Brasil quer FMI mais 'à esquerda'
Brasil luta por FMI mais à 'esquerda' na sucessão de diretor-geral
Carta Capital, 2/06/2011
Ministro da Fazenda, Guido Mantega, recebe dois candidatos a diretor-geral do Fundo Monetário Internacional e apresenta exigências em troca do voto: apoio a controle de capitais, mais fiscalização de países ricos e uma vicê-presidência para um latino-americano. Ministra da Economia da França e presidente do Banco Central do México fizeram questão de incluir Brasil no início da agenda de viagens, em sinal do prestígio internacional do país.
André Barrocal
BRASÍLIA – Emergente “queridinho” do Fundo Monetário Internacional, o Brasil tenta empurrar o FMI mais para a “esquerda”, no processo de sucessão do ex-diretor-geral da instituição, Dominique Strauss-Kahn, afastado por suposto abuso sexual contra uma camareira. Nos últimos dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, recebeu dois candidatos para negociar o apoio brasileiro. E deixou claras as condições: que o futuro dirigente mantenha a posição do Fundo favorável a controle de capitais, dê uma vice-presidência para um latino-americano e fiscalize países ricos.
A lista de exigências foi apresentada por Mantega ao presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, nesta quarta-feira (01/06), e à ministra da Economia da França, Christine Lagarde, na segunda-feira (30/05). A francesa começou sua campanha pelo Brasil, e o mexicano incluiu o país logo no início das viagens - só tinha ido a Portugal e Espanha antes. Ambos apontaram a liderança internacional alcançada pelo Brasil para justificar o privilégio.
“Escolhi o Brasil porque ele é hoje um dos grandes países emergentes cujas idéias e propostas contam muito no cenário internacional”, afirmou Christine. “O Brasil tem encabeçado muitas batalhas importantes”, disse Carstens.
Para o Brasil, os elogios não bastam, porém, para arrancar apoio. É fundamental que os postulantes se comprometam a adotar posições defendidas pelo país. “É importante que haja mais de uma candidatura, porque assim temos discussão de propostas”, declarou Mantega.
Uma das reivindicações brasileiras é preservar a recente opinião simpática do Fundo à possibilidade de um país controlar entrada e saída de dólares. Essa é uma janela que o governo deseja que continue aberta para o caso de decidir enfrentar o “mercado” contra a enxurrada de moeda estrangeira que vem ao Brasil lucrar com a maior taxa de juros do planeta.
Em debate na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado no fim de abril, Guido Mantega não descartou a adoção do controle de capitais, dizendo, no entanto, que esse tipo de medida não se antecipa num debate, pois exige “caráter surepresa”.
O controle do fluxo de dólares pode ser necessário para evitar que a moeda estrangeira continue custando barato, o que afeta as exportações brasileiras. “Os países em desenvolvimento têm o direito de crescer e também de fazermos controle de capitais, quando em excesso”, afirmou Guido nesta quarta-feira, em entrevista coletiva ao lado de Carstens.
Para eventualmente controlar o fluxo de dólares, o Brasil precisaria de um volume elevado de reserva da moeda norte-americana, a fim de poder liquidar compromissos externos sem depender do capital especulativo que vem pra cá. Daí que, na sucessão no FMI, a posição sobre grandes reservas internacionais também entra nas negociações.
Outro requisito para levar o voto brasileiro é abrir a cúpula do Fundo para um representante latino-americano. “Nós queremos, sim, uma participação maior nos cargos do Fundo Monetário. É uma maneira de influenciar as decisões”, afirmou o ministro, criticando, de forma indireta, a predominância do interesse dos mais ricos na institutição.
O Brasil deseja, aliás, que o Fundo tenha, no geral, uma atitude diferente diante dos ricos. Mantega acredita que, tradicionalmente, o FMI tenta resolver problemas dos ricos ditando regras aos pobres. A atitude deveria ser no mínmima equilibrada. “O FMI mudou muito nos últimos anos, em que só fiscalizava países em desenvolvimento e dava as costas para os desenvolvidos (…) É importante que volte a fiscalizar os países avançados, ou melhor, os países que têm problemas que causam problemas nos outros”, afirmou Guido.
O Fundo anunciou dia 20 de maio como seria a sucessão de Straus-Kahn: de 23 de maio a 10 de junho, serão apresentadas candidaturas, para que haja uma espécie de decantação até que sobre uma lista tríplice. A eleição está marcada para dia 30 de junho, em Washington.
As regras anunciadas pelo FMI dizem que os candidatos podem ser de qualquer nacionalidade, e esse é um dos elementos mais importantes, sobretudo para o Brasil, no atual debate sucessório. Mantediz ga defende que que se rompa uma tradição nascida depois da Segunda Guerra Mundial que garantia o comando do FMI a um europeu. “É importante a colocação da candidatura de um emergente. Rompe uma regra antiga do FMI”, disse o ministro. “Seria um grande avanço que a escolha se desse pelo mérito, e não pela nacionalidade”, completou.
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