Petrobras encolhe
Afetada pela queda no preço do petróleo e pela Operação Lava-Jato, a Petrobras dispensou 128 mil terceirizados de dezembro de 2013 a junho deste ano. A área de engenharia concentra a maior parte das demissões. Ao entrar no elevador de um dos prédios da Petrobras no Centro do Rio, é possível ter uma ideia de como está o clima entre os empregados da estatal. É no sobe e desce dos andares que os funcionários aproveitam para conversar sobre as demissões que vêm atingindo a companhia. Em meio ao clima de incertezas e várias investigações internas, foram demitidos, em apenas um ano e meio, de dezembro de 2013 até junho de 2015, 128.744 empregados terceirizados que prestavam serviços em todo o Sistema Petrobras, que inclui subsidiárias, como BR Distribuidora e Transpetro. Para se ter uma ideia do tamanho do corte feito no período, o total de demissões supera o efetivo de servidores da Prefeitura do Rio, de 123 mil trabalhadores.
O corte é "avassalador", como definiu um funcionário da estatal. Nos primeiros seis meses deste ano, foram dispensados 59.638 funcionários terceirizados no Sistema Petrobras. Desse total, o número de demissões somente na holding Petrobras chega a 56.121 terceirizados. E, segundo especialistas, o Rio é um dos mais afetados pelas demissões, com impacto no mercado de trabalho e no crescimento da economia, já que o estado concentra cerca de 70% da produção de petróleo do país.
Os números foram obtidos com base na Lei de Acesso à Informação após pedido feito pelo GLOBO. Os dados foram complementados, posteriormente, pela assessoria de imprensa da companhia. Segundo fontes, a cada semana são demitidos de 60 a 80 empregados, muitos deles com mais de dez anos na empresa. Via Lei de Acesso, a Ouvidoria Geral da estatal explicou que vêm ocorrendo "desmobilizações de contratos" junto a empresas. Por isso, segundo a estatal, "as possíveis demissões não são realizadas pela companhia".
O corte faz parte do plano de redução de custos da estatal, que sente os efeitos da queda do preço do petróleo e da Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Para 2015 e 2016, a Petrobras reduziu em US$ 7 bilhões os gastos operacionais. Ao mesmo tempo, reduziu investimentos. Até 2016, já foram cortados US$ 11 bilhões em novos projetos.
- É só entrar no elevador que você fica sabendo qual setor está cortando. A situação está tão ruim que até as recepcionistas, que ficavam em cada um dos andares dos prédios, e os estagiários foram cortados - disse um funcionário.
ÁREA DE GOVERNANÇA TEM 49 PESSOAS
Assim, o número de funcionários terceirizados no Sistema Petrobras passou de 360.180, em dezembro de 2013, para 231.436 em junho deste ano. Na holding Petrobras, o total caiu de 320.152 para 207.645 no mesmo período. Do fim do ano passado até junho, o maior volume de cortes entre os contratados na holding ocorreu no setor de Engenharia, Tecnologia e Materiais, cujo total de empregados passou de 83.724 para 31.999, um corte de 51.700 pessoas. Em seguida, aparece a área de Exploração e Produção, que passou de 126.748 para 122.198, uma queda de 4.500 funcionários.
O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, disse que a redução ocorre com o menor nível de investimento: - A partir do momento em que reduz investimentos, a empresa tem de cortar em algum lugar. A Petrobras está hibernando (desativando) várias sondas de perfuração e muitos são trabalhadores terceirizados. Enquanto não retomar os investimentos, a tendência é a situação se agravar.
A redução também atingiu a área de "Gás e Energia": o número de terceirizados passou de 5.419 para 3.631, um recuo de 1.788 pessoas. Na área Internacional, a diretoria foi extinta, e o número de funcionários foi reduzido a zero. Mas houve aumento em algumas áreas. É o caso de Abastecimento, Financeiro e Corporativo e Serviços, que juntos tiveram acréscimo de 2.066 funcionários. Ao mesmo tempo, a área de Governança, Risco e Conformidade, criada este ano, conta com 49 terceirizados.
Pela Lei de Acesso, a estatal explicou que "a Petrobras pode desmobilizar postos de serviços de determinadas atividades, mas o empregado da prestadora de serviços (pode) não ser demitido porque existe a possibilidade de ser alocado". A Petrobras disse, por meio da assessoria de imprensa, que "houve redução nas atividades contratadas para prestação de serviços de obras e montagem, tendo em vista a conclusão de uma série de projetos nos últimos dois anos, bem como o menor ritmo de investimentos, frente ao cenário atual de queda dos preços do petróleo e de elevação da taxa de câmbio".
Funcionários ouvidos pelo GLOBO avaliam que os cortes estão sendo feitos sem critério claro. Segundo o relato de um empregado, a meta da companhia é cortar 40% do pessoal em cada área: - Estão sendo demitidas pessoas muito competentes e também incompetentes.
Os funcionários próprios da Petrobras já sentem os efeitos das demissões dos terceirizados: tiveram de aprender funções que eram desempenhadas por colegas terceirizados.
Um empregado que teve seu contrato encerrado no início do mês e que trabalhava na Petrobras como terceirizado nos últimos dez anos afirmou que o quadro de pessoal da companhia havia aumentado demais nos anos anteriores. Ele também fez críticas à forma como a empresa conduziu esse processo: - A empresa tem de reduzir custos, e é óbvio que a prioridade é cortar os terceirizados. A Petrobras estava inchada - desabafou o profissional, que pediu para não ser identificado.
A Petrobras explicou que as reduções de pessoal contratado estão acontecendo em todas as unidades da companhia, sendo mais acentuadas nas obras da Engenharia. A estatal afirmou que não tem meta de redução de prestadores de serviços, mas que, conforme seu Plano de negócios 2015/2019, "está reduzindo seu nível de investimentos e de gastos operacionais, o que acaba refletindo na contratação de serviços".
A Petrobras não informou quanto economizou com a dispensa de terceirizados até o momento. A estatal destacou que a folha de pagamento dos funcionários próprios na holding Petrobras foi de R$ 21,4 bilhões em 2014, incluindo salários, encargos, benefícios e gastos com plano de saúde e previdência.Para economista, Rio só sentirá integralmente os efeitos após os Jogos
Petrobras dispensou 6.838 profissionais concursados do fim de 2013 até junho deste ano
RIO - O corte de funcionários atingiu também os empregados concursados da estatal. No Sistema Petrobras, o número passou de 86.111 para 79.273 do fim de 2013 a junho deste ano — recuo de 6.838 pessoas. Boa parte desse número está atrelada ao Programa de Incentivo ao Desligamento Voluntário, lançado em 2014, quando 7.634 empregados aderiram. Desse total, 5.674 funcionários já se desligaram e 1.350 têm previsão de saída até junho de 2017. A estatal abriu a possibilidade para que 610 funcionários que tinham se inscrito, mas desistiram, possam aderir ao plano.
Para o professor Tiago Cabral Barreira, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, as demissões no setor de petróleo no Rio têm sido elevadas:
— Há uma paralisia na Petrobras. Só iremos ver os efeitos reais da crise do petróleo em meados de 2016, quando acabarem as obras das Olimpíadas.
Aluízio Júnior, prefeito de Macaé e presidente da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro), ressalta que o petróleo é a âncora da economia do Rio. Segundo ele, as demissões na Petrobras se refletem em vários setores da economia. Assim, ele cita o caso de Macaé, que neste ano já registrou o corte de sete mil empregos.
— A atividade de Exploração e Produção parou — destaca Júnior.
Edmar Almeida, professor da UFRJ, lembra que o volume de demissões na Petrobras tende a aumentar:
— O Rio está no olho do furacão, pois o estado concentra cerca de 70% da produção no país. O problema central é que as demissões na Petrobras têm efeito maior na economia em relação a segmentos da construção civil, por exemplo, já que os salários são maiores.
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