Previsões imprevidentes para 2016: pela primeira vez a
imprevisão ganha da previsão
Paulo Roberto de Almeida
Tá difícil pessoal. Os
companheiros, no afã de conservar o monopólio do poder, estão se comportando de
maneira imprevisível. Ou seja, eles arriscam, pela primeira vez, desmentir as
minhas previsões imprevisíveis, o que será um tremendo fracasso para este
colunista de ideias malucas, que fica sempre, irreligiosamente a cada ano,
prevendo as coisas mais sensatas possíveis, só para ser desmentido pelos
companheiros, que, sempre e invariavelmente, agem de forma insensata,
contribuindo assim para o sucesso de minha empreitada pouco gloriosa.
Como sabem todos os 18
leitores que me seguem, sou especialista em coisas impossíveis, ou
contrarianistas: tentar prever o que jamais será realizado. Pois bem: nestes
doze ou treze anos de previsões insensatas (ou seja, sensatas), tenho sido
invariavelmente desmentido pelos companheiros, que insistem em meter os pés
pelas mãos a cada ano, o que me deixa bem contente, pois afinal de contas eles
confirmam a minha aposta na sua insensatez.
Ora pois, como diriam os
gajos da terrinha, não é que, premidos pelas agruras do momentos, pelas
circunstâncias adversas, eles resolveram se comportar desta vez, e estão
arriscando pela primeira vez me desmentir, logo eu, que só conto a verdade, ou
seja, que eles são incapazes de acertar?
Eles já começaram pagando
pedaladas, estão gostando das privatizações, ficaram de não roubar demais,
enfim, estão conseguindo desmentir as melhores (quero dizer, as piores)
previsões sobre o seu comportamento tresloucado. Está certo que no final de
2014, eu tinha apostado que em 2015 eles iriam tentar a honestidade, mas acho
que essa foi forte demais para eles. Já no terceiro mês, deu aquele comichão, e
eles começaram a roubar em outras áreas, ainda não detectadas pela Lava Jato,
inclusive porque na Petrobras – quase completamente destruída – e em Abreu e
Lima – já custou vinte vezes o orçamento inicial, e não vai conseguir ser
rentável antes de 2095 – as possibilidades de “contribuições voluntárias e
legais” foram tremendamente reduzidas com esse bando de procuradores e
policiais em volta dos potes de ovos de ouro. Tiveram de voltar – pelo menos
por enquanto – para a merenda das crianças e para o recolhimento do lixo, duas
coisas que tinham ficado bem para trás por suas taxas de rentabilidade muito
limitadas. Enfim, quem não tem cão, caça com urubus, ou hienas, enfim, o que
der e estiver à mão...
Pois é, minha gente, já
não se fazem mais previsões imprevidentes como antigamente, já não se fazem
mais petralhas como outrora (os melhores estão sendo colocados fora de
circulação), e os trapalhões da área econômica estão ficando quase sem receitas
de novas artimanhas.
O que será que será?
Arriscando minha reputação
– mas estou prevendo que os companheiros me desmentirão ainda este próximo ano,
continuando a ser imprevisíveis trapalhões – vamos alinhar algumas das
previsões imprevidentes para 2016.
1) Criação do programa Pedaladas Legais
Para se livrar de uma vez
de todas essas chateações com pedidos de impeachment, e para contentar tantos
governadores e prefeitos que também gastaram além da conta e que depois ficaram
sem dinheiro para pagar médicos, enfermeiros, policiais, professores e todo
esse povinho miúdo que só faz greve e perturba a paz dos eleitos com suas
reivindicações abusivas, o governo federal já tem a solução para evitar o
confronto com o TCU.
Basta criar o programa
“Pedaladas Legais”, que é simplesmente uma espécie de cheque em branco
avalizado pelo Congresso, a partir do qual os executivos dos três níveis da
federação podem gastar à vontade, sempre que as necessidades o justificarem e
houver imperiosos motivos sociais, como são todos os programas dos preclaros
governos em favor da cidadania. Quando os montantes ameaçarem ultrapassar as
dotações anteriormente autorizadas, basta os legislativos de cada esfera
autorizarem um déficit legal, deixando o buraco para o futuro. Ninguém poderá
dizer que foi por falta de vontade que o governo, como uma grande mãe para
todos, deixou de fazer esta ou aquela bondade: com o programa Pedaladas Legais,
tudo o que era complicado se torna mais simples, pois os legisladores não
deixarão de cooperar com os executivos numa matéria que atende os mais
legítimos anseios sociais, e as mais justas necessidades de todos os cidadãos
de suas respectivas circunscrições eleitorais.
Estou seguro que o
Adevogado General do PT, ops, o Advogado Geral da União saberá propor um
projeto de lei, tão criativo ele é, que contemple os justos reclamos de
executivos e legisladores por uma estrutura orçamentária flexível e manejável,
como gostam todos os políticos e não deixam de apreciar os contribuintes, que
estão sempre pedindo mais e mais pelo dinheiro que entregam voluntariamente aos
respectivos governos em cada um dos níveis da federação. Esses contribuintes
voluntários são um pouco como os cortadores de cana em Cuba, na época da
colheita, la zafra, que está sempre
precisando de braços, pois os tratores são poucos e sempre falta diesel. Os
cubanos já têm uma piada para essas ocasiões: la participación es voluntaria, pero la voluntad es obligatoria. Ainda
vamos chegar lá, aqui também...
2) Cristo Redentor entra no programa de concessões
companheiras
Os companheiros ficaram
tão entusiasmados com o seu programa de concessões – totalmente diferente das
privatizações tucanas, como todos sabem – que passaram a imaginar tudo o que
pode ser objeto de concessão pública, e não é que eles reservam algumas boas
surpresas para 2016? Pois então, o Cristo Redentor, que passa por símbolo do
Brasil, ou do Rio, o que seja, também vai entrar no programa de concessões
companheiras. O lote, a montanha, os arredores, a floresta, as favelas
simpáticas ao redor, a própria estátua – cela
va de soi – serão cercados, com arames farpados e eletrificados (estilo
nazista tropical), e o conjunto vai ser leiloado, segundo regras especiais que
estão sendo desenhadas pelo MPOG, ou seja, o Ministério Petista de Obras do
Governo, para que tudo seja perfeitamente concedido, regulado, e taxado, para
que o governo companheiro, em lugar de gastar dinheiro com funcionários e os
que mamam no negócio, passe a arrecadar impostos dos ganhadores, um pouco como
se faz com as concessões de telefonia (que revertem 40% do faturamento em
impostos).
O Cristo vai ficar muito
mais vibrante a partir da privatização, ops, concessão, pois os novos administradores
poderão promover bailes, festas, convescotes, reuniões abertas a todas as
religiões e outros eventos sociais inclusivos. A estátua vai ganhar cores muito
mais alegres do que atualmente, esse cinzento concreto que não tem graça
nenhuma; poderão pintar um verdadeiro arco-íris no personagem, conforme os
tempos
3) Companheiros aderem ao livre comércio... de talentos.
Com tantos países fazendo
blocos em todas as partes, o Brasil companheiro vai inovar absolutamente,
promovendo o que há de mais avançado e racional no campo da liberalização
comercial: o livre-comércio unilateral. Em lugar de ficar negociando item por
item com um monte de parceiros chatos, os companheiros vão promover o livre
comércio do único item que não pode ser objeto de comércio, por ofender as boas
consciências e as almas cândidas: o ser humano. Mas eles o farão de forma
avançada, preservando todos os direitos íntimos da pessoa humana, sua
privacidade e o respeito que se deve ter por cada um. Nada mais progressista do
que exportar talentos, o que o Brasil tem de melhor: futebolistas, músicos de
funk, cantores caipiras, trombadinhas, garotas de programa, políticos sem
mandato, economistas da UniCamp, camponeses sem terra, trabalhadores sem teto,
enfim, todas aquelas categorias que já entram nos programas de subsídios
companheiros e que passarão doravante a ter o mundo como possibilidade de
triunfo universal, graças a esta nova iniciativa companheira.
4) Protocolo aditivo à convenção da ONU sobre corrupção
Tendo em vista dúvidas
persistentes e tratamento duvidoso pela Justiça em relação às doações legais
que as empresas em geral, mas especialmente as estatais, possam fazer a
partidos políticos, os companheiros vão propor, na próxima Assembleia Geral da
ONU um protocolo aditivo à Anti-Bribery Convention, a convenção que visa
induzir os países soberanos a coibir, controlar, vigiar e punir todas as
doações que não estejam vinculadas a uma atividade econômica precisa e
legítima. Existe uma clara ambiguidade nessas extorsões, ops, doações, pois só
pelo fato de que países com certa predominância de compras governamentais e de
empresas estatais podem estar sendo controlados por juízes muito zelosos
partidos políticos legítimos podem estar sendo prejudicados por ações que
deveriam ser consideradas dentro do fluxo normal de caixa dois, ops, de
tesouraria, e avaliadas em conformidade com as intenções generosas de cada
empresa doadora.
Para levantar essas
ambiguidades, os companheiros diplomatas vão propor um projeto de resolução –
que certamente recolherá a adesão entusiasta de muitos parceiros ditos
estratégicos, como China, Venezuela, Rússia, Cuba, Equador, enfim, os suspeitos
de sempre – preparatória a um verdadeiro protocolo aditivo à convenção
anticorrupção. Todos os países têm o direito de organizar os negócios de seus
partidos em total respeito à soberania nacional, especialmente as operações
financeiras que são imprescindíveis para ao funcionamento normal de suas
atividades, sobretudo a compra de equipamentos, pagamentos de salários,
propinas, ops, contribuições para os sistemas de mensalão, ops, de coalizão que
podem caracterizar certos regimes políticos. Isso vai da sobrevivência dos
nossos apparatchiks, ops, nossos quadros, que têm o direito de trabalhar
eticamente com o dinheiro dos contribuintes, quer dizer, a partir das doações
legais. Enfim, os companheiros diplomatas saberão encontrar a linguagem
apropriada para os projetos de resolução da AGNU e depois para o first draft do Protocolo Adicional.
Com essas e outras
medidas, 2016 será um ano muito melhor para o regime duradouro dos
companheiros, sem ameaças golpistas e sem o mimimi da oposição, que não tem
moral nenhuma para reclamar das iniciativas companheiras, pois eles já fizeram
igual, embora com muito menos competência do que os companheiros.
Vamos que vamos! Feliz
2017, ops, 2016 a todos, que o ano sorria segundo os desejos de cada um...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 31 de
dezembro de 2015, 5 p.
PS.: Para as
previsões anteriores, ver estas duas postagens:
Preparando as previsoes
imprevidentes para 2016: conferindo as de 2015 - Paulo Roberto de Almeida - See
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http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/12/preparando-as-previsoes-imprevidentes.html#sthash.rVQtfB1H.dpuf
e
Preparando as previsões de 2016:
algum retrospecto pode ser útil - See more at:
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