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sábado, 27 de abril de 2019

Folha de S. Paulo publica entrevista de Lula - completa

Como aconteceu durante toda a sua vida, o ex-presidente, do Brasil e do PT, o ex-metalúrgico, continua contando mentiras, inclusive para si próprio, plenamente instalado na sua megalomania que atinge o limite do comportamento patológico. Como diria o poeta, mente tão sinceramente que até pode acreditar nas mentiras que conta.
Não há muita coisa aproveitável nas mentiras que conta, mas ele se pronuncia inclusive sobre a política externa, trechos que transcrevo:

"No dia em que eu sair daqui, eles sabem, eu estarei com o pé na estrada. Para, junto com esse povo, levantar a cabeça e não deixar entregar o Brasil aos americanos. Para acabar com esse complexo de vira-lata.
Eu nunca vi um presidente bater continência para a bandeira americana [como fez Bolsonaro]. Eu nunca vi um presidente ficar dizendo “eu amo os EUA, eu amo”. Ama a sua mãe, ama o seu país! Que ama os Estados Unidos! Alguém acha que os Estados Unidos vão favorecer o Brasil?
Americano pensa em americano em primeiro lugar, pensa em americano em segundo lugar, pensa em americano em terceiro lugar, pensa em americano em quinto e se sobrar tempo pensa em americano.
E ficam os lacaios brasileiros achando que os americanos vão fazer alguma coisa por nós. Quem tem que fazer por nós somos nós. A solução dos problemas do Brasil está dentro do Brasil."
(...)
Agora você, do jeito que eles tão fazendo, inclusive brigando com os nossos maiores parceiros comerciais, desprezando a América do Sul… o nosso comércio com a Argentina é maior do que com todos os países da Europa.
Como vai desprezar o nosso comércio com a Argentina o Mercosul?
Esse cara [Bolsonaro] não entende de nada. Também, com o ministro que ele tem das relações exteriores [Ernesto Araújo], aquilo foi encomendado.
Saudades do Silverinha [Azeredo da Silveira, ex-chanceler] nos tempos do [ex-ditador Ernesto] Geisel, que teve coragem de reconhecer Angola. Esse cidadão que está aí [Araújo], sinceramente, como o Celso Amorim [ex-chanceler de Lula] deixou um cara desse na carreira do Itamaraty?

Isso é tudo e não há muito mais a comentar, pois o cidadão se fechou numa redoma de autista da política e continua achando que tudo no mundo e na política brasileira continua girando em volta dele. Vale relembrar tudo o que roubou do Brasil e dos brasileiros...
Paulo Roberto de Almeida
S. Paulo, 27/04/2019


Folha de São Paulo publica íntegra da entrevista de Lula:


Lula. Foto: Reprodução/YouTube

Da Folha:
A Folha de S. Paulo publicou a íntegra da entrevista de Lula. Veja ponto por ponto:
  • Prisão
A gente queria começar falando sobre a prisão do senhor. O que passou por sua cabeça quando estava sendo preso? Durante todo o processo, eu sempre tive certeza, [pelos] discursos da Lava Jato, de que [a operação] tinha um objetivo central, que era chegar em mim. Aliás uma jornalista importante, amiga nossa, escreveu um artigo em que dizia: o que eles querem é o Lula. E isso foi ficando patente em todos os depoimentos.
A imprensa retratava: prenderam fulano. Vai chegar no Lula. Prenderam fulano. Vai chegar no Lula. E muita gente que era presa, a primeira pergunta que faziam [para a pessoa] era: “Você é amigo do Lula? Você conhece o Lula?”.
​A imprensa retratava, as pessoas contavam, advogado conversava com advogado. E foi ficando patente que o objetivo era chegar em mim. Tinha companheiros no PT que não gostava quando eu dizia isso. “Eles vão chegar em mim e depois vão caminhar para criminalizar o PT.”
Muita gente achava que eu deveria sair do Brasil, ir para uma embaixada, que eu deveria fugir. E eu tomei como decisão que o meu lugar é aqui [no Brasil].
Eu tenho tanta obsessão de desmascarar o [ex-juiz e ministro Sergio] Moro, de desmascarar o [procurador Deltan] Dallagnol e a sua turma, e desmascarar aqueles que me condenaram, que eu ficarei preso cem anos, mas eu não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade.
Eu quero provar a farsa montada. Montada aqui dentro, montada no Departamento de Justiça dos EUA, com depoimento de procuradores, com filme gravado, e agora mais agravado com a criação da fundação criança esperança do Dallagnol, pegando R$ 2,5 bilhões da Petrobras para criar uma fundação para ele.
Eu tenho uma obsessão. Você sabe que eu não tenho ódio, não guardo mágoa porque, na minha idade, quando a gente fica com ódio a gente morre antes.
Então como eu quero viver até os 120 anos, porque eu acho que sou um ser humano que nasceu para ir até 120 [anos], eu vou trabalhar muito para provar a minha inocência e a farsa que foi montada.
Por isso eu vim para cá com muita tranquilidade. Havia uma briga no sindicato aquele dia [da prisão, em abril de 2018], entre os que queriam que eu viesse e os que queriam que eu não viesse [para a prisão].
E eu tomei a decisão. Eu falei “olha, eu vou”. Eu vou lá. Eu não vou esperar que eles venham até mim. Eu vou até eles porque eu quero ficar preso perto do Moro. O Moro saiu daqui [de Curitiba]. Mas eu quero ficar preso. Porque eu tenho que provar a minha inocência.
O senhor, concretamente, é um fato, pode ser que fique aqui para sempre. O senhor mesmo assim acha que tomou a decisão correta? Tomaria outra vez.
 O senhor já pensou que pode ficar aqui para sempre? Não tem problema. Eu tenho certeza que eu durmo todo dia com a minha consciência tranquila. Eu tenho certeza que o Dallagnol não dorme, que o Moro não dorme. E aqueles juízes do TRF-4 (Tribunal Regional Federal), que nem leram a sentença? Fizeram um acordo lá [entre eles]. Era melhor que um só tivesse lido e falado “olha, todo mundo aqui vota igual”.
Então, sinceramente, quem tem 73 anos de idade, quem construiu a vida que eu construí nesse país, quem estabeleceu as relações que eu estabeleci nesse país, quem fez o governo que eu fiz nesse país, quem recuperou a auto estima e o orgulho do povo brasileiro como eu e vocês fizemos no meu período de governo, não vou me entregar.
Então eles sabem que eles têm aqui um pernambucano teimoso. É o que eu digo sempre. Quem nasceu em Pernambuco e não morreu de fome até os 5 anos de idade, não se curva mais a nada.
Você pensa que eu não gostaria de estar em casa? Adoraria estar em casa com a minha mulher, com os meus filhos, os meus netos, os meus companheiros. Mas não faço nenhuma questão. Porque eu quero sair daqui com a cabeça erguida como eu entrei. Inocente. E eu só posso fazer isso se eu tiver coragem e lutar por isso.
Com a decisão da Justiça de que a OAS devolva o dinheiro do apartamento de dona Marisa, o senhor acredita em sua absolvição? Por incrível que pareça, eu acredito. Eu ainda continuo com a cabeça de Lulinha paz e amor. Eu acredito na construção de um mundo melhor, de um mundo de Justiça.
Eu penso que haverá um dia em que as pessoas que irão me julgar estarão preocupadas com os autos do processo, com as provas, e não com a manchete do Jornal Nacional, com a capa das revistas, com fake news.
As pessoas se comportarão como juízes supremos, de uma corte [o STF] [da qual] não podemos recorrer. E que já tomou decisões muito importantes.
Essa corte, por exemplo, votou [a liberação de pesquisas com] células-tronco contra uma boa parte da Igreja Católica. Já votou a questão [da demarcação da área indígena de] Raposa Serra do Sol contra os poderosos do arroz no estado de Roraima. Essa mesma corte votou a união civil [de homossexuais] contra todo o preconceito evangélico. Essa corte votou as cotas para que os negros pudessem entrar [nas universidades]. Ela já demonstrou que teve coragem e se comportou.
Ora, no meu caso a única coisa que eu quero é que votem com relação aos autos do processo. Eu não peço favor de ninguém, eu não quero favor de ninguém. Eu só quero que as pessoas, pelo amor de Deus, julguem em função das provas.
Porque eu tenho certeza, o Moro tem certeza [de sua inocência]. Se as pessoas não confessarem agora, no dia da extrema-unção vão confessar. Ele tem certeza que eu sou inocente. Esse Dallagnol tem certeza de que ele é mentiroso. E mentiu a meu respeito. Então eu tô aqui, meu caro, para procurar justiça, para provar inocência. Mas estou muito mais preocupado com o que está acontecendo com o povo brasileiro. Porque eu posso brigar e o povo nem sempre pode.
  • Morte do neto
O senhor, durante esse um ano, passou por dois momentos de muita tristeza, que foi a morte do seu irmão e depois a morte do seu neto Artur. O que, para o senhor, depois de viver isso, fica da vida? Esses dois momentos foram os mais graves. Eu poderia incluir a perda de um companheiro como o [ex-deputado] Sigmaringa Seixas, que era meu companheiro de dezenas e dezenas de anos. A morte do meu irmão Vavá… O Vavá era como se fosse um pai da família toda. E a morte do meu neto é uma coisa que efetivamente não, não… [chora].
Eu às vezes penso que seria tão mais fácil que eu tivesse morrido. Eu já vivi 73 anos, poderia morrer e deixar o meu neto viver. Mas não são apenas esses momentos que deixam a gente triste.
Eu tento ser alegre e trabalhar muito a questão do ódio. Eu trabalho muito para vencer a questão do ódio. A questão da mágoa profunda.
Quando eu vejo essa gente que me condenou na televisão, sabendo que são mentirosos, sabendo que forjaram uma história… Aquela história do power point do Dallagnol, nem o bisneto dele vai acreditar naquilo. Nesse messianismo ignorante.
Então eu tenho muitos momentos de tristeza aqui. Mas o que me mantém vivo, e é isso o que eles têm que saber, eu tenho compromisso com esse país.
Eu tenho compromisso com esse povo. E eu estou vendo a obsessão que está acontecendo agora. De destruir a soberania nacional. De destruir empregos. De juntar R$ 1 trilhão, para que? Às custas dos aposentados?
Se eles lessem alguma coisa, se eles conversassem, eles saberiam que esse cidadão aqui, analfabeto, com um curso de torneiro mecânico, juntou R$ 370 bilhões e dólares de reservas, que a R$ 4 o dólar dá mais de R$ 1,2 trilhão, sem causar nenhum prejuízo a nenhum brasileiro.
Então, se eles querem economizar R$ 1 trilhão tem uma fórmula secreta: coloque o povo no orçamento da União. Gere emprego. Gere crédito para as pessoas.
Ah, o povo tá devendo? Tire todo o penduricalho da dívida do povo e ele paga apenas o principal no banco e você vai perceber que as pessoas voltam a comprar. Um país que não gera emprego, não gera salário, não gera consumo, não gera renda, quer pegar do aposentado e do velhinho R$ 1 trilhão? O Guedes precisava criar vergonha.
Onde ele fez esse curso de economia dele? Se ele quiser me visitar aqui, eu discuto com ele esse problema dos pobres sem causar prejuízo aos pobres. Por que ele não mostra os privilegiados [de quem] eles falam que vão acabar com os privilégios? Coloca a lista no jornal de dez privilegiados. Coloca o nome, CPF. Não.
É o coitado que vai ter que trabalhar até 65 anos, que vai ter que contribuir 40 anos [para se aposentar]. Ele não percebe que muita gente morre sem chegar a essa idade. Lamento profundamente o desastre que está acontecendo nesse país. E é por isso que eu me mantenho em pé.
No dia em que eu sair daqui, eles sabem, eu estarei com o pé na estrada. Para, junto com esse povo, levantar a cabeça e não deixar entregar o Brasil aos americanos. Para acabar com esse complexo de vira-lata.
Eu nunca vi um presidente bater continência para a bandeira americana [como fez Bolsonaro]. Eu nunca vi um presidente ficar dizendo “eu amo os EUA, eu amo”. Ama a sua mãe, ama o seu país! Que ama os Estados Unidos! Alguém acha que os Estados Unidos vão favorecer o Brasil?
Americano pensa em americano em primeiro lugar, pensa em americano em segundo lugar, pensa em americano em terceiro lugar, pensa em americano em quinto e se sobrar tempo pensa em americano.
E ficam os lacaios brasileiros achando que os americanos vão fazer alguma coisa por nós. Quem tem que fazer por nós somos nós. A solução dos problemas do Brasil está dentro do Brasil.
  • Rotina
Como é a rotina na prisão? O sr. passa muito tempo sozinho? Eu passo o tempo inteiro sozinho. Eu leio, eu vejo pendrive que o pessoal me manda, assisto a filmes, muitos filmes. Muita série, muito discurso, muita aula. Eu por exemplo fiz, na minha cela… Que eu não trato de cela, eu trato de sala porque é melhor. Eu fiz um curso sobre Canudos no canal Paz e Bem [na internet], recuperando a história e mostrando as mentiras que Euclides da Cunha contou sobre Canudos [no livro “Os Sertões”].Ou seja, a história não é aquela. Então eu fiz um curso de oito aulas. Agora eu sugeri a eles que façam um curso, Retratos do Brasil. Sobre todas as lutas sociais no Brasil. E agora acho que toda segunda-feira tem uma aula [no canal].Eu espero juntar umas quatro ou cinco, recebo um pendrive, vou assistindo e vou me aprimorando. Quando sair daqui, sairei doutor.
Mas o sr. lava a sua própria roupa, lava suas coisas? E a prisão mudou o sr. em alguma coisa? É engraçado porque eu sempre tive vontade de morar sozinho. Quando eu fiquei viúvo a primeira vez, em 1971, eu fiquei bravo com a minha mãe [dona Lindu] porque meu sonho era alugar uma quitinete e morar sozinho. A minha mãe morava com a minha irmã, a minha mãe abandonou a minha irmã, foi na minha casa e exigiu que eu alugasse uma casa para morar comigo. E eu morei com a minha mãe durante três anos e meio. Sabe aquele sonho de jogar a cueca para qualquer lado a meia para qualquer lado, a camiseta, não ter que prestar contas, não ter ninguém atrás de mim, “recolhe, põe no chuveiro”?Hoje, eu faço isso. Mas eu preencho o meu tempo vendo muita coisa.
O sr. lava suas roupas? Não. Eu mando para o meu pessoal lavar. Mas eu curto a solidão tentando aprender, mentalizar a minha espiritualidade, tentando gostar mais do ser humano, tentar ficar um pouco mais humano. Eu acho que eu vou sair daqui melhor do que eu entrei. Com menos raiva das pessoas. Eu vou sair um cidadão bom daqui. Bom e motivado para brigar. Estou doido para fazer uma caravana.
  • Vigília em frente a prisão
Um grupo perto da prisão diz “boa noite” e “boa tarde todos os dias para o senhor. Eu escuto todo santo dia. Quando tem atividade, eu escuto discurso das 9h às 21h. É música, é canto. Eu sinceramente não sei como um dia eu vou poder agradecer a essa gente. Tem gente que está aqui [numa vigília em frente à PF] desde o dia em que eu cheguei aqui. Vai para casa, lava a roupa e volta para cá. Eu serei eternamente grato, não sei se isso já aconteceu alguma vez na história com alguém. Mas eu sinceramente não sei como fazer para agradecer. Eu já disse para todo o mundo aqui. Mas quando eu sair daqui, quero sair daqui a pé e quero ir lá no meio deles. A primeira cachaça eu quero tomar com eles. E brindar.
  • Bolsonaro
O seu partido perdeu a eleição e a extrema direita chegou ao poder com muitos votos que eram do PT. Como o senhor avalia essa guinada? Vamos só relativizar tudo isso. Uma das condições que fez com que eu viesse para cá era porque não havia nenhum advogado naquele instante que não garantisse que eu disputaria as eleições sub-judice. Mesmo condenado, eu poderia concorrer.
E eu estava com um orgulho muito grande de ganhar as eleições de dentro da cadeia. É importante lembrar que eu cresci 16 pontos aqui dentro [da prisão]. Sem poder falar.
Aí quando o ministro [do STF e do TSE, Luís Roberto Barroso] fez aquela loucura [foi decidido que Lula não poderia se candidatar], eu tive que assinar uma carta dizendo para o [Fernando Haddad] ser candidato.
Ali eu senti que nós estaríamos correndo risco. A transferência de votos não é simples, automática. Leva tempo.
Eu tinha certeza de que o Haddad poderia representar muito bem a candidatura, como representou.
Nós tivemos uma eleição atípica no Brasil. O papel do fake news na campanha, a quantidade de mentira, foi uma coisa maluca. E depois [teve] a falta de sensibilidade dos setores de esquerda de não se unirem.
A coisa foi tão maluca que a Marina [Silva, da Rede], que quase foi presidente da República em 2014, teve 1% dos votos.
Eu respeito o voto do povo. O povo não é bom só quando vota em mim. Mas a verdade é que eu nunca tinha visto o povo com tanto ódio nas ruas.
Eu já fui muito a estádio de futebol. Eu sou corintiano. Eu ia com palmeirense, com são-paulino, com santista. A gente brincava, brigava. Mas, agora, era loucura. É ódio. E eu tenho acompanhado por leitura. Está no mundo inteiro assim.
A política está efetivamente demonizada. E vai se levar um tempo muito grande para a gente tratar a política com mais seriedade. Veja o caso do Brasil. O que você tem visto nesses quatro meses? Eu não esperava que o Bolsonaro fosse resolver o problema do Brasil em quatro meses.
Quem acha que em cem dias pode apresentar alguma coisa, realmente não aprendeu a sentar a bunda na cadeira. E, depois, com a família que ele tem. Com a loucura que tem. Quem é o primeiro inimigo que ele tem? É o vice [general Hamilton Mourão]. Ele [Bolsonaro] passa a agredir os deputados, depois tenta agradar os deputados. Diz que está fazendo a nova política e a política que ele faz é a mesma porque ele é um velho político.
Ou seja, o país está desgovernado. Ele [Bolsonaro] não sabe até agora o que fazer e quem dita regras é o Paulo Guedes. O homem de R$ 1 trilhão [que o ministro afirma que será economizado com a reforma da Previdência]. A única coisa que o povo sabe é do R$ 1 trilhão.
Eu vejo jornal das 7, das 8, das 11, do meio-dia, em todos os canais. Nunca vi tanto jornal na vida. É tudo a mesma coisa. Parece as sentenças que dão contra mim.
Fez a reforma da Previdência, acabou o teu problema. Acabou o problema do Brasil. Todo mundo vai ficar maravilhosamente bem. E eu acho que todo mundo vai se lascar se for aprovada a Previdência tal como ele [Guedes] quer.
Se a Previdência precisava de reforma, senta com os trabalhadores, com os empresários, com os aposentados, os políticos, e encontra uma solução para arrumar onde tem que arrumar.
  • Futuro do PT
Dá para culpar muitos pela derrota. Mas vocês ficaram muito tempo no poder. Houve corrupção de fato, comprovada. Que autocrítica que o senhor faz? E como fica o PT agora, sem o senhor? Obviamente que reconhecemos que perdemos as eleições. Mas é importante lembrar a força do PT. Porque só eu pessoalmente tenho mais de 80 capas de revistas contra mim. Quando eu fui preso, eu tinha 80 horas de Jornal Nacional contra mim. Mais 80 horas da Record, mais 80 horas do SBT, mais 80 horas de um monte de coisas. E eles não conseguiram me destruir. Isso significa que o PT tem uma força muito grande.
O PT não foi destruído. O PT perdeu a eleição. Provou que é o único partido que existe nesse país. O resto é sigla de interesses eleitorais em momentos certos. Quem acabou foi o PSDB. Esse acabou. Esse foi dizimado.
Então o PT perdeu as eleições. Deve ter cometido erros durante os nossos governos. O Ayrton Senna cometeu erros, um só, e morreu.
E a corrupção? Ela pode ter havido. Agora, que se faça prova. Teve corrupção, a polícia investiga, faz acusação, prova, está condenado. Fomos nós do PT que criamos os melhores mecanismos para apurar a corrupção. Não foi o Moro, não foi ninguém. Combater a corrupção é uma marca do PT.
Se alguém do PT cometeu um erro, tem que pagar. A única coisa que queremos é que se apure, que se investigue.
Eu falo por mim. Eu desafio Moro, Dallagnol, 209 milhões de pessoas – inclusive você –a provar a minha culpa.
  • Sítio de Atibaia
Na questão do sítio, houve de fato uma reforma, comprovada, e o senhor usufruiu dessa reforma. A Justiça decidirá se houve crime. Mas não houve um erro? Eu poderia ter aceito e nunca ter ido naquele sítio. Então eu cometi o erro de ter ido no sítio. Eu disse que está provado que eu fiquei sabendo daquele maldito sítio dia 15 de janeiro de 2011. E o sítio tinha dono, dono, pré-dono, e bidono. O Jacó Bittar era meu amigo de 40 anos, comprou o sítio no nome do filho dele, com cheque dado pela Caixa Econômica Federal, e a polícia sabe disso, a polícia investigou.
Nós tivemos policiais e procuradores visitando casa de trabalhador rural [do sítio], casa de pedreiro, casa do caseiro, perguntando até para as galinhas: “Você conhece o Lula? O Lula é o dono?” Nem as galinhas falaram. Porque se eu quisesse eu podia comprar.
Então, se eu cometi o erro de ir num sítio em que alguém pediu e a Odebrecht reformou, vamos discutir a questão ética. Aí é outra questão.
Acontece que o impeachment da Dilma [Rousseff], o golpe, não fecharia com o Lula em liberdade.
Qual é o meu incômodo? Se eu tivesse aqui preso e o salário mínimo tivesse dobrado, [pensaria] “o Lula realmente é um desgraçado, prendeu e melhorou [a vida do] povo”. Mas não.
Acabaram agora com o aumento real do salário mínimo. Inventaram uma carteira de trabalho verde e amarela [com menos direitos, para quem estiver entrando no mercado de trabalho]. Nenhum empresário vai contratar um trabalhador que não esteja com carteira verde e amarela.
Essa gente pensa que o povo é imbecil para ficar mentido o tempo inteiro para o povo.
Quando falam em autocrítica, eu acho que nós devemos ter muitos erros. Eu, por exemplo, tive um erro grave. Eu poderia ter feito a regulamentação dos meios de comunicação.
É uma autocrítica que eu faço. Mas imagina se todo mundo nesse Brasil fizesse uma autocrítica. A elite brasileira deveria estar agora fazendo autocrítica: “Poxa vida, como a gente ganhou tanto dinheiro no governo do Lula, como é que o povo pobre vivia tão bem, como é que o povo pobre estava viajando para o Piauí, para Sergipe, para Garanhuns, de avião e agora nem de ônibus pode viajar?”.
Vamos fazer uma autocrítica por causa do que aconteceu em 2018 na eleição. Vamos fazer uma autocrítica geral nesse país. O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco.
O senhor se sente injustiçado por empresários que cresceram em seu governo fazerem delações premiadas contra o PT e o senhor? Eu não fico com raiva. Eu tenho desafiado os empresários a dizerem quem é que me deu cinco centavos. A coisa é que mais acontece no Brasil é denúncia. E sou favorável que todas as denúncias feitas sejam apuradas. Investiga, investiga, apura, apura, faz o que quiser.
Eu estou achando estranho essa tal dessa milícia do Bolsonaro. Cadê aquele cidadão dos R$ 7 milhões [Fabrício Queiroz, ligado a Flávio Bolsonaro]? Cadê a imprensa que não está atrás do Queiroz? Então, é o seguinte, o Brasil tem dois pesos e duas medidas.
Eu, ex-presidente da República, sem nenhuma prova, foram na minha casa, recebi vários policiais. O seu Queiroz não atendeu a nenhum pedido [para depor no Ministério Público] e a Polícia Federal não foi buscar ele ainda.
Os policiais do Exército dão 80 tiros num carro, matam um negro. E vai [a imprensa] perguntar para o ministro da Justiça e ele fala: “Isso pode acontecer”. É por isso que eu não tenho o direito de baixar a cabeça, de ficar esmorecido, fraquejar. Eu estou mais tinhoso que nunca.
  • Alan García
Como o senhor recebeu a notícia da morte de Alan Garcia [ex-presidente do Peru, que se matou quando ia ser preso por denúncias de corrupção]? Eu nunca consegui entender a morte do Getúlio Vargas. O último filme que assisti do Getúlio Vargas foi esse com o Tony Ramos. É um bom filme.
Eu lembro que, em 2005, numa plenária com empresários no Palácio da Alvorada [quando era presidente], eu falei: “Eu quero que vocês saibam como eu sou. Não vou me matar porque eu não tenho vocação de Getúlio, não vou correr porque não tenho vocação de pedir asilo político. Se alguém quiser me pegar nesse país, vai me pegar na rua”.
E comecei a ir pra rua. E por isso que ganhei em 2006 [quando foi reeleito presidente] e orgulhosamente terminei o meu mandato com 87% de bom e ótimo, 10% de regular, e 3% de péssimo, que deve ter sido lá no condomínio do Bolsonaro e na sede do PSDB.
E o Alan Garcia? Ele teve uma reação psicológica que muita gente tem, como o reitor da UFSC [que se suicidou].
Não é todo mundo que aguenta. A Marisa [mulher de Lula] morreu por conta disso. Quem está falando é um homem de 73 anos de idade, perto de fazer 74 anos. A dona Marisa morreu por conta do que fizeram com ela e com os filhos dela.
A dona Marisa perdeu motivação de vida, não saia mais de casa, não queria mais conversar nada. O AVC dela foi por isso. Agora, não pense que por causa disso eu vou ficar com meu coração cheio de ódio.
Aqui tem muito lugar para amor. O ódio eu vou colocando num cantinho bem escondido.
E o Alan Garcia não deve ter suportado. Eu não sei, não leio imprensa peruana, não sei qual era a acusação que se fazia contra ele. Mas o Alan Garcia era um homem que tinha saído muito mal do governo. O Peru tem uma coisa engraçada, é um país que cresce a 5% ao ano e todos os presidentes saem com 10%, 5% de aprovação.
É porque eles exportam tudo para os Estados Unidos. Eles crescem mas não têm distribuição de renda. O país cresce 5% e a miséria cresce a 10%. A miséria sempre vai na frente do crescimento.
Eu sinceramente não sei como ele se matou. Tem que ter muita decisão [para não se matar]. Eu sei o que eu passei. Eu sei o que passei. Você não tem noção do que é passar seis meses esperando todo santo dia que a Polícia chegue na tua casa? Todo santo dia. Não é um dia, não, são seis meses.
E, de repente, você vê a polícia chegar na tua casa, com uma desfaçatez, todo mundo [os policiais] com máquina fotográfica pendurada no peito para tirar fotografia.
Deveriam ter mostrado a quantidade de dólares que acharam, a quantidade de joias que acharam da dona Marisa. Deveriam ter tirado foto e colocado na TV Globo. Enfiaram o rabo no meio das pernas porque não encontraram nada. E a imprensa não fala “não encontraram nada na casa do Lula”.
É duro. Não queira que isso aconteça com você. Eu conheço casos de pessoas [presas] que estavam em cadeira de rodas, pediam para ir no banheiro e diziam: “Se você não falar o nome do Lula, você não vai no banheiro”. Como a história não é contada, essas coisas vão acontecendo. Então eu tenho muita motivação para estar vivo. Estar vivo e não fazer nenhuma loucura.
Foi a forma que eu encontrei de ajudar esse país a se reencontrar com a democracia, com o amor, com a paz. Esse povo tem o direito de ser feliz, de viver bem. Então é para isso que eu existo, meu caro. E para isso eu vou brigar até os últimos dias da minha vida.
Me diga o seguinte: Lula, você está livre, vai morar nas Bahamas, tem um lugar para você lá, vai ter água de coco todo dia de manhã. Mas o compromisso é não fazer política. Eu vou dizer o seguinte: “Eu vou ficar aqui, sem água de coco, sem Bahamas. Vou ficar na esperança de que eu vou andar por esse país levantando a cabeça do meu povo para a gente voltar a conquistar direitos”.
O povo tem que tomar café de manhã, almoçar e jantar todo dia, e se puder comer uma bolachinha às três horas da tarde com café com leite, e se puder fazer um lanchinho dez horas da noite, antes de dormir.
Quero que o povo vá ao teatro, ao cinema. A coisa mais fantástica é um pobre pegar um avião, não sabe nem como entra no banheiro, mas pega um avião e vai para a sua terra. É isso que eu quero é e por isso que vou brigar
E sei que tem muita gente que não gosta de mim, e é por isso que eu vivo, é por isso que eu tô de cabeça erguida. Não pense que eu estou aqui orgulhosamente, não. Eu estou aqui com orgulho de defender o povo. Mas gostaria de estar fora com meus netos e meus filhos.
  • Principal adversário
O senhor falou que o PSDB acabou. Quem vê agora como principal adversário? O Bolsonaro? O Moro? Os militares, que passaram a ter protagonismo? A vida inteira vocês gozaram de mim porque ele falava “menas laranja”. O Moro falar “conje” [em vez de cônjuge] é uma vergonha. Sinceramente é uma vergonha. É o mínimo que ele deveria saber porque está escrito no Código Penal, há vários artigos que falam de cônjuge.
O Moro não sobrevive na política. E o Bolsonaro, ou ele constrói um partido político sólido ou do jeito que está também não perdura muito. Porque ali você tem uma quantidade difusa de interesses. Não sei como você é deputado 27 anos e diz que não gosta de política [referindo-se à carreira de Bolsonaro]. Como você faz um filho vereador, outro deputado federal, outro senador, e você não gosta de política.
Então, ele vai ter que ter muita capacidade de articulação, muita vontade, vai ter que gostar muito de política para poder dar certo. Porque a chance de ele dar certo é o Brasil dar certo. O povo tem paciência, mas não tem toda a paciência do mundo.
Pode dar certo? Não sei. Do jeito que está fazendo não pode dar, querida. Não tem condições de dar. Você [o governo] diminuiu a renda per capita da sociedade, você diminuiu o salário mínimo, você diminuiu a possibilidade de oferta de emprego e você acha que tudo vai ser resolvido com R$ 1 trilhão para a Previdência, para o sistema financeiro? Vai dar certo onde?
Sabe o que dá certo? Dá certo se fizer como nós fizemos: legalizamos e formalizamos 6 milhões de microempreendedores individuais. Sabe porque a Previdência era superavitária no meu governo? Porque teve 20 milhões de pessoas trabalhando com carteira profissional assinada. Seis milhões de microempreendedores individuais se formalizaram. O Brasil quadruplicou as exportações.
Você está lembrada que eu criei uma coisa chamada primeiro emprego. Foi uma farsa aquilo, uma loucura. Eu achava que fazendo uma lei, criando o primeiro emprego, e dizendo para os empresários que eu ia pagar R$ 200, ia gerar emprego.
Nenhum empresário gera emprego porque eu estou dando R$ 200 para ele. O que vai gerar emprego são os puxadinhos da Caixa Econômica Federal. Fiz financiamento para construir um puxadinho. Surgiram no mesmo ano dez novas fábricas de cimento no Brasil.
Quando você faz a economia, o povo come um pãozinho a mais, toma um cafezinho a mais, uma cervejinha a mais, ganha um real a mais, compra um chinelo a mais.
Aí, você começa a gerar emprego no país. Agora você, do jeito que eles tão fazendo, inclusive brigando com os nossos maiores parceiros comerciais, desprezando a América do Sul… o nosso comércio com a Argentina é maior do que com todos os países da Europa.
Como vai desprezar o nosso comércio com a Argentina o Mercosul?
Esse cara [Bolsonaro] não entende de nada. Também, com o ministro que ele tem das relações exteriores [Ernesto Araújo], aquilo foi encomendado.
Saudades do Silverinha [Azeredo da Silveira, ex-chanceler] nos tempos do [ex-ditador Ernesto] Geisel, que teve coragem de reconhecer Angola. Esse cidadão que está aí [Araújo], sinceramente, como o Celso Amorim [ex-chanceler de Lula] deixou um cara desse na carreira do Itamaraty?
Militares
Como vê o protagonismo dos militares? Quando sair daqui eu quero conversar com os militares. Tenho vontade de perguntar para o chefe da Marinha, da Aeronáutica, do Exército, qual presidente da República que fez mais para eles do que eu fiz.
Quero perguntar para eles qual a razão do ódio que eles têm do PT. Quando eu cheguei na Presidência, em 2003, soldado brasileiro saía [do trabalho] 11 horas porque não tinha dinheiro para almoçar. Recruta não ganhava salário mínimo. Além de pagar salário mínimo, dar almoço para eles, ainda criei o soldado cidadão para dar curso de formação.
Pergunta para o general o que era o batalhão de engenharia do exército brasileiro. As máquinas estavam todas quebradas, não tinha nem caminhão. Pergunta para eles o que eu fiz.
Pergunta para a Aeronáutica como era a situação quando eu cheguei na Presidência. O avião da presidência era chamado de “sucatão”. Você ia viajar para a Europa e quando parava em Cabo Verde, nas Ilhas Canárias, tinham 18 mecânicos dentro do avião para catar parafuso que caía no aeroporto.
Eu quero perguntar para a Aeronáutica como era avião que eu emprestava para levar autoridade em casa. Quando levantava voo em Brasília, pegava fogo no avião. Tinha que descer rapidamente, senão explodia. O Celso Amorim perdeu uma pasta porque ela queimou dentro do avião.
Quando eu comprei o avião novo [para viagens presidenciais], é porque eu me respeito. Eu se pudesse ia de jegue para a Europa. Como eu não podia, tive a coragem de comprar um avião. Hoje eu me arrependo de não ter comprado um Airbus 140. Comprei o menor, devia ter comprado um grandão.
Peguei 15 ou 20 aviões da [empresa aérea] Rio-Sul, que não pagou o BNDES, e dei para a Aeronáutica. Deixei a Aeronáutica com cara de força aérea.
Pergunte para a Marinha. Eu fui visitar o [navio] Barão de Teffé na base brasileira na Antártida. Eu cheguei lá, [concluí que] um país grande não pode ter um navio de pesquisa daquele. Se o cara entrasse com a barriga, a bunda ficava para fora num lugar que tem que fazer pesquisa. Nós autorizamos o almirante a comprar um navio descente.
O governo não dava dinheiro para enriquecer urânio. Pergunta para ele quem garantiu R$ 30 milhões por mês para funcionar Caparaó. Eu não sou contra militar fazer política, não. Quer fazer política? Sai do Exército, vai para a reserva.
Aliás, é importante lembrar que a política no Brasil começou com o Marechal Deodoro da Fonseca. Eles fazem política no Brasil, só não tiveram participação no poder decisivo no governo do Fernando Henrique, no meu e no da Dilma [Rousseff]. No restante [dos governos brasileiros], eles tiveram.
Pode ser que eles não voltem para a caserna. Se você tiver um militar tecnicamente competente e especialista numa coisa, não tem problema que ele vá para o governo. O que não pode é do jeito que tá. Não dá. Não dá. Eu não sei a qualificação das pessoas, que estão lá.
Agora mesmo eu vi no noticiário que o ministro do Meio Ambiente desmanchou não sei o que lá no Instituto Chico Mendes e colocou não sei quantos cabos, soldados, militares. Para cuidar de meio ambiente, você coloca gente especialista. Tem especialista da Polícia Federal, do Ministério Público, coloca técnico, coloca especialista, não tem que militarizar o governo.
Não sou contra eles participarem do governo, não. Mas militar tem que saber que eles têm um papel a cumprir pela Constituição. O militar tem que cuidar dos interesses desse país e da defesa da nossa sociedade contra os inimigos externos. Temos, entre fronteira seca e marítima, quase 22 milhões de quilômetros quadrados, é muita coisa para os militares cuidarem. A burocracia, vamos deixar para o burocrata.
  • Mourão
O senhor tem acompanhado os movimentos do general Mourão? Eu tenho. Eu não posso falar porque eu também não conheço o Mourão. Eu sou agradecido, por exemplo, por um gesto dele na morte do meu neto.
Ele foi um cara que disse que era uma questão humanitária visitar [ir ao velório do] meu neto. Diferentemente do filho do Bolsonaro, que postou uma série de asneiras no Twitter [dizendo que a morte do menino vitimaria o ex-presidente].
Eu estou vendo a briga [entre Mourão e a família de Bolsonaro]. Eu vou acompanhando. Ninguém nunca mais vai ter nesse país uma dupla harmônica como Lula e [o ex-vice-presidente] Zé Alencar. Um sindicalista e um empresário que fizeram esse país ter orgulho. Que fizeram esse país crescer.
Eu duvido que tenha um empresário nesse país tratado com mais respeito, em qualquer governo, do que por mim. Duvido. A diferença é que eu tratava ele bem, mas também tratava os sem-terra, os sem-casa, os moradores de rua bem. Tratava a sociedade brasileira.
Então, eu posso te dizer, esse povo é minha motivação. Quero que vocês saiam daqui e retratem que não conversaram com um cidadão alquebrado. Conversaram com um cidadão que tem todos os defeitos que um ser humano pode ter. Mas tem uma coisa que eu não abro mão, e isso eu aprendi com a dona Lindu [mãe do ex-presidente], que nasceu e morreu analfabeta: dignidade e caráter não têm em shopping, em supermercado e você não aprende na universidade. Vem do berço.
E isso eu tenho, demais. E não abro mão. Esse é meu patrimônio.
  • ”Lula ta preso, babaca”
Como o senhor está vendo o quadro da esquerda brasileira? Imagino que o senhor saiba que o Cid Gomes e o Ciro têm o bordão “o Lula tá preso, babaca”. Isso não é bordão, isso é uma constatação.
Não ficou chateado? Não. Só não precisava chamar os outros de babaca. Mas [dizer que] está preso é apenas constatar. É só ler o jornal e ver que eu estou preso.
Eu acredito que a esquerda brasileira está acumulando um conjunto de pessoas muito importante. Vamos pegar o PT. Apesar de algumas pessoas não gostarem, é um partido muito forte. Aliás eu posso dizer que é o único partido efetivamente organizado em todos os estados brasileiros. Com cabeça, tronco e membros.
Você tem o Ciro Gomes, que é uma figura importante no Brasil. Você tem o Flavio Dino, que é uma figura importante no Brasil. Tem alguns governadores importantes do PT, na Bahia, no Sergipe, no Ceará e no Rio Grande do Norte. Alguns governadores importantes do PSB. Tem uma novidade política no Brasil, que não teve um bom desempenho eleitoral mas é um menino que vai crescer muito, que é o companheiro Boulos.
Do Haddad o senhor não fala. Tem o Haddad. Eu falei do PT, não quis personalizar só nele. É uma figura importante. Embora não tenha saído vitorioso nas eleições, se notabilizou como uma figura muito importante.
Se o Bolsonaro tivesse aceitado apenas ou dois debates, efetivamente ele não tinha sustentação para debater. Ele nunca se importou em aprender. Eu fui obrigado a aprender um pouco de economia por conta da minha atividade sindical. Eu era obrigado a aprender para negociar. Depois, no PT, eu fazia reuniões com 30 dos mais renomados economistas deste país. Eu acho que o Bolsonaro não gosta disso.
Eu digo para o PT: não tem que apresentar proposta. Apresenta o programa do Haddad na campanha, faz um confronto de ideias para a sociedade perceber que é possível um novo Brasil.
Eu provei na prática que é possível construir um novo Brasil. Eu consegui provar, com a bênção de Deus e do povo brasileiro, que o povo não é problema, o povo é solução. Eu consegui provar isso.
Deixa eu dizer uma coisa: eu, pessoalmente, gosto do Ciro Gomes, tenho respeito pelo Ciro Gomes. Ele não causa mal ao PT. Ele causa mal a ele mesmo. O Ciro Gomes precisa aprender uma lição elementar: é preciso aprender a ouvir coisas de que você não gosta. Suportar os contrários. Conviver na diversidade. Ele precisa aprender essa lição mínima.
Quando foi governador do Ceará, ele não precisava disso. Quando foi prefeito de Fortaleza, não precisava disso. Mas, agora, para ser presidente do Brasil, ele precisa. E ninguém será presidente do Brasil se romper com o PT, o PC do B.
Com a direita, não sei se a direita aceitaria ele. Como eu gosto do Ciro, o dia em que ele pedir para me visitar, eu vou aceitar que ele me visite aqui, para ter uma conversa boa com ele. Porque eu gosto dele. Eu gosto do Flavio Dino.
Não sei se a Marina tem um dia propensão de voltar para os setores de esquerda. Porque a Marina acabou, né, coitada. Ter 1% no processo eleitoral depois de ser quase presidenta, foi muito pouco, não sei o que ela vai fazer. Mas penso que a esquerda pode construir um grande projeto para o Brasil e pode voltar ao poder.
Sem o PT na hegemonia? Por que o PT, de vez em quando, aparece como hegemônico? Você acha que um partido que tem 30% de voto vai começar abrindo mão da sua candidatura? Não vai.
Como eu acho que o PT já teve presidente quatro vezes, em algum momento pode escolher um companheiro de outro partido político para ser candidato a presidente, e pode participar do governo, pode ter [candidato a] vice. Acho que tudo é possível.
O que você precisa é não exigir que o PT abra mão de apresentar uma proposta alternativa. Se você tem 10%, eu tenho 30%, no segundo turno sou melhor do que você.
Se você é melhor do que eu, por que você não ganha no primeiro turno? Eu lembro do [ex-governador e presidenciável Leonel] Brizola, em 1989 [nas eleições presidenciais, Brizola apoiou Lula no segundo turno, depois de ter sido derrotado por ele no segundo].
O Brizola é uma pessoa que faz falta no Brasil hoje. O [ex-governador de Pernambuco Miguel] Arraes faz falta. Sabedoria política: não tem mais isso.
E o Fernando Henrique Cardoso? O Fernando Henrique Cardoso não tem jogado um papel que o nome dele deveria merecer. Ele fala muito sobre quase tudo desnecessariamente.
Eu sinceramente acho que ele poderia ter um papel de grandeza para quem já foi presidente da República, para quem já foi chamado de príncipe da sociologia. Ele poderia ter um papel mais respeitoso com ele mesmo, não comigo.
O problema do Fernando Henrique Cardoso é que ele nunca aceitou o meu sucesso. Ele me adorava no fracasso. Quando eu fui eleito, ele falou: bom, o Lulinha só vai durar quatro anos e aí eu vou voltar com pompa e tudo.
Ele me tratava bem. Eu chego a dizer que eu achava que ele queria que eu ganhasse ao invés do [então candidato tucano em 1989, José] Serra. Acho que ele pensava “o Lula vai ganhar, coitado, metalúrgico, não vai conseguir fazer nada, eu vou voltar depois cheio de moral. O Serra se ganhar vai me ferrar, então prefiro o Lula”.
Não deu certo, porque quem deu certo não fui eu, foi a paciência e a competência do povo brasileiro. Que me ajudou, que acreditou. Está lembrando quantas vezes eu dizia que o meu governo ia ser medido por quatro anos?
É igual jabuticaba. Você planta. Se não for enxertado, vai demorar 15 anos para dar. Se for enxertado, vai dar no primeiro ano. Mas tem que dar água, por no sol. O governo é isso. E eu tinha muito medo de não dar certo. Eu dizia: eu não posso dar errado. Eu tinha muito medo do [Lech] Walesa na Polônia. Olhava para o fracasso do Walesa, que na reeleição teve 0,5% dos votos, eu falava “Deus me livre, não quero ser isso.
E graças a Deus o povo brasileiro me fez. Até hoje tenho muito orgulho de ter sido considerado o melhor presidente da história do Brasil. Carrego isso com muito orgulho. Ninguém vai tirar isso do povo brasileiro, e quem quiser ganhar de mim, que faça mais [do que eu], não é me xingar.
Mas ganharam agora do senhor. De mim, não. Eu não concorri. Se eu tivesse concorrido, certamente ganharia as eleições. A Folha de S.Paulo escreveu que eu só vou ser candidato [a presidente] em 2039. Eu sou um homem de muita crença. Eu vejo cientista falar que o homem que vai viver 120 anos já nasceu. E por que não ser eu?
A Igreja Católica ensinou que com 75 anos [a pessoa] se aposenta que é melhor. Eu acho que vai surgir muita gente boa nesse país e eu me contentarei em apoiar qualquer pessoa daqui para frente para ser candidato a presidente.
Agora, estou vendo nos Estados Unidos um monte de gente com 78, 79 anos, querendo ser candidato, e isso começa a me ouriçar, começa a me dar um chamuscão aqui no pé, uma coceira. Quem sabe eu ainda possa voltar? Com uma bengalinha na mão. Como é que fala a música do velhinho? “Bota o velhinho na parede, o velhinho tá de volta”. Quem sabe. Mas, se depender de mim, eu vou trabalhar para ter alguém mais novo, alguém com mais energia.
  • Delação de Palocci
O seu ex-ministro Antonio Palocci virou agora delator. Ele disse inclusive que havia uma conta no exterior no nome do [empresário] Joesley [Batista, da JBS], onde era depositado dinheiro para o PT. Ele disse também que as duas campanhas na Dilma para Presidência custaram R$ 1,4 bilhão de reais. Mas que não foi declarado à Justiça Eleitoral.
Por que o senhor acha que o seu ex-ministro estaria mentindo? Primeiro, se ele disse que o Joesley tem uma conta no exterior, eu acho que o Joesley deve ter conta no exterior, em vários países, porque ele tem fábrica em vários países, não vejo nenhuma novidade.
Lembro de um tempo que saiu na imprensa, que o Joesley tinha aberto uma conta para mim no exterior, que era para o meu futuro. Depois ele disse que utilizou a conta para comprar a ilha que era do [apresentador Luciano] Huck lá em Angra dos Reis para dar de presente para a mulher dele, comprou um barco não sei pra quem.
Então, o dinheiro que ele disse que era meu, ele gastou. Quando eu sair daqui vou abrir um processo contra ele, para devolver o que era meu, segundo ele diz.
Eu era um cara que tinha profundo respeito pelo Palocci. Palocci era uma pessoa que, se não tivesse feito bobagem, poderia ter crescido na política brasileira. Eu comecei a perder a confiança no Palocci com aquela história do caseiro no meu primeiro mandato. Vocês estão lembrados que o Palocci saiu do governo em março de 2006. Eu vinha para o Paraná, tinha uma atividade aqui, e tinha lido na imprensa [sobre o escândalo em que o caseiro Francenildo dizia que Palocci participava de festas com mulheres numa mansão em Brasília].
Liguei para o Palocci. Falei “estou indo ao Paraná, eu vou voltar 3 horas da tarde. Se você não tiver resolvido o problema do caseiro, você não está mais no governo”. Ainda falei pra ele: Palocci, não é possível um ministro da Fazenda não ganhar de um caseiro. Ou você explica a história do caseiro, ou cai fora. Quando eu voltei, liguei pra ele, não tinha explicação.
Eu comecei a achar que o Palocci não dizia a verdade porque nunca teve coragem de me dizer se ele ia ou não ia na casa. Se ele mentisse para a Polícia Federal, para o PMDB, para o Senado, era um problema dele. Mas para mim, que era o presidente dele, ele nunca disse –aliás, ele disse que não sabia de nada. E entre o Palocci que não ia na casa, e o caseiro que dizia que ele foi, eu acredito no caseiro.
Mas depois ele foi coordenador da campanha da Dilma. Aí é outra história. Estou dizendo que ele saiu porque não respondeu pra mim a questão do caseiro. Foi depois eleito deputado federal, e três pessoas foram colocadas na campanha da Dilma: ele, José Eduardo Cardozo, e José Eduardo Dutra. Presidente do PT, secretário-geral do PT e o Palocci, que era remanescente da minha vitória e deputado federal que não ia concorrer mais. Ele foi coordenador da campanha junto com o Zé Eduardo Cardozo, Dutra e João Santana. Certamente a Dilma admirava o trabalho dos três porque fizeram ela ganhar as eleições.
Desde os anos 1970 você que tem no Brasil uma disputa entre o cara que foi preso e denunciou o companheiro que era traidor. Quem não denunciou é o herói. Eu nunca tratei assim. Eu acho que o ser humano tem um limite do suportável do ponto de vista psicológico, da dor que ele recebe.
Eu tenho pena do Palocci porque um homem da qualidade política dele não tinha o direito de joga a vida fora como ele jogou. Tenho um profundo respeito pela mãe do Palocci, que é fundadora do PT, que carrega barro até hoje pelo PT lá em Ribeirão Preto. Mas lamentavelmente eu tenho pena do Palocci. Ele não merecia fazer com ele o que ele está fazendo.
O Brasil passa por uma crise econômica. O que o senhor faria de diferente? Não tem mágica: 50% dos problemas econômicos de um país são resolvidos quando quem está governando tem credibilidade interna e externa. As pessoas que levantam de manhã para trabalhar ou que estão lá fora pensando em fazer qualquer coisa no Brasil têm que saber se quem está falando por aquele país tem seriedade, tem credibilidade.
Se essa pessoa tiver credibilidade e seriedade, as pessoas passam a acreditar. Quando tomei posse em 2003, gastei parte da gordura política que eu tinha para fazer coisas que o PT não queria que eu fizesse. Eu aumentei o superávit primário para 3,45. Isso na esquerda do PT era para me matar.
Em três anos resolvemos a casa, colocamos em ordem. Zombaram muito de mim quando eu disse [que viveríamos] o espetáculo do crescimento. Em 2004, a economia cresceu 5,8%. Eu disse isso num comício dentro da Ford. E depois, a economia começou a andar. Mais devagar, mas ela foi andando. Eu tive muito apoio lá fora também.
Quando eu deixei o governo, a gente estava produzindo 4 milhões de automóveis. Era muita coisa que tava acontecendo nesse país.
Você quer ver uma coisa que acho que foi um erro do governo da Dilma e que eu não faria? Em 2009, quando veio a crise [internacional], eu criei uma política de desoneração, de R$ 4 e de R$ 7 milhões entre 2009 e 2010. E desoneração para mim sempre funcionava como se fosse uma comporta: eu abro quando eu quero produzir mais energia, e depois fecho.
De 2011 e 2014, entre desoneração e isenção fiscal eles [equipe da Dilma] fizeram [desonerações de] R$ 540 bilhões. Aí a Dilma percebeu que não dava mais para desonerar, porque você mandava para o Congresso [proposta] para desonerar fábrica de maçã e o [então presidente da Câmara dos Deputados] Eduardo Cunha colocava maçã, pera, melancia, abóbora, vinha 500 coisas de volta.
A Dilma tentou consertar e mandou para o Congresso uma medida provisória acabando com a desoneração. O Renan Calheiros [então presidente do Senado] mandou de volta, não aceitou a medida provisória. Nós exageramos na desoneração.
  • Eleição de Dilma
O senhor sempre fala que tem muito orgulho de ter saído do governo com 85% de aprovação. O senhor tem vergonha de ter eleito uma presidente que foi uma das mais mal avaliadas da história, perdendo apenas para Michel Temer? [Batendo no coração]: Orgulho, tenho muito orgulho da Dilma.
Mas o povo brasileiro parece que não tinha. Nem todo filho consegue ter o sucesso que você teve. O Pelé não teve nenhum jogador como ele, nem o filho dele.
É importante lembrar que em 2013 a Dilma tinha quase de 75% de preferência eleitoral. Depois do que aconteceu a partir de 2013 [com as manifestações de rua], eu acho que nem a imprensa avaliou direito, nem a esquerda, nem os cientistas políticos.
O que foi a primavera árabe? Aquela loucura. Eu fiquei muito feliz quando derrubaram o [Hosni] Mubarak [no Egito]. E quem está governando? Uma junta militar. E não tem mais manifestação na rua.
Invadiram a Líbia. Fazer o que fizeram com o [Muammar] Gaddafi [morto em 2011]. Eu achava ele muito parecido com o Cauby Peixoto. Ele tinha feito um implante de cabelo, utilizava muita base no rosto, aquelas panos de seda branco, tudo cheio de base. E ele não causava mal a ninguém. Aquela loucura de matar aquele cara, o que criaram na Líbia? Criaram uma guerrilha de verdade.
O Iraque, eu conversei muito com o Bush, “não tem armas químicas no Iraque”. Ele fez [invadiu o Iraque] porque ele precisava se reeleger. Eu sinceramente acho que o mundo está precisando de lideranças e nós não temos lideranças mundiais. Nós precisamos tentar, no campo da política, dizer o seguinte: quem vai resolver o problema do mundo é uma classe política séria, com partidos sérios, organizados seriamente, para poder consertar o país.
Não tem o gênio, não tem o gênio da universidade que vá dizer que vai governar. Se fosse fácil assim, você não teria problema em nenhum país. [A universidade de] Harvard teria presidente em todo o mundo.”

A “turba ensandecida” e o fascismo ameaçador - Erick Silva (Instituto Liberal)

O mais preocupante, por vezes, não é tanto o lado patológico de certas personalidades autoritárias (pois isso é esperado nesse tipo de movimento salvacionista), é constatar o número impressionante de seguidores fanáticos do movimento, a tal “turba ensandecida” a que se refere o autor deste artigo, do Instituto Liberal. Esses seguidores pertencem ao mesmo estoque de “simples cidadãos” que se revelam capazes de apoiar os piores crimes contra as liberdades e os direitos humanos perpetrados no âmbito desse tipo de movimento.
Paulo Roberto de Almeida
S. Paulo, 27/04/2019

Quando se aplaudem atos autoritários, a próxima vítima pode ser você

Os eventos que se sucederam nos últimos dias ficarão marcados como um dos momentos mais asquerosos e perversos da história política brasileira. Carlos Bolsonaro, vereador da cidade do Rio de Janeiro e filho do presidente Jair Bolsonaro, utilizou-se das redes sociais e do uso da militância bolsonarista para desferir ataques pesados ao vice-presidente Hamilton Mourão, acusando-o de trair e conspirar contra o presidente. E o que se viu na sequência foram cenas extremamente lamentáveis.
A política brasileira já presenciou diversas cenas chocantes e surreais, como atentados políticos, tentativas de golpe de Estado e até mesmo um assassinato no plenário do senado. Mas nunca antes na história brasileira um vice-presidente, no exercício do mandato, sofrera ataques tão violentos e impiedosos vindos de pessoas que, teoricamente, deveriam ser seus aliados. Nem mesmo nos anos 1950 e 1960, em que os vices eram escolhidos separadamente, podendo ser eleitos junto com o presidente de oposição (vide Jânio-Jango em 1961), havia acontecido algo do tipo.
Mas o pior de tudo não são os ataques de Carlos a Mourão: o pior é o apoio que as redes sociais deram ao vereador, endossando e incentivando novos ataques. No dia 24/04/2019, a #CalaBocaMourão alcançou os trending topics do Twitter. Influenciadores de grande alcance abastecem a artilharia de ataques colocando mais munição, alimentando ainda mais a escalada autoritária.
Esse tipo de ataque escancara o quão autoritário e perigoso é o movimento bolsonarista. O padrão dos ataques desenha-se mais uma vez: quando uma pessoa, ou instituição, age de maneira independente, sem se curvar à tropa, a militância ataca ferozmente a pessoa com o intuito de silenciá-la. Isso já aconteceu com jornalistas, com influenciadores digitais, ou até mesmo com cidadãos comuns que ousaram fazer qualquer tipo de crítica. O próprio título da hashtag (“Cala a boca Mourão”) já demonstra os objetivos da militância em relação ao general: querem que ele seja cordato, subserviente a todo e qualquer ato que Jair Bolsonaro fizer.
Para a militância bolsonarista, as pessoas não podem ter pensamentos diversos, não podem cometer a ousadia de discordar. Para os radicais bolsonaristas, as pessoas devem se submeter ao pensamento de Jair e de seus asseclas. Podem reparar: todos nós conhecemos algum amigo ou conhecido nosso que foi vítima de ataques de uma turba ensandecida pelo fato de você ter feito críticas ao Bolsonaro. Talvez você, que lê esse artigo, possa ter sido vítima deles. O bolsonarismo, assim como todo movimento de massa com cunho messiânico, não permite o direito de crítica. Ou você abaixa a cabeça para os desmandos deles ou sofrerá as consequências.
E é exatamente isso que está em jogo na batalha entre Carlos-Mourão: o direito de nos expressarmos. Esclareço aqui que eu não compactuo com uma parcela da visão política de Mourão. Diferente do general, sou favorável à privatização dos Correios, sou contra a legalização do aborto e acredito que jogos violentos não tornam as pessoas violentas. Caso estivesse em uma eleição e ele fosse candidato, eu não votaria nele. Todavia, sinto-me no dever de defendê-lo desses ataques, pois o que aconteceu com ele pode acontecer com qualquer um de nós. Imagina viver em um país em que os cidadãos tenham medo de criticar seus governantes? No Brasil isso já acontece, as pessoas estão com medo de fazer qualquer tipo de comentário e sofrerem pesadas represálias por isso. Um dos sintomas para o fim da liberdade de expressão em uma sociedade surge quando o cidadão tem medo de dizer o que pensa do próprio governo.
O que me deixa temeroso com o futuro do país é o fato de a própria população aplaudir esses arroubos autoritários. Pessoas que condenaram os abusos do STF, mas hoje querem que uma pessoa (antes de ser vice-presidente, Hamilton Mourão é um ser humano) se cale por dar opiniões que não corroborem com as pautas defendidas pela militância. Esse tipo de autoritarismo barato nunca termina bem, a história comprova isso.
Deixo um aviso para aqueles que concordem em silenciar pensamentos dissonantes: hoje, você aplaude o monstro do autoritarismo. Amanhã, você corre o risco de ser devorado por ele.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Luis Nassif critica a derradeira coluna de Matias Spektor na FSP

Matias Spektor, o messianismo tuiteiro e a reinvenção da diplomacia

A unidade de medida do Spektor não são os ganhos comerciais ou diplomáticos para o país, mas os trunfos do presidente perante seus aliados internos.

Luis Nassif

Foi curiosa a despedida do colunista Matias Spektor de sua coluna na Folha. Primeiro, ele se atribuiu o fato de, graças a ele, a diplomacia ter se tornado um tema corriqueiro.
“Quando este jornal me convidou para escrever, há sete anos, a ideia era inusitada. Nenhum grande veículo tinha um colunista dedicado à política externa brasileira. Para minha sorte, muitos leitores fizeram da agenda internacional a sua pauta. 
Esses anos assistiram à expansão do debate público sobre temas internacionais. Hoje, dezenas de profissionais expressam opiniões sobre o assunto no Twitter e no Facebook. 
Isso é muito positivo. A velha redoma que limitava a conversa a um punhado de embaixadores aposentados se estraçalhou, aumentando a diversidade e a densidade do debate”. 
A diplomacia sempre teve uma boa cobertura, graças a fontes especiais, velhos embaixadores aposentados, mas com visão de Brasil e de mundo, como Jorio Dauster, Paulo Nogueira Batista, Rubens Ricúpero, Celso Amorim, especialistas em direito econômico internacional, como Vera Thorsten e, principalmente, o corpo diplomático permanente do Itamarati. 
Mas, enfim, Spektor se declara o especialista que levou a diplomacia para as redes sociais. Ótimo! Ótimo? Não.
“Acontece que essa transformação também trouxe coisas negativas. Nas redes sociais, a competição por “likes” premiou argumentos de apelo fácil, muitas vezes inverídicos ou incapazes de resistir ao mínimo escrutínio. O debate ficou menos qualificado”.
Oh, que surpresa! Spektor popularizou a discussão sobre política externa e constatou que a popularização banalizou a discussão, episódio no qual, obviamente, a culpa não é do meio: as analises de Spektor sobre a ida de Bolsonaro aos Estados Unidos e as reações suscitadas, que o levaram a se desencantar com o mundo maravilhoso das redes sociais..
Velhos diplomatas aposentados em on, diplomatas na ativa em off, colunistas, analistas consideraram um fracasso retumbante, um exemplo acabado da antidiplomacia. Bolsonaro se comportou de maneira subserviente, prometeu coisas sem exigir nenhuma contrapartida, veio com promessas vagas em cima de temas supérfluos.
Qual a leitura que o bravo Spektor fez da viagem, através do Twitter, o meio de comunicação preferido de Bolsonaro e seus ministros?.
Primeiro, por ser um analista sofisticado, ele define os parâmetros inovadores de analise;
Como saber se a visita do Bolsonaro a Washington foi exitosa ou fracassada? É fundamental achar algum critério objetivo porque, caso contrário, o debate público degringola: quem gosta do governo sempre vê vitória, quem desgosta sempre vê derrota.
Eu tento ganhar objetividade usando duas técnicas. Primeiro, descobrir quais benefícios o governante de plantão obteve no exterior para alimentar os grupos que, em seu país de origem, o sustentam no poder.
Segundo, comparar a visita em questão a outras visitas similares, avaliando qual permitiu ao governante acumular mais recursos para agradar ou consolidar a sua base em casa.
Critério fantástico! Melhor que isso, só o Twitter de José Roberto Guzzo garantindo que a visita do primeiro-ministro de Israel ao Brasil foi o feito diplomático mais relevante dos últimos 40 anos.
O critério dos velhos embaixadores aposentados, para analisar resultados de visitas presidenciais, costumava ser os ganhos que o país teria com negociações. A unidade de medida do Spektor não são os ganhos comerciais ou diplomáticos para o país, mas os trunfos do presidente perante seus aliados internos. Os velhos diplomatas aposentados jamais pensaram em metodologia tão criativa.
Definido o critério, Spektor enumera as vitórias de Bolsonaro:
Bolsonaro trouxe de Washington trunfos para os militares, o agronegócio e o mercado. Conseguiu porque, hoje, o Brasil importa para os EUA mais do que de costume, devido à crise na Venezuela. E pq Bolsonaro afaga o ego de Trump.
Por tudo o que foi divulgado, Bolsonaro abriu a possibilidade do Brasil importar carne e trigo dos Estados Unidos com isenção tarifária, sem nenhuma contrapartida. Ou seja, os trunfos são para o agronegócio americano, não para o brasileiro. Não conseguiu uma medida sequer que beneficiasse as exportações brasileiras.
Nada trouxe de objetivo para o país. Mas, segundo o douto Spektor:
“Em troca, os americanos demandaram alinhamento na Venezuela e abertura da economia. Bolsonaro entregou pq foi isso que ele prometeu na campanha que lhe rendeu quase 58 milhões de votos”.
A nova diplomacia, enaltecida por Spektor, é isso. 
Finalmente, a comparação com outros presidentes, para comprovar a extraordinária vitória diplomática de Bolsonaro:
“Que dizer da comparação com outras visitas inaugurais? Com Alcântara, o status de aliado extra-OTAN e o gesto de Trump sobre OCDE, Bolsonaro trouxe para sua base mais do que Sarney tirou de Reagan, Collor de Bush pai, FHC de Clinton, Lula de Bush filho e Dilma de Obama”.
Daí, esses chatos do Twitter resolveram tirar com a cara do mestre.
O debatedor que atende pelo nome de “cheio de perna” ousou enxergar o rei nu:
“A única coisa de concreto q Bolsonaro trouxe p o Brasil foi um acordo de SALVAGUARDAS com os EUA sobre o uso da Base de Alcântara que não implica em nenhum negócio concreto! O resto foi promessas vazias de Trump”.
E o tuiteiro Haroldo Júnior foi de uma objetividade cortante:
“Ruim retórica a q se sustenta em tantos argumentos”
Daí se entende a decepção  de Spektor comm o Twitter, na qual os participantes querem apenas ganhar likes.
Para comprovar que também gosta de likes, Spektor encerra sua coluna na Folha ligando o modo auto-exaltação: ele se propõe, nada mais, nada menos, a reconstruir a política externa brasileira pós-Bolsonaro.
O título do artigo já seria merecedor de todos os likes: “É hora de construir a política externa pós-Bolsonaro”.
E quem iria reconstruir? Os velhos diplomatas aposentados é que não. A saída para a diplomacia brasileira está, obviamente, em Mathias Spektor.
Primeiro, ele mostra que a banalização do debate diplomático ocorreu “ao mesmo tempo em que colapsa o que havia de consenso na política externa da Nova República. Quem termina ocupando o espaço é a turma que hoje comanda a agenda internacional do governo Bolsonaro”, aquela mesmo que conseguiu a mais expressiva vitória em uma visita presidencial aos Estados Unidos, segundo o próprio Spektor. Mas o objeto da vitória, o aval de Trump? Aparentemente as loas de Spektor à estrondosa vitória da nova diplomacia brasileira não sensibilizaram Jair, Ernesto ou Eduardo, deixando o pobre Spektor imerso em enorme melancolia:
“Eu admito a minha parcela de culpa: como tantos outros acadêmicos, não percebi que um dos efeitos da vitória de Donald Trump seria o nascimento do antiglobalismo messiânico à brasileira. 
Fantástico! A viagem de Bolsonaro foi a maior explicitação desse messianismo. Mas não consta que, àquela altura do campeonato, houvesse um só acadêmico racional que já não identificasse esse fenômeno. E porque Ernesto fez ouvidos moucos aos twitters-exaltação de Spektor, 
O resultado é nefasto porque a direita populista que hoje dá as cartas é perigosa. Não se trata de um bando tresloucado: em suas decisões, há método e projeto. A direção do que vem por aí é péssima para o país”.
Segundo ele, esgotou-se o modelo diplomático proposto por FHC e aquele proposto pelo PT. Restará, daqui para frente, o novo modelo que está sendo criado por… Matias Spektor, é claro.
Como sociedade, podemos e devemos fazer melhor. Deixo a coluna para pôr em prática aquilo que defendi durante todo esse tempo: um esforço coletivo para conceber uma política externa nova, capaz de ajudar a sociedade brasileira a sair do buraco em que se encontra.
Obrigado, leitor, por me acompanhar nesta jornada.
Ou seja, o messianismo de Olavo de Carvalho tornou-se um modelo de atuação pública para os intelectuais de rede social.

Magia (instituto Rio Branco) - Edgard Telles Ribeiro

Uma crônica extremamente elegante, sensível, até poética, do grande escritor Edgard Telles Ribeiro, sobre uma simples aula, que não foi magna ou mínima, mas que foi magnífica, no Instituto Rio Branco, nos tempos mais sombrios, e por vezes medíocres, da ditadura militar, quando um outro grande escritor, Guimarães Rosa, soube encantar jovens estudantes com sua magia em torno das fronteiras e das palavras. Nenhum tempo é tão sombrio que não permita leveza de espírito e elevação espiritual a propósito da verdadeira cultura a que aspiramos todos nós, mesmo nos tempos mais medíocres e ranzinzas.
Paulo Roberto de Almeida 
São Paulo, 26/04/2019



*Edgard Telles Ribeiro: Magia*
Folha de S. Paulo, 25/04/2019

Em passado recente, jovens colegas de Itamaraty foram submetidos, no Instituto Rio Branco —responsável pela formação de nossos futuros diplomatas—, a uma aula magna, cortesia do chanceler Ernesto Araújo.

Entre 1967 e 1968, em plena ditadura militar (às vésperas, portanto, da entrada em cena do AI-5), eu próprio fui aluno do instituto. Na época, recordo-me bem, fomos submetidos, minha turma e eu, a inúmeras doutrinações do gênero pelas autoridades de plantão, cujas mensagens também vinham embaladas em concepções afinadas às prioridades geopolíticas ou morais da época.

A diferença entre hoje e ontem, porém, é que, além das inevitáveis catilinárias oriundas de fontes conservadoras, também tivemos acesso, no próprio instituto, a figuras luminares de alguns humanistas, sejam como professores (Mário Henrique Simonsen, Bertha Becker, Marcílio Marques Moreira), sejam como conferencistas (José Luiz Werneck da Silva, Clara Alvim, Manoel Maurício de Albuquerque).

Graças à presença dessas personalidades, mantínhamos viva a esperança de que os cenários adversos com que nos confrontávamos cederiam espaço a dias melhores.

De todos esses personagens —cada qual dotado de uma visão estimulante e rica sobre nosso país—, o que mais me marcou, em uma luminosa tarde da qual jamais me esquecerei, foi João Guimarães Rosa. Suas palavras elevaram o patamar da grandeza a que, por vezes, tínhamos acesso no instituto. A força de sua magia relegou para longe o lodo que também nos era servido de forma mais rotineira.

Ao longo de sua fala, Guimarães Rosa discorreu sobre fronteiras, tema ao qual se dedicara com afinco em boa parte da carreira. E, ao final, respondeu a algumas perguntas sobre literatura. O tom de voz com que se expressava, a delicadeza com que injetava poesia em um tópico aparentemente árido, ou a modéstia com que se referia a seus textos literários —como se não pesassem tanto assim na ordem das coisas—, vieram-me à mente quando tomei conhecimento da aula magna de Ernesto Araújo.

Inevitavelmente, lembrei-me também do panteão dos grandes nomes que souberam dignificar o legado do Barão do Rio Branco e dos vários chanceleres que honraram o cargo em circunstâncias muitas vezes difíceis.

Mas pensei, especialmente, nas inúmeras gerações de profissionais que projetaram por gerações a fio, com dignidade e sem descanso, nossos valores no exterior. De lá colhendo ensinamentos que se revelariam valiosos nos mais diversos campos de nossa luta pelo desenvolvimento. A massa crítica que compõe uma carreira, em suma. Simbolizada aqui pelos jovens colegas que agora se juntam aos quadros do Ministério das Relações Exteriores. Porque a política externa não é feita apenas de sorrisos e afagos (e concessões arbitrárias). Interesses estão sempre em jogo —e é preciso saber lutar por eles.

E é pensando nesses jovens que evoco Guimarães Rosa. Porque foi a aula de nosso escritor maior, cujos pormenores hoje se perdem no tempo em comparação à emoção vivida naquele dia, que me permitiu ver, como por milagre, a força da luz que apesar de tudo brilhava por entre as trevas naqueles anos.

E é o que me leva a escrever estas linhas dedicadas, no fundo, a todos os estudantes brasileiros. Com o maior afeto. Sem as palavras de ódio que predominam hoje entre nós por razões que, de há muito, escapam o controle. Para reiterar, como tantos o fizeram antes de mim ao longo da história, que nosso país é maior do que os homens que o governam ocasionalmente, maior do que a falta de visão de que por vezes dão provas. Maior do que suas certezas mesquinhas, seus preconceitos perigosos ou suas melancólicas e estranhas obsessões.

E, por fim, para rogar que façam o que boa parte da minha geração fez por 20 anos: não abram mão de suas convicções. Não permitam que as certezas alheias, por sedutoras ou originais que pareçam, criem um nicho em sua imaginação. Pois, sem ela, não há magia.

E, sem magia, não há vida.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Catálogos do Arquivo Histórico do Itamaraty no Rio de Janeiro - Frederico Ferreira, Rogerio Farias

Prezados, 

O Arquivo Histórico do Itamaraty no Rio de Janeiro tem desempenhado, nos últimos anos, uma intensa atividade de confecção e revisão de seus catálogos. Esse esforço tem sido conduzido pelo nosso colega Frederico Ferreira, chefe do arquivo. Essa área agora está sob a direção do historiador e diplomata (ministro) Guilherme Conduru. Com o apoio do CHDD (embaixador Gelson Fonseca), esse material está finalmente na Internet. 

Gostaria de chamar a atenção da nossa pequena comunidade para o "lançamento do ano": "O índice de dossiês temáticos" referente ao período de 1890 a 1940. 

Os maços temáticos são, na minha opinião, uma das melhores coleções do acervo do Itamaraty. Infelizmente, tanto no Rio de Janeiro como em Brasília, não são muito utilizados pelos pesquisadores. Minha suspeita para essa reduzida atenção recai sobre a catalogação. No Rio, antes, era necessário primeiro examinar um pesado e complexo índice e, depois, ter acesso a pequenas fichas que identificavam a existência e a localização do maço; em Brasília, ainda está em processo de transposição o catálogo dos livros de registro para o Excel.

Não se desesperem caso não encontrem maços de interesse. No arquivo de antecedentes daqui de Brasília já encontrei documentos do período Rio Branco. O corte de 1940, portanto, não é uma regra geral. Muitos assuntos, inclusive, tem maços no Rio de Janeiro e em Brasília. A viagem do presidente eleito Júlio Prestes (430.42.00), por exemplo, tem documentos em maços temáticos nas duas cidades. Sem contar, obviamente, os maços temáticos confidenciais, sob a guarda da Seção de Correspondência Especial de Brasília -- um tesouro.

Por favor, circulem os links.



Um abraço,
-- 
Rogério de Souza Farias
Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais / Fundação Alexandre de Gusmão

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Brasil tem indicadores de água e esgoto piores que os de 105 países

Brasil tem indicadores de água e esgoto piores que os de 105 países

Oitava economia do mundo, o Brasil está atrás de 105 países em relação aos indicadores de acesso a água e esgoto. Segundo o Panorama da Participação Privada no Saneamento 2019, com base em dados internacionais, o desempenho brasileiro é pior que o verificado nos países vizinhos, como Chile, México e Peru. A Bolívia chega a ter índice de atendimento de água maior que o do Brasil. 
Para mudar essa situação, o País precisaria investir cerca de R$ 20 bilhões por ano – montante que nunca foi alcançado. Em 2016, por exemplo, foram investidos R$ 11,33 bilhões em saneamento, ou seja, 0,18% do PIB nacional. Em 2017 esse montante caiu para R$ 10,05 bilhões. A questão é que, além de não alcançar a universalização, os serviços prestados também não são adequados. Para se ter ideia, a perda de água no País representa cerca de R$ 10 bilhões por ano – ou seja, todo o volume investido no setor. 
Importante indicador de desenvolvimento de um país, o saneamento básico também tem reflexos na saúde da população. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), compilados no Panorama 2019 da iniciativa privada, mostram que 1.933 municípios (34,7% do total) registraram ocorrência de epidemias ou endemias provocadas pela falta de saneamento básico em 2017. 
Dengue. A doença mais citada pelas prefeituras foi a dengue. No período, 1.501 municípios (26,9% do total) registraram ocorrência da doença – transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypti, que se reproduz em água parada. Outras doenças com grande incidência, provocadas pela falta de saneamento, foram a disenteria (23,1%) e verminoses (17,2%) – que têm efeito negativo na economia, seja por causa dos gastos com internação ou pelos afastamentos do trabalho. 
Segundo o Panorama, considerando o avanço gradativo do saneamento, em 20 anos (2016 a 2036), o valor da economia com gastos com a saúde – seja pelos afastamentos do trabalho ou pelas despesas com internação no Sistema Único de Saúde (SUS) – alcançaria R$ 5,9 bilhões no País.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Antologia do Humor Português: não é piada de português...

Vejam o tamanho do livro: e se trata de humor potuguês, não de piadas de portugueses... Neste caso, mais volumes seriam necessários...

ANTOLOGIA DO HUMOR PORTUGUÊS

ANTOLOGIA DO HUMOR PORTUGUÊS.
Selecção e notas: Vergílio Martinho, Ernesto Sampaio. Prefácio, Ernesto Sampaio. Edições Afrodite. Fernando Ribeiro de Melo. Lisboa. 1969. 14,5x21 cm. XXV-III-1004-III págs. B.
"A Antologia do Humor Português contém sessenta e dois autores. Inicia-se com Cantigas d'Escarnho e Mal Dizer e termina nos nossos dias. Incluí textos, entre outros de  Gil Vicente, Mendes Pinto, D. Francisco Manuel de Melo, Bernardes, Vieira, António José da Silva, Tolentino, Macedo, Bocage, Garrett, Camilo, Ramalho, Eça, Gomes Leal, Cesário Verde, Fialho, Teixeira-Gomes, Feijó, Sá-Carneiro, Pessoa, Almada, Miguéis, Branquinho da Fonseca, Manuel de Lima, Natália Correia, O'Neill, Cesariny, António Maria Lisboa (...)”. — retirado do texto da badana.
Edição curiosa, com muitos e originalíssimos desenhos de Carlos Ferreiro, Eduardo Batarda, João Machado e José Rodrigues. Uma das criteriosas edições Afrodite de Fernando Ribeiro de Melo.

terça-feira, 23 de abril de 2019

Palestra: A destruição da política externa brasileira, por Rubens Ricupero

Assista à palestra: 

A destruição da política externa brasileira

por Rubens Ricupero


Neste link do YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=O6IsaYiCfE0

Sumário da palestra neste link: 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/04/um-alerta-sobre-os-rumos-da-politica.html

Palestra do embaixadoRubens Ricupero no CEBRI-Casa das Garças em 25 de fevereiro de 2019 neste link:
  http://midias.cebri.org/arquivo/BN28.pdf

CEBRI (RJ): extremamente ativo e bombando

Uma intensa programação cumprida e a cumprir


Neste período (primeiro trimestre de 2019), o CEBRI reuniu 750 pessoas em 15 eventos, dos quais participaram 22 palestrantes, que resultaram na publicação de seis Breaking News. Ainda nesse trimestre, lançamos duas edições do CEBRI Dossiê. Todas as publicações estão disponíveis na lista abaixo e no site do CEBRI: http://www.cebri.org/publicacoes/.
Na imprensa, tivemos cerca de 300 inserções, incluindo veículos importantes nacionais e internacionais como Bloomberg, Deutsche Welle, Valor Econômico, Estadão, Folha de São Paulo, Exame, Correio Braziliense e GloboNews. Clique aqui para acessar o relatório com as principais matérias veiculadas nesse período.
O CEBRI conectou, nestes meses, mais de 20 think tanks e instituições do Brasil e do exterior para visitas institucionais e participações em eventos, além de elaboração de projetos e iniciativas conjuntas. Entre estas entidades, estão Atlantic Council, Banco Mundial, BID, Brookings Institution, Columbia University, German Marshall Fund, Inter-American Dialogue e ONU Meio Ambiente. Destacamos que, em março, o CEBRI recebeu em sua sede Gerhard Wahlers, Diretor da Cooperação Internacional da Fundação Konrad Adenauer, nosso parceiro há 20 anos no Brasil.
Ao fim destes primeiros meses do ano, os núcleos temáticos do CEBRI passam a contar com a colaboração de sete novos senior fellows: André Soares, conselheiro da diretoria do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); Benoni Belli, diretor do Departamento de Estados Unidos da América do Ministério das Relações Exteriores; Daniela Lerda, coordenadora da Aliança pelo Clima e Uso da Terra da Fundação Ford no Brasil; Ilona Szabó, especialista em segurança pública e políticas de drogas e cofundadora e diretora-executiva do Instituto Igarapé; Larissa Wachholz, especialista em mercado chinês e sócia da Vallya; Monica Herz, professora associada e vice-decana do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio; e Patricia Campos Mello, repórter especial e colunista da Folha de S.Paulo e comentarista das TVs Band e BandNews.
Os Conselheiros e equipe do CEBRI realizaram, nestes meses, reuniões com membros do novo governo, como o Chanceler Ernesto Araújo, o Ministro da Economia Paulo Guedes, a Ministra da Agricultura Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, o Presidente do BNDES Joaquim Levy, além do Secretário-Geral do Itamaraty Otávio Brandelli.
Por fim, temos a satisfação de dar as boas-vindas às empresas Lazard e Michelin, que se associaram ao CEBRI neste primeiro trimestre de 2019.
Agradeço o apoio fundamental de todos vocês na implementação da agenda de trabalho do CEBRI, que segue em expansão neste início de ano. Será um prazer receber suas sugestões e comentários sobre o trabalho realizado neste primeiro trimestre.
Abraços, 
Julia Dias Leite
Links para as publicações:
Breaking News #24 "Mulheres, Tecnologia e Segurança". Leia aqui.
Breaking News #25 “A China precisa mudar?”, Embaixador Marcos Caramuru. Leia aqui.
Breaking News #26, “Os limites do céu nas relações Brasil-Estados Unidos”, Paulo Sotero. Leia aqui.
Breaking News #27 “O agronegócio brasileiro no mundo”, Marcos Jank. Leia aqui.
Breaking News #28 “Política externa: desafios e contradições”, Embaixador Rubens Ricupero. Leia aqui.
Breaking News #29 “A crise na Venezuela”. Leia aqui.

Relatório da Mesa-Redonda "The role of cities in the energy transition". Leia aqui

CEBRI Dossiê 3. Leia aqui 
CEBRI Dossiê 4. Leia aqui


O CEBRI, em parceria com a Catavento Consultoria, tem a satisfação de convidá-los para o seminário "Brazil and China: fomenting a long-term partnership in the infrastructure sector – Opportunities in the Southeast region".

O evento ocorrerá no dia 6 de maio, segunda-feira, das 15:00 às 18:00, na sede do CEBRI (Rua Marquês de São Vicente, 336 – Gávea, Rio de Janeiro).

Esperando contar com a sua presença, pedimos a gentileza de confirmar a sua participação, pelo e-mail eventos@cebri.org.br ou pelo telefone (21) 2206-4402 (Danielle Batista).

Atenciosamente,

A batalha ridícula do momento: o Rasputin de subúrbio conta os militares - Estadão

Nem se deveria emprestar qualquer importância a esses enfrentamentos ridículos, mas tudo é motivo de divertimento...
Paulo Roberto de Almeida

Sob pressão de militares, Bolsonaro critica Olavo de Carvalho

Após ataque ao vice e representantes das Forças no Planalto, presidente afirma em nota que declarações de ‘guru’ ‘não contribuem’ com os objetivos do governo

Tânia Monteiro e Mariana Haubert, O Estado de S.Paulo 
22 de abril de 2019 | 18h57 
Atualizado 23 de abril de 2019 | 00h48

BRASÍLIA  – A constante troca de acusações e provocações entre o “guru” bolsonarista Olavo de Carvalho e o vice-presidente Hamilton Mourão levaram o presidente Jair Bolsonaro a se posicionar nesta segunda-feira, 22, pela primeira vez, contra as manifestações do escritor. Em nota lida pelo porta-voz, general Rêgo Barros, Bolsonaro reconheceu que as “recentes declarações” de Olavo “não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento de objetivos propostos” no “projeto de governo”. O comunicado do presidente tenta cessar os ataques do escritor que têm provocado divisões na base bolsonarista e no núcleo central do governo.  
O presidente, no entanto, não quis criticar seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), responsável pelas suas postagens em redes sociais e defensor fiel de Olavo. Nesta segunda-feira, o consenso no Planalto, a despeito das publicações do filho de Bolsonaro, é de que o escritor “passou do ponto”. Ele fez uma série de acusações aos militares por meio de um vídeo veiculado nas redes sociais. 
Já no fim de semana, a postagem incomodou o presidente, que passou parte do feriado no Guarujá (SP). Bolsonaro foi surpreendido com a mensagem que trazia ataques aos militares, publicada no canal do presidente no YouTube. Ele mandou apagar o post, mas a polêmica prosseguiu com o compartilhamento do vídeo por seu filho.  
O fato provocou reação da cúpula militar, que já havia alertado Bolsonaro da inconveniência de o guru ficar alimentando “polêmicas descabidas” em um momento em que todos os esforços estão voltados para a aprovação da reforma da Previdência no Congresso. 
Nesta segunda, desde cedo, o tema tomou conta das reuniões no Planalto, inclusive aquelas das quais participaram o próprio presidente. O primeiro a reagir publicamente foi Mourão, que já havia dito reservadamente estar “de saco cheio” das “agressões” e avisado que não aguentaria mais calado novos ataques. 
No vídeo, o escritor faz duras críticas aos militares e questiona: “Qual a última contribuição das escolas militares à alta cultura nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então, foi só cabelo pintado e voz impostada. E cagada, cagada”, disse, acrescentando que eles entregaram o País aos “comunistas”. 
Em resposta, Mourão afirmou que Olavo deveria se concentrar no exercício da “função de astrólogo”, por ser a que ele “desempenha bem”.  
Sabedor da personalidade explosiva de seu apoiador, Bolsonaro mediu as palavras ao se referir a ele na nota, fazendo questão de reconhecer sua contribuição para seu triunfo eleitoral.  
“O professor Olavo de Carvalho teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fez ao País”, afirmou o presidente, passando a se queixar dos ataques e citando a divisão provocada pela sua fala no seu governo. No mesmo comunicado, Bolsonaro afirmou que “tem convicção de que o professor, com seu espírito patriótico, está tentando contribuir com a mudança e com o futuro do Brasil”. 
O porta-voz do Planalto evitou responder se o presidente foi quem postou o vídeo no YouTube ou se sabia de seu conteúdo. Limitou-se a dizer que “o presidente entende que é muito importante ele assumir a responsabilidade por sua redes sociais”. De acordo com fontes ouvidas pelo Estado, Bolsonaro não sabia do conteúdo e, por isso, mandou retirá-lo do ar. 
Desde o início do governo, tem aumentado a tensão entre a ala olavista e os militares. Houve um enorme descontentamento quando, um dia após Olavo xingar Mourão de “idiota” e dizer que o seu governo ia mal, o presidente compareceu a um evento em Nova York no qual se sentou o lado do “guru”.  
A divisão entre olavistas e militares atingiu até a administração do Ministério da Educação, o que levou à demissão de Ricardo Vélez Rodríguez, alinhado com as ideias do escritor. Mesmo com a disputa, um outro seguidor de Olavo, Abraham Weintraub, acabou alçado ao cargo de ministro. Em inúmeras reuniões, Bolsonaro foi advertido dos problemas que a influência do escritor e as seguidas postagens de Carlos na internet têm causado ao Planalto.  
Bolsonaro já chegou a sinalizar que poderia limitar a ação de seu filho em suas redes sociais. No entanto, sempre que surgia algum novo problema, o presidente reiterava que só tinha vencido a eleição por causa da “expertise” de Carlos nessas mídias. 

Carlos Bolsonaro volta defender Olavo

Após as críticas de Mourão, Carlos voltou ao Twitter para dizer que Olavo “é uma gigantesca referência do que vem acontecendo há tempos no Brasil”. Segundo ele, desprezar isso significa “total desconhecimento, se lixando para os reais problemas do Brasil” ou achar “que o mundo gira em torno de seu umbigo por motivos que prefiro que reflitam”. 
. @opropriolavo é uma gigantesca referência do que vem acontecendo há tempos no Brasil. Desprezar isto só têm três motivos: total desconhecimento, se lixando para os reais problemas do Brasil ou acha que o mundo gira em torno de seu umbigo por motivos que prefiro que reflitam. — Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 22 de abril de 2019
Mais tarde, o vereador recorreu a um tuíte que Mourão curtiu e compartilhou no qual a jornalista Rachel Sheherazade elogia uma palestra do vice. Trata-se do mesmo tuíte que levou o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) a pedir o impeachment de Mourão. Carlos postou a curtida do general com a frase: “Tirem suas conclusões”. 
A mensagem de Rachel diz: “Finalmente um representante do governo que não nos causa vergonha. O vice mostrou como ele e o presidente são diferentes, um é o vinho, o outro vinagre”. 
Tirem suas conclusões: pic.twitter.com/48x9xRpWCX — Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 23 de abril de 2019

Carlos ainda demonstrou indignação com um convite para uma palestra de Mourão. O documento, em inglês, diz que o País vive uma crise generalizada, mas que o vice surge como “voz da razão e da moderação”. “Inacreditável!”, afirmou o vereador. 
Olavo também manteve o enfrentamento com o general. “Não estranho que a direita anti-Bolsonaro faça frente única com o general Mourão. O oposto disso é que seria espantoso”, postou o escritor na noite de ontem. / COLABORARAM FELIPE FRAZÃO E ANDRÉ BORGES