Uma anotação feita em meu Moleskine, a partir de uma leitura no Kindle do iPhone, em viagem...
Transcrevo de um livro que estou lendo no Kindle, sempre que posso, nos intervalos de várias outras leituras impressas, este trecho, retirado do Prefácio da Arte da Lógica, escrito em latim por volta de 1640, pelo poeta John Milton, sim, o mesmo do Lost Paradise, para organizar o pensamento em torno das chamadas artes liberais (gramática, retórica, lógica, etc.) e que traduzo livremente da versão em inglês:
Art of Logic
Milton
O objeto geral das Artes é a razão, ou o discurso. Estes são empregados seja no aperfeiçoamento da razão, com o objetivo do pensamento correto, como na lógica, ou no aperfeiçoamento do discurso, e aqui, seja para o uso adequado das palavras, como na gramática, seja para o uso efetivo das palavras, como na retórica.
De todas as Artes, a primeira e a mais geral é a lógica, depois a gramática, e por fim, a retórica, uma vez que podemos usar a razão sem discurso, mas não se pode usar o discurso sem razão. Atribuímos um segundo lugar à gramática, porque o discurso correto pode vir sem floreios ou ornamentações; mas ele nunca poderá ser enfeitado antes de estar correto.
In:
The Trivium: The Liberal Arts of Logic, Grammar, and Rhetoric
Sister Miriam Joseph, CSC, Ph.D.
edited by Marguerite McGlinn
(Philadelphia Paul Dry Books, 2002; Kindle edition)
Pois bem, algumas pessoas, no Brasil, se encarregam de desmentir o poeta Milton, e se atribuem alegremente a missão de bagunçar completamente as boas regras relativas à arte da lógica, e da gramática e da retórica também.
Não sei como isso é possível, ao mesmo tempo, mas o fato é que ocorre.
Alguns até fazem questão de, deliberadamente, estropiar a gramática, isto é, a linguagem (já que sequer escrevem um discurso), apenas com a intenção de, demagogicamente, "ficar mais perto do povo".
Outros o fazem involuntariamente, devido à sua manifesta, notória, patente, transparente, evidente, atestada incapacidade total em concatenar idéias, expressá-las com lógica, com as palavras corretas, enfim, de maneira relativamente racional, ou pelo menos vagamente compreensível.
Tarefa acima das capacidades humanas, para alguns...
Pois é, tem gente que usa o discurso sem qualquer razão, sem qualquer lógica, sem gramática, e sem floreios, numa retórica absolutamente incompreensível...
Pergunto novamente: como foi que chegamos a uma catástrofe dessas?
Paulo Roberto de Almeida
(em vôo, Bra-Porto Alegre, 29/10/2013)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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Um comentário:
Temos no Brasil uma bela atualização das artes liberais elaborada por Olavo de Carvalho com sua teoria dos quatro discursos. Uma escolinha de Londrina tem aplicado o método e colhido os melhores frutos. Também a comarca joaçava em SC tem utilizado o método carvalheano para reeducar os detentos e obtido grande sucesso. Vale a pena conferir.
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