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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Alucinações exteriores da diplomacia da estupidez: matérias da imprensa, 25/11/2020

Itamaraty reage a “tom ofensivo” da China contra Eduardo Bolsonaro

Declaração da que o deputado teria que "arcar com as consequências" de suas críticas foi duramente criticada pelas Relações Exteriores

Metrópoles | Carlos Estênio Brasilino | 25/11/1010, 22h37

O Ministério das Relações Exteriores tomou as dores do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e reagiu às críticas feitas pela China ao filho 03 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que, anteriormente, havia acusado o Partido Comunista chinês da prática de espionagens cibernéticas.

Nessa terça-feira, em nota na web, os diplomatas chineses pediram que o parlamentar “cesse as desinformações e calúnias” e enfatizaram: “Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”.

Nesta quarta-feira (25/11), num tom bem acima do diplomático, o Itamaraty enviou uma carta à Embaixada da China no Brasil onde, entre outros pontos, diz: “Não é apropriado aos agentes diplomáticos da República Popular da China do Brasil tratarem dos assuntos da relação Brasil-China através das redes sociais”. As informações são do jornalista Caio Junqueira, da CNN.

De acordo com a nota, o fato de a manifestação da China contra Eduardo ter sido feita através das redes sociais “não é construtivo, cria fricções completamente desnecessárias e apenas serve aos interesses daqueles que, porventura, não desejam promover as boas relações entre Brasil e China”.

Para o Itamaraty, o tom “ofensivo e desrespeitoso” com o qual a declaração chinesa se referiu ao deputado “prejudica a imagem da China junto à opinião pública brasileira”.

Aspirações e interesses

O documento das Relações Exteriores ainda aponta que não cabe à Embaixada da China opinar sobre as aspirações e interesses da sociedade brasileira, “assim como a Embaixada do Brasil na República Popular da China se abstém de opinar sobre as aspirações e interesses da China”.

O ministério ainda ressalta que o Brasil deseja manter e promover as “excelentes relações” entre ambos os países. Mas dá um novo puxão de orelhas nos diplomatas chineses: “Desrespeitar a diversidade de pensamento e opinião existente no Brasil, garantida por nossa Constituição democrática e por nossa legislação, não contribui para o avanço das relações”.

Clean Network

Em postagem nas redes sociais. posteriormente apagada por Eduardo Bolsonaro, ele afirmou que o Brasil irá aderir a um programa de tecnologia que “pretende proteger seus participantes de invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas”. Eduardo se referia ao programa Clean Network, do governo federal.

Sem provas, o filho do presidente Bolsonaro disse que as espionagens cibernéticas “ocorrem em entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”.

As declarações não repercutiram positivamente. Em nota, os representantes chineses afirmaram que a fala de Eduardo “não são condignas com o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Isso é totalmente inaceitável e manifestamos forte insatisfação e veemente repúdio a esse comportamento”, reforçou a nota.

https://www.metropoles.com/brasil/itamaraty-reage-a-tom-ofensivo-da-china-contra-eduardo-bolsonaro

 

 

EDUARDO BOLSONARO IRRITA SÓCIA CHINESA DA PETROBRAS NO MAIOR CAMPO DE ÁGUAS PROFUNDAS DO MUNDO

Executivos se incomodam há tempos com histórico do filho do presidente nas redes

Época | Guilherme Amado | 25/11/2020, 18h03

A postagem recente de Eduardo Bolsonaro contra a China irritou os executivos da Corporação Nacional de Petróleo da China, a CNPC, empresa petrolífera semi-estatal e sócia da Petrobras no Campo de Búzios, o maior do mundo em águas profundas e considerado hoje a vaca-leiteira da estatal.

O histórico de Eduardo Bolsonaro nas redes contra a China incomoda há tempos os executivos, que dizem ser inaceitável um parceiro comercial ser destratado pelo filho do presidente por razões ideológicas.

Búzios, localizado na Bacia de Santos, é responsável atualmente por cerca de 27% da produção de óleo da companhia no Brasil e deve chegar ao final da década com a produção diária acima de 2 milhões de barris de petróleo por dia.

https://epoca.globo.com/guilherme-amado/eduardo-bolsonaro-irrita-socia-chinesa-da-petrobras-no-maior-campo-de-aguas-profundas-do-mundo-1-24765421

 

 

Postagem de Eduardo Bolsonaro 'é de uma burrice estratégica impressionante'

Momento da Política, CBN | Merval Pereira | 25/11/2020

O mais grave da atitude do deputado Eduardo Bolsonaro é que, ao colocar no twitter a acusação de que a China usa a tecnologia 5G para fazer espionagem, está refletindo o pensamento do presidente Bolsonaro e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. É uma posição ideológica burra. O Brasil não tem que entrar neste embate geopolítico com EUA e China. Tem que fazer uma análise técnica, ver qual é a melhor tecnologia para nós e aproveitar o melhor dos dois mundos, EUA e China. A tecnologia 5G da China é mais adiantada e se adapta melhor ao nosso sistema. Então, é preciso ver qual a vantagem de optar por outra tecnologia. A nota do governo chinês foi dura, fora dos padrões diplomáticos, assim como a mensagem de Eduardo Bolsonaro, que não entende nada de diplomacia e não tem a menor capacidade, nem mesmo de diálogo. Não precisamos criar embates com nosso maior parceiro comercial.

https://audioglobo.globo.com/cbn/podcast/feed/65/momento-da-politica

 

 

Empresários lançam estudo para defender negócios do Brasil com a China

Estratégia de longo prazo propõe ver país asiático como referência e oportunidade

Folha de São Paulo | Eduardo Cucolo | 25/11/2020, 23h45

SÃO PAULO - Estudo encomendado pelo Conselho Empresarial Brasil-China propõe que os brasileiros olhem o parceiro asiático cada vez menos como competidor e ameaça e cada vez mais como referência e oportunidade, em especial para diversificar a pauta de exportação e absorver novas tecnologias.

O documento, que foi batizado de “Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China”, será divulgado nesta quinta-feira (26) pela entidade em um evento que prevê a presença do vice-presidente Hamilton Mourão.

O conselho reúne diplomatas brasileiros e empresários que já mantêm relações com a China ou têm interesse no parceiro comercial. Entre os associados estão instituições financeiras e empresas como Banco do Brasil, Bradesco, BRF, CPFL Energia, Embraer, Itaú e Vale.

O estudo é lançado num momento de seguidas controvérsias políticas e econômicas, em que o país asiático é apontado como ameaça pelo governo Jair Bolsonaro e no contexto de uma disputa comercial e tecnológica mais acirrada com os Estados Unidos.

No capítulo mais recente, Eduardo Bolsonaro postou na sua conta no Twitter, na segunda-feira (23), que o programa Clean Network, ao qual o Brasil declarou apoio, protege seus participantes de invasões e violações. Segundo ele, a iniciativa afasta a tecnologia da China e evita a sua espionagem.

No dia seguinte, o governo chinês rebateu. A embaixada da China no Brasil afirmou na terça-feira (24) que o deputado segue os Estados Unidos para caluniar a China e pediu que a retórica norte-americana seja abandonada para evitar "consequências negativas".

O embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China, afirma esperar uma boa recepção das propostas pelo governo brasileiro, mas diz que o alvo prioritário é a iniciativa privada.

“Eu chamaria a atenção de que ele está sendo apresentado ao vice-presidente da República. Esperamos que receba uma boa acolhida por parte do governo brasileiro, mas lembraria que somos um conselho empresarial, formado por empresas privadas que têm interesses em fazer negócios com a China, em vender, investir e receber investimentos”, afirma Castro Neves.

Hamilton Mourão faz parte da Comissão Sino-Brasileira presidida pelos vice-presidentes dos dois países, que voltará a se reunir em 2021.

O estudo foi elaborado pela diplomata e economista Tatiana Rosito, que integra o Comitê Consultivo da entidade e representou o Brasil como diplomata e como chefe do escritório da Petrobras em Pequim.

Ele indica três principais caminhos para aproveitar as oportunidades geradas pelo avanço da economia chinesa. Também aponta três eixos (econômico, institucional e de sustentabilidade) e três agendas (infraestrutura, finanças e tecnologia) para o relacionamento com a China.

O primeiro caminho é a agregação de valor às commodities exportadas pelo Brasil para a China, por meio da intensificação das relações com o mercado chinês e da descoberta de novos nichos.

A proposta cita também a adoção pelo país de tecnologias ou de partes das cadeias de produção que deixarão a China, além de uma combinação de importações de commodities industriais chinesas com a agregação de valor para consumo no Brasil ou exportação.

“Tão importante quanto o que o Brasil pode exportar para a China é o que o Brasil importa ou pode importar e como pode construir canais estáveis e eficientes para absorção de novas tecnologias em que a China oferece liderança crescente”, diz o documento.

“Há ainda oportunidades a serem exploradas pelas empresas brasileiras fornecedoras de matérias-primas para a China no desenvolvimento de negócios que possam ir ao encontro das necessidades chinesas, inclusive através da criação de novos mercados mediante a educação dos consumidores chineses para produtos sustentáveis produzidos no Brasil ou associados a marcas brasileiras.”

Dentro da ideia de que uma estratégia para a China de longo prazo deve estar ligada a uma estratégia nacional de desenvolvimento, Tatiana utilizou como ponto de partida um documento divulgado em 2018 pelo governo Michel Temer, revisto e consolidado pelo atual governo na Estratégia Federal de Desenvolvimento 2020-2031, que tem como diretriz principal elevar a renda e a qualidade de vida da população brasileira, com redução das desigualdades sociais e regionais.

“Se esses são os nossos objetivos, faz mais sentido olhar a China como uma nova potência na área de inovação, científica e tecnológica, do que só olhar pela ótica da competição com produtos brasileiros e da exportação. O estudo é mais um alerta. A gente tem logrado excelentes resultados na área comercial, especialmente no comércio agrícola, mas é necessário sair um pouco disso e pensar o longo prazo”, afirma Rosito.

A diplomata diz que os dois países já possuem o que ela chama de uma moldura institucional que só é comparável ao que o Brasil tem com países do Mercosul. Ela cita como exemplo a própria comissão sino-brasileira.

“Isso permite que a gente continue tendo uma relação com a China pragmática, uma relação de Estados, mesmo em um momento em que a China sofre críticas de certos setores no Brasil. Essa moldura nos permite continuar trilhando esse caminho de aproximação”, afirma a diplomata.

Segundo a autora do trabalho, a recente eleição americana aponta para uma distensão em alguns temas nas relações entre Estados Unidos e China e abre uma oportunidade para que o Brasil também possa repensar a relação com o país asiático.

No comércio exterior, por exemplo, os resultados positivos para o Brasil têm oscilado ao sabor da demanda chinesa, com uma concentração em poucos produtos que não é considerada saudável por nenhum dos dois lados, segundo Rosito.

De acordo com o documento, estima-se que a classe média da China seja de 400 milhões de pessoas (30% da população urbana, ante 50% nos EUA) e espera-se que a urbanização e o crescimento de renda per capita incorporem mais centenas de milhões de pessoas até 2050, um mercado potencial consumidor para o Brasil.

Segundo a diplomata, entre os principais desafios para ampliação e diversificação das exportações brasileiras para a China estão a baixa presença de empresas brasileiras e de associações de classe em solo chinês e a ausência de uma campanha coordenada de imagem do Brasil.

“A gente explora pouco o imenso mercado chinês. Você poderia a partir de ecommerce identificar nichos para exportações de produtos em áreas como cosméticos, alimentos processados, áreas ligadas a bioeconomia e sustentabilidade, mesmo as pequenas comunidades poderiam chegar a nichos de mercado na China, mas para isso você precisa entender o consumidor chinês. Tudo isso é um mundo novo que poderia estar aberto para nós”, afirma Rosito.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/11/empresarios-lancam-estudo-para-defender-negocios-do-brasil-com-a-china.shtml

 

 

Diplomacia da extrema direita aproxima o país de prejuízos reais

Para ex-embaixador, política externa funciona à base de 'alucinações, fantasias e teorias conspiratórias'

Folha de São Paulo | Bruno Boghossian |25/11/2020, 23h15

A diplomacia brasileira conseguiu cometer uma barbeiragem dupla. Nas últimas semanas, o governo desprezou o próximo presidente dos EUA e enviou sinais hostis para a China. Amarrado a Donald Trump e às bandeiras da direita radical, o país pode sofrer prejuízos concretos na relação com seus dois principais parceiros comerciais.

Na terça (24), a embaixada chinesa ameaçou o Brasil com “consequências negativas” depois que Eduardo Bolsonaro publicou uma mensagem que ligava a tecnologia de 5G do país asiático com atos de espionagem.

“Essa talvez seja a mais enfática advertência para os danos que Eduardo e seus cúmplices podem causar às relações com a China”, diz Roberto Abdenur, que foi embaixador brasileiro em Pequim e Washington. Para ele, o silêncio de Jair Bolsonaro sobre a declaração do filho “endossa essa barbaridade”.

O diplomata vê uma escalada nas manifestações do governo chinês, com uma ameaça real de retaliação nos investimentos e no comércio. “O Brasil se ilude ao achar que teremos eternamente a posição privilegiada de grandes exportadores de soja, carne, minério de ferro e açúcar”, diz.

Ainda que existam questionamentos sobre a segurança da tecnologia chinesa de 5G, o governo brasileiro usa uma retórica infantil para satisfazer sua base ideológica. Abdenur afirma que o país enfrentará tempos difíceis se não souber manter uma equidistância entre China e EUA.

O desafio pode ser ainda maior porque Bolsonaro escolheu “uma posição de subserviência” em relação a Trump, segundo Abdenur –o que criou uma política externa baseada em “alucinações, fantasias e teorias conspiratórias”.

Para o ex-embaixador em Pequim e Washington, a atuação de Eduardo e do ministro Ernesto Araújo na diplomacia funciona como elo entre a extrema direita americana e a extrema direita brasileira, “que é uma sucursal da extrema direita americana”. “A não ser que haja uma guinada nessa postura, o que eu não acredito, nós vamos ter problemas”, avalia.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/bruno-boghossian/2020/11/diplomacia-da-extrema-direita-aproxima-o-pais-de-prejuizos-reais.shtml

 

"Pito" da China em Eduardo Bolsonaro foi também alerta ao Brasil pós-Trump

UOL | Jamil Chade | 26/11/2020, 4h03

Um dos mitos mais repetidos sobre a diplomacia chinesa se refere a um comentário do primeiro-ministro Zhou Enlai. Em 1971, ele teria sido questionado por Henry Kissinger (diplomata e posteriormente secretário de Estado americano) sobre o que pensava sobre o impacto da Revolução Francesa. Sua resposta: "É muito cedo para dizer".

Décadas depois, o mito foi desfeito. Zhou não tinha entendido a pergunta e pensava que o americano o questionava sobre os protestos estudantis em Paris, em 1968. Mas, entre parte dos diplomatas e analistas, o erro era "delicioso demais" para ser desmentido.

Seja qual for o motivo do engano, a realidade é que a resposta cabia como uma luva na narrativa que começava a ser construída sobre a paciência e visão de longo prazo da diplomacia chinesa. E, de fato, esse passou a ser um tom adotado por Pequim, construindo relações com metas ambiciosas e prazos alargados. Entre diplomatas europeus, correm ainda comentários sobre como cálculos de hoje no "Império do Meio" não visam ações imediatas, mas sua hegemonia a partir de 2050.

Diante de tal realidade, a decisão da China de emitir um comunicado violento contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, foi recebido como um recado claro dentro do Itamaraty de que a paciência dos chineses teria chegado a um limite.

No dia 23 de novembro, Eduardo Bolsonaro foi às redes sociais para acusar a China de praticar espionagem cibernética e defendeu a iniciativa dos Estados Unidos de criar uma aliança internacional que discrimina a tecnologia 5G de Pequim.

Na quarta-feira, a embaixada da China em Brasília respondeu com um ataque direto, acusando o filho do presidente — e seus aliados — de serem uma ameaça para a relação bilateral e apontando que o Brasil poderia sofrer consequências diretas e "negativas" se tal comportamento fosse mantido.

Recado ressalta que era Trump vai ficando para trás, e Brasil pode ficar também

O comunicado surpreendeu por seu tom ameaçador e de alerta, rompendo com uma postura dos mandarins da diplomacia de buscar consenso e pensar no longo prazo.

Mas o gesto não seria apenas o fim da paciência. A ação chinesa também ocorreu por canais diplomáticos, criando um mal-estar em Brasília. Para uma parcela dentro do governo, a elevação do tom por parte de Pequim obedeceria a outra lógica: a percepção de que, a partir de agora, o governo Bolsonaro não tem mais como se esconder de baixo da saia da administração de Donald Trump em ataques coordenados contra a China.

No fundo, a ameaça de Pequim não é de retaliação imediata. Mas de um alerta que, sozinho, o Brasil não tem o poder que imagina que possa desempenhar. E que, se continuar a fazer ataques contra a China, enfrentará as consequências sem o apoio de seu aliado derrotado em Washington.

Entre analistas estrangeiros, muitos apontam que o democrata Joe Biden não deve reduzir a pressão sobre a China. Biden, segundo interlocutores que trabalharam em sua campanha, pretende costurar uma aliança global para se contrapor a Pequim.

Mas, por suas escolhas para ocupar os cargos na diplomacia americana, a opção não será por uma confrontação pública e nem por meio da geração de crises deliberadas.

O raro pito chinês, portanto, foi um alerta: vocês estão sozinhos.

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/11/26/pito-da-china-em-eduardo-bolsonaro-foi-tambem-alerta-ao-brasil-pos-trump.htm

 

 

Revealed: UK supermarket and fast food chicken linked to deforestation in Brazil

The Guardian | Jonathan Watts, Andrew Wasley, Alexandra Heal, Alice Ross, Lucy Jordan, Emma Howard and Harry Holmes | 25/11/2020, 15h

Supermarkets and fast food outlets are selling chicken fed on imported soya linked to thousands of forest fires and at least 300 sq miles (800 sq km) of tree clearance in the Brazilian Cerrado, a joint cross-border investigation has revealed.

Tesco, Lidl, Asda, McDonald’s, Nando’s and other high street retailers all source chicken fed on soya supplied by trading behemoth Cargill, the US’s second largest private company. The combination of minimal protection for the Cerrado – a globally important carbon sink and wildlife habitat – with an opaque supply chain and confusing labelling systems, means that shoppers may be inadvertently contributing to its destruction.

The broadcaster and campaigner Chris Packham said the revelations showed that consumers needed to be given more information about their food. “Most people would be incredulous when they think they’re buying a piece of chicken in Tesco’s which has been fed on a crop responsible for one of the largest wholesale tropical forest destructions in recent times,” he said.

“We’ve got to wake up to the fact that what we buy in UK supermarkets, the implications of that purchase can be far and wide and enormously damaging, and this is a prime example of that.”

The UK slaughters at least a billion chickens a year, equivalent to 15 birds for every person in the country. Many are fattened up on soya beans imported into the UK by Cargill, which buys from farmers in the Cerrado, a woody tropical savanna that covers an area equal in size to Britain, France, Germany, Italy and Spain combined.

Analysis of shipping data shows that Cargill imported 1.5m tonnes of Brazilian soya to the UK in the six years to August 2020. Biome-level export figures, collated by the supply-chain watchdog Trase, indicate that nearly half of Cargill’s Brazilian exports to the UK are from the Cerrado.

Among the most recent shipments were 66,000 tonnes of soya beans that landed in Liverpool docks in August on a Cargill-leased bulk tanker, BBG Dream. This was the focus of a collaborative investigation by the Bureau of Investigative Journalism, Greenpeace Unearthed, ITV News, and the Guardian.

The ship’s hold had been loaded in Cotegipe port terminal in Salvador, Brazil, with beans that had come from the Cerrado’s Matopiba region, including some from Formosa do Rio Preto, the Cerrado’s most heavily deforested community. As well as Cargill, the suppliers included Bunge (Brazil’s biggest soya exporter) and ADM (another leading US food producer).

After crossing the Atlantic, the entire shipment was unloaded into Cargill’s Seaforth soya crush plant in Liverpool, according to maritime and shipping records. The investigation tracked the way that grain crushed there is then trucked to mills in Hereford and Banbury, where it is mixed with wheat and other ingredients to produce livestock feed. From there, it is taken to chicken farms contracted to Avara.

Avara is a joint venture between Cargill and Faccenda Foods. It fattens up birds, which are slaughtered, processed and packaged for distribution to Tesco, Asda, Lidl, Nando’s, McDonald’s and other retailers. Avara thrives in relative obscurity. “You might not have heard of us but there’s a good chance you’ve enjoyed our products,” the company’s website says.

So where, exactly, is this soya originating from? Avara’s supplier, Cargill, buys soya from many suppliers in the Cerrado, at least nine of which have been involved in recent land clearance. Analysis by the consultancy Aidenvironment of the land owned or used by these companies since 2015 found 801 sq km of deforestation – an area equivalent to 16 Manhattans. It also detected 12,397 recorded fires.

As recently as last month, drone footage taken in Formosa do Rio Preto showed huge fires burning on Fazenda Parceiro, a farm run by SLC Agrícola, which is a supplier to Cargill. Satellite data shows the fires burned 65 sq km of the farm. More than 210 sq km has been cleared on SLC Agrícola land over the past five years, according to the Aidenvironment analysis. Cargill said it broke no rules, nor their own policies, by sourcing from the farm in question and made clear it does not source from illegally deforested land. SLC Agrícola were approached for comment but declined.

Despite this destruction, produce from these areas can be labelled as legal and sustainable in Brazil. This highlights the shortcomings of an international trade system that relies on local standards, which are often influenced by farmers focused on short-term economic profit, rather than long-term global good, which would incorporate the value of water systems, carbon sinks and wildlife habitats.

The Brazilian government has steadily relaxed controls on deforestation – and sometimes tacitly encouraged it – over the past decade, most notably by the relaxation of the Forest Code in 2012.

This is particularly true in the Cerrado, Brazil’s second biggest biome, which is being sacrificed to boost exports, keep global food prices low and reduce the impact on its neighbour, the Amazon. Farmers can legally cut and burn a higher proportion of trees in this savannah compared with the internationally scrutinised Amazon.

Many biologists believe this policy is shortsighted. The trees, shrubs and soil of the Cerrado store the equivalent of 13.7bn tonnes of carbon dioxide – significantly more than China’s annual emissions. It is the origin of so many rivers it is known as “the birthplace of waters” and home to 1,600 species of birds, reptiles and mammals (including jaguars, armadillos and anteaters) and 10,000 types of plant, many not seen anywhere else in the world.

Scientists say it will be hard – if not impossible – to save Amazonia without conserving the Cerrado. But the latter has suffered double the deforestation even though it is half the size. Between 50% and 80% of the original biome has been replaced by cattle ranches and soya farms, making this the world’s most rapidly expanding agribusiness frontier and one of the fastest shrinking areas of nature.

Whether or not Brazil deems soya from this area legal, many consumers do not want to buy products associated with deforestation.

The UK imports 700,000 tonnes of raw soya beans each year, many from the Cerrado, It also buys almost three times this quantity of processed soya feed, the majority from Argentina. The environmental impact varies hugely from country to country. But shoppers have little way of knowing whether their chicken breast or burger contributed to the problem of the Cerrado because labels provide insufficient information about origins, crops from sustainable and deforested sources can be mixed, and many firms rely on offsets.

The companies involved say they are working to lower the environmental impact of their offerings, but progress varies.

McDonald’s and Nando’s cover the volumes of soya they uses for chicken feed with sustainability “certifications”, which includes purchasing “credits” – similar to carbon offsetting. The credits support farmers producing sustainably but the actual soya in the supply chain is not necessarily from these producers and can come from deforesting farms.

McDonald’s said it aimed to eliminate deforestation from its global supply chains by 2030. A spokesman said: “We’re proud of the progress we’ve made, yet recognise there is more to do, and will continue to work hard to progress toward our goals.”

Nando’s did not provide a target date to completely phase out deforestation from its supply chain, but it said it was looking at alternatives to soya. “We recognise that there is more work to do which is why we are also investing in research looking at more sustainable feed alternatives and look forward to being able to share the results as soon as possible.”

Asda and Lidl said they were working towards buying only “physically certified” sustainable soya by 2025, but this can mean different things. Asda takes it to mean “segregated” deforestation-free soya – meaning the actual product in its supply chain must be sustainable for it to meet its goal – but Lidl clarified it was including a scheme where sustainable grain can be mixed in with product from deforesting farms. Lidl said it is currently the largest buyer of credits to offset its soya footprint.

Tesco said that it has set itself an “industry-leading” target for its soya to come from verified deforestation-free “areas” by 2025. “Setting fires to clear land for crops must stop,” a spokesperson said. “We’ve played a leading role in convening industry and government to protect the Cerrado, including committing £10m to protect the region’s biodiversity. We need our suppliers, industry, NGOs and governments to work with us to end deforestation and protect our natural environment.”

Avara, Cargill’s joint venture, said it was at the forefront of the UK’s soya purchasers, covering all its soya purchases with certification, and working to achieve much higher transparency in the supply chain. “We welcome the UK government’s proposed legislation aimed at illegal deforestation as this is aligned with these objectives and an important first step.” Avara is part of the Statement of Support for the Cerrado Manifesto and sits on the steering group of this initiative.

McDonald’s, Nando’s and the three supermarkets named have publicly expressed their support for a new agreement, similar to the moratorium in the Amazon, to stop deforestation for soya in the Cerrado, but opposition in Brazil has meant nothing has materialised.

Cargill – one of the most important players in the supply chain – has publicly said it opposes a Cerrado moratorium. At the time, it announced $30m (£22.6m) in funding efforts to address deforestation but did not specify where this would be spent. The Guardian asked Cargill why it had rejected a moratorium, but the company did not comment on this.

It expressed its commitment to a deforestation-free supply chain, however, and to supporting farmers who are working sustainably. It said: “Cargill estimates that 95.68% of our soya volumes in Brazil for the 2018-19 crop year were deforestation- and conversion-free.” The company is continuing to expand its certification programme in Brazil and Paraguay, but put the emphasis on the Brazilian legal system. “Cargill – along with our industry, farmers, local governments and customers – has accountability for transforming the food supply chain, and we are engaging with stakeholders every day to make progress,” it said. “Deforestation in that biome is, in most cases, a criminal act by Brazilian law. It must be treated that way.”

The investigation shows, however, that merely treating it as a Brazilian matter is not enough.

https://www.theguardian.com/environment/2020/nov/25/revealed-uk-supermarket-and-fast-food-chicken-linked-to-brazil-deforestation-soy-soya

 

"O projeto Pária" do chanceler acidental - Natalie Unterstell (Época)

 PROJETO PÁRIA OU UM PÁRIA ENTRE NÓS

Falta de pragmatismo na pauta ambiental custa caro e descredibiliza nosso país

Natalie Unterstell 

Revista Época, 26/11/2020, 7h

O mundo se prepara para uma maratona de longa duração rumo ao zero carbono. Há muitos desafios, já que em todos os países existem segmentos relutantes à transição para essa nova economia. No entanto, entre vanguarda e atraso, na somatória de forças, as nações parecem convergir para um novo capítulo da história.

É notável, por essa razão, a indisposição de um país que teria tudo para entrar na corrida e se sagrar campeão: o Brasil.

Nosso país tem se mostrado desinteressado e preguiçoso. Como se tivesse sido instalado em uma arquibancada, de onde pretende assistir os demais correrem, o Brasil no máximo esperneia.

E quem nos coloca neste lugar? As autoridades que adotaram o negacionismo como forma de governo.

Expoente da ala ideológica do governo, o Ministro das Relações Exteriores (MRE), Ernesto Araújo, é um exímio implementador desse método. Recentemente, ele se disse orgulhoso da posição de pária internacional. “É bom ser pária. Esse pária aqui, esse Brasil tem conseguido resultados”.

E como um terraplanista que usa GPS, na semana passada, o MRE sob Ernesto agiu para bloquear os trabalhos de 196 países envolvidos nas negociações da Convenção de Diversidade Biológica (CDB) da ONU.

A CDB busca adotar um novo marco geral para a biodiversidade. A tarefa deveria ser concluída em 2020 mas sofreu atraso, por conta da pandemia. O Brasil, país megadiverso, seria um dos maiores interessados em se beneficiar dessa estrutura.

Ao longo de 2020, o país já havia sido acusado de dificultar as negociações. Agora, paralisou os trabalhos opondo-se à aprovação do orçamento de 2021 do secretariado da Convenção. Os diplomatas buscam esclarecer o episódio - mas não há como dissociá-lo das declarações negacionistas e isolacionistas dadas pelas principais autoridades. A diplomacia brasileira está sendo vista com desconfiança, independente do assunto que esteja tratando.

O risco (e a probabilidade, eu diria) é que essa mesma tática (de bloqueio) seja repetida nas demais Convenções da qual o Brasil participa, especialmente da Convenção Quadro da Mudança do Clima. Assim, pode prejudicar uma a uma as arenas de diálogo e de construção dos padrões globais de sustentabilidade.

Ser pária custará caro e imporá prejuízos.

As negociações ambientais globais são essencialmente econômicas. Elas emanam compromissos e regras sobre como usar o ambiente para sustentar a economia, e vice-versa.

Não à toa, após a ratificação do Acordo de Paris, em 2015, os principais bancos centrais do mundo avançaram na discussão de padrões de informação sobre riscos climáticos no sistema financeiro - o Banco Central do Brasil (BCB), inclusive. Os padrões ambientais globais dizem respeito às nossas indústrias, à agricultura bem como às políticas monetária e fiscal.

Por isso, ao longo de décadas, nossos diplomatas vieram talhando sofisticadamente as Convenções do Rio - em alusão a terem sido assinadas no Rio de Janeiro em 1992 - para estabelecer normas boas para nós e para o planeta.

Instrumentos como o Acordo de Paris são frutos de negociações árduas em que nós buscamos benefícios concretos. Permitem por exemplo que o Brasil seja pago pela comunidade internacional por resultados alcançados no controle do desmatamento. Ou seja, temos o direito reconhecido de compartilhar os custos da proteção das florestas com o resto do mundo.

E esse direito, associado ao dever de proteger florestas, foi uma solução inventiva nossa.

Quando o mundo buscava uma forma de apoiar a mitigação de emissões de gases de efeito estufa, pesquisadores brasileiros como Márcio Santilli e Paulo Moutinho inventaram o mecanismo do desmatamento compensado. Da sociedade civil, essa proposta depois virou o Fundo Amazônia e, anos depois, virou uma decisão negociada da Convenção da Mudança do Clima.

O mecanismo vale para qualquer Presidente da República, seja ele negacionista ou protagonista. Razão pela qual o governo Bolsonaro poderá anunciar que fará o maior programa de pagamentos por serviços ambientais do mundo em seu mandato: graças aos pagamentos feitos via sistema ONU como recompensa pela redução do desmate, alcançado no passado e recebido neste governo.

O atual governo só não consegue mais recursos internacionais porque não mostra resultados de redução de emissões e porque, a despeito da urgência do tema e da potência brasileira, suas intenções e ações não inspiram confiança dos parceiros internacionais.

Sim, os tempos já são outros. Se durante décadas o Brasil foi um hábil e sofisticado construtor de soluções globais, no momento, opera uma política de desconstrução, também inventiva. Áreas antes arejadas ao debate com a sociedade brasileira, tornaram-se sistemas fechados ao diálogo.

Cabe perguntar: a quem de fato serve o isolacionismo e o negacionismo no comando do país mais megadiverso do mundo? Ficar na arquibancada da história não é nosso destino. Quando conseguiremos sair desta armadilha?

https://epoca.globo.com/natalie-unterstell/coluna-projeto-paria-ou-um-paria-entre-nos-24766126

Itamaraty diz em carta que reação da China a Eduardo foi ofensiva e desrespeitosa - Ricardo Della Coletta (FSP)

A manchete não está conforme à realidade: não é o Itamaraty que diz isso ou aquilo; é o chanceler acidental que apenas repete o que lhe foi ditado pelo aloprado 03, e que só pode contar com a aprovação do aloprado 00. Três aloprados...

Paulo Roberto de Almeida

Itamaraty diz em carta que reação da China a Eduardo foi ofensiva e desrespeitosa

Ministério comandado por Ernesto Araújo responde a mensagem da missão diplomática chinesa

Ricardo Della Coletta | 

Folha de S. Paulo, 26/11/2020, 15h11

BRASÍLIA - O Itamaraty repreendeu a embaixada da China pelas críticas contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e disse, em ofício, que a resposta da missão diplomática ao parlamentar traz conteúdo "ofensivo e desrespeitoso".

"Não é apropriado aos agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil tratarem dos assuntos da relação Brasil-China através das redes sociais. Os canais diplomáticos estão abertos e devem ser utilizados", disse o ministério das Relações Exteriores, em carta enviada aos representantes do governo chinês no Brasil na quarta-feira (25).

"O tratamento de temas de interesse comum por parte de agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil através das redes sociais não é construtivo, cria fricções completamente desnecessárias e apenas serve aos interesses daqueles que porventura não desejem promover as boas relações entre o Brasil e a China. O tom e conteúdo ofensivo e desrespeitoso da referida 'Declaração' prejudica a imagem da China junto á opinião pública brasileira", segue a mensagem da chancelaria brasileira.

A correspondência foi revelada pela rede CNN Brasil.

Com a carta, o Itamaraty responde à manifestação dos chineses contra uma publicação de Eduardo —filho de Jair Bolsonaro (sem partido) e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara— que associou o governo de Pequim à espionagem de dados. O deputado destacou em suas redes sociais na noite de segunda (23) que o Brasil endossou iniciativa dos Estados Unidos para manter a segurança da tecnologia 5G "sem espionagem da China".

"O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”, escreveu.

"Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, completou o deputado.

No dia seguinte, o parlamentar apagou a postagem. Ainda assim, a embaixada chinesa no Brasil respondeu e defendeu que Eduardo e outros críticos do país asiático deveriam abandonar a retórica da extrema direita norte-americana, para evitar "consequências negativas".

A embaixada disse que o deputado acusou a China de fazer espionagem cibernética e ressaltou que ele defendeu iniciativa que discrimina a tecnologia 5G chinesa. "Tais declarações infundadas não são condignas com o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados", afirmou a representação diplomática.

Na correspondência à embaixada, o Itamaraty classificou de "altamente inadequado" que a missão diplomática "se pronuncie sobre as relações do Brasil com terceiros países, tendo presente que a Embaixada do Brasil em Pequim não se pronuncia sobre as relações da República Popular da China com terceiros países".

A chancelaria brasileira também disse aos chineses que o governo toma decisões soberanas sobre temas de interesse estratégico do Brasil. "O respeito mútuos às respectiva soberanias é fundamental par as ótimas relações que temos desenvolvido", conclui a carta.

Depois da publicação de Eduardo nas redes sociais, a embaixada da China enviou uma reclamação ao Itamaraty. Esse primeiro documento não foi tornado público, mas o fato de a missão diplomática ter publicado uma declaração posterior gerou incômodo na equipe do ministro Ernesto Araújo.

Não é a primeira vez que Eduardo protagoniza um choque com a embaixada chinesa em Brasília. Em março, Eduardo comparou a pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986. As autoridades, à época submetidas a Moscou, ocultaram a dimensão dos danos e adotaram medidas de emergência que custaram milhares de vidas.

A associação feita pelo parlamentar em março gerou duras críticas do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/11/em-carta-itamaraty-repreende-embaixada-da-china-por-resposta-a-eduardo-bolsonaro.shtml  



Embaixador Roberto Abdenur: "O Brasil mete os pés pelas mãos nas relações com a China" - Mariana Schreiber (BBC); Lisandra Paraguassu (UOL)

 'Brasil está metendo os pés pelas mãos' com a China, diz ex-embaixador em Pequim após nova polêmica de Eduardo Bolsonaro

BBC News Brasil | Mariana Schreiber | 26/11/2020, 5h38

A mais nova crise provocada por uma nova fala do deputado federal Eduardo Bolsonaro (Republicanos-SP) atacando a China pode trazer "graves danos" ao Brasil caso a potência asiática adote barreiras comerciais contra produtos brasileiros e busque outros fornecedores de commodities, disse à BBC News Brasil o diplomata aposentado Roberto Abdenur, que atuou como embaixador em Pequim (1989 a 1993) e nos Estados Unidos (2004 a 2006).

Embora muitos no Brasil considerem a China dependente das importações brasileiras de itens como soja, carne, minério de ferro, açúcar e celulose, Abdenur alerta que o governo de Xi Jinping tem buscado novos fornecedores e já adotou este ano retaliações econômicas contra outro importante parceiro comercial, a Austrália, reagindo a críticas de autoridades australianas que pediram uma investigação internacional sobre a origem do coronavírus.

Em reação, Pequim elevou barreiras parciais sobre a carne australiana, taxou em 80% a importação de cevada do país e desencorajou chineses a estudarem ou fazerem turismo na Austrália, devido a "numerosos casos de discriminação contra asiáticos".

Segundo dados do Banco Mundial, a Austrália é o sexto maior exportador para China, à frente do Brasil, que aparece em sétimo.

"O Brasil está metendo os pés pelas mãos de maneira desarrazoada e contraproducente. Eduardo Bolsonaro fala como deputado, como filho do presidente e como presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. É de uma imensa irresponsabilidade, agora ameaçando causar danos graves aos interesses do Brasil com a China", afirmou Abdenur.

"É ilusão acharmos que a China vai continuar dependendo eternamente das nossas importações. Há outros países no mundo. A China está financiando projetos agrícolas importantes na África, em regiões que têm um clima e solo parecidos com o Brasil, está em entendimentos também para aumentar a produção de soja na Rússia e na Ucrânia", exemplificou.

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55081541?at_campaign=64&at_custom1=%5Bpost+type%5D&at_custom4=EB6E31D6-2FE0-11EB-AFC7-CBBB923C408C&at_medium=custom7&at_custom2=twitter&at_custom3=BBC+Brasil

  

Limitar atuação da China no 5G pode dificultar parcerias e investimentos, alertam empresários

UOL | Lisandra Paraguassu | 26/11/2020, 12h03

Uma limitação à atuação da Huawei nas redes de 5G no Brasil poderia diminuir a atração de investimentos no país e dificultar parcerias com a China em diversas áreas, avalia o Conselho Empresarial Brasil-China, organismo que reúne empresários e diplomatas com interesses no país asiático.

O documento "Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China", preparado pela diplomata Tatiana Rosito e divulgado hoje pelo CEBC, apontada que não apenas a China caminha para se tornar uma potência digital como esta é uma das principais metas do país para os próximos anos.

"A China está a caminho de tornar-se uma potência tecnológica e digital e deve ser do interesse brasileiro potencializar as oportunidades para que o Brasil possa se beneficiar das transformações chinesas nas mais diversas áreas, como economia digital (5G, computação em nuvem, internet das coisas), inteligência artificial, e-commerce", diz o estudo.

A limitação de investimento estrangeiro com base em questões de segurança nacional, alerta o CECB, pode ser feito com limitações em áreas sensíveis sem discriminar nacionalidades. De acordo com a autora do estudo, a legislação brasileira é aberta a investimentos estrangeiros e não prevê mecanismos de 'screening', como acontece nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, para limitar esses investimentos a alguns parceiros. Bastaria uma atuação ativa das agências reguladoras para garantir o cuidado em relação a questões de segurança nacional, sem necessidade de discriminar determinados países.

"Tudo leva a crer que limites à atuação chinesa em certos setores não somente extrapolariam posições brasileiras tradicionais de não discriminação e tratamento nacional, mas também criariam insegurança jurídica e poderiam reduzir a atratividade dos investimentos no Brasil num momento em que o País precisará contar com a poupança externa para ultrapassar seus gargalos, sobretudo em infraestrutura", diz o documento.

A avaliação do CEBC é que possíveis parcerias com a China em diversas áreas podem ser dificultadas no caso de se estabelecer restrições à participação do país no 5G. "Para a China, o mais importante é evitar atitudes discriminatórias", avalia o documento.

O governo brasileiro ainda não definiu os parâmetros para o leilão da infraestrutura de 5G no país, previsto para ocorrer até o final do primeiro semestre de 2021. No entanto, o presidente Jair Bolsonaro, em mais de uma ocasião, disse que a decisão de vetar ou não a Huawei seria sua e, acompanhando a posição do presidente americano Donald Trump, analisava a possibilidade de vetar a participação da empresa chinesa no Brasil.

No entanto, a pressão das empresas brasileiras de telecomunicações tem sido forte. A Huawei já atua no Brasil há vários anos como fornecedora de equipamentos e, até o momento, oferece o melhor preço para as redes 5G.

Nos últimos meses, o governo norte-americano aumentou a pressão sobre o Brasil para tentar barrar a entrada de chineses no mercado 5G brasileiro, com diversas visitas de secretários e assessores do governo Trump, oferta de financiamento para as empresas brasileiras e ameaças de retaliação.

Apesar da derrota de Trump nas eleições, o atual governo tenta passar a ideia de que a posição norte-americana não irá mudar com o democrata Joe Biden. Há duas semanas, em visita ao Brasil, o subsecretário de Estado dos EUA para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente, Keith Krach. insistiu, em conversas com jornalistas e autoridades brasileiras, que há um consenso entre Democratas e Republicanos na posição sobre a China.

O que pode mudar é a posição de Jair Bolsonaro em relação aos Estados Unidos. Fã de Trump, de quem se diz amigo, Bolsonaro tendia a seguir o presidente norte-americano. Já a relação com os EUA em uma presidência de Joe Biden pode mudar. Bolsonaro até agora não cumprimentou o Democrata pela eleição e, durante a eleição - mesmo depois da apuração já indicar uma derrota de Trump -, a preferência pelo Republicano.

Durante a visita de Krach o governo brasileiro anunciou o apoio à iniciativa norte-americana Rede Limpa, que tenta estabelecer critérios para as redes mundiais mirando especificamente a exclusão da China. No entanto, apesar dos norte-americanos comemorarem a adesão, o Itamaraty declarou apenas "apoio aos princípios" da iniciativa, sem uma adesão formal.

Ao mesmo tempo, os atritos com o governo chinês são uma constante no governo Bolsonaro. A mais recente, uma publicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) em que comemorava a suposta adesão brasileira ao Rede Limpa e em que falava de evitar a "espionagem da China".

Eduardo apagou a publicação em seguida, mas foi o suficiente para resposta dura do governo chinês. Em nota, a embaixada em Brasília chamou as declarações de infames e afirmou que a manutenção da "retórica da extrema-direita americana" poderia trazer "consequências negativas" para a relação entre Brasil e China.

https://www.terra.com.br/economia/limitar-atuacao-da-china-no-5g-pode-dificultar-parcerias-e-investimentos-alertam-empresarios,ac88d2d9bb0c12568b5c149aa8bc8813wtv2beb6.html

Por que ainda se discute a possibilidade de uma moeda comum sul-americana? - Natan Cauduro (Beta Redação)

Por que ainda se discute a possibilidade de uma moeda comum sul-americana?

Interessante na teoria, criação da moeda comum encontra fortes barreiras na realidade econômica e política da América do Sul

Natan Cauduro
Nov 25 · 8 min read

Em junho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, marcaram presença nas manchetes de vários jornais brasileiros e estrangeiros com declarações sobre a possibilidade de criação de uma moeda comum com a Argentina. Um ano depois, a  decidiu revisitar o tema e descobrir se, afinal, há chances de uma moeda comum nascer na América do Sul.

Sonho x realidade

Ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo Lula (2007–2011), Welber Barral comenta que, em teoria, a chance de se criar a moeda comum existe, mas a realidade econômica e política do continente inviabiliza a oportunidade. Ele também reforça que, para considerar tal moeda, faz-se necessário compreender sua equivalência na Europa: o euro.

O processo de criação do euro foi longo e apresentou uma série de complicações. Welber pontua algumas ações dos países europeus que foram essenciais para o nascimento da moeda: alinhamento macroeconômico; acordos sobre endividamento; e bases monetárias fortes (era o caso da Alemanha) que atuavam como geradoras de credibilidade para a moeda, tornando-a conversível (que pode ser trocada por outras moedas, como o dólar). “Não há nenhuma dessas coisas na América do Sul”, pontua o ex-secretário.

Em terras sul-americanas, Welber cita as taxas de endividamento altas e distintas de cada país como um dos grandes empecilhos, além de problemas na coordenação de políticas macroeconômicas entre as nações vizinhas. O continente não conta com uma moeda conversível, ao contrário da Alemanha e de sua moeda da época, o marco alemão. Outra dificuldade são as divergências de dados sobre a inflação de cada país. “Como se compara ou equipara o real brasileiro com o peso argentino sendo que eles [argentinos] estão com 50% de inflação?”, comenta.

Diplomata de carreira com atuação nas embaixadas de Paris e Washington, e ex-diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI), Paulo Roberto de Almeida concorda que a América do Sul não está preparada para uma moeda comum. “Poucos países no mundo renunciam a suas moedas nacionais. Eu não conheço nenhum grande país que o tenha feito, a não ser como parte de um projeto mais amplo de mercado comum totalmente unificado, como é o caso da União Europeia”, conta.

“Se você tem um mercado unificado, não faz sentido manter moedas distintas para um mercado totalmente livre”, acrescenta Paulo Roberto.

O diplomata reforça que os países da América do Sul são díspares, divergentes e contraditórios, o que dificulta ainda mais a implementação de uma moeda comum. “Essa é a razão básica pela qual eu não acredito que nossos países estejam preparados para uma moeda comum, não única. Única é uma loucura, nem a Europa tem.”

Welber também destaca a importância dos Bancos Centrais na implementação de uma moeda comum. “Você ter uma moeda conversível não é porque você quer, mas é porque ela é aceita no mercado internacional.” Isso resulta, segundo o ex-secretário, em uma moeda com credibilidade, lastro, usada em operações com terceiros e que tenha fluxo livre aqui e no exterior. “A moeda brasileira não tem isso, então os bancos centrais teriam de regulamentar”, destaca Welber. Outra entidade importante nesse processo é o Conselho Monetário Nacional.

E se…

Num exercício de futurologia, o ex-secretário Welber Barral reflete sobre quais benefícios o Brasil teria caso uma moeda comum fosse implementada. Um deles seria o custo de câmbio, pois o mesmo não seria necessário, uma vez que todos os países utilizariam uma mesma moeda. Outro estaria em evitar a imprevisibilidade das moedas, como dólar e real, pois a variação de inflação é uma só, o que auxilia nas importações e exportações. Welber também pontua a percepção popular como sendo impactada positivamente quando viaja para outro país. “Ele (indivíduo) não quer fazer cálculo para saber quanto custa, se é mais caro ou mais barato. Já existe uma previsibilidade de custo”, comenta.

“É preciso ressaltar que uma moeda comum pode ser uma boa coisa em mercados comuns, o que está longe de ser o caso do Mercosul”, aponta o diplomata Paulo Roberto. “Quando e se o Mercosul chegar nessa fase, talvez seja interessante uma moeda comum”, mas ele ainda se mostra cético, em especial porque numa união entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, o Brasil, sozinho, detém mais de 70% do mercado consumidor, o que inviabiliza a renúncia da soberania nacional sobre a moeda e o próprio mercado. “Você se prender a uma política comum para atender a um mercado secundário não é uma boa coisa”, analisa.

Não é a primeira vez

O governo Bolsonaro não foi o único a cogitar uma moeda comum sul-americana. O governo Lula (PT) também foi manchete por comentar tal possibilidade. O ex-secretário Welber lembra ainda de outras tentativas de unificação monetária. Uma delas foi nos anos 80 com o governo do ex-presidente José Sarney (MDB) com o uso do gaucho, uma moeda escritural entre Brasil e Argentina. Moeda escritural se equivale a depósitos bancários usados como forma de pagamento — cheques e cartões de crédito, por exemplo. De qualquer modo, nenhuma das tentativas foi efetivada.

Estando no governo Lula, Welber lembra que naquele período havia no Ministério alguns estudos e a possibilidade de criação de um Tribunal Arbitral para Investimentos, mas tudo era encabeçado pela União de Nações Sul-americanas (Unasul), não pelo Brasil. Com essa organização perdendo força, as ideias pararam no tempo.

Circula também a ideia de que, sendo o Brasil o maior dos países sul-americanos, é responsabilidade dele dar início a um programa político de criação de moeda única, mas Welber não vê o governo Bolsonaro interessado em tamanha empreitada. “Esse é um governo tipicamente isolacionista, então eu não espero nada positivo em geral, até por conta da pandemia e da crise (econômica). Ele (governo) está focado bastante numa agenda interna”, analisa.

“O Bolsonaro falou sobre criar a moeda do Mercosul ano passado. Eu não sei quem disse isso para ele, mas seguramente ele não tinha a menor ideia do que estava falando”, afirma Welber.

Paulo Roberto de Almeida tem uma opinião parecida sobre as manifestações do presidente e do ministro da Economia. Ele, inclusive, lembra de encontros com Paulo Guedes e, após ouvi-lo reclamar sobre o Mercosul, percebeu que o campo da política e economia internacional não era o forte do ministro. “O Paulo Guedes é um cara de mercado financeiro, de mercado de capitais, mercado de investimentos. Ele não entende de acordos internacionais, de economia política internacional, de tecnocracia, de estadismo, de diplomacia. Então o que o Bolsonaro e o Guedes falaram é uma bobagem monumental”, avalia.

Em junho de 2019, data das manifestações do presidente e do ministro, o chanceler Ernesto Araújo manifestou-se de forma esquiva, afirmando que “o Mercosul requer eficiência no comércio entre os membros, mas também que seja uma plataforma de abertura e de eficiência para o resto do mundo, como se vê em negociações estratégicas que estão perto de concluir, como a com a União Europeia”, segundo matéria da revista Veja.

Para Paulo Roberto de Almeida, um assunto como o de uma moeda comum “não pode ser política de governo, isso é uma política de Estado. Moeda é política de Estado”. Ele também afirma que o Itamaraty tem bons economistas, diplomatas e uma boa base de dados. “(a quantidade e qualidade de informações) do Itamaraty sobre o Mercosul e a União Europeia é perfeita”, destaca. O diplomata afirma que o chanceler Araújo deveria ser capaz de alertar ao presidente e ao ministro Guedes que a ideia de uma moeda comum é inviável. Paulo Roberto também recorda que Ernesto Araújo é um estudioso do Mercosul, inclusive com um livro sobre o tema publicado nos anos 90, e que o diplomata classifica como “muito bom”.

O livro mencionado chama-se Mercosul Hoje, publicado em 1998, pelos autores Sérgio Abreu, Lima Florêncio e Ernesto Henrique Fraga Araújo. O chanceler também possui sua tese, apresentada em 2008 no Instituto Rio Branco, intitulada O Mercosul: Negociações Extra-regionais.

Também em 2019, o Banco Central do Brasil emitiu nota sobre as declarações do presidente e do ministro da Economia. Na nota, é dito que “o Banco Central do Brasil não tem projetos ou estudos em andamento para uma união monetária com a Argentina. Há tão somente, como é natural na relação entre parceiros, diálogos sobre estabilidade macroeconômica, bem como debates acerca de redução de riscos e vulnerabilidades e fortalecimento institucional”.

 entrou em contato com o Banco Central do Brasil em busca de informações. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, “o posicionamento do BC continua o mesmo”.

A nota oficial pode soar vaga, mas antigos dirigentes do BC já se manifestaram sobre a ideia de uma moeda única. Foi o caso de Alexandre Schwartsman, que, em entrevista à Folha de S. Paulo, afirmou tratar-se de uma proposta sem sentido. Outra manifestação veio do também ex-dirigente do BC José Júlio Senna, no mesmo jornal. Ele afirma não ser otimista quanto ao resultado final de uma integração de moedas.