A China detém a chave para a resolução do problema coreano. Mais do que isso, ela detém o torniquete, que pode simplesmente esganar e asfixiar o rato que ruge, ou seja, o regime stalino-gulaguiano-esclerórico-surrealista da RPDC, vulgo Coreia do Norte. Até agora, ela preferiu não fazer nada, na suposição de que com isso detinha, ou compensava, parte de presença americana na Coreia do Sul, um cálculo arrevesado, que só geopolíticos atrasados poderiam fazer. Ela vai pagar um alto preço por isso.
Foi ela que também sustentou o regime autocrático da Birmânia durante tanto tempo, e agora se permite oferecer abertura porque ela também precisa disso para seus planos de chegar aos "mares do Sul", sem precisar atravessar o Vietnã e o estreito dos piratas, ops, das Molucas, ou dos malucos, segundo um antigo romancista.
Se e quando a China quiser, a Coreia do Norte acaba, vagarosamente, ou num estrépido capaz de provocar arrepios. Vamos ver...
Paulo Roberto de Almeida
China – DW – 31/03/13.
A
estratégia chinesa para norte-coreanos é tema de debate:
tradicionalistas defendem curso atual, estrategistas querem medidas mais
severas e aproximação dos EUA. Pequim teme instabilidade crescente em
suas fronteiras.
“O terceiro teste nuclear da Coreia do
Norte é uma boa oportunidade para a China reconsiderar a aliança de
muitos anos com a dinastia Kim”, exigiu o jornalista chinês Deng Yuwen
em artigo no Financial Times. Deng é vice-editor-chefe da revista Study
Times, publicada pela Escola do Partido Comunista em Pequim. O apelo do
jornalista: “A China deve abrir mão da Coreia do Norte”.
Vozes como a
de Deng são um fardo para a amizade de dezenas de anos entre os
vizinhos comunistas. Desde o final do ano passado, as relações
bilaterais atingiram um novo nadir. E em fevereiro a Coreia do Norte
voltou a provocar com a realização de um teste nuclear. Dois meses
antes, o foguete norte-coreano Unha-3 lançou um satélite em órbita
terrestre. Única parceira do país, a China está obviamente irritada: o
imprevisível vizinho abusa de sua paciência.
Na última assembleia geral do Congresso
Nacional do Povo, o parlamento chinês, alguns delegados realizaram um
debate de fundo sobre a política em relação à Coreia do Norte. A
vice-diretora do Escritório Central de Assuntos Estrangeiros, Qiu
Yuanping, relata que os debates giraram em torno da questão se a China
continuará a “apoiar” ou “deixará de lado” o país vizinho. Essa
abordagem aberta é algo incomum, pois as lideranças de Pequim são
geralmente bastante reservadas com tais observações.
Entre tradicionalistas e estrategistas
Dentro do circuito político chinês não há
consenso sobre como lidar com o país vizinho. Desde o segundo teste
nuclear norte-coreano, em 2009, duas correntes de opinião se definiram.
Os chamados “tradicionalistas” se atêm à imagem propagada pelo fundador
do atual Estado chinês, Mao Tsé-tung: a China e a Coreia do Norte estão
“tão intimamente ligadas como os lábios e os dentes”. Para eles,
abandonar o Estado-irmão comunista está fora de cogitação, e vêm os EUA
como maior desafio aos interesses chineses na Ásia Oriental.
Pequim vê como ameaça à segurança
nacional a forte presença militar estadunidense na região
pacífico-asiática – considerada pelo presidente Barack Obama como um
novo foco estratégico. A Coreia do Norte é para a China uma importante
zona-tampão face à Coreia do Sul e ao Japão, ambos parceiros dos Estados
Unidos.
Até agora, a política da China para a
Coreia do Norte foi basicamente definida pelo Exército Popular de
Libertação. Dados os laços de longa data com a Coreia do Norte e a
grande desconfiança em relação ao poder militar dos EUA, as lideranças
militares chinesas mantêm seu curso conservador.
De acordo com Jia Qingguo, professor de
Ciências Políticas na Universidade de Pequim, tal estratégia é obsoleta.
A China deveria tomar a Coreia do Norte como ponto de partida para uma
cooperação mais estreita com os Estados Unidos, declarou ao New York
Times. Jia pertence ao grupo dos chamados “estrategistas”, que pedem
medidas mais rigorosas em relação à Coreia do Norte, ao mesmo tempo que
defendem uma maior cooperação com os EUA.
Mesmo Zhang Liangui, da Universidade
Central do Partido em Pequim, pede medidas mais duras contra o país
vizinho. É ingênua a crença de que Pyongyang pode ser persuadida a
renunciar às armas nucleares por meio de uma política de apaziguamento,
afirmou o perito em segurança ao jornal estatal Global Times.
Nenhuma mudança radical de direção
“O apoio a sanções mais duras contra a
Coreia do Norte não deve ser interpretado como uma alteração fundamental
da posição chinesa”, enfatizou Yang Jiechi, até recentemente ministro
do Exterior chinês, e agora responsável pela política externa no
Conselho de Estado. Suas palavras mostram que, por enquanto, não deverá
haver uma mudança de curso.
Especialistas acreditam que a China pode
temer que, com o colapso da Coreia do Norte e uma possível reunificação
dos dois Estados coreanos, as tropas norte-americanas cheguem até as
fronteiras do território chinês. Paul Haenle, da Fundação Carnegie para a
Paz Internacional, e também diretor do Centro Carnegie-Tsinghua da
Universidade Tsinghua, em Pequim, é da opinião de que as contínuas
provocações de Pyongyang podem levar, a longo prazo, a uma corrida
armamentista. “Porque assim como os EUA, também o Japão e a Coreia do
Sul irão reconsiderar suas estratégias de segurança”, e isso contradiz
diametralmente os interesses chineses, disse em entrevista à DW.
Enquanto os Estados ocidentais tentam
dissuadir a Coreia do Norte de prosseguir com seu programa nuclear, para
o governo chinês a preservação da estabilidade está em primeiro plano,
observa Stephanie Kleine-Ahlbrandt, do International Crisis Group da
Deutsche Welle. “Pequim teme um confronto militar direto entre Pyongyang
e Washington.”
Recentemente, o secretário de Defesa dos
EUA, Chuck Hagel, anunciou que Washington iria ampliar sua defesa
antimíssil, devido às ameaças de ataques da Coreia do Norte. Uma guerra
ou um colapso da ditadura Kim iria provocar uma onda de refugiados em
direção ao norte da China. Sob a liderança do novo chefe de Estado
chinês, Xi Jinping, não deverá haver, todavia, mudanças radicais,
afirmou Kleine-Ahlbrandt. “Mas Pequim irá adotar uma linha mais dura em
relação a Pyongyang.”
DW.DE
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