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sábado, 31 de março de 2018

Impasses atuais da paralisia politica e economica no Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Impasses atuais da paralisia política e econômica no Brasil

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: comentário sobre entrevista de cientista político americano; finalidade: distinguir conceitos fantasiosos – socialismo, bolivarianismo, etc. – da simples realidade: privilegiados pretendem continuar mantendo seus privilégios.]


Introdução
O Brasil não está em crise. O Brasil vive na crise. Trata-se de uma clássica crise redistributiva, na qual diferentes setores da sociedade buscam se apropriar de renda e riqueza. Por enquanto, quem está ganhando nesse conflito redistributivo é o setor improdutivo da sociedade, aquele que se apropria da riqueza criada pelos setores produtivos, que são os empresários e trabalhadores do setor privado. Esse setor é constituído por aquela casta social que Raymundo Faoro chamava de estamento burocrático, com a classe política no seu topo – classe organizada para roubar a sociedade – e seus associados no mandarinato do Estado, com os membros das mais altas cortes do Judiciário e todo o seu segmento em seguida, mas complementados pelo conjunto dos servidores do Estado e todos aqueles que vivem nas suas margens, o que inclui sindicatos (de patrões e de “trabalhadores”), “movimentos sociais” (pelo menos aqueles que vivem de recursos públicos), ONGGs (ou seja, organizações sociais não governamentais governamentais, pois também vivem de recursos públicos), e uma infinidade de outros segmentos empenhados em assaltar nacos dos recursos públicos.
Abaixo disso, estão os produtores primários de riqueza, que ainda não tomaram consciência plena do que se passa no sistema corrupto e deformado criado pelos mandarins do Estado (no meio disso as gangues políticas concentradas em preservar o sistema atual).
Vou transcrever em primeiro lugar a entrevista de um cientista político Steven Brams, da New York University, para depois voltar e emitir minha opinião.
Paulo Roberto de Almeida (Brasília, 31/03/2018)

Entrevista com o cientista político Steven Brams:
Transcrevo abaixo a entrevista com o cientista político da New York University:
Com o fim da Lava Jato se aproximando, é bom saber o que nos espera.
Via Facebook (comentário de quem postou originalmente): “Entrevista com Steven Brams, cientista político da NY University sobre a construção do modelo socialista cubano e/ou bolivariano em curso no Brasil desde o governo de FHC. Clara, impactante. apavorante e muito, MUITO, verdadeira. Para compreender o atual estado das coisas e para, de certo modo, colocar uma pá de cal em nossa esperança na Lava Jato e na prisão dos principais chefes da ORCRIM. Também esclarece bem, ainda que não mencione de modo específico, a atual do nosso STF bolivariano. Com o fim da Lava Jato se aproximando, é bom saber o que nos espera:
            [Não consegui a informação sobre o veículo que a publicou.]

O cientista político americano Steven Brams afirma que o Brasil vive um momento político muito conturbado e que as políticas e reformas adotadas pelo Estado, ergueram os pilares para a implementação de um regime socialista, mas próximo do comunismo do que se possa imaginar. Brams é cientista político do Departamento de Política da Universidade de Nova Iorque, sendo mais conhecido por usar as técnicas da teoria dos jogos, a teoria da escolha pública, e a teoria da escolha social para analisar sistemas de votação e divisão justa em eleições americanas. Brams disse que o Brasil vive um momento dramático em função do impeachment de Dilma Rousseff e que o sistema político brasileiro nada se assemelha com uma democracia e sim com um sistema arbitrário, que permite abusos de poder por parte do governo e sobretudo, beneficia a corrupção e a impunidade.
O Brasil é um país socialista na visão do senhor?
- Sim, bem próximo de um sistema que se assemelha ao sistema social democrático adotado em Cuba. O Brasil foi sendo transformado por dentro, as estruturas do Estado foram sendo modificadas de forma lenta e graduada. Hoje praticamente o Estado se encontra totalmente pavimentado e pronto para assumir um papel político totalmente voltado para o socialismo.
Quando se deram estas mudanças e quais foram estas modificações?
- Basicamente as transformações foram implementadas no governo do ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. Cardoso, tentou introduzir um modelo político bem próximo do socialismo adotado na França, com mudanças radicais que permitiram a edificação dos pilares marxistas. No governo de Cardoso foram criados diversos sindicatos, financiamentos de grupos de esquerda, ONGs e políticas sociais que fortificaram o socialismo. O sistema político e a estrutura econômica também foram modificadas com a criação de uma carga tributária muito pesada, que serviria para sustentar os programas sociais. Desta forma, pode se notar uma forte concentração de toda a renda gerada no país, nas mãos do governo. Há também o controle do Estado sobre a sociedade com a adoção de leis, normas e regimentos. Um exemplo foram as centenas agências de controle e regulação sobre diversos setores do Estado.
E o PT? Qual o papel do PT nesta mudança política?
- O PT e o PSDB adotam um mesmo pensamento ideológico, não se diferem nesta questão quando o assunto é a implementação do atual sistema politico. São duas lideranças de esquerda com mais força política dentro do cenário brasileiro. O PT foi apenas uma complementação do projeto de reformas que o Estado já vinha sofrendo. Só que o PT é um partido mais radical e adotou apressadamente, políticas que vinham sendo implementadas à conta gotas por Cardoso. Acredito que o PT apenas acelerou o processo de socialização e abriu a porta para se chegar em uma política bem próxima da política adotada em Cuba. Mas não foi só no Brasil que isto ocorreu. Todos os países latinos sofreram esta mesma mudança que muitos chamam de “bolivarianismo”.
Então o Brasil está próximo de se tornar um país comunista?
- A esquerda usa muitos termos para designar o comunismo. Vejamos: A social democracia, o socialismo, o nazismo e o fascismo. No fundo todas estas designações são de origem comunista. Apenas o que difere o comunismo desta designações, é a maneira em que este comunismo é administrado politicamente. A social democracia é um comunismo mais ligth, mais leve, vai sendo introduzido lentamente sem que se perceba e se quem a sociedade sinta seus efeitos. Enquanto isso o Estado vai sendo modificado. No final deste processo o país já estará totalmente modificado, estruturado e a sociedade conformada e totalmente difundida dentro do comunismo.
Manipulação e doutrinas?
- Sim, os reformistas que adotam a social democracia modificam também a estrutura social. A engenharia social tem um papel importante neste aspecto de mudanças. Principalmente na cultura, na mídia e no dia à dia da sociedade.
O Sr, acha que o impeachment trouxe alguma luz no fim do túnel?
- Não! de maneira nenhuma! O afastamento da presidente Dilma Rousseff não significa o fim do sistema político, mas sim sua continuidade, pois nenhuma estrutura do Estado foi modificada. Apenas na questão econômica pode ser que haja alguma reação no sentido de tirar o país da crise, mas isto não significa que o atual governo fará alguma mudança na política do Estado. O processo foi continuado e nada mudou no que diz respeito ao sistema político. O impeachment é um instrumento constitucional do sistema, e foi usado pelo próprio sistema apenas para afastar um presidente e não eliminar um sistema politico. O Brasil continua sob controle da social democracia.
O sistema no Brasil é perverso?
- Todo sistema é perverso. Mas a democracia continua sendo o melhor sistema. No Brasil não vejo traços de democracia e sim da social democracia. No Brasil o sistema beneficia o Estado e não a sociedade, beneficia a corrupção e a impunidade. As leis são ineficazes e protegem o sistema e os corruptos. É um sistema controlador, manipulador, quase tirano. No Brasil o povo brasileiro perdeu muito sua honra e seu patriotismo, talvez pelas políticas que foram adotadas com o intuito de corromper a sociedade.
Então não há saídas para o Brasil sair deste sistema?
- Há sim, mas esta saída não será dada pelo sistema e sim pela sociedade. A esquerda brasileira conseguiu com suas doutrinas, por assim dizer, dividir o Brasil em vários segmentos sociais. Isso talvez dificulte uma reação da própria sociedade muito desunida com relação aos problemas do país. Nota-se que há legiões de pessoas que defendem o sistema, talvez acomodadas com a situação, outras defendem os partidos e outras os políticos que as corrompem. Não há uma união no sentido de se pensar na Pátria, na Nação e nos destinos do país. Certamente que isso é um grande problema, pois haverá sempre desunião. Há vários segmentos que não pensam ou não possuem um mesmo objetivo.
O povo brasileiro fala muito em Intervenção Militar. O que o Sr. acha disto?
- É como eu afirmei antes. Há vários segmentos que pensam diferente, com objetivos diferentes. Pelo que eu vejo, há grupos de pessoas que estão sugerindo uma intervenção militar no Brasil. Podemos dizer que este segmento é mais coeso do que os outros, pois se fixam apenas em um único objetivo. Este segmento não defende partidos, políticos e nem o sistema. É mais patriótico e mais coeso do que os demais segmentos. Este grupo de pessoas exigem uma mudança radical no sistema, ou sua total destruição. É mais radical e mais coeso neste sentido. Talvez por isso não encontre apoio de políticos e nem da mídia que vive nas beiradas do sistema. Uma intervenção militar com o povo exigindo mudanças, certamente colocaria em risco o atual sistema político brasileiro.
Para terminarmos esta entrevista, qual mensagem o Sr. daria para os brasileiros?
- Que sejam mais patriotas e coesos em seus objetivos. É preciso que a sociedade se conscientize dos problemas do país e exijam mudanças. Se querem mudanças, se unam e cobrem dos políticos bem intencionados. Sempre há políticos bem intencionados que precisam de uma pressão da sociedade para exigir as mudanças. O Brasil não tem um perfil de conscientização. É preciso criar este perfil. É preciso sobretudo pensar no país, pois se não pensarem no país, os corruptos e políticos mal intencionados pensarão e farão o que bem entenderem."

Minha opinião (PRA):
Concordo apenas parcialmente com o cientista político Steven Brams, no sentido da direção geral do processo, que é estatizante, coletivista, dirigista, intervencionista, rentista, preservando privilégios do estamento burocrático do Estado e da Nomenklatura que nos governa, mas que não pretende instalar um regime bolivariano, socialista, ditatorial. Apenas ocorre que os setores não produtivos, os parasitários, os aproveitadores, a burguesia do capital alheio, os milhares de sacerdotes do Estado — entre os quais me incluo como servidor público — pretendem continuar desfrutando das benesses do Estado arrecadador e redistribuidor da riqueza alheia.
 Com isso, o sistema não se mantém de modo dinâmico, pois é obrigado a concentrar recursos extraídos dos setores produtivos, e portanto, isso significa que continuaremos nos arrastando na mediocridade do crescimento, nas injustiças redistributivas, na disputa interminável por privilégios. Por enquanto, quem está ganhando são os privilegiados de sempre, a classe política corrupta, os funcionários públicos, os mandarins da república com seu segmento elitista do Judiciário, e quem carrega essa turma toda são os empresários e trabalhadores do setor privado.
Até onde isso pode ir? Acho que isso pode perdurar em meio a pequenas crises políticas e econômicas — que são disputas em torno do saque estatal — até que uma maioria da sociedade abandone a mentalidade estatizante e adote uma de liberdade de mercados. Conhecendo o Brasil, acho que isso vai demorar, e continuaremos a nos arrastar na mediocridade por muito tempo mais.
Por acaso, hoje é 31 de março, o 54o. aniversário do movimento militar, ou do golpe de Estado, que encerrou o governo caótico de João Goulart, justamente um dos representantes mais evidentes desse modelo redistributivista, e deu início a um regime concentrador e desenvolvimentista, que modernizou o Brasil, mas prolongou, até estimulou, mecanismos perversos de consolidação do atual modelo estatizante, intervencionista, dirigista, que permite a preservação dos impasses atuais da sociedade brasileira. Acredito que esse sistema vai se prolongar durante bastante tempo, até que a sociedade se conscientize de que a conformação atual vai prolongar a agonia de um sistema condenado a impasses constantes, a um futuro de paralisia e estagnação.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 31 de março de 2018

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