A nação que se perdeu a si mesma
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
Nós brasileiros, ainda não percebemos que o Brasil, seu sistema político, sua economia, sua ética (se existe), seu sentido de progresso, de moralidade, de respeito pela natureza, tudo isso já tinha entrado em colapso junto com o início do século e do milênio e tudo atravessa agora um declínio irresistível que promete durar algumas décadas para ser superado. Ele será ainda mais difícil de ser ultrapassado pois não existe sequer consciência de que já estamos nele há muito tempo, e os principais sinais de que esse mal existe e é profundo são revelados pela continuidade do assalto ao Estado, e ao futuro dos mais pobres, pelo estamento político e pelas corporações do próprio Estado, velhos e novos sanguessugas que paralisam qualquer esforço de progresso. Outra revelação é a saída voluntária do país, não mais de pobres desempregados, mas de quadros qualificados, que não veem mais sentido nele permanecer, para si próprios e para seus filhos. Quando o capital humano se despede do país é quando a nação perdeu o seu sentido de existência.
Uma das coisas mais difíceis de serem percebidas, por um povo, é o momento em que ele deixou, justamente, de se perceber como nação. No ano do bicentenário da nação independente, o Brasil deixou de ser uma nação, para ser um Estado espoliado pelos seus próprios filhos.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4124: 3 abril 2022, 1 p.
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