As Farc usaram o Brasil para suas operações, aponta estudo
Por Andrea Murta
Folha de S.Paulo, 14/05/2011
A importância do Brasil como posto e via de trânsito de pessoas e dinheiro das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) pelo continente ficou clara no relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), divulgado nesta semana, e é maior do que se pensava. “Viagens [de guerrilheiros] eram típicas, assim como usar o país para deslocar fundos na América do Sul”, disse à Folha James Lockhart Smith, pesquisador do IISS. Segundo Smith, nas comunicações das Farc analisadas pelo instituto há várias menções a viagens de Rodrigo Granda -que era conhecido como “chanceler da guerrilha”- para a Venezuela via Brasil. A Venezuela contesta a autenticidade dos papéis.
De acordo com comunicação de janeiro de 2002, ele chegou a ser parado pela polícia brasileira quando foi certa vez de La Paz a São Paulo, mas não foi preso. Há também menções repetidas de pagamentos feitos em território brasileiro a colaboradores da guerrilha. O analista diz que o venezuelano Amilcar Figueroa, ex-deputado do Parlatino (Parlamento Latino-americano) ligado ao presidente Hugo Chávez, transportava dinheiro para as Farc pelo continente e passava muito pelo Brasil na execução da tarefa.
O IISS afirmou não ter visto evidências de cumplicidade das autoridades brasileiras com as Farc. “Mas é importante verificar daqui para a frente como o Brasil abordou -e não abordou- esse problema que está em seu quintal”, disse Smith.
Ainda há muito a analisar sobre a relação do país com a guerrilha. A documentação, que compõe um arquivo com 6 milhões de palavras, foi apreendida na operação da Colômbia que matou o número dois do grupo, Raúl Reyes, no Equador, em 2008. Sobre Chávez, os documentos mostram que as Farc eram manipuladas pelo presidente venezuelano. “Chávez tinha uma abordagem calculada e instrumental das Farc. Estava sempre preparado para sacrificar os interesses [da guerrilha] se pudesse lucrar com isso”, disse à Folha Nigel Inkster, diretor para risco político e ameaças transnacionais do IISS.
Segundo estudo, novo chanceler dos narcoterroristas opera no Brasil
O relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), elaborado a partir de suposta troca de comunicação das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), sugere que opera no Brasil um guerrilheiro cotado como o novo “chanceler da guerrilha”. Em grande parte das menções ao país, aparece Orlay Jurado Palomino como remetente. Ele é citado com diferentes codinomes. Palomino é um dos que citam transferência de dinheiro -incluindo o uso de bancos- e deslocamentos pelo Brasil. Menciona, por exemplo, uma viagem a Fortaleza.
Ele era considerado um dos homens de confiança de Raúl Reyes, o principal nome político e de articulação internacional das Farc, até ser morto no bombardeio colombiano ao Equador, em 2008. É de seus computadores que emergem as mensagens compiladas e analisadas pelo IISS. Há muito a Polícia Federal segue o rastro de guerrilheiros no país, sobretudo os ligados ao narcotráfico.
DETALHES
O que emerge do extenso arquivo de Reyes são detalhes sobre a movimentação do “braço político” da guerrilha no país. Palomino é um interlocutor frequente de Francisco Antônio Cadena Collazos, o Olivério Medina, que tem status de refugiado político no Brasil desde 2006, e do ex-vereador Edson Albertão, do PSOL-Guarulhos. A troca de mensagens mostra dois momentos em que Palomino temeu ser preso no Brasil -quando da breve prisão de Medina, em 2006, e logo após o sequestro e prisão de Rodrigo Granda, o “chanceler das Farc”, dois anos antes, em Caracas.
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Seria o mensalão das FARC?
Quem gosta de mensalão não se importa muito com a origem do dinheiro, neste caso do narcotráfico...
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