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terça-feira, 5 de abril de 2022

Sobre os males atuais e persistentes da nação - Paulo Roberto de Almeida

Sobre os males atuais e persistentes da nação

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

Em que pese a Grande Destruição de Madame Pasadena — que conseguiu produzir a maior recessão da história econômica do país —, não obstante a megacorrupção do PT e as mentiras do seu chefão mafioso, à margem de uma diplomacia partidária que se dedicou a apoiar as ditaduras mais execráveis da América Latina e em outros continentes, e a despeito do aparelhamento do Estado com militantes partidários e assessores medíocres dos políticos profissionais, parece que o Brasil ainda não afundou o suficiente para suscitar o surgimento de um sentimento de repulsa a todas essas velharias da política que ainda estão no palco das eleições.

Tampouco dispomos de estadistas com capacidade intelectual adequada para fazer um diagnóstico correto do quadro calamitoso que enfrentamos atualmente — que é o resultado involuntariamente combinado da incompetência do lulopetismo arrogante e da total insanidade mental do bolsonarismo alucinado —, assim como para apontar o caminho da superação das dificuldades conjunturais — que dependem de boas soluções técnicas, de natureza econômica— e das barreiras estruturais — que são de natureza sistêmica, exigindo portanto um esforço de longo prazo no caminho de reformas mais consistentes e persistentes.

Temos enormes limitações que são o resultado de uma longa história de não educação da grande massa da população, temos o gigantesco problema da corrupção institucional, pois que agora entranhada e legalizada por um estamento político predatório, que reforma continuamente as práticas patrimonialistas dos predecessores, temos as corporações de Estado — algumas até dispondo de maiores privilégios do que os aristocratas do Ancien Régime, que são os membros da alta magistratura, preservando e ampliando a insegurança jurídica, que afeta o ambiente de negócios — e temos uma nação ainda muito confusa com os sinais contraditórios emitidos por um enxame de candidatos que  pouco dialogam entre si ou com a própria nação, preferindo conciliábulos entre eles próprios. Eles vivem mundo à parte ao do resto da população brasileira, dos 99,9% dos eleitores cativos e compulsórios.

Também temos elites medíocres — os donos do capital e os personagens da política, melífluos e hipócritas — que não dialogam entre si, abertamente, sobre os problemas da nação, mas que preferem jantares discretos com os principais candidatos, unicamente para garantir que nenhum deles irá chutar o pau da barraca apodrecida em que se converteu a nação e também para assegurar as vantagens setoriais defendidas pelos sindicatos de ladrões das associações econômicas mais importantes, sempre com aquela intenção de fazer com que algo mude para que tudo permaneça como está. 

Estes são os dados do grande drama do país, um Prometeu acorrentado por suas próprias contradições, sobretudo por um Estado que já deixou há muito de ser o indutor do crescimento econômico, o que ele foi num passado agora distante de várias décadas, e que se tornou, ao contrário, um obstrutor efetivo e não consciente de um processo de crescimento sustentado, baseado em transformação produtiva e na distribuição social desse crescimento, um impasse que caberia superar o quanto antes. 

Retomo o início: o Brasil ainda não afundou o suficiente — com perdão pelo mau agouro — para ver surgir um novo e legítimo movimento de reformas e de mudanças estruturais. Ainda estamos entregues a um cenário quase “normal” de eleições, nas quais o estamento político se renovará moderadamente e nas quais os principais candidatos fingirão que pretendem realmente cumprir promessas mentirosas e mirabolantes e nas quais os eleitores fingirão que acreditam. 

Se ouso repetir algumas de minhas velhas recomendações de professor de Economia Política, estas seriam as minhas propostas de diretrizes nacionais:

1) manutenção da estabilidade macroeconômica, com fiscalidade responsável, câmbio e juros de mercado na política monetária e cambial, eliminação do atual estupro orçamentário operado por um parlamentarismo deformado e clandestino, por um parlamentarismo que não seja de fachada;

2) microeconomia totalmente competitiva, com eliminação de carteis e monopólios, privatização de TODAS as empresas estatais, desregulação das amarras que são feitas para proteger setores da concorrência aberta;

3) governança de boa qualidade, a partir de uma reforma administrativa que reduza o poder de chantagem exercida sobre a sociedade pelas corporações de Estado, em especial no Judiciário, o mais próximo que temos do Antigo Regime;

4) alta qualidade do capital humano, o que exige uma revolução educacional focada essencialmente no ensino fundamental, com a correção do triângulo invertido do orçamento do setor, atualmente posto a serviço da superestrutura do superior;

5) finalmente, uma abertura econômica radical, com derrubada do protecionismo histórico e renitente e dos entraves aos investimentos diretos estrangeiros. 


Não sei se somos capazes de empreender o caminho da regeneração, mas duzentos anos de muitas promessas, de várias realizações e de ainda múltiplas, inúmeras frustrações já deveriam ter nos ensinado a via do desenvolvimento social inclusivo. Acredito que conseguiremos, pois o simples fato de enunciar os problemas já é um começo de recuperação.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4127: 5 abril 2022, 3 p.


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