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sexta-feira, 2 de março de 2018

Trump e sua guerra comercial: os primeiros prejudicados são os EUA - RFI

A Radio France Internationale me telefonou esta manhã para pedir comentários sobre as medidas de Mister Trump. Falei muito, mas a jornalista retirou algumas citações apenas, e fez uma matéria equilibrada com diversas outras entrevistas.
Mister Trump vai terminar afundando os EUA.
Gostaria de saber se os trumpistas brasileiros, supostamente "liberais" (será?), o apoiam nessa medida claramente estúpida...
Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 2/03/2018

Medida protecionista de Trump terá efeito cascata no comércio internacional


Azevêdo disse estar “claramente preocupado” com os projetos do presidente americano. O Canadá, maior exportador de aço para os EUA, está furioso: os dois países estão ligados por um acordo de livre comércio que proíbe esse tipo de medida protecionista, o Nafta, do qual também também faz parte o México. O Brasil, segundo maior exportador, com 13% do valor total comprado pelos americanos, indicou que não descarta adotar “ações complementares, no âmbito multilateral e bilateral, para preservar seus interesses”. A União Europeia, por sua vez, indicou que se caso Trump confirmar a medida, poderá impor tarifas de salvaguarda do setor no bloco, impondo as próprias barreiras. 
“Haveria uma derrogação dos Estados Unidos a acordos internacionais, sem contar as reclamações na OMC. O Brasil e provavelmente outros países vão entrar com queixa, e os parceiros nos acordos vão querer saber o que vai acontecer com eles”, afirma o diplomata Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (Ipri), do Itamaraty, e professor de economia política do Uniceub (Centro Universitário de Brasília). “Além disso, pode haver retaliações imediatas. A China, por exemplo, é uma grande importadora de produtos agrícolas americanos. Talvez agora a China queira comprar muito mais soja brasileira do que dos Estados Unidos”, observa. 
OMC em situação delicada
Para aplicar a medida, que promete adotar na semana que vem, Trump alega questões de segurança nacional. Na sua visão, a parcela de importações colocaria não só em risco os empregos do setor nos Estados Unidos, como atende a um setor estratégico e sensível para o país, o da Defesa. Este argumento, explica o professor de comércio internacional da Escola de Economia de Paris Lionel Fontagné, não pode ser refutado na OMC – o que coloca a organização em uma situação embaraçosa. A própria relevância da entidade seria questionada. 
“O conjunto de regras da OMC será ameaçado por esse ataque de Trump. Se os países atingidos reclamarem na OMC e ganharem os procedimentos, os Estados Unidos vão querer sair da organização. Mas se os países que atacarem perderem, vai significar que a OMC não serve para nada”, analisa Fontagné. “É possível que os países não ataquem os Estados Unidos, mas neste caso significaria que há um grande problema porque o sistema autoriza o aumento das tarifas com o argumento da segurança nacional, mas não se previa que essa cláusula pudesse ser usada desta maneira que Trump utilizou.”
O anúncio de Trump ocorre no dia seguinte ao governo brasileiro encerrar uma missão a Washington para tentar convencer os americanos a deixar o país de fora do aumento das tarifas, já que 80% do aço exportado é semiacabado, ou seja, ainda recebe tratamento em solo americano.  Inicialmente, o governo americano avaliava a aplicação de uma taxa ainda maior, de 53% sobre o metal importado. 
“O anúncio de 1º de março, de que o Brasil será enquadrado na tarifa de importação de aço de 25%, corrige essa distorção, mas ainda não atende o que consideramos ser uma relação comercial justa. Portanto, o Brasil vai recorrer”, informa nota divulgada pelo Instituto Aço Brasil.
Mais prejudica do que ajuda a economia americana
Paulo de Almeida nota que a justificativa da ameaça à segurança é insustentável e muito difícil de ser provada. O diplomata duvida que o Congresso americano deixe a medida passar, porque traria mais danos do que benefícios à economia americana. A margem de manobra do presidente é limitada, já que o Congresso detém a autoridade econômica do país em comércio exterior, finanças, câmbio, entre outras áreas.
“Trump pode adotar essa medida de salvaguarda, mas ela pode ser contestada e derrogada pelos congressistas. Ele quer proteger alguns empregos na siderurgia, só que o resultado será o aumento dos preços na construção civil, no setor automotivo e de infraestruturas, que precisam do aço e do alumínio”, ressalta o professor brasileiro. “Isso terá efeitos em cadeia, porque haverá destruição de empregos em outros setores quando os produtos americanos ficarem mais caros interna e externamente, para a exportação de máquinas e equipamentos.”
“É um paradoxo porque os setores que Trump mais quer desenvolver são aqueles que mais sofrerão as consequências dessa medida. É uma péssima decisão econômica para os Estados Unidos”, resume o especialista francês.

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