O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 26 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: Aecio, candidato dos banqueiros? (como querem os petistas...)

Direto de Brasília:

LINK DO EDITOR

Protegido: COLUNA DE DOMINGO, 26


De: Coluna Esplanada <site@colunaesplanada.com.br>
Data: 26 de outubro de 2014 10:02:38 GMT+1
Para:  <xxxxxxxxxx@xxxxx.com>
Assunto: Boletim Coluna Esplanada - Domingo

Para bancos, Aécio está eleito
Três grandes bancos encomendaram pesquisas não registradas, e não divulgadas, cujos resultados saíram na sexta à noite. Ao contrário do que divulgam os grandes institutos, Aécio Neves (PSDB) será eleito hoje presidente do Brasil, com 5% de vantagem sobre a presidente Dilma. Por isso as bolsas e ações se valorizaram na sexta.


Pronto: os petistas vão retomar sua campanha viciada e viciosa...
Paulo Roberto de Almeida

Pausa para... crash course de estadismo...

Assim dizem:

https://www.facebook.com/video.php?v=10202726089054060&set=vb.1254339479&type=2&theater

Eleicoes 2014: um domingo inesquecivel - Gustavo Franco

Um artigo imperdível: leia antes de ir votar.
Paulo Roberto de Almeida 


Gustavo H. B. Franco - O Estado de S. Paulo
Há tempos não temos um dia tão importante como hoje, domingo de eleição, 26 de outubro, dia de São Evaristo, um dos primeiros papas, o quarto sucessor de Pedro. Ontem, todavia, pasmem, foi dia de São Crispim, padroeiro dos sapateiros, e sobretudo das batalhas heroicas e vitórias impossíveis contra forças numericamente superiores. Que extraordinária coincidência, ou presságio!
Hoje vai ser daqueles dias cujos pequenos detalhes vão fervilhar na sua memória pelo resto dos tempos. Terá a névoa dos dias históricos desde o seu amanhecer, e assim permanecerá por muitos anos a fio. Mas você lembrará das minúcias de seu café da manhã, dos sonhos confusos de ontem, noite mal dormida como costuma ocorrer com a véspera de grandes eventos. Ou não, pois, na vida real, geralmente não há sinais exteriores, coros e orquestras a lhe alertar sobre a presença dos deuses da História. A memória se encarrega dos agouros ex post facto.
Daqui para o final da vida, espero lembrar com serena alegria deste dia de São Evaristo, quando cumprimos com heroísmo uma importante obrigação com o bem-estar de nossos filhos e netos. A cada ano, nesta data, eles vão lhe perguntar sobre seus atos de bravura diante de patrulhas mal-humoradas e irascíveis e você responderá que, sim, eles pareciam em maior número, mais aguerridas e profissionais, e mais bem treinadas em táticas de guerra psicológica, confrontos de rua e nas redes sociais. Que falavam muito, quase sempre insistentes, a um passo da insolência, arrogantemente embrulhados numa falsa superioridade moral autoconferida. Que não ouviam suas palavras, que eram amiúde violentos e mal-educados e que contavam com as poderosas estruturas da máquina governamental, longamente azeitadas para este encontro naquele domingo.
Muitos de nós ficam intimidados pela selvageria dos combates, pois assim é a guerra, nunca foi diferente, não vamos idealizar. Mas é preciso lembrar que nessa guerra as maiorias silenciosas sempre vencem, e por isso mesmo saia de casa pensando que somos poucos (e ingênuos) apenas na aparência. São muitos como você, que não gostam de bravatas e imposições, que votam de forma discreta e independente. Sobretudo, e mais importante que tudo, lembre-se que somos maioria.
No futuro, você lembrará com satisfação que neste domingo, como em todos os outros em que há futebol, o jogo foi ganho dentro das quatro linhas. E que a partida só começou mesmo quando o escurinho da cabine lhe proporcionou a necessária proteção contra o festival de apoquentações e mentiras desabando sobre todos nós como flechas em quantidade para criar uma nuvem a encobrir a luz do sol.
Mas o dia de São Evaristo ainda está no presente, e será celebrado por muitos anos, com alívio ou com pesar, a depender do resultado da batalha. No futuro, quando o Brasil estiver entre os países desenvolvidos, será com orgulho que você exibirá as cicatrizes e mágoas desses últimos dias, perdoadas no momento em que você apertar a tecla verde, mas jamais esquecidas.
Alternativamente, se o Brasil estiver mais parecido com a Argentina e a Venezuela, como de fato se passou entre 2009 e 2014, seus amigos vão querer saber onde você estava nesse dia de São Evaristo.
A depender do desfecho desse domingo do tamanho de uma década, talvez se estabeleça uma Comissão da Verdade Fiscal, com o intuito de desbaratar a confusão contábil e administrativa com o dinheiro público feita nos últimos anos, uma barafunda sem tamanho da qual vimos muito pouco. É lamentável que esses assuntos definidos como “técnicos” ou “propositivos” tenham sido ardilosamente evitados quando, por obra deles, a batalha foi deslocada para o terreno baixo das acusações pessoais.
Por isso queria usar esta última oportunidade para lhe soprar, sobre a economia, nada mais que uma ideia e um número, coisa rápida.
A ideia: o desrespeito ao dinheiro público não é keynesianismo nem estruturalismo, mas improbidade, simples assim, e representa a forma mais direta de corromper a moeda. O descaso com as contas públicas é a mãe de todas as corrupções, e um péssimo exemplo para as condutas de todos à volta das autoridades econômicas, como estamos efetivamente assistindo.
Guarde apenas um número para pensar a caminho da urna: a dívida pública interna chegou a incríveis R$ 3 trilhões. Acostume-se com o trilhão! E pior: cerca de um terço dessa dívida “encalhou”, ou seja, não consegue ser rolada pelo Tesouro.
A Grécia quebrou por dificuldades de rolagem de dívida proporcionalmente menores, e por que não tinha um banco central como o nosso que pode absorver R$ 1 trilhão em dívida sem comprador (via operações compromissadas) tornando letra morta o Artigo 164 da Constituição que proíbe o Banco Central de financiar o Tesouro. Devíamos ter discutido isso durante a campanha, não é mesmo?
O desastre com as contas públicas trouxe de volta a inflação, lamento informar, mas que esperar quando os amigos da inflação estão no poder?
Lembre-se que nunca se encontra um defensor da poluição, mas sempre muitos críticos às estratégias mais substantivas de combate às emissões de carbono. Da mesmíssima forma, é rara, entre os economistas heterodoxos, a defesa aberta da inflação, embora seja muitíssimo frequente a crítica à estabilização “ortodoxa” ou à “austeridade”. Como a “estabilização heterodoxa” se parece com um unicórnio, não é tão difícil encontrar os ideólogos da inflação entre os críticos, por exemplo, do Plano Real. Quem são eles?
Sobre o real, o ministro Mantega disse que “essa estratégia neoliberal de controle da inflação, além de ser burra e ineficiente, é socialmente perversa”. Segundo Mercadante, “o PT não aderiu ao plano por profundas discordâncias com a concepção neoliberal que o inspira”. Para Conceição Tavares, “o Plano Real foi feito para os que têm a riqueza do País, especialmente o sistema financeiro”. Para o “diplomata” Marco Aurélio Garcia, o Plano Real era como um “relógio Rolex desses que se compra no Paraguai e têm corda para um dia só”.
São esses os personagens que tocam a economia. Eles nunca entenderão a relação entre moeda e cidadania, e que a moeda é como a bandeira e o hino, uma parte da nossa identidade.
Na Alemanha de 1923, a inflação foi o veneno que terminou com a democracia, o berçário do fascismo. Aqui o impacto foi diferente, mais sutil: a inflação proporcionou enorme impulso à cultura da malandragem, dos canais privilegiados, da seletividade, do clientelismo e da corrupção. A leniência com a inflação transmite esses “valores” de forma muito ampla para a sociedade, e assim a corrupção se torna uma consequência natural da inflação, sua irmã mais recolhida e circunspecta, mas muito ativa.
Vista as cores da bandeira e tome o caminho da urna pensando em seu livre-arbítrio, e sobre o modo como você vai comemorar São Evaristo e São Crispim no restante de seus dias. Bons votos!

Brasil 2014: uma pesquisa restrita, uma amostra significativa

Um amigo e colega de carreira fezuma consulta particular, uma mini-pesquisa eleitoral entre amigos. Recebeu poucas respostas, mas ficou frustrado sobretudo pelos "resultados" tabulados. 
Ele escreveu o que segue, em itálico. Mais abaixo o que eu lhe respondi. 
Paulo Roberto de Almeida 

Date: 2014-10-26 10:13 GMT+06:30
Subject: Resultado
To: Xxxxx


Amigos,
Começo falido como pesquisador de opinião. Apenas 9 amigos responderam.
 
O resultado é difícil de aceitar. 
 
Aécio: 2
Dilma: 7

O curioso é que dos sete que acreditam que Dilma vai ganhar, quatro lamentam isso profundamente. Apenas um(a) d(a)os outr(a)os três deixou claro achar que é isso que quer.

Eu próprio acredito que o Aécio vá ganhar. E não é (apenas) wishful thinking.
Abraços
[Nome]

[Nome], meu caro. Sua consulta não falhou. Ela oferece provavelmente um retrato em micro da sociedade brasileira atual, o que não deixa de ser preocupante, pelos resultados obtidos. Estaríamos condenados ao mesmo tipo de decadência que já vitimou outras sociedades em outras épocas e que ainda atinge a Argentina, por exemplo? Provavelmente sim, ainda que por outras vias e com outras características. E ouso afirmar isto mesmo na hipótese, talvez duvidosa, de vitória do Aécio. Nossas tendências estruturais, infelizmente, são fascistas, em sua essência, e isso significa o recuo da inteligência, simplesmente. 
Estou fazendo uma constatação, não expressando meu sentimento. Este é de apenas tristeza e também de consternação. 
O abraco do 
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Sent from my iPhone
Paulo R. de Almeida

O Brasil em 20 anos: 8 FHC + 12 Lula-Dilma - Carlos Alberto Sardenberg

Brasil em 20 anos

O Brasil chegou até aqui da seguinte maneira:

1. Estabilização macroeconômica, a partir da introdução do Real (1994) e de uma série de reformas que se prolongaram por uns dez anos, nos dois governos FH e no primeiro mandato de Lula.

2. Entre as reformas, a mais importante foi a Lei de Responsabilidade Fiscal, estabelecendo regras para o gasto público e tornando obrigatória a geração de superávits primários para a redução do endividamento do governo. Essenciais as normas proibindo a União de financiar estados e proibindo bancos estaduais de emprestar para estatais.

Trajetória brasileira é igual à dos principais países emergentes. Com uma diferença: o Brasil em geral chegou atrasado

3. Essencial também a reestruturação das dívidas dos estados, com base em uma legislação que simplesmente obriga os governos estaduais a gerar superávits mensais, em vez de déficits e dívidas, como era até então. Acrescente-se aqui o fechamento (e privatização) de bancos estaduais, até então máquinas de buracos sem fundo.

4. A reestruturação de todo o sistema financeiro, privado e público. Não esquecer: Banco do Brasil e Caixa estavam literalmente quebrados; foram capitalizados (R$ 9,5 bilhões só para o BB), saneados e colocados sob gestão profissional, ainda no governo FH.

5. As privatizações dos setores de telecomunicações, siderurgia, mineração e energia, todos com grande expansão posterior. As concessões de rodovias. A quebra do monopólio da Petrobras e sua transferência para a União, que passou a leiloar a concessão de campos de petróleo. Vieram novos investimentos privados nacionais e estrangeiros, que levaram às descobertas, inclusive do pré-sal. A Petrobras foi saneada e profissionalizada.

6. Reformas da Previdência.

7. Flexibilização de leis trabalhistas, como a introdução do banco de horas e do sistema de suspensão temporária do contrato de trabalho, largamente em uso hoje, e que impedem o aumento do desemprego.

8. O câmbio flutuante e o regime de metas de inflação (1999).

9. Alguma abertura no comércio externo.

10. As bases dessa verdadeira revolução estavam prontas quando Lula assumiu em 2003. Mas seu primeiro mandato foi essencial para consagrar um tipo de consenso macroeconômico, que pode ser assim resumido: não pode ter inflação; o governo tem que gastar menos que arrecada; a dívida pública tem que cair.

11. Reajustes reais do salário mínimo e programas sociais, já em funcionamento, mas ampliados de modo substancial com Lula

12. As reformas microeconômicas no primeiro mandato Lula, facilitando a vida de empresas e, muito especialmente, modernizando e dando segurança ao crédito, que simplesmente explodiu (imobiliário, consignado e automóveis). Isso foi o consumo das famílias.

13. A China caiu do céu. No início deste século, o Brasil mal exportava US$ 1 bilhão/ano para a China. Já em 2008 ultrapassava os 40 bilhões. A China puxou os emergentes e o Brasil foi na onda. Tornou-se superavitário no comércio externo. Sobraram dólares no Brasil, que o Banco Central comprou e formou as reservas.

14. A mineração e, sobretudo, o agronegócio, privados, que aproveitaram a oportunidade e tornaram-se grandes exportadores.

Essa trajetória brasileira é igual à dos principais países emergentes. Com uma diferença: o Brasil em geral chegou atrasado. Quando se acabou a inflação por aqui, ela já não era problema no mundo.

Outra diferença foi no ritmo de crescimento. Houve incrível expansão mundial, coincidindo com o início do governo Lula e durando até 2008. Todo mundo tirou pessoas das pobreza, as novas classes médias se formaram por toda parte. Mas no período 2003/07, por exemplo, o Brasil cresceu 4% ao ano em média, contra 4,8% do mundo e 7,6% dos emergentes. Foi assim em todos os períodos seguintes.

Depois da crise de 2008/9, o governo Lula começou a desmontagem do modelo, acelerada na gestão de Dilma Rousseff. As leis básicas não foram alteradas, mas as práticas, sim. O regime de metas de inflação está aí, mas a meta não é cumprida faz tempo.

A Lei de Responsabilidade fiscal está aí, mas o governo manobra as contas de modo a ampliar gastos — e dívidas. O governo empurra os bancos públicos para operações duvidosas e que logo, logo, apresentarão problemas. Práticas pré-Real.

Resultado: inflação alta, rodando na casa dos 6,5% ao ano (e, mesmo assim, “martelada”), enquanto o mundo todo tem inflação muito baixa; crescimento zero, enquanto os emergentes crescem 4,5%; juros na casa dos 11% ao ano, muito acima do padrão mundial e dos emergentes.

O desemprego é baixo em consequência daquelas mudanças que foram se consolidando. E não é uma proeza brasileira. Neste momento, o Brasil não gera empregos, a população trabalhando é estável faz algum tempo, segundo dados do IBGE. E, se continuar sem crescimento econômico, vai gerar desemprego.

E a taxa de desemprego nos outros países? Na casa dos 6%, pouco mais (Índia, 8,8%; Colômbia, 8,9%), pouco menos (México, 4,9%; Indonésia, 5,7%).

Resumão: o Brasil tem inflação maior, juros maiores, crescimento menor e desemprego igual, mas com tendência de alta.

A receita é óbvia.

Fonte: O Globo, 23/10/2014.

sábado, 25 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: um juiz fascisante quer impedir a informacao de chegar 'a sociedade brasileira

O juizeco, ou juiz, se não aceitarmos a fórmula carinhosa (poderia ser também juizinho, embora sem muito juízo), confunde informação com propaganda.
Registre-se que em nenhum momento a revista Veja defende, sustenta, apoia, ou se opõe, a qualquer candidatura.
Ela apenas fez uma matéria sobre fatos objetivos, de um delator premiado, cujas declarações vieram a público, e a revista cumpriu o seu DEVER de nos informar.
O juizeco, interpretando subjetivamente que essa matéria poderia prejudicar a candidata governamental, já que a corrupção ocorreu num ente estatal, quer nos impedir de tomar conhecimento dessa matéria.
Pois eu vou disseminá-la para todos aqueles que não tiveram a oportunidade de acessar a matéria.
É meu direito de fazê-lo e não me constrange nenhuma lei fascista.
Abaixo, uma outra matéria sobre o mesmo assunto.
Paulo Roberto de Almeida

Anexo: os interessados na matéria podem acessár-la neste link: https://www.academia.edu/8954948/Youssef_na_Veja_Eles_Sabiam_Lula_e_Dilma_
ou por esta via: https://www.academia.edu/attachments/35273704/download_file?s=work_strip

BOLIVARIANISMO AGONIZANTE
José Gobbo Ferreira, PhD
25/10/2014

S. Excia, o Exmo Ministro Edmar Gonzaga, que já foi advogado da campanha de Dilma Roussef em 2010, teve uma nova oportunidade de prestar-lhe importante serviço.

Ele atendeu a requerimento da defesa da campanha da candidata e expediu liminar em que proíbe que a revista faça propaganda em qualquer meio de comunicação da reportagem que afirma que Dilma e Lula sabiam das maracutaias na Petrobras. (O que, diga-se de passagem, além de nós todos, até o Faraó Ramsés, morto há milhares da anos já sabia)

Para o insigne e isento Ministro, o fato de a revista Veja informar a população e o eleitorado do mar de corrupção que afoga esse governo, por coincidência nas vésperas de uma eleição, que foi quando os fatos vieram à luz, bem como o fato de ter ela antecipado de dois dias sua edição (como, aliás o fez nas três eleições passadas),“desborda do seu elevado mister de informar, com liberdade, para convolar-se em publicidade eleitoral em favor de uma candidatura em detrimento de outra"

Faz questão ainda de avisar que a transmissão dessa informação por meio do rádio, que é um serviço objeto de concessão pelo Poder Público, constitui publicidade eleitoral em favor de um dos candidatos.

Como cidadão brasileiro, no exercício de seus direitos constitucionais entendo que, em sua singela peroração, secundado por S.Excia o Exmo Sr. Procurador Geral Eleitoral Edmar Janot, o Suas Excelências deixam claro que, no momento pré-ditatorial em que vivemos:

1. Que difundir a verdade, por todos os meios possíveis, constitui propaganda eleitoral, principalmente se a verdade atingir o candidato do governo.

2. Que é muito mais grave informar à população que um dos candidatos está pessoalmente envolvido em um crime que desviou cerca de dez bilhões de Reais de uma empresa estatal do que o crime propriamente dito.

3. Que se essa informação vier a público a tempo de evitar que essa candidata corrupta seja eleita para um mandato de quatro anos e continue delinquindo, a notícia se torna mais grave ainda.

4. Que é preciso lembrar que os meios de comunicação, em particular o rádio, são serviços objeto de concessão pelo Poder Público, e não devem ser utilizados para a livre difusão de informações que possam ferir interesses desse poder. Afinal, estamos em um Estado bolivariano...

5. Que a Justiça Eleitoral não tem interesse em punir calúnias, propaganda mentirosa ou campanhas de difamação, mas é extremamente pronta e eficaz para o combate à difusão da verdade.

VAMOS ACABAR COM ISSO AMANHÃ!

Historia sendo feita: a grande corrupcao companheira (Veja)

De vez em quando, uma matéria de imprensa deixa a estante dos fatos efêmeros para alçar-se à condição de documento histórico. É o caso desta matéria: ela assinala o começo do fim do poder petista no Brasil, a mais formidável organização criminosa que tinha conseguido conquistar um grande país, depois dos bolcheviques leninistas em 1917, das milícias fascistas em 1922 e dos gangsters nazistas em 1933. As analogias históricas são exatamente estas e eu não costumo brincar com a história. Leiam apenas. 
Paulo Roberto de Almeida 

Petrobras

Youssef: “O Planalto sabia de de tudo!” Delegado: “Quem do Planalto?” Youssef: “Lula e Dilma”

O doleiro Alberto Youssef afirma em depoimento à Polícia Federal que o ex e a atual presidente da República não só conheciam como também usavam o esquema de corrupção na Petrobras

Robson Bonin
Veja, 24/10/2014

A Carta ao Leitor desta edição termina com uma observação altamente relevante a respeito do dever jornalístico de publicar a reportagem a seguir às vésperas da votação em segundo turno das eleições presidenciais: “Basta imaginar a temeridade que seria não publicá-la para avaliar a gravidade e a necessidade do cumprimento desse dever”. VEJA não publica reportagens com a intenção de diminuir ou aumentar as chances de vitória desse ou daquele candidato. VEJApublica fatos com o objetivo de aumentar o grau de informação de seus leitores sobre eventos relevantes, que, como se sabe, não escolhem o momento para acontecer. Os episódios narrados nesta reportagem foram relatados por seu autor, o doleiro Alberto Youssef, e anexados a seu processo de delação premiada. Cedo ou tarde os depoimentos de Youssef virão a público em seu trajeto na Justiça rumo ao Supremo Tribunal Federal (STF), foro adequado para o julgamento de parlamentares e autoridades citados por ele e contra os quais garantiu às autoridades ter provas. Só então se poderá ter certeza jurídica de que as pessoas acusadas são ou não culpadas.

Na última terça-feira, o doleiro Alberto Youssef entrou na sala de interrogatórios da Polícia Federal em Curitiba para prestar mais um depoimento em seu processo de delação premiada. Como faz desde o dia 29 de setembro, sentou-se ao lado de seu advogado, colocou os braços sobre a mesa, olhou para a câmera posicionada à sua frente e se pôs à disposição das autoridades para contar tudo o que fez, viu e ouviu enquanto comandou um esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimentar 10 bilhões de reais. A temporada na cadeia produziu mudanças profundas em Youssef. Encarcerado desde março, o doleiro está bem mais magro, tem o rosto pálido, a cabeça raspada e não cultiva mais a barba. O estado de espírito também é outro. Antes afeito às sombras e ao silêncio, Youssef mostra desassombro para denunciar, apontar e distribuir responsabilidades na camarilha que assaltou durante quase uma década os cofres da Petrobras. Com a autoridade de quem atuava como o banco clandestino do esquema, ele adicionou novos personagens à trama criminosa, que agora atinge o topo da República.
Comparsa de Youssef na pilhagem da maior empresa brasileira, o ex-diretor Paulo Roberto Costa já declarara aos policiais e procuradores que nos governos do PT a estatal foi usada para financiar as campanhas do partido e comprar a fidelidade de legendas aliadas. Parte da lista de corrompidos já veio a público. Faltava clarear o lado dos corruptores. Na terça-feira, Youssef apresentou o ponto até agora mais “estarrecedor” — para usar uma expressão cara à presidente Dilma Rousseff — de sua delação premiada. Perguntado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobras, o doleiro foi taxativo:
— O Planalto sabia de tudo!
— Mas quem no Planalto? — perguntou o delegado.
— Lula e Dilma — respondeu o doleiro.
Para conseguir os benefícios de um acordo de delação premiada, o criminoso atrai para si o ônus da prova. É de seu interesse, portanto, que não falsifique os fatos. Essa é a regra que Youssef aceitou. O doleiro não apresentou — e nem lhe foram pedidas — provas do que disse. Por enquanto, nesta fase do processo, o que mais interessa aos delegados é ter certeza de que o depoente atuou diretamente ou pelo menos presenciou ilegalidades. Ou seja, querem estar certos de que não lidam com um fabulador ou alguém interessado apenas em ganhar tempo fornecendo pistas falsas e fazendo acusações ao léu. Youssef está se saindo bem e, a exemplo do que se passou com Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras, tudo indica que seu processo de delação premiada será homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na semana passada, ele aumentou de cerca de trinta para cinquenta o número de políticos e autoridades que se valiam da corrupção na Petrobras para financiar suas campanhas eleitorais. Aos investigadores, Youssef detalhou seu papel de caixa do esquema, sua rotina de visitas aos gabinetes poderosos no Executivo e no Legislativo para tratar, em bom português, das operações de lavagem de dinheiro sujo obtido em transações tenebrosas na estatal. Cabia a ele expatriar e trazer de volta o dinheiro quando os envolvidos precisassem.
Uma vez feito o acordo, Youssef terá de entregar o que prometeu na fase atual da investigação. Ele já contou que pagava em nome do PT mesadas de 100 000 a 150 000 reais a parlamentares aliados ao partido no Congresso. Citou nominalmente a ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann, a quem ele teria repassado 1 milhão de reais em 2010. Youssef disse que o dinheiro foi entregue em um shopping de Curitiba. A senadora negou ter sido beneficiada.
Entre as muitas outras histórias consideradas convincentes pelos investigadores e que ajudam a determinar a alta posição do doleiro no esquema — e, consequentemente, sua relevância para a investigação —, estão lembranças de discussões telefônicas entre Lula e o ex-deputado José Janene, à época líder do PP, sobre a nomeação de operadores do partido para cargos estratégicos do governo. Youssef relatou um episódio ocorrido, segundo ele, no fim do governo Lula. De acordo com o doleiro, ele foi convocado pelo então presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, para acalmar uma empresa de publicidade que ameaçava explodir o esquema de corrupção na estatal. A empresa queixava-se de que, depois de pagar de forma antecipada a propina aos políticos, tivera seu contrato rescindido. Homem da confiança de Lula, Gabrielli, segundo o doleiro, determinou a Youssef que captasse 1 milhão de reais entre as empreiteiras que participavam do petrolão a fim de comprar o silêncio da empresa de publicidade. E assim foi feito.
Gabrielli poderia ter realizado toda essa manobra sem que Lula soubesse? O fato de ter ocorrido no governo Dilma é uma prova de que ela estava conivente com as lambanças da turma da estatal? Obviamente, não se pode condenar Lula e Dilma com base apenas nessa narrativa. Não é disso que se trata. Youssef simplesmente convenceu os investigadores de que tem condições de obter provas do que afirmou a respeito de a operação não poder ter existido sem o conhecimento de Lula e Dilma — seja pelos valores envolvidos, seja pelo contato constante de Paulo Roberto Costa com ambos, seja pelas operações de câmbio que fazia em favor de aliados do PT e de tesoureiros do partido, seja, principalmente, pelo fato de que altos cargos da Petrobras envolvidos no esquema mudavam de dono a partir de ordens do Planalto.
Os policiais estão impressionados com a fartura de detalhes narrados por Youssef com base, por enquanto, em sua memória. “O Vaccari está enterrado”, comentou um dos interrogadores, referindo-se ao que o doleiro já narrou sobre sua parceria com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto. O doleiro se comprometeu a mostrar documentos que comprovam pelo menos dois pagamentos a Vaccari. O dinheiro, desviado dos cofres da Petrobras, teria sido repassado a partir de transações simuladas entre clientes do banco clandestino de Youssef e uma empresa de fachada criada por Vaccari. O doleiro preso disse que as provas desses e de outros pagamentos estão guardadas em um arquivo com mais de 10 000 notas fiscais que serão apresentadas por ele como evidências. Nesse tesouro do crime organizado, segundo Youssef, está a prova de uma das revelações mais extraordinárias prometidas por ele, sobre a qual já falou aos investigadores: o número das contas secretas do PT que ele operava em nome do partido em paraísos fiscais. Youssef se comprometeu a ajudar a PF a localizar as datas e os valores das operações que teria feito por instrução da cúpula do PT.
Depois da homologação da delação premiada, que parece assegurada pelo que ele disse até a semana passada, Youssef terá de apresentar à Justiça mais do que versões de episódios públicos envolvendo a presidente. Pela posição-chave de Youssef no esquema, os investigadores estão confiantes em que ele produzirá as provas necessárias para a investigação prosseguir. Na semana que vem, Alberto Youssef terá a oportunidade de relatar um episódio ocorrido em março deste ano, poucos dias antes de ser preso. Youssef dirá que um integrante da coordenação da campanha presidencial do PT que ele conhecia pelo nome de “Felipe” lhe telefonou para marcar um encontro pessoal e adiantou o assunto: repatriar 20 milhões de reais que seriam usados na campanha presidencial de Dilma Rousseff. Depois de verificar a origem do telefonema, Youssef marcou o encontro que nunca se concretizou por ele ter se tornado hóspede da Polícia Federal em Curitiba. Procurados, os defensores do doleiro não quiseram comentar as revelações de Youssef, justificando que o processo corre em segredo de Justiça. Pelo que já contou e pelo que promete ainda entregar aos investigadores, Youssef está materializando sua ameaça velada feita dias atrás de que iria “chocar o país”. (Continua).

DINHEIRO PARA O PT 

Lula Marques/Folhapress/VEJA

Alberto Youssef também voltou a detalhar os negócios que mantinha com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, homem forte da campanha de Dilma e conselheiro da Itaipu Binacional. Além de tratar dos interesses partidários com o dirigente petista, o doleiro confi rmou aos investigadores ter feito pelo menos duas grandes transferências de recursos a Vaccari. O dinheiro, de acordo com o relato, foi repassado a partir de uma simulação de negócios entre grandes companhias e uma empresa-fantasma registrada em nome de laranjas mas criada pelo próprio Vaccari para ocultar as operações. Ele nega

 

ENTREGA NO SHOPPING

Sérgio Lima/Folhapress/VEJA

Alberto Youssef confirmou aos investigadores o que disse o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa sobre o dinheiro desviado da estatal para a campanha da exministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR) ao Senado, em 2010. Segundo ele, o repasse dos recursos para a senadora petista, no valor de 1 milhão de reais, foi executado em quatro parcelas. As entregas de dinheiro foram feitas em um shopping center no centro de Curitiba. Intermediários enviados por ambos entregaram e receberam os pacotes. Em nota, a senadora disse que não recebeu nenhuma doação de campanha nem conhece Paulo Roberto Costa ou Alberto Youssef

 

ELE TAMBÉM SABIA

Sérgio Lima/Folhapress/VEJA

Durante o segundo mandato de Lula, o doleiro contou que foi chamado pelo presidente da Petrobras, José sergio Gabrielli, para tratar de um assunto que preocupava o Planalto. Uma das empresas com contratos de publicidade na estatal ameaçava revelar o esquema de cobrança de pedágio. Motivo: depois de pagar propina antecipadamente, a empresa teve seu contrato rescindido. Ameaçado pelo proprietário, Gabrielli pediu ao doleiro que captasse 1 milhão de reais com as empreiteiras do esquema e devolvesse a quantia à empresa de publicidade. Gabrielli não quis se pronunciar

 

CONTAS SECRETAS NO EXTERIOR

VEJA

Desde que Duda Mendonça, o marqueteiro da campanha de Lula em 2002, admitiu na CPI dos Correios ter recebido pagamentos de campanha no exterior (10 milhões de dólares), pairam sobre o partido suspeitas concretas da existência de dinheiro escondido em paraísos fi scais. Para os interrogadores de Alberto Youssef, no entanto, essas dúvidas estão começando a se transformar em certeza. O doleiro não apenas confi rmou a existência das contas do PT no exterior como se diz capaz de ajudar a identifi cá-las, fornecendo detalhes de operações realizadas, o número e a localização de algumas delas.

 

UM PERSONAGEM AINDA OCULTO

VEJA

O doleiro narrou a um interlocutor que seu esquema criminoso por pouco não atuou na campanha presidencial deste ano. Nos primeiros dias de março, Youssef recebeu a ligação de um homem, identifi cado por ele apenas como “Felipe”, integrante da cúpula de campanha do PT. Ele queria os serviços de Youssef para repatriar 20 milhões de reais que seriam usados no caixa eleitoral. Youssef disse que chegou a marcar uma segunda conversa para tratar da operação, mas o negócio não foi adiante porque ele foi preso dias depois. Esse trecho ainda não foi formalizado às autoridades.

Fernando Gabeira: enterrar o velho neobolchevismo

O título acima é meu, não dele. Nunca fui um grande admirador de Gabeira, a despeito de reconhecer que ele foi, junto com Alfredo Sirkis, um dos poucos ex-guerrilheiros que souberam fazer autocrítica, experiência à qual eu também estive associado, embora em escala e dimensão marginais. 
Reconheço, porém, neste artigo, traços de clarividência e mesmo de genialidade raramente encontráveis na imprensa brasileira (e praticamente nunca na esquerda brasileira). Não tenho NENHUM reparo a fazer (e eu costumi ser exigente e parcimonioso nos meus elogios).
Paulo Roberto de Almeida 

Fernando Gabeira - O Estado de S.PauloA campanha chega ao fim com o grande debate de hoje. Alguns temas ficaram de fora. Do Rio Piracicaba à nascente do São Francisco, na Serra da Canastra, encontrei vestígios da grande seca, talvez a maior dos últimos 50 anos no Sudeste. Ignoro o que os candidatos pretendem fazer a respeito. Não falam em recuperação de rios, fortalecimento dos comitês de bacia, nada que lembre uma política de recursos hídricos. Apenas se culpam.

Não sei se todos têm a sensação de que há uma distância entre o País dos debates e o da vida real. Creio que a distância às vezes é ampliada pelo próprio debate, que deveria encurtá-la.

Jean Piaget escreveu muito sobre inteligência infantil. Ele descrevia um tipo de linguagem que prevalece numa faixa de idade: a linguagem egocêntrica. Nela não importa necessariamente fazer sentido, muito menos comunicar-se com o outro.

Apesar dos debates sem mediação, foi impossível estabelecer um fio da meada. Dilma comportou-se como se fosse uma candidata da oposição em Minas Gerais. Após o debate no SBT sua memória falhou em alguns momentos. Depois de tropeçar na palavra inequívoca, ela capitulou em mobilidade urbana, pediu um pouco de água, sentou-se para descansar. O que se passa no cérebro de Dilma, como se articulam nela uma camada do córtex com uma região do hipocampo, criando ou embotando a memória, é uma análise que farei depois de pesquisar o tema.

Dilma está se transformando numa equilibrista que entra em cena mesmo sem ter completado o período de formação. No caso da Petrobrás, a opção do governo era negar as denúncias: são apenas vazamentos clandestinos. No campo do feminismo, Dilma projetou imagem dura ao ironizar o choro de Marina Silva, bombardeada pelas mentiras do PT: o cargo de presidente não é para coitadinhas, afirmou.

Quando soube que um ex-dirigente do PSDB, Sérgio Guerra, também foi acusado de receber propinas no escândalo da Petrobrás, Dilma passou a acreditar nas denúncias. E afirmou: houve desvios. O fluxo de denúncias não acabara. Depois de Sérgio Guerra, aparecia em cena o nome de Gleisi Hoffman, ex-chefe da Casa Civil no governo Dilma. Nesse caso, a presidente voltou a duvidar e pedir precauções. Ficou evidente que as denúncias valem quando envolvem o adversário, mas são levianas e perigosas quando envolvem o governo.

Depois do piripaco de Dilma, Lula e outros insinuaram que Aécio agride mulheres e isso pode ter influenciado a performance dela. Marina tinha de apanhar sem choro, pois a "Presidência não é para coitadinhos".

O escândalo da Petrobrás, embora possa ter envolvido gente da oposição, é de principal responsabilidade do governo. A empresa está sendo investigada nos EUA. Lá, por exemplo, a lei é clara e responsabiliza também os dirigentes da empresa, mesmo que não tenham tocado no dinheiro.

O choro da Marina massacrada é fraqueza; a crise de Dilma, uma consequência do machismo. Eles reinventam o mundo à sua maneira. Passada a eleição, em vez de ficar remexendo a essência macunaímica do PT, talvez fosse necessária uma avaliação mais profunda de como uma experiência histórica termina na porta da delegacia.

Análises sobre a trajetória da esquerda no século passado ocuparam grandes historiadores. Tony Judt dedicou parte de seu trabalho aos intelectuais franceses e seus equívocos. No caso europeu, as hesitações diante do stalinismo conduzem um dos fios da meada. Aqui, no Brasil, não creio que o stalinismo tenha o mesmo peso. O fio da meada é a relação com a ditadura cubana, a admiração por um regime falido e o silêncio inquietante sobre seus crimes.

A trajetória da esquerda brasileira no governo mudou. Goulart foi derrubado pelos militares que alegavam combater a subversão e a corrupção. A corrupção era algo mais simbólico no seu discurso. Envoltos na guerra fria, os militares queriam, principalmente, derrotar o comunismo. Essa passagem de uma resistência à ditadura militar, o trânsito das páginas políticas para as policiais, essa mudança de ala nas penitenciárias é uma guinada na história da esquerda.

Tanto se falou em Goebbels, o homem da comunicação de Hitler, que a tática de repetir a mentira passou a ser até elogiada por alguns. O encontro da tática do PT com Goebbels não é acidental. Assim como o encontro das Farc com o tráfico de drogas também não o foi. 

Quando desaparecem os objetivos estratégicos, quando o único alento é ganhar o poder, desaparece também a fronteira entre política e crime. Não te prendem mais em quartéis, mas na delegacia da esquina; já não se ergue o punho cerrado pelo futuro da humanidade, mas para garantir o banho de sol; não se comemoram grandes viradas históricas, mas o ingresso no regime de prisão albergue.

A transformação de uma força política num compacto muro de cinismo, o trânsito de ideias, aparentemente, generosas para a delinquência intelectual - tudo isso configura uma fascinante matéria de estudo.

Não sei se teria a isenção para cumprir a tarefa: ela mexe comigo, com a história pessoal, com as ilusões que me moveram no século passado. Mas alguém escreverá a história do nosso passado imperfeito, como Tony Judt fez com a intelectualidade francesa do pós-guerra.

No continente já estamos no socialismo do século 21. Em Caracas não se racionam mais os produtos básicos com cadernetas, mas com as impressões digitais. De Cuba para a Venezuela houve um salto tecnológico no interior do mesmo atraso. 

Mas a sedução do modelo ainda não foi abalada na esquerda brasileira. O verdadeiro século 21, de certa forma, não chegou. Quem sabe, domingo?

Um exame profundo dessa longa trajetória histórica pode começar, se o PT perder. Se vencer, será preciso concentrar a energia na vigilância cotidiana e preservar alguma esperança no Brasil. 

Vitoriosos depois do assalto à Petrobrás, os petistas logo estariam sonhando com o assalto aos céus.

*Fernando Gabeira é jornalista




sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Pronto: comecou o fuzue - Peticao para o impeachment da soberana


O texto abaixo, em itálico, figura no site da Avaaz, uma ONG um pouco suspeita, que é muito seletiva na escolha dos seus temas de mobilização social. Não sei porque essa ONG se dispos a iniciar uma coleta de assinaturas para abrir um processo de impeachment contra a atual candidata. Para mim isso é um pouco suspeito, inclusive porque ela vai ser impedida nas urnas por milhões de pessoas. 
Em todo caso aqui figura o texto presente no site:

Impeachment da Presidente Dilma
O PT, Partido dos Trabalhadores, hoje representado pela presidente Dilma, trouxe o mal estar para nação. A presidente Dilma, que foi eleita pelo povo brasileiro, está nos traindo e dando continuidade ao idealismo esdrúxulo do PT. A copa do mundo comeu bilhões de reais que poderiam ter sido aplicados na saúde, na educação e em infra-estrutura. Nós brasileiros, estamos cansados dessa hipocrisia.

Eu não assino petições, por princípio, a não ser que fosse para suspender uma sentença de morte decretada pelos companheiros contra mim, por exercício legal do meu direito de denúncia de todas as patifarias que eles veem praticando. 
Mas, quem quiser fazê-lo, pode ir neste link:


Sorte aos organizadores. Não querendo ser pessimista, acho que não vai dar em nada. As instituições já estão tão deterioradas sob o regime dos companheiros que nada acontecerá...
Acho que o melhor impeachment se faz pelas urnas.
Paulo Roberto de Almeida

O que poderia ter sido: o primeiro discurso da Presidente em 2011 - Paulo Roberto de Almeida

Não custa imaginar...
Paulo Roberto de Almeida


 [20/01/2011]
Brasileiras e brasileiros,
Estou desde o dia 2 de janeiro no comando efetivo do país e esta é a primeira vez que eu tenho a honra e a oportunidade de me dirigir diretamente a vocês. Meu discurso de vitória, no dia 31 de outubro de 2010, e o de investidura no cargo, no Congresso Nacional, em 1o. de janeiro de 2011, trouxeram a vocês o que eu poderia dizer, respeitando as formalidades dessas ocasiões cerimoniosas, numa linguagem politicamente correta, feita com base em subsídios preparados por meus assessores de campanha. Agora pretendo ser menos cerimoniosa, dirigindo-me diretamente a vocês, neste primeiro pronunciamento público, que pretendo seja o mais franco e aberto possível. Em primeiro lugar, vou pedir para cessar essa “coisa” de me chamar de presidenta: meu feminismo não chega a esse ridículo de feminizar todos os cargos existentes na Nação; daqui a pouco, algum assessor subserviente vai querer me chamar de chefa de Estado, de governanta, ou de coisas piores...

Brasileiras e brasileiros, ou vice-versa,
Desejo falar a vocês, de coração aberto, sobre os problemas do Brasil; quero propor, com a franqueza e a sinceridade possíveis, algumas soluções que antevejo aos nossos mais angustiantes problemas, falar das dificuldades que o Brasil enfrenta como resultado de várias heranças malditas, e não apenas daquelas normalmente apontadas com alguma má fé e muita enganação. Vou transmitir meus sentimentos, partilhar com vocês minha percepção dos problemas e antecipar algumas linhas gerais dos caminhos que pretendo trilhar para construirmos um Brasil melhor e mais solidário.
Para isso vou precisar da compreensão, da participação e da colaboração de todos os brasileiros e brasileiras, além e acima dos partidos e líderes políticos com que conta nosso sistema representativo, certamente não o melhor possível, mas o que nos foi possível construir ao longo das últimas três décadas de consolidação democrática. Nas iniciativas mais relevantes espero contar, isso é óbvio, com o apoio do Congresso, na missão indispensável de fazer passar as reformas indispensáveis ao progresso da Nação e à prosperidade de seus cidadãos. Pois bem, vamos ao que interessa sem mais delongas.

Brasileiros e brasileiras, em qualquer ordem,
Todo nós, mesmo os da oposição, somos capazes de reconhecer, sinceramente, que a vida melhorou sensivelmente para a maior parte dos brasileiros, sobretudo os mais humildes, nos últimos oito anos. Mas muito ainda resta a ser feito para que essas melhorias se transformem em prosperidade permanente para o povo, e não sejam apenas um alívio temporário derivado do crescimento econômico mundial, das transferências governamentais, a exemplo do Bolsa-Família, e dos aumentos reais do salário mínimo ou do crédito ao consumidor. Todos esses mecanismos possuem limites materiais, nos quadros de uma economia “normal”, isto é, não inflacionária, caso no qual essas conquistas se dariam um preço insuportável sobre os mais pobres, sob a forma de erosão do poder de compra ou de mais impostos um pouco adiante.
Todos sabem reconhecer, também, que muito ainda resta a ser feito nos terrenos da saúde, da infraestrutura, do saneamento básico, da educação e da segurança cidadã, sem mencionar os problemas da corrupção, sempre presente, e da criação de um bom ambiente de negócios, sem o qual nossos empresários não poderão produzir para os nossos cidadãos e competir num mundo globalizado como o de hoje.
Todos sabem, igualmente, que eu me comprometi, formalmente, com a erradicação da pobreza no Brasil. Sei que é uma promessa exagerada, e talvez eu devesse ter proposto a eliminação da miséria extrema, ou uma redução significativa da pobreza, que são objetivos mais razoáveis. Enfim, seja qual for o resultado final, vou me engajar resolutamente na tarefa, mesmo reconhecendo que se trata de um objetivo ambicioso demais, mesmo em quatro anos de mandato.
Sei que o Estado brasileiro, por maior que seja – e ele já é “muuuiuto” grande, reconheço – não é capaz, sozinho, de realizar essa tarefa grandiosa, que deve envolver toda a sociedade, a começar pelos empresários. Sendo assim, talvez fosse melhor deixar a sociedade resolver o problema por ela mesma, e isso por uma razão muito simples: se o Estado tiver de coletar os recursos na sociedade para tal tarefa – e todos vocês sabem que o Estado não produz rigorosamente nada – ele sempre vai cobrar um pedágio na entrada e na saída do dinheiro para resolver o problema da pobreza, pois esse é o preço da burocracia estatal. Bem melhor, nesse caso, deixar todo o dinheiro com a sociedade, com os próprios indivíduos e as famílias, para que eles descubram as melhores formas de gastá-lo, eventualmente pela realização de novos investimentos produtivos, que criam empregos, renda e riqueza. Essa é a minha visão do mundo.
Infelizmente – e nisso eu sou obrigada a discordar da maior parte de meus colegas de partido – ainda não inventaram nada melhor do que a livre iniciativa e a economia dos mercados livres para criar prosperidade social. Isso não é uma opinião: basta vocês olharem o mundo para constatar que as sociedades mais livres são também as mais ricas; essa lição eu aprendi, depois de muitos percalços na vida.
Por isso, e para isso, estou disposta a liberar as energias criativas dos brasileiros, dos empreendedores, dos investidores nacionais e estrangeiros, facilitando ao máximo seus negócios, e taxando ao mínimo seus fatores produtivos, assim como seus ganhos, que são a justa remuneração pelos riscos incorridos em suas atividades. A reforma tributária que eu pretendo implementar vai reduzir na máxima extensão possível o peso sobre o emprego – ou seja, sobre o trabalho – e sobre a renda, inclusive o lucro dos empresários, que deve transformar-se em novos investimentos. A tributação deve incidir sobretudo sobre o consumo, de preferência o chamado consumo conspícuo, não o consumo dos mais pobres, ainda que mais numerosos.
Em linha com essa intenção, caras brasileiras e brasileiros, pretendo operar uma redução drástica da máquina do Estado. Com um gabinete composto de 37 ou 40 ministros, secretários de Estado e assessores diretos, mesmo que eu quisesse seria impossível despachar com cada um dos titulares dos tentaculares serviços da administração federal central, mesmo que eu recebesse cada um deles continuamente ao longo de uma semana inteira. Como eu pretendo seguir o trabalho de meus ministros com a atenção que eles merecem, vou reduzir o número de ministérios ao total concebido originalmente para a Esplanada dos Ministérios: não mais do que duas dezenas, de preferência menos do que isso. Esperem novidades nessa frente.
Aliás, vou começar imediatamente, suprimindo o ministério da propaganda, também conhecido como Secretaria de Comunicação de Governo. Nenhum governo sensato e responsável necessita fazer propaganda; tampouco é preciso de um ministério inteiro para se comunicar com a sociedade: para isso, o governo já tem porta-voz. Quanto ao resto, ou seja, os ministérios que sobrarem, incluindo a presidência da República, não há o que se preocupar: basta disponibilizar as informações relevantes que tiverem, que a imprensa séria, aquela que não precisa de gorjeta para existir ou se comunicar com a sociedade, divulgará gratuitamente, na exata medida do interesse público que elas realmente tiverem. Chega de propaganda: com isso, vou fazer as economias necessárias para aplicar em saúde e educação.

Justamente, passo agora à educação, pois ela me parece – parece não, é! – a questão chave para se obter crescimento da renda, eliminação da pobreza e redução das desigualdades. Estou plenamente consciente de que o Brasil, em lugar de avançar, só recuou nas últimas décadas, e isso desde antes do regime militar, que, a despeito de ter feito muito pela formação pós-graduada, deixou praticamente abandonados os dois primeiros ciclos de ensino público. As gerações seguintes não souberam corrigir o problema, provavelmente por causa da ampliação democratizante das oportunidades de ensino, mas certamente também por erros de concepção na formulação e implementação dos parâmetros curriculares. Durante anos, ou até hoje, se ouso dizer, nossas orientações didáticas ficaram entregues à influência nefasta de uma tal de “pedagogia do oprimido”, uma coleção de bobagens pretensamente educativas, mas que apenas serviram para atrasar a educação no Brasil, criando uma viciosa divisão da sociedade em classes, como se houvesse uma luta inevitável entre elas.
Pior ainda que essa perniciosa pedagogia do atraso, alegadamente maoísta (quando os próprios chineses abandonaram esse tipo de estupidez há muito tempo), é o sindicalismo exacerbado, de baixa extração, que prevalece para a categoria dos professores: recheado de profissionais das reivindicações salariais, sem qualquer compromisso com a qualidade do ensino, focados num isonomismo doentio que impede o reconhecimento do mérito individual na avaliação do desempenho dos professores e que cuida apenas dos seus direitos, jamais de suas obrigações. Sei que será muito difícil corrigir as deformações da educação brasileira e confesso até que considero tomar a iniciativa de iniciar uma carreira paralela para o professorado, sem as falsas garantias da estabilidade, mas com níveis de remuneração compatíveis com as responsabilidades do cargo, proporcionais ao desempenho efetivo nas salas de aula.
Essa questão da estabilidade dos funcionários públicos, aliás, é uma das pragas do sistema político brasileiro. Não se trata exatamente de uma jabuticaba – pois existe também em outros países em decadência progressiva – mas de um peso crescente que a parte da sociedade que trabalha e paga impostos (mas sem dispor dos privilégios da aposentadoria pública) suporta com cada vez menor paciência. Tenho plena consciência, também, de que o peso do Estado já representa um problema para o Brasil e os brasileiros: de promotor do desenvolvimento, que ele foi décadas atrás, o Estado se tornou um obstrutor do crescimento econômico, pela despoupança que ele provoca ao retirar recursos privados que de outra forma serviriam a novos investimentos, pela enorme carga tributária e pela irracionalidade dos sistemas de arrecadação, que além de seus males declaratórios, costumam ser cumulativos e incidir sobre os mais pobres.
Acho que já está na hora de reduzir o peso do Estado; isso tem de ser feito de alguma forma. Como também sei que não existe entendimento possível entre todos os entes federativos sobre a estrutura tributária ideal, uma que contemple todos os interesses em causa (e que até aumente as receitas, segundo alguns), proponho uma fórmula mais simples e equânime: todos os impostos, sem exceção – o que compreende também as muitas contribuições exclusivas do governo central – serão incluídos num programa de redução automática, progressiva e calendarizada de todas as suas alíquotas básicas, eliminando pelo menos um terço do que essa arrecadação representa hoje como extração compulsória dos recursos legítimos dos cidadãos e das empresas.
Minha intenção é fazer com que, em uma década e meia aproximadamente, cortando poucos pontos percentuais por ano, ou a cada semestre, a carga fiscal total seja trazida dos atuais 2/5 da renda nacional – sim, estamos a 38% do PIB, caminhando para 40% – para menos de 30% da riqueza nacional, valor que deveria ser o máximo admissível para um país como o Brasil. Dessa forma, tratando todo mundo igual, e colocando essa meta num prazo de 15 anos, estados e municípios não poderão reclamar de um corte de impostos drástico ou desequilibrado; eles irão adaptar-se progressivamente à redução gradual de receitas. Na verdade, a experiência histórica ensina que quando se reduzem os impostos, a arrecadação aumenta, pois as pessoas e empresas ficam menos propensas a evitar ou elidir os impostos quando eles são percebidos como menos perversos ao terem suas alíquotas reduzidas.
Quando esse processo for iniciado, e todos se engajarem nele, trataremos de fazer os ajustes necessários no sentido de se reduzir a carga tributária sobre os extratos de baixa renda – o que não é difícil, bastando taxar menos os produtos de consumo popular – bem como sobre o capital e o trabalho, para estimular o emprego e os investimentos.

Brasileiras e brasileiros,
Eu tenho muitas propostas a fazer a vocês, e ao Congresso, neste quadriênio que agora tem início de verdade, e as farei sem arroubos, sem a pretensão de monopolizar a verdade, apenas e tão somente com a intenção de continuar um processo de reformas que teve início duas décadas atrás e que foi momentaneamente interrompido por razões que não cabe agora abordar. Nunca, neste país, deveríamos ter abandonado o caminho das reformas, sobretudo as que foram feitas em termos de estabilização e de modernização do Estado; não pretendo amarrar o país às fantasias estatizantes de um passado que não volta mais. Temos de olhar para a frente, saber o que de melhor está sendo feito em outros continentes e adaptar essas lições de crescimento rápido às nossas próprias necessidades, não ficar cultivando o dirigismo caduco que vigorou durante muito tempo, e que ainda parece ser cultivado em certos países da região. Não existem obstáculos técnicos para isso, nem os recursos para os investimentos produtivos fazem falta, pois há abundância de liquidez no mundo. O que nos atrapalha, e bastante, é a mentalidade atrasada de certos líderes políticos, em total descompasso com a abertura da sociedade às mudanças e inovações.
Estou pronta a fazer a minha parte, e espero receber a ajuda de todos vocês, independente de partidos e de escolas econômicas. O que interessa é o progresso do Brasil e a prosperidade das brasileiras e brasileiros, como vocês.
Conto com vocês, para enfrentar esses enormes desafios.
Obrigada.
Presidente Dilma Rousseff

Com a ajuda (involuntária, mas deliberada) de
Paulo Roberto de Almeida
[Brasília, 20 de janeiro de 2011.]