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segunda-feira, 7 de março de 2022

“Começou a Terceira Guerra Mundial” - Ricardo Dantas

 

Não sei você, meu amigo leitor, mas, eu não durmo bem uma noite desde que Vladimir Putin ordenou que as tropas russas invadissem a Ucrânia, no último dia 23/02/2022. Depois de ficar dizendo por meses que faria apenas um “exercício militar” com duas centenas de milhares de soldados nas fronteiras ucranianas, bem como depois de ter taxado as declarações dos EUA e da Europa como “histeria”, Putin simplesmente deliberou invadir um país vizinho, soberano.

Conforme se verifica em qualquer consulta básica de história na internet[1], Rússia e Ucrânia compartilham um ancestral cultural comum: a “Rússia de Kyiv”, uma confederação de tribos eslavas da idade média que se estabeleceu no leste europeu. Após subsequente invasão mongol no século 13 e a conquista polonesa-lituana do território da atual Ucrânia, os dois povos passaram séculos separados até serem unificados pelo Império Russo entre os séculos XVI e XVIII. Com o colapso do Império Russo na revolução de 1917 e a ascensão da União Soviética em 1922, foram criadas uma série de repúblicas para subdividir o país; entre elas, a da Ucrânia.

Em 1991, com o fim da União Soviética, cada ex-república se tornou um estado independente. Então, depois de alguns séculos sob o jugo russo, os ucranianos puderam finalmente constituir seu próprio estado soberano a partir de um referendo, com 90% dos ucranianos votando pela independência. Depois, em 1994, a Ucrânia entregou as mais de 1.600 (mil e seiscentas) ogivas nucleares soviéticas em seu solo à Rússia, o que só foi feito mediante a garantia de que suas fronteiras seriam respeitadas – constituindo o Memorando de Budapeste.

Ocorre que, nos anos posteriores, a Ucrânia iniciou um movimento de aproximação com o ocidente. O sucesso de países vizinhos que ingressaram na União Europeiadespertou em boa parte da população o desejo de seguir o mesmo caminho. Tanto que, em 2013, após um recuo nas negociações com o bloco europeu, ocorreram enormes protestos que levaram à deposição do presidente Víktor Yanukóvytch e à ascensão de um governo mais pró-ocidente. Entretanto isso deixou Putin furioso! Então, em 2014, grupos separatistas armados e financiados pela Rússia tomaram o controle territorial de partes das regiões de Donetsk e Luhansk, ambas pertencentes à Ucrânia. Ademais, Putin invadiu e anexou à Rússia a península da Crimeia (que integrava a Ucrânia desde 1954, por deliberação do ex-líder da URSS, Nikita Khrushchov).

Veja bem, caro leitor, não vou ficar aqui explicando a fundo o que seja a OTAN(Organização do Tratado do Atlântico Norte) – isso também está disponível na internet[2]. Basta dizer que é um tratado militar de autodefesa constituído por uma aliança que abarca 30 países, incluindo EUA, Canadá, Reino Unido e diversas outras nações do continente europeu. A organização foi criada em 1949, no período da chamada “Guerra Fria”, sob a liderança dos EUA, em oposição à extinta União Soviética. Com o fim do bloco comunista em 1991, alguns dizem que o papel da OTAN teria “perdido seu sentido”… Entretanto, como a Rússia seguiu sendo um país de dimensões continentais (o maior em território no planeta[3]), bem como seguiu detendo mais de 6 mil ogivas nucleares[4](cerca de 4 mil em arsenal ativo e o restante em “desmantelamento”), além do fato de ter no seu governo um tirano que já está no Poder há mais de 20 anos e atende pelo nome de Vladimir Putin[5] (que pode inclusive superar Stálin), os membros da OTAN não só mantiveram sua aliança como a expandiram, com novas adesões, especialmente no leste europeu, onde os países têm justamente o fundado receio de uma intervenção russa – seja por meio da desestabilização política e a subsequente eleição de “biônicos” de Putin, como na Belarus[6]; seja por meio da invasão pura e simples de seu território, como ocorreu na Ucrânia.

A questão é que, uma vez que a Ucrânia iniciou conversas no sentido de passar a integrar a OTAN, Vladimir Putin principiou a ameaçar a soberania daquele país. E agora, como sabemos, deu início a uma invasão militar total do seu território, sob o pretexto de que iria “desnazificar” e “desmilitarizar” a Ucrânia (lembrando que o presidente eleito Volodymyr Zelensky é judeu[7]). Enfim, Putin utilizou-se dessas desculpas esfarrapadas para por em curso sua grande ideia.

Fiona Hill, uma das maiores experts em Rússia no continente americano, pessoa que trabalhou tanto para o governo Republicano quanto para o Democrata (nos EUA), e que estudou a carreira e a biografia de Vladimir Putin por décadas, disse em entrevista à Politico Magazine[8], que a “grande ideia” de Putin hoje é reestabelecer o Império Russo, cujas dimensões são inclusive maiores do que as terras que compuseram a antiga União Soviética. Segundo ela, o líder russo estou mapas antigos, revisitou tratados e desenhos territoriais e, agora, está querendo redefinir toda a geopolítica mundial, o que vem fazendo de modo “passional” e “progressivo” – e isso com um grande arsenal atômico a seu dispor. Segundo Fiona Hill, “toda vez que você pensar ‘não, ele não faria, faria?’” (o uso de armas atômicas) – “bem, sim ele faria!”. Para ela nós precisamos nos preparar para esse cenário, pois será algo que vamos ter que encarar… A pesquisadora ainda concluiu a longa entrevista concedida dizendo que: “nós já estamos no curso da 3ª Guerra Mundial, independentemente de termos ou não compreensão total disso”.

Yuval Noah Harari, professor israelense de História e autor de diversos livros best-sellers, complementa a ideia exposta por Fiona Hill, em artigo recente, publicado no periódico The Guardian, intitulado: “Porque Vladimir Putin já perdeu esta guerra”[9]Ali ele explica que o sonho de Putin é “reconstruir o Império Russo” e, para tanto, tem repetido incessantemente a mentira de que “a Ucrânia não é uma nação real, que os ucranianos não são um verdadeiro povo, e de que os habitantes de Kyiv, Kharkiv and Lviv anseiam por viver sob as regras/ordens de Moscou”. Harari esclarece, em seguida, que “a Ucrânia é uma nação com mais de mil anos de história, e Kyiv já era uma grande metrópole quando Moscou ainda não era sequer uma vila”. Ele ainda finaliza dizendo: “o déspota russo tem dito essas mentiras tantas vezes que aparentemente passou a acreditar nelas”. É algo triste, mas, é uma constatação empírica!

Não se iluda, amigo leitor, Putin vai vencer essa batalha na Ucrânia, afinal, detém um arsenal bélico extraordinariamente superior àquele com o qual conta o país invadido, para se defender. Porém, já está experimentando custos muito maiores do que os inicialmente projetados. E, de acordo com Harari, apesar de ganhar a batalha, Moscou perderá a guerra que iniciou. De toda sorte, como principiou a guerra, seguramente Putin vai conduzir a batalha na Ucrânia até o fim. Ele inclusive parou os ataques à capital Kyiv por alguns dias porque, antes, pretende dar cabo de seu plano de constituir um país autônomo (“independente”), no sul da Ucrânia, que já tem até nome “Novarrossia” (ou Nova Rússia). A tomada militar das cidades ucranianas de Odessa, Kherson, Melitopol e Mariupol formará uma espécie de “ponte terrestre”, ligando as regiões de Donetsk e Lugansk à península da Crimeia (veja mapano link da reportagem da Folha[10]). Ou seja, a tomada territorial da Ucrânia, iniciada em 2014, terá sido concluída agora em 2022, o que ensejará um novo país marionete de Moscou ao sul da Ucrânia. Em seguida, Putin derrubará o regime democrático neste último e colocará no governo um “biônico” de seu agrado. Isso vai impedir, de uma vez por todas, que a Ucrânia se levante no futuro. Dividi-la é parte do plano.

Acontece que Vladimir Putin, apesar de hábil e inteligente, não controla o restante do mundo civilizado, livre e democrático. E nem possui bola de cristal, de modo a saber, de antemão, todo e cada passo que as demais nações podem adotar. E foi justamente por isso que, mesmo tendo empregado seu poder de “veto” no Conselho de Segurança da ONU, acabou sendo condenado.

A Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução contra a invasão da Ucrânia pela Rússia, pelo placar de 141 votos a favor, 5 contra e 35 abstenções, no dia 02/03/2022[11]. Aliás, diga-se de passagem, os únicos países que deram seu aval à invasão praticada pela Rússia foram a própria Rússia, além de Belarus (cujo ditador é uma marionete de Putin), Síria(onde a Rússia banca o ditador local há anos), Coreia do Norte (a ditadura comunista mais fechada do mundo) e Eritreia (um Estado de partido único no qual eleições legislativas nacionais nunca foram realizadas desde a independência). Enfim, basicamente a Rússia ficou sozinhanessa…

Não foi só isso! Dezenas de países pelo mundo aplicaram pesadíssimas sanções econômicas[12] contra a Rússia em virtude da absurda invasão da Ucrânia, assim como o fizeram centenas de empresas multinacionais – tudo por livre deliberação de cada qual. Quer dizer, o país que é governado por Vladimir Putin foi alijado do mercado financeiro global (não consegue pagar nem receber em suas relações econômicas, sejam públicas ou privadas); suas aeronaves civis e seus navios mercantes (próprios ou alugados) sequer podem sobrevoar ou navegar/aportar no território de diversas nações mundo afora; seus cidadãos não terão mais acesso a uma infinidade de mercadorias vendidas globalmente, como eletrodomésticos e eletroeletrônicos, além de serviços variados, como os prestados por NetflixApple e Google, p.ex.; as empresas locais não terão acesso a uma plêiade de matérias-primas, bem como não conseguirão comprar peças de reposição. Enfim, a Rússia se tornou o maior pária global, cuja economia será severamente afetada. E isso implicará num rápido empobrecimento de sua população, especialmente a classe média. Mas, mesmo Putin e os magnatas que o apoiam tiveram bens bloqueados no exterior.

O próprio povo russo aparenta estar contra essa guerra desvairada principiada por Putin. Há dezenas de relatos de manifestações contrárias dentro do território Russo. Estima-se que mais de dez mil cidadãos russos tenham sido presos em razão de terem tomado parte em tais protestos nas ruas. Dentre eles há a prosaica e triste história de Elena Osipova[13], de 77 anos, ativista e sobrevivente do Cerco a Leningrado (praticado pelos nazistas contra os soviéticos na 2ª Guerra Mundial). Ela foi presa em um protesto em São Petersburgo contra a invasão russa à Ucrânia. Quer dizer, esta senhora sobreviveu ao pior ditador-invasor externo e, agora, luta para combater um ditador-invasor interno, que pode acabar com a Rússia em razão de sua postura lunática.

O líder oposicionista a Putin, Alexei Navalny, disse em uma rede social[14]“Estou conclamando todo mundo a ir para as ruas e lutar pela paz” (…) “Se, para impedir a guerra, nós precisarmos encher as prisões e as viaturas da polícia, vamos encher as prisões e as viaturas da polícia. Nós, a Rússia, queremos ser uma nação de paz. Infelizmente, poucos nos chamariam assim agora. Mas pelo menos não vamos nos tornar uma nação de silêncio assustado, covardes que fingem não notar a guerra de agressão desencadeada por nosso czar, obviamente insano”.

Enfim, não há como defender a invasão russa à Ucrânia, amigo leitor. E não é apenas este colunista quem diz isto, mas, o mundo todo: nações, empresas e pessoas (inclusive as russas!). Então, não fique do lado de Putin, JAMAIS!! Não há lugar sequer para “neutralidade” ou “abstenção” num cenário como o que vivemos hoje. A China comunista ficou em cima do muro[15]porque tem muito a ganhar com a dependência russa, que advirá com o embargo econômico acima descrito. Quer dizer, a China será a grande “vencedora” nesta sórdida guerra iniciada por Putin – vai ter os maiores benefícios sem precisar dar um tiro! Todo o restante do planeta sairá perdendo (inclusive você). A começar pelo fato de que, como eu, muitos serão obrigados a servir no grande combate que se avizinha, nessa 3ª Guerra Mundial já iniciada.

Segundo excelente artigo de Thomas Friedman para o Estadão[16], a batalha travada na Ucrânia pode ser o evento mais transformador na Europa desde a 2ª Guerra Mundial e o confronto mais perigoso para o mundo desde a crise dos mísseis cubanos. Ele projeta três cenários possíveis para o final desta história: um “desastre total”, “compromissos sujos” ou “salvação”. O cenário de desastre é o que se desenrola agora – a menos que Vladimir Putin mude de ideia ou seja dissuadido, ele parece disposto a matar quantas pessoas forem necessárias, obliterar a Ucrânia como um estado e cultura independentes e erradicar sua liderança – tal cenário poderia desencadear crimes de guerra em uma escala não vista na Europa desde os nazistas; O segundo cenário é aquele em que, de alguma forma, os militares e o povo da Ucrânia são capazes de resistir à blitzkrieg – e as sanções econômicas começam a afetar a economia de Putin, de modo que ambos os lados se sentem compelidos a aceitar concessões sujas – em troca de um cessar-fogo e da retirada das tropas russas, os enclaves no leste da Ucrânia, atualmente sob controle russo, poderiam ser formalmente cedidos à Rússia (ou, como dito, transformados num novo “país”), enquanto a Ucrânia se comprometeria a nunca se juntar à OTAN; Finalmente, o cenário menos provável, mas o de melhor resultado: talvez o povo russo mostre bravura e compromisso com sua liberdade e traga a salvação mundialdepondo Putin – muitos russos devem estar começando a se preocupar que, enquanto Putin for seu líder, eles não terão futuro.

Perceba, caro leitor, que o cenário da “salvação” é quase impossível. Já aquele que preconiza o fim da batalha mediante “concessões sujas” é o mais provável (Putin já está quase lá, aliás). Porém, ele não acaba com a guerra em si, afinal, as sansões contra a Rússia seguirão valendo. Além disso, a batalha da Ucrânia levará a uma nova corrida armamentista mundial (inclusive Alemanha e Japão irão se rearmar, já a partir deste ano de 2022 – PESQUISE!!). A OTAN, ao contrário do que pretendia Putin, ganhou novo impulso e terá novas adesões em breve, como a Suécia e Finlândia. E o clima de “Guerra Fria” turbinada vai forçar a tomada de posição mundo afora (até mesmo a Suíça saiu da neutralidade, caro leitor), numa nova configuração geopolítica na qual qualquer fagulha poderá desencadear o armagedom. Lembre-se: a 2ª Guerra Mundial foi uma sequência de eventos, como em qualquer outra. Levou-se anos para a carnificina total se instaurar, mas, as sementes do mal começaram a ser plantadas muito antes, com invasões nazistas. De certa forma, o cenário atual é um assustador flashback, como frisou Fiona Hill.

Então, hoje, o que temos de mais concreto é que estamos firmes a caminho do “desastre total”, ou seja, a grande batalha da 3ª Guerra Mundial.Tanto é assim que a Rússia não deu a mínima quando bombardeou bairros residenciais inteiros para sitiar cidades ucranianas, ou quando furou o bloqueio civil e passou por cima do povo que pretendia impedir o avanço das tropas[17], ou quando bombardeou a maior usina nuclear do continente europeu[18] – o que poderia causar um desastre dez vezes maior do que aquele ocorrido em 1986 em Chernobyl[19]. Há inclusive relatos da utilização de bombas termobáricas[20]pelos russos em solo ucraniano, o que é de uma vileza poucas vezes vistas na história da humanidade. Aliás, o presidente francês, Emmanuel Macron, chegou à conclusão de que “o pior ainda está por vir”[21], após ter conversado ontem, por uma hora e meia, com Vladimir Putin em ligação telefônica.

“Talvez isso seja o inferno”, resumiu o ucraniano Oleg Rubak[22], que perdeu a esposa Katia num bombardeio russo realizado na cidade de Jitomir, a 150 km ao oeste de Kyiv. Ele brincava com a filha de um ano e meio no quarto de casa quando uma bomba caiu na parte dos fundos, matando sua esposa de 29 anos. O jovem viúvo disse à reportagem: “Preciso ser forte! Quero apenas que todo o mundo saiba o que aconteceu comigo”Isso é o que aguarda a todos nós…

Lendo essas palavras tristes, caro leitor, me recordei de duas coisas assustadoras, que no atual estágio das coisas, por alguma razão, me parecerem totalmente linkadas entre si, vejamos:

1) “Inverno nuclear”[23] foi uma expressão criada por um grupo de pesquisadores que relataram um suposto cenário climático da Terra depois de uma possível guerra nuclear em nível mundial. Mesmo no verão, as temperaturas tenderiam a uma redução para níveis muito abaixo do ponto de congelamento da água. A luz do dia seria drasticamente reduzida e essas condições poderiam durar vários meses, além de se espalharem para regiões muito distantes das atacadas, inclusive no Hemisfério Sul. Com a luz do sol bloqueada, a agricultura ficaria comprometida, dando origem a uma grande crise de abastecimento em todo o mundo que poderia durar alguns anos. Além disso, os ecossistemas do planeta seriam abalados, com um impacto inestimável sobre toda a diversidade de seres vivos. Graves prejuízos à saúde da população sobrevivente poderiam trazer doenças e mortes. Então, aqueles que não sucumbirem às armas nucleares em si, terão enormes chances de sucumbir às suas consequências.

2) “Helheim”[24], na mitologia nórdica, representa a casa dos mortos desonestos, ladrões, assassinos e aqueles que os deuses e deusas entendem que não são corajosos o suficiente para ir a Valhalla ou Folkvangr. Helheim é governado pelas malvadas Godhas Hel e representa um lugar muito sombrio e frio – qualquer pessoa que ali chegar nunca mais sentirá alegria ou felicidade. Hel usará todos os mortos em seu reino em Ragnarök para atacar deuses e deusas, num evento que implicará no fim do mundo.

Enfim, caro leitor, espero que não endosse a atitude de Putin. Há um inferno de gelo à frente!

Referências:

[1]https://novo.org.br/explica/russia-e-ucrania-um-resumo-da-historia-e-do-conflito/?utm_campaign=jornal_-_25022022_-_filiados&utm_medium=email&utm_source=RD+Station

[2]https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/02/24/o-que-e-a-otan.ghtml

[3]https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/os-maiores-paises-mundo.htm

[4]https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60564958

[5]https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53259155

[6]https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60587864

[7] https://exame.com/mundo/de-comediante-a-alvo-no-1-quem-e-zelensky-presidente-da-ucrania/

[8]https://www.politico.com/news/magazine/2022/02/28/world-war-iii-already-there-00012340

[9]https://www.theguardian.com/commentisfree/2022/feb/28/vladimir-putin-war-russia-ukraine

[10]https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2022/03/putin-ja-redesenha-o-mapa-da-ucrania-enquanto-kiev-espera-assalto.shtml

[11]https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/03/02/assembleia-geral-da-onu-aprova-resolucao-contra-invasao-da-russia-pela-ucrania.ghtml

[12]https://www.cnnbrasil.com.br/business/a-aposta-de-us-1-trilhao-do-ocidente-para-acabar-com-a-economia-russa/

[13]https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/03/02/policia-russa-prende-sobrevivente-do-cerco-a-leningrado-durante-protesto-contra-a-guerra-na-ucrania-veja-video.ghtml

[14]https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/03/02/policia-russa-prende-sobrevivente-do-cerco-a-leningrado-durante-protesto-contra-a-guerra-na-ucrania-veja-video.ghtml

[15]https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/03/02/china-nao-vai-aderir-a-sancoes-contra-russia-diz-orgao-regulador-bancario.ghtml

[16]https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,ha-tres-cenarios-para-o-fim-da-guerra-na-ucrania-leia-o-artigo-de-thomas-friedman,70003996053

[17]https://g1.globo.com/globonews/jornal-globonews-edicao-das-18/video/nyt-ucranianos-formam-barricada-para-bloquear-tropas-russas-e-video-mostra-ataque-aereo-na-ucrania-10351047.ghtml

[18]https://g1.globo.com/mundo/ao-vivo/guerra-ucrania-russia-putin-invasao.ghtml

[19]https://br.noticias.yahoo.com/negocia%C3%A7%C3%B5es-sobre-cessar-fogo-terminam-172012494.html

[20]https://www.bbc.com/portuguese/internacional-60581680.amp

[21]https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2022/03/03/macron-acredita-que-o-pior-ainda-esta-por-vir-na-ucrania-apos-ligacao-com-putin.htm

[22]https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2022/03/03/sob-as-bombas-na-ucrania-oleg-lamenta-a-morte-de-sua-esposa-e-deseja-inferno-a-putin.htm

[23]https://www.infoescola.com/geografia/inverno-nuclear/#:~:text=%22Inverno%20nuclear%22%20foi%20uma%20express%C3%A3o,do%20mundo%20bipolar%20de%20ent%C3%A3o.

[24] https://mitologia-nordica.net/cosmologia-nordica/os-nove-mundos-na-mitologia-nordica/

FOTO: https://www.google.com/search?q=hitler+e+putin+ucr%C3%A2nia&rlz=1C1GCEA_enBR918BR918&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwikzv-B96z2AhUaHrkGHaiDBLYQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1366&bih=657&dpr=1#imgrc=yIB8gALj9llBuM

Ricardo Dantas

Ricardo Dantas

Advogado


União Europeia: as várias camadas do bloco europeu - Visual Capitalist

European Union

The European Union (EU) is a unique economic and political union between 27 European countries.

First created as the European Economic Community in the aftermath of WW2, the organization’s main focus was to foster economic cooperation. The idea was simple: countries that trade with one another and become economically interdependent are more likely to avoid conflict.

Beginning with six countries in 1958, the European Economic Community has since added 21 more countries (the UK left the EU in 2020), with a primary focus on single or internal markets.

Here are the countries that comprise the European Union:

Here are the countries that comprise the European Union:


 As of 2021, NATO officially recognizes three aspiring NATO members: Bosnia and Herzegovina, Georgia, and Ukraine. Ukraine has voiced its desire to join NATO since 2014 but hasn’t met its political and military criteria.

Eurozone

The eurozone is a geographic and economic region that consists of countries that have adopted the euro as their national currency. Approximately 340 million people live in the euro area.

Today, the eurozone consists of 19 countries of the European Union. Here they are:


Os motivos de Putin para sua agressão à Ucrânia - Rose Gottemoeller (Bulletin of Atomic Scientists)

A autora faz uma pequena lista de todos os motivos que podem ter impulsionado Putin ao deslanchar sua guerra de agressão contra a Ucrânia.

Eu ficaria num dos motivos que impedem o Putin de ser destituído: a falta da tradicional gerontocracia do PCUS que antigamente controlava o Estado, a ponto, inclusive de escolher que poderia encarnar o poder do Partido depois de Stalin. Sabemos, por exemplo, que o Diretório do PCUS escolheu Kruschev, em lugar de Beria (que foi friamente assassinado) para dirigir o partido e o país, o império. Kruschev reprimiu a revolta húngara, em 1956, mas depois se mostrou covarde no enfrentamento dos EUA por ocasião da crise dos mísseis soviéticos em Cuba, em 1962. Foi demitido pelo Politburo, e substituído por Brejnev, que foi até o fim, e depois substituído por dois outros gerontocratas, até eles escolherem alguém mais jovem, Gorbatchev. Em sua carreira, Brejnev expandiu a presença soviética no mundo, reprimiu o "socialismo com face humana" na Tchecoslováquia, e tratou de se implantar na África, apoiando diversos ditadores no continente. Também se meteu no Afeganistão, possivelmente um de seus erros mais fragorosos, mas que os ingleses já tinha cometido e os americanos bem depois.

Atualmente, Putin está como Stalin, solitário no poder, que mantém com o terror sobre todos os que o apoiam. Vai ser difícil demitir o insano tirano. A comunidade internacionacional precisa saber dito.

Paulo Roberto de Almeida


What’s eating Putin?

Rose Gottemoeller

 The Bulletin of Atomic Scientists, 5/03/2022


As horrific and needless violence unfolds in Ukraine, my friends, family, colleagues, and media from around the world have all been asking the same questions: What’s eating Putin? What has driven him to start the largest war in Europe since World War II? What is driving him to threaten World War III, including the use of nuclear weapons?

 

My answer has been: It’s complicated. No single answer fully accounts for the display we are seeing of Vladimir Putin’s anger and grievance. Many Russian experts who know Putin well have been commenting on his mindset, but I want to lay out how I think about the picture. As I see it, at least eight different factors account for Putin’s erratic and dangerous behavior:

 

Genuine nostalgia. Putin has done a lot to stir up nostalgia for Russia’s imperial past and the nationalist trappings that go with it—Russian Orthodoxy, protection of Russian-language speakers, and conservative interpretations of Russian national identity. His 6,000-word treatise last summer on Moscow’s undying links to “Staraya Rus’”—now inconveniently located in independent Ukraine—is his clearest articulation of this nostalgia. He conveys the notion that Russians and Ukrainians are one people, ignoring opinion to the contrary.

 

Righting past wrongs. Putin has famously said that the demise of the Soviet Union is the greatest tragedy of the 20th century. He holds in contempt Gorbachev and Yeltsin, two Russian leaders who let the Soviet republics go to seek whatever measure of independence and sovereignty they could achieve. The Crimean invasion in 2014 was one of his earliest efforts to right past wrongs. In 1997, a treaty between Russia and Ukraine established that the borders of Ukraine would be those of the former Soviet Republic of Ukraine, which included Crimea. Putin reportedly argued fiercely against this outcome at the time, and so his 2014 invasion of Crimea can be seen as his first step in righting past wrongs.

 

A different reality. Putin is surrounded by a fortress-like inner circle that has long jealously guarded what information gets to the boss. Its members are allergic to wider viewpoints breaching the wall and Putin likes it that way. He no doubt genuinely believes at this point that NATO promised not to expand to the east, although his intimate experience with NATO should lead him to know otherwise. In 2002, Putin signed the Rome Declaration, which led to over a decade of pragmatic cooperation benefitting both NATO and Russia. By that time, NATO was already through its first waves of expansion to former Warsaw Pact countries and the Baltic States. This history seems to have been wiped from Putin’s memory.

 

Scorn for Ukraine’s leadership and system. Ukraine has evolved into a messy but vibrant democracy that Putin cannot understand. Its leader is a comic, its electoral system uncontrollable, its government, including security services, reforming in directions inexplicable to him—except they are taking Ukraine farther and farther from Russia’s orbit. The Ukrainians do not jump any more when Putin says so.

 

The global bully. In 2007, Putin brought his black Lab Koni into a meeting with Angela Merkel, because he knew she was deathly afraid of dogs. She was indeed frightened, visibly so, and he thus solidified his reputation as a bully. As Merkel commented at the time, “I understand why he has to do this—to prove he’s a man…He’s afraid of his own weakness.” That sounds like the classic definition of a bully. Now he’s playing the global bully, frightening the world with the Russian army and fierce threats of war. It is what he knows how to do best, and it pays off for him.

 

“Look at Me.” China has been astride the world stage, throwing its wealth around, building up its military, broadcasting that it owns the 21st century. This behavior has alarmed the 20th century superpower, the United States, which has duly pivoted to Asia. Prior to the current crisis, President Biden and his administration barely mentioned the word “Russia” in their talk about their foreign policy priorities. Putin does not like disappearing from sight and so has done what he can do—brandish his military might, insisting that the world “look at me.”

 

Domestic bargaining. Putin is 70 years old this year. He has reached the late stage of autocracy, when he constantly has to balance and bargain among powerbrokers who need him to sustain their own power but are jockeying already to succeed him. He also has a public steadily less trustful of his government. He has to keep everybody off balance, and claiming an existential external threat is a time-honored way to do so.

 

Real frustration. When Putin was first briefed on the nature of the Conventional Armed Forces in Europe Treaty (CFE), he reportedly got angry that the limitations in the treaty meant that he could not move his own forces around on Russian territory. The “flank limits” were designed to keep Russia from concentrating its forces close to the borders of NATO countries, against Norway or Turkey, for example. These NATO countries were also prevented from concentrating forces against Russia, but that did not stop Putin’s anger, which led Russia to declare in 2007 that it would no longer abide by CFE. In the current crisis, he has frequently said that he must have the right to move his own forces around on Russian territory.

What’s eating Putin is therefore a dangerous brew: part personal grievance, part bullying behavior, part scorn for his adversaries, and part dictates for staying on top in the Russian system. Given his grave isolation, a part may also be his sense of genuine threat. Trying to back him off this precipice will take a good deal of finesse. No foreign counterpart has found the means thus far to tempt him off the cliff, although many have tried. President Macron of France is still trying. Perhaps now that China has taken an interest in facilitating diplomacy between Ukraine and Russia, President Xi Jinping will be the hero of the tale. That would be interesting. 

Diplomatas da gestão Bolsonaro celebram “apoio” de chanceler de Lula - Igor Gadelha (Metrópoles)

 Itamaraty abandonou a defesa do Direito Internacional, por pressão do Planalto, e essa postura une a direita bolsonarista e a esquerda petista, numa aliança de conveniência e oportunista que acaba se traduzindo numa postura "tucana", isto é, em cima do muro, indiferente, portanto, à Carta da ONU e às tradições, valores e princípios de nossa política externa. Fica feita minha denúncia.

Paulo Roberto de Almeida

Diplomatas da gestão Bolsonaro celebram “apoio” de chanceler de Lula
Atual gestão do Itamaraty comemora semelhanças entre sua posição sobre a Rússia e a de diplomatas ligados a opositores do governo Bolsonaro
Igor Gadelha
Metrópoles, 07/03/2022
Diplomatas brasileiros do alto escalão do Itamaraty têm celebrado, nos bastidores, as semelhanças entre as posições da atual gestão do Ministério das Relações Exteriores e de diplomatas ligados a partidos de oposição ao governo Jair Bolsonaro em relação à invasão russa na Ucrânia.
Integrantes da gestão Bolsonaro no Itamaraty ressaltam, principalmente, a posição do ex-ministro Celso Amorim, diplomata que foi chanceler brasileiro durante o governo Lula. Em entrevista à colunista Bela Megale, de O Globo, Amorim se colocou contra a adoção de sanções econômicas aos russos.
“Sou contra as sanções. Não vão resolver nada e criarão mais problemas para o mundo. O que tem que haver é a abertura do diálogo. Alguém que o presidente Vladimir Putin ouça precisa entrar nisso, talvez a China. Todos vamos ser afetados com o aumento de preços de fertilizantes, alimentos, entre outros itens”, disse o ex-chanceler.
A declaração de Amorim foi vista por atuais integrantes da cúpula do Itamaraty como um “apoio” à posição adotada pela atual gestão sobre o conflito. Em entrevistas recentes, o chanceler Carlos França defendeu que a posição do Brasil tem sido de “equilíbrio”, e não de “neutralidade”, como disse o próprio Bolsonaro.
Diplomatas que atuam na gestão Carlos França também destacam, nos bastidores, declarações dadas pelo ex-embaixador Rubens Barbosa, que comandou a embaixada do Brasil nos Estados Unidos durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Na semana passada, Barbosa elogiou a atual postura do Itamaraty.
Segundo o ex-embaixador, “o Itamaraty está fazendo prevalecer a linha tradicional da chancelaria” perante o conflito no Leste Europeu. “O Itamaraty está atuando dentro de suas linhas, com uma posição muito clara sobre questões essenciais, como soberania e integridade territorial”, afirmou Barbosa ao jornal O Globo.
“Caminho certo”
Na avaliação da atual cúpula do Itamaraty, diante da “polarização política” existente no Brasil, as semelhanças de posicionamento e os elogios feitos por diplomatas ligados a opositores de Bolsonaro seriam demonstrações de que o Ministério das Relações Exteriores adotou “o caminho certo” perante o conflito na Ucrânia.
Essa comparação, no entanto, não agrada a todo mundo no atual governo. Como mostrou a coluna, auxiliares presidenciais que dão expediente no Palácio do Planalto admitem, nos bastidores, que a possível semelhança de posições apontada por adversários políticos tem repercutido mal na base bolsonarista.
Críticas a Bolsonaro
Tanto Rubens Barbosa quanto Celso Amorin, no entanto, fizeram críticas à postura e às falas de Bolsonaro em relação à Rússia. Logo antes da invasão da Ucrânia, o presidente brasileiro foi a Moscou e declarou, ao lado de Putin, que os brasileiros eram “solidários à Rússia”.
Bolsonaro também tem evitado condenar diretamente a Rússia pela invasão. Até agora, o Brasil condenou a ação russa em território ucraniano apenas por meio de posições no Conselho de Segurança, no Conselho de Direitos Humanos e na Assembleia-Geral da ONU.
Diplomatas da atual gestão do Itamaraty minimizam as críticas. Dizem que o que importa é a posição oficial do Brasil nos organismos internacionais, sobretudo no Conselho de Segurança, instância adequada para se discutir questões de conflitos entre nações. “O resto é procurar pelo em ovo”, diz um diplomata.

domingo, 6 de março de 2022

Rubens Ricupero: "O interesse de Putin é destruir o sistema internacional criado após o final da Guerra Fria - entrevista com Marco Antonio Villa

Blog ADL

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06 março 2022

Rubens Ricupero: "O interesse de Putin é destruir o sistema internacional criado após o final da Guerra Fria."

Em entrevista concedida ao professor universitário aposentado, historiador e youtuber Marco Antonio Villa, o professor e diplomata brasileiro Rubens Ricupero lançou as seguintes opiniões (ideias), dentre outras: "Putin pretende afirmar nas fronteiras governos títeres."; "Nenhum dos vizinhos confia no governo russo."; "Aderir a uma aliança não é contra o Direito Internacional."; "A Rússia é uma potência do futuro."; "A invasão da Ucrânia abre uma nova etapa da história.". 

Para ver a entrevista na íntegra, veja o vídeo

https://blog-adl.blogspot.com/2022/03/rubens-ricupero-o-interesse-de-putin-e.html

 


Horário: 1:02:00 PM 

Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest


https://twitter.com/PauloAlmeida53/status/1500534856241106948

06/03/2022 17:07


Fausto Godoy sobre o mandato da OTAN logo após o “final” da Guerra Fria

 O TAL DO PODER (III)... O “X” DA QUESTÃO :  A OTAN

Fausto Gdoy

5/03/2022 (anteriores na página de Fausto Godoy no Facebook)

Ainda polemizando...

O diplomata e analista político Ronald D. Asmus, juntamente com seus colegas Richard Kugler e Stephen Larrabee, do “think tank” americano RAND, criado logo ao final da II Guerra Mundial para promover estudos sobre questões de segurança dos Estados Unidos, numa matéria publicada na edição de setembro de 1993 da “Foreign Affairs”, intitulada “BUILDING A NEW NATO”, afirmavam, então, que “...uma fenda se abriu no seio da OTAN à medida que os interesses americanos e europeus divergiram sobre as guerras lideradas pelos EUA no Afeganistão e no Iraque. Ambos os lados tiveram que considerar esses eventos como um "alerta". No entender deles, “a aliança transatlântica precisava unir-se em torno de um novo propósito e de uma nova grande estratégia adequada para enfrentar um conjunto diferente de desafios além do território da Europa, ou correr o risco de se tornar cada vez mais irrelevante".

Naquele momento, cumprido o papel importante que a organização desempenhara na Guerra Fria, o propósito da OTAN não estava claro; a União Soviética havia-se esfacelado, mas o "nacionalismo e os conflitos étnicos ainda ameaçavam a estabilidade da Europa”, segundo analistas ocidentais. Em 1995, o então secretário-adjunto de Estado norte-americano, Richard Holbrooke descreveu a expansão e missão da organização militar como "essencial" para "ampliar a unidade europeia na base de valores democráticos compartilhados". Entretanto, o Professor Michael Mandelbaum, diretor do Programa de Política Externa da Universidade Johns Hopkins, de Washington, alertou que esta expansão seria "na melhor das hipóteses prematura, na pior das hipóteses contraproducente, e em qualquer caso em grande parte irrelevante para os problemas enfrentados pelos países situados entre a Alemanha e a Rússia".

Foi neste cenário controverso que o mundo acompanhou os desencontros da atuação da organização em vários campos de batalha fora da Europa, o mais recente dos quais na crise talibã do Afeganistão, que deixou dela uma imagem muito negativa, como sabemos. Cabe também recordar a relutância anterior dos seus estados-membros em tomar medidas decisivas para garantir os interesses do Ocidente e proteger vidas na guerra da Síria, com consequências nefastas tanto dentro do país quanto na região vizinha. Segundo os críticos, a indecisão demonstrada pelos seus membros e a recusa de se envolverem no conflito abriu espaços que seus rivais geopolíticos - Irã e Rússia - aproveitaram para consolidar sua influência. Este mesmo padrão de comportamento repetiu-se agora em Cabul. E os exemplos se multiplicam...Iraque, Líbia...

E este mesmo dilema apresenta-se agora na crise da Ucrânia. Como sabemos, o país tem uma relação complicada com a Rússia desde o colapso da União Soviética, sobretudo após os protestos maciços da crise da Crimeia, em 2013-14, quando as inclinações ocidentais de Kiev pareceram se solidificar. A subsequente anexação da região pela Rússia, em 2014, refletiu uma estratégia mais ampla, argumentou Kathryn Stoner, professora do “Instituto de Estudos Internacionais” da Universidade de Stanford. Segundo ela "...a anexação foi uma tentativa pouco velada de encaminhar a verdadeira agenda de Putin: restabelecer a Rússia como um grande poder ressuscitado". Na contra-leitura, seu colega, John Mearsheimer, sugeriu que foi, antes, uma reação à provocação dos Estados Unidos e da Europa dirigida contra Moscou. Segundo ele, "...a raiz do problema é o espraiamento da OTAN, elemento central de uma estratégia maior para retirar a Ucrânia da órbita da Rússia e integrá-la ao Ocidente".

Afinal, qual é o papel da OTAN no planeta pós-soviético?

O ponto-chave do “Tratado do Atlântico Norte”, assinado em Washington, em 04/04/49, que deu origem à organização, no seu artigo V compromete cada um dos estados-membros a considerar um ataque armado contra um deles como um ataque armado contra todos. No momento da sua redação, o acordo tinha como escopo a defesa contra a investida da então-União Soviética a países da Europa Ocidental.

Qual é, na realidade, a abrangência deste tratado hoje em dia? Em qual cenário ele se insere? Acho importante, neste ponto, recorrer à História para tentar contextualizar os acontecimentos atuais...

Ancestralmente, a Rússia era formada por diversos domínios governados por príncipes aparentados entre si. A noção de “Império” subsiste desde a época em que o centro político da Eurásia, fundado em Kiev, no século IX, tornou-se o primeiro estado eslavo e adotou o cristianismo ortodoxo como religião, dando origem à síntese das culturas bizantina e eslava que acabaram por definir a “alma” russa. A “era dourada” do principado coincide com os reinados de Vladimir, o Grande (980–1015), que aproximou o Estado do cristianismo bizantino, e de seu filho Jaroslau I, o Sábio (re. 1019–1054), quando o principado atingiu o seu zênite cultural e militar. O substrato eslavo-cristão passou a ser a matriz comum à toda a região, com Kiev como capital do principado. Estas raízes são, no entender de Vladimir Putin, o esteio da civilização russa e forjaram a identidade das nações eslavas orientais nos séculos subsequentes. Desta forma, estes valores, endógenos a essas culturas, precedem qualquer conotação política.

No século XIV, o Grão-Ducado de Moscou passou a ocupar o poder e tornou-se o líder do Império Romano do Oriente. Ivan IV, “o Terrível”, foi coroado como o primeiro czar da Rússia, em 1547. Em 1613, Mikhail Romanov estabeleceu a dinastia que governaria a Rússia por muitos séculos. Sob o governo do czar Pedro, “o Grande” (1689-1725), o império continuou a expandir-se e tornou-se uma das maiores potências da Europa. No século XIX, a cultura russa estava no seu apogeu. Os ucranianos tiveram um papel importante na vida política do império, participando das guerras contra as monarquias europeias orientais e o Império Otomano. Posteriormente, porém, o regime czarista passou a executar uma agressiva política de "russificação", proibindo o uso da língua ucraniana nas publicações e em público.

Entretanto, o colapso dos impérios russo e austríaco ao final da I Guerra Mundial e a Revolução Soviética, de 1917, ensejaram o ressurgimento de um movimento nacional em boa parte da Ucrânia em prol da auto-determinação. A cultura e língua ucranianas conheceram um florescimento. Foi então que nacionalistas e comunistas passaram a reivindicar uma maior autonomia para o país. Eles acabaram por vencer as eleições legislativas de março de 1990, e em 16 de julho daquele mesmo ano o parlamento ucraniano proclamou a soberania da república. Em 24 de agosto de 1991 foi aprovada a “Declaração de Independência da Ucrânia”, referendada por um plebiscito em dezembro. Do lado russo/soviético, com a ascensão de Mikhail Gorbachev ao comando da URSS, teve início após 1985 a desconstrução do comunismo soviético. E finalmente, em 8 de dezembro de 1991, os presidentes da Ucrânia, da Federação Russa e da Bielorrússia declararam o fim da URSS, substituída pela  "Comunidade de Estados Independentes"/CEI.

 Entretanto, décadas de divisão política e crises institucionais contribuíram para a relativa fraqueza do Estado ucraniano – fraquezas que o presidente russo Vladimir Putin vem explorando agressivamente.  Putin parece ter sucumbido a uma obsessão egocêntrica de restaurar o status da Rússia como grande poder mundial, com sua própria esfera de influência claramente definida. Este espírito “imperial” é o que  anima o atual “Czar” da Rússia, como o chamam seus opositores... Tocar no seu “feudo”, principalmente nos territórios contíguos, significa para ele uma ameaça – política inclusive – superlativa. Nesse contexto, “aliciar” a Ucrânia para o universo da OTAN/Ocidente representa dupla afronta, e ameaça, tanto à hegemonia plurissecular russa na região como ao seu poder/imagem pessoal.

Estamos, portanto, diante de um duplo dilema: de um lado, os anseios do governo e da população ucranianos - à exceção das regiões “separatistas” – em prol do envolvimento da aliança ocidental no terreno de batalha, e de outro a recusa (até agora, pelo menos) da OTAN em se engajar de forma mais radical na disputa. Quem tem razão? Tirante a paranoia agressiva do líder russo e as consequências trágicas do seu desvario autoritário, não cabe indagar se, no fundo, não lhe cabem motivos para se opor ao avanço de uma organização que ainda busca uma real finalidade e que imporia, “erga omnes”, conceitos e valores que são esdrúxulos à região? Qual é o paradigma “correto”: faz sentido a retórica de “Ocidente” num mundo cada vez mais plural e globalizado? Será que a “otanização” da Ucrânia não criaria mais problemas, por retirar um território – um "buffer state"  - necessário para permitir a convivência entre diferentes? 

Em última instância, a partir do momento em que não existe mais o "comunismo inimigo", qual seria o objetivo desta OTAN ampliada? Impor a "pax ocidentalis" ao mundo, submetendo-o a valores definidos como universais a partir do Ocidente central? Seria o redescobrimento do "Admirável Mundo Novo" do "Big Brother"?Igualmente tenebroso, penso eu... Novamente percebe-se, também na esfera internacional, a radicalização que assola sociedades e países atualmente, obstaculizando o respeito à alteridade tão necessário para o convívio entre as nações. Trágico...

“To be continued”...

Fausto Godoy

São Paulo, 5/03/2022