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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Banqueiro na cadeia? Empresario encarcerado? O que aconteceu com o Brasil? - Nivaldo Cordeiro
Como diz uma canção de um maluco, alguma coisa acontece, e não é raio em céu azul, embora pareça. Nunca antes no país se viu tantos banqueiros, advogados de alto coturno e sobretudo empresários na cadeia, seja em regime de prisão temporária, ou preventiva, ou já mesmo condenados a penas diversas. Muitos outros estão em liberdade provisória, aguardando julgamento sob regime de delação premiada. Ah sim, tem também alguns políticos na cadeia, o que também é novidade. Reparem que nenhuma dessas novas realidades no céu do Brasil se deve aos homens (e mulheres) que supostamente deveriam representar o povo, ou seja, representantes com voto popular. Tudo isso se deve à ação, sempre legal, de pessoas sem nenhum voto ou representação, apenas a serviço do Estado e das leis, o que é uma novidade novidadíssima no Brasil, onde os donos do poder, ou seja, aquela categoria que Raymundo Faoro chamou de "estamento burocrático", sempre mandaram no país e nas instituições a seu bel prazer. Parece que a coisa está mudando, mesmo contra o maior, o mais poderoso, o mais totalitário dos estamentos burocráticos que já ocupou o poder no Brasil, o estamento burocrático do partido neobolchevique e gramsciano, que também se revelou o mais mafioso de todas os partidos políticos, a corporação organizada para o crime e para o monopólio do poder, agora sendo contrarrestado por outras pessoas, não organizadas em partido, mas pertencentes a uma corporação do Estado (como podem ser o MPF, a PF, juízes, e alguns outros poucos). Por ironia da história, Raymundo Faoro foi um dos fundadores do PT; Hélio Bicudo também, aliás. Ambos foram tragados nas engrenagens totalitárias e mafiosas do pior partido que já assaltou o Brasil, literalmente...
Paulo Roberto de Almeida
O BANQUEIRO APRISIONADO
Nivaldo Cordeiro
www.nivaldocordeiro.net, 30/11/2015
Nada mais extravagante e fora do lugar do que um banqueiro, e dos grandes, aprisionado. Em prisão preventiva, diga-se de passagem, a pior delas, aquela que é determinada para que a investigação dos supostos crimes possa prosseguir sem a sua interferência. Normalmente, tal expediente é usado para investigar crimes de sangue ou de tráfico de drogas, tomados em flagrante delito, mas ficou usual entre, nós depois que o PT chegou ao poder, não porque este tenha decidido “investigar” mais, mas precisamente porque o partido decidiu delinquir mais na política, fez do poder de Estado um duplo instrumento de autoperpetuação no poder e de máquina para se locupletar.
O banqueiro – falo de André Esteves – secundou o maior dos nossos empreiteiros, Marcelo Odebrecht, que está na mesma condição há meses, preso preventivamente, sem data para sair da prisão. Banqueiros e empreiteiros são dois tipos de grandes negociantes com as coisas do Estado, aqueles dos quais o PT transformou em fonte de rio de dinheiro para suas campanhas eleitorais e para a conta corrente de seus dirigentes, todos enriquecidos à sombra do poder de Estado.
Desde que chegou à Presidência da República o PT se comportou como se tivesse tomado o poder pelas armas e pudesse reiniciar o país em tudo. Enganou-se. As instituições funcionaram e as falcatruas reveladas desde o mensalão estão devidamente tratadas pelo Poder Judiciários, em todas as instâncias. Sentenças têm sido prolatadas em profusão. Não deixou de ser muito irônico que o ministro Teori Zavascki, que chegou ao STF supostamente para ajudar juridicamente o PT, tenha assinado monocraticamente a ordem de prisão do banqueiro e do senador Delcídio Amaral, líder do PT naquela Casa. O Estado tem se revelado maior do que o partido.
Desde o mensalão o PT tem tentado “acalmar” os réus vendendo a falsa ideia de que controla o Poder Judiciário, comprando com isso o silêncio de incautos como Marcos Valério, que foi apenado com quarenta anos de prisão, em regime fechado. Os novos réus perceberam a fragilidade dessa promessa e passaram a negociar delações premiadas, que relaxam a prisão preventiva e reduzem a pena a cumprir, por acordo com o Ministério Público. Os dedos-duros têm se multiplicado.
Marcelo Odebrecht tem permanecido impávido, em silêncio total, o que tem lhe custado a longa prisão preventiva. Parece que passará as festividades de final de ano na cadeia. Vamos ver se a visão utilitarista típica de um banqueiro vai quebrar o silêncio de André Esteves. É provável que sim, mas isso causará um terremoto na vida política nacional. Se falar livremente vai comprometer toda cúpula da política e não apenas a do PT. Grandes fortunas súbitas, como a do André Esteves, só são possíveis mediante assalto impiedoso aos cofres públicos, de todas as formas. O negócio dos banqueiros os deixa em posição favorável em qualquer decisão governamental, a começar por aquelas que são referidas à dívida pública.
A propósito, o sistema brasileiro “democratizou” o butim da dúvida pública, toda a gente pode comprar seus papéis, que pagam generosos juros, os maiores do mundo. Não devemos esquecer, todavia, que para um título público chegar às mãos de um particular paga, antes, comissão a um banqueiro. A trilionária dívida pública é a vaca leiteira do sistema bancário.
Não sei se André Esteves é culpados dos crimes dos quais é acusado, mas a prisão dele não é injusta se tomarmos como referência o conjunto de sua obra. A súbita fortuna que logrou acumular veio acumulada de boatos de negociatas com fundos de pensão de empresas públicas, com o manejo da dívida do Estado, com súbitos movimentos lucrativos próprio dos muito bem informados, como as variações cambiais. Não é uma injustiça, portanto, que esteja preso.
O Brasil precisará ser passado a limpo, agora. Tantos políticos e gente rica aprisionados levam-me a acreditar que um mínimo de moralidade agora será exigido no trato da coisa pública. Fatalmente a rentabilidade desses maganos irá minguar. Ninguém pode ter permanentemente lucros extraordinários sem delinquir, é isso que a prisão do banqueiro revela.
Quem viver verá.
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