As roupas novas da diplomacia brasileira (depende dos costureiros)
Paulo
Roberto de Almeida
Concluo aqui meus comentários adicionais a propósito da publicação do meu livro mais recente Nunca Antes na Diplomacia (ver neste link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/NuncaAntes2014.html), tratando da ruptura de padrões de trabalho e de procedimento que eram tradicionalmente seguidos pelo Itamaraty, o que aliás reflete uma deterioração geral das instituições brasileiras sob o lulo-petismo.
Infelizmente há que
se reconhecer que o governo do PT, não apenas em relação ao Itamaraty, mas com
respeito a várias outras instituições do Estado igualmente, contribuiu para
deteriorar gravemente a qualidade e o funcionamento dessas instituições. Existem vários exemplos de como isso se fez, alguns
aliás até desconhecidos, pois não se sabe exatamente como foram tomadas
determinadas decisões, e como elas foram conduzidas por meios não registrados,
com respeito a determinados episódios envolvendo nossas relações externas.
Menciono apenas dois, mas eles são muitos, e deverão um dia ser objeto de
uma avaliação ponderada. Refiro-me, por exemplo, a dois obscuros episódios
envolvendo embaixadas em países latino-americanos: a hospedagem política do presidente
derrocado de Honduras na nossa embaixada em Tegucigalpa, e o envolvimento
direto do Brasil com a política interna naquele país – o que é não apenas
inconstitucional, como anti-diplomático – e a hospedagem, sob a forma de asilo
diplomático, do Senador boliviano Roger Pinto Molina, em nossa embaixada em La
Paz.
Os dois casos violaram profundamente nossas tradições diplomáticas e representaram, precisamente, exemplos totalmente negativos de tratamento não diplomático a duas questões de política externa, no primeiro caso, aliás, nem era um problema bilateral, e acabou sendo devido ao envolvimento de militantes brasileiros com seus amigos bolivarianos de outros países. Um dia esses episódios mereceriam um esclarecimento completo, se, por acaso, existirem documentos a respeito. Pode ser que os arquivos do Itamaraty estejam incompletos nos dois casos, tendo em vista comunicações que provavelmente foram feitas por outros canais, não oficiais, ou seja pela partidarização indevida da política externa.
Os dois casos violaram profundamente nossas tradições diplomáticas e representaram, precisamente, exemplos totalmente negativos de tratamento não diplomático a duas questões de política externa, no primeiro caso, aliás, nem era um problema bilateral, e acabou sendo devido ao envolvimento de militantes brasileiros com seus amigos bolivarianos de outros países. Um dia esses episódios mereceriam um esclarecimento completo, se, por acaso, existirem documentos a respeito. Pode ser que os arquivos do Itamaraty estejam incompletos nos dois casos, tendo em vista comunicações que provavelmente foram feitas por outros canais, não oficiais, ou seja pela partidarização indevida da política externa.
Existe
também o caso, já mencionado dos obscuros acordos concluídos com a ditadura
cubana no quadro do programa Mais Médicos, o que tem permitido, ao que parece
sem todo o exame congressual, a remessa de vários milhões de dólares para
aquela ilha, em condições certamente bizarras para os padrões de nossas
relações financeiras externas. Este é mais um exemplo no qual a boa diplomacia,
e as boas práticas em matéria de políticas públicas nunca prevaleceram, mas
foram submetidas a injunções partidárias de péssimas consequências para a nossa
diplomacia.
O
Itamaraty vem sendo submetido, desde 2003, a esse tipo de constrangimento, que
deve marcar profundamente as mentalidades dos jovens que ingressaram nesses
anos do nunca antes. Eles podem estar considerando como normais procedimentos
que violam e contrariam profundamente os métodos de trabalho do Itamaraty,
assim como muitos já foram constrangidos, desde o ingresso na carreira, a uma
série de leituras especialmente escolhidas e que combinam com a mentalidade
dominante no partido atualmente hegemônico, caracterizada por um esquerdismo
anacrônico, um anti-imperialismo démodé,
e todas essas viseiras mentais que consideram o reducionismo geográfico do
Sul-Sul como válido e positivo para a nossa diplomacia. Atitudes como essas
devem marcar por algum tempo o trabalho diplomático, em detrimento das boas
práticas, do exame isento das questões da agenda internacional, de um
tratamento não partidário de importantes questões de nossas relações
exteriores. Infelizmente, esses são os tempos, talvez dominantes, mas é sempre
útil ter consciência do que se passa, e ter plena consciência do que a
diplomacia brasileira, e o próprio Brasil, estão perdendo com isso:
credibilidade, seriedade, legitimidade na ação externa.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 20 de agosto de 2014
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