Plano de paz de Lula para a Ucrânia
Observador
DefesaNet, 04 Março 2023
Nas últimas semanas a imprensa brasileira e estrangeira vem comentando sobre o plano de paz proposto pelo presidente brasileiro Lula para a Ucrânia. Sobre o assunto, é necessário salientar que a Ucrânia foi invadida por um país vizinho, uma das duas maiores potências nucleares do mundo. A Ucrânia não está em guerra, ela apenas foi obrigada a recorrer à Força Armada para se defender de uma invasão estrangeira, que busca decapitar seu governo democraticamente eleito, anexar territórios e destruir o país, como nação assim como seu povo.
O mundo não via um país enfrentar uma ameaça existencial desde a Segunda Guerra Mundial. A invasão russa da Ucrânia, uma grande nação europeia, soberana, democrática e pacífica (que entregou todas as suas armas nucleares à Rússia) foi a maior violação da Carta das Nações Unidas em toda sua história, e uma derrota ucraniana seria o fim das relações interestatais tal qual as conhecemos. Ou seja, a Rússia não pode vencer.
A Sistema Internacional moderno nasceu das cinzas da carnificina, do trauma e do aprendizado da Segunda Grande Guerra, e a derrota da Ucrânia seria a destruição desse sistema criado após a catástrofe de 1945.
Corremos o sério risco de uma reviravolta nas relações internacionais, com negociações diplomáticas e comerciais pautadas pela ameaça indiscriminada do uso da força militar, deixando países menores e mais fracos reféns do império da lei do mais forte, e o Brasil não está preparado para isso. Nunca esteve.
A soberania territorial e a inviolabilidade das fronteiras somente será assegurada por aquelas nações que têm poder e força para defendê-las, e novamente, não é o nosso caso.
Infelizmente, desde o governo de Jair Bolsonaro, o Itamaraty e o Governo Brasileiro têm tido uma posição vergonhosa com relação à Ucrânia. Da mesma forma no governo Lula, as ações geram desconfiança sobre as reais intenções.
Basicamente, nossas autoridades políticas e militares vem repetindo o discurso pró-russo veiculado como propaganda na Russia Today, que vão desde a expansão da OTAN a necessidade de acesso a fertilizantes.
A aproximação com Moscou, na contramão do resto do mundo, foi estratégia da Secretária Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Neste sentido, Esquerda e Direita andam de mãos dadas já que as alas ideológicas do Bolsonarismo e do Lulo-PTismo sempre tiveram uma visão pró-Moscou. A primeira é antiglobalista e a segunda anticapitalista e ideológica. Essa visão geopolítica nada mais é que um olhar míope do que é a Rússia atual, o que ela representa e o quão fraca, decadente e corrupta é.
Se nenhum dos seus vizinhos confia na Rússia, porquê nos confiaríamos? Qual é o “case” de sucesso histórico das nossas relações bilaterais?
Dito isso, cabe ressaltar que, em prejuízo e colocando em risco a própria segurança nacional do Brasil, Vladimir Putin nunca fez uso das suas boas relações com Brasília para nos consultar se podia armar a Venezuela e alterar – ainda hoje – a balança do poder militar na região. Diga-se de passagem com a conivência do governo Lula e do chanceler Celso Amorim.
Não existe posição neutra quando se trata da invasão russa da Ucrânia. Foi uma violação territorial, uma invasão não provocada, com ataques indiscriminados e massacres à população civil, com bombardeios diários em uma milenar capital europeia.
Seja político ou general, civil ou militar, quem for neutro ou apoiar à Rússia neste momento estará avalizando uma futura guerra em nosso território, onde pseudos movimentos separatistas apoiados por uma potência militar estrangeira poderão criar uma secessão em áreas de fronteira e até a perda de partes significativas do território brasileiro, com ou sem uma guerra.
Lula disse que respeita a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. Mas de qual território ele está falando? O território internacionalmente reconhecido, com as fronteiras anteriores a 2013, que inclui a Crimeia, Luhansk e Donetsk ou apenas deseja uma paz imediata, congelando o conflito e mantendo nas mãos de Moscou os territórios ocupados pelos russos e forçadamente anexados após eleições ilegais e ilegítimas organizadas pela força de ocupação, as quais ironicamente, contaram com observadores brasileiros membros de diretórios do Partido dos Trabalhadores?
Importante lembrar que o PT sempre condenou a revolução ucraniana (movimento Praça Maidan) e sempre apoiou as ações russas.
Em várias oportunidades nos últimos anos o Governo Ucraniano enviou cartas ao Governo Brasileiro convidando o país para integrar e comandar tropas de uma missão de paz sob a égide das Nações Unidas. Nunca houve uma resposta brasileira e uma concordância russa às iniciativas de paz ucranianas.
Volodymyr Zelenskyi, que de palhaço não tem nada, surpreendeu o mundo com um protagonismo e se mostrou ser o grande estadista do Século XXI. Ele sabe o que faz. Convidou Lula para visitar a Ucrânia, se reunir com ele em Kyiv, escutar o som das sirenes de alarme aéreo, ver com seus olhos a destruição e os massacres em Bucha, Irpin e Borodyanka. O estadista ucraniano só acreditará nas boas intenções do mandatário brasileiro quando este desembarcar na estação ferroviária de Kyiv.
Enquanto isso não acontece, esperamos que o plano de paz de Lula não seja apenas uma ação entre amigos e tenha sido combinado com os russos. Se isso for verdade, o isolamento internacional de Lula será ainda maior que o de Bolsonaro
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