Aliás, faz mais do que isso: ameaça o Brasil com o despertar da besta
fera, o monstro que vai assustar uma inexistente direita e escorraçar
uma suposta conspiração das elites contra o governo do poste que ele
mesmo designou assim e o elegeu, para continuar governando por
procuração.
Mino Carta acha que os problemas atuais foram causados
por "décadas" de procastinação, o que além de ofender a inteligência
dos que o leem, destoa dos dados empíricos disponíveis.
Jornalista vendido faz assim.
E por que coloco seu artigo aqui?
Porque é um sinal de desespero dos companheiros, a verem suas perspectivas se esvairem.
Paulo Roberto de Almeida
Cuidado com ele
Recado ao senhores: se Lula entrar na briga, vai provar sua condição de líder do povo brasileiro
Mino Carta, Editorial
Carta Capital, 18/05/2015
A
situação de caos que o País vive precipita um grande equívoco e duas
urgências. Destas, uma investe Dilma Rousseff. Esgota-se o tempo que lhe
sobra para tentar rever posturas, orientações, escolhas.
Não esqueço
a última vez em que estive com ela, em companhia de Sergio Lirio e
André Barrocal, para entrevistá-la às vésperas das últimas eleições.
Impressionou-me o isolamento da presidenta sobrepujada pelo álgido
cenário fascistoide transplantado para o Trópico no Palácio da Alvorada,
enorme redoma de solidão. A outra urgência diz respeito a Lula. O
ex-presidente chegou a uma peremptória encruzilhada e tem de escolher a
saída que mais lhe convém.
Recordo o dia, mais ou menos recente, em
que ouvi de Lula a seguinte frase: "Um presidente considera-se
bem-sucedido quando se reelege, e digno da excelência quando elege seu
sucessor". Inviável o impeachment de Dilma sonhado por muitos
opositores, é difícil,, nas circunstâncias atuais, deixar de imaginar um
final melancólico para o segundo mandato da presidenta. Se for assim,
ela não fará seu sucessor.
Como observava Mauricio Dias em sua Rosa
dos Ventos, na edição passada, faltam para a sucessão quadros potáveis
no governo e no PT. Resta mirar em Lula. A própria oposição ajusta a
alça. Eis o verdadeiro inimigo, antes de qualquer outro. O que a elite
brasileira mais teme é a volta por cima do ex-presidente. O ex-operário,
de novo!? Vaias e panelaços que de uns tempos para cá lhe são
reservados, além de patéticos, não escondem o medo, e não exagero no
emprego da palavra. Resta ver se Lula pretende, ou não, transformar o
Brasil em uma infinda Vila Euclydes.
Ele pode, é o único, verdadeiro
líder do povo brasileiro, se quiser, enche as praças. Ao longo de dois
mandatos realizou avanços importantes, inferiores a meu ver, àqueles que
poderia e deveria realizar. Bastou, contudo, para deixar a Presidência
com altíssima aprovação, nunca dantes navegada. O que pretende a partir
deste momento não está claro. Evidente é sua irritação. Não contemplo
somente os comportamentos midiáticos, as acusações de envolvimento em
escândalos variados, os apupos do preconceito elitista, como prova seu
discurso no evento da CUT promovido em São Paulo dia Io de maio. De
fato, abala-se também a críticas ao governo Dilma, a rigor as primeiras
públicas.
Estamos na encruzilhada e o equívoco seria a consequência, a
depender da escolha de Lula ao determinar seu caminho. Se decidir, em
lugar da aposentadoria, pela disputa do poder, assistiremos a um
imperioso retorno à ribalta, mesmo que agora não seja seu objetivo
descer à liça em 2018. Quanto ao equívoco, suponho ser geral, da
oposição, da chamada elite, da mídia, bem como do PMDB, do próprio PT, e
do governo que o partido haveria de sustentar.
Lula tem todas as
condições, e mais algumas, de reassumir uma liderança avassaladora, em
parte abandonada para deixar espaço a Dilma Rousseff. Quem supõe que, ao
sabor do dito petrolão, da tibieza governista e do martelar midiático,
Lula esteja encurralado, engana--se além da conta. Quem se ilude, corre o
risco de, como se diz, cutucar a fera com vara curta.
O Brasil vai
mal, graças a um acúmulo de erros e desmandos, de resto encadeados no
decurso das décadas de sorte a se tornarem mal endêmico, mas o jogo, o
trágico enredo que entrega o País ao caos, não está encerrado. Diz um
antigo provérbio italiano: non destar il cane che dorme. Não desperte o
cão que dorme.
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