Por Sheila D’Amorim e Natuza Nery, na Folha Online, 5/12/2013
Insatisfeitos com os ataques à dificuldade do governo de equilibrar gastos e receitas, técnicos do Tesouro passaram a cobrar do secretário Arno Augustin uma definição mais clara sobre até onde o governo pretende ir na área fiscal. Ou seja: qual é o teto de endividamento para bancar a política atual. Segundo a Folha apurou, há dez dias ele reuniu sua equipe para “lavar roupa suja”. Pouco afeito a debates com seus assessores, Arno foi obrigado, dessa vez, a ouvir reclamações e cobranças. Técnicos quiseram saber, por exemplo, se há limites para as operações do BNDES, principal financiador da agenda econômica.
O encontro ocorreu antes da mais nova manobra atribuída ao petista: um empréstimo da Caixa para a Eletrobras pagar dívidas com o setor elétrico. A operação teve de ser abortada diante da repercussão negativa, embora tenha sido decidida em reunião com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e a própria presidente Dilma.
Desde o ano passado, Arno é apontado como o principal responsável pela perda da credibilidade de Dilma na área fiscal. Em 2012, lançou mão do que foi chamado de “contabilidade criativa” para engordar o caixa do governo sem, de fato, economizar. A prática consiste em tirar da conta dos gastos despesas como as feitas com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e em inflar as receitas antecipando, por exemplo, a entrada de dividendos de estatais. Arno também foi atacado por falta de transparência nas estatísticas oficiais.
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Dilma cobra Mantega sobre revolta no Tesouro
Presidente ficou irritada por saber apenas pelo 'Estado' de atritos entre secretário Arno Augustin e auxiliares
05 de dezembro de 2013 | 16h 33
Marcelo Moraes, João Villaverde e Adriana Fernandes, da Agência Estado
BRASÍLIA - A revolta do corpo técnico do Tesouro Nacional com a condução da política fiscal comandada pelo secretário Arno Augustin foi um dos assuntos tratados pela presidente Dilma Rousseff com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em reunião na manhã desta quinta-feira, 5, no Palácio da Alvorada.
Segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, com um auxiliar presidencial, Dilma abordou o assunto e mostrou grande incômodo com o fato de ter sido informada sobre a revolta no Tesouro pela imprensa. A informação foi divulgada pelo Estadão.
De acordo com fonte graduada do Palácio do Planalto, a presidente não gostou de descobrir uma crise numa área sensível e crucial do governo federal e cobrou que deveria ter sido informada da reunião que ocorreu no dia 22 de novembro no Ministério da Fazenda entre o secretário do Tesouro, Arno Augustin, todos os subsecretários da instituição e todos os 11 coordenadores-gerais, onde a insatisfação é mais forte. Na ocasião, os técnicos fizeram uma apresentação ao secretário sobre a condução da política econômica e da política fiscal, em especial, e apontaram dificuldades crescentes para a rolagem de títulos no mercado - por conta do mau humor de investidores, o Tesouro tem sido obrigado a pagar taxas de juros cada vez maiores nos títulos que oferece. Esse movimento encarece o perfil da dívida pública brasileira, e os técnicos temem que isso se retroalimente.
Internamente, o movimento de revolta dos técnicos do Tesouro tem sido chamado de "motim" por outros servidores. Uma fonte qualificada da área econômica afirmou ao Broadcast que "o clima está pesado" nos corredores do Ministério da Fazenda. Dilma cobrou de Mantega explicações sobre o fato de subordinados de Augustin estarem incomodados com a gestão dele.
Oficialmente, o Tesouro afirma que não enfrenta dificuldades para rolar os títulos no mercado, e que as metas do Plano Anual de Financiamento (PAF) serão cumpridas com folga.
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