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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Brasil e Rússia: dois países refratários ao progresso? - Marcos Troyjo

Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Será que a Rússia e o Brasil são 'modernizáveis?

Gigantes são prisioneiros da inabilidade em reformar instituições 

MARCOS TROYJO

Junto com a imensa decepção global pela performance econômica do "B" e do "R" dos Brics, com cada vez mais frequência se pergunta: será que Brasil e Rússia são "aperfeiçoáveis"?

A julgar pelas dificuldades em se promover um menor protagonismo do Kremlin no quadro de governança russo e a disfuncionalidade da política no Brasil, a resposta é "não".

No caso da Rússia, a pergunta é realizada com ceticismo num extraordinário livro ("Can Russia Modernise?", Cambridge University Press, 2013), escrito por Alena Ledeneva, professora de política e sociedade do University College London.

Seriam esses dois gigantes prisioneiros de sua inabilidade em promover aperfeiçoamento institucionais?

Sem uma pronunciada inflexão de sua elite política, dificilmente Brasil e Rússia se tornarão o que o economista Ruchir Sharma denomina "Breakout Nations" –países que conseguem se desvencilhar das armadilhas das estruturas inerciais do capitalismo de compadrio e, portanto, alçam voo rumo à prosperidade.

Yuri Kochetkov - 15.nov.2015/Efe
ANT14. Antalya (Turkey), 15/11/2015.- Russian President, Vladimir Putin (L), welcomes the Brazilian President, Dilma Rousseff (R), to the leaders of the BRICS meeting prior to the G20 summit in Antalya, Turkey, 15 November 2015. In addition to discussions on the global economy, the G20 grouping of leading nations is set to focus on Syria during its summit this weekend, including the refugee crisis and the threat of terrorism. (Terrorismo, Siria, Turquía) EFE/EPA/YURI KOCHETKOV ORG XMIT: ANT14
Vladimir Putin e Dilma Rousseff durante encontro do G20 na Turquia, em novembro

No caso da Rússia, país que ao longo da história produziu grande número de expoentes nas ciências e nas artes, salta aos olhos como as instituições não favorecem o aparecimento de grandes destaques no campo do empreendedorismo. E não é por falta de diagnóstico.

Há poucas semanas, quando Vladimir Putin realizou seu discurso de "estado da União" ao Parlamento russo, todas as referências à importância da separação de poderes estavam presentes.

A linha geral do pronunciamento é também plenamente harmoniosa com a noção de que o país não pode se sujeitar a tamanha dependência na exportação de commodities minerais e, portanto, precisa rumar em direção à uma economia intensiva em tecnologia.

Tive a oportunidade de assistir a esse discurso presencialmente na Duma (o Congresso russo) ao lado de alguns observadores internacionais.

Um deles, há 20 anos em Moscou e titular de uma das principais consultorias de avaliação de risco com foco nos países da antiga URSS, disse-me que o discurso modernizante de Putin é o mesmo desde que o ex-membro da KGB ascendeu ao topo do poder russo.

E muitos observadores atentos da cena russa –ao contrário do que crê a maioria dos analistas ocidentais, que enxergam em Putin nada mais que um megalômano– entendem que o titular do Kremlin chegou ao poder munido das melhores intenções e de boas diretrizes para modernizar a Rússia.

Contudo, no intuito de assegurar uma "perene longevidade" no poder e ainda ter de travar batalhas conjunturais (o terrorismo tchetcheno, a guerra na Geórgia, oligarcas dissidentes ou a indesejável expansão da Otan às portas da CEI, a Comunidade de Estados Independentes), a modernização institucional há um tempo vocalizada por Putin jamais deixou o campo da retórica.

Para os que lançam um olhar "compreensivo" sobre Putin, os dilemas de uma desejada modernização sufocada pela força do status quo não é exclusiva da Rússia.

Podem-se mesmo encontrar paralelos no discurso modernizante de Enrique Peña Nieto, no México, ou Narendra Modi, na Índia, e nas robustas dificuldades de implementação de uma agenda reformadora que esses líderes encontram em seus países.

A propósito, estamos prestes a assistir a um novo e apaixonante embate entre a modernização e o poder inercial do status quo em nossa vizinha argentina sob a nova direção de Macri.

Observar a recente cena brasileira convida a uma outra e perturbadora questão que me foi feita recentemente num seminário em Moscou: ademais de suas dificuldades de modernização, será que o Brasil é "governável"?

A resposta é tanto mais difícil e desalentadora, pois o Brasil é hoje país em que impera a "micropolítica" do conchavo e da autopreservação –e onde acumula-se imenso déficit da "macropolítica" dos grandes interesses nacionais. 

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