Nunca Antes na Diplomacia...: quais foram as boas e as más ideias na diplomacia brasileira dos últimos tempos?
Paulo
Roberto de Almeida
Ainda a propósito da publicação de meu livro Nunca Antes na
Diplomacia - A Política Externa Brasileira em Tempos Não Convencionais (link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/NuncaAntes2014.html), permito-me argumentar sobre a questão das boas e das más ideias que afetaram a política externa nos últimos tempos.
As ideias boas podem
ser identificadas nas iniciativas para projetar de modo mais amplo ou mais
ousado o nome do Brasil no cenário internacional, com uma intensificação
extraordinária da chamada diplomacia presidencial. Nunca antes na história da
diplomacia, ou na história do Brasil, um presidente tinha viajado tanto, e
recebido tantos líderes estrangeiros quanto sob a presidência Lula: foi
realmente exaustivo, em todos os sentidos que se possa dar a essa expressão. Foram
tomadas iniciativas no âmbito regional, especificamente sul-americano, ou
latino-americano, já que havia uma nítida prevenção contra o império – e a
prova disso foi a constituição de organismos que afastassem os Estados Unidos
de assuntos regionais – e foram tomadas várias outras iniciativas no âmbito da
chamada diplomacia Sul-Sul, como o grupo Ibas, com a Índia e a África do Sul.
No mesmo sentido, o Brasil promoveu a formalização go Brics, que está mais ou
menos identificado com países anti-hegemônicos, ou seja, nenhum que tenha
estado identificado com o velho colonialismo ou com a preeminência imperial americana
nas últimas décadas, ou século.
Aqui já
se revela um pouco do espírito da diplomacia lulista, bastante refletida e
consubstanciada na chamada diplomacia Sul-Sul, que me parece um reducionismo
absurdo e indevido de qualquer diplomacia digna desse nome. Entendo que é do
interesse de qualquer país usar e aproveitar de todos os recursos do sistema
internacional para impulsionar seu processo de desenvolvimento e para o
aproveitamento de todas as oportunidades existentes nos mais amplos horizontes
disponíveis. Limitar essa diplomacia, ou o escopo da sua política externa, a
uma determinada região, ou a um tipo de cooperação impulsionada bilateralmente,
é uma subtração de fato, que não me parece positiva sob qualquer aspecto ou
critério.
O
problema maior, porém, me parece ser a confusão entre partido e Estado, como
muitas vezes referido nos meios de comunicação. Esse tipo de confusão foi feita
pelo próprio chefe de Estado e eu fui testemunha disso: numa das ocasiões em
que se comemorava no Itamaraty o dia do diplomata, Lula disse, clara e
inequivocamente, com aquele estilo que sempre lhe foi peculiar, que ao lado da
diplomacia profissional, entre Estados, conduzida pelo Itamaraty, estava ali o
assessor presidencial, o companheiro do partido encarregado de manter relações
com os partidos de esquerda da região, para também impulsionar ações
diplomáticas. Deve existir gravação desse pronunciamento e posso buscar em meus
arquivos a prova do que estou dizendo. Essa é uma típica má ideia de quem
pretende conduzir um país com as viseiras de seu partido, que como o próprio
nome diz, representa a parte não o todo. Essa má ideia perdurou na diplomacia
brasileira, e na sua política externa durante todos os anos do lulo-petismo, e
talvez ainda dure até hoje. Existem muitas outras más ideias, obviamente, mas a
maior parte delas não tem nada a ver com o Itamaraty, e sim com os fantasmas
ideológicos do partido no poder, como a leniência com ditaduras – mas que se
reflete em votações diplomáticas a favor desses regimes, no Conselho de
Direitos Humanos da ONU, por exemplo – ou iniciativas financeiras que implicam
custos ao Brasil sem benefícios aparentes.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20 de agosto de 2014
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