política oficial brasileira é o diplomata Paulo Roberto de Almeida, prolífico autor de grande quantidade de livros e artigos. O presente trabalho visa a apresentar parte da análise de Almeida  quanto à evolução da diplomacia econômica brasileira, apresentada em livro recentemente publicado, de grande utilidade para que se perceba melhor a lógica dos movimentos do atual governo no cenário externo.
Almeida inicia sua abordagem sobre a diplomacia brasileira apontando seus pontos positivos; como se consolidou no decorrer do século XX e principalmente as características básicas da “conhecida diplomacia brasileira”. A adjetivação se deve principalmente ao fato de que o país dispõe, neste campo, da atuação reconhecidamente profissional e qualificada do Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores.
A ela são creditados ganhos políticos importantes, tanto num passado distante, em termos de conformação do território pátrio, por exemplo, como no presente, sob a forma da boa convivência regional, do continuado respeito que o país ostenta aos princípios do direito internacional (...). (p. 233)
No entanto, a idéia central do autor, quando discorre acerca da diplomacia  brasileira, não é somente reconhecer  seus pontos positivos, mas problematizar o tema e conhecer a contribuição da diplomacia nacional ao desenvolvimento, principalmente econômico, da nação.
Até o século XIX o cenário diplomático era basicamente constituído de acordos bilaterais de amizade, comércio e navegação. Somente no período entre guerras (1914-1945) o panorama mundial experimentou seu primeiro grande exemplo de tratado multilateral – o Tratado de Versalhes. Porém, esse tratado de grande relevância mundial permaneceu arraigado dos princípios, instrumentos e mecanismos dos tratados bilaterais, não apresentando relevante evolução para o processo diplomático. Aliás, sua visão tradicionalista incorporou aspecto altamente problemático, que foram as punições à Alemanha, corretamente apontadas por Keynes, à época, como desencadeadoras do processo que levaria a uma nova guerra mundial vinte anos depois da assinatura do Tratado.
Somente a partir da segunda metade do século XX, podem-se observar    exemplos concretos de tratados multilaterais que começam a sobrepor os mecanismos historicamente construídos  ao longo do século XIX e meados do século XX.
Na verdade, os instrumentos multilaterais emergem com o intuito de garantir a reordenação econômica e política após períodos de guerra e crise econômica. Os Estados Unidos da América preconizaram esse movimento, com a criação das instituições de Bretton Woods, o Banco Mundial e o FMI, entre outras. Foi, de fato, uma tentativa de reorganizar o mundo à feição americana. O Brasil participou de todo o processo. À época, não tendo sido possível criar a Organização Internacional do Comércio, por oposição do Congresso americano, que não via interesse em partilhar o amplo poder de que o país saiu investido, ao final da II Guerra Mundial, a delegação brasileira participou ativamente da constituição do Acordo Geral de Tarifas Aduaneiras e Comércio, conhecido pela sigla inglesa GATT, que, através de sucessivas rodadas de negociações, procurou liberalizar o comércio internacional, privando os países em desenvolvimento de usarem recursos de que os desenvolvidos lançaram mão, décadas atrás.
Como se pode perceber, aliás, todo o processo  de criação do aparato e mecanismo das relações internacionais foi para amparar e solucionar “conflitos” ou negociações no âmbito econômico. Tem-se, como exemplo, a criação da nova Organização Mundial do Comércio (OMC).
A OMC, por exemplo, passou a ser  encarregada de administrar, desde 1995, os resultados da mais complexa rodada de negociações  comerciais multilaterais, envolvendo agricultura, serviços, investimentos e propriedade intelectual, por exemplo, já conhecida na história econômica contemporânea. (p.234)
Esse movimento de ampliação das relações econômicas evidenciadas desde o século XIX comprova que o processo de desenvolvimento não pode mais ser visto apenas no âmbito nacional.
Segundo o autor, futuramente, a “ordem econômica” estará cada vez mais ligada às organizações internacionais, mas sempre guardará a importância dos Estados nacionais. A grande questão está localizada na forma de correlação entre essas duas dinâmicas político-econômicas.
Almeida continua seu texto apresentando contrastes acerca da realidade política e econômica entre os séculos XIX e XX, que influenciou e ainda influencia na construção da “nossa diplomacia”:
(...) caberia ter presentes as enormes diferenças bem como os respectivos cenários políticos e econômicos internacionais sob os quais teve de atuar a cautelo-  sa diplomacia imperial e sob os quais deve atuar, atualmente,a diplomacia republicana agora centenária(p.235)
O autor aponta algumas diferenças entre o que seria “diplomacia” no século XIX para a atual “idéia” dela. Dentre elas, está a transformação da quantidade e qualidade dos atores “participando do chamado jogo internacional”.
Para Almeida, essa transformação, hoje vista com mais clareza, não é apenas de cunho exclusivo do processo político-econômico. Trata-se também da “democratização” do sistema internacional, já que ocorreu no século XX uma ampliação dos paises membros nos acordos, tratados e conferências internacionais.
Muito embora os bloqueios  e a diplomacia da canhoneira possam estar ainda eventualmente em uso, deve se reconhecer  que a força do direito tende a ampliar sua margem de atuação em relação ao direito da força. (p.236)
Em contrapartida, o sentido de “liberal” oferecido pela ordem econômica internacional do século XIX deu lugar ao intervencionismo e protecionismo enfatizado no século XX.
O autor observa que, com o decorrer do tempo e com as transformações citadas acima, um fenômeno se destaca: é cada vez mais evidente a interdependência  do mundo econômico  contemporâneo.
No apanhado geral sobre o sistema internacional atual, Almeida afirma que, no limite, há avanços significativos na construção do “multilateralismo econômico”, quando comparado aos tratados desiguais do século XIX. Já o multilateralismo político, embora desejado pela maior parte dos países, é contestado justamente pelo país que possui o maior peso no cenário internacional, os EUA, o que, em grande medida, serve para que a diplomacia econômica brasileira se comporte como o está fazendo, procurando novas parcerias, novos mercados.
Na segunda parte do texto, Almeida discute o papel da diplomacia  brasileira. E, para essa avaliação, apresenta algumas características  da relação econômica externa do Brasil.
(...) considerando tratar-se se um país periférico, dispondo de poucos excedentes de poder político e econômico, e de reduzida capacidade de projeção externa. (p.237)
Isso sem mencionar os dados históricos em relação à diplomacia no Brasil.
Para o autor, as relações econômicas internacionais no Brasil se transformaram entre os séculos XIX e XX.
No século XIX, a diplomacia brasileira era também denominada diplomacia primária, já que era baseada na promoção de alguns produtos para exportação. Hoje, a diplomacia nacional está voltada para aindustrialização substitutiva e da capacitação tecnológica (...), recebendo o nome de diplomacia secundária.
O Brasil caminha para a implementação do que Almeida chama de  diplomacia terciária, que consiste no tratamento de uma diversidade de temas, principalmente no setor de serviços, que caracteriza  o mundo atual  e o sistema econômico.
Para a ampliação da discussão sobre o processo da diplomacia brasileira, tem-se conhecimento do texto proferido no III Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, realizado em outubro de 1996, no Rio de Janeiro.
Com base nesse texto, conclui-se que o Brasil ostenta um futuro promissor quando o assunto é a inserção internacional, se conseguir garantir continuidade às políticas de estabilização, abertura econômica, desestatização, retomada do crescimento e principalmente a reforma social.
Nessa conferência, um tema foi muito enfatizado, pois os interlocutores no exterior entendem que o investimento eficiente nas políticas sociais e a recuperação dos nossos indicadores poderão prover um efeito social sustentável, expresso na melhoria do padrão alimentar e de consumo da população de mais baixa renda.
Para projetar a inserção do Brasil no processo econômico  internacional no século XXI, o país precisa ampliar a idéia, consolidar a democracia e promover o sentimento de  inclusão da população  e conexão com o sentimento de Nação.
Esse processo evolutivo da diplomacia brasileira foi intensificado no governo de Fernando Henrique Cardoso, pois preparou um “terreno fértil” para o desenvolvimento econômico e social que atenda as necessidades do país  e os parâmetros da política externa.
Esse patrimônio será enriquecido pelo fortalecimento do multilateralismo econômico, comercial e regulatório nos próximos anos: regras universais e transparentes para as múltiplas esferas do relacionamentoeconômico, financeiro, comercial e tecnológico devem facilitar o desenvolvimento das relações do Brasil com cada um dos seus parceiros individuais, à medida que a economia brasileira continue a crescer em complexidade, dinamismo e grau de inter-relação com o mundo.
Hoje podemos antever o Brasil e sua relação com a economia externa, pois, dando continuidade ao  processo inaugurado no século XX,poderá consolidar-se como uma potencia média estável politicamente.

Bibliografia
ALMEIDA, Paulo Roberto de. Os primeiros anos do século XXI. O Brasil e as relações internacionais contemporâneas. São Paulo: ed. Paz e Terra, 2002.
Nota: Texto proferido no III Encontro Nacional de Estudos Estratégicos. Rio de Janeiro, 1996.


































































1 
               

Los hermanos cocaleros de los companeros: muy amigos.. de la coca... - Senador Roger Pinto Molina

COLUNA ESPLANADA

Molina diz ter mapeamento da coca Bolívia-Brasil

Senador boliviano que fugiu para o Brasil disse que tem mapeamento e relatórios que comprovariam que 60% da cocaína consumida no país vem da Bolívia

por Leandro Mazzini

Menores infratores: a iniciativa privada cuidaria melhor, e por bem menos, do que o Estado

Tenho absoluta certeza: se se instituísse um regime de detenção administrado pela iniciativa privada, e se prisioneiros adultos e "dimenores" fosse "leiloados" ao setor privado, o governo gastaria menos, muito menos por cabeça. Acredito que 3 salários mínimos bastariam para interessar o setor privado a "cuidar" de um condenado ou detento. O governo gasta dez vezes mais. Mas, como sabemos, o governo é perdulário, ineficiente, corrupto e mau gestor.
Paulo Roberto de Almeida

A 'elite' da Fundação Casa

22 de setembro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
Em recente depoimento à Assembleia Legislativa de São Paulo, a presidente da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa), Berenice Giannella, disse que cada menor infrator internado na instituição custa, mensalmente, R$ 7.100. Por qualquer ângulo que se observe, trata-se de um gasto difícil de explicar.
Num país em que a renda média mensal do trabalhador não chega a R$ 1.900, logo se percebe o exagero. A vasta maioria das famílias do País, cujos integrantes são condenados a suar em empregos precários para ganhar salários modestos, certamente ficaria feliz em poder dispor de tanto dinheiro para criar seus adolescentes, assim como a Fundação Casa cria os dela.
Mesmo famílias que dispõem de muitos recursos raramente despendem essa quantia na educação dos filhos. Os melhores colégios de São Paulo têm mensalidades que não chegam a R$ 3 mil.
Com os R$ 7.100 que a Fundação Casa utiliza para "reeducar" seus internos, seria de esperar, portanto, que eles deixassem a instituição não apenas prontos para o convívio social, mas também bem preparados para a vida acadêmica e profissional.
Não é o caso, como sabemos. Ao contrário: a Fundação Casa, que desde 2006 substitui a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), há tempos enfrenta os mesmos obstáculos que culminaram na falência de sua antecessora, cujos frequentes casos de violência chegaram a ser denunciados na Organização dos Estados Americanos.
A superlotação é o principal problema. Já são mais de 9.200 internos, para um sistema com capacidade para menos de 9 mil. Desde 2002, o número de adolescentes infratores cresceu quase 70%.
Além disso, multiplicam-se denúncias de violência física e psicológica contra os internos. Provavelmente como resultado desse quadro, as rebeliões, que haviam caído de 80 em 2003 para apenas 1 em 2009, voltaram a se tornar frequentes - foram 8 neste ano.
Foi justamente a propósito de lamentáveis episódios de violência contra internos na Fundação Casa, reportados recentemente pelo programa Fantástico, da TV Globo, que sua presidente esteve na Assembleia Legislativa.
Em seu depoimento, Berenice Giannella disse que as cenas em que dois funcionários da Unidade João do Pulo, na Vila Maria, torturam seis jovens foram casos "absolutamente pontuais".
Segundo Berenice, o problema não é a falta de capacitação dos funcionários, mas de caráter. "Como vou tirar a cultura da violência por meio da capacitação? Não tiro porque isso é caráter", disse ela, que qualificou os funcionários flagrados no vídeo de pessoas "más, de má índole".
Berenice disse que o modelo da Fundação Casa representa um considerável avanço em relação à antiga Febem, por estar orientado para o futuro do jovem. Além de terem aulas e atendimento socioeducativo, como nas escolas tradicionais, os internos são instados a assumir responsabilidades - em alguns casos, chegam a trabalhar fora da unidade - e a aprender a trabalhar em equipe.
Os adolescentes têm ainda seis horas de atividades de arte e cultura por semana. Segundo a Fundação Casa, é uma forma de fazer os jovens refletirem sobre si mesmos e sobre a sociedade.
Para a direção da entidade, os recursos gastos nesse esforço não podem ser encarados como despesa e, sim, como investimento. Em defesa da instituição que preside, Berenice Giannella afirmou que o modelo atual é responsável por uma redução considerável nas taxas de reincidência. Na época da Febem, disse ela, quase 30% dos jovens voltavam a praticar crimes; hoje, são apenas 13%. No entanto, trata-se de uma estatística problemática, porque não se sabe quantos desses adolescentes "reeducados" tornam a cometer crimes depois que se tornaram adultos.
Seja como for, a sociedade paga um preço exorbitante para a "reeducação" desses jovens, mas obtém resultados pífios
.

O Itamaraty deixou de ter importância para a Presidência da República - Oliveiros S. Ferreira

Os passos que conduziram à crise da visita

Oliveiros S. Ferreira - O Estado de S.Paulo, 22/09/2013

O adiamento da visita da presidente Dilma Rousseff aos Estados Unidos mudou o mapa geopolítico das Américas. Esse é o fato importante. E a esse ponto voltaremos em outra oportunidade.
A análise do episódio da espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) permite-nos dizer que houve um momento em que o problema mudou de configuração, deixando de ser de soberania violada para transformar-se em questão, por assim dizer, pessoal: L'État c'est moi.
Recapitulemos: 1) a descoberta do feito ominoso; 2) a reação administrativa do Ministério das Comunicações; 3) a divulgação de que a espionagem violara a privacidade da presidente Dilma Rousseff - aqui se dá a alteração da qualidade no processo; 4) o Itamaraty exige esclarecimentos por escrito e fontes do Palácio do Planalto murmuram que Dilma poderá cancelar a visita; 5) Dilma, em São Petersburgo, dá ultimato: a visita depende de condições políticas e cabe ao presidente Barack Obama criá-las; 6) o chanceler brasileiro vai aos EUA reunir-se com a conselheira de Segurança Nacional sem que resposta por escrito tenha sido recebida; 7) segundo fontes autorizadas, Dilma reuniu-se com seu Conselho Político (do qual fazem parte João Santana e Franklin Martins, que não são governo, muito menos são Estado) e se informa que a presidente ainda depende de conversa com o chanceler para se informar do que foi tratado em Washington; 8) fontes do Planalto insistem em que a visita será cancelada; 9) Obama telefona a Dilma; 10) a visita é adiada sine die.
Três fatos aparentemente sem relação com o caso podem ser a esses todos acrescentados: 1) Vladimir Putin, presidente da Rússia, em artigo no jornal The New York Times, irrita "falcões" e "pombas"; 2) em ato público, Lula diz que se faz necessário um novo fórum de governança mundial e que "é preciso dar o mesmo peso a presidentes e chefes de Estado como o dos Estados Unidos, Alemanha e Brasil, caso contrário 'vamos ter problemas sérios no mundo'" (Valor, 12/9); 3) a Rússia sugere que o Brasil integre a força da ONU que deverá fiscalizar a entrega pela Síria de suas armas químicas.
Conjecturemos.
1) Não se sabe por que o chanceler brasileiro - que não opina no Conselho Político - foi a Washington; o público é informado do andamento da crise (pois é de crise que se trata) pelas "fontes", que se servem da imprensa para informar a Embaixada dos EUA do estado de espírito da presidente.
2) Antes de uma batalha, qualquer general que se preze avaliará a doutrina militar e buscará compreender a ideia que seu adversário faz de como deve travar-se o combate. Ora, o que as "fontes" deixam vazar indica que nenhuma avaliação foi feita, que o sentimento antiamericano no Palácio do Planalto subiu à cabeça dos que decidem e não se considera mais a relação de forças, cujo entendimento deve ser uma das bases de qualquer política externa que não queira, como a de Foster Dulles na guerra fria, chegar à "beira do abismo".
3) O Planalto considera o Brasil, hoje, tão importante na cena internacional quanto Estados Unidos e Alemanha. Essa hipótese terá a alicerçá-la uma certeza de que o poder dos Estados Unidos já não é o que um dia foi.
4) Considerando os números do comércio com os Estados Unidos, o valor dos investimentos diretos e a exposição cambial do nosso país às flutuações do dólar, o antiamericanismo só pode estar apoiado em dois pilares: a certeza da fragilidade do poder dos EUA e a convicção de que a Rússia, queiram ou não os EUA, além do Conselho de Segurança da ONU, é parte do novo "fórum da governança mundial". Ora, se a Rússia pertence ao Brics, o Brasil também!
Se essas conjecturas têm algum fundamento, e se os fatos apontados de início traduzem a realidade, é importante retirar, de umas e de outros, as conclusões concernentes à política externa brasileira.
A primeira é a de que o Itamaraty deixou de ter importância para a Presidência da República. A política externa faz-se, hoje, no Planalto, com ou sem a assistência do Conselho Político - e ousaria dizer que a influência dos "conselheiros" é pequena diante da vontade da presidente, que tem peculiar visão do mundo. O elemento fundamental dessa política é que o Brasil, por seu território, sua posição, sua população e sua economia, é tão importante quanto aqueles países que até hoje decidiram os destinos do mundo. Um observador ousado diria que a presidente Dilma Rousseff se considera, hoje, um Dux.
A nova política externa tem um norte e se assenta em dois pilares. O norte foi traçado por Lula quando presidente: unir a América Latina, começando pela do Sul, se não contra, ao menos afastada dos Estados Unidos. Dilma forneceu novos elementos para a equação: o Brics. Ainda que seja ousadia geopolítica, é conveniente ver que o Brasil é, a um tempo, membro do Brics e do Mercosul, e que a África do Sul foi convidada a participar da nova organização (ainda que esteja em embrião) por sua posição geoestratégica, e não por sua economia. Que ela é importante para a Rússia se evidenciou quando seu presidente, que conferenciava com Putin, deixou Dilma esperando durante uma hora - e sem protestos...
Um dos pilares é a doutrina (ou seria a intenção?) bolivariana, que presidiu o ingresso da Venezuela no Mercosul. Ela está solidamente ancorada nos governos-membros da organização, exceto, por enquanto, o do Paraguai. O outro é permitir a expansão do capital brasileiro na América do Sul, usando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e, basicamente, as empreiteiras.
Essa política externa está sendo feita e continuará a se fazer porque não se cuida de política externa no debate pré-eleitoral. E dela não se cuida porque o Estado, infelizmente, está ausente do pensamento dos que pretendem fazer Política no Brasil.   
*PROFESSOR DA USP E DA PUC-SP, É MEMBRO DO GABINETE E OFICINA DE LIVRE PENSAMENTO ESTRATÉGICO. SITE: WWW.OLIVEIROS.COM.BR

O paradoxo peruano: crescimento e baixa popularidade - Mac Margolis

Paradoxo peruano

MAC MARGOLIS - O Estado de S.Paulo, 22/09/2013

Em um continente conturbado e com indicadores sofríveis, o caso peruano desponta. Sua economia deve cravar crescimento de 5,6% este ano, o dobro do desempenho brasileiro, e em 2014 promete ser o melhor Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina.
Os bons números nada têm de milagre. São fruto da moeda estável, regras econômicas claras e políticas fornidas longe da fogueira populista que tanto atrai os líderes latinos. Loas para Ollanta Humala, o ex-militar e outrora golpista que, para se eleger presidente, guardou as camisas vermelhas, abriu o punho cerrado e revisou a retórica nacionalista para os tempos mais sóbrios.
Quem olhe o país de longe vê um dínamo nos Andes. De perto, a vista é outra. Humala amarga um dos piores índices de popularidade da América Latina. Os 41% de peruanos que aprovaram seu governo em junho hoje são 27%. Há dois meses, milhares de manifestantes, a maioria da classe média, tomaram as ruas contra Humala.
Como um país pode ir tão bem e seu líder, tão mal?
O paradoxo não é privilégio peruano. O Chile segue líder disparado na região, com crescimento forte, investimento robusto e a melhor cultura de administração do continente. Já seu presidente, Sebastian Piñera, um empresário equilibrado, corre o risco de terminar seu mandato com uma rejeição recorde.
Na Colômbia, não é diferente. Lá, o presidente Juan Manuel Santos preservou a política de segurança e de sobriedade fiscal que elevou o país à condição de segunda economia sul-americana. No entanto, a aprovação de Santos despencou 27 pontos desde junho (está em 21%) e sua reeleição em 2014 já é dúvida.
Enquanto os líderes moderados ardem no inferno astral político, os bolivarianos no Equador, Venezuela e Bolívia e Nicarágua, gozam de índices invejáveis mesmo quando pisoteiam seus dissidentes e tumultuam suas economia.
Venezuela sofre blecautes, uma epidemia de crime e escassez de papel higiênico? Não importa, Hugo Chávez, que governou soberano durante 14 anos, é quase beato enquanto seu inexpressivo sucessor, Nicolás Maduro, tem o dobro de aprovação de seu par colombiano. Nicarágua é um dos países mais pobres da América Central, mas o comandante Daniel Ortega conta com 70% de aprovação dos nicaraguenses.
Pão e circo. A senha para essa aprovação é distribuir pouco para muitos, uma receita garantida por petrodólares e ingressos de minérios, e controlada pelo poder estatal. Encampar empresas privadas, calar a imprensa e intimidar sindicatos, tudo pode desde que haja migalhas. O pão sustenta o circo bolivariano.
No Peru, Humala cometeu erros e deslizes. A violência subiu na zona rural e em alguns bairros de Lima, piorando a sensação de insegurança. (Mesmo que o país ostente uma das menores taxas de homicídio nas Américas: 2,4 por 100 mil habitantes.) Um quarto dos peruanos ainda vive na pobreza.
Seu pior pecado, no entanto, foi quebrar tabus. Para desgosto de muitos ex-companheiros, o mandatário defendeu as reformas de Alberto Fujimori. Não foi afinidade ideológica. Humala sabe que o ex-tirano fechou o Congresso, atropelou direitos humanos, comprou apoio político e acabou na cadeia. Também reconhece que Fujimori abriu a economia, equilibrou as contas e esmagou a guerrilha maoista.
Melhor para os investidores, sim, que apostaram alto em obras vultosas de mineração e infraestrutura. Só que seus ganhos também impulsionaram a economia e criaram empregos. Com dois anos de antecedência, o Peru acaba de alcançar os Objetivos do Milênio das Nações Unidas, reduzindo pela metade o número de pobres em 15 anos.
No Peru, como em outras sociedades em ascensão, quem sobe de vida enxerga melhor e logo, exige mais. Foi assim com os presidentes Alejandro Toledo e Alan Garcia, dois que abraçaram reformas e também saíram às vaias. Agora, a bola da vez é Humala.
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Surrealismo bolivariano: Kafka nos Andes (unbolivable)

O inferno em La Paz
Mônica Bergamo (monica.bergamo@grupofolha.com.br)

Eduardo Saboia, diplomata que ajudou um senador a fugir da Bolívia, diz que o país é 'a Síria brasileira', com problemas que podem 'estourar na nossa cara'
Os funcionários da embaixada brasileira em La Paz, capital da Bolívia, inventaram uma palavra que não existe no vocabulário. É "unbolivable", corruptela do inglês "unbelievable" (inacreditável). "Quando um problema atinge a escala do inimaginável, e por lá acontecia isso com frequência, a gente usava essa piada", conta Eduardo Saboia, 46, ao repórter Morris Kachani.
Ex-encarregado de negócios da embaixada, ele ficou célebre ao ajudar o senador Roger Pinto Molina, asilado na representação por 453 dias, a fugir para o Brasil no mês passado. E decreta: "A Bolívia é a nossa Síria".
"A embaixada é o saco de pancadas que Brasília nunca defendeu. Tudo que pode dar errado, dá mais errado", afirma. "É o teatro do absurdo, com uma trupe de atores, amigos até, que já atuaram juntos em peças melhores. É Esperando Godot', é O Anjo Exterminador'", diz, citando obras de Samuel Beckett e Luis Buñuel marcadas pela negação e pelo tragicômico.
Não é à toa que Saboia cita o surrealismo de "O Anjo Exterminador", em que os personagens estão presos no salão de uma mansão após um pomposo jantar: ele próprio não via a hora de trocar de posto. Havia o desgaste de empreitadas como as 18 viagens que teve de fazer a Oruro (a três horas de La Paz) como negociador na questão dos torcedores corintianos que foram presos após a morte do menino Kevin.
E outro motivo, especial. Saboia é casado com a cônsul brasileira de Santa Cruz de la Sierra. Eles têm três filhos, de 20, 17 e 15 anos. O do meio é autista. O ideal seria ir para um país referência na abordagem da síndrome.
Após dois anos na Bolívia, Saboia negociava seu retorno a Washington, nos EUA, para servir na missão brasileira junto ao FMI.
Não que a vida em La Paz fosse feita só de estorvos. "Gosto muito da Bolívia", diz ele. Nas horas vagas, fazia aulas particulares de violão clássico. Percorreu trilhas nos Andes, escalou uma montanha de 6.088 m, correu a maratona em La Paz.
A mudança acabou sendo protelada. Em 23 de agosto, quando coordenava interinamente a missão brasileira, seu destino adquiriu novos contornos: ele decidiu trazer ao Brasil o senador Roger Pinto, líder da oposição ao presidente boliviano Evo Morales e investigado por corrupção, dano ambiental e assassinato, acusações que nega. "Pinto vinha conversando com a geladeira, de tão deprimido. Vivia confinado em uma sala de 20 m², em um prédio de escritórios, sem banho de sol." As tardes de sexta eram as mais tristes porque o fim de semana se avizinhava solitário. No período final do asilo, só a filha tinha o direito de visitá-lo.
A fuga, em dois Nissan Patrol, escoltados por dois fuzileiros navais brasileiros e com dois motoristas bolivianos no volante, foi como um road movie: as passagens pelos checkpoints, o trânsito em Cochabamba ("três horas em uma névoa terrível"), a parada em Santa Cruz, perto de onde mora sua família, os 650 km finais até a fronteira, em que há só dois postos de combustível. E o epílogo, com o tanque quase vazio e a leitura de salmos evocando socorro contra os perseguidores.
Foram 22 horas em que até fralda geriátrica eles usaram. Pinto vomitou na descida de La Paz a Cochabamba, estrada cheia de curvas e sem acostamento.
A "operação", como ele define o episódio, custou a cabeça do chanceler Antonio Patriota. Saboia foi removido para Brasília e responde a sindicância do Itamaraty.
Não anda animado, mas, além de críticas, recebe aplausos. O pai, Gilberto Saboia, ex-secretário de Direitos Humanos no governo de Fernando Henrique Cardoso, já se disse aflito, mas orgulhoso do filho. Ele também é diplomata, amigo de estrelas do Itamaraty como Celso Amorim, e os filhos de ambos cresceram brincando juntos.
A mulher de Eduardo Saboia está se desligando do posto em Santa Cruz. Os dois não se veem há dois meses. Ele está na casa de familiares dela em Brasília e usa as roupas que o pai, que mora no Rio, lhe trouxe. Diz que não se arrepende. "Hannah Arendt falava na banalização do mal. No meu caso, foi a banalização do bem. Não quebrei hierarquia. Ele já tinha o asilo. E eu precisava proteger o senador da depressão."
"Eu vinha alertando o Itamaraty. Mas havia uma atitude de não se posicionar, de varrer para debaixo do tapete. Éramos orientados para não falar com a imprensa nem com parlamentares. Um sistema de incentivo para você não falar a verdade." Só demonstra arrependimento quando é lembrado que comparou a embaixada de La Paz ao DOI-Codi, enfurecendo a presidente Dilma Rousseff.
Virou amigo de Roger Pinto. Diz que Brasília e a embaixada se debruçaram sobre os 21 processos contra o senador na Bolívia. A conclusão preliminar, afirma, foi a de que "metade dos processos apareceu depois de denúncias que ele fez [contra o governo]. Há ações por desacato e corrupção. Uma por desmatamento --de duas árvores. Outra por homicídio que não diz quem ele teria matado".
Cita o caso dos corintianos para discorrer sobre "a falência, extorsão e corrupção características do Judiciário boliviano". "Ali tudo se paga, por dentro e por fora. São US$ 15 mil para uma sentença, por exemplo. Até pela cela você tem que pagar, ou por uma audiência."
Segundo ele, há mais de cem brasileiros nas prisões bolivianas. "Não que todos sejam inocentes, mas como apoiá-los oficialmente nessas circunstâncias?"
Lista outros incidentes para ilustrar "o drama que é servir na Bolívia": a nacionalização de refinarias da Petrobras, a paralisação de uma obra da OAS, as revistas em aviões da FAB. Empreendedores chegam "como num faroeste, achando que a embaixada é uma UPP".
Segue com os pequenos agricultores brasileiros na fronteira, a venda de cocaína para o Brasil, segundo maior mercado consumidor do mundo. "É a nossa relação internacional mais difícil. Existe uma proximidade e uma assimetria entre os dois países. Os nacionalistas mais fervorosos consideram-nos um covil de ladrões, porta-vozes da direita golpista."
Vê como positiva a política externa do governo Lula, também em relação à Bolívia. O país seria a "nossa Síria" porque "é onde estão os problemas que podem estourar na nossa cara". "A Bolívia não pode ser minimizada como um país periférico. Você pode não querer ir até a Bolívia. Mas a Bolívia vai até você."


  • Igo Estrela/Folhapress
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    O diplomata Eduardo Saboia diz que a Bolívia, onde trabalhava, é "a Síria brasileira", com problemas que podem "estourar na nossa cara"