Um texto que nunca foi divulgado quando foi escrito, e que se destinava a rechaçar as ofensas do chanceler acidental contra o Ricupero e outros diplomatas que criticaram a diplomacia subserviente que ele administrou de forma deplorável.
O aprendiz de feiticeiro do bolsolavismo diplomático
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1o. de maio de 2020
(www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com)
[Objetivo: protesto; finalidade: informação pública]
Naquele antigo desenho animado de Walt Disney, o aprendiz de feiticeiro Mickey se vangloriava de ter acabado com sete de uma vez só; eram apenas moscas, mas a impressão que ele deu foi de que se tratava de gigantes.
Metido a experiente feiticeiro, o aprendiz provoca a maior confusão na casa do seu mestre, que volta assustado e se apressa em restabelecer a ordem.
O aprendiz de feiticeiro do bolsolavismo diplomático se vangloria, numa postagem recente, de ser capaz de enfrentar não apenas quatro gigantes, mas quarenta, de uma vez só.
Ele começou sua bravata por estas palavras:
1. “Ex-chanceleres e ex-ministros despeitados decidiram criar o “grupo Ricupero” para falar mal de nossa política externa, que está ajudando o Brasil a se livrar da corrupção, da promoção de ditaduras, ou da letargia medrosa que caracterizaram as políticas deles ou dos seus governos.”
E terminou assim:
4. “O fato de que quatro ex-Ministros se juntem num grupo, sob tão indigna inspiração, para atacar a mim, que sou apenas um, muito me honra. Dessa laia podem vir quatro, podem vir quarenta, e eu os enfrentarei feliz, fiel ao PR @jairbolsonaro e ao povo brasileiro.”
Sua pretensão é descabida em mais de um aspecto.
Não são apenas quatro ex-ministros, nem quarenta, que o acusam, certamente não de conduzir uma política externa que simplesmente não existe, mas praticamente toda a diplomacia profissional — ou seja, centenas de colegas temporariamente silentes, pois que intimidados pela sua postura de tirano de aluguel — e virtualmente todas as pessoas sensatas do Brasil, entre industriais, empresários do agronegócio, acadêmicos, jornalistas e militares, que demonstram sua estupefação em face da destruição quase completa dos altos padrões de sempre foram os da diplomacia brasileira tradicional.
Todos estão fartos de saber que o aprendiz de feiticeiro do inaceitável desmantelamento do Itamaraty não comanda absolutamente nada; o chanceler acidental não é sequer capaz de formular diretrizes para uma diplomacia minimamente racional, sendo teleguiado de forma servil pelos aloprados e ineptos em política externa que o controlam de perto.
Ficou já mais do que patente que o novo aprendiz de feiticeiro da extrema-direita tupiniquim só é capaz de tuitar desvarios típicos do subsofista expatriado que o colocou no cargo, atuando unicamente para afundar ainda mais o pouco que resta de credibilidade de uma diplomacia outrora respeitada internacionalmente.
Os brasileiros em geral, os diplomatas profissionais em especial, assim como todos aqueles que tinham orgulho da antiga política externa equilibrada, construída e cuidadosamente operada pelas gerações anteriores de mestres do ofício, estão estarrecidos pelo espetáculo medíocre que lhes é oferecido pela diplomacia bolsolavista.
Todos anseiam por uma superação do pesadelo que representa a não diplomacia atual. Esse dia virá!
Como diz o ditado popular, “não há mal que nunca acabe...”
Paulo Roberto de Almeida
No dia do trabalhador diplomático, 1ro de maio de 2020
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