Itamaraty saúda Macron, mas Bolsonaro mantém silêncio
"O governo brasileiro cumprimenta o senhor Emmanuel Macron por sua reeleição à Presidência da República Francesa", disse o Itamaraty em nota. "O Brasil reafirma a disposição de trabalhar pelo aprofundamento dos laços históricos que unem os dois países e trazem benefícios mútuos a brasileiros e franceses, e manifesta expectativa de seguir implementando a ampla agenda bilateral."
A concisa nota à imprensa do Ministério das Relações Exteriores é a única reação oficial do governo brasileiro à reeleição do centrista até o momento.
Contrastando com grande parte dos líderes mundiais, o presidente Jair Bolsonaro ainda não se pronunciou sobre a vitória de Macron – seu desafeto e crítico ferrenho da política ambiental de seu governo. Bolsonaro também não havia se manifestado a favor da extremista de direita Marine Le Pen, derrotada por Macron no segundo turno por 58,55% a 41,45%.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, que lidera pesquisas de intenção de voto para as eleições de outubro, não apenas manifestou seu respaldo a Macron antes do segundo turno, como também o parabenizou por sua "ampla vitória na urnas".
"Torço pelo sucesso do seu governo, pelo progresso das condições de vida do povo francês e pelo desenvolvimento da integração da União Europeia", escreveu Lula num tuíte que incluiu uma foto de seu encontro com Macron no ano passado.
"Confio que o presidente Macron contribuirá nos desafios globais das mudanças climáticas, das pandemias, da luta contra a desigualdade e para a construção da paz na Europa", prosseguiu o ex-presidente.
Lula foi recebido por Macron em Paris em novembro passado. Bolsonaro classificou de "provocação" o fato de o líder francês ter recebido o ex-presidente brasileiro com honras de chefe de Estado.
Relação conflituosa
Durante seu governo, Bolsonaro travou um relacionamento extremamente hostil com Macron, e as relações entre Brasil e França se deterioraram a um nível que não era visto desde o início dos anos 1960, quando os dois países travaram uma disputa sobre direitos de pesca.
Em julho de 2019, Bolsonaro esnobou em Brasília o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, cancelando em cima da hora uma reunião – pouco depois, o brasileiro apareceu numa live cortando o cabelo.
O "bolo" intencional não passou despercebido na França, e Bolsonaro justificou o gesto grosseiro afirmando que foi uma reação à agenda de Le Drian no Brasil que previa encontros com ONGs "que ferram" o Brasil.
No mês seguinte, o relacionamento se deteriorou ainda mais quando Macron começou a fazer objeções públicas ao acordo entre a UE e o Mercosul, citando as intensas queimadas que castigavam a Amazônia e a agenda antiambiental de Bolsonaro. Macron ainda sugeriu que os países do G7 discutissem a destruição da floresta.
A posição do francês irritou membros do governo Bolsonaro e da família do presidente, que logo passaram a proferir insultos públicos contra Macron. As ofensas se intensificaram após o presidente francês afirmar em nota que Bolsonaro "mentiu" sobre as garantias que havia dado sobre a preservação da Amazônia à época da assinatura do acordo.
Ainda em agosto de 2019, Bolsonaro endossou nas redes sociais um comentário sexista sobre a aparência da esposa de Macron, Brigitte. O ministro da Economia, Paulo Guedes, também repetiu a ofensa sexista em um evento com empresários. Macron respondeu publicamente ao insulto afirmando que esperava que os brasileiros "tivessem logo um presidente à altura do cargo". "É triste, é triste para ele, primeiramente, e para os brasileiros", disse o líder francês.
Já o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, chamou o presidente da França de "cretino" e "calhorda oportunista". O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por sua vez, fez um trocadilho com o nome do francês, chamando-o de "Mícron".
lf/cn (Efe, DW, ots)
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