Até quis ajudar, redigindo dois discursos para a presidente, mas parece que ela não gostou, pois não aproveitou nenhuma das boas ideias que ali coloquei.
Não importa, reproduzo aqui essas referências, para deleite dos interessados, antes de transcrever um outro texto que tem a ver com a mesma realidade:
1) “Brasileiras e brasileiros: quero falar diretamente a vocês... (o primeiro Estado da Nação da nova presidente)”, 7 p. Publicado Espaço Acadêmico (ano 10, n. 117, fevereiro 2011, p. 93-98; ISSN: 1519-6186; link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/12375/6547). Republicado como “‘Brasileiros e brasileiras...’ (o que Dilma realmente gostaria de dizer)”, Via Política (21/02/2011; link: http://www.viapolitica.com.br/noticia_view.php?id_noticia=409). Dom Total (17/03/2011; link: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=1860).
2) “Brasileiras e brasileiros: meu segundo pronunciamento à Nação (numa hora grave)”, Brasília, 12 julho 2011, 5 páginas. Para acabar com a corrupção e a malversação dos recursos públicos no Brasil. Via Política (17/07/2011; link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=175) e Dom Total (21/07/2011; link: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=2102). Blog Diplomatizzando (15/07/2011; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/07/brasileiras-e-brasileiros-o-segundo.html).
Não querendo ser cético, nem negativo, simplesmente não acredito que a presidente promova uma limpeza ética no governo, simplesmente não acredito. Aliás, ainda mais: considero isso impossível de ocorrer, tendo em vista o registro dos fatos. Até aqui, todo mundo foi "demitido" pela imprensa, não por ações do governo.
E não adianta virem áulicos do poder dizer o contrário. Eu vou achar que eles estão sendo pagos para retrucar (no que aliás não estaria muito longe da verdade).
Paulo Roberto de Almeida
A "Presidenta" e a "Faxina"
Para quem não sabe, no site www.info.planalto.gov.br se pode ler tudo que ela disse em discursos, entrevistas, cafés com a "presidenta" e conversas com a "presidenta". Para facilitar a vida do pesquisador, o site permite que se faça a busca por palavra-chave. Então, espremi o arquivo em busca de "faxina". Sabe o leitor quantas vezes a presidente usou esse vocábulo que hoje está colado à sua imagem? Nenhuma. E no conjunto de suas demais manifestações, desde o início do governo? Nenhuma, também.
É perfeitamente possível, no entanto, que, mesmo sem falar em faxina, ela tenha balizado a conduta do seu governo com manifestações que expressem sua disposição de promover um minucioso combate à corrupção. Fui atrás dessa outra palavra. Quantas vezes "corrupção" - que tanto se quer expulsar do governo - saiu da boca presidencial? Duas. Uma no discurso de posse e outra numa entrevista, motivada pela repórter.
Não será demasia, portanto, concluir que a palavra faxina e a correspondente imagem lhe foram regaladas pela mídia, sem suporte nos fatos da vida. Afinal, os aparelhos da corrupção operaram durante todo o período em que ela respondia pela gestão do governo Lula como ministra-chefe da Casa Civil e genitora dos bilionários empreendimentos do PAC. Todas as denúncias dos últimos meses surgiram pelo trabalho investigativo da imprensa nacional ou por ação autônoma da Polícia Federal. Faxina? Retirar a lata de lixo do meio da cozinha não é faxina. Dilma ficaria exposta a uma denúncia por crime de responsabilidade se conservasse nos cargos aqueles a quem demitiu! E quem conhece biografias políticas sabe que um efetivo combate à corrupção no espaço de seu próprio governo deveria ter começado lá atrás, não aceitando certas indicações de seu padrinho e dos partidos da base (inclusive do seu próprio partido).
Haverá algo que a imprensa possa descobrir hoje que não estivesse, desde sempre, com muito maior facilidade, acessível aos órgãos de fiscalização e controle do Estado e do próprio governo? Pode-se crer no compromisso com a faxina de um governo que inventou e constrangeu a base a aprovar o Regime Diferenciado de Contratação, que até o Procurador Geral da República (arquivador do processo contra Palocci) designou como "absurda, escandalosamente absurda"?
Uma verdadeira faxina deveria incluir a cuidadosa leitura de relatórios do TCU, fazer bom uso dos órgãos de informação do governo, extinguir os aparelhos partidários da administração, das estatais, dos fundos de pensão e das agências reguladoras. E, principalmente, propor instrumentos políticos para desestimular a corrupção inerente ao modelo institucional (separando Estado, governo e administração) e instrumentos jurídicos para acabar com a impunidade (propondo as necessárias alterações no Código Penal e no Código de Processo Penal).
Por enquanto, tudo indica que os amigos da "presidenta" encontraram um jeito de lhe dar uma imagem e lhe proporcionar um respaldo popular que ela possa chamar de seu. Mas se são amigos da "presidenta" estão tão comprometidos quanto ela com o esquema de poder que hoje comanda o país e que só com muita ingenuidade se pode considerar movido por robustas intenções éticas.
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