terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ordens medievais, mafias modernas: libertando-se do jugo...

Essas ordens medievais que impõem barreiras à entrada em determinados mercados -- advogados, músicos, e várias outras -- servem a um objetivo específico, segundo as próprias: bem servir aos clientes, assegurando qualidade dos serviços.
Como em economia tudo sempre tem múltiplas facetas, elas também servem para extrair o dinheiro dos mesmos clientes, com tarifas extorsivas, e para enriquecer os mafiosos que as governam.
Confesso que prefiro a liberdade.
Meu critério é muito simples: a profissão corre o risco de matar alguém se não for exercida por alguém habilitado? Não? Então não precisa de ordem nenhuma, deixa todo mundo competir.
Corre o risco de matar alguém? Então se regulamente, mas sobretudo não se permita o fechamento do mercado de profissionais. Abertura aos talentos, concorrência máxima, estes são os critérios básicos pelos quais devemos nos guiar...

Retirei do blog do meu amigo Kleber, que o intitulou, apropriadamente, Libertatum:

Nem tudo anda tão ruim
Libertatum, 02 Aug 2011 05:09 AM PDT

Abaixo, reproduzo uma notícia que extraí do Diário do Pará, acontendo decisão do STF que libera os músicos de uma gangue chamada de Ordem dos Músicos do Brasil.

Ainda há poucos dias atrás, em uma conversa com um amigo, concluímos que não basta a troca de pessoas no poder, mas toda uma mudança de mentalidade. Afortunadamente, pelo menos quanto às chamadas ordens profissionais e conselhos de classe, aí inclusa a OAB, que sempre faço questão de lembrar, parece que estamos vislumbrando uma renovação de um espírito que digo, não nasceu com o PT, mas que vem de longa data, lá do getulismo.

Pouco a pouco, a sociedade vem percebendo a coisa mais óbvia do mundo, isto é, que estas instituições são verdadeiras parasitas da nação: não servem para nada, mas importunam os cidadãos e a iniciativa privada com regulamentações completamente destituídas de legitimidade legiferante; impõem multas, limitam atividades e fecham estabelecimentos, e acima de tudo, sugam montanhosas somas de dinheiro dos cidadãos, a encarecer a vida de todos. No dia em que forem extintas, o Brasil experimentará um súbito empurrão para a frente como alguém que está na fila de um metrô lotado.

Músicos não precisam mais de registro
Músicos que não têm registro na Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) não precisam mais da carteirinha da instituição para se apresentar. Foi o que decidiu hoje, dia 1º, o Supremo Tribunal Federal (STF) ao julgar um recurso da seccional da OMB de Santa Catarina contra um tribunal que declarou a cobrança inconstitucional.
De acordo com os ministros do STF, qualquer restrição à liberdade profissional precisa ser motivada por questões técnicas, o que não é o caso dos músicos.

“A liberdade de exercício profissional, que está registrada no Inciso 13 do Artigo 5 [da Constituição], é quase absoluta. Qualquer restrição só se justifica se tiver interesse público e não há qualquer risco de dano social com a música”, afirmou a relatora, ministra Ellen Gracie. Ela foi acompanhada por unanimidade pelos demais ministros, que também decidiram que, a partir de agora, os casos semelhantes podem ser julgados individualmente.

A ação tramitava no STF desde 2004 e começou a ser julgada na Segunda Turma do STF em 2005. O julgamento foi suspenso por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, que, ao devolver o caso, propôs que o assunto fosse analisado diretamente pelo plenário da Corte. Isso porque, meses antes, o STF havia decidido que não é necessário diploma de jornalismo para o exercício da profissão de jornalista.

“No voto que eu tinha preparado, invoco os princípios da liberdade de expressão faladas na sempre polêmica questão da liberdade do exercício do jornalismo”, disse Gilmar Mendes durante seu voto nesta tarde. Para o ministro Carlos Ayres Britto, que é poeta, a exigência de inscrição em uma autarquia implica em cerceamento da liberdade de criação. “Essa limitação é rechaçada pela Constituição Federal”, assinalou.

A cobrança de filiação à OMB foi instituída por lei de 1960, que também é contestada em uma ação no STF. Ela determina que o órgão é responsável por exercer, em todo o país, a seleção, a disciplina, a defesa da classe e a fiscalização do exercício da profissão de músico. Músicos reclamam que a entidade cobra a carteirinha e anuidade e não defende os interesses da categoria. Segundo relatos, a fiscalização depende de cidade para cidade e, em muitos lugares, shows já foram cancelados porque os músicos não eram inscritos na ordem.

“Aqui em Goiânia tem fiscalização, já me pegaram tocando em um bar e me deram uma notificação com uma multa de R$ 150 se eu fosse pego outra vez tocando sem carteirinha”, relata um músico, sob anonimato, em um fórum sobre o assunto. Outro músico relata que só conseguiu comprar um instrumento financiado com o número da OMB e que a exigência da carteirinha é maior em grandes casas de shows. (eBand)

Um comentário:

  1. Grande Paulo,

    Entrei aqui só para fazer uma pequena defesa da ordens medievais (chamadas de guilds). Elas eram formadas para manter a qualidade do serviço e também faziam ensino aos aprendizes. Aliás dizem que delas brotou a Maçonaria, que tem um fim completamente diferente.

    A idéia de proteger um serviço ou um produto é pós-idade média, no chamado mercantilismo.

    Além disso, apesar de eu ser economista, não confio assim tanto como você no mercado para ajustar. Para mim, isso é uma fé secular dos economistas, que não se observa no mundo real.

    Mas no resto é isso aí, as atuais ordens servem apenas para manter posse de mercado, é puro mercantilismo.

    Grande abraço,
    Pedro Erik

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