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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 16 de junho de 2020

Linhas do Tempo: políticas sociais pós 1985 até 2018 - Fundação FHC

Caso não esteja visualizando corretamente esta mensagem, acesse este link
 

 
 
Nós, da Fundação FHC, convidamos você a conhecer nosso novo projeto: as Linhas do Tempo sobre diferentes direitos construídos na história recente. Elas cobrem o período de 1985 a 2018, apresentando os principais eventos, leis e mobilizações que ocorreram em torno da questão racial, dos direitos indígenas e das mulheres, da reforma agrária e da política ambiental.
 
 
Nossa intenção é mostrar a interação política entre governo e sociedade, com seus diferentes atores e interesses, que estão por trás de mudanças na legislação e nas mentalidades em relação a esses temas. Entender o processo de construção da cidadania nos ajuda a defender conquistas importantes no presente e ampliá-las no futuro.
 
 
As Linhas do Tempo podem ser acessadas gratuitamente neste link. Esperamos que possam ser úteis como fonte de pesquisa dentro e fora da sala de aula. O projeto está em constante transformação. Novos temas serão apresentados em breve. Estamos abertos a receber críticas e sugestões, corrigir eventuais erros e suprir lacunas. Não hesite em escrever para o e-mail linhasdotempo@fundacaofhc.org.br.
 
 
Se você gostou das Linhas do Tempo, por favor divulgue-as. O conhecimento histórico e o debate qualificado de ideias são fundamentais para a democracia.
 

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domingo, 2 de setembro de 2018

Um debate sobre o foco das politicas sociais - Roberto Mangabeira Unger, Paulo Roberto de Almeida

Um de meus últimos trabalhos do ano de 2003, um “debate” indireto com Roberto Mangabeira Unger, que havia publicado um daqueles artiguinhos desfocados na FSP. Para contestar-lo devo ter usado o dobro de caracteres para demonstrar os equívocos conceituais e os erros factuais em torno do falso debate da “universalização” ou da “focalização” dos gastos públicos. Como esse trabalho ainda não havia sido divulgado, fiz, como nos casos anteriores, esta postagem em meu blog: 

1166. “O social fora de foco?: um debate permeado de equívocos”, Brasília, 28 dezembro 2003, 7 p. Ensaio de comentários a artigo de Roberto Mangabeira Unger, “O social fora de foco” (FSP, 23/12/2003), demonstrando certos equívocos conceituais e erros factuais em torno do debate da “universalização” ou “focalização” dos gastos públicos. 

Transcrevo primeiro o artigo de Mangabeira, depois o meu.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 2/09/2018
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SOCIAL FORA DE FOCO

Roberto Mangabeira Unger
Folha de S.Paulo, 23 de dezembro de 2003

O governo Lula aderiu à ideia de "focalizar" as políticas sociais. Com isso, confirmou que está perdido. Focalizar as políticas sociais significa dirigir apenas aos mais carentes os recursos disponíveis para o social. A focalização se opõe a políticas ditas universais: destinadas a todos. Segundo o raciocínio da focalização, como o orçamento é limitado, precisa haver fila. Os mais pobres devem ser os primeiros na fila. Grande mal do Brasil, dizem, é que os benefícios sociais vão em peso para quem menos precisa deles: a classe média, que, por exemplo, frequenta as universidades públicas.

Focalizar parece, portanto, exigência de bom senso e de equidade. Nos Estados Unidos, onde fraqueja agora a imaginação transformadora, os filósofos se juntam aos técnicos para alardear as excelências dessa orientação. Não falta no Brasil quem os siga. Orientação errada. Política social é ramo da política, não da caridade. Nenhum dos países europeus em que se consolidou a socialdemocracia chegou lá priorizando políticas sociais focalizadas. Todos se dedicaram à construção de políticas universais de educação, saúde e previdência. Apenas sobre essa base ofereceram ajuda maior aos mais pobres. Reformaram instituições para conseguir mais igualdade. Usaram política social para capacitar seus cidadãos, não para atenuar os efeitos da falta de democratização de oportunidades.

Um dos objetivos da opção pela universalidade é formar maioria que defenda o Estado social por se beneficiar com ele. Outro é formar cidadania que tenha a segurança social necessária para constituir nação unida, capaz e inovadora. Política social não é distribuição de esmola a necessitados enfileirados por ordem de suas necessidades. É construção nacional.
Programas só para os mais pobres -em vez de programas que incluam os mais pobres- não resistem aos ciclos econômicos e políticos. Nos Estados Unidos, sede da propaganda em prol da focalização, as políticas sociais universalizantes do presidente Roosevelt perduram. A "guerra contra a pobreza" do presidente Johnson sumiu.

Esse debate tem significado especial para nós. O Brasil só muda quando a classe média se desgarra da plutocracia de viés colonial e passa a lidera reorientação do país em proveito de todos. Entre nós, focalização das políticas sociais é referência cifrada a guerra contra a classe média. Guerra que o governo atual conduz com afinco, convencido de ter na aliança entre financistas e famintos base melhor para hegemonia política duradoura. O exemplo mais claro do lado que o governo tomou será a campanha que ele está prestes a deslanchar contra a já destruída universidade pública e seus já arruinados professores.

Política séria é tragédia e transformação. É trágico não poder concentrar no atendimento dos mais sofridos os recursos limitados do Estado. Só por meio dessa tragédia, porém, é que se transforma sociedade de dependentes em república de cidadãos. Não culpemos pelo desvio da focalização os tecnocratas que fazem no governo o que sempre apregoaram. Responsável é quem os chamou: o homem que -sem clareza, sem coragem e sem fidelidade a compromissos históricos e eleitorais- ocupa a Presidência da República.

Roberto Mangabeira Unger
Harvard University
Law School

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O social fora de foco?: 
um debate permeado de equívocos

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de dezembro de 2003

É trágico, pelo menos teoricamente, que filósofos sociais se dediquem a opor, conceitualmente, focalização e universalização de políticas sociais. Por outro lado, chega a ser patético que essa oposição seja feita contra as políticas sociais que deveriam estar sendo implementadas pelo governo Lula, que tenta empreender uma saudável correção de rumos em relação a tudo o que se fez, durante décadas, no Brasil, em matéria de políticas públicas redistributivas. 
O artigo de Roberto Mangabeira Unger, “Social fora de foco” (23/12/2003), pratica essa espécie de dicotomia conceitual entre políticas “focadas” e políticas ditas “universais”, acusando o governo Lula de se afastar destas últimas para seguir o caminho das primeiras, como se houvesse oposição entre ambas e como se constituísse mesmo uma grande perversidade “focalizar” políticas redistributivas em direção dos mais pobres. 
Em primeiro lugar, caberia esclarecer que o governo Lula não aderiu a nenhuma ideia de “focalizar” o que quer que seja em matéria de políticas sociais, pela simples razão de que não ocorreu, até agora, nenhuma decisão de ordem filosófica que fizesse o conjunto do governo Lula reorientar o conjunto de suas políticas sociais numa dada direção de favorecer determinados estratos sociais em detrimento de outros. O que está em questão é um estudo do Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda que tenta fazer um balanço do perfil de gastos sociais do governo, constatando como certos fluxos beneficiam, justamente, determinados grupos sociais em detrimento de outros. Trata-se, portanto, de uma “especulação” com base nos dados disponíveis, ou se quisermos, de uma simulação de impactos de determinados gastos, não de uma decisão de governo quanto a uma “refocalização” de certas alocações sociais.
Aliás, ainda que o governo tivesse tomado a decisão de “refocalizar” os seus gastos sociais, qual seria o impedimento moral, filosófico ou prático a que isto ocorra? Desde que essa “refocalização” tivesse em mente uma maior eficiência do gasto público, uma melhor relação custo-benefício e o máximo de bem estar possível para os diferentes grupos sociais em que se divide o conjunto da população – o que é um dado estrutural de qualquer sociedade – ela seria extremamente bem vinda e deveria ser recebida com encômios pelos filósofos sociais, em lugar de receber reprimendas como se se tratasse de um atentado aos sagrados princípios da igualdade, da fraternidade e da solidariedade. Mas não é isso que está em causa e sim um debate até aqui meramente teórico e que incide sobre a forma pela qual são conduzidos os gastos sociais do governo e sobre quais grupos eles projetam um melhor nível de bem estar. 
Independentemente do debate – e seus equívocos propositadamente disseminados por uma certa categoria de cidadãos que pressentem alguma diminuição do “maná” que lhes chega às mãos (e aos bolsos) sem que eles façam grande esforço para isso – deve-se ressaltar, antes de mais nada, que não há, nem pode haver, nenhuma oposição entre gastos “focados” e gastos “universais”, pela simples razão de que o Estado pratica ambos ao mesmo tempo, mediante diferentes instrumentos que incidem desigualmente sobre os grupos sociais que podem (ou não) ter acesso aos vários programas redistributivos governamentais. Opor um ao outro significa, simplesmente, não refletir sobre a natureza dos gastos públicos e sua incidência diferenciada nas várias clientelas que compõem toda e qualquer sociedade. Assim como os impostos diretos devem ser, e presumivelmente o são, progressivos, isto é, atingem desigualmente os cidadãos em função da renda auferida em suas atividades tributáveis, os gastos sociais deveriam ser, idealmente, progressivos, atingindo os mais necessitados com uma fração maior da riqueza social.
Em outros termos, o Estado recolhe de cada um segundo a sua capacidade, e dispensa favores segundo as necessidades de cada um, dentro de um quadro “universal” de políticas públicas que nem por isso é menos “focado” em função do grau de carência relativo de cada grupo social. A escola pública, por exemplo, é um dever do Estado e um serviço público universal, mas nem todos são obrigados a “universalizarem” a educação dos seus filhos nas escolas públicas, facultando-se no Brasil a existência do mesmo serviço a cargo de particulares, que fazem dessa atividade um empreendimento lucrativo. Pode-se dizer, portanto, que os cidadãos mais ricos têm o produto de seus impostos “universalizado” em favor do conjunto da sociedade, mas que eles preferem “focar” os seus filhos em estabelecimentos privados, pagando, portanto, duplamente por um serviço que está normalmente coberto pelos gastos “universais” do Estado. 
O mesmo ocorre em outras esferas, na saúde, por exemplo, segundo o mesmo esquema da “universalização impositiva” e da “focalização” da utilização do serviço, ou ainda no terreno da previdência, mas aqui segundo uma outra lógica, na medida em que determinadas categorias de cidadãos conseguiram “focalizar” em suas aposentadorias uma fração proporcionalmente maior da contribuição “universal” imposta ao conjunto da sociedade. Ou ainda no campo da educação superior, “focalizada” vantajosamente com transferências desproporcionais em relação aos gastos “focados” nos dois primeiros níveis de ensino, a partir de impostos absolutamente “universais”. 
Em síntese (e esperando que esta pequena introdução à economia política do imposto tenha ficado clara), não há nenhuma oposição conceitual ou prática entre gastos “universais” e gastos “focalizados”, pela simples razão de ambos constituem facetas dos deveres do Estado de um ponto de vista estritamente técnico. Se quisermos porém tocar no problema da equidade, ou da ética do gasto público, parece ser igualmente claro que uma maior fração do gasto público deveria dirigir-se aos estratos mais carentes da população, por uma simples razão de solidariedade humana (que está na base de qualquer sociedade digna desse nome) e também por motivos de incorporação progressiva dos grupos menos privilegiados numa divisão social do trabalho mais racional e mais conforme aos verdadeiros princípios da “universalização” de gastos e de contribuições sociais. 
Parece evidente a qualquer economista normalmente constituído que os estratos mais pobres da população são taxados pelo Estado em níveis mínimos, em virtude de sua produtividade extremamente reduzida, o que os coloca nos níveis inferiores de renda imponível. Ou seja, sua contribuição para o “bolo social universal” apresenta uma “focalização regressiva”. Os grandes progressos distributivos na sociedade avançada do capitalismo ocidental tiveram lugar, precisamente, quando o Estado, em princípios do século 20, começou a redistribuir a riqueza social via imposição e “focalização” de gastos públicos, isto é, “universalização” de serviços públicos (como escola, saneamento e obras de infraestrutura) que, por acaso, beneficiaram desproporcionalmente os mais pobres, ou seja, aqueles que até então tinham ficando à margem dos progressos da civilização e da saúde moderna.
Mas deixemos David Ricardo e os fabianos de lado para nos concentrarmos agora no caso do atual governo do Brasil, que concentra a ira escrevinhadora do filósofo social Roberto Mangabeira Unger. Ele deve estar certamente de acordo em que o Sr. Antonio Ermirio de Moraes pague ao Estado mais impostos do que o Seu Zé das Cabras, perdido no interior de Cabrobó da Serra e à margem de muitos benefícios do Estado benefactor. Acredito também que ele deve achar um escândalo que um indivíduo de classe média, como eu por exemplo, assalariado do setor público ou professor universitário, pague tanto imposto quanto o Sr. Antonio Ermirio de Moraes, ou seja, 25% (agora 27,5%) sobre a renda de cada um de nós. Um Estado verdadeiramente “universal” deveria “focalizar” uma alíquota de 35% no Sr. Antonio Ermirio de Moraes e apenas 25% em mim, já que nossas produtividades são desiguais e a capacidade contributiva dele é muito maior do que a minha. 
Mas, digamos que minha “solidariedade contributiva” me coloque no mesmo patamar do Sr. Antonio Ermirio de Moraes e eu não possa fazer nada para paliar os efeitos indesejáveis dessa desigualdade impositiva: ainda que os 25 (ou 27,5)% do Sr. Antonio Ermirio de Moraes sejam um volume muito maior de recursos do que a minha “contribuição” de assalariado, ele continua a dispor de muito mais renda suplementar do que eu, que sou obrigado a cobrir determinados “serviços” obrigatórios – hospital e estudo especializado, por exemplo – com a fração restante que me restou pós-tributo. Eu gostaria, por exemplo, que o Estado “focalizasse” esses serviços com a renda “universal” que ele auferiu de mim e do Sr. Antonio Ermirio de Moraes, em igual proporção, mas não nos mesmos montantes (é a vez dele de prestar “solidariedade contributiva”).
Assim, quando se trata de “universalização” ou “focalização” dos gastos públicos, eu preferiria, por exemplo, que o Estado não gastasse dinheiro construindo heliportos que só podem beneficiar pessoas como o Sr. Antonio Ermirio de Moraes, e se dedicasse, alternativamente, à melhoria da infraestrutura urbana de transportes (metrô, ônibus etc.), que podem beneficiar um número muito maior de usuários. Mutatis mutandis, é o que ocorre todos os dias quando prefeitos ou governadores preferem investir na expansão “focalizada” de certos eixos viários, desproporcionalmente beneficiosos aos que possuem transporte individual (carro), em lugar de se dedicar, precisamente, ao transporte público “universal”. 
Eu pessoalmente acredito que o atual governo brasileiro fez um cálculo desse gênero, ao constatar que determinados gastos sociais aparentemente “universais” – como a previdência do setor público, ou a universidade “pública”, por exemplo – estão muito mais “focalizados” numa determinada categoria da população, digamos a classe média do Sr. Roberto Mangabeira Unger, do que no conjunto da sociedade, a começar pelos mais necessitados desse tipo de “favor” do Estado benefactor. Feita a constatação, nada de mais honesto do que tentar “refocalizar” os gastos públicos, de molde a que eles sejam o mais “universais” possíveis. Não apenas esse tipo de redirecionamento é absolutamente ético do ponto de vista da solidariedade social, como ele tenta, justamente, colocar o social dentro do foco que deveria ser o seu, o seja, o maior benefício possível para o maior número de pessoas. 
Os equívocos conceituais e históricos que atingem determinados filósofos sociais são ainda mais incompreensíveis quando o pensador em questão vive na própria sociedade de onde pretende retirar seus exemplos de gastos “universais” ou “focalizados”. Vejamos, por exemplo, este trecho do artigo do Sr. Roberto Mangabeira Unger: “Programas só para os mais pobres - em vez de programas que incluam os mais pobres - não resistem aos ciclos econômicos e políticos. Nos Estados Unidos, sede da propaganda em prol da focalização, as políticas sociais universalizantes do presidente Roosevelt perduram. A ‘guerra contra a pobreza’ do presidente Johnson sumiu”.
Nada de mais equivocado e historicamente incorreto. Em primeiro lugar, de um ponto de vista meramente instrumental, programas governamentais podem ser criados em função de um determinado ciclo econômico (supostamente “depressivo”), mas eles geralmente ultrapassam, por força da inércia burocrática (e dos interesses criados em função dele), seu próprio “ciclo de vida” e se tornam permanentes e extensos demais, criando outras distorções quando sua necessidade já foi superada por uma inversão daquele ciclo econômico original. A razão burocrática é uma das que mais apresentam capacidade de latência e resistência a mudanças absolutamente inevitáveis.
“Focalizando” agora as políticas presumivelmente “universais” do presidente Roosevelt, podemos constatar que ele criou determinados “colchões” de seguro social para os mais pobres – medidas “focadas” portanto – e “universalizou” determinadas conquistas sociais e laborais que estavam sendo implementadas pelos regimes socialdemocratas de alguns países europeus (e que já tinham sido iniciadas por regimes tão pouco progressistas como o de Bismarck, a partir de 1875), e que constituíam, na verdade, políticas “focadas” nas condições de trabalho da classe operária, e portanto nem um pouco “universalizadas” para patrões, empresários ou outras categorias sociais. Essas mesmas políticas foram “universalizadas” por Vargas, no Brasil, em favor da classe trabalhadora, uma fração (ou “foco”), portanto, da sociedade em seu conjunto, não tendo sido “universalizadas” em favor dos trabalhadores rurais senão um quarto de século mais tarde. Quanto aos programas “grande sociedade” e “guerra contra a pobreza” de Johnson, não apenas eles não sumiram como constituíram a base de todo o intervencionismo social do governo americano no pós-guerra (aliás idealizados a primeira vez pelo presidente Kennedy), tendo persistido até uma data bem recente, quando disfunções e desvios demonstraram, mais uma vez, a necessidade de sua reestruturação.
Para mencionar apenas alguns dos programas do presidente Johnson, eles “universalizaram” direitos como comida, assistência pública, seguro desemprego, assistência médica básica, ajuda habitação, com um “foco”, obviamente, nos mais necessitados, isto é, aqueles situados abaixo da linha da pobreza ou momentaneamente carentes de recursos. Mais uma vez, encontramos aqui a mesma ambiguidade estatal do “universal” e do “focalizado”, características que permeiam todo e qualquer programa governamental de caráter redistributivo. 
Mais perto de nós, e sem qualquer opinião pessoal sobre sua eficácia relativa, o que é o programa “Fome Zero” senão um imenso empreendimento “universal” de “focalização” de gastos em favor dos absolutamente carentes de nossa sociedade? Por sua extensão progressiva, o governo Lula pretende atingir o “universo” dos mais pobres no Brasil, com base em determinados critérios de renda e situação familiar (foco). O que é a reforma previdenciária, empreendida pelo governo FHC e continuada pelo governo Lula, senão uma tentativa – até aqui largamente frustrada – de desviar o “foco perverso” dos gastos previdenciários – pretensamente “universais” – em favor de uma minoria de privilegiados do setor público, que conseguiu, à golpes de decretos especiosos e outras artimanhas legais, “refocalizar” a riqueza “universal” da sociedade brasileira em seu próprio favor? O que é a pirâmide invertida dos gastos educacionais senão uma perversa “focalização” desses gastos setoriais com uma fração mínima da população brasileira, aquela que consegue acesso à universidade pública? 
Eu poderia repetir os exemplos de “focalização” restrita de recursos “universais” no Brasil, mas creio que estes bastam para “focalizar” o debate naquilo que vem tentando fazer, realmente, o governo Lula: o início da correção das imensas distorções sociais e desigualdades distributivas que fizeram do Estado brasileiro, não o “pai dos pobres”, mas a mãe dos ricos e da classe média. Por isso, encontro particularmente canhestra a caracterização do Sr. Roberto Mangabeira Unger de que, agora, no Brasil, “focalização das políticas sociais é referência cifrada a guerra contra a classe média.” Ele parece não considerar que, no Brasil, ao longo dos séculos e certamente no decurso do longo século republicano, as elites e a classe média souberam organizar-se para “socializar” os gastos do Estado, focalizando as despesas em áreas e programas que sempre beneficiaram elas próprias, em lugar dos mais pobres e necessitados. Não é outro o sentido do caráter não universal, ainda hoje, do ensino fundamental e médio, ou não é isso o que ocorre de fato?
Por estas e outras razões, seu artigo me parece singularmente “fora de foco” quanto ao verdadeiro sentido de políticas sociais públicas. Contrariamente ao que ele diz, tecnocratas do Estado podem, sim, conceber, aplicar e controlar políticas “focadas” de gastos sociais que sejam as mais “universais” e inclusivas possíveis, sob a orientação e a responsabilidade do homem que tem a seu encargo a ingrata tarefa de corrigir as muitas políticas “desfocadas” do Brasil injusto, para torná-lo uma nação menos desigual para o imenso universo de seus filhos mais pobres.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de dezembro de 2003

domingo, 6 de abril de 2014

Brasil: o lado ruim do distributivismo, os recursos nao bastam...

Parece que ainda vamos ter de passar por algum desastre fiscal antes de aprender que distribuir sem produzir só existe no mundo mágico dos keynesianos...
A verdade é que os recursos nunca bastam para fazer bondades sociais demagógicas como pretendem fazer políticos incompetentes, trapaceiros e mentirosos.
Não é normal que uma sociedade possa viver com um quarto de sua população -- repito: UM QUARTO -- vivendo de um mensalão estatal, dependentes do Estado assistencialista, que arranca recursos de todos os outros, dos três quartos de trabalhadores produtivos, para entregar a uma parcela da população, por mais frágil que esta possa parecer. Nunca ninguém se suicidou por falta de comida: no máximo o que acontece é roubar, mas na prática as pessoas começam a trabalhar, em qualquer coisa.
Isto é demagogia, isto é curral eleitoral, e é preciso denunciar.
Nunca o Brasil avançará por meio dessas políticas perversas, que transformam pessoas que poderiam trabalhar, e fazer a sua renda no mercado, em assistidos da caridade estatal (na verdade, do nosso dinheiro).
A deformação que o partido totalitário está fazendo no Brasil vai ser muito difícil de terminar, pois cria essa mentalidade de assistidos e de preguiçosos que fazem a massa de manobra fácil para seus propósitos eleitoreiros de monopolização do poder. Pode até não ser um valor relevante dentro do PIB brasileiro, mas os efeitos sobre o mercado de trabalho, e, sobretudo, no plano psicológico, são muito mais relevantes.
Os companheiros estão construindo a pior herança maldita que o Brasil vai ter pelos anos à frente...
Infelizmente, a oposição não conteve a maldade a tempo, aliás ela até promete continuar, oficializar, eternizar essa herança maldita.
Pobre Brasil, vai continuar pobre durante muito tempo, com sua economia e sociedade deformados por esse tipo de prática fisiológica, e detestável.
Paulo Roberto de Almeida 

Entrevista de Samuel Pessoa ao Estado de São Paulo

by mansueto
Dando continuidade à série de entrevistas com formadores de opinião, o Estado de São Paulo entrevistou hoje o economista Samuel Pessoa (clique aqui), que discorre sobre tamanho do Estado, intervenção do Estado na economia, etc.
O Estado de São Paulo tem feito um trabalho excepcional porque além das entrevistas com um número grande de economistas de visões diferentes, o jornal disponibiliza todas as entrevistas na página do jornal para assinantes e não assinantes.
Na visão de Samuel, há duas agendas bem definidas no debate sobre política econômico e tamanho do Estado. Primeiro, o crescimento do gasto do governo estaria ligado a demanda da sociedade brasileira por maior proteção. A maior prova disso é que o gasto público cresce ao longo dos mandatos de TODOS os Presidentes da República pós-1988.
No período imediatamente após a Constituição de 1988, o crescimento concentra-se em gasto com pessoal e previdência (previdência rural). Depois de 1995, o gasto com previdência continua a crescer em conjunto com outros programas de transferências de renda mais gastos com educação e saúde. Vale lembrar que, na década de 1990, o principal mecanismo de financiamento da educação foi a criação do FUNDEF pela Emenda Constitucional nº. 14, de 1996, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
No caso da Saúde, a grande revolução na área do financiamento do gasto veio com a Emenda Constitucional 29/2000, que estabeleceu a vinculação de recursos nas três esferas de governo para o financiamento mais estável do SUS e definiu, para o governo federal, que o gasto com saúde cresceria de acordo com o crescimento do PIB nominal.
No governo Lula, houve a ampliação do bolsa família, a criação do FUNDEB e a política de valorização do salario mínimo que puxou para cima o gasto social que já crescia desde a década de 1990. É esta agenda que Samuel liga ao que chama de contrato social.
Isso significa que não há o que melhorar? Claro que não. Há politicas que são mais distributivas e de custo menor do que outras. Assim, mesmo aceitando o argumento do contrato social é possível que haja espaço nesse debate para introduzir a questão da eficiência. O economista X levantou justamente este ponto no seu comentário (clique aqui). Um bom gestor pode ajudar à sociedade a entender o custo e beneficio das politicas sociais e pode até facilitar a formação de um consenso pró-mudança. Mas mudança real aqui vai exigir mudança de regras. O melhor gestor do mundo não poderá modificar as regras de pensões por medida administrativa.
O outro ponto levantado por Samuel é que a agenda nacional desenvolvimentista, imposta pelo governo desde 2009, é uma agenda top-down que não funcionou: o excesso de intervenção do governo na economia não nos trouxe maior crescimento com um agravante ainda maior: o custo das políticas setoriais fica escondido e parte dele (subsídios do PSI) está sendo postergado para o futuro. Na opinião de Samuel essa agenda é fácil de mudar. Eu vou um pouco além. Essa relação Tesouro-BNDES terá que mudar por necessidade e o governo demorou muito a perceber isso.
Leiam a entrevista e, em especial, notem que, ao contrário de muitos economistas que têm a solução para tudo, Samuel destaca muito bem que o papel de economistas não é tomar decisão do que fazer, mas explicitar o custo e benefício das escolhas para que os políticos e a sociedade tomem decisões.
Ou seja, crescer menos pode ser uma decisão legítima da sociedade. No entanto, a sociedade precisa compreender também que se a opção for crescer menos, não há como distribuir o que ainda não se tem. Ou seja, não adianta querer crescer menos e achar que poderemos gastar 10% do PIB com educação e ter um serviço de saúde com o padrão da Inglês. Os recursos são limitados.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O novo prefeito "frances" de New York: vai conhecer o mesmo fracasso que Hollande? - Nicole Gelinas

Os americanos já têm o melhor presidente "europeu" que eles poderiam querer: Obama estaria ótimo como líder socialista de algum país europeu, mas para azar dele, precisa enfrentar os conservadores republicanos e os ultra-conservadores do Tea Party dos EUA.
Bem, agora a maior cidade americana já tem um perfeito prefeito "francês", aliás de origem italiana, e portanto meio "comunista", para o gosto dos americanos.
Vamos ver como ele se sai. Mas essa mania de querer taxar os ricos vai acabar fazendo com que Wall Street se mude para o outro lado do rio, para New Jersey...
Paulo Roberto de Almeida

De Blasio’s French Lessons
Gotham’s new mayor sounds like François Hollande, and he risks similar results.
The City Journ7 January 2014

In his inaugural address last Wednesday, New York’s new mayor, Bill de Blasio, promised to “commit” the city he now leads “to a new progressive direction.” As Gotham embarks on a “dramatic new approach,” he promised, “the world will watch as we succeed.” De Blasio should be watching the world instead—particularly France. The policy prescription that brought de Blasio to office—higher income taxes on New York’s wealthy—is exactly what French president François Hollande proposed to win his own post nearly two years ago. Since then, Hollande’s approval rating has plummeted to record lows for a French leader. French citizens have grown tired of symbolic anti-rich gestures; they want real solutions to real problems.
Hollande, who won office in May 2012, was one of the first leftist Western politicians to benefit from two global trends after 2008: disillusionment with incumbent politicians and dismay at income inequality. Hollande’s opponent and predecessor, Nicolas Sarkozy, was well settled in office during the economic collapse of 2008—a toxic place to be for any Western leader. But Sarkozy, like former New York mayor Michael Bloomberg, was also practically a cartoon embodiment of the second target of anger. Sarkozy was the “bling-bling” president who outfitted the presidential jet with a top-of-the-line oven so that he could eat gourmet food in the air, the president who traded in his (second) wife for a model-turned-singer-turned-movie-star, the president who loved hanging out with the world’s 1 percent on yachts and private beaches. In expelling a sitting head of state for the first time in three decades, the French made it clear that they wanted change.
But victory came almost too easily. Hollande didn’t have to put forward any serious policy proposals to win. France’s problems were straightforward and remain so: persistent deficits, caused not by the economic crisis but by ever-growing retirement costs; plus high unemployment, caused by high taxes and heavy social mandates on employers—including the near-impossibility of firing a permanent worker. Hollande had little to say about these issues. Instead, his plan was simple: tax the rich. He increased top-bracket income taxes from 41 percent to 45 percent and imposed a temporary two-year levyof 75 percent on income above 1 million euros. In his inauguration speech, he said that “to put France back on her feet, in a fair way,” he would “discourage exorbitant income and remuneration.” Though he acknowledged France’s intractable problems, the closest he got to a solution was to say that “Europe needs projects.”
In the nearly two years that followed, Hollande clung to this platform even as France’s fiscal and economic situation worsened. Unemployment has risenfrom 10.2 to 10.9 percent, even as it has fallen slightly across the West (and fallen more in the United States and Britain). In November, Standard & Poor’s downgraded France’s credit from AA+ to AA. The cut was an explicit no-confidence vote in Hollande, with analysts saying that “we believe the French government’s reforms to taxation, as well as to product, services and labor markets, will not substantially raise France’s medium-term growth prospects and that ongoing high unemployment is weakening support for further significant fiscal and structural policy measures.” (France had lost its top AAA rating in Sarkozy’s waning days.) Meanwhile, toward the end of last year, Hollande’s approval rating fell to 25 percent as Sarkozy watched,possibly plotting a comeback.
Hollande’s disastrous performance in office stems from two factors. First, Hollande couldn’t levy a punitive tax on the rich without sending them or their money fleeing for at least two years. The new president’s tax hike, then, was always going to be largely symbolic. It likely won’t raise even 1 billion euros in the context of a nearly 400-billion-euro budget. Ineffectual though it may be as a revenue raiser, the new tax threatens to do huge damage to the French economy. Newspapers have run complaints from soccer teams worried that they’ll lose their best players and from tech entrepreneurs concerned that they won’t be able to raise start-up capital.
Imposing the tax has been an administrative headache as well. A year ago, France’s top court declared the tax unconstitutional. It took another year for Hollande to restructure the tax to pass constitutional muster. In the meantime, French citizens have watched their already precarious economic fortunes deteriorate while other taxes, including the broad-based value-added tax on goods and services, have risen to fund ever-higher spending. Now, in the face of public anger and frustration, Hollande is promising to cuttaxes on the middle class and on businesses. To do that, he’s finally getting somewhat serious about spending cuts.
De Blasio can take a lesson here. Yes, there are differences between France and New York. New York’s economy, having recovered all the jobs lost since 2008 and added 145,000 new ones, is in better shape than France’s (and most of America’s). The barriers to hiring workers in New York are not nearly as great as in France (though national mandates, such as Obamacare, have made them worse).
Still, the parallels are striking. Voters propelled de Blasio into office on little more than a vague notion of fixing inequality. Like Hollande, de Blasio’s fix is a tax increase, albeit a less extreme one. He would hike taxes by 14 percent on those making more than half a million dollars annually for five years. Like Hollande, de Blasio will have difficulty pushing the tax through: he needs Albany’s approval first. And even if he succeeds, de Blasio’s tax hike, like Hollande’s, will be little more than symbolic. The rich already pay more than their fair share; they earn about a third of the city’s income and pay more than 40 percent of income taxes. And education spending, which de Blasio wants to expand with the new revenues, has already nearly doubled over the past decade, reaching $24.6 billion during Bloomberg’s final year in office. This Monday, de Blasio made it clear that the tax hike is necessary politically, rather than economically or fiscally. When reporters asked him whether he’d drop the idea if New York governor Andrew Cuomo gives him another source of state money instead, the new mayor answered: “I want to go over this again: We have a goal. We believe in this goal. We believe it’s the right thing to do. We are sticking to this goal.” In other words, the means—a new levy on the rich—matter more than the supposed end.
New York has serious problems that the new mayor must address. Pension and health costs for city workers and retirees now consume one-third of the city-funded budget, double their share when Bloomberg took office. (Bloomberg himself recently called this growth one of urban America’s biggest challenges.) The city’s labor contracts all expired years ago. But New York cannot afford retroactive raises or future-year raises unless union members agree to big retirement-benefit and productivity concessions. These rising costs threaten New York’s ability to expand and modernize infrastructure and to maintain quality of life, as the city cuts its current workforce to take care of its retirees.
De Blasio ignored these issues in his inaugural address. His speech—though innocuous compared with what other speakers said that day—was notable mostly for its lack of content. As Hollande said of France, de Blasio said he’d make New York “a fairer, more just, more progressive place,” through a “tax on the wealthiest among us.” Let’s hope that it doesn’t take him as long to learn the lesson that Hollande has finally absorbed: soaking the rich may win elections, at least in today’s political environment, but it’s of little use once you’re in office.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Pobreza e desigualdade: o debate continua nos EUA, 50 depois da GreatSociety (NYT)

Seria a desigualdade a questão crucial do nosso tempo, como pretende o presidente Obama?
Não creio. Os que assim afirmam acreditam que a pobreza resulta da desigualdade de rendas, e daí começam a propor esquemas redistributivos via Estado, que não são nem eficientes, nem isentos de outras deformações, como exemplica esta matéria sobre o meio século decorrido desde a implantação da Great Society por Lyndon Johnson, que alinhou os EUA aos esquemas mais redistributivos europeus.
O problema crucial, para mim, não é desigualdade distributiva ao nível da renda, e sim a desigualdade de oportunidades que deriva da pouca educação e de estruturas familiares inadequadas.
O Estado deve apenas oferecer educação de qualidade, o que implica igualmente promover valores familiares, edeixar para o setor privado a tarefa de criação de renda e riqueza via mercado, que é mais suscetível de criar mais empregos de qualidade do que os programas ineficientes do governo.
O debate continua, mas apenas para colocar minha posição proclamo abertamente minha preferência por mais mercado, e não mais governo.
É uma ilusão completa achar que o Bolsa Família e programas associados e complementares vão eliminar a pobreza e a desigualdade no Brasil. Não vão: eles apenas subsidiam o consumo dos pobres, que sem isso estariam na situação anterior, ou provavelnente pior, se por acaso a esmola governamental acabar, pois eles já deixaram outras estratégias de sobrevivência para se acomodarem no assistencialismo estatal.
Digam sinceramente: vocês acham normal um país ter UM QUARTO da população na assistência pública?
Eu não acho: essa é a confissão de um fracasso, não o sucesso de um conceito de nação.
O Brasil já está em decadência e ainda não se deu conta disso.
Somos uma nação fracassada e condenada a um lento declínio. 
Infelizmente, tudo isso por falta de estadistas ditados de visão. Não temos elites esclarecidas, basta ver os que se nos oferecem em eleições, e a total indigência intelectual de suas propostas.
Paulo Roberto de Almeida 

WASHINGTON MEMO

50 Years Later, War on Poverty Is a Mixed Bag



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WASHINGTON — To many Americans, the war on poverty declared 50 years ago by President Lyndon B. Johnson has largely failed. The poverty rate has fallen only to 15 percent from 19 percent in two generations, and 46 million Americans live in households where the government considers their income scarcely adequate.
George Tames/The New York Times
President Johnson touring impoverished areas in 1964.
Multimedia
Yuri Gripas/Reuters
Representative Paul D. Ryan of Wisconsin is among the conservatives who have looked at poverty statistics more skeptically.
But looked at a different way, the federal government has succeeded in preventing the poverty rate from climbing far higher. There is broad consensus that the social welfare programs created since the New Deal have hugely improved living conditions for low-income Americans. At the same time, in recent decades, most of the gains from the private economy have gone to those at the top of the income ladder.
Half a century after Mr. Johnson’s now-famed State of the Union address, the debate over the government’s role in creating opportunity and ending deprivation has flared anew, with inequality as acute as it was in the Roaring Twenties and the ranks of the poor and near-poor at record highs. Programs like unemployment insurance and food stamps are keeping millions of families afloat. Republicans have sought to cut both programs, an illustration of the intense disagreement between the two political parties over the best solutions for bringing down the poverty rate as quickly as possible, or eliminating it.
For poverty to decrease, “the low-wage labor market needs to improve,” James P. Ziliak of the University of Kentucky said. “We need strong economic growth with gains widely distributed. If the private labor market won’t step up to the plate, we’re going to have to strengthen programs to help these people get by and survive.”
In Washington, President Obama has called inequality the “defining challenge of our time.” To that end, he intends to urge states to expand their Medicaid programs to poor, childless adults, and is pushing for an increase in the minimum wage and funding for early-childhood programs.
But conservatives, like Representative Paul D. Ryan of Wisconsin, have looked at the poverty statistics more skeptically, contending that the government has misspent its safety-net money and needs to focus less on support and more on economic and job opportunities.
“The nation should face up to two facts: poverty rates are too high, especially among children, and spending money on government means-tested programs is at best a partial solution,” Ron Haskins of the Brookings Institution wrote in an assessment of the shortfalls on the war on poverty. Washington already spends enough on antipoverty programs to lift all Americans out of poverty, he said. “To mount an effective war against poverty,” he added, “we need changes in the personal decisions of more young Americans.”
Still, a broad range of researchers interviewed by The New York Times stressed the improvement in the lives of low-income Americans since Mr. Johnson started his crusade. Infant mortality has dropped, college completion rates have soared, millions of women have entered the work force, malnutrition has all but disappeared. After all, when Mr. Johnson announced his campaign, parts of Appalachia lacked electricity and indoor plumbing.
Many economists argue that the official poverty rate grossly understates the impact of government programs. The headline poverty rate counts only cash income, not the value of in-kind benefits like food stamps. A fuller accounting suggests the poverty rate has dropped to 16 percent today, from 26 percent in the late 1960s, economists say.
But high rates of poverty — measured by both the official government yardstick and the alternatives that many economists prefer — have remained a remarkably persistent feature of American society. About four in 10 black children live in poverty; for Hispanic children, that figure is about three in 10. According to one recent study, as of mid-2011, in any given month, 1.7 million households were living on cash income of less than $2 a person a day, with the prevalence of the kind of deep poverty commonly associated with developing nations increasing since the mid-1990s.
Both economic and sociological trends help explain why so many children and adults remain poor, even putting the effects of the recession aside. More parents are raising a child alone, with more infants born out of wedlock. High incarceration rates, especially among black men, keep many families apart. About 30 percent of single mothers live in poverty.
In some cases, government programs have helped fewer families because of program changes and budget cuts, researchers said. For instance, the 1996 Clinton-era welfare overhaul drastically cut the cash assistance available to needy families, often ones headed by single mothers.
“As of 1996, we expected single mothers to go to work,” Professor Ziliak said. “But if they’re shelling out most of their weekly pay in the form of child care, they can’t make sense of doing it.”
The more important driver of the still-high poverty rate, researchers said, is the poor state of the labor market for low-wage workers and spiraling inequality. Over the last 30 years, growth has generally failed to translate into income gains for workers — even as the American labor force has become better educated and more skilled. About 40 percent of low-wage workers have attended or completed college, and 80 percent have completed high school.
Economists remain sharply divided on the reasons, with technological change, globalization, the decline of labor unions and the falling value of the minimum wage often cited as major factors. But with real incomes for a vast number of middle-class and low-wage workers in decline, safety-net programs have become more instrumental in keeping families’ heads above water.
The earned-income tax credit, for instance, has increased employment among single mothers and kept six million Americans above the poverty line in 2011. Food stamps, formally known as Supplemental Nutrition Assistance Program benefits, kept four million Americans out of poverty in 2011.
Above all, the government has proved most successful in aiding the elderly through the New Deal-era Social Security program and the creation of Medicare in the 1960s. The poverty rate among older Americans fell to just 9 percent in 2012 from 35 percent in 1959.
But for working-age households, both conservatives and liberals agree that government transfer programs alone cannot eliminate poverty. The answer, the White House has said, is in trying to improve households’ earnings before tax and transfer programs take effect.
“Going forward, the biggest potential gains that could be made on poverty would be in raising market incomes,” said Jason Furman, the chairman of Mr. Obama’s Council of Economic Advisers. “In the short run, that means things like the minimum wage, and in the long run, things like early education.”
If Congress approved a proposal to raise the federal minimum wage to $10.10 an hour from its current level of $7.25, it would reduce the poverty rate of working-age Americans by 1.7 percentage points, lifting about five million people out of poverty, according toresearch by Arindrajit Dube of the University of Massachusetts, Amherst.
But in the meantime, the greatest hope for poorer Americans would be a stronger economic recovery that brought the unemployment rate down from its current level of 7 percent and drew more people into the work force. The poverty rate for full-time workers is just 3 percent. For those not working, it is 33 percent.


domingo, 6 de outubro de 2013

O PIB do Brasil e o PIB per capita dos brasileiros mais pobres: crescimento "chines" - Marcelo Neri

Tendo postado uma matéria de imprensa sobre artigo do presidente do IPEA e ministro interino da SAE-PR, Marcelo Neri, seguido de uma postagem crítica, e antecedido por um comentário mais crítico ainda, tomo conhecimento, agora, do artigo original, em sua íntegra (o que não conhecia, por falta de acesso).
Tenho o prazer de postá-lo agora, como contribuição a um debate relevante sobre as políticas públicas no Brasil, em especial as políticas sociais e redistributivas, das quais sou crítico (não quanto aos resultados, mas quanto aos meios).
Paulo Roberto de Almeida

Paradoxos e surpresas
Marcelo Neri
O Globo, em 04.10.2013

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE) é a melhor janela que dispomos para observar os brasileiros em suas casas. A recém-lançada Pnad 2012 surpreendeu. A pobreza caiu 19,8%. Em pleno ano do pibinho, cerca de 3,5 milhões de brasileiros saltaram a linha de pobreza de R$ 150. Já descontada a inflação, o crescimento da renda por brasileiro foi 7,98%, maior que o do PIB per capita chinês (7,3%). Também em 2012, a renda da Pnad cresceu 8 pontos percentuais acima do PIB brasileiro.
A dissonância entre o observado e o esperado é gigantesca, mesmo para quem observou no fim de 2012 crescimento pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) 5 pontos percentuais acima do PIB, ou ainda os descompassos de crescimento Pnad-PIB de 14 pontos no período 2003 a 2011. O Brasil dos brasileiros em suas casas tem crescido mais que o Brasil dos economistas.
A desigualdade medida pelo índice de Gini passa de 0,527 para 0,526 de 2011 a 2012, após cair continuamente por 10 anos consecutivos. A aparente estabilidade da distribuição de renda no ano passado sob a ótica do Gini esconde melhorias dos extremos. O ganho de 14% entre os 5% mais ricos foi compensado por um ganho de 20,1% entre os 5% mais pobres. O crescimento observado na metade inferior da distribuição de renda, décimo a décimo, supera o crescimento da média. Ou seja, apesar da estabilidade do Gini, as mudanças distributivas foram particularmente favoráveis aos pobres e explicam metade da redução da extrema pobreza, dobrando o impacto do crescimento sobre a miséria. Isto é, a miséria cairia metade do que caiu se todos os brasileiros tivessem sua renda aumentada aos mesmos 8% da média geral da nação.
Mais um aparente paradoxo: apesar da estabilidade da taxa de analfabetismo, os dados mais gerais de média e desigualdade de escolaridade revelam em 2012 os melhores avanços em um único ano nas Pnads das duas últimas décadas. Se a manutenção da proporção de adultos com zero ano de estudo preocupa, por outro, o avanço na escolaridade de outros com pouca educação compensou o bastante, produzindo melhora educacional.
O ano em curso de 2013 também tem se revelado inusitado. Após um ano parado, o Gini da renda trabalhista volta a cair a partir de março de 2013 pela PME. Em junho, mês das manifestações, o PIB trimestral supera expectativas, crescendo 1,5%, que corresponde a uma taxa anualizada de 6%. Se não foi a estagnação do PIB ou da desigualdade, o que explicaria a virada dos humores ocorrida em junho último? A chave da resposta talvez esteja no desempenho trabalhista. O crescimento anual da renda do trabalho de 12 meses, desacele-rado de 5% para 3%, chegando a valores negativos na comparação de fevereiro com o ano anterior, é um possível candidato a causa econômica. As marcadas melhoras na média e na desigualdade de renda a partir de junho de 2013 antecipariam uma alta na felicidade geral da nação.
De maneira geral, 2012 foi um ano de surpresas pnadianas. A renda real por brasileiro cresceu 8% com uma estagnação do PIB pelas Contas Nacionais. Mesmo com a desigualdade medida pelo Gini parado, a mudança distributiva ocorrida duplicou a velocidade de superação da miséria. A média e a desigualdade de escolaridade, por sua vez, tiveram a maior melhora em décadas no mesmo ano em que o analfabetismo ficou parado. Como dizia o maestro Tom Jobim, entender o Brasil não é tarefa para amadores.


Marcelo Neri é ministro de Assuntos Estratégicos, presidente do Ipea e professor da EPGE/FGV

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Marcelo Nery: emergencia da classe media no Brasil


Marcelo Neri
do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas – CPS e EPGE/FGV  lança o livro
“A Nova Classe Média”
312 páginas
Confira a capa completa e o índice do livro  
Visite a página de venda do livro no site da Saraiva

Dia 7 de março de 2012, quarta-feira, a partir das 19h.
Bolsa de Valores
Rua XV de Novembro, 275, 1º andar, Centro - São Paulo - SP

Dia 9 de março de 2012 - sexta-feira, a partir das 19h.
Livraria da Travessa do Shopping Leblon
Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - Leblon  - Rio de Janeiro – RJ

Comentários escritos por Lula, Armínio Fraga e Gustavo Franco especialmente para a obra
O livro “A Nova Classe Média: o lado brilhante da base da pirâmide”, de Marcelo Neri, é uma leitura indispensável para entender as profundas mudanças sociais ocorridas no Brasil nos últimos anos. O livro de Neri mostra que os grupos que conquistaram os maiores aumentos de renda a partir de 2003 foram exatamente os que antes foram mais marginalizados: as mulheres, os negros, os analfabetos e os nordestinos. Além de revelar o que mudou na vida das pessoas, com a ascensão de milhões para a classe média, Neri revela, através do Índice de Felicidade Futura, que o povo brasileiro é o que mais acredita num futuro brilhante.  - Luiz Inácio Lula da Silva – Presidente do Brasil – 2003 a 2010
Marcelo Neri é um incansável, rigoroso e criativo estudioso dos temas sociais no Brasil. Este livro sobre o surgimento de uma nova classe média será referência obrigatória para qualquer pessoa interessada em entender o que vem ocorrendo nos últimos 18 anos. Rico em detalhes, escrito de maneira agradável e repleto de exemplos e dados interessantes, o texto ilumina a discussão e ajuda a pensar o futuro. Os ganhos obtidos são impressionantes, mas o trabalho pela frente ainda é enorme. Leia este livro e dê uma cópia para seu deputado e senador, ajudará muito! - Armínio Fraga - Presidente do Banco Central do Brasil - 1999 a 2003

Marcelo Neri criou agenda de pesquisa fascinante e central. Seu trabalho captura as várias dimensões das mudanças na sociedade brasileira decorrentes tanto da boa gestão econômica e da globalização, quanto da demografia e da dinâmica social de um país entusiasmado com suas próprias possibilidades. O retrato desta sociedade feliz com suas perspectivas é composto neste livro com verve e rigor. É uma obra indispensável para o bom entendimento das sempre complexas interações entre a economia e o social. - Gustavo Franco – Presidente do Banco Central do Brasil - 1997 a 1999

“..estudo da Fundação Getulio Vargas do professor Marcelo Neri, mostra que, de 2003 até maio deste ano, aproximadamente 40 milhões de brasileiros chegaram à classe média...é como se elevássemos para a classe média toda a Argentina.”  - Presidente Dilma Rousseff no Rio, no sorteio da Copa do Mundo e na ONU

“...com o Real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo até atingir 18% em 2008, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas.”... “Existe toda uma gama de classes médias às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe C” ou de nova classe média.” - Fernando Henrique Cardoso - Presidente do Brasil – 1995 a 2002

“Na última década, o progresso alcançado pelo povo brasileiro inspirou o mundo. Mais da metade desta nação é hoje considerada de classe média. Milhões saíram da pobreza... , a esperança está voltando aos lugares onde o medo prevaleceu.” - Presidente dos EUA Barack Obama em discurso no Teatro Municipal do Rio.

Citações da mídia  sobre o trabalho apresentado no livro

De acordo com a Fundação Getulio Vargas… O Brasil, conhecido por sua desigualdade, agora é um país de classe média. Professor Neri fala do “retorno à carteira de trabalho” The Economist – Matéria Half a Nation Strong sobre a pesquisa da FGV

“Isso é como a fábula de La Fontaine, sobre a formiga trabalhadora e a cigarra cantora. Brasil é mais um país de formigas do que de cigarras”  Newsweek – Weathering the Storm

“Nós estamos respeitando as regras de Mercado.. e fazendo uma política social bastante ativa” - Washington Post – matéria capa  In Brazil, the `middle path´ helps to expand the middle class

“Bolsa Familia tem sido muito mais eficiente que aumento de salário mínimo” New York Times – matéria de capa “Amid global gloom Brazil brims with hope

“Depois de anos de aumento da desigualdade e da miséria, floresce uma nova classe média, que compra carros e celulares”, EL PAÍS 

Uma década atrás, Marcelo Neri pensava que era risível o Brasil ser incluso no grupo BRIC de economias emergentes: “BRICs soava melhor que RICs”- CNN

Brasil X China: Somos uma democracia, não destruímos tanto nosso meio-ambiente, estamos nos tornando menos desiguais. Nossa qualidade do crescimento é melhor do que da China.  - BBC News

“O Pelé, o maior jogador de nossa economia, é o cidadão de baixa renda; onde se espera pobreza, se acha pessoas subindo, vivendo um sonho americano, ou sul americano”  CNBC

“Efeitos do salário mínimo, programas de redução de pobreza, informalidade..enfim não há relevante temática social nos últimos 20 anos que não tenha sido abordada por Marcelo.” - Revista Época - Os 100 Brasileiros mais influentes de 2010

“Dois anos depois de implantado o Plano Real,  Marcelo Neri foi o primeiro a comprovar o impacto da estabilidade na redução da pobreza no Brasil... “Embaixador da Classe C” ... Não há como dissociar Marcelo Neri dessa camada....O primeiro pesquisador a mostrar que o estrato se tornou predominante na sociedade brasileira... à medida que a classe C ganha corpo cresce o prestigio de seu “descobridor””.
Veja - “Doutor Demografia”. Marcelo Neri Eleito um dos 50 cariocas mais influentes de 2003.

“Marcelo Neri faz questão de avisar que não é tucano nem petista.. atribui o momento promissor da economia brasileira tanto a herança de Fernando Henrique Cardoso quanto à fé propalada por Lula”  - Estado de São Paulo em 2010

“Miséria Cresceu no 1º ano de Lula” - Manchete de O Globo em 2004 -Flávia de Oliveira

“A desigualdade brasileira em queda desde o início da década mudou de trajetória com o agravamento dos efeitos da crise econômica global.” Folha de São Paulo em 2009

“Marcelo Neri da FGV criador do termo e maior estudioso da “nova classe média” explica que a designação reflete o sentido positivo e prospectivo daquele que realizou o sonho de subir na vida - Merval Pereira – O Globo e Imortal da Academia Brasileira de Letras

Sobre o autor: Marcelo Neri
Marcelo Côrtes Neri é PhD em Economia pela Universidade de Princeton, Mestre e Bacharel em Economia pela PUC-Rio. É economista-chefe do Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas. Ministra aulas no doutorado, mestrado e graduação da EPGE/FGV. Suas principais áreas de pesquisa são bem-estar e políticas sociais.
Avaliou políticas públicas em mais de duas dezenas de países e desenhou programas nos três níveis de governo e na sociedade civil. Autor dos livros Microcrédito, o Mistério do Nordeste e o Grameen Brasileiro, Cobertura Previdenciária: Diagnóstico e Propostas, Ensaios Sociais, Diversidade, e Inflação e Consumo. Publica com freqüência em revistas especializadas nacionais e internacionais.
Foi escolhido como um dos 100 brasileiros mais influentes em 2010 pela revista Época e um dos 50 cariocas mais influentes em 2003 pela revista Veja. A Veja em 2011 o intitulou de Dr. Demografia em função da descoberta de novas tendências da sociedade como o impacto do plano Real sobre a pobreza, a queda de desigualdade e a ascensão da nova classe média brasileira entre outras.
Fala com freqüência a governos, empresas e universidades estrangeiras. È colunista fixo do Valor Econômico, Conjuntura Econômica e Folha de São Paulo.

RSVP
Marcelo Neri - Centro de Políticas Sociais/FGV
Tel: (21) 3799-6887/6885 ou (21)9868-1211