sábado, 5 de julho de 2014

Millor Fernandes: estaria se divertindo tremendamente nos dias que correm...

Millor sempre foi um gozador, de todo e qualquer poder.
Pena que morreu, pois teria muita coisa a dizer, e a nos fazer rir, com os companheiros no poder. Eles são impagáveis, por eles mesmos, e por si sós, mas com Millor o cenário teria muito mais graça...
Paulo Roberto de Almeida

Homenageado da Flip, Millôr Fernandes ganha mais de 10 novas edições e tem legado revisto

 Ele gostava de se definir como “um escritor sem estilo”, mas deixou sua marca em tudo que fez: desenhos, crônicas, poemas, peças de teatro, traduções, aforismos e fábulas, publicados em livros, revistas e jornais ao longo de sete décadas de carreira. Humorista, intelectual, artista plástico e comentarista político, considerava-se acima de tudo jornalista. Seu nome e os muitos pseudônimos que adotou (Vão Gogo, Volksmillor, Milton à Milanesa, Adão Júnior) estão ligados a algumas das páginas mais marcantes da história da imprensa nacional, em “O Cruzeiro”, “Pif Paf”, “Pasquim” e vários outros veículos. Nascido em 1924, no bairro suburbano do Rio que lhe valeu o apelido de “guru do Meyer”, ajudou a criar um esporte carioca, o frescobol, e um mito carioca, Ipanema. Morto em 2012, aos 88 anos, poderia ser descrito de mil maneiras, menos uma: “Só peço que não me olhem como um pensador, ou pior, um erudito”, escreveu: “Pensem em mim para o/s prazer/es calmo/s da vida. Mas também pro que der e vier. Sobretudo o contrário”.
Nas próximas semanas, muito vai se pensar e falar sobre Millôr Fernandes, que completaria 90 anos em 2014. Homenageado na edição deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece de 30 de julho a 3 de agosto, ele será tema de mesas na tenda principal, reunindo nomes como Jaguar, Reinaldo, Hubert, Loredano, Sérgio Augusto e Claudius, e de exposições e debates na programação paralela. A ocasião será marcada por uma leva de reedições de algumas de suas obras mais importantes e compilações, somando mais de 10 lançamentos. E ainda há inéditos de Millôr espalhados pelas casas de amigos e parentes.
Na segunda-feira chegam às livrarias novas edições, pela Companhia das Letras, de quatro títulos, alguns esgotados há décadas: “Tempo e contratempo”, “Essa cara não me é estranha e outros poemas”, “The cow went to the swamp” e “Esta é a verdadeira história do Paraíso”. A L&PM acaba de reeditar “A Bíblia do Caos”, súmula de suas frases lapidares, e resgata peças como “O homem do princípio ao fim” e “Kaos”, entre outros volumes. A Nova Fronteira lançará a coletânea inédita “Guia politicamente correto Millôr da história do Brasil” e mais dois títulos. A Cosac Naify publica sua tradução de “A ovelha negra e outras fábulas”, do hondurenho Augusto Monterroso. E o Instituto Moreira Salles (IMS), que abriga o acervo gráfico do autor, hoje com cerca de 9 mil itens, lança dia 31, na Flip, “Millôr 100 + 100: desenhos e frases”, com cartuns escolhidos por Loredano e máximas selecionadas por Sérgio Augusto. A Casa do IMS, em Paraty, terá uma exposição inspirada no livro. E a instituição prepara para 2015 uma retrospectiva da obra visual de Millôr, com mais de 300 trabalhos.
— Ele detestava esse termo, “obra”. Dizia que quem faz obra é pedreiro — diverte-se o filho de Millôr, Ivan Fernandes, de 60 anos. — Ele vivia no presente, mais concentrado no trabalho diário de jornalista, não se preocupava tanto com os livros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.