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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 6 de maio de 2021

O governo Bolsonaro está desmoronando - Celso Rocha de Barros (FSP, 3/05/2021)

Não tenho tanta certeza de que o governo esteja desmoronando. Pensei isso quando Sergio Moro pulou fora do barco, mas os bolsonaristas saíram rapidamente chamando o ex-juiz de "comunista", e se recompondo e continuando a atuar de forma quase normal.

Concordo com a maior parte do artigo, mas talvez não com este trecho: 
"O extremista Ernesto Araújo perdeu o Itamaraty e agora xinga o governo no Twitter."
Não tenho certeza de que o patético ex-chanceler acidental era um extremista, o que seria um pouco redutor para personalidade tão problemática. Para mim era um ultra-ideológico desequilibrado, incapaz de fazer de outra forma; talvez desesperado para ser aceito pelo bando de loucos, ignorantes, aloprados, e ele tinha de se rebaixar ao nível deles, para não demonstrar que os que mandavam nele eram idiotas terminais e cretinos fundamentais.
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Celso Rocha de Barros – O governo Bolsonaro está desmoronando

- Folha de S. Paulo

Resta-nos confiar no que ainda temos de burocracia profissional no país

No sábado (1º), velhos vacinados pelo Doria foram às ruas em apoio a Bolsonaro. Parabéns para os chineses: os manifestantes pareciam bem fisicamente, e seus evidentes problemas mentais eram claramente preexistentes.

Mesmo a maior manifestação, no Rio de Janeiro, não reuniu mais do que quatro ou cinco dias de brasileiros mortos durante a pandemia por culpa do governo Bolsonaro. Se a ideia era dizer “se tentarem derrubar Bolsonaro, terão de se ver conosco”, ninguém ficou assustado.

A demonstração de força dos bolsonaristas fracassou, mas o que interessa é que precisaram tentá-la. Eles sabem que Bolsonaro está perdendo.

O governo dos extremistas se desfaz a olhos vistos. Pela primeira vez na história, os chefes das Forças Armadas renunciaram conjuntamente em protesto contra o presidente da República. Logo depois, o Supremo Tribunal Federal tomou coragem e cumpriu seu dever constitucional obrigando o Senado a abrir a CPI do assassinato em massa. Bolsonaro manobrou para barrar a CPI, fracassou; manobrou para tirar Renan Calheiros da relatoria da CPI, fracassou.

A equipe econômica está se desintegrando em plena luz do dia, com demissão após demissão, uma fila puxada pelos melhores que só não termina em Guedes porque existe o inacreditável Adolfo Sachsida. O extremista Ernesto Araújo perdeu o Itamaraty e agora xinga o governo no Twitter. O vice-presidente Mourão deu uma entrevista ao jornal Valor Econômico em que declarou que não deve continuar na chapa na campanha da reeleição; defendeu, inclusive, a união em torno de uma terceira via para 2022.

Não há precedente para nada disso. Todo governo brasileiro que chegou perto desse ponto caiu antes de atingir esse grau de degeneração. E, no entanto, o governo Bolsonaro não cai.

No fundo, quem sustenta o governo Bolsonaro no momento é a Covid-19. O vírus impede manifestações de rua dos 70% do eleitorado que rejeitam Bolsonaro. E a mortandade causada pelo governo está tão fora de controle que as forças que poderiam organizar o impeachment não querem assumir responsabilidade pelo número imenso de mortes que Bolsonaro já contratou.

Mas se a Covid-19 segura Bolsonaro no Planalto, também impede que seu governo seja funcional, o que, sejamos honestos, já não seria fácil de qualquer maneira. O Brasil tem um grande problema de cuja solução depende a solução dos outros, a pandemia. Foi justamente esse o problema que Jair Bolsonaro desistiu de solucionar, porque já não comprou a vacina, já sabotou o isolamento social, e, a esta altura, não saberia corrigir-se se o quisesse.

Daí em diante, não há mais governo, só a mímica da rotina administrativa, a máquina rodando no vazio. A grande realização de Bolsonaro em 2021 foi aprovar o orçamento antes de maio.

Não há mais governo, e ninguém se dispõe a derrubar quem já desistiu de governar.

Resta-nos confiar no que ainda temos de burocracia profissional, no SUS, na Anvisa, nos governos estaduais, no Butantã, na Fiocruz. Que o medo da CPI pelo menos impeça Bolsonaro de continuar atrapalhando essa gente.

Minha aposta é que, depois do governo Bolsonaro, alguma palavra do português brasileiro entrará para as outras línguas como sinônimo de desastre.

Celso Pinto: um grande jornalista econômico - Cristiano Romero

Uma singela homenagem a um grande jornalista econômico. Excelente artigo de Cristiano Romero. 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Cristiano Romero - Celso Pinto 

- Valor Econômico

Jornalista foi crítico implacável do populismo cambal

Quando os grupos Globo e Folha anunciaram em 1999 parceria para criar um jornal de economia, o Brasil começava a sair do pesadelo que atormentava a todos desde o início daquele ano. Entre nós, jornalistas, havia apenas uma certeza quanto ao matutino, batizado mais tarde de "Valor Econômico" e lançado em 2 de maio do ano 2000: o projeto editorial seria concebido e comandado por Celso Pinto..

O Valor começou a circular num desses momentos de otimismo da economia. Mas, não foi sempre assim. Primeiro plano a realmente suceder no combate à inflação crônica que nos assolava desde o fim da década de 1970, o Real viveu sua primeira grande crise no começo de 1999, após acentuada e desorganizada desvalorização da moeda nacional, lançada havia apenas cinco anos, em relação ao dólar.

Fracassos seguidos dos planos de estabilização de preços forjaram nos brasileiros a sensação de que jamais teríamos inflação baixa. Cidadãos com menos de 40 anos não sabem o que é viver num país onde a inflação de apenas um mês chegou a 82,39% (IPCA em março de 1990) e, num ano, a 2.477,15% (1993). Depois dos reveses dos planos Cruzado I e II (1986), Bresser (1987), Verão (1989) e Collor I e II (1990 e 1991), o Real, lançado em 1º de julho de 1994, quando começou a circular a nova moeda, tornou-se um sopro de esperança.]

Evidentemente, nada acontece por acaso. Como já foi revelado neste espaço, o plano Real se beneficiou em boa medida de iniciativas que a última equipe econômica do governo Collor, sob a liderança do então ministro da Economia, Marcílio Marques Moreira, vinha tomando como parte da formulação de um novo plano de estabilização.

Um dos legados deixados à turma que formulou o Real foi a acumulação de um montante razoável de reservas cambiais, necessárias para proteger o valor da futura moeda de flutuações excessivas, que prejudicassem o controle da inflação. De outra forma, pode-se dizer que as reservas se constituíam instrumento crucial para conter ataques especulativos à moeda, expediente muito em voga, na ocasião, devido à liberalização da conta de capitais, processo ao qual o Brasil aderiu em 1991.

A liberalização da conta de capitais não tem duas faces, como pode parecer neste raciocínio. Trata-se de algo necessário, ponto. Sem isso, não acumularíamos reservas cambiais, que adiante se mostraram decisivas para o controle da inflação, e só teríamos acesso novamente a investimentos financeiros e produtivos se recorrêssemos a limitadas fontes multilaterais e bilaterais de crédito.

O sucesso do Plano Real se deve ao engenho de três economistas que participaram do Cruzado em 1986 - Persio Arida, André Lara Resende e Edmar Bacha - e de Gustavo Franco, então um jovem professor da PUC-Rio. Não se deve menosprezar, de forma alguma, o papel dos ex-ministros da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, Rubens Ricupero e Ciro Gomes, assim como o de profissionais como Murilo Portugal e Clóvis Carvalho.

Ainda assim, como disse Nelson Rodrigues, "toda unanimidade é burra". Diretor do BC responsável pela política cambial nos primeiros meses de circulação do real, Gustavo Franco constatou que a queda da abrupta da inflação melhorou radicalmente o humor de investidores em relação ao Brasil. Isso se traduziu num forte fluxo de capitais para o país.

Por essa razão, o real chegou a valer, no início de sua existência, "mais" que o dólar. Essa valorização teve dois efeitos: como os empresários fixavam seus preços com base no comportamento do dólar, a apreciação do câmbio "quebrou" a lógica da indexação existente na economia; o dólar barato, por sua vez, estimulou as importações, processo que também concorreu para moderar a alta dos preços internamente.

No entanto, em apenas cinco meses, o país voltou a ter saldos negativos significativos na balança comercial, reacendendo uma velha polêmica - a de que o Brasil, por não produzir poupança, está sempre fadado a sofrer crises cambiais.

Dentro da equipe econômica, o que se viu entre 1995 e 1999 foi intenso debate sobre os riscos de manutenção do real apreciado. A taxa de câmbio, que nos primeiros meses era flutuante, tornou-se quase-fixa em 1995, variando muito pouco nos anos seguintes. Consolidou a queda da inflação a patamares jamais vistos _ 1,37% em 1998 _, mas gerou rombos insustentáveis nas contas externas e públicas (num dado momento, para dar aos investidores a garantia de que o real seguiria valorizado, o governo emitiu centenas de bilhões de reais em papéis atrelados ao câmbio).

Em 1994, como revelou Persio Arida, Celso Pinto foi convidado a trabalhar na equipe econômica, não como assessor de imprensa, mas como uma testemunha de todo o processo de formulação do plano, em seu nascedouro, e durante os primeiros anos da nova experiência de estabilização. O compromisso era que, adiante, Celso escrevesse um livro.

Celso recusou a oferta porque, como relata Persio na apresentação de "Os Desafios do Crescimento: dos Militares a Lula" (Letras & Lucros, Publifolha e Valor Econômico, 2007), livro com colunas escritas pelo jornalista, optou por preservar sua independência e "ser percebido como um jornalista desvinculado de qualquer projeto político, por melhor que fosse".

Foi melhor assim. Do lado de cá da trincheira, Celso se tornou nos primeiros anos do Real um crítico implacável da política cambial que, amparada por juros estratosféricos, foi usada como âncora da estabilização de preços. Em janeiro de 1999, após rodada de crises na Ásia pouco mais de um ano antes e da moratória da Rússia em agosto de 1998, a realidade se impôs e o mercado derrubou as proteções do real, provocando desvalorização que fez os brasileiros acreditarem, mais uma vez, que a inflação não era apenas uma questão macroeconômica a ser enfrentada, mas uma maldição.

Celso era apaixonado por notícias de qualquer área. Para ele, não havia conversa jogada fora, em tempo algum. "Apure isso", "por que você não escreve isso?", indagava a seus repórteres. Apaixonado pelo que fazia, curiosamente, não devotava paixões por escolas de pensamento econômico. Dele não podia se dizer "é liberal" ou "é heterodoxo" ou "é nacional-desenvolvimentista".

O que guiava o jornalismo do Celso era a racionalidade e o respeito à aritmética, à Sua Excelência, o Fato, e à inteligência própria e alheia. Ao criar o "Centro Celso Pinto", o Insper deu grande contribuição ao debate de ideias num país tão carente de discussões sérias e racionais em prol do bem comum. Mais: homenageou o jornalismo econômico feito por aqui e saudou a liberdade de expressão, pilar da democracia.


quarta-feira, 5 de maio de 2021

Aviso aos navegantes: alerta contra um empreendimento OPORTUNISTA: Brazilian Journal of Development, máquina de sugar dinheiro de incautos

Recebi a mensagem abaixo (em itálico, in fine) em meu e-mail pessoal, convidando-me a publicar nessa revista um texto meu, que nem é artigo, como eles anunciam, e sim mera apresentação de Grupo de Pesquisas no Uniceub, onde sou professor.

Se eu concordar em "publicar" o meu texto, que já está disponível neste link: 

3823. “Desafios a um Brasil Global: reflexões do Grupo de Pesquisas no UniCEUB”, Brasília, 16 dezembro 2020; Apresentação oral e via transmissão online disponível no formato do YouTube, com respostas a questões enunciadas da audiência (link: https://www.youtube.com/watch?v=umLfEQSS0Oc&feature=youtu.be). Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44721231/3823_Desafios_a_um_Brasil_Global_reflexoes_do_Grupo_de_Pesquisas_no_UniCEUB_2020_).

eu ainda TERIA DE PAGAR R$ 490,00, pelo "privilégio" duvidoso de ter meu nome associado a um EMPREENDIMENTO OPORTUNISTA.

O pior é que junto com esse texto meu – que eles dizem que avaliaram e se tratava de um bom artigo – eles me mandaram mais dois e-mails semelhantes, para artigos que NÃO SÃO MEUS: 

1) Parabenizo pelo excelente artigo: “A EFICIÊNCIA DAS MEDIDAS DA POLÍTICA PÚBLICA FEDERAL DE INCENTIVO À MANUTENÇÃO E À CRIAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19”...

2) Parabenizo pelo excelente artigo: “A REFORMA INCOMPLETA DO DIREITO SINDICAL BRASILEIRO: O ESTRANGULAMENTO DO SINDICATO BRASILEIRO”, ...

     Minha recomendação: APAGUEM e DENUNCIEM essas mensagens oportunistas, destinadas a arrancar dinheiro de acadêmicos incautos.

Paulo Roberto de Almeida

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Prezados autores,

Parabenizo pelo excelente artigo: “DESAFIOS A UM BRASIL GLOBAL: REFLEXÕES DE UM GRUPO DE PESQUISAS NO UniCEUB”, publicado no “III Simpósio Internacional d e Pesquisa e XVIII Encontro de Iniciação Cienti¬fica do UniCEUB 2020”

Neste sentido, convidamos você a publicar seu artigo na revista Brazilian Journal of Development, revista avaliada pelo novo Qualis Capes único como B2, em 2019, e indexada em diversas bases como Latindex e Clase. O novo qualis ainda não foi atualizado na plataforma sucupira, mas você pode obter a listagem completa em: ou http://www.ppc.uem.br/qualis-2019 ou no aplicativo Chrome Qualis: 

Nossa revista pode ser acessada em seu site: 
https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD. Todos os artigos publicados recebem o seu identificador DOI. Nossa empresa é a Brazilian Journals Publicações de Periódicos e Editora Ltda., CNPJ n. 32.432.868/0001-57, e nossa revista está vinculada a Faculdade da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), além de ser a revista de divulgação oficial de trabalhos acadêmicos da Associação Comercial de São José dos Pinhais (ACIAP).

O critério de seleção de seu artigo, que já foi analisado e considerado como aprovado pelo nosso conselho editorial, baseou-se na relevância do seu trabalho e na contribuição que ele tem no campo de estudo abordado.
Em função do corte de recursos para a pesquisa nos últimos anos, a revista não possui apoio financeiro público. Assim, optou-se em solicitar a contribuição financeira de R$ 490,00 por artigo a ser publicado, destinada aos custos de diagramação, formatação, registro do DOI e manutenção da revista, contribuição a qual deve ser feita por meio de depósito bancário ou Paypal (cartão de crédito).

Aceitando o convite, basta responder este e-mail informando o interesse e o tipo de pagamento escolhido. As demais informações serão enviadas na sequência. Não há necessidade de formatar o artigo, a revista possui editores responsáveis para este fim. A revista é de fluxo contínuo para recebimento e publicação dos artigos, portanto, assim que os artigos são formatados e diagramados, estarão disponíveis online.
Em caso de dúvidas, estamos à disposição pelos telefones: (41) 3534-7401 ou
(41) 99591-3404 (trabalhamos com WhatsApp neste número).

Prof. Dr. Edilson Antonio Catapan
Editor-Chefe
Brazilian Journal of Development


US Dollar Share of Global Foreign Exchange Reserves Drops to 25-Year Low - Serkan Arslanalp and Chima Simpson-Bell (FMI)

 US Dollar Share of Global Foreign Exchange Reserves Drops to 25-Year Low

By Serkan Arslanalp and Chima Simpson-Bell

The share of US dollar reserves held by central banks fell to 59 percent—its lowest level in 25 years—during the fourth quarter of 2020, according to the IMF’s Currency Composition of Official Foreign Exchange Reserves (COFER) survey. Some analysts say this partly reflects the declining role of the US dollar in the global economy, in the face of competition from other currencies used by central banks for international transactions. If the shifts in central bank reserves are large enough, they can affect currency and bond markets.

Our Chart of the Week looks at the recent data release from a longer-term perspective. It shows that the share of US dollar assets in central bank reserves dropped by 12 percentage points—from 71 to 59 percent—since the euro was launched in 1999 (top panel), although with notable fluctuations in between (blue line). Meanwhile, the share of the euro has fluctuated around 20 percent, while the share of other currencies including the Australian dollar, Canadian dollar, and Chinese renminbi climbed to 9 percent in the fourth quarter (green line).

chart

 

Exchange rate fluctuations can have a major impact on the currency composition of central bank reserve portfolios. Changes in the relative values of different government securities can also have an impact, although this effect would tend to be smaller since major currency bond yields usually move together. During periods of US dollar weakness against major currencies, the US dollar’s share of global reserves generally declines since the US dollar value of reserves denominated in other currencies increases (and vice versa in times of US dollar strength). In turn, US dollar exchange rates can be influenced by several factors, including diverging economic paths between the United States and other economies, differences in monetary and fiscal policies, as well as foreign exchange sales and purchases by central banks.

The bottom panel shows that the value of the US dollar against major currencies (black line) has remained broadly unchanged over the past two decades. However, there have been significant fluctuations in the interim, which can explain about 80 percent of the short-term (quarterly) variance in the US dollar’s share of global reserves since 1999. The remaining 20 percent of the short-term variance can be explained mainly by active buying and selling decisions of central banks to support their own currencies.

Turning to this past year, once we account for the impact of exchange rate movements (orange line), we see that the US dollar’s share in reserves held broadly steady. However, taking a longer view, the fact that the value of the US dollar has been broadly unchanged, while the US dollar’s share of global reserves has declined, indicates that central banks have indeed been shifting gradually away from the US dollar.

Some expect that the US dollar’s share of global reserves will continue to fall as emerging market and developing economy central banks seek further diversification of the currency composition of their reserves. A few countries, such as Russia, have already announced their intention to do so.

Despite major structural shifts in the international monetary system over the past six decades, the US dollar remains the dominant international reserve currency. As our Chart of the Week shows, any changes to the US dollar’s status are likely to emerge in the long run.

Serkan Arslanalp is Deputy Division Chief in the Balance of Payments Division of the IMF’s Statistics Department. 

Chima Simpson-Bell is an Economist in the IMF’s Statistics Department.

Centro de Estudos Globais do IRel-UnB, mini-cursos e palestra de Paulo Roberto de Almeida

 

Centro de Estudos Globais - Universidade de Brasília

enviou uma mensagem sobre o evento:
Organizado por: Centro de Estudos Globais - Universidade de Brasília
Data: segunda, 26 de abril de 2021, 16h00 - 18h00
Local: Videoconferência via Sympla Streaming

Olá,

Nós agradecemos o seu interesse pela palestra "Relações econômicas externas e inserção econômica internacional do Brasil", proferida pelo Embaixador Paulo Roberto de Almeida em 26/04. O objetivo da mensagem é apresentar as nossas atividades, por meio do nosso website (http://www.estudosglobais.net). 


Palestra neste linkhttps://www.youtube.com/watch?v=_6HyhBtmkNc

Aproveitamos também para informar que há poucas vagas disponíveis para o curso "Escrever e Publicar um Artigo Científico - técnicas, roteiros e dicas para a publicação competitiva" (https://bit.ly/31Tdowh). O curso é uma iniciativa da nossa Revista Brasileira de Política Internacional, tem 20 horas de duração e se iniciará no próximo dia 24/05.



O Ocidente inseguro e a China em ascensão - Paulo Roberto de Almeida

 Uma reflexão sobre as incertezas ocidentais quanto à postura da China no sistema internacional numa conjuntura de alteração dos equilíbrios econômicos existentes nos últimos séculos 

Paulo Roberto de Almeida

É simplesmente FALSO que a China represente uma AMEAÇA a princípios e valores das democracias de mercado e às instituições do multilateralismo contemporâneo, como se o governo autocrático do PCC quisesse demolir as democracias existentes atualmente, ou como se a China estivesse desmantelando a ordem mundial criada por elas desde Bretton Woods. 

É uma grande HIPOCRISIA dos EUA transformar sua arrogância (hubris) e paranoia por motivos de um declinio relativo (ou perda de preeminência hegemônica absoluta) em mobilização de outras democracias avançadas num esforço coletivo para se CONTRAPOR aos progressos econômicos e tecnológicos da China. 

Quanto aos avanços militares da China, eles não se destinam a implantar o comunismo no mundo, mas a evitar que a nação chinesa seja novamente humilhada, como foi no passado, por outras potências dominantes.

O mundo ganharia muito, em especial os países em desenvolvimento, se houvesse total abertura econômica, liberalização comercial, disposição para a complementaridade real das grandes economias na divisão mundial do trabalho e no reforço das instituições multilaterais em prol de investimentos em capital humano nos países mais pobres (que são os que estão na origem das “exportações” indesejadas de seus excentes demográficos miseráveis para os países ricos).

É um EQUÍVOCO dos EUA e de outros parceiros avançados essa atitude confrontacionista vis-à-vis a China, quando ela não é uma potência “revisionista”, como foram os militarismos fascistas expansionistas da primeira metade do século XX, ao prosseguir em sua estratégia de plena inserção no status quo atual, que foi justamente criado pelas grandes potências democráticas de mercado ao favorecerem o multilateralismo, a globalização, o livre comércio e a exportação de capitais. 

Trata-se também de uma arrogância típica de países ocidentais seguros de seus valores e princípios fundamentados em regimes democráticos e nos direitos humanos achar que a China deva ter um sistema político que seja um reflexo dos seus.

Paulo Roberto de Almeida

Brasilia, 5 de maio de 2021


Postura anti-China dos ideólogos bolsonaristas dificultou combate à pandemia: ex-ministro Mandetta

 Mandetta responsabiliza Eduardo Bolsonaro e Itamaraty por dificuldade em negociar insumos com a China

Na época, o chanceler brasileiro era Ernesto Araújo, que pertencia à ala ideológica do governo
Por Renan Truffi e Vandson Lima, Valor — Brasília
Valor Econômico, 04/05/2021 

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) responsabilizou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, e o Ministério das Relações Exteriores (MRE) pelas dificuldades do governo brasileiro em negociar insumos com a China, durante a primeira onda do coronavírus.

Mandetta falou sobre o assunto hoje em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia. Na época, o chanceler brasileiro era Ernesto Araújo, que pertencia à ala ideológica do governo.

"Eu tinha dificuldades, por exemplo, nas relações com a China. Eu tinha um Ministério de Relações Exteriores que eu precisava muito porque eu era dependente de insumos que estavam na China, insumos que eu tinha que trazer para dentro do Brasil. Então, era mais do que necessário que nós tivéssemos um bom diálogo com a China. Tinha dificuldade com o ministro de Relações Exteriores. O outro filho do Presidente que é deputado, o Eduardo, tinha rotas de colisão com a China, através do Twitter, mal-estar", contou.

Segundo Mandetta, os filhos do presidente impediram que ele se reunisse com o embaixador da China, Yang Wanming, no Palácio o Planalto. "Eu fui até certo dia ao Palácio do Planalto, e eles estavam todos lá, os três filhos do presidente, e mais assessores que são assessores de comunicação. Disse a eles: 'Olha, eu preciso conversar com o embaixador da China, eu preciso que ele nos ajude, pedir uma reunião com ele. Posso trazer aqui?'. 'Não, aqui não'. Acabei fazendo por telefone. Eu ia fazer essa reunião na Opas, que é um mecanismo internacional. Isso era difícil", explicou.

Após essa afirmação, o ex-ministro foi questionado pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), se existia uma "oposição" ao diálogo com os chineses. "Existia uma dificuldade de superar essas questões", respondeu Mandetta. Ele deu a entender que essa "dificuldade" foi motivada por influência do ex-presidente norte-americano Donald Trump.

"No início [da pandemia], há uma viagem do presidente para a Flórida, e ele encontra o presidente Trump. Era um momento em que o Trump chamava o vírus de vírus chinês, havia um mal-estar da China com os Estados Unidos, e aqui, de alguma maneira, fazia-se esse tipo de conflitos com a China, que eu achava, naquele momento, que dificultava muito a boa vontade. Por isso eu fui até a Embaixada [da China], por isso eu liguei pedindo pessoalmente que eles ajudassem", complementou.

https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2021/05/04/mandetta-responsabiliza-eduardo-bolsonaro-e-itamaraty-por-dificuldade-em-negociar-insumos-com-a-china.ghtml

Marcelo de Paiva Abreu: professor emérito da PUC-Rio - História econômica do Brasil


 Por 37 anos de carreira acadêmica exemplar, foi concedido a MARCELO DE PAIVA ABREU o título de Professor Emérito da PUC-Rio.

Marcelo de Paiva Abreu é doutor em Economia pela Universidade de Cambridge e, desde o início da década de 1990, detentor de bolsa de produtividade em pesquisa nível 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Além de professor titular da PUC-Rio, foi professor ou pesquisador visitante nas universidades de Cambridge, Columbia (Rio Branco Chair, 1998), Illinois, em Urbana-Champaign, Modena, Oxford e Veneza. Em 2003-2004 foi Senior Expert in Trade and Integration no Banco Inter-americano de Desenvolvimento em Washington, D.C. Entre 1966 e 1981 trabalhou no IPEA e na Finep, instituição da qual foi diretor para a área científica. Foi membro do Grupo de Pessoas Eminentes da UNCTAD, Genebra, para tratar de assuntos relacionados a barreiras ao comércio. É membro do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e do Conselho Consultivo do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, ambos no Rio de Janeiro, e do Editorial Advisory Panel da Financial History Review. Foi representante do Brasil no Comitê Assessor da Comissão de Comércio, Organização de Estados Americanos, 1994-1996. É Comendador da Ordem de Rio Branco.  

Na PUC-Rio, o professor teve papel fundamental no processo de construção institucional do Departamento de Economia e da Universidade como um todo. Entre as muitas funções de administração acadêmica por ele desempenhadas, merecem destaque a de Diretor do Departamento de Economia, por sete anos, de 1990 a 1997, e a de membro da Comissão Central de Carreira Docente, em dois períodos relativamente longos: de 1987 a 1994 e de 2005 a 2011. Nos últimos anos, suas atividades letivas regulares concentraram-se em disciplinas de História Econômica, na pós-graduação, e de Economia Brasileira, na graduação. 

O professor tem extensa lista de publicações, envolvendo livros, capítulos de livros e artigos, no Brasil e no exterior, relativos a políticas comerciais e finanças brasileiras, latino-americanas e britânicas, tanto contemporâneas como em perspectiva histórica. 

Entre suas publicações, merecem especial destaque “Britain as a debtor: Indian Sterling Balances”, The Economic History Review, 70 (2), maio de 2017; “A ´blank cheque´? Portuguese Second World War sterling balances”, 1940-73, The Economic History Review, 67 (2), maio 2014; “O processo econômico” in A. de C. Gomes (org.), Olhando para dentro 1930-1964, volume 4 de L. M. Schwarcz (dir.), História do Brasil Nação: 1808-2010, Rio de Janeiro: Objetiva/Mapfre, 2013; “Brazil: The resilience of the Brazilian insurance market”, com Felipe Tâmega Fernandes, in P. Borscheid e N.V. Haueter (orgs.), World Insurance: the evolution of a global risk network, Oxford: Oxford University Press, 2012;“The Brazilian economy, 1930-1980”, “The Brazilian economy, 1980-1994” e, com R.L.F. Werneck, “The Brazilian economy form Cardoso to Lula: an interim view” in L. Bethell (org.), The Cambridge History of Latin America, Cambridge: Cambridge University Press, 2008; Comércio Exterior: Interesses do Brasil, Rio de Janeiro: Elsevier, 2007; “Brazil as a debtor, 1824-1931”, The Economic History Review, novembro 2006; “The external context” in V. Bulmer-Thomas, J. H. Coatsworth e R. Cortés-Conde (orgs.), The Cambridge Economic History of Latin America, Volume II. The Long 20th Century, Cambridge: Cambridge University Press, 2006; “The political economy of economic integration in the Americas: Latin American interests” in A. Estevadeordal, D. Rodrik, A. Taylor e A. Velasco (orgs.), The FTAA and beyond: prospects for integration in the Americas, Cambridge (Mass.): Harvard University Press, 2004.

Outras publicações selecionadas incluem: O Brasil e a economia mundial, 1930-1945, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999; “Trade in manufactures: the outcome of the Uruguay Round and developing country interests” in W. Martin e A. Winters (orgs.), The Uruguay Round and the developing countries, Cambridge: Cambridge University Press, 1996; Brazilian Long-term Economic Growth 1930-1994, com Dorte Verner, Paris: OCDE, 1997; ‘Brazil as a Creditor: Sterling Balances, 1940-1952’, The Economic History Review, agosto 1990; ‘Developing countries and the Uruguay Round of trade negotiations’, Proceedings of the World Bank Annual Conference on Development Economics, 1989; A Ordem do Progresso. Cem anos de política econômica republicana, 1889-1989, Rio de Janeiro: Campus, 1990 (org.). Esta última obra, que continua tendo enorme impacto entre estudantes de economia no País, foi objeto de edição revista e aumentada com o título, A Ordem do Progresso. Dois séculos de política econômica no Brasil, Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2014, incluindo novo capítulo de autoria do organizador em colaboração com Luiz Corrêa do Lago: “A economia brasileira no Império: 1822-1889”.

Há ainda publicações mais recentes, que não podem deixar de ser mencionadas: o livro eletrônico Da Gávea - Ensaios sobre o Brasil e a economia mundial, 1995-2016, Rio de Janeiro: Departamento de Economia, PUC-Rio, 2017, em que foram reunidos quase 500 artigos publicados pelo professor, desde 1995, no jornal O Estado de São Paulo; os capítulos de livro “Obsessão autárquica: visão a longo prazo do Brasil na economia mundial”, em José Carlos Carvalho, Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho, Pedro S. Malan e Regis Bonelli (orgs.), De Belíndia ao Real: Ensaios em homenagem a Edmar Bacha, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018; “Autarquia e novo papel do Estado”, em Edmar Bacha, José Murilo de Carvalho, Joaquim Falcão, Marcelo Trindade, Pedro Malan e Simon Schwartzman (orgs), 130 anos: Em busca da República, Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019; “De Vargas a Vargas” (em coautoria com Pedro Malan). em Edmar Bacha, José Murilo de Carvalho, Joaquim Falcão, Marcelo Trindade, Pedro Malan e Simon Schwartzman (orgs), 130 anos: Em busca da República, Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019.

A fertilidade do programa de pesquisa do professor continua evidenciada por vários Textos para Discussão mais recentes circulados pelo Departamento de Economia como “A dívida externa dos estados brasileiros, 1881-1943” TD n. 663, 27/12/2017 e “O Brasil Império e a economia mundial” TD n. 662, 12/12/2017. 

Especialmente importante é “Whose ‘pound of flesh’? Egyptian sterling balances, 1939-1958”, TD n. 661, 11/12/2017, que dá seguimento a uma linha de pesquisa na qual o professor vem persistindo há muitos anos. E que, ao complementar a tríade de seus artigos sobre sterling balances acumulados no Reino Unido por distintos países durante a Segunda Guerra Mundial, propicia rica contraposição dos diferentes formatos que a liquidação desses passivos externos britânicos assumiu em cada caso. Como mencionado acima, três desses artigos – “Brazil as a Creditor: Sterling balances, 1940-1952”, “A ´blank cheque´? Portuguese Second World War sterling balances, 1940-73” e “Britain as a debtor: Indian Sterling Balances, 1940-1953” – já mereceram publicação na conceituada The Economic History Review, em 1990, 2014 e 2017.

Por fim, é importante mencionar Brasil: patrimonialismo e autarquia. Rio de Janeiro: Editora Águas Férreas, 2020, em dois volumes, livro recente de ensaios, diversos deles inéditos em português, que reúne publicações diversas do professor em revistas nacionais e internacionais, bem como em capítulos de livros. No primeiro volume estão incluídos artigos gerais sobre a economia brasileira e suas relações com a economia mundial. No segundo, ensaios com foco em temas financeiros e comerciais.

terça-feira, 4 de maio de 2021

Tocqueville revisitado, sobre os dois grandes impérios - Alexis (para os íntimos), Paulo Roberto de Almeida

 Adaptando Tocqueville para o século XXI

Paulo Roberto de Almeida


No capítulo final da primeira parte de sua mais famosa obra, De la Démocratie en Amérique, o grande pensador liberal antecipa (ele escrevia em meados dos 1830) um desenvolvimento que só tomaria sentido a partir de 1946, ou seja mais de um século depois:

“Il y a aujourd’hui sur la terre deux grands peuples qui, partis de points différents, s’avancent vers le même but: ce sont les Russes et les Anglo-Américains. (...)

L’Américain lutte contre les obstacles que lui oppose la nature; le Russe est aux prises avec les hommes. L’un combat le désert et la barbarie, l’autre la civilisation revêtue de toutes ses armes. (...) 

Leur point de départ est différent, leurs voies diverses, mais néanmoins chacun d’eux semble appelé par un desseinnsecret de la Providence à tenir un jour dans ses mains les destinées de la moitié du monde.”


Quando Tocqueville escreveu estas linhas, a Rússia começava a se mover, e a China já enfrentava desde um século antes uma decadência que se arrastaria ainda por um século mais. 

Um Tocqueville revisitado — o que costumo fazer nos meus clássicos revisitados —, a partir dos anos 1990, colocaria a China no lugar da Rússia, sem dúvida alguma.

Pela releitura:

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 4/05/2021

Prejuízo de Bolsonaro à imagem do Brasil no mundo é em parte irreversível, diz Ricupero - Thais Carrança - da BBC News Brasil

 Prejuízo de Bolsonaro à imagem do Brasil no mundo é em parte irreversível, diz Ricupero

Thais Carrança - da BBC News Brasil em São Paulo

Mesmo que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seja derrotado nas urnas em 2022, uma parte do prejuízo causado por sua gestão à imagem do Brasil no exterior é irreversível, avalia o diplomata e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente Rubens Ricupero.

"O mundo se acostumou, durante décadas, desde o fim do governo militar, a ver que os governos que se sucediam no Brasil podiam ter prioridades distintas, mas todos tinham valores compatíveis. Todos tinham uma fidelidade aos princípios da Constituição, um engajamento em favor do meio ambiente, dos povos indígenas e dos direitos humanos", explica Ricupero.

"Essa confiabilidade foi perdida, porque, com a experiência Bolsonaro, ainda que ela termine no ano que vem, vai ficar sempre aquela dúvida sobre o futuro do Brasil. Até que ponto o Brasil não vai ter uma recaída nesse tipo de comportamento?".

Para Ricupero, que comandou a pasta do Meio Ambiente e da Amazônia Legal entre setembro de 1993 e abril de 1994, e esteve à frente do Ministério da Fazenda de março a setembro de 1994, sob o governo Itamar Franco (PMDB), o ultraliberalismo prometido pelo ministro Paulo Guedes nunca chegou a ser colocado em prática.

"Guedes nunca foi capaz de dar um rumo coerente à política econômica. Tanto é assim que, da equipe original dele, restam muito poucos", diz Ricupero.

"Estamos agora com uma economia que não cresce, e em que a única coisa que cresce são os preços dos alimentos, da gasolina, do diesel, a carestia da vida. Estamos, de novo, com a pior situação econômica que se possa imaginar, que é a combinação de estagnação com inflação", sentencia o ex-ministro.

Ricupero avalia que a notícia-crime aberta contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no caso da defesa de madeireiros ilegais da Amazônia não deve ser suficiente para derrubá-lo.

"Os madeireiros ilegais, os mineradores ilegais e os grileiros criminosos constituem uma das bases de apoio do governo Bolsonaro. Então, ao proteger esses criminosos, Salles está, na verdade, solidificando essa base", afirma.

Ricupero ministra nesta terça-feira (04/05), às 19h, a aula inaugural do curso "História da Diplomacia Brasileira", que será oferecido pelo Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais). O curso terá desconto de 50% para mulheres, com o objetivo de incentivar a presença feminina no meio diplomático.

"Agora que nos livramos do [ex-ministro das Relações Exteriores] Ernesto Araújo, temos que recuperar nosso patrimônio, que durante dois anos e pouco foi espezinhado e esquecido por essa fase de pesadelo pela qual passou o Itamaraty", diz Ricupero, quanto à relevância do curso neste momento.

"Como acontece na pandemia, é só quando nos falta o ar que respiramos, que nós valorizamos a capacidade de respirar. A mesma coisa acontece na diplomacia. Agora, estamos valorizando uma coisa que nós perdemos durante pouco mais de dois anos."

Confira os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil - O senhor disse no passado que há uma contradição inerente entre uma política econômica ultraliberal e uma política externa antiglobalista. Passados mais de dois anos de governo Bolsonaro, é possível dizer que, nesse embate, o liberalismo foi o derrotado?

Rubens Ricupero - A promessa do liberalismo nunca foi aplicada nesse governo. Como nas demais áreas, é um governo sem rumos. Que tem uma inspiração vagamente liberal, mas com desvios muito frequentes.

Vê-se, por exemplo, que houve muito pouca privatização, apesar das promessas repetidas. As reformas que tinham sido anunciadas não saíram do papel. A situação fiscal, contrariamente aos postulados liberais, tem se agravado cada vez mais.

Não se pode dizer que seja uma política econômica efetivamente liberal. É uma política econômica confusa, com sinais contraditórios, e que foi atropelada pela pandemia. No começo da crise, até respondeu razoavelmente, com o auxílio emergencial. Mas depois se perdeu totalmente.

Estamos hoje com uma condição econômica que é a pior de todas, porque o país não cresce - é uma exceção no mundo, onde todas as economias estão se recuperando com um ritmo bastante vigoroso. E, ao mesmo tempo que não cresce, estamos assistindo ao agravamento da inflação. Quer dizer, voltamos à situação de estagflação que tivemos há alguns anos. É esse o resumo que se pode dar da política econômica do governo.

BBC News Brasil - O senhor tem expectativa de alguma mudança de rumo na política externa com a saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores?

Ricupero - Houve uma mudança que é bem-vinda, que merece até aplauso. Porque o caso do Ernesto é que ele agravava uma situação que já era difícil. Pelos próprios postulados da política que ele adotou. Uma visão distorcida da realidade do mundo, teorias conspiratórias. Mas, além disso, ele agregava um fator pessoal: era um militante dessa seita mais lunática que nós temos, que são os seguidores do Olavo de Carvalho. Isso tudo, felizmente, acabou. Há uma sensação de alívio.

O Itamaraty, hoje em dia, tem uma atmosfera muito mais positiva do que tinha antes. E o próprio estilo dos documentos, dos pronunciamentos, melhorou bastante.

O que não mudou é a substância dessa política. Porque uma política externa não pode nunca ser dissociada da política interna. A política externa tem maior ou menor êxito, se a política interna estiver indo bem. Os grandes momentos da política externa do Brasil no passado coincidiram com momentos em que o país estava muito bem na economia, na política, no social, no cultural.

Atualmente, mesmo que a política externa tenha mudado um pouco no estilo de discurso, a política geral é muito ruim. Nós continuamos com essa crise. Com o presidente atuando como ele sempre atuou. E, sobretudo, há um aspecto que não se pode esquecer nunca: boa parte da imagem péssima que o Brasil tem no exterior vem das questões ambientais e das questões próximas a essa, como o tratamento aos povos indígenas. Ora, isso não mudou em nada.

Nós continuamos com a mesma política, ou falta de política. A devastação da Amazônia cresce, como vimos no mês de março, que foi o pior mês para o desmatamento nos últimos dez anos, apesar de ser ainda a estação das chuvas na Amazônia.

Então, devido a esses sinais que vêm do meio ambiente, da política indigenista, dos direitos humanos, da deterioração da situação social, é muito difícil que a política externa, deixada a si mesma, possa fazer alguma coisa. Pode pelo menos evitar de agravar o quadro, que era o que acontecia com o Ernesto. Mas, mais do que isso, não vejo possibilidade de acontecer.

BBC News Brasil - É possível reverter o efeito da gestão Bolsonaro sobre a imagem do Brasil no exterior? E há como recuperar nosso soft power?

Ricupero - Neste governo, não. Eu não acredito que isso possa acontecer, porque também não creio que o presidente vá mudar de personalidade, de caráter, de opinião, de grupos apoiadores.

Nada disso vai acontecer. Então, até a eleição, não vejo nenhuma possibilidade de que essa situação melhore. Depois das eleições, isso pode suceder, desde que haja a eleição de um governo mais "normal", digamos, entre aspas. De um governo que volte a colocar o Brasil nos trilhos. E que seja capaz de adotar políticas diferentes, em meio ambiente, em povos indígenas, em direitos humanos, em igualdade de gênero, e assim por diante.

A partir de uma mudança interna, pode-se fazer um esforço para melhorar a nossa imagem externa. Isso é perfeitamente factível. Mas vai demorar muito. Vai ser um trabalho gigantesco e, eu diria que uma parte do prejuízo é irrecuperável, é irreversível. Essa parte que se devia à continuidade e à confiabilidade do Brasil e da sua política externa.

O mundo se acostumou, durante décadas, desde o fim do governo militar, a ver que os governos que se sucediam no Brasil podiam ter prioridades distintas, mas todos tinham valores compatíveis. Todos tinham uma fidelidade aos princípios da Constituição, um engajamento em favor do meio ambiente, dos povos indígenas e dos direitos humanos.

Essa confiabilidade foi perdida, porque, com a experiência Bolsonaro, ainda que ela termine no ano que vem, vai ficar sempre aquela dúvida sobre o futuro do Brasil. Até que ponto o Brasil não vai ter uma recaída nesse tipo de comportamento que nós assistimos nos últimos anos.

BBC News Brasil - O senhor chegou a prever nos anos anteriores que o Brasil poderia sofrer boicotes e represálias em suas exportações agrícolas, pela forma como Bolsonaro tem gerido a questão ambiental. Isso não só não se concretizou, como o Brasil tem exportado mais commodities agrícolas do que nunca, com a ajuda da desvalorização cambial. A necessidade global de alimentos se sobrepõe à agenda verde que as grandes potências dizem agora ser prioridade?

Ricupero - Em parte sim. O que você diz é verdade, sobretudo em relação à China e aos asiáticos. Porque, de fato, o aumento das exportações brasileiras de soja, de milho, de minério de ferro, se deveu sobretudo à China, não a outros países. Para outros destinos as exportações têm caído.

No caso da China, de fato, é um país que olha mais a sua própria demanda. Mas, mesmo aí, existe uma incerteza em relação ao futuro, porque as grandes empresas importadoras chinesas, as tradings, já anunciaram que vão começar a ter uma política de traçar a origem dos produtos que elas importam. Então, à medida que a China possa diversificar suas fontes de suprimento, haverá alternativas aos fornecedores brasileiros.

Mas as represálias que o Brasil já está sofrendo não são apenas medidas comerciais. As medidas comerciais são o último limite. É aquilo que acontece quando realmente a situação chega a um ponto muito, muito grave.

Mas a verdade é que, devido a essas políticas que o governo Bolsonaro tem seguido, o Brasil hoje já se converteu numa espécie de "pária" do mundo. Isso se vê agora na pandemia.

Há poucos dias, o jornal Washington Post publicou um artigo muito interessante comparando a solidariedade do mundo com a Índia na pandemia, com a falta de resposta em relação ao Brasil. O jornal dizia que é chocante de ver.

Os Estados Unidos estão se mobilizando, aprovaram mais de US$ 100 milhões em ajuda e medicamentos para a Índia. Alemanha, França, Inglaterra estão mandando aviões especiais, recheados de produtos de ajuda. Enquanto isso, em relação ao Brasil, não há nenhum movimento comparável, apesar de o número de mortes no Brasil ser maior do que o da Índia.

Por quê? Porque o Brasil se tornou um país rejeitado pelo mundo. Então, é óbvio que, na hora que o Brasil precisa, não existe da parte do mundo exterior, uma reação de solidariedade. E é por isso que eu diria que o castigo pelo que nós fazemos já é evidente. Não é alguma coisa que virá depois. É algo que já está acontecendo.

BBC News Brasil - O que muda para a política externa e ambiental brasileira com a chegada de Joe Biden ao poder nos Estados Unidos?

Ricupero - Muda o discurso. Vê-se isso já na carta que o presidente Bolsonaro enviou alguns dias antes da Cúpula do Clima, no dia 22 de abril.

Na carta, ele disse coisas que são o contrário do que ele vinha dizendo até então. Fala no compromisso em combater o aquecimento global. Reafirma o compromisso do Brasil do Acordo de Paris, de pôr fim ao desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Esse compromisso tinha sido retirado das promessas brasileiras pelo Ricardo Salles, em dezembro de 2020. O que mudou entre dezembro de 2020 e abril de 2021? A posse do Biden.

Então mudou o discurso e a promessa. Mas não mudaram as políticas, as verbas para combater o desmatamento, o desprestígio do Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis], as atitudes de impedir que os fiscais do Ibama cumpram o seu dever. Então, são promessas retóricas. Superficiais. Como se dizia antigamente, "para inglês ver". Só que hoje é "para americano ver".

BBC News Brasil - E que balanço o senhor faz da Cúpula do Clima?

Ricupero - A cúpula foi muito importante, porque mudou a agenda mundial por completo. Nós perdemos quatro anos no combate ao aquecimento global devido ao governo Trump. Então era preciso um gesto dramático para fazer com que a questão voltasse a ocupar o centro da agenda mundial. Isso foi feito pela Cúpula do Clima.

Ela não tinha o objetivo de produzir resultados negociados. Porque esses resultados terão que ser produzidos no final do ano, no mês de novembro, na reunião de Glasgow, na Escócia, quando haverá a COP-26. O passo seguinte ao Acordo de Paris.

Na reunião de Glasgow é que vamos ter que ir além, porque os compromissos de Paris somados não vão permitir atingir a meta que está no preâmbulo do acordo, que é limitar o aumento da temperatura global a apenas 1,5 grau. Atualmente, pelos compromissos de Paris, vamos ter um aumento de 4 graus. Portanto, é preciso ir muito, muito além.

BBC News Brasil - O senhor acredita que o ministro Ricardo Salles deve novamente sobreviver à crise gerada pela notícia-crime aberta contra ele no caso da defesa de madeireiros ilegais?

Ricupero - Aparentemente sim, porque os madeireiros ilegais, os mineradores ilegais e os grileiros criminosos constituem uma das bases de apoio do governo Bolsonaro. Então, ao proteger esses criminosos, ele está, na verdade, solidificando essa base.

Não vi até agora nenhum sinal de que algo mude. E, ainda que mude, só a mudança do ministro não resolve nada. Se for para trocar o Ricardo Salles por um outro general Pazuello [Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde] ou alguma pessoa parecida, não resolveria.

É preciso mudar o ministro para alguém melhor, mas mudar também a política. Ter o compromisso de querer, de fato, acabar com o desmatamento, com a mineração ilegal, com a grilagem. Voltar a prestigiar os fiscais do Ibama e do Instituto Chico Mendes. Voltar a aprovar um plano como o que a [ex-ministra do Meio Ambiente] Marina Silva aplicou e que permitiu baixar a destruição de mais de 12 mil, pra menos de 4 mil quilômetros quadrados. Esse plano existia, mas foi abandonado. Ele tem que voltar.

Então, é isso que precisaria. E não vejo sinais de que vá acontecer, infelizmente. Não há nada além de promessas vagas, imprecisas, sem nenhum compromisso objetivo.

BBC News Brasil - E como o senhor avalia a gestão de Paulo Guedes à frente da Economia?

Ricupero - É um grande desapontamento. Desde a campanha, ele sempre criou expectativas exageradas, até por causa do estilo pessoal que ele tem.

Ele, por exemplo, dizia, antes de tomar posse, que iria zerar o déficit público brasileiro em um ano. E como é que ele pretendia fazer isso? Ele pretendia privatizar e vender os imóveis do governo federal. Em cada caso, segundo ele, produziria mais de R$ 1 trilhão. Ora, tudo isso eram fantasias. Fantasias de quem nunca tinha passado pelo Ministério da Fazenda.

Quem já passou pelo ministério, como eu, sabe a dificuldade que existe para privatizar uma só companhia. Quanto mais todas. Então, tudo isso se desfez ao contato da realidade.

Ele nunca foi capaz de dar um rumo coerente à política econômica. Tanto assim que, da equipe original dele, restam muito poucos. A maioria daqueles que o acompanharam foram gradualmente deixando o governo. E muitos admitiram que faziam isso porque viram que nada daquela intenção original ia ser transformada em algo de concreto.

O balanço melhor não é o balanço que se faz com palavras, é o balanço dos fatos. E o fato é que nós agora estamos com uma economia que não cresce. Em que a única coisa que cresce são os preços dos alimentos, da gasolina, do diesel, a carestia da vida.

Nós estamos, de novo, com a pior situação econômica que se possa imaginar, que é a combinação de estagnação econômica com inflação.

BBC News Brasil - A pandemia deve resultar num retrocesso histórico na desigualdade e nos avanços conquistados por mulheres e pela população negra nas últimas décadas. O que precisará ser feito para se reverter esses retrocessos nos próximos anos?

Ricupero - Será necessário um esforço gigantesco. Porque o retrocesso não é só nessas áreas que você mencionou e que são de fato uma realidade. Há um retrocesso em algo mais surpreendente: na expectativa de vida. É a primeira vez em mais de 100 anos que a expectativa de vida no Brasil vai recuar dois anos praticamente.

A mortalidade tem sido gigantesca e, em alguns casos, a perda é irrecuperável. Por exemplo, nas tribos indígenas, boa parte da cultura tradicional, das tradições, e até do conhecimento da língua, está concentrado nos mais idosos, que são os que estão desaparecendo muito rapidamente.

É claro que uma parte dessas mortes teria sido inevitável, mas uma quantidade gigantesca de pessoas que adoeceram e morreram poderiam ter sido poupadas, se desde o início tivéssemos seguido os caminhos corretos de combate à pandemia.

Se tivesse existido uma coordenação de políticas do governo central, com Estados e municípios. Tivesse se adotado confinamento no momento certo e com o nível de rigor necessário. Se tivesse aumentado o número de testes e, uma vez comprovadas as pessoas infectadas, se tivesse feito o acompanhamento para evitar que essas pessoas infectassem outras. Se tivéssemos adotado no momento certo a decisão de comprar vacinas, quando a Pfizer, por exemplo, nos ofertou 70 milhões de doses.

Se tudo isso tivesse sido feito, o número de mortes seria muito menor. Infelizmente, perdeu-se essas oportunidades. E agora, no futuro, um novo governo terá que redobrar os esforços durante anos, para que possamos recuperar o nível em que estávamos e que perdemos. Eu não sei quantos anos vai demorar. Mas, seguramente, não serão poucos.

BBC News Brasil - Muitos economistas liberais têm defendido a necessidade de o liberalismo contemplar a questão social e ter a desigualdade como foco, para que a agenda liberal possa ganhar maior adesão na sociedade. Alguns, como Armínio Fraga, têm inclusive defendido políticas como uma renda básica para pelo menos metade da população brasileira. Como o senhor vê esse redesenho do liberalismo nacional?

Ricupero - É bem-vindo. Mostra que o liberalismo, se bem entendido, não é de forma nenhuma excludente de uma consciência social aguda.

E acho que esses economistas têm razão de que é necessário sintetizar os inúmeros programas que nós temos. Porque, para poder ter um programa como o Armínio aconselha, de renda básica, é preciso examinar bem os diferentes programas sociais que o Brasil tem - e são muitos - e avaliar quais os mais exitosos, que atingem mais a população alvo, como é o caso do Bolsa Família.

Outros programas que não são tão eficazes devem ser descontinuados, para poder concentrar os recursos e ter um programa que seja de fato coerente e bem desenhado. Que procure cobrir toda a população carente, de maneira satisfatória, mas acabando com os desperdícios, acabando com os paralelismos de vários programas que às vezes desperdiçam recurso.

Portanto, precisa de muita racionalidade. Não se vê hoje no governo capacidade de fazer isso.

E não é difícil. Olhando para o Biden, nos Estados Unidos, por exemplo, temos um bom modelo. Os americanos estão focando muito claramente nas crianças pobres, porque um dos aspectos mais graves dos problemas sociais, que tende a perpetuar a miséria, é a miséria da infância.

Então, há muitos modelos que poderiam ser adotados no Brasil. Mas é preciso convocar pessoas capazes de desenhar esses programas, para concentrar os recursos naquilo que realmente vai ter frutos imediatos.

Que é mirar nas crianças pobres, nas famílias com crianças, nas famílias que passam fome. Em todos aqueles que constituem essa gigantesca parte da população carente, que não têm um emprego regular e que sobrevivem, sabe lá Deus como, através de bicos, da economia informal, sem carteira assinada, sem direitos, sem garantia de aposentadoria, sem nada.

É isso que nós temos que fazer. Uma racionalização da política social.

BBC News Brasil - Por fim, o senhor participou no ano passado de um movimento de ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central pressionando por uma retomada verde da economia no pós-pandemia. Vimos movimentos semelhantes de ex-ministros da Saúde, do Meio Ambiente e da Educação de governos diversos, unidos contra as políticas da atual gestão. O senhor acredita que esses movimentos serão suficientes para criar um projeto alternativo ao bolsonarismo em 2022?

Ricupero - Suficientes, creio que não. Mas são necessários. São passos em direção a esse objetivo.

Isso começou, na verdade, com os ex-ministros de Meio Ambiente. O nosso grupo foi criado ainda na época da discussão do Código Florestal, no governo Dilma Rousseff [PT]. Os outros movimentos se inspiraram no nosso, inclusive esse a que eu também pertenço, de ex-ministros da Fazenda.

O que isso indica? Indica que a totalidade das pessoas que passaram pelo setor público no Brasil reprova a linha atual.

E reprova por quê? Porque esse governo é o primeiro que rompe com toda a continuidade que nós tínhamos, desde que começou a Nova República, com o final da ditadura militar, em 1985.

Desde então, todos os governos que se sucederam - uns com mais êxito, outros com menos - tinham a mesma visão, o mesmo projeto de Brasil, que é o da Constituição. Não precisa outro. A Constituição tem o projeto de Brasil que nós queremos. É preciso dar cumprimento a ela.

Esse governo se divorciou desta linha de continuidade. E inaugurou uma linha que é contrária ao espírito e, às vezes, à própria letra da Constituição.

Então nós temos que restabelecer aquele rumo claro constitucional, através de eleições que produzam um governo capaz de dar ao Brasil uma visão coerente, articulada, racional do seu futuro. E que consiga promover uma melhoria da vida das pessoas, para que elas se engajem nesse projeto. Mas isso vai depender das eleições. Enquanto elas não chegarem, nós infelizmente vamos ter que continuar a multiplicar essas tomadas de posição.

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56977603


Os novos bárbaros e a falsa defesa da soberania nacional - Paulo Roberto de Almeida

 Os novos bárbaros e a falsa defesa da soberania nacional

 

Paulo Roberto de Almeida

Comentários esparsos sobre fraudes nas redes sociais


 

Circulou pelas redes sociais uma “notícia” sobre uma suposta interferência do embaixador da China no caso de um assessor fundamentalista bolsolavista que está arriscado de demissão, pois que participou, com o Bananinha 03 e o infeliz ex-chanceler acidental, da destruição da diplomacia brasileira, desde o final de 2018 até o início de 2019. Postei a manchete, ainda que me pareceu suspeita, apenas me permitindo ironizar como sendo a segunda “bola na caçapa”, pois é evidente que a primeira, por parte de um coletivo de senadores, também foi causada pelos potenciais prejuízos causados ao agronegócio brasileiro em vista da postura ideológica de trio aloprado. A tropa dos “novos bárbaros”, que infesta de modo caoticamente organizado as redes sociais, pretendeu fornecer lições de “soberanismo explícito”, às quais respondi com uma série de comentários cumulativamente dispersos (isto é, sem um ordenamento lógico).

Permito-me simplesmente alinhar esses comentários, sem qualquer objetivo de apresentar um quadro linear no que se refere às denúncias que cabe fazer contra os aloprados da bolsodiplomacia, que deliberada ou inconscientemente, alienaram a soberania brasileira a uma potência estrangeira, ou mais especificamente a um dirigente americano, já devidamente votado para fora do governo da maior democracia ocidental.

 

Os “novos bárbaros” continuam agressivamente atacando as bases do conhecimento científico e das evidências empíricas, patrocinando um ataque geral à racionalidade ou ao simples bom senso. Eles estão em todas as frentes, na área médica, nas políticas setoriais, na diplomacia (até 29/03).

Bolsonaristas enchem a boca com seu soberanismo abstrato quando cometeram traição à pátria, ao submeter cada uma das grandes decisões nacionais em comércio internacional, nas votações da ONU, nas relações com outros países, aos interesses dos EUA, atuando como vassalos de um presidente megalomaníaco. 

Como considerar atos de soberania decisões de política externa totalmente sujeitas ao escrutínio estrangeiro como fizeram o Bananinha 03, o Robespirralho e o capacho do chanceler acidental, ao prestar, várias vezes, vassalagem a Trump? Eles isolaram o Brasil do mundo, um pária internacional.

Vergonha dos bolsolavistas ignorantes ao abandonar qualquer defesa do interesse nacional em troca da subordinação às vontades do Trump; não trouxeram nenhuma vantagem ao Brasil, só derrotas: conseguiram nos desentender com TODOS os grandes parceiros do país; um fracasso completo!

Quem passeou com bandeiras de duas potências estrangeiras, pedindo a imbecilidade da “intervenção militar constitucional”? Quem seguiu vergonhosamente cada determinação do Departamento de Estado, até acertar com eles o discurso na AGNU? Não têm vergonha da submissão, de serem capachos?

Aliás, quem foi mesmo que falou “I love you Trump”? E quem foi aquele discípulo do Rasputin de Subúrbio que mandou comprar etanol e trigo americano para ajudar numa certa eleição? E que renunciou a ter presidente do BID brasileiro para eleger um sub do sub do Trump?

Aliás, quem disse que o Brasil já virou um “protetorado chinês” foi aquele guru destrambelhado da Virgínia. Os bolsolavetes debiloides que cospem fogo por aqui não vão acusar o desgoverno atual de rendição a uma potência estrangeira? Por algumas toneladas de soja?

Esses caras não souberam das instruções do patético ex-chanceler acidental para que a China retirasse seu embaixador de Brasília; os chineses devem estar rindo até hoje. Vão lhe oferecer um curso gratuito de mandarim num Instituto Confúcio, a CIA da ditadura chinesa. Vai fazer?

Nos bons velhos tempos em que eu criticava o lulopetismo diplomático, os petistas achavam que eu estava a serviço da CIA. Agora, os idiotas que defendem o bolsolavismo diplomático querem saber quanto a China me paga. E eu ainda continuo usando carro velho, comprando seminovos.

Os exaltados com a soberania não têm nada a dizer do “I love you Trump”; da obediência às “instruções” de Trump em todas as circunstâncias, de uma base militar americana no Brasil à aventura eleitoreira na Venezuela, etanol americano, submissão automática ao Departamento de Estado?

Finalmente, quem acha que o Trump iria salvar o Ocidente? Só mesmo um idiota bolsolavista totalmente submisso aos interesses americanos e ao Bananinha 03. Teve de se desdizer no seu “balanço” mentiroso, ao pretender não ter grudado nos EUA e hostilizado a China! 

A própria oposição ideológica ao nosso maior parceiro comercial – um dos motivos da queda do chanceler acidental – já é uma prova evidente da submissão total à paranoia americana, não uma defesa dos interesses nacionais. Bolsolavistas entreguistas: quem mandou seus dirigentes alienarem a soberania nacional a uma potência estrangeira, ficando a ela submissos até a derrota final do Grande Mentecapto? Por que os militares não os derrubaram como traidores da pátria que foram? Covardes, uns e outros?

Nada a dizer sobre certos aspones do alto mandarinato que poderiam facilmente ser enquadrados na categoria de agentes de uma potência estrangeira? Os arquivos a desvelar um dia vão confirmar a suspeita, aliás evidente desde já prima facie. Basta ler certas “notas” diplomáticas...

O Gabinete do Ódio já foi melhor na preparação das ofensivas nas redes; o pessoal anda destreinado; não combinam antes como é que vão atacar um contrarianista. Precisam voltar para um supletivo para aprenderem pelo menos a escrever: envergonham até a mãe com esse linguajar chulo! Tem muito nervosinho nestas paragens, defendendo causas que estavam em voga nos anos 1930 em certos países (o que eles provavelmente ignoram). Alguns até ficam pateticamente indignados quando seus “argumentos” são confrontados: não esperavam ser ridicularizados. “Menos” pessoal!

Quanto menos os caras têm algo de inteligente para oferecer ao debate, mais eles se encrespam com o que não combina com suas ideias fixas e suas obsessões geopolíticas e ideológicas. Deveriam tomar chá de camomila e se dedicar mais à sua própria ilustração.

 

Meu lema preferido: Nulla dies sine linea, segundo Plínio, isto é, nenhum dia sem escrever. O que é bem diferente de nenhum dia sem uma mentira grosseira, num “portugueis” estropiado, sempre atacando inimigos imaginários, e contribuindo para aumentar o sofrimento da nação, quando não mortos!

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4 maio 2021