Mediante realinhamento de preços relativos, demorar um pouco mais para convergir seria normal. Mas como não convergimos desde 2009, ninguém acredita se a promessa não vier acompanhada de esforço monetário além do que seria razoável. Assim, a inércia fica maior, dificultando a convergência. O economista Alexandre Schwartsman resumiu de forma brilhante a questão: “Caso o BC mantenha a inflação flutuando ao redor da meta, de forma que, em média, as duas sejam bastante próximas, é claro que a melhor aposta para a inflação em um dado ano passa a ser a própria meta. É isto que chamamos de ancoragem de expectativas. Imagine, contudo, que, em face de um desvio suficientemente grande, o BC anuncie para a sociedade que estendeu o período de convergência para dois anos. Neste caso, deixa de ser verdade que a melhor expectativa de inflação para o ano corrente seja a meta. Se metade do caminho for percorrida no primeiro ano, a melhor aposta para a inflação deste ano seria a média entre a inflação do ano anterior (9,0%) e a meta (4,5%), ou seja, 6,75%." Quanto mais o BC demora para conseguir convergir a inflação à meta, de fato, maior a inércia inflacionária. Ou, cada vez mais os formadores de preços e salários atribuem peso crescente à inflação passada, tornando a convergência da inflação ainda mais distante - em um processo que se retroalimenta. O que dizer de um Banco Central que não cumpriu a meta de inflação desde que assumiu o posto, há cinco anos? E estendeu o seu período de convergência? O que resta a Tombini Ciente da necessidade de recuperar a credibilidade, o Banco Central brasileiro, paralelamente à afirmação da meta de 4,5% em 2017, com o compromisso de chegar à mesma em dezembro do ano que vem, reduziu o teto da meta... Em 6,5% desde 2006, o limite superior da banda foi cortado para 6% em 2017. Com a mudança, o Bacen tentou transmitir ao mercado uma mensagem de que confia na convergência para a meta. E ele será "duro" em sua missão. Mas, ironicamente, no momento em que ele próprio reconhece que estourará o teto da meta de inflação pela primeira vez em 12 anos. O que resta ao Bacen? a) jogar a taxa de juros para 16% (ou alto em torno disso) - essa é, em linhas gerais, a Selic necessária para levar a inflação ao centro da meta em 2016; b) começar a focar no cumprimento da meta em 2017, que de fato é o que realmente lhe cabe neste momento. O problema é: isso recai no problema de postergação de metas, de inércia inflacionária e ancoragem das expectativas. E o pior: dadas suas promessas de que cumprirá o centro da meta em 2016, postergar agora mata de vez sua credibilidade, o que é péssimo para a política monetária. Em outras palavras, recuperar a credibilidade de quem não é crível impõe um custo muito alto à sociedade. Sob um banqueiro central de alta reputação, poderíamos perfeitamente deixar a convergência ao centro da meta para o começo de 2017 - note que o modelo do próprio Banco Central, conforme demonstrado no Relatório Trimestral de Inflação, já aponta a convergência nesse horizonte temporal. Essa assertiva, infelizmente, não vale para a atual gestão. A situação é mais grave do que pode parecer em primeiro momento. Sem um choque imediato de credibilidade, ela enseja a manutenção de inflação e juros elevados por período prolongado e terá impactos drásticos, sob profunda recessão, aumento do desemprego e pressão para baixo nos salários. Conforme concluiu José Roberto Mendonça de Barros na Folha de S. Paulo: “O Banco Central foi reconhecidamente leniente com a inflação por três anos consecutivos e de repente encasquetou - e a palavra é essa mesmo - que as estimativas para o IPCA têm que convergir para a meta de 4,5% no fim de 2016. A mensagem do BC é que não vai parar de aumentar os juros enquanto isso não acontecer. Forçar a mão nos juros é destruir a demanda, o que vai quebrar muita gente.” Se o BC postergar novamente o atingimento da meta de inflação, acaba a última gota de credibilidade que lhe restou. Qual a importância da credibilidade de um Banco Central? O estudo clássico de Alan Blinder, de 1999, aponta quatro motivos principais: “maior credibilidade faz (i) o processo de ‘desinflação’ menos oneroso, (ii) ajuda a manter a inflação baixa, uma vez que ela esteja baixa, (iii) faz com que seja mais fácil defender a moeda, e (iv) ajuda a angariar apoio público para a independência do banco central.” E como um Banco Central torna-se crível? A mesma pesquisa aponta um fator consensual entre banqueiros centrais e economistas: com um histórico de “fazer o que diz que vai fazer”. Ter um bom track record no cumprimento do centro da meta - e é exatamente isso que nos falta! Agora, como prover um choque imediato de credibilidade ao Banco Central, sem que ele cumpra a meta de inflação por - pelo menos - os próximos dois anos? Via choque de gestão. Não precisamos construir uma reputação necessariamente. Podemos adquiri-la instantaneamente nomeando um banqueiro central com credibilidade. Tal como foi feito com a condução da política econômica pelo ministério da Fazenda, com a substituição de Guido Mantega por Joaquim Levy - que, mesmo sem resultados materiais efetivos no sentido de recuperação do superávit primário e equilíbrio das contas públicas, até então sustenta o rating brasileiro quase que unicamente com sua credibilidade. Reitera-se: não há nada pessoal contra Alexandre Tombini, cuja capacidade técnica e esforços na condução do BC cansaram de ser elogiados em nossos relatórios. Pessoalmente, gosto e simpatizo com o Dr. Tombini. Entretanto, ele não tem mais como permanecer à frente do Banco Central. Com ele, o custo dessa convergência à meta de inflação é demasiadamente elevado. Enquanto tivermos Tombini no comando do BC, teremos inflação e juros altos.
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