A matéria ilustra como e por que são tão difíceis os negócios em países capturados pelo nacionalismo estatizante, como na Bolívia atual. O mesmo sucede na Venezuela, no Equador e em outros lugares similares...
Paulo Roberto de Almeida
Empreendedor de gás na Bolívia prefere ir para EUA
Marcos de Moura e Souza - de La Paz
Valor Econômico, 19/01/2011
Caso de engenheiro boliviano mostra como é difícil ambiente de negócios do setor no país
O engenheiro Tribor Rakela vê mais oportunidades em Dakota do Norte, que pode se transformar num "novo Texas"
Há pouco mais de um ano, o engenheiro boliviano Tribor Rakela retornava a La Paz depois de 15 anos no exterior. Fundou uma empresa de consultoria para a indústria de energia e tinha a expectativa de que o potencial de gás da Bolívia se traduziria logo em negócios. Apostava também nos sinais de que o governo Evo Morales iria afrouxar as condições para empresas privadas. Mas seu otimismo minguou. As condições não melhoraram para ele nem para as grandes petroleiras que estão operando a meia carga no país desde a nacionalização do setor de hidrocarbonetos em 2006. Na sexta-feira, Rakela embarcou para o Estado americano de Dakota do Norte para prospectar negócios com o gás e conhecer a região que poderá seu novo lar caso nada realmente mude para o setor de energia em sua terra natal.
A história de Rakela e da Rakoil, a empresa que criou com outros dois bolivianos e um venezuelano, é uma síntese das dificuldades enfrentadas pelas companhias que exploram gás na Bolívia. Assim, como esse pequeno empresário de 38 anos, neto de um croata, grandes petroleiras e aguardam uma revisão na lei do gás e condições mais favoráveis para as empresas privadas. Sem essas mudanças, diz Rakela, ele possivelmente não será o único a buscar outros mercados e a engavetar de vez os planos para a Bolívia.
"Era para a nova lei de hidrocarbonetos ter saído há um ano, mas com a eleição do novo Congresso, houve muitas leis que ganharam prioridade e o governo deixou um pouco de lado as discussões sobre as novas regras", diz o empresário. Sua esperança - assim como a de representantes do setor e de especialistas em energia - é de que o governo atenda a algumas demandas do setor. Entre elas, o aumento do preço do barril de petróleo que vigora na Bolívia, de US$ 27,5; um aumento da remuneração das empresas privadas ou a possibilidade de elas passarem a recorrer a um tribunal internacional em caso de litígio com o governo, algo vetado nos contratos atuais.
A julgar pelas declarações feitas do vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, ao Valor na sexta-feira, uma nova lei do gás manterá intactas as condições em vigor.
"O destino da Rakoil está vinculado a essa nova lei", disse o empresário à reportagem na semana passada, em La Paz. "Mas nós não podemos ficar de braços cruzados. Por isso é que estou indo para os EUA. Se as coisas melhorarem aqui, ficamos com os pés na Bolívia. Se a lei que venha a ser aprovada for boa, levamos nosso plano adiante de não apenas atuarmos como consultores, mas também de fundarmos uma petroleira", diz Rakela. "Se a lei não for boa para as empresas, vamos embora."
Rakela parece empolgado com seu plano B. "Há oportunidades muito boas no norte dos EUA, em Dakota do Norte, em Montana, com o gás de xisto. Se as coisas se confirmarem lá, Dakota se transformará em um novo Texas."
Formado em engenharia petroleira na Universidad Mayor de San Andrés, escola pública das mais prestigiadas da Bolívia - onde hoje dá aula -, Rakela conseguiu rapidamente um emprego na Schlumberger, a gigante internacional de prestações de serviços para a indústria de petróleo e gás. Foi então transferido para a Argentina, depois para a Colômbia. Ocupou cargos também no Canadá, México, EUA e Venezuela - uma trajetória semelhante a de muitos colegas de faculdade que fizeram carreira no exterior, diz ele. Ao deixar a empresa para tentar se estabelecer com um negócio próprio na Bolívia, a há um ano e dois meses, Rakela era gerente de operações no país de Hugo Chávez.
A Rakoil - quem tem um pequeno escritório em La Paz e contrata equipe de técnicos à medida que fecha contratos - presta serviços técnicos, de avaliação e fiscalização de poços e estratégias de industrialização. Chegou a fechar um contrato com o governo central exatamente sobre como industrializar o gás, mas com as petroleiras privadas segurando os investimentos, o futuro da consultoria não parece dos mais brilhantes. "Se não sair uma nova lei positiva para o setor, petroleiras grandes poderão também vir a deixar o país ou ficar aqui com pouco pessoal mais experimentado e investimentos contidos. É isso o que se diz no mercado."
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