Resoluções de Ano Novo:
minhas promessas (críveis?) para 2015
(sem garantia de cumprimento,
porém...)
Paulo Roberto de Almeida
Assim como existem as
avaliações e balanços que empreendemos todo final de ano, assim como também existem
as previsões que fazemos para cada ano que se inicia – de modo profissional ou
amador, segundo as vocações; eu, por exemplo, sempre insisto nas minhas
previsões imprevidentes, que são justamente aquelas que não devem se realizar –,
existe uma categoria literária muito usada nos veículos de entretenimento que
são as promessas de ano novo. É o que vemos nos programas de entrevistas com
personalidades famosas, ou nas colunas de assuntos mundanos, quando o animador
ou o colunista se põe a imaginar, ou a idealizar, tudo de bom, de útil, de
agradável, ou, no limite, o que de necessário será preciso empreender no novo ano
que se inicia para que ele seja, se não perfeito, pelo menos um pouco melhor,
ou diferente, daquele que acaba de terminar (ano miserável, incompleto,
frustrante). É um fato que as promessas nunca se realizam por completo, ou que
falhamos miseravelmente nas intenções proclamadas um ano antes, mas como somos
humanos, nunca desistimos, nem desacreditamos, e continuamos apostando no que
possa ocorrer de melhor, como essas apostas no jogo, ou a compra renovada de
bilhetes de loteria, imaginando o que fazer, depois, com todo aquele dinheiro
que poderia, ou deveria, pingar na nossa conta.
Promessas de ano novo são
uma especulação contra o futuro, uma espécie de aposta na esperança, contra a
dura realidade da vida diária, invariavelmente feita de muita correria para
ficar no mesmo lugar, mas sempre achando que, por uma vez, vai ser diferente.
Sempre é diferente, obviamente, mas não necessariamente para melhor, muito
embora os políticos e líderes partidários que nos governam estejam sempre
prometendo que haverá trabalho para todos, que a renda vai crescer, que os
serviços públicos vão melhorar e que as tarifas vão ser corrigidas no mínimo
necessário para assegurar a qualidade da prestação daquilo que já pagamos com
todos os impostos, taxas e contribuições, mas que somos abrigados a contratar
privadamente nos mercados de bens e serviços. O que será que explica essa
crença ingênua que mantemos nas promessas dos políticos? Seriam elas
equivalentes às que fazemos nós mesmos para nosso uso pessoal, e que falham
miseravelmente em se realizar integralmente? Se for assim, melhor largar toda
esperança, caros ingênuos irrecuperáveis...
Não obstante, vou tentar a
sorte eu também, talvez pela primeira vez em muitos anos, uma vez que minhas
previsões imprevidentes se referem, quase sempre, a fatos da vida política e da
conjuntura econômica do país, não a itinerários de vida ou a recortes da vida
pessoal. Sem ter o hábito deste tipo de exercício, vejamos o que a minha mente
já ocupada por mil e uma obrigações programadas – na vida professional, nas
atividades acadêmicas, ou nas ocupações pessoais – poderia imaginar como
promessas válidas de serem proclamadas, e inscritas, no calendário deste ano da
graça de 2015, no contexto do trabalho profissional, ou na minha agenda de
atividades previstas para o ano.
Começo, como teria de ser,
pela produção intelectual, a faceta de minhas atividades pessoais que mais me
absorve como simples vivente, além e acima das demais ocupações de natureza
mais prosaica, que são aquelas, em todo caso, que são responsáveis pelo meu
sustento material e financeiro. Prometo iniciar, finalmente, e se possível
terminar, aquele segundo volume de minha história da diplomacia econômica no
Brasil, desta vez voltada mais para as relações econômicas internacionais do
Brasil, circunscritas ao período da República Velha e à primeira era Vargas (mais
exatamente até Bretton Woods). Há anos, praticamente desde que terminei, entre
1999 e 2001, o primeiro volume – atrevidamente intitulado Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas
internacionais no Império –, venho prometendo a mim mesmo, e aos meus
leitores, terminar e entregar esse segundo volume, provisoriamente intitulado A Ordem Internacional e o Progresso da
Nação: as relações econômicas internacionais do Brasil na era republicana. A
concepção será um pouco diferente do primeiro volume, menos aborrecidamente
baseado nos relatórios anuais da Secretaria de Estado do Ministério das
Relações Exteriores, e mais fundamentado na literatura já acumulada em torno da
história econômica do Brasil, mas sempre bem apoiado nos dados primários das
relações econômicas externas do país: em comércio, finanças, investimentos
estrangeiros, importação de mão-de-obra (ou seja, não mais tráfico ou
escravidão e sim imigração europeia e asiática), relações regionais,
multilateralismo e organização institucional e extensão geográfica do
ministério. Como obra de fôlego, essa também deve ocupar-me por meses e meses,
talvez durante o ano inteiro, se conseguir terminar, não obstante o fato de que
várias partes já se encontram escritas, outras pesquisadas, e várias outras já
tenham sido mapeadas mentalmente, com base em leituras anteriores e no
conhecimento adquirido ao longo de muitos anos de pesquisas.
Teria ainda dois pequenos
– ou grandes, dependendo da disposição – livros para terminar, ambos já
escritos, em grande medida, mas faltando completar algumas partes imaginadas ou
projetadas, e revisar o que já está pronto: um seria a compilação, ainda para
ser agregada de mais três ou quatro capítulos, de minha série sobre as Falácias Acadêmicas, uma espécie de
manual politicamente incorreto de todos os equívocos, ou bobagens,
repetidamente ensinadas por professores ingênuos (ou mal formados, senão
simplesmente deformados pelo gramscismo de botequim que vigora em nossas mal
designadas academias) e que são ministradas a um público cativo, geralmente
crédulo, de alunos passivos, submetidos impunemente ao besteirol que
conhecemos; o segundo pode ser a minha outra série de minitratados, bem mais um
divertimento do que um trabalho sério, feito de considerações jocosas sobre
situações de vida, ou até de quase vida, como pode ser, por exemplo, a
reencarnação.
Tenho muitos outros
projetos de trabalho, alguns sérios, outros de pura diversão (para não dizer de
gozação), já que a vida no Brasil já é suficientemente preocupante para que
ainda agreguemos aos dilemas dominantes (na economia, na política, na mera
esfera da ética pública e da moral ambiente). Não sei o que vou fazer, além do
que já foi programado nos parágrafos precedentes, pois o mais provável que
ocorra, e o que mais temo, é que me chamem para participar de algum livro
coletivo, me solicitem muitos pareceres para artigos submetidos a revistas de
sou consultor editorial, me convidem para palestras ou contribuições a
publicações diversas, ademais da minha já prometida colaboração ao boletim da
Associação dos Diplomatas Brasileiros, sob a forma de mini-resenhas para a seção
Prata da Casa, ou seja, dos livros publicados por diplomatas. Tudo isso vai
desviar-me dos trabalhos mais séries, e tomar um precioso tempo que tento usar
para leituras, reflexões e escritos de ocasião, geralmente objeto de postagens
em meu blog Diplomatizzando (um mero divertissement, como sempre o
classifico).
Terei tempo, disposição,
condições de realizar tudo isso em 2015? Não tenho ideia, mas o ideal seria
começar imediatamente, sem esperar essas acalmias que sempre imaginamos que
possam ocorrer, sem que elas realmente aconteçam. Vou colocar os projetos em
minha agenda eletrônica, para que luzes, trinados e alarmes disparem a cada
semana, para lembrar-me o quão atrasado estou no cumprimento de todas essas
promessas. Em todo caso, declarando assim, e tornando públicas, elas se tornam
ainda mais constrangedoras, obrigando-me a avançar no programado, ainda que
seja para não passar vergonha. Será? Vamos marcar rendez-vous para daqui a seis
meses, em meados do ano, portanto, esperando que algo tenha sido adiantado até
lá. Inch’Allah!
Savannah, Georgia, 1o. de janeiro de 2015
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